
━ ❛ De volta a hogwarts ❜
CAPÍTULO TRÊS
1976, mansão Malfoy
O tão aguardado primeiro de setembro finalmente havia chegado, trazendo consigo não apenas a promessa de um novo ano em Hogwarts, mas também a esperança de uma libertação silenciosa e ardente. Para Maelys, este dia representava muito mais do que o simples retorno ao castelo; era o prenúncio de um período em que as amarras invisíveis, que a prendiam às expectativas sufocantes de sua família, afrouxariam, permitindo-lhe respirar livremente, ainda que por alguns meses.
No seio de Hogwarts, Maelys encontrava refúgio em meio às antigas pedras do castelo, onde o tempo parecia fluir de maneira diferente, menos opressiva. Lá, longe dos olhares atentos de seu pai e das ordens veladas de seu irmão, ela permitia-se sorrir com o abandono de quem, finalmente, podia ser quem verdadeiramente era. Seu riso maléfico, que em casa era contido e discreto, reverberava pelos corredores como um hino de rebeldia, uma declaração de sua emancipação temporária.
O poder que carregava no sobrenome era uma arma, uma lâmina afiada que ela manejava com a destreza de quem cresceu cercada por expectativas e jogos de poder. "Faça isso novamente e seu pai perderá o emprego no Ministério!" A ameaça vinha envolta em um sorriso glacial, um brilho nos olhos que poucos ousariam desafiar. Maelys conhecia bem os limites de sua influência, sabia que seu pai, apesar de todo o prestígio, não poderia dispensar ninguém por causa de suas travessuras. Mas, para seus colegas, a sombra do nome Malfoy era mais do que suficiente para incutir medo e respeito.
Era uma dança perigosa e envolvente, uma que Maelys executava com uma combinação de graça e audácia. Em Hogwarts, ela saboreava o doce néctar da liberdade e do poder, sabendo que, ao retornar à mansão Malfoy, teria que reassumir o papel da filha impecável e obediente. Mas, enquanto os muros do castelo a cercassem, ela se entregava à sua verdadeira essência — astuta, impertinente, livre.
No entanto, naquele primeiro de setembro, algo perturbava Maelys. A casa dos Malfoy estava mergulhada em um silêncio profundo durante o café da manhã. Cada membro da família comia em silêncio, como era costume. Os olhos de Lucius queimavam sobre ela, sua preocupação enraizada no incidente recente durante o baile dos Black. Sempre protetor, seu irmão agora ultrapassava os limites da cautela, sufocando-a com suas suspeitas. Maelys sabia que não deveria ter seguido Sirius Black naquela noite, mas as reações exageradas de Lucius a irritavam profundamente.
Os pensamentos de Maelys, inevitavelmente, vagavam até Sirius. Um dia após o baile, ele havia fugido de casa, uma ação que agitara os ânimos. Narcisa, com sua habitual frieza, comentara sobre a briga acalorada entre Sirius e Walburga. Maelys trocara algumas cartas com Régulos, mas ele nunca mencionava o irmão mais velho, mas o silêncio de Régulos apenas reforçava a tensão que permeava a família Black.
— Está ansiosa para começar seu sexto ano em Hogwarts, querida? — A voz de Ellen Malfoy, sua mãe, cortou o silêncio, suave, mas cheia de expectativa.
— Claro, mãe. — Maelys respondeu com um sorriso calculado, um brilho de orgulho nos olhos que apenas ela compreendia completamente.
— Está na hora de irmos. — Abraxas Malfoy declarou, olhando impassível para o relógio que tirara do bolso. Sua voz, como sempre, soava como um decreto.
A ordem foi seguida sem hesitação. Maelys, em um gesto de reflexo, limpou os lábios com um lenço, levantando-se junto com os demais à mesa. A família seguiu em direção à sala de estar, onde as malas da caçula aguardavam, prontas para o novo ano. Maelys entrelaçou seu braço com o da mãe, Ellen, que sorriu com o carinho contido de sempre, enquanto apertava a mão do marido. Lucius, sem dizer palavra, colocou a mão sobre o ombro de Maelys, um gesto que ela recebeu com um olhar de relance.
Assim, a família Malfoy, envolta em seu silêncio habitual, aparataram para a estação de King's Cross, onde o trem para Hogwarts esperava.
1976, king's cross
Os sons característicos da plataforma nove e três quartos formavam uma sinfonia única que anunciava o início de mais um ano em Hogwarts. Corujas piavam em suas gaiolas, gatos miavam inquietos, sapos coaxavam em uníssono, e as risadas das crianças ecoavam por toda parte. Maelys, sentindo a familiar excitação do ambiente, afastou-se um pouco das mãos protetoras de seu irmão e mãe, deixando-se envolver pelo cenário ao seu redor. O cheiro de magia misturava-se ao de ferrugem e vapor, criando uma atmosfera que a fazia se sentir viva, verdadeiramente em casa.
Enquanto seus olhos azuis percorriam a estação, Maelys observava as diferentes cenas que se desenrolavam. Pandora e Evan Rosier conversavam com seus pais, e Maelys trocou um sorriso cúmplice com a amiga. Não muito longe, Lily Evans, a grifinória sabe-tudo, ajudava um novo aluno com suas malas, sempre prestativa, trouxa. Mais adiante, a família Black se destacava, com Régulos aparentemente afundado em tristeza enquanto Walburga e Orion falavam algo que ele claramente não desejava ouvir. Maelys fez uma nota mental para falar com ele depois, preocupada com o que poderia estar acontecendo.
Então, seus olhos encontraram o grupo dos marotos. A família Potter estava reunida, acompanhada por Sirius Black, Remus Lupin e outro garoto cujo nome sempre escapava a Maelys. Quando os olhos de Sirius se fixaram nos dela, algo se agitou dentro de Maelys. Ela franziu o cenho, tentando esconder qualquer vestígio de incerteza, mas o sorriso maroto que ele exibiu fez seu coração acelerar, ainda que ela não quisesse admitir. O beijo que haviam trocado veio à tona em sua mente, algo que ela havia decidido classificar como uma "experiência boba", mesmo que tenha sido o seu primeiro. Para Maelys, Sirius era apenas um idiota, alguém com quem jamais se envolveria seriamente. Mas a verdade era que, por uma semana inteira, ela havia se atormentado por ter caído no charme dele. Eventualmente, porém, ela afastou esses pensamentos, convencendo-se de que não tinha importância.
Afinal, quem acreditaria que Maelys Malfoy, a princesa da sonserina, se submeteria a beijar um grifano, e o maior encrenqueiro de Hogwarts, Sirius Black? A única complicação era que, por mais que ela tentasse esquecer, Sirius sabia a verdade. E isso a incomodava mais do que gostaria de admitir.
O apito do trem ecoava pela plataforma, anunciando que o momento da partida havia chegado. Maelys, com o olhar reluzente e o coração batendo num ritmo familiar, voltou-se para sua família, sentindo o peso das expectativas e do afeto que ali residia.
— Acho que já está na minha hora de entrar no trem. — disse ela, os olhos azuis brilhando enquanto procurava pela figura de sua amiga Freya entre os estudantes que se apinhavam ao redor. — Freya deve estar me esperando.
Ellen Malfoy, sempre afetuosa, envolveu a filha em um abraço caloroso, como se quisesse guardá-la segura naquele instante. Havia uma ternura inegável em seus gestos, um amor que transcendia a rigidez aristocrática da família.
— Sim, sim. Venha nos dar um abraço, querida. — disse a mãe, sua voz suave, mas carregada de preocupação. — Quero suas notas perfeitas, mas também não se esqueça de se divertir.
— Minhas notas serão impecáveis, mãe, e não se preocupe, eu irei me divertir. — Maelys sorriu com aquela confiança que só os jovens Malfoy podiam ostentar. O sorriso convencido que tanto fascinava e intimidava aqueles ao seu redor.
O olhar de Abraxas Malfoy, sempre severo e impenetrável, pousou sobre a filha mais nova. Havia um código rígido e inquebrável em sua voz, algo que todos na família conheciam bem.
— Não se aproxime de sangues ruins e não faça amizade com traidores de sangue. — As palavras dele eram uma ordem, não um conselho.
— Sabe que eu nunca faria isso, pai. — Maelys, com o sorriso habitual, se aproximou para abraçá-lo e, ao beijar sua bochecha, sentiu o orgulho contido no peito do pai.
Abraxas, embora fosse um homem de coração endurecido pela tradição e pelo poder, reservava um canto de calor para sua família. O amor que nutria por sua esposa e filhos era profundo, mas sempre moldado pelas crenças e valores que carregava como um escudo. Ao ouvir as palavras de Maelys, uma onda de orgulho silencioso o percorreu, reafirmando a certeza de que sua filha manteria o legado dos Malfoy intacto.
Quando se virou para Lucius, Maelys percebeu a familiaridade daquele olhar atento, protetor, que só um irmão poderia ter. Ele a observava com a calma de quem conhecia os caminhos tortuosos que ela poderia trilhar. Ela tentou conter o sorriso que ameaçava escapar, mas Lucius, percebendo, sorriu também, puxando-a para um abraço forte. Naquele breve contato, Maelys sentiu o peso das palavras que ele estava prestes a dizer.
— Aproveite seu penúltimo ano em Hogwarts, irmã. — Lucius falou, sem soltá-la completamente. Mas a advertência que ele precisava fazer estava logo em seguida, como uma sombra inevitável. — Sei que gosta de desafios, mas não se deixe levar por banalidades. Não manche o nome da família, Maelys.
A ameaça, velada em um conselho, era típica de Lucius. Maelys sabia disso, e seu suspiro indicou a aceitação de algo que já era esperado. Ela não se permitiria arruinar, não por um erro, não por uma brincadeira infantil que não deveria ter consequência alguma. Ela não seria a responsável por trazer desonra à família.
Com um último aceno e um olhar que prometia confiança, Maelys se afastou, caminhando com a cabeça erguida em direção ao trem. O apito soava mais uma vez, como um sinal para que todos embarcassem.
Quando Maelys Malfoy finalmente adentrou o Expresso de Hogwarts, o murmúrio de vozes e risadas ecoava pelos corredores do trem, misturando-se ao ritmo constante dos trilhos. Ela carregava consigo uma missão clara: encontrar seus amigos para uma breve conversa antes de se dirigir ao vagão dos monitores, onde suas responsabilidades aguardavam. Os olhos azuis vasculhavam cada cabine, em busca de rostos familiares, mas a sorte parecia estar contra ela. Após longos minutos de busca infrutífera, decidiu mudar de direção, esperando encontrá-los em algum outro ponto do trem. Foi quando, ao dar meia volta, se deparou com o grupo de garotos que eram a personificação da confusão e da travessura: os Marotos.
Um suspiro de impaciência escapou-lhe dos lábios enquanto ergueu a cabeça, decidida a passar por eles sem sequer dá-los um olhar. Havia pouca coisa que a incomodasse mais do que aqueles quatro, sempre prontos para uma provocação. Especialmente aquele com olhos acinzentados, que brilhavam com um travesso desafio, como se estivessem constantemente à espera de uma boa brincadeira.
— Olha só quem achamos aqui! — exclamou James Potter, com um sorriso de malícia, bloqueando sua passagem. — A princesinha da Sonserina.
Maelys parou diante dele, sua expressão fria e calculada, como uma cobra que medisse a distância até sua presa. Ela não estava com humor para jogos, mas se necessário, jogaria da melhor forma possível.
— Soubemos de umas coisas que aprontou. — Peter Pettigrew falou, impedindo a passagem pelo outro lado. Maelys o encarou de cima a baixo com um olhar debochado. Peter, o mais fraco da trupe de trapalhões, só tinha coragem quando estava amparado pelos outros. Ela tinha certeza de que, se o encarasse por tempo suficiente, ele se tremeria todo. A ideia a fez rir internamente.
— Você não consegue manter a boca fechada, não é, Black? — disse, voltando seus olhos para Sirius, oscilando entre a irritação e a diversão.
— Sabe que não consigo, cobrinha. — Sirius inclinou a cabeça, um sorriso provocativo dançando em seus lábios. O apelido, carregado de implicância e familiaridade, soou como um desafio. Maelys sustentou o olhar dele, sem se deixar abater. Ela tinha jogado esse jogo com ele inúmeras vezes antes, e conhecia bem as regras.
— Pessoal, vamos deixar a menina passar, por favor! — Remus Lupin, o mais sensato do grupo, intercedeu. Apesar de sua amizade com aqueles idiotas, ele tinha o mínimo de consciência para evitar confusões desnecessárias.
— É pessoal, vamos deixar a menina passar. — Maelys imitou o tom conciliador de Remus, juntando as mãos em falso pedido. Ela adorava provocar, especialmente quando sabia que isso os deixava desconcertados. James Potter, sempre rápido com uma resposta, inclinou a cabeça, uma expressão de desprezo suave nos olhos.
— Nham, você não acha que ela está muito engraçadinha para o seu gosto, Moony? — James disse, chamando Remus por aquele apelido peculiar que Maelys não conseguia entender. Ela franziu o cenho, mas sua mente rapidamente formulou uma resposta. Ela sabia onde machucar, onde encontrar o ponto fraco de cada um deles.
— Sabe, Potter, você combina muito com rosa. — falou, um sorriso travesso curvando seus lábios. — Deveria acrescentar essa cor à sua paleta, talvez só assim consiga a atenção da Evans.
A resposta arrancou uma risada de Sirius, uma gargalhada que reverberou pelo corredor, enquanto James o olhava com raiva. O rosto do Maroto se contorceu de irritação, exatamente como Maelys havia esperado. Ela amava causar intrigas, especialmente quando podia fazer isso com tão pouco esforço.
Com um último olhar de superioridade, ela passou por eles, mantendo a cabeça erguida e o sorriso vitorioso. Mesmo cercada por adversários, Maelys Malfoy sempre sabia como sair por cima.
A platinada não precisou de muitos minutos para finalmente encontrar os amigos em uma das cabines, seu sorriso convencido ainda cintilando no rosto, como uma coroa invisível de triunfo. Freya Astley e Régulos Black ergueram as sobrancelhas, cientes do ar de superioridade que a Malfoy carregava consigo, enquanto Pandora Rosier apenas abriu espaço ao seu lado, sorrindo alegremente para a amiga.
— Finalmente achei vocês! — Maelys exclamou, sentando-se ao lado de Pandora. — Rodei esse trem todo atrás de vocês.
— Rodou errado. — Freya respondeu com um sorriso provocativo, o que fez Maelys mostrar a língua em retaliação, arrancando risadas dos outros dois.
— Onde você estava que chegou sorrindo? — Régulos perguntou, os olhos curiosos estudando a amiga.
O sorriso de Maelys vacilou por um instante quando as memórias das férias na casa dos Black invadiram sua mente. Ela observou Régulos com mais atenção, percebendo as olheiras profundas, o corpo ligeiramente mais magro, o ar exausto que ele carregava. Uma onda de compaixão a envolveu; as responsabilidades que antes recaíam sobre Sirius agora pesavam nos ombros de Régulos, e viver sob o controle rígido de Walburga e Orion não era uma tarefa fácil. Maelys sabia que, apesar das diferenças, Régulos não odiava o irmão. A ausência de Sirius era uma ferida aberta, dolorosa, e agora ele suportava sozinho o fardo de ser o herdeiro da família Black.
— Eu... — Maelys hesitou, seus olhos se cruzando com os de Régulos, tentando ler o que estava além da superfície. — Eu encontrei os trapalhões e os lembrei da pegadinha que fiz com eles no último dia de aula. — Régulos não parecia surpreso, mas Freya ergueu uma sobrancelha, curiosa.
— Eles descobriram que foi você? — Pandora perguntou, e Maelys acenou afirmativamente, mantendo a expressão despreocupada.
— Como? — A Rosier insistiu, claramente intrigada.
— Sei lá, algum grifinório deve ter falado. Você sabe como essa gente não consegue manter o bico fechado. — Maelys deu de ombros, omitindo certos detalhes, como Sirius beijando ela após chamá-la de cobra asquerosa.
— Enfim, vocês estão sabendo da festa que vai ter hoje na Sala Precisa? — A conversa foi interrompida quando Freya, mudou de assunto.
— Ah, sim, Evan comentou. — Pandora disse, acenando com a cabeça.
— Não. — Régulos respondeu secamente, o que fez Maelys se arrepender mentalmente de ter tocado no assunto. Ela sabia que Régulos não estava no clima para festas ou frivolidades.
— Quem vai dar essa festa? — Maelys perguntou, tentando disfarçar o turbilhão de pensamentos que passava por sua mente. Ela manteve o olhar fixo em Freya, aguardando a resposta. No entanto, antes que a amiga pudesse abrir a boca, uma voz inesperada preencheu o ar atrás delas.
— Eu. — Maelys virou-se rapidamente, os cabelos brancos esvoaçando com o movimento, e seus olhos se depararam com Nikolai Vyrwel, encostado no batente da porta da cabine com uma casualidade que parecia estudada. Havia uma certa aura indomável ao seu redor, como se ele carregasse o peso da nobreza sonserina com uma leveza que poucos conseguiam.
Nikolai, de uma linhagem aristocrática, estava prestes a iniciar seu último ano em Hogwarts. Apesar de suas poucas trocas de palavras ao longo dos anos, ele sempre fora uma figura difícil de ignorar. Alto, de ombros largos, com aquele olhar cortante que parecia desvendar segredos antes mesmo de serem contados, ele trazia em sua presença uma mistura de domínio e mistério. Jogador apanhador no time de quadribol da Sonserina, sua habilidade no campo era quase lendária, mas o que mais chamava atenção era a segurança absoluta que seus olhos transmitiam, como se o mundo já estivesse desenhado para ele vencer.
— Pensei que já estivesse pronta, Malfoy. Temos que ir para o vagão dos monitores. — Ele disse com um leve sorriso no canto dos lábios, cruzando os braços, enquanto os olhos de Maelys se voltavam para seus amigos, buscando algum vestígio de compreensão naquele momento inusitado.
Por um instante, sua mente ficou em suspensão, um turbilhão de perguntas se formando silenciosamente. O que diabos estava acontecendo? Por que Nikolai Vyrwel estava à sua espera, como se houvesse uma aliança secreta entre eles que ela desconhecia? Maelys, contudo, não era de ceder ao pânico ou à incerteza. Com a serenidade que sua linhagem exigia, ela endireitou a postura, suavizou o semblante e assentiu. A verdadeira Maelys Malfoy jamais permitiria que sua confusão transparecesse, especialmente em situações tão inesperadas.
— Claro, Vyrwel. Vamos. — respondeu com a voz firme, ainda que carregada de um mistério controlado, antes de lançar um último olhar calculado para os amigos e seguir em direção ao enigma que ele representava.
Ao sair do vagão, Maelys caminhava com a graça impecável que a fazia ser notada em qualquer sala, como uma rainha em seu castelo. O silêncio que se instaurou entre os dois parecia uma neblina sutil, carregada de significados não ditos. Cada passo ecoava no corredor estreito, enquanto suas mentes pareciam envoltas em pensamentos privados. Seus olhos, platinados e cheios de uma intensidade desafiadora, encaravam Nikolai de soslaio, como se o próprio ato de ignorar fosse parte de um jogo secreto que ela já sabia como vencer.
Finalmente, foi Nikolai quem cedeu ao peso da quietude, sua voz soando com um toque de diversão velada.
— Eu pretendia convidá-la para a festa, mas sua amiga foi mais rápida do que eu. — Disse ele, com um riso seco que pareceu amenizar a distância entre eles, mesmo que por um instante.
Maelys permitiu-se um leve sorriso, um sorriso que não revelava tudo, mas sugeria mais do que o necessário. Ela gostava de jogar, e sabia que Nikolai não era do tipo que se intimidaria facilmente. Havia algo de intrigante na forma como ele a desafiava, como se ambos soubessem que estavam jogando o mesmo jogo, mas com peças diferentes.
— Ah, então você está fazendo uma festa apenas para me convidar? — provocou, sua voz carregada de ironia e seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e perigo.
— Me disseram que você era convencida, mas não achei que fosse tanto. — Nikolai não perdeu o ritmo, seu sorriso ladino se espalhando pelo rosto, como se aceitasse o desafio sem hesitar.
Maelys ergueu uma sobrancelha, um gesto elegante e ao mesmo tempo desafiador.
— Eu posso ser tudo o que dizem, e talvez um pouco mais. — replicou com uma piscadela, seu tom provocativo o suficiente para manter Nikolai à beira do jogo, mas jamais deixando que ele assumisse o controle.
— E então, vai à minha festa, ou terei gastado meu dinheiro à toa? — Nikolai parou de andar, os olhos a observando com uma mistura de curiosidade e determinação, enquanto o sorriso em seu rosto não se desvanecia.
Mas Maelys continuou a andar, o olhar desviado, como se o destino da conversa fosse trivial demais para prendê-la.
— Depende do meu humor. — respondeu com um toque de cinismo, sem sequer lhe oferecer um segundo olhar.
Nikolai ficou parado, observando-a se afastar com a mesma sensação de quem observa uma tempestade prestes a se formar. Ela era um enigma, e ele estava disposto a desvendá-la. Maelys, por sua vez, sentia o coração bater um pouco mais rápido. Hogwarts parecia, de repente, um campo minado de jogos e mistérios, e ela estava mais do que disposta a jogá-los.
MALFEITO, FEITO!
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