🎨- Prologue
Lá estava ele novamente, apodrecendo em uma cama de um hospital em Paris. Mesmo com o fato de sua vida estar próxima do virar de páginas, meu irmão continua com seu sorriso radiante no rosto.
Mesmo com esse máscara feliz que ele exibe ao mundo, sei que está apavorado, devastado, preocupado, e mais infinitos sentimentos ruins em um momento só. Vê-lo passar por isso parte o coração de qualquer irmã mais velha, e comigo não é diferente. Se eu pudesse, trocaria de lugar com ele e ficaria doente em seu lugar, morreria em seu lugar. Tudo para que ele tivesse mais tempo comigo ou pelo menos aqui na Terra.
Quando todos os médicos e enfermeiros saem do quarto e me deixam a sós com meu irmão finalmente, sinto que o ambiente fica relativamente mais leve.
— Irmão, não precisa ficar com um sorriso que não é seu grudado no rosto, qualquer pessoa normal ficaria até pior do que isso em uma situação assim. — digo enquanto coloco as rosas vermelhas que ele ganhou em um vaso. E depois de um longo tempo, ele não responde.
Quando o olho, tenho a visão mais tristonha que poderia ter hoje. O sorriso de antes não estampa mais seu rosto, e sim lágrimas salgadas como água do mar.
— Ei, ei. Estou aqui com você maninho. Respire fundo, vai ficar tudo bem. — passo meu braço por seus ombros e o abraço com cuidado, segurando as minhas próprias lágrimas.
— Lulu... eu tenho muito medo do que vai acontecer depois que eu fechar os olhos de vez. Eu espero que seja como se eu estivesse sendo carregado para o quarto pela mamãe quando era criança e dormia num sofá de uma festa em família— ele fala com a voz embargada fitando o lençol branco.
— Não diga isso, você vai ficar bem. Temos que ter esperança em momentos como esse.
— Não estou preocupado comigo. Sim, eu estou com muito medo da morte, mas estou mais preocupado com você e os outros depois que eu for. Você promete que nunca vai perder esse brilho nos olhos e esse sorriso que conseguiria iluminar o mundo inteiro? — ele me dá um fraco sorriso enquanto meus olhos ficam embaçados com lágrimas.
— Lixie, para com isso. Eu disse que vai ficar tudo bem.
Felix estende o braço com dificuldade por conta dos aparelhos conectados ao seu corpo e limpa meu rosto sorrindo.
— Me promete que sim, por favor.
— S-sim... eu prometo, Felix. Que nunca vou parar de sorrir para o mundo e não vou chorar nunca.
— Essa é minha garota. E como está aquele quadro que você estava pintando?
Ele se refere à minha última criação, claro que ainda é uma pintura inacabada. Mas nele, eu representei duas crianças na beira do mar brincando. O sonho do meu irmão sempre foi ver o mar, porém infelizmente ele não vai realizá-lo, então comecei a pintar esse quadro para ele algumas semanas atrás.
— Não terminei ainda, mas posso trazer ele amanhã para você ver como está ficando. Também posso tentar trazer a Daisy escondida na mochila, acho que ninguém ia perceber uma cachorrinha pequena lá né? Se quiser, posso pegar aquele seu pinguim de pelúcia também, qual o nome mesmo? Ah, lembrei! Leo né?
— Apoio a ideia, mas cuidado para não matar a Daisy sufocada. Estarei esperando amanhã. Já é melhor você ir para casa, Luna. O sol já se pôs.
Grudo em um abraço nele e finjo choro.
— Eu queria tanto dormir aqui com você, ficar em um quarto desses sozinho parece ser arrepiante de madrugada.
— Realmente é, tem um paciente no quarto ao lado que ronca muito alto, parece um zumbi comedor de cérebros. Mas é sério, você tem que ir antes que o pai fique bravo. — ele se solta do abraço e faz com a cabeça para eu ir, realmente, se o nosso pai se estressar provavelmente nem conseguirei vir amanhã.
— Dessa vez você ganhou, Lixie. Eu volto amanhã com tudo que prometi, te amo. — dou um último abraço nele e deposito um beijo em sua testa.
— Até, Lulu. Eu te amo muito também. E não se esqueça da sua promessa!
Dou um tchauzinho com a mão e mando um beijo no ar para ele que só sorri. Amanhã será um dia e tanto.
☾
Aquela foi a última vez que vi meu amado irmão com vida, mas não foi a última vez que o vi sorrindo. Quando fui visitar o seu corpo de manhã e durante seu funeral. Seu semblante não era assustado ou triste como o mesmo imaginava antes, ele estava sereno e exibia um fraco e calmo sorriso. Como se na verdade a morte tivesse o visitado durante o sono como uma velha amiga, e não como um inimigo hostil.
Durante a cerimônia consegui as custas manter minha palavra e não derramei uma lágrima sequer, nem quando ajudei a enfeitar seu caixão com as rosas que ele tanto gostava, ou quando dei meu discurso na frente de todos os rostos tristonhos.
Por mais que o dia tenha permanecido cinzento e chuvoso. De noite o céu ficou completamente estrelado, como se estivesse fazendo uma festa de boas-vindas para meu irmãozinho que agora mora lá. Então adormeci com os olhos marejados enquanto tentava adivinhar qual daquelas milhares de estrelinhas seria Felix.
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