Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

𝟶𝟶𝟾 ─ o último dia da minha vida

PRIMEIRO ATO - SEGUNDA PARTE:
GREENE FARM

꒰ 🥀 ꒱ capítulo oito:
── o último dia da minha vida

꒰ঌ 🗡️ ໒꒱ hannah grimes:


QUANDO PARAMOS EM UM posto abandonado para abastecer nossos veículos, Daryl resolveu que iria em sua moto. O local tinha pouca gasolina, não daria para mais um carro, apenas para o trailer, o carro do meu pai e o jipe de Shane.

Como a moto de Daryl já estava abastecida, ele resolveu ir com ela, o que me fez ir para o motorhome de Dale. Eu estava cansada, meu corpo estava todo molenga e eu só queria ficar deitada ou jogada em algum local, então não acho que seria uma má ideia.

Sentada desleixadamente no sofá do motorhome, só notei que Glenn se sentou ao meu lado quando um dos lados do meu fone foram retirados.

── O que a xerife tá escutando? ── Indagou o coreano em um tom descontraído, levando um lado do fone até seu ouvido. ── Você gosta de Paramore?!

Fechei meu livro, deixando-o numa mesa ao lado do sofá. Eu me ajeitei e vi Glenn com um lado do meu fone no seu ouvido. ── Claro que sim.

── Eu não esperava por isso. ── Respondeu Glenn, ainda surpreso.

── Sou uma caixinha de surpresas. ── Me gabei, desligando o aparelho e enrolando o fone nele.

Deixei meu MP3 no bolso da minha mochila e deitei a cabeça no sofá, fechando meus olhos e sentindo o sono me invadir. De repente, senti Glenn arrastando meu cabelo para longe do meu pescoço e exclamando surpresa mais uma vez.

Droga. Ele descobriu e provavelmente faria mil e uma perguntas. Esse fofoqueiro curioso.

── Vai me contar o que é esse roxo aí? ── Deu um sorriso malicioso, me fazendo revirar os olhos com um sorriso pequeno. ── Vai, Nana. Eu sou seu melhor amigo.

── Não é nada demais… ── Tentei dar fim ao assunto, mesmo sabendo que não seria assim tão simples.

── Mentira. Você ficou com alguém no CCD. Eu até já imagino quem é. ── Glenn insistiu.

Abri meus olhos, olhando para os lados para ter certeza que ninguém estava próximo o suficiente para ouvir. Por sorte, Carol estava num quarto que tinha no fundo com Sophia e Andrea no banheiro.

── Com o Daryl. ── Murmurei.

── Quê?! ── Glenn exclamou um pouco alto, chamando atenção. ── Foi mostrar seu sutiã da hello kitty em particular pra ele? ── O garoto ironizou, falando dessa vez em um tom mais baixo.

Dei uma risada anasalada. ── Nem rolou nada. Foram só uns beijos. Tem que prometer que não vai contar pra ninguém.

── Eu prometo. Vou me esforçar pra não abrir a minha boca de sacola pra ninguém.

── Tô falando sério, se meu pai descobrir ele faz o Daryl virar jantar de zumbi.

── Ai, Jesus. Essa não. ── Ouvimos Dale resmungar, dando fim à nossa conversa anterior.

Eu e o coreano nos levantamos e fomos até a frente onde estavam os outros. Quando olhei para a estrada me deparei com um enorme engarrafamento de carros abandonados que bloqueavam a passagem do trailer e dos outros carros que vinham atrás. Só a moto de Daryl passaria por ali e mesmo assim ainda teria dificuldades. Os veículos estavam juntos e não tinha tanto espaço assim.

── Porcaria. ── Resmunguei baixo, sem tirar meu olhar da estrada.

Notei que Glenn pegou um mapa que estava no banco da frente e começou a analisar, procurando qualquer rota alternativa. Me virei para ele e comecei a olhar juntamente, mas logo o som da moto do Dixon chamou minha atenção. Olhei para fora e por dois ou três segundos, eu prestei atenção naqueles braços musculosos dele. Eram perfeitos.

── Você viu uma passagem? ── Perguntou Dale, recebendo um aceno de Daryl.

Glenn se sentou no banco do passageiro, então me aproximei ficando entre os dois bancos. Novamente prestei atenção no mapa que o Rhee segurava, esperando ver alguma rota alternativa, mas acho que para o nosso azar, não tinha. Provavelmente iríamos ficar presos aqui, não tem passagem.

── Então, algum plano B? ── Quebrei o silêncio, esperando por boas notícias.

Rhee ficou um tempo em silêncio olhando o mapa e logo respondeu: ── Acho que a gente devia voltar. Tem um atalho pela interestadual.

── Não temos combustível. ── O grisalho, que dirigia, respondeu para Glenn.

Fiquei olhando para frente enquanto o mais velho seguia a moto de Daryl pelos caminhos entre aqueles carros. Haviam carros capotados e pessoas mortas dentro de outros veículos, fazendo com que aquele cenário fosse um pouco assustador. Tudo atualmente é assim, tem morte, cadáver, zumbi e sangue para todos os lados.

Tudo atualmente era assustador, nada escapava. Talvez com o tempo eu me acostume a ver mortos andando.

Ou não.

Talvez eu nem tenha tempo para isso porque posso acabar morrendo.

── Isso aqui tá um caos. ── Comento, ainda observando tudo em volta.

── Você quer mesmo passar por aqui? ── Glenn indagou olhando para Dale.

Antes que o senhor respondesse, o trailer parou de repente e começou a soltar uma fumaça do motor, provavelmente aquela mangueira dando problemas novamente. Dei um suspiro e abri a porta do trailer, todos nós descemos do motorhome e fomos até a frente.

── Eu falei, não falei? Umas mil vezes. ── Dale se resmungou, frustrado. ── Isso não ia durar.

Meu pai parou seu carro a alguns metros atrás do trailer e depois ele, meu irmão, Lori, Carol e Sophia se aproximaram de nós juntamente. Pousei as mãos no quadril e fiquei observando o motor e a mangueira totalmente emendada com fita isolante. Acho que nem tinha mais uma mangueira de radiador li, era somente fita e mais fita.

── É muito grave, Dale? ── indagou meu pai.

O bom velhinho olhou para nós. ── Só o fato de estarmos presos no meio do nada sem esperança de… ── Ele parou de falar e olhamos para Daryl, que se aproximava e parava sua moto próximo. ── Tá, falei bobagem.

── Mesmo que não tenha mangueira de radiador aqui, tem muita coisa que a gente pode achar. ── O Dixon exprimiu enquanto vasculhava um carro.

── Vou pegar combustível desses carros pra começar. ── T-Dog falou.

── Talvez alguma água?

── Ou comida? ── Completei as palavras de Andrea.

── Isso é um cemitério. ── Lori falou, olhando para a estrada. ── Não sei como me sinto sobre isso.

── Acho que só precisamos achar comida, água e combustível e dar um jeito de vazar daqui. Vamos embora o mais rápido que pudermos. ── Exprimi, levantando os ombros. ── Se todo mundo ajudar fica melhor e mais rápido também. Cada um faz alguma coisa.

Nós nos separamos e começamos a vasculhar aqueles carros atrás das coisas mais úteis e que iríamos precisar caso passássemos a noite aqui. O principal era água e comida, talvez alguma coberta se esfriasse à noite. Nesse verão eu duvido muito que vá ter uma noite mais fria do que vinte graus, mas vai saber... O mundo acabou, mas frente frias ainda existem.

A ideia de ficar aqui à noite não era convidativa, mas se precisássemos iria ser uma opção. Estávamos sem nada de combustível, nem uma gota.

Fiquei junto do meu pai. Ele vasculhava uns carros mais à frente, enquanto eu procurava as coisas em outros veículos próximos ao trailer. Não tinha muitas coisas e a maioria dos carros fedia a morto. Eu não aguentava nem um minuto direito dentro.

── Achou alguma coisa, filha? ── Meu pai chamou minha atenção.

Saí de um carro segurando somente uma coberta azul e uma barrinha de cereais. ── Só achei isso e isso. ── Mostrei ambas coisas para ele. ── E você?

Meu pai observou as coisas na minha mão. ── Já é alguma coisa. ── Tirou alguns enlatados de um carro. ── Achei isso.

── Enlatados? ── Dei um suspiro de desânimo. ── É melhor do que nada. ── Respondi, jogando a coberta para o meu ombro e abrindo a barrinha de cereal para comer.

Papai suspirou e concordou. ── Sei que tá cansada de comer enlatados, mas temos que agradecer por pelo menos achar algo. ── Se aproximou de mim, deixando o engradado de enlatados sobre o chão e puxando minha barrinha de cereais e arrancando um pedaço. ── Guarda lá no trailer?

Resmunguei baixo quando o vi mordendo minha barrinha. ── Tá abusado hoje, Ricardo.

Papai deu um sorriso enquanto terminava de comer. ── Vou ficar te devendo mais um.

── Mais dois. Tem os juros.

── Tudo bem. Mais dois. ── Papai sorriu de novo e eu me virei para levar aquelas coisas para o trailer. ── Ei. Eu te amo, filha. ── Disse para mim, assim que me virei.

Dei um mínimo sorriso mais uma vez. ── Eu também te amo, pai. ── Vi o sorriso canteiro do mais velho.

── Agora vai logo lá, Hannah banana. ── Brincou comigo me fazendo rir e negar com a cabeça.

Quando entrei no trailer, vi Andrea concentrada em desmontar uma arma, ignorei e fui até o quarto do trailer, deixando a manta e os enlatados lá. Depois do que ouve com Amy, Andrea quer porque quer aprender a manusear uma arma.

Entendo a dor da perda, mas era chato essa birra dela. Andrea não entende que para aprender a usar uma arma leva tempo, tem treinos e mais treinos… Mas Andrea quer saber usar para ontem. Isso é chato.

Sem falar que ela ainda reclamava de Dale ter salvo sua vida lá no CCD. Às vezes vejo os dois discutindo, como hoje. Ao invés dela só agradecer, ficou tocando a mesma fita a tarde toda.

Depois de organizar os enlatados, passei novamente pela loira e ela ainda estava lá, tentando montar a sua arma. Neguei com a cabeça discretamente e passei reto por ela.

Assim que desci do trailer, vi meu pai vindo até mim com um semblante assustado. Ele me puxou, me fazendo ficar confusa com o que pudesse estar acontecendo.

── Hannah! Vai pra debaixo do carro agora! ── Quando olhei para trás, vi uma horda de zumbis se aproximando.

Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou. Aquela horda era enorme. Agachei ligeiramente e fui para debaixo de um carro onde meu irmão também estava. Eu o abracei, deixando seu corpo próximo ao meu, enquanto uma das minhas mãos iam até a faca que estava em um coldre que eu usava.

Vi os mortos se arrastando pelo chão, me fazendo torcer para que eu não precisasse usar minha faca a qualquer momento. No carro ao lado, vi meu pai colocando o dedo indicador na frente da boca e mandando nós dois fazermos silêncio.

Se passaram minutos, que mais pareciam eternidades e finalmente os mortos haviam passado por nós. Dei um suspiro de alívio, enquanto soltava o corpo do meu irmão devagar, sentindo minha testa pingar de suor.

Ouvi um rosnado de zumbi, seguido por um pequeno berro que vinha de Sophia. Quando olhei para o lado, vi um zumbi se agachando e tentando pegá-la. Meu pai saiu rapidamente de debaixo do carro e correu para seguir a garotinha que fugia em direção à floresta.

Quando também saí de debaixo do carro, ajeitei o chapéu de xerife na minha cabeça e corri até a beira do barranco, onde via meu pai entrando para dentro da floresta atrás de Sophia.

Eu e os outros ficamos aflitos, aguardando a volta do meu pai e de Sophia. Carol estava desesperada e não parava de chorar nos braços de Lori, que tentava tranquilizá-la.

Passaram cerca de quinze minutos e só então vimos o meu pai saindo da floresta e retornando até nós, mas onde estava Sophia? Ela não tinha voltado para cá e muito menos estava com ele.

── Cadê a Sophia? ── Perguntei, estranhando ela não estar com ele.

Meu pai parou na minha frente e olhou para todos, atrás dela. ── Ela não voltou? ── Neguei com a cabeça.

Papai ficou um tempo em silêncio, vendo a dor de Carol que começava a chorar ainda mais por não ver a filha. O ex-xerife soltou um longo suspiro e se aproximou da grisalha para tentar acalmá-la.

O mesmo tocou amigavelmente o ombro da mais velha. ── Vai ficar tudo bem, Carol. Vou achar sua filha, não se preocupe. ── Ele olhou para nós.

Fiquei olhando para a mata na esperança de ver Sophia voltando, mas não aconteceu. Eu estava ficando preocupada. Ela não era nada minha, mas eu a enxergava como uma irmãzinha mais nova também.

── Acho melhor irmos logo, não vai demorar mais do que umas duas horas pra escurecer. ── Levei meu olhar até o céu, vendo o sol já a caminho do oeste, o que significava fim de tarde.

O ex-xerife observou por dez segundos e logo se deu conta, dando um suspiro um pouco cansado.

── Certo. Shane, Glenn e Daryl vem comigo. ── Os demais concordaram. Vi Dixon ajeitar sua besta em suas costas.

── Eu vou também. ── Me voluntariei, notando que meu pai me olhou quase que de imediato.

Conhecia aquele olhar, ele iria negar.

── Filha, é melhor ficar aqui. Lá não é seguro, e já vai escurecer.

Eu sabia.

── Eu vou ficar bem. ── Digo com firmeza, pegando meu revólver e verificando se tem munição. ── Não temos tempo pra discutir isso agora. Vamos.

Digo, tomando a frente dos outros e descendo o pequeno barranco até a entrada da floresta. Os outros vieram atrás, meu pai nos guiou até o exato local onde ele escondeu Sophia. Era a espécie de um “buraco”, ao lado de um riacho.

Paramos, observando o cenário, procurando a menina por perto, enquanto Daryl nos ajudava com os rastros.

Daryl analisou o local e intercalou seu olhar entre mim e meu pai. ── Certeza que foi aqui?

── Eu deixei ela bem aqui. ── Apontou para aquele buraco de terra. ── Levei os zumbis pelo riacho naquela direção. ── Apontou mais uma vez, dessa vez para outro canto.

Olhamos para a direção que papai apontou. ── Ela ficou sem rumo e não achou o caminho. ── Daryl concluiu.

── Ela já tinha sumido quando eu voltei pra cá. Eu pensei que ela tivesse voltado para o grupo. Eu falei pra ela: “Vá por ali e mantenha o sol do lado esquerdo.”

── Talvez ela nem saiba o que é direita ou esquerda. Eu não sei diferenciar isso direito até hoje, imagina uma menina de 12 anos. ── Disse, enquanto olhava para umas pegadas no chão que Daryl analisava.

── Ela parecia ter me entendido bem.  ── Meu pai garantiu.

── Ai, Jaspion, dá pra sair pro lado? Tá bagunçando o rastro. ── Daryl falou para Glenn, me fazendo olhá-los.

── A Sophia devia estar cansada. Ela quase foi pega por dois zumbis. Tem certeza que ela te ouviu bem? ── Shane questionou o meu pai.

── Eu tô vendo pegadas bem claras aqui. ── Disse Daryl, olhando para as pegadas na terra. ── Ela fez como você disse, voltou para a estrada. O que a gente tem que fazer é se espalhar. Vamos voltar pra lá. ── Subi novamente para a parte mais alta.

── Vamos achá-la, ela deve tá escondida pela mata. ── Disse Shane, com tom positivo.

Nós cinco voltamos a andar pela mata. Dessa vez, Daryl quem ia na frente seguindo os rastros de Sophia, enquanto eu ia atrás de Glenn e seguia cautelosamente e devagar. Vi que Dixon se agachou e começou a analisar alguma coisa na terra da floresta. Eu me aproximei, curiosa, e também observei.

── Ela tava indo bem até aqui. ── Dixon começou a falar. ── Tudo o que ela tinha que fazer era continuar. Mas daí ela virou pra lá. ── Ele apontou.

── E por que ela faria isso? ── Fiquei pensativa.

── Talvez tenha se assustado com alguma coisa e saiu correndo? ── Shane supôs, intercalando o olhar entre mim e Daryl.

── Um zumbi? ── Glenn completou.

O caçador negou com a cabeça, ainda atento às pegadas na lama. ── Não vejo mais nenhuma pegada. Só as dela.

── E aí o que a gente faz? Vamos todos seguir em frente? ── Shane indagou.

── Não, eu acho melhor você, o Glenn e a Hannah voltarem pra estrada. Eles vão entrar em pânico. ── Papai disse, enquanto seu amigo levantava. ── Avise pra eles que estamos no rastro dela, fazendo o que podemos. O mais importante é mantê-los calmos.

── Eu vou manter todo mundo trabalhando. Vasculhando os carros. ── Shane concordou. ── Vou manter todo mundo ocupado. Vamos lá.

── Pai, posso ficar. ── Falei olhando para ele e para Daryl.

Ele negou com a cabeça. ── Vá com eles. Se a Carol passar mal você será a única que vai saber como ajudar.

Os bons de ter feito medicina. Não que eu tenha me formado, mas eu já fui interna algumas vezes no hospital da minha cidade natal e também já ajudei muitos no acampamento da pedreira.

Assenti com a cabeça. ── Tá, tudo bem. Se cuida.

── Você não vai perder seu velho tão facilmente. ── Ele respondeu, me tirando uma risada mínima, me fazendo negar com a cabeça.

Quando olhei para Daryl, vi ele fingindo que não estava me olhando antes. Segurei meu sorriso e olhei para seus olhos azuis, recebendo um olhar seu de volta.

── Você também, Daryl, se cuida.

O caçador concordou com a cabeça, me tirando um sorriso singelo. Eu me virei e comecei a retornar à estrada junto de Shane e Glenn, que iam um pouco na frente.

Chegamos e Shane colocou todos nós para ficarmos ocupados com alguma coisa. Já Carol estava parada na beira da floresta, estática, ansiosa pela volta de meu pai e Daryl com sua filha.

── Então você era doutora antes? ── Rhee puxou assunto comigo, enquanto eu estava sentada no banco de um carro.

── Não. Eu só tava no terceiro ano.

── Mas você ia ser. ── Glenn respondeu o óbvio.

Dei um suspiro e me lembrei do passado por alguns segundos. ── É, eu iria… mas então o armagedom resolveu acontecer. ── Respondi, saindo do carro e ajudando Glenn a tirar um carro do caminho.

── Quando você vai me contar o que rolou entre você e o Daryl no CCD? ── Abriu um pequeno sorriso malicioso.

── Você quer detalhes, é sério? ── Dei uma risada baixa.

── Tipo isso.

Revirei os olhos com um sorriso nos lábios. ── Tá bom… Depois que eu terminei de beber com você, eu fui correndo vomitar no banheiro e daí o Daryl me seguiu até lá, rolou um clima e eu beijei ele… Mas a gente fez barulho, meu pai ouviu e foi até o banheiro e o clima acabou.

── Rick empata foda. ── Glenn brincou, me tirando uma risada mais alta. ── Queria eu estar dessa maneira com alguém. ── Apontou para a marca no meu pescoço.

── Logo você vai achar uma donzela. ── Sorri.

── Nesse apocalipse? Duvido.

── Isso não é impedimento. Ainda dá pra ser feliz com alguém, eu acho. ── Tentei ser positiva, mas nem eu tinha certeza do que falava. ── Eu só não garanto que você vá se casar, ter filhos e um casamento feliz em uma casa de dois andares.

── Isso foi estranhamente específico. ── Rhee disse, tirando uma risada minha. ── Mas eu também acho que isso seja um pouco impossível.

Olhei para ele e saí do carro em que eu estava. ── Só um pouco?

── Só isso aqui. ── Demonstrou um espaço médio com os dois dedos.

Quando olhei para o céu, já estava mais escuro. Meu pai e Daryl estavam na mata havia uma hora e meia mais ou menos. Olhei para o meu relógio de pulso e notei que já eram sete horas.

Lá na frente, Carol ainda estava parada, olhando para a floresta, aguardando a volta dos dois com sua filha. Preocupada com a mulher, eu entrei dentro do trailer e peguei um enlatado e uma garrafa de água. Me aproximei da mulher e estendi para ela.

── Meu pai e Daryl já devem estar voltando, eles vão achar a Sophia. ── Murmurei, levando meu olhar até a mata.

A grisalha me observou em silêncio, com um olhar abatido pelas lágrimas. ── Já é de noite.

── Come um pouco. ── Toquei seu ombro amigavelmente, vendo ela concordar e pegar o enlatado e a água.

Carol havia passado o resto da tarde chorando. Ela provavelmente estava faminta. Desde que sua filha desapareceu, ela não comeu mais nada. Agora, ela estava parada, esperando ansiosamente pelo retorno do grupo. Eu podia entender seu desespero, sua aflição, não conseguia conter a preocupação que sentia por ela.

Enquanto a observava comer, meus dedos instintivamente começaram a mexer nos pingentes do meu colar. Era um hábito que eu tinha sempre que me sentia ansiosa e inquieta. E, naquele momento, havia muitas razões para essa ansiedade. Eu estava preocupada com a Sophia, com meu pai… e com Daryl.

Sim, com Daryl. Não conseguia afastar o pensamento de que ele estava lá fora se arriscando com meu pai para encontrar a Sophia. A incerteza me corroía, e cada vez que os meus dedos tocavam os pingentes do meu colar, sentia uma mistura de medo e esperança.

── Nossa até que enfim eles voltaram! ── Glenn alertou, colocando uma caixa de suprimentos sobre o chão.

Nesse momento, meu olhar subiu até a entrada da floresta, onde vi meu pai e Daryl se aproximando, subindo o barranco que levava até a estrada em que estávamos. A pequena esperança que eu ainda tinha dentro de mim se esvaiu assim que percebi que eles não estavam com Sophia. O semblante do meu pai era pesado, carregado de culpa e tristeza, como se o peso do mundo estivesse em seus ombros. Ele se culpava pelo desaparecimento de Sophia, e ver isso em seus olhos fazia meu coração doer ainda mais.

── Vocês não a acharam? ── Carol questionou com um tom choroso de voz.

── O rastro dela sumiu. ── Rick respondeu, simples. ── Vamos procurar quando amanhecer.

── Não pode deixar minha filha sozinha por aí, pra passar a noite sozinha nessa mata. ── Carol se indignou, quase suplicando para eles voltarem lá.

── Não adianta procurar no escuro. ── Olhei para Daryl que estava com seu crossbow nas costas. ── A gente ficaria trombando um no outro. Mais pessoas se perderiam.

── Mas ela só tem 12 anos, ela não pode ficar lá sozinha. ── A grisalha disse aflita olhando para meu pai. ── Você não achou nada?

── Eu sei que é difícil, mas eu vou te pedir pra não entrar em pânico. Sabemos que ela estava lá. ── Meu pai tentou tranquilizá-la.

Não sei se somente palavras iriam ajudar uma mãe aflita por causa que a filha está perdida num mundo cheio de mortos-vivos canibais.

── Seguimos o rastro por um bom tempo. ── Daryl completou, também tentando deixar a situação amena.

── Nós temos que fazer um esforço organizado. Daryl conhece florestas melhor do que qualquer um. Eu pedi a ele pra cuidar disso. ── Meu pai explicou para nós.

── Isso é sangue? ── A Peletier perguntou olhando para o Dixon, ficando ainda mais ansiosa.

Meu olhar foi até Daryl. Ele estava sujo, cheio de manchas de sangue por todo corpo e roupa. A barra de sua calça tinha um pouco de lama e sangue também.

── Nós matamos um zumbi. ── Meu pai respondeu.

── Zumbi? Meu Deus… ── Carol murmurou em aflição.

── Mas não tinha sinal que ele esteve perto da Sophia. ── Rick tentou acalmá-la.

── Como podem saber disso? ── Andrea os questionou.

Daryl e meu pai se entreolharam hesitantes. ── A gente abriu a barriga dele pra ter certeza.

Franzi o nariz sentindo nojo. ── Abriram a barriga de um zumbi?

── Era um dos jeitos pra saber. ── Daryl deu de ombros, como se abrir zumbis fosse a coisa mais natural do mundo.

Fiquei um pouco incrédula com sua naturalidade, mas não disse nada. Era nojento, mas pelo menos sabemos que Sophia não foi mordida.

Carol se sentou no capô de um carro. ── Como você pode largá-la assim pra começo de conversa? ── Se indignou com meu pai. ── Como pode ter deixado ela?

── Aqueles dois zumbis estavam atrás da gente. ── Papai começou a se explicar. Ele se curvou apoiando-se em seus joelhos e ficando na altura da mulher. ── Eu tive que atraí-los. Era a melhor chance dela. Foi a minha única opção. A única escolha que eu pude fazer.

── Tenho certeza que ninguém duvida disso. ── Shane se intrometeu.

── Minha filhinha foi deixada na floresta. ── Carol começou a choramingar.

Passei delicadamente meu braço por trás da mais velha e tentei ampará-la de alguma forma. Eu não imaginava como era aquela dor, mas sabia que não era algo fácil de suportar. Se eu sentia agonia de imaginar Sophia sozinha nessa mata com zumbis, imagine Carol, que era sua mãe.

Quando anoiteceu, todos entraram nos veículos para dormir. Meu pai estava em nosso carro com Lori e Carl, acho que eles três já estavam até adormecidos, o resto estava dormindo no trailer de Dale.

Somente eu e Daryl estávamos acordados. O homem estava encostado no trailer, tragando um cigarro, enquanto em seu ombro, a besta estava pendurada. Nós dois fizemos um breve contato visual, até eu quebrar e começar a prestar atenção em qualquer outra coisa que tivesse no local, mas, às vezes, de forma involuntária, meu olhar retornava até ele.

Dixon jogou a bituca sobre o chão e pisou em cima, fazendo o fogo se apagar. Depois de alguns segundos, veio até mim e se sentou alguns centímetros afastado.

── O que tá fazendo acordada, garota hello kitty?

Eu olhei para o lado, estranhando aquela aproximação repentina e aquele apelido. Garota hello kitty?

Ele provavelmente lembrava o fato de eu usar um sutiã e calcinha da hello kitty, o que fez com que minhas bochechas ficassem levemente vermelhas.

── Eu tô sem sono. ── Respondi simples, sem olhá-lo, tentando esconder meu rosto. ── E você?

Daryl deu de ombros. ── O mesmo.

O silêncio entre eu e ele reinou por algum tempo. Eu intercalava meu olhar entre Daryl e o horizonte, algumas vezes descia meus braços para seus músculos, mas logo desviava. Era muito errado querer que ele me carregasse?

Eu sentia essa vontade.

Ele parece ser tão forte. Seus braços são hipnotizantes.

── Acha que vamos achar a Sophia? ── Perguntei, tentando quebrar o silêncio.

Daryl me olhou, observando todo o meu rosto, e depois dando uma resposta: ── Vamos continuar procurando até achar. A garota deve tá por aí.

Assenti devagar com a cabeça, levando meu olhar até Daryl mais uma vez. Observei mais uma vez seu corpo, mas me contive. Não podia ficar babando ele dessa forma.

Dixon me olhou, nós trocamos um breve olhar, um olhar que me deixou paralisada por alguns instantes. Mas eu me recompus e voltei a fitar o asfalto da rodovia.

Talvez não fosse certo, mas eu estava cada vez mais desejando Daryl. Depois da noite no CCD, minha mente toda vez retornava para aquele exato momento, para as sensações que senti na hora. Minha pele arrepiada, o desejo de senti-lo…

Daryl se mexeu ligeiramente ao meu lado, seu ombro acabou roçando no meu, mesmo que de leve. Mesmo assim ainda existia um mínimo espaço entre nós dois. Quando fitei ele de novo, percebi que ele parecia inquieto, mas ao mesmo tempo relaxado.

── Você tá quieta demais, garota Hello Kitty. ── Daryl murmurou com uma voz mais rouca. Ele inclinou levemente a cabeça para me olhar, e dessa vez, eu sustentei seu olhar.

── Só… pensando. ── Respondi, hesitante. ── No que você disse sobre achar a Sophia. Quero acreditar que vamos achá-la, mas… ── minha voz diminuiu, deixando a frase inacabada. Acho que agora não era o momento para pessimismo.

Daryl assentiu, e pude ver um leve brilho de compreensão em seus olhos. Ele não era de muitas palavras, mas eu sabia que ele entendia a gravidade da situação.

Nós dois ficamos em silêncio novamente, mas dessa vez, não era desconfortável. Havia algo em estar ali, apenas sentados, compartilhando aquele momento simples.

── Sabe… eu te admiro. Você é diferente da maioria das pessoas que eu já conversei ou tive amizade. ── Eu falei de repente, sem pensar muito nas palavras. Apenas deixei escapar o que eu pensava.

O homem me olhou com uma expressão difícil de decifrar. Ele parecia desconcertado, como se não soubesse o que fazer com o que eu acabara de dizer. Mas ao invés de se afastar ou fazer uma piada para desviar do meu elogio, ele apenas ficou ali, me encarando.

── Não sou nada de especial. ── Daryl finalmente respondeu, mas havia algo na sua voz, na forma como ele disse isso, que me fez pensar que talvez, por um segundo, ele tivesse gostado de ouvir aquilo.

Dei um sorriso invisível. ── Talvez você devesse parar de se subestimar tanto.

Dixon permaneceu em silêncio por alguns segundos, olhando o horizonte que estava totalmente escuro. Pelo menos ele parecia relaxado. Talvez fosse o efeito da noite ou da nossa conversa. De qualquer forma, eu senti que a tensão entre nós dois estava diminuindo cada vez mais.

── Sabe, garota Hello Kitty… ── Ele começou. ── Até que você é legal. Não esperava que você fosse o tipo de garota que fosse ficar até tarde da noite conversando sobre esses assuntos, ainda mais comigo.

Dei uma risada curta e sincera. ── E eu não esperava que você fosse o tipo de cara que ficaria me chamando de “garota Hello Kitty”.

Ele riu minimamente e baixo, querendo esconder que estava se divertindo. ── Bem, você merece o apelido.

Ele apontou para o meu pescoço, onde estava o meu colar com o pingente de duas folhas entrelaçadas. Uma maior e outra menor. Eu usava esse colar desde os meus quinze anos, quando meu pai o deu. Atualmente, eu nunca o tiro.

── Isso aqui? ── Toquei meu colar e passei os dedos entre os dois pingentes.

── Nunca vi você sem esse colar. ── Respondeu.

Continuei mexendo, mas logo larguei. ── Foi um presente de aniversário do meu pai. Ganhei quando tinha quinze anos.

Daryl maneou, demonstrando que havia entendido. Mais uma vez ficamos em silêncio. Momentos de silêncio eram até que normais entre nós dois. Fiquei mexendo nos pingentes, mas soltei e olhei para o caçador.

── Você se mostra como um cara durão, mas tenho certeza que também tem um lado fofo. ── Quebrei o silêncio mais uma vez.

Ele fez uma careta. ── Eu? Fofo? ── Balançou a cabeça em negativa. ── Tá doida, garota.

Soltei uma gargalhada com o modo que ele agiu. Era raro eu me sentir tão à vontade com alguém, especialmente em momentos como esses. Talvez fosse a tensão do dia a dia, ou talvez fosse a forma como Daryl agia, mesmo com todas as suas camadas, ainda conseguia ser genuíno.

Dixon me olhou, e por um segundo, algo suave passou pelo rosto dele. ── Garota Hello Kitty… ── Ele disse, com uma voz um pouco mais terna.

Balancei a cabeça em negativa, ainda rindo. ── Ok, Daryl, acho que já chega de me chamar assim.

O homem deu um meio sorriso imperceptível, e eu percebi que esse momento estava sendo ótimo para nós dois. Era como se fosse uma pausa no meio de todas as loucuras que vivíamos atualmente.

Mas, eventualmente, ele deu um suspiro e se levantou. ── Tá tarde, garota. Você devia ir dormir.

Eu o observei ficar de pé e depois olhei para meu relógio de pulso e vi que já eram quase uma da manhã. Também fiquei de pé, nossos corpos estavam meio próximos, então olhei os olhos de Daryl.

── E você? ── Indaguei, meio relutante em encerrar aquela conversa que nós dois tínhamos.

── Eu ainda vou ficar de olho aqui fora. ── Daryl respondeu com seu olhar passando pela escuridão. ── Mas você, ── ele olhou para meus olhos, os seus tinham um brilho quase imperceptível. ── Você precisa descansar.

Assenti devagar com a cabeça, sabia que era verdade porque eu estava totalmente exausta e tudo o que eu queria era me jogar e dormir.

….

Na manhã seguinte, meu pai me acordou bem cedo para nos reunirmos para as buscas atrás de Sophia. Meu pai estendeu várias facas e facões no capô de um carro, olhou para todos nós e começou a falar:

── Todos peguem uma arma.

── Não são essas que precisamos. ── Andrea falou com indignação olhando para as facas. ── E as armas de fogo?

── A gente já falou disso. ── Shane olhou para a loira. ── Daryl, Rick e eu estamos com elas. Não queremos as pessoas atirando toda vez que uma árvore ranger.

Dei de ombros e peguei um facão, o qual eu prendi na minha mochila. Eu odiava usar armas de fogo e sabia que aquilo atraía os mortos. Não me importei nem um pouco.

Andrea era a única que quase fazia uma birra por querer uma arma, sendo que nem tinha tanta necessidade.

── Não são com as árvores que me preocupo. ── Andrea continuou discutindo.

O Walsh ergueu o olhar até a loira. ── Imagine que alguém atire no momento errado e tenha um bando passando. Aí vai ser o fim do jogo pra todos nós. É melhor se conformar

Desde que Andrea perdeu sua irmã e Dale a tirou do CCD ela tem sido insuportável assim. Todos nós aqui gostávamos da Amy, mas esse jeito depressivo dela já está saturando e eu me seguro para não falar nada na cara da loira.

── A ideia é pegar um riacho a uns 8km, virar e voltar pelo outro lado. Pode ser que ela esteja perto do riacho. ── Daryl supôs. ── É a única referência dela.

── Fiquem em silêncio, fiquem em alerta. ── Meu pai deu as ordens, como sempre. ── Mantenham um espaço entre vocês, mas sempre na vista um do outro.

── Pode deixar, Rick Grimes. ── Dei um pequeno sorriso, colocando o chapéu de xerife na minha cabeça.

── Arrumem as coisas, pessoal. ── Shane ordenou.

Depois de amarrar um casaco na minha cintura, peguei minha mochila e a coloquei nas minhas costas, enquanto o facão eu levaria na minha mão mesmo. Se eu precisasse agir com urgência, iria ficar mais fácil.

── Dale, continue os reparos. Precisamos do trailer pronto pra cair na estrada.

── Não vamos ficar aqui mais do que o necessário. ── O grisalho disse enquanto se levantava. ── Boa sorte por lá. Traga a Sophia de volta. ── Disse olhando para meu pai.

── Fique de olho no Carl até a gente voltar. ── Papai pediu.

── Eu vou com você. ── Meu irmão disse, se aproximando de nós. ── Você precisa de pessoas pra cobrir o máximo de área, não é? ── Eu e meu pai olhamos para Lori.

── Bom, você decide. Eu não posso ser sempre a vilã.

Rick ficou hesitante, então Dale disse: ── Bom ele terá vocês todos pra tomar conta dele. Acho que ele está em boas mãos.

── E a Sophia é amiga dele. ── Completei, indo de acordo com a ideia. ── Vou cuidar dele. ── Olhei para Lori e meu pai.

Papai deu um suspiro e cedeu: ── Tudo bem. Mas fique sempre com sua irmã e à nossa vista, sem exceções.

Nós finalmente entramos mata a dentro para acharmos Sophia, iniciando nossas buscas pela garotinha. Daryl ia na nossa frente e nos guiava, enquanto eu ia um pouco atrás junto do meu pai com Carl ao meu lado.

Andamos por quase um quilômetro e chegamos em um acampamento abandonado, onde havia somente uma barraca, não parecendo ter mais ninguém. Andamos com cautela atrás do Dixon e paramos assim que ele acenou com a mão indicando para nos abaixarmos.

── Ela pode tá lá dentro. ── Shane suspeitou.

── Pode ter todo o tipo de coisa lá. ── Respondeu Daryl, indo na frente do meu pai e de Shane, enquanto nós esperamos mais atrás.

── Carol. ── Papai a chamou, então nós começamos a ir atrás da mulher devagar e com cautela. ── Chame Sophia com delicadeza. Se ela estiver lá, ela deve ouvir sua voz primeiro, entendeu?

── Sophia, querida, você está aí? ── Carol começou a chamar pela filha. ── Sophia, é a mamãe. Sophia. Estamos todos aqui, amor. É a mamãe.

Papai acenou com a mão pedindo para nós esperarmos e andou até a barraca junto de Shane, ficando ao lado de Daryl. Walsh apontou a escopeta que segurava e o caçador abriu a barraca, entrando primeiro com cautela.

Fiquei olhando na direção, aguardando sua volta, enquanto a minha mão destra dava um leve aperto na faca em que eu segurava.

── Daryl? ── Chamei, um pouco preocupada com sua demora.

── Não é ela. ── Disse Daryl, saindo e olhando para mim e em seguida para a Peletier.

── Então o que tem aí? ── Indaguei ainda olhando para ele.

O Dixon olhou para meus olhos e respondeu: ── Um cara. Fez o que o Jenner disse. Caiu fora. Não foi o que ele disse? ── Colocou sua besta nas costas novamente.

Quando voltamos para a trilha, badaladas de sino começaram a ecoar por todo canto da floresta. Olhamos para todas as direções atrás da fonte do som, até meu pai sair correndo em nossa frente. Corremos por alguns metros e chegamos a um cemitério que ao fundo havia uma igreja da onde o sino parecia vir.

Observei com atenção, notando não ter sinos. Franzi o cenho e coloquei as mãos na cintura. ── Tem certeza que é aqui? ── Questionei.

── Não pode ser aqui. ── Shane se intrometeu enquanto observamos a igreja de longe. ── Não tem campanário nem sinos. Rick.

Corremos outra vez em direção à igreja, chegando próximos à porta. Meu pai e Daryl pegaram suas armas e Shane se aproximou com a doze. Abriram as portas, mas tudo o que tinha dentro eram zumbis sentados nos bancos da igreja, era um cenário bizarro, eles pareciam terem morrido enquanto rezavam.

No segundo em que aqueles mortos notaram nossa presença, eles se levantaram dos bancos e começaram a vir em nossa direção.

Passei meu facão para o meu pai, enquanto Shane e Daryl foram atrás dele, finalizando todos os mortos ali presentes.

── Sophia! ── Rick gritou.

Comecei a caminhar por dentro da igreja, parando ao lado da figura de Jesus. ── Aí, JC, tá aceitando pedidos? ── Disse Daryl, me fazendo olhá-lo.

── Tô falando, é a igreja errada. Não tem campanário, Rick. Não tem sinos.

Shane insistiu que não era aqui, mas de novo os sinos voltaram a soar, nos fazendo ir até o lado de fora. Era apenas um temporizador ligado a uma caixa de som, a qual fazia tocar todos os dias no mesmo horário. Glenn se aproximou e desligou o timer, fazendo o som parar. Em seguida, ele nos olhou com desânimo.

── Um timer. Tava programado. ── Daryl exasperou levemente.

── Porcaria. ── Murmurei, desanimada.

── Eu vou voltar pra lá um pouco. ── Carol disse com um tom triste, caminhando para dentro da igreja.

Lori seguiu a grisalha e ambas entraram juntas dentro da igreja. Já eu apenas me sentei nos degraus próximo da porta de entrada. Puxei o cantil de água da minha bolsa e tomei um grande gole, sentindo a água fresca descer pela minha garganta e finalmente me refrescar daquele calor.

Quando guardei a garrafa, abracei minhas duas pernas e deitei minha cabeça nos meus joelhos. Acho que tudo que eu queria agora era me deitar em uma cama e descansar, sentia todo o meu corpo dolorido pela distância que percorremos e sabia que ainda teria a volta.

Alguém se sentou ao meu lado, e quando abri meus olhos, vi Daryl. ── Tem água ainda?

Assenti com a cabeça, puxando minha mochila e dando o cantil para ele, vendo o mesmo beber minha água. Quando ele me devolveu a garrafa, a guardei novamente e fechei a bolsa.

O mesmo ficou em um breve silêncio e desviou o olhar para frente. ── Achei que ia ficar lá dentro rezando junto aos outros.

Neguei com a cabeça. ── Não. Eu rezo antes de dormir, não na igreja. Eu não sou tão religiosa, acredito em Deus e anjos, na Bíblia… mas nunca cheguei a ser fervorosa, nem mesmo terminei a catequese, no máximo meu pai me levou pra batizar porque minha mãe queria. E você?

Daryl olhou brevemente para meus olhos. ── Eu não acredito em nada. Acho tudo balela.

Dei um pequeno sorriso e ri da situação. ── Eu já imaginava.

── Então por que perguntou?

── Só pra ter certeza.

Notei que os que estavam na igreja começaram a sair, fazendo com que eu e Daryl nos levantássemos daqueles degraus e os seguíssemos. Ficamos todos reunidos. Meu pai estava a alguns metros à frente conversando sobre alguma coisa com Shane, mas logo retornou até nós.

── Vocês podem voltar pela margem do rio, tá legal? ── Exprimiu Shane, enquanto se aproximava de nós. ── Daryl, você fica no comando. Eu e o Rick vamos continuar procurando por essa área por uma hora ou mais, só pra garantir.

── Vai dividir a gente? ── O Dixon indagou, olhando para Shane. ── Tem certeza?

── Sim. Alcançamos vocês depois. ── O Walsh respondeu com convicção.

── Eu vou junto. ── Dei um passo à frente, ficando próxima ao meu pai e Shane.

Ambos se entreolharam, hesitantes com a ideia de que eu continuasse com eles. Meu pai olhou para Lori, aguardando que a mesma a aconselhasse. Mesmo que ela não fosse minha mãe de sangue, era o mais próximo de uma mãe que tive na minha vida inteira, e sei que ela me considerava uma filha também.

Papai começou a namorar com a Lori quando eu tinha apenas dois anos de idade e desde então ela cuida de mim feito sua filha.

── Deixe ela ir, Rick. ── Disse a mulher. ── Tome cuidado, tá bom? Cuida do seu pai e do Shane. ── Lori descontraiu, dando um pequeno sorriso e me puxando para um abraço, o qual eu retribui na mesma intensidade.

Papai se aproximou da minha madrasta, dando um selinho seguido de um abraço. ── Eu não vou demorar muito. Tome. Fique com isso. ── Estendeu sua colt python para Lori. ── Se lembra como usa?

── Não vou ficar com sua arma e deixar você sem nada.

── Aqui. Eu tenho outra. Pega. ── Daryl estendeu uma arma para Lori, que aceitou e colocou no cós da calça. Mais ao fundo pude ver Andrea indignada.

Antes de nos afastarmos dos outros, dei um abraço no meu irmão e me despedi de Daryl. O grupo foi em direção à floresta para voltarem para a estrada, e quando saíram de nossa vista, ouvi a voz do meu pai:

── Dá um minuto? ── Perguntou meu pai, indo em direção à igreja.

Eu e Shane concordamos com a cabeça, enquanto íamos nos sentar nos degraus da entrada para esperar pelo meu pai. Apoiei cotovelos nas minhas coxas e fiquei olhando para baixo e notando algumas gotinhas de suor molhando a minha calça jeans, por sorte tinha um vento refrescante circulando pelo local. Depois de uns cinco minutos meu pai saiu e chamou nossa atenção, nós fomos para a floresta e continuamos andando por outro caminho que papai queria seguir.

Eu e Shane paramos assim que vimos meu pai acenando. Olhei em direção a mata, esperando ver um zumbi ou talvez Sophia. Nos aproximamos cautelosamente segurando nossas armas em punho e vimos um veado saindo de trás de uns arbustos.

Shane colocou sua arma em punho, junto a mim e meu pai. Se conseguíssemos caçar aquele veado não passaríamos fome por um tempo. Assim como eles, coloquei a arma que eu levava em punho e comecei a me aproximar devagar, meu pai abriu um pequeno sorriso e acenou com a sua cabeça, e me encorajando a caçar o animal.

Andei bem devagar, enquanto aquele cervo observava cada movimento meu. Eu estava tão próxima que se eu andasse mais dois passos, eu iria conseguir tocar em seu pêlo. Aquele momento tirou um sorriso do meu rosto, eu nunca tinha chegado tão perto assim de um veado. Queria tocar seu pêlo, acariciar, e não matá-lo. Eu estava totalmente maravilhada pelo cervo.

Eu estendi a minha mão, como se eu quisesse chamar o animal para perto de mim, porém ele continuou parado me observando com aquele seu olhar cauteloso. Coloquei um pé na frente do outro, lentamente tentei chegar mais perto, mas antes que eu pudesse realmente tocá-lo, o som de um disparo ecoou. Tudo se apagou por um momento, mas logo veio o impacto.

Uma dor lancinante rasgou meu abdômen, como se fogo tivesse sido aceso dentro de mim. Era um calor insuportável, seguido de uma pressão que me tirou o ar. Rapidamente meu corpo cedeu e eu caí sobre a grama. Cada batida do meu coração parecia empurrar a dor para cada parte do meu corpo. A dor era excruciante, ardia, queimava… Era como se algo estivesse rasgando por dentro, queimando cada nervo que encontrasse no caminho.

── FILHA! HANNAH! ── Meu pai gritou. ── HANNAH!

Vi ele sobre o meu corpo, porém sua voz e de Shane foram ficando cada vez mais distantes. Os olhos azuis do meu pai estavam arregalados, o pavor tomava conta de sua íris. Eu fui perdendo a consciência, tudo foi ficando borrado e aos poucos escurecendo, e então… eu desmaiei.


NOTAS DA AUTORA:

Começando a segunda parte com um capítulo de gigante pra vocês. Tem 7.155 de palavras. Espero que tenham gostado porque eu fiz com muito carinho 🫶

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro