Adeus ao Que Éramos
O restante da noite naquela cabana foi quase interminável. Jungkook permaneceu trancado no quarto, enquanto eu fiquei do lado de fora, encarando o vazio da escuridão. Minha mente era um turbilhão de pensamentos. O que ele estaria pensando agora que sabia de tudo? Raiva, decepção, confusão? E eu... Eu estava consumido por uma mistura de sentimentos. A raiva fervilhava dentro de mim, direcionada ao Han por ter revelado o que eu fazia questão de esconder. Mas, acima de tudo, o medo me paralisava. Medo do que Jungkook faria, do que diria. Medo do que nosso futuro, ou a falta dele, reservava.
Quando o dia finalmente amanheceu, eu ainda estava no mesmo lugar, sentado no chão frio, com os olhos fixos na mata à minha frente. O nascer do sol pintou o céu com tons suaves de laranja e rosa, mas eu não conseguia encontrar beleza naquilo. O som da porta da cabana se abrindo me fez virar a cabeça, e lá estava Jungkook.
Ele parecia tão destruído quanto eu. Seus olhos inchados e vermelhos eram uma confissão silenciosa de uma noite sem sono, talvez até de lágrimas derramadas. Nos braços, ele carregava o pequeno gatinho que havíamos encontrado, como se aquele animal fosse sua única âncora em meio ao caos.
Quando ele se aproximou, meu coração apertou, mas não dei espaço para palavras. Levantei-me rapidamente, evitando seu olhar, e entrei na cabana. Peguei a mochila e as lanternas, colocando tudo de forma apressada. Não podia lidar com aquilo agora. Não queria.
— Vamos logo. Assim chegamos cedo ao carro — falei, minha voz fria e cortante, enquanto passava por ele sem esperar resposta.
Caminhei à frente, deixando que ele me seguisse. Não vi sua reação, mas senti algo no ar, uma mistura de hesitação e... esperança? Ou talvez fosse apenas minha mente pregando peças. Logo depois, o som de seus passos atrás de mim confirmou que ele havia começado a me seguir.
O caminho de volta parecia mais curto do que na ida, talvez porque o silêncio entre nós tornava tudo mais sufocante. Cada passo era pesado, cada respiração, tensa. Era como se ambos estivéssemos presos em uma bolha de desconforto, ansiosos para escapar daquele lugar e, quem sabe, um do outro.
Saímos da cabana sem olhar para trás, mas o peso do que havia acontecido ali nos acompanhava.
O silêncio entre nós era ensurdecedor. A cada passo, o peso da tensão parecia crescer, apertando meu peito. Eu queria tanto que aquilo não estivesse ali, que aquele abismo invisível entre nós não existisse. Antes, quando chegamos à floresta, tudo era diferente. Ríamos de qualquer coisa, até dos tropeços no caminho ou das piadas ruins que inventávamos. Jungkook tinha aquele sorriso fácil, aquele brilho nos olhos que iluminava tudo ao redor. Agora, tudo o que restava era um vazio preenchido por palavras que queríamos dizer, mas não conseguíamos.
Enquanto caminhávamos, notei Jungkook diminuindo o ritmo atrás de mim. Mas, de repente, ele começou a andar mais rápido, como se quisesse fugir de algo. Passou por mim sem dizer uma palavra, os passos firmes e decididos, ignorando completamente os galhos e pedras no caminho.
Estranhei sua atitude. Ele sempre foi cuidadoso, atento aos detalhes. Agora, parecia cego para o que estava à sua frente. Minha curiosidade me venceu, e comecei a segui-lo de perto.
— Jungkook, toma cuidado onde está pisando — falei, tentando quebrar o silêncio de forma casual.
Ele não olhou para trás. Sua resposta veio seca, quase cortante:
— Eu sei me cuidar muito bem sozinho.
Aquelas palavras me atingiram como uma lâmina. Suspirei, tentando controlar a frustração que começava a crescer. Não podia deixar aquilo continuar assim.
— Jungkook, espera... — insisti, tentando novamente.
— O que foi agora, Yoongi? — Sua voz era fria, distante, enquanto continuava andando sem me encarar.
Foi a gota d’água. Acelerei o passo e segurei seu braço, forçando-o a parar e me encarar. Ele tentou se soltar, mas não deixei.
— O que está acontecendo com você? Por que está agindo assim? — perguntei, olhando diretamente em seus olhos.
Por um momento, ele ficou imóvel. Então, como se algo dentro dele tivesse se quebrado, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.
— Eu não sei o que fazer, Yoongi... — Sua voz tremeu, e ele desviou o olhar, tentando esconder o choro. — Eu não quero perder você. Não quero perder nossa amizade. Você sempre cuidou de mim, sempre esteve lá como um irmão que me protegia de tudo. Mas agora... agora tudo mudou. Eu não sei como agir.
As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. Eu não sabia que ele estava tão perdido quanto eu. Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade que se formava dentro de mim.
— Jungkook, escuta... — comecei, minha voz mais suave. — Esquece o que o Han disse, por favor. Vamos deixar as coisas como estavam antes. Se isso te ajuda, eu posso até mudar o jeito como te trato. Não quero que você se sinta desconfortável.
Ele finalmente me olhou, os olhos marejados e cheios de confusão. Por um instante, ficamos em silêncio, apenas encarando um ao outro, como se procurássemos respostas que nenhum de nós tinha. Eu queria que ele soubesse que, não importa o que acontecesse, eu estava ali por ele. Mesmo que o abismo entre nós continuasse, eu faria de tudo para atravessá-lo.
O restante do caminho foi uma mistura de silêncio e passos apressados. Jungkook voltou a caminhar à minha frente, mas desta vez com mais cuidado, embora ainda carregasse aquele ar distante. Eu o segui em silêncio, respeitando o espaço que ele parecia precisar. Não sabia se minhas palavras tinham ajudado ou piorado as coisas, mas estava claro que ele ainda lutava contra seus próprios pensamentos.
Quando finalmente avistamos o carro, um alívio silencioso tomou conta de mim. Era como se aquele veículo representasse a saída não apenas da floresta, mas também da tensão sufocante que nos envolvia. Jungkook chegou primeiro e, sem me olhar, abriu a porta do passageiro e entrou.
Guardei a mochila no porta-malas e entrei no carro, lançando um olhar rápido para ele. Ele estava com o olhar fixo na janela, o pequeno gatinho aninhado em seu colo, como se aquilo fosse sua única fonte de conforto.
A viagem de volta foi tão silenciosa quanto o caminho na floresta. O rádio estava desligado, e o único som era o ronco do motor e, ocasionalmente, o miado baixo do gato. Eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras simplesmente não vinham. Era como se cada tentativa fosse sufocada pela tensão no ar.
Quando chegamos à casa de Jungkook, ele abriu a porta do carro antes mesmo que eu pudesse desligar o motor. Pegou o gatinho e saiu, mas hesitou por um momento ao lado do veículo.
— Jungkook... — chamei, minha voz baixa, quase um sussurro.
Ele parou, mas não se virou completamente. Apenas inclinou a cabeça, como se esperasse que eu continuasse.
— Cuida bem dele... e de você também.
Ele assentiu levemente, ainda sem me olhar, e começou a caminhar em direção à porta de sua casa. Antes de entrar, virou-se por um breve instante e levantou uma mão, num gesto vago de despedida. Respondi com um aceno quase imperceptível, sentindo um nó apertar minha garganta.
Fiquei ali por alguns segundos, observando a porta se fechar atrás dele. Era estranho como algo tão simples como um gesto de despedida podia carregar tanto peso. Suspirei, liguei o carro novamente e dirigi de volta para casa, com a mente mergulhada em pensamentos e o coração pesado.
Naquele momento, tudo o que eu queria era que as coisas voltassem a ser como antes. Mas, no fundo, eu sabia que isso seria mais difícil do que parecia.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro