𝚝𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢 𝚏𝚘𝚞𝚛
— Já guardou tudo? — Satoru perguntou, enquanto analisava, pela milésima vez, o quarto de vocês.
— Uhum — Foi sua resposta breve e distraída por causa do celular que tinha em mãos.
— E os relatórios?
— Pedi ontem pra Mei Mei levar tudo pra agência — Deu de ombros — Não sobrou mais nada aqui.
— E o seu notebook?
— Mesmo que Geto roubasse ele e levasse pra algum hacker, é bastante improvável que ele conseguisse achar alguma coisa.
— Mas, e se...
— Satoru! — Você gritou, finalmente desistindo de ver vídeos no Tiktok para não precisar prestar atenção nos surtos dele — A gente passou a semana inteira se preparando pra isso. Não tem absolutamente nada nessa casa que vá fazer Geto sequer cogitar a ideia de que não somos só uma família normal.
Não somos só uma família normal.
O "só" que você colocou deu margem para entender que vocês eram sim uma família, mas também algo além disso. E foi exaltante por esse motivo que o Gojo esqueceu as preocupações dele e sorriu genuinamente.
Já faziam duas semanas desde que Satoru tinha lhe dados as flores. Obviamente, elas já tinham morrido a essa altura, mas ele cumpriu a palavra. Os atos românticos dele não pararam por ali. Quase todos os dias o platinado trazia algo para você, sempre sob o pretexto de que aquilo havia, de alguma forma, havia feito com que ele se lembrasse de você.
O Gojo não estava mais voltando tarde do trabalho, então vocês sempre passavam os finais das tardes com Megumi, ou assistindo alguma coisa, ou jogando algum jogo, ou o ajudando com o dever de casa (não que ele realmente precisasse de ajuda).
Mei Mei interagia cada vez menos com você, o que era maravilhoso. Ela já havia aprendido como fazer os trabalhos domésticos e só lhe chamava quando precisava repassar alguma coisa da agência.
Durante essas duas semanas, Satoru conseguiu fazer um convite para o Geto. A ideia tinha sido sua, mas, no fundo, você achou que ele não iria aceitar. Acabou que, no final das contas, o convite foi aceito e o alvo da missão estaria indo para o apartamento de vocês em poucos minutos, juntamente com Yuji.
A ideia era que os dois mais novos ficassem brincando. Eles já estavam muito amigos, mas a interação dentro da escola era sempre problemática por causa da quantidade de seguranças que rodeavam o Itadori. Por isso, o platinado sugeriu que eles fossem brincar em um ambiente que fosse seguro e que os seguranças pudessem ser dispensados. Claro que Suguro não tinha ideia de que estaria indo provavelmente para o lugar menos seguro para ele naquela cidade.
Você observava como o Gojo reagia a cada segundo. Sabia que ele tinha se apegado ao Geto. Também sabia que ele não queria que o moreno descobrisse da verdadeira identidade de vocês. Isso seria uma traição indescritível e o platinado ainda não estava preparado para passar por aquilo.
Claro que, eventualmente, Suguro descobriria de tudo, quando vocês finalmente o pegassem, mas estava disposta a adiar isso o máximo possível, principalmente para que Satoru pudesse continuar com o amigo por um tempinho a mais. Provavelmente o platinado nunca tinha tido uma amizade como aquela. Você conseguia ver nos olhos dos dois. Eles precisavam um do outro para lutarem com os próprios demônios internos. Pena que você não tinha sido contratada para criar uma amizade entre os dois.
— Eu sei disso — Ele continuava sorrindo e você não conseguia desviar o olhar. Amava aquele sorriso. Poderia passar o dia inteiro encarando — Eu só fico nervoso. Se ele descobrir alguma coisa, fudeu. Game over.
— Ele não vai descobrir nada — Respondeu, dando dois tapinhas no colchão ao seu lado, o chamando — Hoje é um dia importante na missão. É a primeira vez que nosso alvo vem nos visitar. Mas também é pra ser um dia leve. Megumi vai passar a tarde brincando com Yuji e você vai poder ficar conversando com o seu amigo.
— Suguro é o alvo da missão — O Gojo deitou ao seu lado e tentou esconder o rosto enquanto falava aquilo. Não queria que você visse que era mentira, mas você não precisava olhar para ele para saber que aquelas palavras não eram verdadeiras — Ele não é meu amigo.
— Tudo bem — Respondeu apenas isso, enquanto envolvia o corpo dele com os seus braços, o trazendo mais para perto — Então vamos só ter uma conversa amigável com nosso alvo, que é uma pessoa extremamente agradável.
— Você gosta dele?
— Gosto — Não precisou pensar muito antes de responder. Suguro podia até ser o líder de um grupo da máfia, mas era inegável que ele era uma pessoa extremamente agradável. Conversar com ele era leve e confortável, além de ele ser bem engraçado e simpático. Você sempre notava como ele seria um amigo perfeito para o Gojo se não fossem as condições atuais, o que era verdadeiramente uma pena.
— Você não se sente mal? — A voz dele não era hesitante, mas você sabia que ele estava tomando cuidado. Estavam entrando em uma conversa problemática.
— É um trabalho — O abraçou com mais força — Não posso me dar o luxo de me sentir mal.
Você foi sincera, mas não sabia muito bem o que responder. Queria saber qual era a resposta ideal para dar a Satoru. Ele tinha se apegado ao alvo da missão. Isso era perigoso, mas não tinha o que fazer. Eventualmente, ele teria que se acostumar com a ideia de trair Suguro.
— Você tem razão.
Não conseguiram passar muito tempo deitados, deixando que suas mentes se inundassem com pensamentos conflitantes. Poucos minutos depois do término da conversa, conseguiram ouvir a voz animada de Megumi gritando na sala, avisando que o melhor amigo e o pai estavam subindo.
Você passou, pelo menos, dois dias inteiros repassando todos os cuidados que o mais novo deveria ter nesse encontro. Megumi era o mais provável de deixar que alguma coisa escapasse, mas você sabia que ele era esperto o suficiente para não deixar isso acontecer.
Enquanto conversavam, você via a tristeza tomando conta do rosto dele quando se lembrava que a amizade dele e de Yuji, assim como o relacionamento dele com os "pais", tinha um prazo de validade. Sabia que ele não queria que esses momentos acabassem. Se já era ruim o suficiente para você e para o Gojo, que eram adultos, nem conseguia imaginar como estava a cabeça de Megumi.
Você e Satoru se levantaram da cama e caminharam em direção à sala, parecendo calmos, mas, por dentro, estavam uma pilha de nervos. Sua respiração estava muito bem controlada, mas estava com medo que algo saísse fora dos seus planos. Era arriscado, a própria agência já tinha dito isso. Mas você não poderia deixar de agarrar a oportunidade.
— Boa tarde — Suguro Geto disse, assim que Megumi abriu a porta para eles.
Yuji cumprimentou vocês rapidamente e, antes que pudessem responder propriamente, Megumi o puxou para começarem a brincar. Talvez o seu filho não quisesse ficar entre os adultos por muito tempo. Era mais fácil fingir que estava tudo bem quando ele ficava com o Itadori.
— Bem vindo à nossa humilde residência — Satoru brincou, enquanto abraçava o amigo, daquele jeito estranho que homens que abraçam sem se abraçarem direito — Não deve ser que nem a sua mansão de doze quartos, mas espero que fique confortável.
Suguro soltou uma risada sincera com a brincadeira e você acabou hipnotizada com eles por alguns segundos. Se não soubesse da verdade, seria impossível não acreditar que aqueles dois eram amigos de infância.
— Quanto tempo, [Nome] — Dessa vez, o Geto lhe cumprimentou abraçando, de uma forma leve, mas firme, como se quisesse demonstrar que estava feliz em estar lá — Você sumiu.
— A culpa não é minha se vocês dois só se entocam em bares — Respondeu, com um sorriso sincero nos lábios — Fico feliz que tenha vindo. Deveria fazer isso mais vezes.
— Prometo que venho sempre que vocês chamarem — Você anotou essa informação mentalmente — Ah, eu trouxe um vinho.
Você finalmente reparou na garrafa nas mãos dele. Não entendia muito de vinhos, mas apenas o suficiente para saber que aquele era um vinho caro demais para o que você estava acostumada.
— Obrigada — Você respondeu, tirando a garrafa das mãos dele e virando o rosto na direção da cozinha — Mei!
A mais velha não demorou mais do que alguns segundos para aparecer na sala, com um sorriso simpático e leve que lhe deu ânsia.
— Como posso ajudar, Senhora Gojo? — Era a primeira vez que ela lhe chamava assim. Mei era uma agente incrível mesmo. Nem deu para perceber que o estômago dela se revirou ao falar essas palavras juntas.
— Traz uns petiscos e abre esse vinho, por favor — Você entregou a garrafa para ela.
— Quem é essa? — Geto parecia inocentemente curioso, ou talvez estava sendo cauteloso com quem estava naquele apartamento, afinal, ele estava sem os seguranças de sempre.
— Mei Mei — Foi Satoru quem respondeu — A babá de Megumi.
— Ah...
O sorriso simpático do moreno morreu no mesmo momento. Você era muito boa em ler as pessoas, mas não conseguiu dizer porque ele parecia infeliz com a presença de Mei.
Satoru olhou rapidamente para você. Ele não tinha contado exatamente tudo sobre a conversa que ele teve com o Geto. Acabou escapulindo que Mei Mei ainda estava tentando alguma coisa com o platinado. Talvez fosse apenas natural que Suguro não goste dela, já que ele gostava tanto de você. Ele já tinha dito uma vez que não queria que o Gojo estragasse o casamento e falou sério.
— É um prazer, Senhor — A mulher mais velha falou, mas recebeu apenas um aceno com a cabeça e nem um centímetro de sorriso.
Com isso, Mei Mei pediu licença e se retirou, indo para a cozinha preparar o que você tinha pedido. Ao mesmo tempo em que vocês três se sentavam na sala. Geto se sentou em uma poltrona, bem próxima do sofá onde você e Satoru estavam sentados, lado a lado.
Foi impressionante como não demorou muito para que vocês engajassem em uma conversa sem fim, emendando um assunto no outro. Enquanto isso, conseguiam ouvir as vozes dos meninos, que estavam brincando no quarto de Megumi, de vez em quando.
Estava tudo indo bem. Mais do que isso na verdade. Você estava feliz.
Mei Mei levou uma tábua de frios e três taças de vinho. Geto não pareceu se importar nem um pouco com o fato de que as coisas na casa de vocês eram mais simples e menos caras do que na mansão dele. Na verdade, ele parecia mais confortável ali do que em qualquer outro lugar.
— Yuji tirou três em matemática de novo — Ele disse, no meio de um suspiro — E isso porque ele tá estudando, imagina se não tivesse.
— Megumi pode ajudar ele a estudar — Satoru respondeu, tentado não rir da frustração do amigo — As notas dele são boas e ele ensina muito bem.
— Eles podem ficar depois da aula na biblioteca da escola — Foi sua a sugestão — Ele 'tava estudando com Nobara no início do ano, mas pararam porque as notas dela começaram a subir.
— Vou pedir pra ele fazer isso mesmo, se Megumi não se importar.
— Megumi realmente gosta de Yuji — Você disse, olhando de forma distraída para a taça de vinho que tinha em mãos. Não podia beber muito. Da última vez acabou não se lembrando de uma declaração que Satoru fez — Tenho certeza de que ele não vai se importar.
— Talvez ele se importe com a quantidade de seguranças ao redor do seu filho — O Gojo disse, em tom de piada, o que fez o moreno rir, mesmo que aquilo fosse sério.
— Eu tô tentando diminuir a quantidade de seguranças que vão pra escola com ele — Suguro respondeu, realmente parecendo sincero — É difícil porque eu já me acostumei com isso, mas eu sei que ele nunca se acostumou.
— Tenho certeza de que ele sabe que você faz isso porque se preocupa com ele — Você respondeu, mais uma vez distraída, deixando apenas que suas palavras mais sinceras escapulissem.
— Mas, mudando de assunto — Talvez aquela conversa fosse profunda demais para vocês ainda — Nunca me contaram como vocês se conheceram.
Você olhou na direção de Satoru, mas tinha um sorrisinho no seu rosto para esconder o desespero. Nunca tinham pensado nisso.
Porra! Vocês dois eram profissionais a tanto tempo e não prensaram numa merda dessas?
Sim...
— Fomos vizinhos uma época — A resposta foi de Satoru, que nem vacilou com a voz ao falar — Acho que a gente estudava em universidades próximas. Ela fazia artes e eu fazia medicina.
— Aí vocês começaram a sair?
— Nem de perto — Ele riu, como se estivesse relembrando memórias antigas — [Nome] me odiava. Eu dava em cima dela toda oportunidade que surgia e ela só ficava mandando eu me foder.
Até você riu. Conseguiu visualizar a cena.
— Depois de muita insistência, eu consegui fazer ela concordar em sair comigo — Ainda olhando na direção de Suguro, ele pegou sua mão e colocou entre as dele — Me apaixonei no primeiro encontro e sou perdidamente apaixonado por ela até hoje.
Seu coração travou e ficou mais difícil de respirar, como se não tivesse oxigênio suficiente no apartamento.
— Você realmente ama ela, né? — O Geto tinha um sorriso orgulhoso no rosto, como qualquer pessoa ficaria ao ver o seu melhor amigo falando sobre a esposa.
— Muito — A resposta dele foi tão sincera que quase fez você chorar.
Você talvez pensaria que aquelas palavras não eram verdadeiras. Que era uma forma de Satoru convencer Geto do casamento saudável e verdadeiro de vocês. Mas nem você era tão idiota assim.
O platinado já tinha se declarado para você antes. Não é a primeira vez que ele diz que te ama.
Mas, toda vez que isso acontece, você só se lembra de uma verdade absoluta: em pouco tempo, você estaria indo embora. Nunca mais veria ele ou Megumi. Sumiria do mapa mais uma vez.
E foi com esse pensamento em mente que você nunca teve coragem de responder o "eu te amo" dele.
Ainda conversaram por muito tempo. Depois que o Gojo se declarou para você, o assunto mudou rapidamente, do mesmo jeito que todos os assuntos estavam mudando.
Tinham se perdido no tempo enquanto comiam queijos e acabavam com a garrafa cara de vinho que o moreno tinha levado.
— Porra, olha a hora — Suguro disse, olhando para o relógio, quando o sol não estava mais no céu — Eu tenho que ir.
Vocês não contestaram. Já era uma vitória ele ter ido para o apartamento de vocês passar uma tarde inteira.
Chamaram as crianças e as despedidas começaram. Para sua sorte, Yuji e Megumi insistiam tanto para que aquilo acontecesse de novo que o seu plano tinha dado, mais uma vez, certo.
— Senhora Gojo, chegou uma encomenda que precisa da assinatura da senhora — A voz de Mei era doce e gentil, quase fazendo você se esquecer quem estava falando com você.
— Tudo bem — Respondeu e se virou na direção de Suguro — Eu vou com vocês até lá embaixo.
Ele assentiu, com um sorriso sincero nos lábios, e se despediu mais uma vez de Satoru. Vocês três passaram pela porta e chamaram o elevador, enquanto ainda conversavam animadamente.
O Gojo olhou para vocês até o momento em que as portas do elevador se fecharam e vocês saíram completamente do campo de visão dele. Tinha sido tão bom. Ele não queria que tivesse acabado.
Mesmo assim, se forçou a mover o próprio corpo e ajudar Mei Mei na limpeza. Na verdade, a limpeza era um pretexto. Estavam verificando se Suguro não colocou nenhuma câmera ou escuta na casa.
Calados durante uns dez minutos, ele e a mulher mais velha verificaram cada centímetro daquela sala. Somente depois de ver tudo, Satoru se deixou suspirar e relaxar um pouco.
— Pelo menos não vamos ter que nos preocupar com escutas — Ele disse, cansado — Vou tomar um banho, você avisa pra [Nome]?
— O que você sente por ela?
Os olhos dele se arregalaram e ele olhou na direção da antiga amante. Mei tinha as sobrancelhas franzidas, como se estivesse realmente irritada, o que só contribuiu para a diversão dele.
— Como assim?
— Você fala que ama ela com a maior naturalidade do mundo.
— Eu sou um agente, Mei.
— Não é só isso — Ela quase gritou, mas se controlou para falar mais baixo — Eu te conheço melhor do que ninguém, Satoru. Você não tava mentindo quando falou aquilo.
Os olhos dele continuaram focados nela, mas a mente dele viajou um pouco. Ele realmente amava você. Já tinha admitido isso para si mesmo vezes o suficiente para não se esquecer mais. Mesmo assim, talvez ele não quisesse as pessoas da agência sabendo disso.
Masamichi tinha planos externos para você depois que a missão acabasse, planos que não tinha compartilhado nem com o platinado. Satoru não sabia o que eles fariam se soubessem que ele criou sentimentos românticos por você. Não queria que eles se perguntassem a que ponto ia esse amor, porque ele tinha certeza de que queimaria a agência, e o mundo, por você.
— Claro que eu não amo ela — Foi o que ele respondeu, rindo, de forma descontraída — Mas eu preciso convencer Suguro de que sim. Pelo menos, se eu consegui convencer você, não consigo imaginar ele achando o contrário.
— Então você realmente não ama ela? — Por mais que fosse uma agente formidável, Mei não conseguiu disfarçar o rastro de esperança nos olhos dela.
— [Nome] é muito complicada — Foi a resposta dele. Não queria dizer "claro que não" de novo. Uma vez já tinha sido doloroso o suficiente — Não combinamos, nem somos compatíveis. Além disso, eu não quero ficar preso em uma coleira agora, no auge da minha...
Mas ele parou de falar quando ouviu o som da tranca eletrônica se abrindo. Você tinha chegado em casa, com um pacote na mão e expressão neutra no rosto. Quando você se esforçava, nem Satoru conseguia ler suas expressões faciais.
— Pegou o pacote? — Ele perguntou, tentando não parecer tenso.
— Peguei — Você respondeu, ainda sem demonstrar nenhuma expressão, caminhando para dentro da casa e colocando o pacote em cima da mesa ao passar por ele, sem falar mais nada.
O coração de Satoru se apertou um pouco com aquilo. Você estava fria e distante de novo, muito diferente de como estava poucos minutos atrás. Talvez você só estivesse cansada do longo dia. Não. O Gojo nem conseguiu sustentar essa ideia por muito tempo.
Ele sabia que você tinha escutado tudo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro