"Do Caos à Calmaria"
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Depois de responder a mensagem do garoto, acabei dormindo ali mesmo no sofá. Estava exausto do trabalho e não consegui lutar contra o sono. Acordei quase às oito da noite, meio desorientado. Pisquei algumas vezes, tentando processar onde estava e o que tinha que fazer.
Então, lembrei. Eu tinha marcado de encontrar o tal Jungkook. Soltei um suspiro pesado. Eu não era muito de sair para conhecer gente nova, mas algo nele havia me deixado curioso. Talvez fosse sua energia, sua maneira de falar nas mensagens... Ou talvez fosse apenas uma tentativa de sair da minha rotina cansativa. De qualquer forma, eu estava ansioso, o que era estranho. Eu normalmente não me sentia assim com encontros.
Olhei para o relógio mais uma vez e decidi que não ia deixar a ansiedade me vencer. Levantei-me do sofá e fui me arrumar rapidamente, pegando uma jaqueta qualquer. Quem sabe Jungkook não acabava sendo uma boa adição à minha vida monótona?
Procurei pela chave do carro, mas não fazia ideia de onde a tinha colocado. Fui até a mesa da sala, chequei nos bolsos da jaqueta, no balcão da cozinha, e nada. Aquilo estava começando a me irritar. Eu estava atrasado e a última coisa que precisava agora era perder tempo com isso.
Comecei a revirar o sofá, empurrando as almofadas, tentando lembrar onde poderia estar. Já estava pronto para revirar a casa inteira quando, de repente, me lembrei. Eu tinha deixado a chave no rack da entrada, logo que cheguei do trabalho. Respirei fundo, aliviado, e fui direto pegá-la.
Esses lapsos de memória estavam ficando cada vez mais comuns... talvez fosse o cansaço ou a correria do dia a dia.
Ou talvez essa falta de memória viesse do abuso excessivo de drogas e álcool. Não era como se eu não soubesse disso, mas prefiro não pensar muito a respeito. Saí de casa e tranquei a porta, ainda com esses pensamentos rondando minha cabeça. Fui até o elevador, e assim que chegou, entrei e apertei o botão para descer.
Enquanto esperava, olhei para o reflexo no espelho do elevador, tentando avaliar se estava pelo menos apresentável para conhecer alguém. Estava com uma jaqueta preta de couro um pouco desgastada, mas que eu gostava bastante. Por baixo, uma camiseta branca simples, com o tecido ligeiramente amassado - eu realmente não estava com paciência para me preocupar com isso. As calças jeans eram escuras e um pouco largas, com algumas rasgaduras nas pernas, um estilo que eu sempre usava, meio desleixado. Nos pés, tênis pretos, mas confortáveis.
Penteei o cabelo com os dedos, tentando arrumar a bagunça, mas não adiantou muito. "É o que tem pra hoje", pensei, dando de ombros. Não era como se eu fosse tentar impressionar alguém, só queria que o encontro não fosse um desastre.
Eu só não queria estragar uma amizade antes mesmo de começar por causa do meu jeito de me vestir. Mas, sendo honesto, isso raramente importava para mim. Mesmo assim, a insegurança estava ali, rondando meus pensamentos. Minutos depois, a porta metálica do elevador se abriu e saí, tentando me concentrar no que realmente importava.
Passei pela recepção como de costume, acenei de leve para o porteiro e fui até onde havia deixado meu carro. Entrei, coloquei o cinto e, sem muita demora, dei a partida. Peguei a via principal, o que não foi a melhor escolha, e enquanto dirigia, decidi adicionar a localização da casa do Jungkook no GPS. Já estava me sentindo meio atrasado, e quando olhei para o relógio no meu pulso, a irritação aumentou.
O trânsito estava horrível. Eu já tinha parado no sinal pelo menos três vezes em questão de poucos minutos, e cada vez que o carro parava, soltava um suspiro pesado. O relógio continuava a avançar, e o tempo parecia correr mais rápido do que eu. Esse tipo de coisa só servia para me deixar ainda mais tenso, e o encontro que eu já não estava completamente confortável em atrasar, parecia ficar cada vez mais distante.
"Se isso continuar assim, vou chegar com mais de meia hora de atraso" - pensei, batendo os dedos no volante enquanto esperava mais um sinal abrir.
Eu mantinha os olhos fixos no trânsito, tentando não me estressar mais do que já estava. A cada sinal que fechava, eu soltava um suspiro mais pesado. O GPS indicava que ainda faltava um bom tempo para chegar à casa do Jungkook, e, a essa altura, ele provavelmente já estava me esperando.
Meu celular vibrou no banco do passageiro. Dei uma olhada rápida enquanto o carro estava parado e vi uma mensagem de Jungkook.
" Tá chegando, Hyung!?"
Ele não parecia impaciente, mas a simples pergunta só aumentou minha irritação por ainda está parado no sinal.
- Sim, tô preso no trânsito - respondi rapidamente, largando o celular de volta no banco.
Continuei no caminho, e aos poucos o trânsito começou a fluir melhor. Passei a focar na música que tocava baixinho no rádio, tentando acalmar a mente. O encontro já estava marcado, e agora não tinha mais como voltar atrás. Eu só precisava lidar com isso. Conhecer alguém novo não deveria ser tão complicado assim, mas para mim era. Sempre era.
Finalmente, cheguei na rua onde ele morava. A área era mais tranquila, um pouco distante do caos da cidade. Encostei o carro, desliguei o motor e respirei fundo por um segundo antes de sair. Fechei a porta do carro, olhei para frente, e ali estava a casa onde ele morava.
Assim que parei, busquei pelo celular que havia largado no banco do carro. Minhas mãos estavam um pouco trêmulas enquanto digitava uma mensagem para ele, informando que já estava à sua espera.
- Cheguei - escrevi, e, para minha surpresa, ele respondeu rapidamente.
- Ótimo! Estou saindo agora! - respondeu ele
Parece que eu não estava tão atrasado assim. Enquanto aguardava, senti um misto de ansiedade e curiosidade.
Pouco tempo depois, a porta da casa de Jungkook se abriu e o vi sair. Ele parecia animado, com um sorriso largo no rosto que me fez sentir um pouco mais à vontade. Ele caminhou na minha direção, e, sem pensar muito, abri a porta do carro e desci.
- Oi, Jungkook! - cumprimentei, tentando transmitir a confiança que não sentia completamente.
- Oi, Yoongi! Que bom que você veio! - Ele parecia genuinamente feliz em me ver. O jeito como seu sorriso iluminava o rosto dele me deixou um pouco menos nervoso.
- Desculpa pelo atraso, o trânsito estava horrível - disse, tentando me desculpar enquanto fechava a porta do carro.
- Sem problemas! Vamos dar uma volta então? - sugeriu, gesticulando para o caminho à frente.
- Claro, vamos lá - respondi, abrindo a porta do carro novamente. Ele logo entrou no banco do passageiro e colocou o cinto, o modo como ele deixava o clima mais leve fez a ansiedade começar a se dissipar um pouco, e eu me perguntei se esse encontro poderia realmente se transformar em uma boa amizade.
Logo dei partida, e um silêncio desconfortável tomou conta do carro. Nós não havíamos decidido para onde ir, e a tensão estava começando a me deixar inquieto. Para quebrar aquele silêncio, resolvi perguntar:
- Tudo bem se formos para a praia?
Para minha surpresa, Jungkook respondeu com um grande sorriso. O jeito como os olhos dele brilharam me deixou mais aliviado. Eu tinha percebido que ele levava algo, mas não perguntei do que se tratava. Naquele momento, eu só queria aproveitar a companhia dele.
Enquanto dirigia, a cidade foi dando lugar à paisagem litorânea, e logo chegamos à praia. Estacionei no acostamento e, depois de desligar o motor, desci do carro. Tranquei a porta, e juntos caminhamos até a beira do mar. A brisa salgada do mar e o som das ondas quebrando na areia eram relaxantes, e eu pude sentir a tensão se dissipar um pouco.
- É tão bom aqui - disse Jungkook, olhando para o horizonte, onde a lua o reflexo da sua tocava o mar. Ele parecia animado, e isso me deixou mais à vontade.
- É verdade. Não venho nessa praia há um tempo - respondi, observando as cores do céu se misturando, um laranja vibrante com tons de roxo.
Caminhamos mais alguns passos até chegarmos à areia, e a sensação do chão macio sob os meus pés era revigorante. Olhei para Jungkook, que parecia mais relaxado agora, e me perguntei se essa amizade realmente poderia ser algo especial.
Sentamos na areia, e um pequeno silêncio se fez. Era um silêncio confortável, nada que nos deixasse constrangidos. Para quebrá-lo, decidi puxar assunto.
- Então? Como eu disse mais cedo, estou encarregado de ser seu novo amigo. Agora me conta um pouco de você.
Ele ficou em silêncio por um momento, pensativo.
- Humm... - começou, refletindo. - Bom, eu sou casado há alguns anos, tenho 26 anos, quatro filhos e gosto de fazer amizades. Conhecer gente nova é sempre legal, e eu amo pintar... A propósito, posso pintar você?
A pergunta me surpreendeu, mas não pude deixar de rir. Era uma proposta inusitada, mas intrigante. Concordei entre uma risada baixa e alegre. Ele sorriu, animado, e correu até o carro para buscar o que havia trazido.
Quando ele voltou, estava segurando um bloco de desenho e alguns lápis de cor.
- Tenho que fazer pose? - perguntei, um pouco nervoso com a ideia de ser o modelo de alguém.
- Não - ele riu alto, sua alegria contagiante me fazendo sorrir também. - Enquanto faço seu desenho, você pode falar de você.
Concordei, sentando-me um pouco mais ereto na areia. Enquanto ele se preparava, comecei a pensar no que poderia contar.
- Bom, eu sou mais velho, tenho 28 anos, e trabalho com música - disse, olhando para ele enquanto tentava relaxar. - Não tenho filhos e, honestamente, às vezes sinto falta de me conectar com as pessoas. A vida pode ser meio solitária, sabe?
Ele estava concentrado, fazendo alguns esboços rápidos, e isso me permitiu continuar falando.
- Gosto de escrever e produzir. A música é uma grande parte da minha vida, mas, às vezes, me sinto preso nesse mundo. E você? Como é ter quatro filhos? Deve ser uma loucura!
Continua ➡️
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