𝟶𝟶𝟻 ─ amanhecer sangrento
꒰ 🥀 ꒱ capítulo cinco:
── amanhecer sangrento
꒰ঌ 🗡️ ໒꒱ hannah grimes:
AINDA EM CHOQUE COM tudo aquilo, eu me virei e levei meu irmão até a barraca do meu pai. Aconcheguei o mais novo no colchonete com uma fina manta por cima do seu corpinho. Carl estava tão assustado com tudo aquilo, então fiz questão de ficar ali com ele até que dormisse.
Meio sonolento, o garotinho abriu seus olhos e olhou para mim. ── Acha que vamos ficar bem depois de tudo isso?
Quando observei bem sua íris, eu pude notar um pouco de medo, ele ainda estava assustado, triste pelo o que aconteceu. Delicadamente eu acariciei seu rosto, arrastando seu cabelinho para trás.
── Vamos ficar bem, pirralho. ── Tentei forçar um sorriso. ── Mas por agora você precisa dormir, tá bom?
Carl maneou devagar com a cabeça e mais uma vez fechou seus olhinhos. Eu fiquei ali por mais alguns segundos, acariciava seus cabelos e cantava You Are My Sunshine.
Eu pude notar a respiração calma dele, o que me tirou um sorrisinho. Eu não sabia se ficaríamos realmente bem, mas eu esperava que sim. Carl me dava um pouquinho dessa esperança.
Antes que eu saísse, deixei um beijinho em sua testa e depois fechei a barraca com o zíper. No lado de fora estava meu pai, ele se aproximava com o chapéu de xerife em mãos e me observava.
── O Carl dormiu? ── Papai perguntou para mim, então concordei com a cabeça.
Em um gesto repentino, ele se aproximou de mim e me abraçou com força, me soltando segundos depois e olhando em meus olhos. Fiquei confusa com aquilo, mas não reclamei. Eu amava esses gestos que meu pai fazia do nada.
── Fiquei com medo de algo ter acontecido com vocês. Fiquei com medo de ter perdido vocês. Nunca me perdoaria se isso acontecesse. Você tá bem? Não levou nenhum arranhão ou se machucou? ── Ele percebeu a atadura em meu cotovelo e me olhou assustado. ── O que é isso?
── Ralei meu cotovelo na pedreira hoje. Presente do Ed quando me empurrou. ── Notei um olhar de raiva se formando no semblante do meu pai, então puxei meu braço de volta. ── Mas agora aquele estrume tá morto, então não importa. E eu tô bem. Não levei nenhum arranhão ou mordida de zumbis, então não se preocupe. ── Tentei tranquilizá-lo.
Ele puxou minha cabeça pela nuca e deixou um beijo longo no topo da minha cabeça, seguido de um cheiro. ── Eu te amo, minha menina. ── Quando me separei olhei para seus olhos azuis outra vez. ── Fiquei com tanto medo de nunca mais ver você, Carl e a Lori quando acordei naquele hospital.
── Me desculpa... ── Pedi, deixando meu pai confuso. ── Me culpei tanto quando tudo caiu e eu não insisti para o Shane ir te pegar... Ele disse que tinham te levado para Atlanta e que iríamos te ver quando chegássemos no centro de refugiados.
Papai limpou as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. ── Ei, tá tudo bem, a culpa não é sua, filha. Não tinha o que fazer, eu entendo. Não precisa se sentir mal por isso. Eu tô aqui agora e nunca mais vou ficar longe de vocês três.
Devagar, concordei com a cabeça, sentindo que um peso havia ido embora de mim. Eu me culpei muito quando tudo começou, acreditava fielmente que a culpa do meu pai ter morrido era minha.
E quando papai disse que não, era como se o peso tivesse ido totalmente embora e me libertado daquela tortura constante.
Rick tirou o chapéu de xerife de sua cabeça e, com um gesto cuidadoso, colocou-o sobre a minha. Me deixou confusa por um instante. Toquei o chapéu com as pontas dos dedos, enquanto ele continuava a ajustá-lo, garantindo que ficasse bem colocado.
── Lembra quando você tinha 13 anos? ── Meu pai começou, sua voz era suave e nostálgica. ── Você vivia com esse chapéu na cabeça, andando pela casa como se fosse o xerife do velho-oeste. Você e o Carl passavam o dia brincando de mocinho e bandido.
Ele deu um sorriso leve, e aquele sorriso trouxe de volta tantas lembranças que eu não pude evitar de sorrir também.
── Eu peguei o chapéu na cidade só pra você. ── Meu pai disse com ternura na voz. ── Agora, te nomeio a nova xerife da cidade.
Eu fiquei sem palavras por um momento, sentindo um turbilhão de emoções. Era como se aquele chapéu, um simples objeto de tecido, carregasse todas as memórias da nossa vida antes disso tudo.
── Prometo honrar o cargo, Rick Grimes. ── Brinquei de volta, vendo ele rir baixo.
Papai assentiu e sorriu largamente. ── Ótimo, xerife Hannah Grimes.
Ele me deu um último abraço, me desejou boa noite e depois entrou para também ir dormir. Hoje foi um longo e cansativo dia.
Andando em direção à minha barraca, notei uma fogueira acesa com o fogo baixo, não era tão longe de onde eu estava. Observando melhor, eu notei ser Daryl mexendo em sua besta, com várias latas de cerveja ao seu redor. Aquele cara tava se embebedando a esse horário? Nessa situação? Eu não havia visto ele se quer colocar comida na boca.
Eu caminhei até o motorhome de Dale, peguei o peixe que sobrou do jantar de hoje mais cedo e coloquei em um prato limpo, junto a um garfo. Eu voltei até a área onde nossas barracas ficavam e me aproximei do Dixon novamente.
Talvez eu estivesse me sentindo um pouco sentida pelo fato deles terem voltado sem o Merle.
── Beber cerveja de barriga vazia não vai te fazer bem, sabia? ── Chamei atenção do homem, deixando o alimento em cima de um tronco onde tinham mais coisas.
Daryl me observou em silêncio por alguns segundos e logo respondeu: ── Eu tô de boa, xerife.
── Deveria comer um pouco.
Dixon deu um suspiro, cedeu e pegou o prato mas antes de comer, me olhou. ── Não precisava ter montado o prato pra mim.
── É o mínimo depois de você ter salvo a minha vida.
Disse simples, forçando um sorriso 3 dando as costas, prestes a me afastar, mas sentindo algo me impedir. Eu parei de andar, soltei um longo suspiro e mesmo hesitante eu me virei novamente para Daryl.
── Eu... eu sinto muito pelo Merle. ── Falei calmamente, voltando a me aproximar dele.
Dixon expirou nasalmente e tomou outro gole de cerveja. ── Não precisa falar isso só por dó.
── Não... não é por dó. É que... ── Por um momento eu não sabia bem o que falar. ── Eu não consigo nem imaginar a dor de perder um irmão. Eu não me imagino sem o Carl.
── Eu e Merle não tínhamos uma relação como a sua e do Carl. ── Daryl deu de ombros, me observando.
── É, eu sei. Ouvia vocês discutindo às vezes. Mas mesmo assim, ele era seu irmão. Sua família. ── Espremi os lábios, ainda um pouco sem jeito.
Daryl concordou com a cabeça, enquanto olhava para a cerveja em suas mãos, parecendo perdido em seus pensamentos. Quando ele falou novamente, sua voz estava mais baixa, quase em um murmúrio.
── Merle e eu... ── Ele hesitou, levantando o olhar até meu rosto e se calando enquanto fitava meus olhos. ── Deixa pra lá...
O olhei atentamente, curiosa com o que ele pudesse dizer. Meu olhar passou por todo seu rosto e eu pude admirar cada detalhe que ele tinha, umedeci meus lábios mas logo em seguida retornei ao normal.
── Pode me contar se quiser.
Daryl jogou a latinha de cerveja que agora estava vazia para longe. ── Quem sabe outro dia.
Houve um momento de silêncio entre nós, eu via que Daryl parecia ponderar se deveria ou não me contar o que iria dizer. Finalmente, ele deu um longo suspiro e abriu uma outra latinha de cerveja, virando um gole considerável em sua boca.
Eu não sabia o que fazer. Eu queria que Daryl confiasse em mim para poder contar o que quisesse, desabafar... mas ao mesmo tempo não queria ser chata e forçá-lo a isso. Queria que ele fizesse quando se sentisse confortável, quando sentisse que pode confiar em mim.
Eu me levantei da onde havia sentado e observei Daryl. Ele estava em silêncio e ainda parecia perdido em seus pensamentos com aquele seu olhar distante, com um toque de mistério.
── Sabe o que minha avó dizia? Que guardar mágoas e lágrimas sempre nos matam afogados. Então, se precisar chorar, chore. Se precisar desabafar, desabafe. ── Digo, recebendo o olhar do mais velho. ── Se precisar de alguém pra isso, você sabe onde me encontrar. Eu vou dormir. Toda aquela situação com os zumbis hoje me deixou um caco.
Dixon continuou me fitando em silêncio, parecia pensativo com o que eu acabara de dizer. Quando fiz menção de ir dormir, ele maneou devagar com a cabeça.
── Boa noite, Grimes.
── Hannah. Pode me chamar só de Hannah.
Daryl assentiu, olhando meus olhos e algumas vezes meus lábios. ── Tudo bem, Hannah. Vai dormir.
── Já tô indo, Dixon.
── É Daryl. ── Disse o homem, me fazendo virar para olhá-lo novamente.
Assenti. ── Boa noite, Daryl.
── Boa noite, Hannah.
Enquanto eu me afastava, sentia uma mistura estranha de emoções. A conversa com Daryl tinha me deixado mais próxima dele de uma maneira que eu não esperava. Vê-lo se abrir, mesmo que por um breve momento, me fez perceber que havia muito mais em Daryl Dixon do que aquele exterior duro e fechado que ele mostrava para o mundo. Eu sempre soube que ele era forte, mas ali, naquela troca de palavras, pude ver sua vulnerabilidade. E isso me tocou de um jeito que eu não conseguia explicar.
Quando ele disse meu nome, senti um calor suave se espalhando pelo meu peito. A maneira como ele pronunciou "Hannah" me fez me sentir bem, me fez sentir uma sensação boa. E o jeito que ele olhou para mim... eu não consegui deixar de notar a conexão que estava crescendo entre nós.
Mas, ao mesmo tempo, eu me sentia confusa. Ele era muito mais velho que eu, um homem com cicatrizes que pareciam ir além das físicas. E ainda sim, havia algo que me atraía nele, algo que eu não podia ignorar. Eu me perguntei o que meu pai pensaria disso tudo. Ou Shane, que vivia um pé atrás quando se tratava de qualquer coisa relacionada a mim.
Shane não era meu pai de sangue, mas era quase um segundo pai. Eu sempre fui próxima dele. Com toda a merda que aconteceu, quando meu pai estava "morto", Shane fez de tudo para cuidar de mim e Carl.
Eu me olhei em um pequeno espelho que tinha na minha mochila, penteei meu cabelo e tentei afastar todos aqueles pensamentos. Eu coloquei um blusão largo para dormir, com uma calça moletom preta e depois disso eu me deitei no meu colchão e me cobri para dormir. Passei a me lembrar da música de ninar que meu pai cantava para mim quando eu era mais nova e em alguns minutos adormeci.
Na manhã seguinte, quando já estava bem claro, eu vesti uma blusa branca regata, com short e mais uma vez um all-star vermelho no pé. Ajeitei meu cabelo em um rabo-de-cavalo e depois molhei o rosto para afastar o sono que ainda me restava. Eu também usava um colar que meu pai me deu há alguns anos atrás e o chapéu de xerife.
Saí da minha barraca e dei de cara com Daryl, que parecia um pouco mais impaciente hoje. Certeza que ele estava de ressaca. Dixon olhou para meus olhos e minha boca, mas logo se virou e foi para o centro ajudar os outros a enterrar os corpos dos mortos.
Cheguei no centro e meu olhar foi até Andrea que ainda estava ao lado de Amy. Ela parece ter passado a noite ali, ao lado da irmã.
Eu andei até a mulher e me agachei ao seu lado, esperando que eu fosse ajudar de alguma forma.
── Andrea. Eu sinto muito. ── Me ajoelhei ao lado da mulher. ── Ela morreu. Eu também tô mal com isso, ela era minha amiga. Mas você tem que deixar a gente enterrá-la. ── A mais velha apenas me ignorou. ── Nós todos gostávamos dela, prometo que seremos muito cuidadosos.
A loira permaneceu em silêncio ao lado da irmã. Dei um longo suspiro e me levantei novamente e fui ficar ao lado de Lori, respeitando o luto de Andrea. Era um momento delicado para ela, tenho certeza que ela não precisa de ninguém falando coisas para ela.
Olhando para frente, vi Daryl usando uma picareta para acertar a cabeça dos mortos, enquanto T-Dog e Glenn levavam os corpos dos zumbis até uma fogueira.
── Ela ainda não se mexeu? ── Ouvi a voz de meu pai atrás de mim, então o olhei e neguei com a cabeça.
── Eu tentei falar com ela, mas ela sequer mexeu um músculo. Ela não quer falar com a gente. ── Respondo, intercalando o olhar novamente até as irmãs.
Lori se intrometeu e falou: ── Ela ficou lá a noite toda. ── Olhamos para a mulher. ── O que vamos fazer?
── Não podemos deixar a Amy assim. ── Shane surgiu ao nosso lado. ── Temos que resolver isso, como fizemos com os outros.
── Eu vou falar com ela. ── Meu pai tomou a iniciativa.
Determinado, andou até Andrea e se agachou ao lado dela, mas não foi bem recebido. A mulher sacou uma arma em direção ao meu pai, o obrigando a se afastar devagar com as mãos rendidas.
── Não tem jeito. ── Eu conclui, negando com a cabeça.
Com a minha fala, Daryl se aproximou de nós. ── 'Tão falando sério? Aquela garota morta é uma bomba relógio.
Olhei para o Dixon. ── A garota morta é irmã da Andrea! Vamos dar um tempo para a Andrea, ela merece. ── Digo dando ênfase, olhando para os olhos do homem.
Papai se aproximou e falou: ── O que você sugere?
── Dar um tiro. ── Daryl falou de forma fria e direta. Em seguida, apontou para a própria têmpora fazendo uma arma com os dedos. ── Limpo, na cabeça, daqui. Olha, eu acerto o peru entre os olhos dessa distância.
── Não vamos fazer nada. Ninguém vai. ── Tomei a liberdade de decidir. ── Deixem ela em paz, pelo amor de Deus.
── A Hannah tem razão. Deixe ela em paz. ── Disse minha madrasta, se sentando nos bancos que tinham ali embaixo de uma sombra do trailer. Daryl bufou e se afastou de nós.
O Dixon foi até Morales. ── Acorda, a gente tem um trabalho a fazer.
Em seguida, jogou sua ferramenta sobre o chão e se agachou para ajudar Morales a pegar o corpo morto, em seguida começaram a arrastar.
── Ou, o que vocês estão fazendo? ── Glenn se aproximou dos mais velhos. ── Esse é pros zumbis. ── Apontou para o fogo. ── Nosso pessoal vai ali.
── Que diferença faz? Estão todos infectados. ── Daryl rebateu sem olhar o coreano.
── Nosso pessoal vai naquela fileira! ── Apontou para o local enquanto exasperava. ── Nós não vamos queimá-los! Vamos enterrá-los. Entenderam? O nosso pessoal vai naquela fileira ali. ── Insistiu, fazendo ambos arrastarem o corpo do homem morto para a fileira.
── Você colhe o que planta. ── Daryl exasperou mais uma vez. ── Deixaram o meu irmão pra morrer. ── Aumentou o tom da sua voz. ── Vocês merecem isso!
Parei de prestar atenção em Daryl assim que ouvi Jacqui gritar: ── Ele foi pego! Um zumbi mordeu o Jim! ── Junto aos outros, eu me levantei bruscamente do banco em que me sentei.
── Eu tô bem. ── Jim murmurou com um tom assustado, observando nossos olhares.
── Mostra pra gente. ── Daryl ordenou, enquanto segurava a picareta que estava apoiada em seu ombro. ── Mostra pra gente!
Jim pegou uma pá para se defender. ── Calma, Jim. ── Shane também se aproximou.
── Segura ele! ── Daryl continuou ordenando.
── Jim, abaixe isso. ── Shane pediu, ainda tentando acalmá-lo.
T-Dog se aproximou devagar por trás do homem e o segurou, fazendo ele soltar a pá. ──Eu tô bem. Eu tô bem.
Jim murmurou, enquanto Daryl se aproximava e levantava a camisa, deixando amostra para nós a mordida bem na sua barriga. Ele continuou com aquele seu olhar assustado para todos nós.
── Eu tô bem. Eu tô bem. Eu tô bem. ── Jim ficou repetindo aquelas palavras.
O sentaram distante e nós nos reunimos para decidir o que faríamos. O deixaríamos vivo? Mataríamos ele?
── A gente acerta a cabeça dele com a picareta, e a garota morta. ── Daryl deu a sua sugestão.
── É a sua única ideia? Acertá-lo na cabeça? ── Questionei um pouco indignada. ── O Jim ainda tá vivo. Não podemos simplesmente enfiar a picareta na cabeça dele.
── Tem sugestão melhor, menina? ── Daryl respondeu rispidamente, tendo o meu olhar.
── Tenho. Deixar que ele mesmo decida o que quer que fazemos. ── Respondi simples.
Shane olhou para o Dixon. ── É o que gostaria, se fosse você?
O caçador olhou para o Walsh e respondeu: ── Eu agradeceria se fizesse isso.
── Nunca pensei que fosse dizer isso, mas talvez o Daryl tenha razão. ── Dale partiu em defesa do homem.
── Até concordo sobre a Amy, mas o Jim... ele tá vivo. ── Opinei, olhando cada um naquela roda.
── A Hannah tem razão. ── Meu pai exprimiu, chamando nossa atenção. ── O Jim não é um monstro, nem um cachorro louco.
── Não estou sugerindo...
Meu pai cortou: ── Ele está doente. Se formos começar com isso, onde vamos parar?
── Pra mim tá bem claro. ── Daryl se pronunciou novamente. ── Tolerância zero para zumbis, essa é a regra.
── O Jim é zumbi? ── Retruquei as palavras do Dixon. ── Porque eu to vendo que ele tá bem vivo e humano. ── Dei ênfase. ── Foi mordido, mas ainda não se transformou.
── Mas a Amy vai ser já já. ── Daryl rebateu, me olhando nos olhos.
Nós trocamos aquele olhar por alguns segundos até meu pai começar a falar e quebrar o nosso "clima".
── E se conseguirmos ajuda pra ele? ── Olhei confusa para meu pai. ── Eu soube que o CCD tava trabalhando em uma cura.
── Ouvi isso também. Ouvi muita coisa antes do mundo virar um inferno. ── Shane exprimiu.
── É o CCD. Se tiver uma cura, com certeza estará lá. Mas também pode ser uma faca de dois gumes, falsa esperança da nossa parte. ── Fui realista. ── Temos que pensar em cada cenário antes da decisão.
── Eu acho isso de cura improvável. ── Shane continuou hesitante. ── Cura... acha mesmo que estaríamos nessa situação se o CCD tivesse a cura, cara? ── Olhou seriamente para o meu pai.
── Por quê? ── O ex-xerife questionou. ── Se tiver algum governo, alguma estrutura, eles vão proteger o CCD a todo custo. Acho que é nossa melhor chance. Abrigo, proteção...
── Sim, Rick. Eu também quero essas coisas, tá? Eu quero mesmo, tá? ── O ex-policial começou. ── Agora, se existem, estão lá na base do exército que é lá em Forte Benning.
── 160 quilômetros, na direção contrária. ── Lori se intrometeu.
── Pois é. ── Shane concordou. ── Mas fica fora da zona de perigo. Agora escutem, se o lugar estiver funcionando, estarão bem armados. Estaremos a salvo lá.
── E caso não tenha mais nada em nenhum dos lugares? Temos que pensar nisso, não? ── Questionei passando o olhar entre meu pai e Shane.
── Temos. Mas o Forte Benning é nossa melhor opção. ── O Walsh insistiu.
── Eu ainda acho que o CCD é melhor. ── Papai respondeu. Intercalei meu olhar até ele. ── Os militares estavam na frente disso tudo. Eles foram derrotados. Todos nós vimos isso. O CCD é nossa melhor escolha e a única chance do Jim.
── Vão lá procurar um remédinho, façam o que quiserem. Alguém precisa ter coragem pra resolver esse problema! ── Daryl falou correndo com a picareta levantada até Jim, prestes a matar o homem com a ferramenta.
── Daryl, para! ── Gritei com ele, correndo para tentar impedir sua ação.
Por sorte, meu pai foi rápido em puxar sua arma e mirar na cabeça do Dixon. ── Nós não matamos os vivos. ── Falou pausadamente e sem paciência.
Daryl abaixou a ferramenta devagar e se virou para meu pai. ── É engraçado que fala isso, mas aponta uma arma para a minha cabeça.
── Podemos discordar de algumas coisas, mas não disso. ── Disse o Walsh, tendo o olhar do caçador. ── Agora, abaixa isso. Abaixa. ── Ordenou.
Daryl, mesmo hesitante, jogou a picareta no chão com raiva e saiu andando, passou pelo o meu lado e eu segui com meu olhar mais uma vez.
Eu andei até a minha barraca e comecei a arrumar as minhas coisas, sabendo que provavelmente iríamos embora. Quando ouvi um som único de tiro, me assustei, mas já imaginava que Amy havia acordado zumbificada e Andrea a matou.
Foi um dia cheio, só terminamos de enterrar todos os corpos e arrumar o acampamento quando era fim da tarde.
No túmulo de Amy, enfeitei com algumas flores que colhi em um arbusto no meio da floresta. Tinham flores de suas cores favoritas e mais outras brancas, amarelas e azuis.
Assim que me aproximei do acampamento, percebi que todos estavam reunidos. Eu me aproximei e me sentei ao lado de Carl, sentindo o menor deitar sua cabeça em meu ombro, então acariciei levemente os fios do seu cabelo.
Shane veio até o centro de nós e começou a falar:
── Eu... ── Começou hesitante, atraindo o olhar de todos. ── Eu andei pensando no plano do Rick. Olha, não há nenhuma garantia de qualquer maneira. Eu tenho que dizer isso. Eu conheço esse homem há muito tempo. ── Olhou diretamente para o meu pai. ── E eu confio nos instintos dele. Agora eu acho que o mais importante é que a gente fique juntos. Então, aqueles que concordarem, vamos embora logo que amanhecer. Tá bom?
....
Acordei bem cedo e fui até a barraca onde Carl estava. Lori havia me pedido para ajudar meu irmão a terminar de arrumar suas coisas, então me aproximei comecei a dobrar suas roupas para guardar.
Em seguida, Carl foi de encontro com nosso pai enquanto eu andei até a minha barraca para pegar minha mochila que já estava arrumada e também mais algumas coisas minhas. Quando olhei para frente, notei Daryl também terminando de pegar suas coisas e novamente senti aquela sensação estranha, principalmente quando ele colocou a besta em suas costas e olhou para os meus olhos.
Ajeitei minha postura e dei as costas, começando a andar até o centro. Guardei minhas coisas no porta-malas e ouvi Shane começar a falar conosco:
── Atenção, pessoal. ── Shane e meu pai pararam na frente de todos. ── Os que estiverem com rádio, estaremos no canal 40. Vamos falar bem pouco, tá legal? Se tiverem problema, se estiverem sem rádio, sem sinal ou qualquer coisa assim, quero que buzinem uma vez. Isso vai parar a caravana. Alguma pergunta?
── Olha só... ── Morales começou a falar, se aproximando. ── A gente não vai.
── Temos família em Birmingham. Queremos ficar com o nosso pessoal. ── A esposa do Morales continuou as palavras do marido.
── Vão ficar sozinhos, ninguém vai proteger vocês. ── Shane avisou, olhando o casal.
── A gente vai se arriscar. Vou fazer o que é melhor pra minha família. ── Morales disse, decidido.
Papai olhava para o homem com uma das mãos na cintura. ── Certeza?
── Já conversamos sobre isso. ── O mesmo respondeu. ── Temos certeza.
── Tudo bem. ── Meu pai foi compreensível. ── Shane. ── Acenou com a cabeça.
Shane, ao entender o aceno, se agachou em frente a bolsa de armas e pegou um revólver junto de uma caixa de munições, as quais entregou para o homem, que aceitou de bom grado.
── A caixa tá pela metade. ── Shane falou.
── Obrigada a todos. ── A esposa de Morales falou. Lori foi em direção à mulher e os abraçou, enquanto as crianças se despediam com algumas lágrimas.
── Boa sorte, cara. ── Shane falou e apertou a mão de Morales.
── Canal 40 se mudarem de ideia. ── Papai disse.
Me despedi do casal e também das crianças. Como o carro de meu pai estava cheio, me aproximei da caminhonete de Daryl e olhei para dentro através da janela que estava aberta.
── Tem lugar pra mais um? ── Perguntei, esperando uma resposta.
Daryl entrou para dentro do veículo e me olhou nos olhos. ── Por que não vai com o Shane?
── Porque você é mais legal. ── Dei qualquer desculpa, tentando parecer casual. ── E porque meu chapéu provavelmente voaria num jipe.
Daryl bufou nasalmente, parecendo pensar na oportunidade, mas logo cedeu: ── Entra logo aí, xerife, antes que eu mude de ideia.
── Valeu, caipira.
Dei um sorriso vitorioso, abri a porta e me ajeitei no banco. Todos nós começamos a nos afastar do acampamento. Eu fiquei observando o local até sumir totalmente da minha vista. Me virei e apenas me concentrei na paisagem logo que tinha logo à frente.
No meio da viagem acabamos parando no meio da estrada porque o trailer de Dale acabou dando problema. Desci da caminhonete de Daryl, finalmente tomando um ar e esticando as pernas depois de algumas horas de viagem.
── Eu disse que nunca chegaríamos longe com essa mangueira. ── Dale exprimiu, olhando para meu pai. ── Disse que precisava da mangueira do caminhão.
── Não dá pra vedar? ── Papai pousou as mãos na cintura e observou a situação do motorhome.
── É tudo o que eu fiz até agora. Tem mais fita adesiva do que mangueira. Eu não tenho mais fita.
── Tô vendo alguma coisa lá na frente. ── Shane falou enquanto abaixava seus binóculos. ── Com sorte é um posto de gasolina.
Jacqui desceu do trailer aflita. ── Pessoal, o Jim... É grave. Acho que ele não aguenta mais.
── Rick, pode ficar e proteger o forte? Vou até lá ver o que consigo achar.
── Eu vou com você e vou dar apoio. ── T-Dog disse, abaixando o binóculo.
── Todo mundo fica esperto. ── Shane disse. ── A gente volta já.
Antes de partirmos novamente, Jim havia pedido para que nós o deixássemos na estrada. Nós o deixamos debaixo de uma árvore fresca e fomos nos despedir de Jim.
O silêncio dentro da caminhonete era espesso, quase palpável, enquanto o som do motor ecoava pelo ambiente. O vento que entrava pela janela balançava levemente o meu cabelo, criando um contraste entre o movimento ao meu redor e a imobilidade da situação.
Daryl dirigia com a sua típica concentração, os olhos fixos na estrada à frente, enquanto o mundo lá fora passava em borrões. Eu sabia que ele estava acostumado com o silêncio, talvez até preferisse ele assim, mas havia algo em mim que precisava quebrar aquela tensão que parecia crescer a cada segundo que passava.
Quando abri o porta-luvas, peguei um porta-cds e comecei a mexer, enquanto sentia um pequeno alívio. A música sempre foi minha válvula de escape, e encontrar algo que pudesse preencher aquele vazio entre nós era a distração que eu precisava. Passei os dedos pelas capas onde estavam os dvds, reconhecendo alguns nomes e estranhando outros. Olhei para o meu lado, percebendo Daryl ainda concentrado na estrada. Nesse momento, me perguntei quais dessas músicas ele gostaria de ouvir.
Peguei um CD que parecia interessante e olhei para ele por um momento, hesitando em perguntar. Finalmente, a curiosidade venceu a hesitação
── Que tipo de música você curte? ── Indaguei, tentando parecer casual, mas sabendo que minha voz traía um pouco de curiosidade.
Daryl deu uma breve olhada na direção dos CDs, seus olhos azuis se desviaram por apenas segundos antes de voltar a se concentrar na estrada.
── Rock, rock clássico, coisas antigas... ── Respondeu com sua voz rouca e baixa, sem muita emoção, mas com um leve traço de interesse. ── E você?
── Eu curto rock também, mas... ── Dei uma pausa, meio incerta sobre o que ele pensaria. ── Às vezes eu ouvia country. ── Admiti, encolhendo um pouco os ombros. ── Gostava de Evanescence, Paramore, Deftones e Alan Jackson.
Ele me olhou de novo, dessa vez com um olhar ligeiramente curioso, mas sem mudar muito a expressão.
── Consigo te ver ouvindo Evanescence, Deftones e Paramore. ── Dixon comentou, quase como se estivesse pensando alto. ── Mas Alan Jackson? Isso me pegou de surpresa.
Soltei uma risadinha, relaxando um pouco. ── Eu sou cheia de surpresas.
Daryl deu um leve aceno, quase imperceptível, e voltou a olhar para frente. Depois de um momento, eu acrescentei, quase sem pensar:
── Também curto músicas clássicas de vez em quando.
O caçador arqueou uma sobrancelha, claramente não esperando por essa. ── Clássicas? Por quê?
Dei de ombros, tentando parecer despreocupada. ── Eu fazia ballet. A música clássica meio que grudou em mim depois de um tempo. Acabei gostando de ouvir em casa também.
Daryl franziu o cenho, surpreso, mas não disse mais nada. Acho que ele tentava digerir a informação de que eu era um pouco eclética.
Após horas de viagem e quase um dia inteiro naquela estrada, chegamos ao CCD. O local parecia mais um cemitério do que o centro de controle de doenças. Havia vários corpos mortos, cheios de moscas e o cheiro era fétido e insuportável. Era um cheiro que dava ânsia.
Quando desci da caminhonete, peguei uma pistola e comecei a andar atrás do meu pai. Fomos até a porta, em silêncio e com muita cautela. Quando chegamos, Shane e meu pai tentaram abrir as portas sanfonadas, mas não tivemos êxito.
Shane bateu algumas vezes na porta sanfonada. ── Não tem ninguém aqui. ── T-Dog concluiu.
Papai olhou para o homem e rebateu: ── Então por que as portas estão fechadas?
── Zumbi! ── Daryl alarmou, deixando todos nós ainda mais assustados com toda a situação. Dixon perfurou o podre com sua flecha e começou a exasperar com meu pai: ── Droga, trouxe a gente pra um cemitério!
── Ele tomou uma decisão. ── Dale tentou defender meu pai.
── Foi uma decisão errada! ── Dixon exclamou novamente.
Walsh se aproximou do Dixon e falou: ── Cala a boca. Tá me ouvindo? Cala a boca! Rick, é um beco sem saída. ── Se virou para seu amigo.
── Eu falei que era uma faca de dois gumes. ── Comecei a ficar inquieta. ── Melhor sairmos logo daqui antes que a gente vire o jantar desses zumbis.
── Pra onde nós vamos? ── Carol questionou com uma voz chorosa.
── Tá me ouvindo? Sem culpa, hem. ── Shane confrontou, ainda irritado.
── Ela tá certa. É loucura ficar aqui tão perto da cidade depois de escurecer! ── Lori falou olhando para o marido, que estava estático.
── Forte Benning, Rick, ainda é uma opção.
── Como? Sem combustível, comida. São 160 quilômetros. ── Andrea rebateu.
── 201 quilômetros. ── Glenn rebateu. ── Eu chequei no mapa.
── Esqueçam o Forte Benning. Precisamos de uma resposta agora. ── Lori continuou debatendo, e cada vez eu sentia meu corpo ficando mais inquieto. Eu não sabia reagir a situação.
Apenas observava em volta, vendo os mortos que vinham até nós.
── Vamos pensar em alguma coisa. ── Papai tentou nos tranquilizar. Mas como ficaríamos calmos naquela situação atual?
Uma discussão se iniciou, um falando por cima do outro, mas todos querendo sair logo daquele local. O perigo só se tornava ainda maior, principalmente por causa do nosso barulho.
Logo o papai ficou parado e disse: ── A câmera se mexeu. ── Todos paramos e olhamos. ── Ela se mexeu!
── Pai, vamos sair daqui, por favor. ── Comecei a quase implorar, entrando em desespero.
── Ela se mexeu. ── Ele insistiu.
── Rick, isso já era. ── Shane respondeu. ── É uma câmera automática. São engrenagens. É resquício de energia. Agora, vamos embora. ── Começou a puxá-lo pelo ombro, mas meu pai lutava contra, enquanto começavam a discutir.
── Pai, não tem ninguém aí! ── Gritei.
Meu pai se soltou e bateu com força na porta. ── Eu sei que você está aí. Sei que pode me escutar. ── Papai começou a falar com a câmera. ── Por favor, estamos desesperados. Por favor, nos ajude. Temos mulheres e crianças, não temos comida. Quase sem combustível!
── Pai. ── Corri até o mesmo e tentei puxá-lo para longe.
── Por favor, a gente não tem pra onde ir. ── Papai continuou implorando para a câmera em desespero, enquanto voltava a bater na porta. ── Se você não nos deixar entrar, vai estar nos matando. Por favor!
Shane apareceu puxando ele para longe. ── Vamos embora, amigão!
Mas meu pai continuou lutando contra: ── Por favor, ajude! Por favor! Você está nos matando! Está nos matando!
Antes que nós fôssemos embora, ouvimos um som, seguido de uma forte claridade que invadiu os nossos olhos. Quando nos demos conta, a porta do CCD tinha sido aberta, deixando todos surpresos porém felizes. Meu pai estava certo, havia alguém lá dentro comandando esse lugar.
Então, talvez tenha uma cura?
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