
𝟶𝟶𝟸 ─ retornos e confrontos
꒰ 🥀 ꒱ capítulo dois:
── retornos e confrontos
꒰ঌ 🗡️ ໒꒱ hannah grimes:
FIQUEI NA BARRACA JUNTO de Amy por um tempo. Nós duas ficamos jogando aquele jogo com as pedras por quase uma hora. Eu me sentia orgulhosa por fazer a menina distrair sua mente, mesmo que só um pouco.
Entre nossas risadas, conversas e jogatinas, ouvimos um alto som de alarme. Eu e Amy saímos rapidamente e fomos correndo em direção ao centro do acampamento. Lá vimos Shane em cima do trailer ao lado de Dale, que usava um binóculo para observar o horizonte à procura do que fazia aquele som alto.
Fitei o mais velho apreensiva, aguardando que ele, Jim ou Shane falassem algo.
── São eles? Voltaram? ── Amy falou, com seus olhos brilhando de esperança e ansiedade.
── Dale? O que é isso? ── Apressei uma resposta, também ansiosa.
── Não acredito! ── O senhor exprimiu em um tom mais baixo. Ele finalmente abaixou seu binóculo e respondeu: ── Um carro roubado, pelo jeito.
Eu levei meu olhar até a estrada que dava acesso ao nosso acampamento, vendo que um carro vermelho vinha até nós e estacionava. O vidro era meio fumê, mas conseguia ver Glenn lá dentro. Eu não entendo nada de carro, mas chuto que seja um camaro. Posso estar errada.
── Carro da hora, japa! ── Exprimi, com um tom de voz mais alto.
O alarme do veículo ainda ecoava pelo local, me fazendo levar as mãos até os ouvidos e tampá-los. Com aquele som ecoando por todo local, os outros do acampamento também se aproximaram, curiosos com o que estava acontecendo.
Quando a porta foi aberta, Glenn saiu. Eu o observei atentamente, talvez um pouco preocupada. Procurei arranhões por seu corpo, mas não tinha nada.
── Minha nossa, desliga logo essa porcaria! ── Dale desceu de seu trailer e se aproximou brigando com o rapaz.
── Eu não sei desligar. ── O asiático respondeu em um tom alto também.
Eu ainda estava ali parada, tampando meus ouvidos e esperando que desligassem logo aquele alarme. ── Cadê os outros? ── Perguntei.
── Já estão vindo. ── Glenn olhou para mim.
── Abre logo esse capô! ── Shane também apressou, se aproximando do camaro.
── E a Andrea? ── Amy perguntou.
── Abre esse capô! ── Shane continuou apressando o coreano.
── Tá bom! Calma! ── Glenn entrou no carro e puxou a alavanca.
A loira continuou insistindo na pergunta: ── Tá tudo bem com ela? Me fala, tá tudo bem com ela?
── Tá! Ela tá bem! ── Glenn respondeu rapidamente.
── Por que ela não tá com você? Onde ela tá? Ela tá bem? ── Amy continuou os questionários.
── Está! Tá todo mundo bem. ── Glenn confessou, olhando para todos do grupo. ── Bom, o Merle nem tanto. ── Completou, me deixando curiosa com o que pudesse ter acontecido.
── Ficou maluco dirigindo um carro barulhento até aqui? Tá tentando atrair os zumbis pra cá? ── Shane exasperou.
── Acho que estamos bem. ── Dale tentou tranquilizar o ex-policial.
O mesmo olhou para o grisalho e respondeu: ── Chama isso de estar bem? ── Continuou frustrado.
── Bom, o alarme estava ecoando por esses morros todos, é difícil achar a fonte. ── Shane colocou as mãos na cintura e fitou Dale com desdém. ── Não estou discutindo, só estou dizendo. Não faria mal algum pensar nas coisas com cuidado da próxima vez. ── Repreendeu Glenn.
── Foi mal. ── Glenn se desculpou ── Eu consegui um carro legal. ── Completou, com um mínimo sorriso.
Dei uma leve batida na cabeça de Glenn. ── Usa isso que você chama de cabeça da próxima, bobão.
O Rhee deu uma mínima risada enquanto negava com a cabeça. Eu me aproximei e peguei seu boné, levando até a minha cabeça e o vendo dar uma risada.
── Até que fica bom em você. ── Glenn brincou.
── Eu sei. ── Dei uma pequena risada.
Escutei outro veículo se aproximar, então olhei na direção. Dessa vez era um caminhão na cor branca.
O caminhão veio até nós e estacionou alguns metros atrás do carro de Glenn. Observei fixamente, vendo o resto dos que tinham ido para Atlanta saindo. Jacqui, Morales, T-Dog e Andrea. Todos aparentavam estar bem. Merle não estava ali.
Fiquei feliz por ver todos bem. Andrea correu até Amy e ambas se abraçaram. Assim como as irmãs, Morales correu para abraçar sua mulher e filhos. Ver esse reencontro me deu uma genuína saudade de abraçar meu pai.
Ao meu lado, Carl começou a soluçar baixinho, o que chamou minha atenção. Esses tempos têm sido os mais difíceis para nós. Nós dois sentimos muita falta de nosso pai. Apertava meu coração ouvir e ver meu irmão triste dessa maneira.
Eu me virei devagar na direção de Carl, me abaixei em sua altura e peguei em uma de suas mãos, e com os polegares da mão direita limpei as lágrimas de seus olhos.
── Vem aqui. ── Eu arrastei seu cabelo para trás da orelha e falei: ── Tudo bem. Eu também sinto falta do papai. Mas estamos juntos, tá bom? Eu, você e a Lori. Somos uma família. E seja lá onde o papai esteja, ele está feliz por nós. Eu te amo, pirralho. ── Falei em um tom choroso, mas segurando ao máximo para não desmoronar.
Delicadamente e devagar, puxei meu irmão para um enlace apertado e fiquei alguns segundos ali. Os abraços de Carl eram os melhores, esse garoto consegue me curar de feridas internas. Tenho saudade de ver aquele rostinho alegre que ele sempre tinha antes.
── Como conseguiram sair de lá? ── Shane questionou.
── Foi um cara novo que tirou a gente. ── Rhee explicou, me deixando ainda mais curiosa.
── Um cara novo? ── Eu e Shane perguntamos em uníssono.
Morales acenou com a cabeça para nós dois. ── Um maluco apareceu na cidade. Ô do helicóptero! Vem cá dizer um oi. O cara é policial. Como você.
Eu e Carl olhamos curiosos em direção ao caminhão, esperando ver essa nova pessoa que salvou nossos amigos.
Assim que ele apareceu, eu paralisei e meu olhar se arregalou em total surpresa. Aquele uniforme, aquele rosto... era meu pai! Eu fiquei imóvel por segundos, tentando descobrir se isso era um sonho ou realidade. Porém, quando Carl saiu correndo em direção a ele eu soube que era real.
Papai abraçou eu e Carl fortamente, nos fazendo retribuir aquele aperto. Eu comecei a chorar de felicidade. Sentia como se as feridas dentro de mim tivessem ido embora na mesma hora. Era tão bom me sentir dessa maneira.
Ele pegou meu irmão em seus braços, enquanto com o outro me manteve próximo ao seu corpo. Lori, que tinha um olhar de surpresa também se aproximou, feliz pelo marido ter voltado. Mais uma vez todos nós nos abraçamos. Estávamos unidos novamente.
….
De noite, eu ainda não acreditava que meu pai estava realmente ali. Carl e eu estávamos com nossas cabeças deitadas sobre seu colo, envolvidos por uma coberta enquanto seus braços acolhiam nós dois.
Eu não conseguia parar de olhá-lo nem por um segundo. Não conseguia parar de observar aquele rosto que não via há meses…
A maioria do acampamento estava reunido de frente para uma fogueira que acendemos. Acho que todos estavam curiosos em saber o que aconteceu com meu pai até ele chegar aqui e nos reencontrar.
── Eu tava desorientado. Eu acho que eu quis chegar mais perto. Medo, confusão, essas coisas todas, mas… desorientado é o que define mais.
── Palavras podem ser insuficientes. ── Dale exprimiu, enquanto colocava seu cantil sobre o chão. ── Às vezes não dizem tudo.
── Eu senti como se tivesse sido arrancado da minha vida e posto em outro lugar. Por um tempo eu achei que eu tava preso num coma, num sonho. Alguma coisa da qual eu não acordaria nunca.
── A mãe disse que você tinha morrido. ── Disse Carl olhando para nosso pai.
Papai deu um sorriso olhando para os olhos de Lori e intercalando até nós dois. ── Ela tinha razões pra acreditar nisso. Nunca duvide disso.
── Eu nunca acreditei que você estava morto. ── Exprimi, olhando para seus olhos azuis.
O mais velho deu um pequeno sorriso e beijou minha testa, enquanto acariciava delicadamente o meu cabelo. ── Estou feliz por ter achado vocês três.
Lori retribuiu o sorriso e começou a falar: ── Quando as coisas começaram a ficar muito ruins, disseram no hospital que… iam transferir você e os outros pacientes pra Atlanta. Isso nunca aconteceu.
── Eu não tô surpreso depois de Atlanta ter caído. E, pelo jeito que ficou aquele hospital, eles…
── É, as aparências não enganam. ── Shane completou. ── Mal consegui tirá-los de lá. Sabe?
── Eu nem sei como te agradecer, Shane. Eu não tenho nem palavras.
── São as palavras sendo insuficientes de novo. ── Dale falou com um pequeno e breve sorriso no rosto. ── São pobres.
── O que importa é que você tá aqui agora. ── Digo, olhando para os olhos dele outra vez.
Antes que meu pai dissesse algo, ouvimos um barulho ao lado. Era Ed com Carol e Sophia. Observando a mais nova, eu pude ver um semblante triste, enquanto Carol tinha alguns hematomas em seu pescoço.
Não era uma novidade para ninguém o que Ed fazia com sua esposa e sua filha.
Shame fitou ambos. ── Ed, não tá a fim de reconsiderar o tronco, não?
── Tá frio aqui. ── O Peletier retrucou.
── O frio não muda as regras, não é? Mantemos o fogo baixo, só brasa, pra que não possam ver a gente de longe, não é isso? ── Walsh reforçou as suas palavras.
── Eu disse que tá frio! Por que não vai cuidar da sua vida? ── Ed começou a discutir.
Era sempre desse jeito. Ed era o cara mais grosseiro desse acampamento, era até mais chato que o Merle. Tudo, absolutamente tudo, esse idiota levava para o lado de brigas e discussões. Era cansativo e chato, e na maiorias das vezes eu me segurava para não dar um cascudo nele.
Não que eu tivesse muita força contra ele, mas uma arma tem.
Shane, já irritado, expirou profundamente, se levantou e foi até ele. ── Ed. Tem certeza que quer ter essa conversa agora?
O Peletier cedeu: ── Tá bom. Puxe o tronco. Anda, Carol.
── Por que não se levanta você e pega o tronco? ── Me intrometi, enquanto me levantava e também ia até eles. ── Carol é sua esposa, não a sua escrava.
Ao falar isso, Ed, Carol e mais alguns que estavam no local me olharam surpresos. Alguns ali tinham medo de Ed, mas eu não fazia parte dessa turma. Eu não dou a mínima se ele irá me ameaçar, tentar algo contra mim ou me espancar.
Se ele tivesse culhão para fazer isso, meu pai e Shane provavelmente quebrariam ele facilmente.
Ed olhou para mim, claramente irritado com minha intromissão. ── Isso não é da sua conta, menina. Vai cuidar da sua própria vida.
── Você só é sedentário, mas não é um aleijado. Pode muito bem se levantar desse banco e tirar você mesmo o tronco. Se acha um fodão mas tá mais perto de um palhaço. O circo deveria pagar pra te ter lá, né, Ed?
── Hannah… por favor. ── Carol murmurou, claramente apreensiva.
Continuei fitando o mais velho, dessa vez com as mãos na cintura. ── Esse quadrúpede de 5 toneladas tem duas mãos e duas pernas, ele pode muito bem se levantar e tirar o tronco sozinho.
── Hannah… ── Shane tentou parar antes que algo pior acontecesse.
── Não precisamos de brigas perto das crianças. ── Dale também se intrometeu, observando a confusão prestes a começar.
── Eu não vou tirar o tronco. Que se foda. ── Ed continuou com aquela teimosia imbecil. ── Se quer o fogo baixo então faz você mesmo o trabalho.
Expirei fortemente. Sem dizer mais nada, eu me aproximei da fogueira no centro, apaguei as chamas e taquei o tronco no chão, bem ao lado de onde o Peletier estava sentado. Confesso que quase o acertei propositalmente. Algumas das brasas que estavam grudadas na madeira voaram no homem, o sujando.
── Tá aí a merda do seu tronco. ── Disse, já sem paciência.
── Pirralha idiota. ── Ed exclamou, prestes a se levantar, mas sendo impedido por Shane.
── Chega, cara. ── Murmurou.
Eu me virei para voltar até a fogueira onde estava com minha família. Me sentei calmamente ao lado de Carl e fingi que nada tinha acabado de acontecer. Shane também voltou e se acomodou novamente ali conosco.
Quando o ar do local se acalmou, Dale mudou de assunto: ── Já pensaram sobre o Daryl Dixon? Ele não vai ficar feliz de terem deixado o irmão dele pra trás.
── Ele vai ter que entender. Daryl não é burro, ele sabe muito bem que o irmão dele é imbecil. ── Digo, como se fosse algo simples.
── Merle é irmão dele. Vocês sabem que Daryl não vai aceitar isso tão bem. ── Disse o grisalho observando meu pai e T.
── Eu conto. ── T-Dog se pronunciou. ── Eu deixei a chave cair, a culpa é minha.
Papai fitou o homem, então rebateu: ── Eu algemei, então a culpa foi minha.
Glenn suspirou e falou: ── Pessoal, isso não é uma competição. Eu não queria ser preconceituoso, mas ia ser melhor se um cara branco assumisse.
── Eu sei o que fiz. Eu não vou esconder isso dele.
── Podemos mentir. ── Amy sugeriu.
── Ou contar a verdade. ── Andrea completou tendo o olhar da irmã. ── Merle tava fora de controle. Alguma coisa tinha que ser feita, ou morreríamos por conta dele. ── Fitou Lori. ── Seu marido fez o que era necessário. E se o Merle ficou pra trás, não é culpa de ninguém, só do Merle.
── E é isso que diremos ao Daryl? ── Dale olhou para todos nós.
── Sim. ── Dei de ombros. ── É isso ou mentir e falar que o irmão dele foi catar laranja no morro. De qualquer modo, ele vai surtar.
Dale negou com a cabeça discordando das minhas palavras. ── Eu não vejo uma discussão racional saindo disso, você vê? ── Andrea suspirou em desânimo e abaixou a cabeça. ── Estou falando sério… Teremos muito trabalho quando ele voltar da caça.
── Eu tava com medo, e aí eu corri. ── T-Dog começou a contar sua história. ── Não tenho vergonha disso.
── Todos correram de medo. O que quer dizer? ── Andrea questionou.
T-Dog olhou para a amiga. ── Eu parei o suficiente para acorrentar a porta. A escada é estreita. Talvez meia dúzia de zumbis consiga se espremer lá alguma hora. Mas não vão conseguir quebrar. Não aquela corrente. Não aquele cadeado. Ou seja… o Dixon tá vivo e ainda tá lá em cima, algemado naquele telhado. Isso é culpa nossa. ── O homem se levantou e foi até a sua barraca.
Depois da discussão, fomos todos deitar pois já era tarde e a maioria estava cansada. Antes de entrar na minha barraca, ouvi uma movimentação vinda de um arbusto. Coloquei a mão no coldre onde minha pistola costumava ficar e adentrei uma parte da mata sentindo um frio na espinha com a escuridão.
Sem muita visão acabei esbarrando em algo rígido, me afastei devagar e notei ser Daryl. O homem me olhou de imediato e eu ajeitei minha postura, colocando a arma de volta no coldre.
── Dixon… me desculpa. ── Disse com um pouco de timidez na voz, observando o mais velho.
── O que você tá fazendo aqui? ── Perguntou ele com sua voz grossa e rouca, enquanto me observava de volta.
Fiquei em silêncio por segundos, observando sua cintura cheia de esquilos mortos. ── Ouvi algo se movendo e vim ver. Sabe o que me impressiona? Você ainda estar caçando.
── Você quer passar fome? ── Dixon perguntou naturalmente.
── Não sei, você quer? ── Perguntei retoricamente.
Daryl bufou outra vez. ── Você devia tomar cuidado onde se mete, menina. ── A voz de Daryl tinha um pouco de exasperação enquanto mudava de assunto.
── Muito obrigada pela preocupação, Dixon, mas eu já sou bem grandinha e sei me virar.
── Independente. Sua mãe e o Shane não iriam gostar nada de saber que tá perambulando essas horas pela mata sozinha.
── A Lori não é minha mãe, ela é minha madrasta. ── Retruquei.
── E não dá quase no mesmo?
── Não. ── Dei as costas. ── Boa caça, caçador solitário.
….
No outro dia, eu acordei mais cedo e fiquei fitando por alguns segundos o teto da minha barraca. Quando me levantei, tirei a roupa que usava para dormir e vesti uma blusa de banda com um short jeans e um nos pés calcei meu tênis.
Eu peguei um pente e também passei no cabelo, fiquei tirando nós por quase cinco minutos. Com a falta de shampoo e condicionador meu cabelo tá ficando igual palha seca e eu odeio isso. Amarrei o cabelo em um rabo-de-cavalo e depois saí da minha barraca, já sentindo o sol quente queimar o topo da minha cabeça.
Esses dias de verão estão o cão. Antes de tudo eu era muito fã dessa estação, amava ir à praia com Carl e nossos primos, mas atualmente eu odeio. Não temos ventiladores aqui e só à noite vem uma brisa mais fresca. De dia parece que o Satanás abriu as portas do inferno.
Assim que andei em direção ao centro do acampamento, percebi que a grande maioria já estava de pé. Alguns comiam seu café da manhã, enquanto outros já estavam entretidos nos afazeres do acampamento.
Ao ouvir uma movimentação atrás de mim, me virei e vi meu pai andando até mim. Eu fiquei parada o olhando por alguns minutos, me dando conta que isso não era um sonho muito vivido. Eu ainda não conseguia acreditar que meu pai estava de volta.
── Bom dia, velhote. ── Chamei, me aproximando e o abraçando brevemente.
Ele deu uma baixa risada e retribuiu o enlace. ── Bom dia, Hannah banana.
Hannah banana... que saudade de ouvi-lo me chamando dessa maneira.
Nós dois caminhamos lado a lado até Glenn, que estava parado perto daquele carro que havia achado ontem. Quando olhei para o rosto do asiático notei o desdém e a sua frustração. Jim e Dale e mais alguns do acampamento tiravam as coisas do carro como pneus, fios, gasolina, etc…
── Olha só pra eles. Abutres. ── Rhee expressou sua indignação. ── É isso aí, tirem tudo. ── Dei uma risada baixa. ── E você ainda ri. ── Me olhou negando com a cabeça.
── É só um carro, seu bobo. ── Digo, vendo ele ainda negar com a cabeça mais uma vez.
── Não é só um carro. É um camaro! Eu sempre quis um.
Quando Dale passou por nós três, olhou para o coreano e respondeu: ── Os geradores precisam de todas as gasolinas que conseguiram. Os geradores não funcionam sem ele, sinto muito, Glenn.
Toquei no ombro do coreano. ── Meus pêsames pelo carro. ── Continuei achando graça na situação.
Rhee suspirou profundamente. ── Eu achei que ia poder curtir com ele mais uns dias.
── Talvez a gente consiga pegar um outro um dia desses. ── Papai respondeu, dando um leve tapinha amigável nas costas do mais novo.
Quando me afastei, ouvi um grito do meu irmão e das outras crianças do acampamento. Sem pensar duas vezes, saí correndo atrás do meu pai em direção a onde os menores estavam.
Carl, Sophia e os filhos dos Morales foram correndo até seus pais. Ao invés de parar ali, continuei seguindo meu pai. Na entrada da floresta, tivemos o vislumbre de um cervo morto sobre a terra e de um podre que se alimentava da carne do pobre animal.
Era uma cena nojenta e o cheiro então... esse acampamento cada dia se torna mais perigoso, sei que logo vamos ter que ir embora daqui. Atlanta é perto e lá da para ir pegar vários recursos, mas é perigoso. Poderíamos começar a plantar algo, sim? Mas nem temos certeza se esse solo é seguro ou bom para plantio.
Quando Shane mirou uma doze para o morto, eu tirei meu revólver do coldre e fiquei segurando só em caso de precaução. Aquele zumbi se levantou do chão e meu pai deu apenas um golpe na cabeça dele, sendo seguido por outros que fizeram isso até o zumbi cair imóvel. Por último, Dale se aproximou com um machado e cortou fora a cabeça do morto.
Enruguei o nariz enquanto via aquela cabeça rolando. Esse mundo, com certeza, não é para aqueles que tem o estômago fraco.
Antes de tudo isso, eu fazia faculdade de medicina. Eu estava no segundo ano, quase terceiro. Já vi muitas coisas nesses pequenos de faculdade, mas mesmo assim sinto enjoos algumas das vezes.
── É o primeiro que chegou aqui em cima. ── Dale exprimiu. ── Nunca vieram tão longe na montanha.
── Tão ficando sem comida na cidade, deve ser por isso. ── Jim supos.
Um som de algo pisando em folhas ecoou, o que me fez levantar a minha arma e destravar por instinto. Seria burrice atirar em apenas um zumbi? Sim. Mas, mesmo assim, continuei com aquele revólver apontado para frente.
Quando vi que era apenas Daryl, guardei minha arma de volta no coldre e troquei um olhar com meu pai. Quis falar com meus olhos que aquele era o famoso Daryl Dixon, mas não tenho certeza de que ele entendeu.
── Desgraçado! ── Daryl exclamou de impaciência enquanto vinha até nós. ── Esse veado era meu. Olha só, tá todo comido por essa coisa imunda e doente ── Começou a chutar o corpo do zumbi. ── Esse filho da mãe desgraçado!
── Calma, filho. Isso não vai ajudar. ── Dale tentou apaziguar a situação.
Dixon foi até o grisalho e respondeu com grosseria: ── O que você sabe disso, coroa? Por que não pega seu chapéu idiota e volta pra Casa da Praia? ── Exasperou, indo até o veado e tirando as suas flechas do corpo do animal. ── Andei quilômetros atrás desse veado. Ia levá-lo pro acampamento, fazer uma carne pra nós. E se a gente cortasse essa parte que foi comida? ── Ele demonstrou, colocando sua faca no local.
── Tá querendo que fiquemos infectados? ── Exprimi, tendo o olhar dele.
── Olha, eu não arriscaria. ── Shane disse após mim, fazendo Daryl intercalar o olhar até ele.
Daryl expirou mais uma vez, dessa vez com desânimo. ── É uma pena mesmo! Mas eu consegui uns esquilos, uma dúzia. Vai ter que dar. ── Quando o zumbi mexeu a cabeça, o Dixon mirou a besta e perfurou. ── Qual é, pessoal. Tem que ser no cérebro. Não sabem disso? ── Puxou sua flecha de volta.
Fiquei observando silenciosamente. Eu admirava o quão Daryl era ágil com sua besta, confesso que era até atraente.
── Esse é o Daryl. Admirável, né? ── Ironizei.
O olhar do meu pai seguiu o caçador até ele sair de nossas vistas. ── Já vi que vou ter trabalho. ── Expirou, descansando as mãos na cintura.
── Faça seu trabalho, xerife. ── Brinquei, seguindo os outros de volta até o centro do acampamento.
Todos nós nos entreolhamos enquanto Daryl gritava chamando pelo seu irmão. Aguardávamos que alguém contasse a grande notícia para ele, mas acho que ninguém tinha essa coragem. Todos nós sabíamos que a reação dele não seria das melhores, muito menos compreensível.
── Merle! Merle! Aparece logo aí. Consegui uns esquilos. Vamos assar.
── Daryl, espera um pouquinho. Preciso falar com você. ── Shane finalmente se pronunciou e deu um passo à frente.
Dixon fitou o ex-policial com confusão. ── Sobre o quê?
── Sobre o seu irmão. Houve um… problema lá em Atlanta. ── Shane começou.
Eu continuei estática no meu lugar, observando as interações e aguardando para ver no que tudo isso viraria. Provavelmente coisa boa não seria.
Daryl passou seu olhar por cada um que estava presente, até fazer um breve contato visual comigo, levando seu olhar até Shane novamente.
── Ele tá morto? ── Perguntou, sem muita cerimônia.
── Não temos certeza. ── Shane respondeu simples.
Daryl se aproximou do Walsh e insistiu mais uma vez na pergunta: ── Ele tá morto ou não tá?
Meu pai deu alguns passos à frente e foi até o homem, começando a falar: ── Não dá pra responder isso, então eu vou ser direto.
Daryl observou Rick com confusão no olhar. ── Quem é você?
── Rick Grimes.
── Rick Grimes. ── Daryl falou o nome do meu pai com deboche. ── Tem alguma coisa pra me dizer?
Sem tirar os olhos de Daryl, meu pai começou a sua explicação: ── Seu irmão virou um perigo para todo mundo… tive que algemá-lo em uma barra de metal lá no telhado. Ele ainda tá lá.
── ‘Peraí, deixa eu ver se entendi. Tá dizendo que algemou meu irmão no telhado e abandonou ele? ── Daryl aumentou seu tom de voz, exasperando.
── É. ── Papai foi direto.
O caçador jogar aqueles esquilos para longe e andou em passos pesados até o meu pai, pronto para batê-lo, o que obrigou Shane a se intrometer e imobilizar Daryl no chão.
Eu ainda estava parada no mesmo lugar. Eu imaginava que iria dar briga, então nem me assustei.
Quando olhei para o lado, vi T-Dog vindo até nós, enquanto soltava alguns troncos no chão.
Mas de repente, meu coração acelerou assim que eu vi o Dixon puxando sua faca da cintura e tentando atacar meu pai novamente. Outra vez, Shane o imobilizou, dessa vez em um mata-leão. Rick se aproximou, se agachou e desarmou o homem.
── É melhor me soltar! ── Daryl exclamou,
── Não, é melhor não.
── Segurar assim é ilegal. ── Ele rebateu, com um tom de voz sufocado.
── Faz uma reclamação então. ── Shane respondeu, ainda segurando o Dixon.
── Eu queria ter uma conversa tranquila sobre esse assunto com você. Acha que a gente pode fazer isso? ── Disse meu pai, mas ao ver o silêncio dele, repetiu: ── Acha que a gente pode fazer isso?
── Certo. ── O caçador concordou, então Shane o soltou, fazendo-o cair no chão.
── Cara, o que eu fiz não foi à toa. Seu irmão não tava agindo bem com os outros. ── Rick começou a explicar.
── A culpa não é do Rick. ── T-Dog se intrometeu, nos fazendo olhá-lo. ── Eu tava com a chave. Eu deixei cair.
── Não dava pra pegar? ── Dixon questionou.
── Ela caiu num ralo.
Daryl abaixou a cabeça e aos poucos se levantou. ── Se a sua intenção era me fazer sentir melhor, não adiantou.
── Talvez isso faça. Eu acorrentei a porta do telhado pros zumbis não chegarem nele. Com um cadeado. ── T-Dog continuou.
── Deve ajudar em alguma coisa. ── Meu pai falou positivamente tendo o olhar do Dixon.
── Talvez seu irmão esteja bem. ── Exprimi, me aproximando alguns centímetros atrás do meu pai, tendo o olhar dele também.
── O que você sabe sobre isso, pirralha? ── Disse rispidamente para mim, me fazendo revirar os olhos. ── Pro inferno, todos vocês! Onde é que ele tá? Eu vou buscar meu irmão! ── Vi algumas lágrimas molhando os olhos do homem, mas ele as limpou com pressa.
── Ele vai te mostrar. ── Lori se intrometeu, então a olhei frustrada. ── Não é?
── Não! Não mesmo! ── Tentei interferir, indo contra a ideia de minha madrasta.
O ex-xerife olhou para sua esposa e acenou. ── É. Eu vou voltar.
── Você não vai a lugar nenhum! ── Protestei em tom autoritário, tendo o olhar do meu pai.
Meu pai olhou para mim. ── Ei, eu vou ficar bem. ── Tentou me tranquilizar, enquanto me puxava para um abraço.
Aquilo não adiantou de muita coisa. O abraço foi breve porque eu mesma me soltei, olhei para seu rosto por alguns segundos e neguei com a cabeça, implorando com o meu olhar para que ele não fosse.
Para que ele não se afastasse de mim e de Carl mais uma vez.
Como Lori podia dizer aquilo? Meu pai tinha acabado de voltar, quase morreu naquela cidade e agora ela quer que ele vá lá novamente salvar Merle.
Não era justo. Meu pai não podia ir embora de novo.
NOTAS DA AUTORA:
Se minha escrita não estiver boa podem avisar para eu melhorar. ♡♡
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