Convidado para a Vida
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Alguns dias se passaram desde que conheci Jungkook. Tive a impressão de que uma boa amizade poderia surgir entre nós. No entanto, com a correria diária do trabalho na empresa, acabamos nos encontrando cada vez menos.
Isso não quer dizer que não nos falávamos por mensagem. Sempre que possível, eu enviava um "bom dia" ou até mesmo um "boa noite". Jungkook quase sempre respondia imediatamente, e nossas conversas rápidas acabaram se tornando um pequeno hábito. Mesmo assim, com a rotina agitada, nossos encontros presenciais acabaram ficando para depois.
O fim de semana estava se aproximando, e na sexta-feira, logo depois que cheguei à empresa, a dona apareceu para fazer um novo comunicado. A movimentação no escritório parou por um instante; todos esperavam ansiosos pelo que ela tinha a dizer. Eu me perguntei se aquilo traria alguma novidade para nossa rotina ou, quem sabe, uma surpresa inesperada.
De fato, era algo inesperado. Hanna se aproximou da pequena multidão que aguardava atentamente o anúncio.
Hanna: - Bom, pessoal, como todos já sabem, teremos nosso evento amanhã, no sábado. Conforme combinamos, cada um de vocês apresentará algo relacionado à sua área de atuação. Agora, quero entregar a cada um um convite especial. Vocês poderão trazer convidados de sua escolha: amigos, namorados(as), parentes... Eles terão um papel importante, pois serão jurados dos modelos que irão desfilar, certo? Ótimo! Vou distribuir os convites e, para que possam se preparar para amanhã, vocês podem sair um pouco mais cedo hoje.
Ao término do anúncio, soltei um suspiro quase desesperado. Não tinha amigos na cidade, e os poucos que eu tinha estavam todos longe. Peguei o convite, levantei-me e saí o mais rápido que pude. No estacionamento, abri a porta do carro e fui direto para casa. Assim que entrei no apartamento, joguei o convite em cima do móvel ao lado da porta, tirei os sapatos na entrada e fui direto para o banho, querendo afastar as preocupações por alguns minutos.
Depois de um banho demorado, saí do banheiro vestindo apenas uma calça de moletom cinza. Não me preocupei em arrumar o cabelo, apenas o sequei rapidamente com uma toalha, deixando-o levemente bagunçado. Segui para a cozinha, onde preparei uma xícara de café, decidido a passar a noite em casa, longe da agitação dos bares. Com o café em mãos, fui para a sala, sentei-me no sofá, apoiei o notebook sobre as pernas e o abri.
— Vamos logo começar esse discurso... — murmurei para mim mesmo, digitando as primeiras palavras na tentativa de organizar um texto convincente para a apresentação.
As horas foram passando sem que eu percebesse. Entre uma xícara de café e outra, mudava o rumo do discurso a cada cinco minutos, como se nada parecesse bom o suficiente.
Em um momento de frustração, deixei o notebook no sofá e fui até a varanda, decidido a aliviar o estresse com um cigarro. Estava tão exausto que cogitei largar tudo e sair para espairecer, mas sabia que isso não seria nada profissional. Apoiei o antebraço na grade, levei o cigarro aos lábios e soltei a fumaça no ar, esperando que alguns minutos de silêncio me trouxessem alguma ideia para o discurso.
Enquanto fumava, ouvi o som de uma chave girando na porta. Quando me virei, vi a silhueta de ninguém menos que Kim Seokjin entrando, carregando algumas sacolas nas mãos.
— Minha casa virou hotel agora? — perguntei, lançando-lhe um olhar sério.
Ele ergueu as sobrancelhas e sorriu de leve, como se já esperasse por essa reação.
— Nossa, que milagre te encontrar em casa! Achei que ia ter que cuidar de um bêbado hoje, mas me enganei. Está doente?
— Certamente eu estaria fazendo isso agora se não tivesse que ir ao evento da empresa amanhã — respondi, apagando o resto do cigarro no cinzeiro antes de voltar para a sala.
— Seu pai ficaria orgulhoso em ver o filho tão dedicado ao trabalho — comentou Seokjin, levando as sacolas para a cozinha. — Imagino que você ainda não comeu, certo? Vou preparar algo para você.
— Não tô com fome — respondi, sentando-me no sofá e pegando o notebook de novo.
— Não perguntei se estava. Eu disse que vou preparar e você vai comer — retrucou ele, firme.
Revirei os olhos, mas sabia que não adiantava discutir. Seokjin sempre foi essa mistura de pai e amigo preocupado, o tipo de pessoa que insistia em cuidar de mim, mesmo que eu tentasse resistir.
Enquanto Seokjin mexia nas panelas, preparando o jantar, eu me preocupava em elaborar um discurso que fosse agradável. Ele deixou as panelas de lado por um momento e veio até a sala, passando um paninho para tirar o pó dos móveis.
— Humm... Esse é o convite da empresa onde você trabalha? — perguntou Seokjin, olhando para os convites que estavam espalhados na mesa.
— É, na verdade, o convite é para levar amigos ou algo assim — respondi, dando de ombros enquanto voltava a atenção ao notebook.
— Que pena que vou viajar amanhã. Adoraria ver você se apresentando.
— E quem disse que eu ia te chamar? — olhei para ele com uma sobrancelha arqueada.
— Nossa, que filho mais amável você é!
— Você é só o namorado do meu pai, e eu não ia te chamar. Já te conheço, não quero passar vergonha.
— Claro que não! Eu só iria levar uma carta cor-de-rosa, cheia de flores desenhadas com seu nome — disse ele, sorrindo.
— É por isso mesmo que não vou te chamar.
— E quem você vai chamar, emo revoltado?
— Emo revoltado é a puta que te pariu. Mas, respondendo sua pergunta, ainda não sei. Não tenho amigos; talvez não leve ninguém...
— Se você não se trancasse nesse mundinho que vive, faria amigos facilmente. Basta não ter medo de socializar com as pessoas.
— Não pedi sua opinião. Estou muito bem assim, obrigado. — Olhei para ele com um olhar desafiador. — Será que agora posso terminar essa porra em paz sem ouvir a sua voz?
— Aishi... Que muleque mal-educado! — respondeu o mais velho, fazendo uma expressão ofendida antes de voltar a fazer o que estava fazendo na cozinha.
Depois de muitas horas de trabalho, finalmente finalizei o discurso. Para minha surpresa, ficou melhor do que eu esperava. Salvei o que havia escrito e fechei o notebook, deixando-o de lado no sofá. Cansado, levantei-me e estiquei o corpo para aliviar a dor nas costas. Caminhei até a mesa de bebidas e me servi um uísque com gelo.
Foi então que Seokjin saiu da cozinha e, ao ver a cena, tomou rapidamente o copo da minha mão, seguido de uma reclamação:
— Nada disso! Já preparei o jantar, e você precisa ir comer — disse ele, em um tom sério, típico do mais velho.
Eu abri a boca para protestar, mas a expressão determinada de Seokjin me fez hesitar. Ele sempre foi assim, firme e decidido, especialmente quando se tratava de cuidar de mim. Era difícil resistir, ainda mais quando o cheiro do jantar que vinha da cozinha começou a invadir o ambiente.
— Tudo bem, tudo bem! — respondi, levantando as mãos em rendição. — Vou comer, mas só se você prometer que o prato é tão bom quanto o discurso.
Ele arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios.
— Você vai se surpreender. E se não se apressar, vai acabar ficando com fome — respondeu, gesticulando para que eu o seguisse.
Relutante, coloquei o copo de volta na mesa e o segui até a cozinha. Assim que entrei, meus olhos se arregalaram ao ver a mesa impecavelmente posta. Pratos quentes e coloridos estavam dispostos de forma cuidadosa, e um aroma delicioso preenchia o ar.
— Uau! — exclamei, admirado. — Você realmente se superou dessa vez.
— Eu sempre me supero, se você me deixar — disse Seokjin, piscando — Quase sempre só come a força
Sentamo-nos à mesa e começamos a comer. Cada garfada era um deleite, e logo o cansaço que me consumia começou a se dissipar, substituído pela satisfação da boa comida e pela companhia agradável. Enquanto comíamos, conversamos sobre trivialidades, risadas ecoando entre nós.
— Então, sobre o discurso... — começou Seokjin, com um sorriso travesso.
Eu suspirei, sabendo que ele não iria deixar isso passar em branco.
— Vamos lá, só um pouco, depois de um bom jantar — pedi, tentando desviar o assunto.
— Certo, mas você vai me contar tudo depois. — Ele cruzou os braços, seu olhar me desafiando a recusar.
A atmosfera leve entre nós me lembrava de como era bom ter amigo ao meu lado. Enquanto continuávamos a conversar, uma ideia começou a se formar na minha mente. O discurso poderia ser apenas uma parte do que eu queria realizar. E com o apoio de Seokjin, talvez eu conseguisse fazer algo ainda maior.
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