𝑭𝒐𝒖𝒓
Após Wendy, Arisu e Usagi pegarem a carta três de paus que foi disponibilizada na saída do túnel, seguiram até uma rua próxima, onde a Watanabe estava passando seus dias. A mulher de cabelo curto e o homem de cabelo bagunçado ficaram sem expressão ao verem o que a acastanhada foi buscar. Um caderno e uma caneta.
— Cada um se distrai com o que pode. — Se defendeu, vendo Usagi suspirar.
Wendy iria para um ambiente diferente, com bastante pessoas, então precisaria de algo para se distrair, já que a ideia de ter que interagir com tanta gente desconhecida lhe deixava aflita.
Após uma longa caminhada, com algumas paradas no caminho, chegaram em um prédio onde, na entrada tinha uma placa enorme com um relevo de letras que dizia "Paraíso litorâneo de Tóquio", e sobre elas havia uma pichação vermelha que formava a palavra "praia".
Sua construção era moderna e bonita. Quando passaram pelos muros da construção, foi possível observar melhor como era por dentro. Havia uma piscina enorme e uma boa quantidade de pessoas ao redor, ao entrarem no edifício havia mais pessoas, e todas elas, sejam as que estavam perto da piscina, ou as que estavam dentro do local, usavam trajes de banho. Então, o trio cessou seus passos na frente de uma escada, no saguão.
— Vou conversar com os líderes, já volto. — Arisu disse antes de subir as escadas correndo.
— Vai ter uma espécie de teste ou algo do tipo? — Wendy perguntou, ainda com o braço sobre os ombros de Usagi que, por sua vez, tinha as mãos na cintura da Watanabe.
— Você vai conversar com os líderes da praia, eles irão explicar as regras do lugar. Ah, e também irão pegar suas cartas.
— O que? Por que? — Usagi não deu uma resposta, apenas comprimiu os lábios e balançou os ombros. — Imagino que as coisas não devem ficar nada amigáveis se eu me recusar a dar as cartas. Certo? — A de cabelo longo bufou. — E vocês disseram que era seguro.
— Falamos que tecnicamente é. Pelo menos não ficará sozinha pela cidade, correndo o risco de ser atacada por algum grupo. Algumas pessoas aqui formam grupos para tentar diminuir o número de jogadores... — Comentou baixinho.
Ah, ótimo! Então as pessoas perigosas, das quais eu deveria fugir, vivem no lugar onde eu vim me abrigar, Wendy pensou.
Em alguns minutos, Arisu voltou, ficando do outro lado de Wendy para que a garota colocasse seu outro braço sobre seus ombros. Então, Usagi e Arisu ajudaram ela a subir as escadas. Após terminarem de subir os degraus, seguiram por um corredor, passando por diversas portas no caminho, até que chegassem em uma porta dupla de madeira, que foi aberta por Arisu, depois do mesmo anunciar sua entrada com duas batidas.
O ambiente era espaçoso, tinha janelas abertas e, ao lado de uma delas, uma mesa de madeira, enquanto, no meio da sala havia uma cadeira solitária. Ao olhar para perto de uma parede que parecia ser do mesmo material da porta, Wendy viu três pessoas. Um homem sério que, além dos trajes de banho, usava um óculos de grau; uma mulher de cabelo curto, que em seu rosto tinha um óculos escuro e em seu corpo a típica roupa de verão; e, por fim, uma mulher com roupas de praia pretas e cabelo longo.
Arisu e Usagi ajudaram Wendy a caminhar até a cadeira que estava na frente dessas três pessoas. E antes de ficarem três passos atrás da acastanhada, pediram à ela suas cartas, para deixarem sobre a mesa. Ela sentia como se estivesse em um julgamento, e os três à sua frente que iriam decidir se ela seria condenada ou não por alguma coisa, eles exalavam que tinham poder naquele lugar.
— Então, essa é a garota que vocês encontraram na prova hoje. — A mulher de cabelo longo e escuro comentou, com um sorriso no rosto.
— Ela nos ajudou a zerar a prova, mas se machucou. Ela ficaria sozinha se não a trouxéssemos conosco. — A voz de Arisu veio de trás de Wendy que, nesse momento, sentia-se como criança novamente, na época que fazia alguma besteira e corria para seu pai, que a defendia de qualquer esporro que sua mãe tentava lhe dar. — Dissemos à ela que seria acolhida aqui.
Então a porta foi aberta novamente, chamando a atenção de todos no local. Um homem de cabelo na altura do maxilar adentrou a sala, usando apenas uma bermuda vermelha e um roupão estampado. Wendy notou que ele tinha dois homens em seu encalço, que acompanhavam seus passos, como seguranças. Eles vestiam uma bermuda preta e estavam sem camisa também, apenas usavam um kimono curto por cima do tronco.
— E nós iremos acolher, assim como fazemos com todos que vêm até nós. — Ele caminhou calmamente até a cadeira onde Wendy estava, ficando atrás. — Seja bem-vinda à nossa utopia, a praia. Aqui nós temos as respostas para as suas possíveis perguntas. — Ele estalou os dedos e os dois homens que o acompanhavam foram até a parede de madeira atrás das três pessoas em pé, que se revelou ser uma grande porta de correr. Então, foi revelada uma parede branca com o desenho das cartas do baralho, a maioria marcadas com um "X". — Existe um jeito de terminar esse pesadelo. Zerar os jogos e juntar todas as cartas do baralho!
— Se juntarmos todas as cartas, tudo irá voltar ao normal? — Perguntou com esperança, vendo o homem a encarar.
— O mundo normal não irá voltar, apenas uma pessoa pode retornar para o antigo mundo. É impossível uma pessoa reunir todas as cartas, por isso nós trabalhamos juntos, para que essa pessoa consiga retornar ao mundo normal. Esse é o objetivo da praia. — Ele saiu de trás da cadeira, indo para a frente de Wendy, apontando para a parede com as cartas desenhadas. — E eu soube que você tem uma carta muito boa. — O homem voltou a encará-la, antes de ir até a mesa do lado da janela, sentando-se sobre ela. — E para ficar aqui na praia, você precisa saber das regras. Temos três apenas. Primeira regra: deve usar trajes de banho o tempo todo, assim não é possível esconder armas de fogo em trajes de banho.
— Temos armas armazenadas, porém poucas pessoas têm autorização para usá-las. — A mulher de óculos escuro, comentou.
— Aqui você pode beber, usar a droga que quiser, enfim, aproveitar a vida ao máximo. Mas enchemos as fechaduras com cola e as portas não podem ser trancadas, ninguém pode esconder nada. — Ele riu. — Segunda regra: todas as cartas do baralho pertencem a praia, Mas não se preocupe, querida, quem contribuir com mais cartas é promovido a uma posição mais elevada. — Mostrou seu pulso, com uma espécie de pulseira que continha o número um estampado.
— E se eu não quiser fazer parte desse sistema de pirâmide? — Ela finalmente tomou coragem para falar alguma coisa.
— Terceira e última regra: morte aos traidores. — Foi a resposta dele. — Todos aqui prometeram arriscar a própria vida para possibilitar a primeira saída desse lugar. E quem quebrar essa promessa, jamais será perdoado. — Wendy sentiu todos os olhares da sala sobre si. Seguro, eles disseram.
Quando terminou de falar, o homem pegou as duas cartas que estavam sobre a mesa, que antes pertenciam à Wendy. Três de copas e quatro de paus. Então, outro sorriso surgiu nos lábios dele, ao perceber que o três de copas não estava marcado na parede.
— Estamos um passo mais perto de sair daqui! — Ele exclamou, erguendo a carta. — Muito obrigado! Iremos considerar promover você a uma posição mais alta... Por enquanto, aproveite sua temporada na praia!
♡♢♤♧
Após a conversa que parecia interminável com os líderes da praia, Wendy recebeu uma pulseira com um número estampado e foi levada para um quarto disponível, que era basicamente uma suíte, tendo um quarto e um banheiro. Ela deixou seus itens na mesa de cabeceira, sendo eles, seu caderno, caneta e sua bolsa de cintura, que continha uma faca. Além disso, ela recebeu uma compressa de gelo, para colocar em sua perna antes de dormir, coisa que a mulher não conseguiu fazer, já que seus pensamentos a deixavam preocupada, refletindo sobre como seriam seus dias naquele lugar.
De alguma forma, naquele lugar eles conseguiam reutilizar a água da chuva para consumo e combustível para gerar energia. Então, no dia seguinte ela tomou um banho, e usou uma roupa que lhe foi entregue. Era um short jeans claro de cintura alta, um cropped com pequenos girassóis desenhados e, por baixo, um biquíni verde água.
Wendy procurou por Arisu e Usagi no saguão, mas sem sucesso, então foi até a área da piscina, mas também não os encontrou. Sua perna já não estava lhe incomodando como na noite anterior, no entanto ainda doía. Ela ficou sentada sozinha em uma das espreguiçadeiras, tentando não chamar a atenção. Seu plano deu errado, já que uma menina de vestido laranja se aproximou.
— Algo me diz que você é nova aqui. — A garota sentou na espreguiçadeira ao lado.
— Acho que não consigo me camuflar tão bem entre as pessoas. — Wendy comentou.
— Não se culpe, eu sou muito observadora. — Brincou. — Me chamo Shiori.
— Wendy. — A Watanabe se apresentou. — Está a muito tempo aqui?
— Alguns dias, talvez semanas. Não tenho tanta certeza. — Ela se deitou, fechando os olhos. — Estou tentando ver o lado positivo, mesmo que, talvez, não haja. Pelo menos aqui temos piscina.
Wendy riu. O positivismo e a forma amigável com que a garota se aproximou lembrou a Watanabe de seus amigos da faculdade, Mina e Haruto, e da menina que conheceu a dias atrás, Aiko.
— Não se esqueça do banho e da comida de graça. — Wendy respondeu.
Por mais que a acastanhada quisesse ficar sozinha no momento, gostou de ter a companhia de Shiori durante o dia. Depois de uma hora conversando, a garota reclamou do calor e tirou o vestido, revelando um biquíni rosa por baixo, para pular na piscina. Shiori ficou perto da borda, apoiando seus braços na mesma, para continuar sua conversa com Wendy, que decidiu permanecer sentada na espreguiçadeira.
— Você não acha estranho essa regra de ter que juntar as cartas para apenas uma pessoa voltar? — Wendy tocou no assunto que ainda ocupava sua mente.
— Sim, mas não temos muita escolha. — Shiori respondeu, logo depois jogou um pouco de água na direção de Wendy. — Você está me fazendo olhar o lado negativo! Sem pensamentos pessimistas aqui. Lembra? Foca na água e comida de graça. — Wendy riu com a resposta, embora não conseguisse parar de pensar nessa injustiça descarada e no fato que muitos iriam morrer para apenas uma pessoa voltar ao mundo real.
— Foi mal, mas eu só consigo pensar que daqui a alguns dias eu vou ter que jogar de novo e não tenho garantia de quantos jogos vou conseguir zerar, isso tudo para que alguém salve sua própria bunda. — Ela foi atingida pela água novamente.
— Fala baixo! — A outra disse entredentes, com um sorriso falso. — Não se esqueça da terceira regra da praia.
— Está bem... — Se deu por vencida. — Vou mentalizar a água e a comida de graça.
— Essa é a minha garota! — Shiori sorriu.
Numa espreguiçadeira do outro lado da piscina, Wendy viu duas meninas juntas a encarando, mas logo que notaram os olhos da jovem sobre elas, ambas desviaram o olhar. Wendy não entendeu o que aconteceu, apenas voltou a prestar atenção na conversa com Shiori.
À medida que anoitecia, mais pessoas se reuniram na área da piscina, dando início a uma festa. Tocava uma música animada e todos aparentavam estar felizes, como se estivessem vivendo no mundo perfeito, quando, na verdade, estavam bem distantes disso. De fato, a praia é uma utopia. Um lugar onde tudo é liberado, até mesmo coisas que seriam proibidas no mundo real, desperta o pior das pessoas, isso a garota tinha certeza. Então, teria que tomar cuidado naquele lugar disfarçado de paraíso.
Shiori saiu da piscina e disse que precisava trocar de roupa, deixando Wendy sozinha novamente. A jovem pensou em se levantar e voltar para o seu quarto, mas quando estava cogitando essa ideia, uma mulher de biquíni azul e tranças no cabelo sentou ao seu lado.
— Você é a garota que o Arisu e a Usagi trouxeram? — A garota tinha um cigarro apagado na boca.
— Sim, meu nome é Wendy — Respondeu, depois de pensar por breves segundos, estranhando a aproximação repentina. — E você é...?
— Kuina. — Ela estendeu a mão, que foi apertada pela Watanabe — Fiquei curiosa para te conhecer, depois que ouvi que eles trouxeram alguém novo para cá.
— E quem te contou? — A encarou.
— Um amigo. — Respondeu simplista. Mas essa resposta não supriu a dúvida de Wendy. — O que está achando da praia? — Ela estava visivelmente tentando mudar de assunto.
— Estranha. — Olhou para o outro lado da piscina, onde um casal estava aos beijos em uma espreguiçadeira, sem se importarem com os outros ao redor. — Bem estranha.
— Mas você tem que se acostumar. — Ela tirou o cigarro apagado da boca e notando o olhar de Wendy sobre o objeto, explicou: — Eu parei de fumar porque minha mãe está no hospital, esse é meu estímulo para sobreviver aos jogos e voltar ao mundo real. — Disse com sinceridade. — É preciso ter uma motivação, entende?
— Acho que a minha seria... Voltar para meus pais e amigos. — Seu rosto se entristeceu pensando nas pessoas que mais amava, principalmente ao lembrar de seu pai, que há muito tempo não o via
— É válido. — Kuina lhe deu um sorriso amigável. — Se aceita um conselho, apenas não arranje confusão com ninguém, principalmente os que estão no comando. A dica de ouro é fique longe da milícia e em paz com o Chapeleiro.
— Não sei se a primeira impressão que o Chapeleiro teve de mim foi a melhor, já que eu praticamente perguntei se poderia recusar o convite de ficar aqui. — Kuina fez uma careta.
— Mas agora você está aqui, não é? Não acho que ele vai marcar seu rosto por isso, ele apenas marca os rostos dos seus protegidos e, mesmo assim, ninguém está nessa posição no momento... — A garota pensou por um momento — Talvez o Arisu seja o único que chega perto desse cargo por ser muito inteligente.
Foi nesse momento que Wendy notou Arisu e Usagi um pouco distantes. Então, acenou para eles, que vieram na sua direção assim que puseram os olhos nela. A dupla que ela conheceu no seu segundo jogo se sentou na espreguiçadeira do lado, juntos. Kuina cumprimentou os dois.
— Onde vocês estavam? Eu procurei por vocês por um bom tempo. — Wendy comentou e Kuina riu.
— Finalmente estão juntos? — Kuina levantou as sobrancelhas algumas vezes, mas sua expressão sorridente sumiu ao ver o rosto sério de Usagi. — Não sei por que perdem tanto tempo, aqui não sabemos o dia de amanhã, mas vocês que sabem. — A fala de Kuina deixou Wendy curiosa.
— Faz muito tempo que vocês estão aqui na praia?
— Acho que um mês — Kuina comentou e como resposta a Watanabe arregalou os olhos, chocada.
— Uma semana. — Usagi e Arisu falaram em uníssono. Então, ao contrário do que Wendy pensava, eles não eram tão veteranos assim na praia.
De repente, a música parou quando um grupo de pessoas se aproximou e todos ficaram em silêncio, como se a chegada deles fosse algo negativo.
— Eles são a milícia da praia. Se quiser sobreviver nesse lugar, não se meta com eles. O grandão é o Aguni, ele é ex-militar e é responsável por todas as armas da praia. — Ela explicou para Wendy, com voz baixa, enquanto o grupo de pessoas armadas caminhava. — O poder da praia é controlado pelo número um, o Chapeleiro, e seus lacaios, e também pela milícia liderada pelo Aguni. — Colocou o cigarro apagado de volta na boca. — Fazemos de tudo para manter a paz e a ordem, mas um conflito entre os dois grupos pode acontecer a qualquer momento. — Então, Kuina se calou, quando o grupo ficou muito próximo.
Dentre os participantes da milícia, alguns chamaram mais a atenção de Wendy. O líder, que andava na frente de todos, era forte e seu braço estava sujo, pelo que parecia ser sangue. Logo atrás dele tinha dois homens, um homem encapuzado, que tinha tatuagens pelo corpo e trazia consigo uma espada; e o outro, que carregava uma metralhadora, tinha de cabelo longo e escuro, e dois piercings em seu rosto, um no nariz e outro na sobrancelha. O olhar do líder da milícia, Aguni, estava sobre sobre o grupo sentado nas espreguiçadeiras, então focou em Usagi e comentou para o de cabelo longo.
— Leva ela para o meu quarto. — Falou como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Certo. — O cara da metralhadora apenas confirmou e se aproximou de Usagi, mas Arisu ficou de pé e impediu que o outro encostasse em na mulher.
— O nosso chefe quer tirar uma casquinha da sua amiga. — O homem debochou. — Vamos! — Tentou mais uma vez segurar o braço de Usagi, mas foi impedido por Arisu novamente. — E o que eu faço com esse moleque?
— Quebra as pernas dele para ele morrer no próximo jogo. — O líder respondeu.
— Tudo bem. Levem a garota para o chefe. — Falou para o grupo que estava atrás de Aguni, depois ele se voltou para Arisu, o segurando pelo braço. — E você vem comigo.
Arisu se desfez das mãos do homem de cabelo longo, voltando a ficar na frente de Usagi, impedindo que outro homem da milícia se aproximasse dela. Wendy sentia seu coração acelerado, estava ficando nervosa com a situação. Ela observava tudo com vontade de intervir, mas ao mesmo tempo lhe faltava coragem. Sentiu-se impotente por não conseguir fazer nada naquele momento.
— Isso é uma briga? — A voz do Chapeleiro foi ouvida, e as pessoas abriram caminho para que ele passasse com os mesmos seguranças do dia anterior atrás dele.
— Isso não é da sua conta, Chapeleiro. — Aguni respondeu. — Cai fora.
— Não posso fazer isso. Como o número um, eu devo manter a ordem na praia. — Se aproximou de Aguni. — Pode fazer o que eu peço e liberar eles, Aguni? — O outro não respondeu, deixando um silêncio no ar. — Niragi? — Olhou para o homem com a metralhadora.
— Eu só posso obedecer às ordens do meu chefe. — O homem respondeu, de forma debochada.
— Então eu vou perguntar diretamente para ele. — O Chapeleiro deu alguns passos à frente, ficando cara a cara com o líder da milícia. — Quem é o seu chefe, Aguni?
— Você, Chapeleiro.
Wendy teve que se conter para não rir. Ao mesmo tempo em que estava nervosa, ficou feliz por ver o Chapeleiro aparecendo no momento certo e, também, surpresa ao ver o poder que ele tinha até sobre o grupo de pessoas armadas. A milícia saiu do local sem comentar mais nada, então a Watanabe respirou fundo, aliviada. A acastanhada ainda tinha o olhar sobre o Chapeleiro, admirada pela forma como ele livrou Usagi e Arisu de um problema. O homem retribuiu o olhar, lançando um sorriso discreto para Wendy, que involuntariamente retribuiu.
— Reunião dos membros executivos. — Chapeleiro anunciou. — Arisu e Wendy, vocês também. — A garota ficou surpresa ao ouvir seu nome.
Arisu murmurou que voltaria em breve para Usagi, antes de esperar Wendy se levantar da espreguiçadeira, para caminharem juntos, seguindo pelo mesmo caminho que o Chapeleiro fez.
♡♢♤♧
— A reunião do conselho executivo vai começar. Quem não for participar, deixe a sala. — O Chapeleiro disse com seu tom de voz sério, antes de sentar na cadeira que ficava em uma das pontas da mesa retangular.
Um grupo de pessoas se reuniu em volta da mesa, de um lado o grupo do Chapeleiro, e do outro o da milícia, que era liderado por Aguni, este que estava sentado na ponta da mesa oposta ao Chapeleiro. Wendy e Arisu ficaram em pé, próximos da parede, sem saberem exatamente em que lugar da sala deveriam ficar. Ao observar cada pessoa presente, a garota notou rostos já conhecidos, entretanto uma figura era nova para ela. Um homem de cabelo platinado que, ao encarar Arisu e Wendy, acenou para ambos.
— Temos muitas cartas repetidas, mas até agora não encontramos nenhuma carta com figura. — Mira comentou, observando algumas cartas em suas mãos.
— Se as cartas com figuras não existirem, então faltam poucas cartas para completarmos o baralho. — Disse Kuzuryu, o homem, que sempre estava com seu óculos no rosto.
— Pode ter alguma condição para essas cartas aparecerem, talvez fora da cidade... — Foi a vez de Ann se pronunciar.
— Nunca encontramos um fogo fora de Tóquio. — Kuzuryu rebateu.
— Mas não investigamos todas as possibilidades. — Ann o encarou.
— Nossa estratégia não vai mudar, vamos continuar investigando arenas de jogos na cidade. — O Chapeleiro interrompeu. — Continuem procurando as cartas que faltam, seja do naipe que for, de ouros, espada, paus ou copas.
— Engraçado como o jogo de copas funciona. Ele te permite brincar com o sentimento das pessoas, se você envolver quem não se importa, certamente irá conseguir vencer. — Mira voltou a falar, com um sorriso sádico no rosto. — Aqui temos duas pessoas que conseguiram zerar os jogos desse naipe.
— Como vencedores em jogos de copas, vocês dois poderiam nos dar algum conselho? — Chapeleiro encarou os dois que estavam no canto da sala, atraindo todos os olhos ao redor da mesa para os jovens, que não conseguiram responder. — Enfim, meus amigos, está chegando o dia que iremos reunir todas as cartas! — Ele disse com entusiasmo.
Enquanto o Chapeleiro continuava a falação, motivando os outros na sala, os pensamentos de Wendy permaneceram no mesmo assunto, tomando um rumo específico. Cada naipe representa um tipo de jogo, mas até o momento a Watanabe apenas havia participado de jogo de copas e de paus. Era evidente a diferença absurda entre eles. O jogo de copas, de fato, brinca com as emoções das pessoas, porém a forma como Mira comentou, deixou-lhe pensativa. A mulher demonstrou tanta frieza, ao comentar o envolvimento de alguém para a vitória no jogo, mas talvez ela não esteja completamente errada, apesar de não ser um pensamento compassivo.
Talvez num jogo cada um representa uma peça no tabuleiro e, de vez em quando, houvesse a necessidade de ser utilizada para alguma vantagem. Na atual situação, não parecia de todo mal envolver alguém para o sucesso, ou melhor, para a sobrevivência. Os pensamentos de Wendy deram uma virada de chave, quando a acastanhada entendeu o que deveria fazer. Sentiu-se em um jogo de xadrez, que é necessário sacrificar algumas peças para vencer. No jogo, qualquer peça pode ser sacrificada, com exceção do rei, que é uma das peças mais importantes, no entanto tem seus movimentos limitados, enquanto a rainha pode sair e manipular o tabuleiro livremente. Ainda sim, independente dessa limitação, o valor do rei é incomensurável. Se o rei cai, o jogo acaba.
Wendy olhou mais uma vez para o Chapeleiro, dessa vez observando a praia com um olhar diferente. Se aquele lugar tinha o número um, tinha também uma hierarquia. O Chapeleiro é, de certa forma, o rei da praia, e se para ser intocável fosse preciso o alcançar, seria exatamente o que a garota iria fazer. Ninguém teria coragem de mexer com a protegida do soberano, portanto, se tivesse o Chapeleiro em suas mãos, estaria com o jogo ganho.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro