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━ ❛ Bolo e risadas ❜

CAPÍTULO SEIS

1976, hogwarts

Maelys sentia o coração retumbar no peito, como se fosse explodir a qualquer instante. A cada passo que dava em direção à biblioteca, a tensão parecia apertar ainda mais ao redor dela, como um feitiço invisível. Estava a caminho de encontrar seu pior pesadelo: Sirius Black. Suas mãos apertavam com força a alça da mochila, e ela mal entendia o turbilhão que se passava em seu interior. Por quê? Por que aquele grifinório insuportável a deixava tão nervosa? Seu corpo a traía com pequenos gestos inquietos, denunciando a tempestade que ele fazia surgir nela. Ela odiava aquilo — odiava como Sirius a fazia sentir.

Pior ainda era saber que teria de suportar sua presença por um mês inteiro, até a entrega da poção. Talvez mais, já que havia feito a promessa absurda de ajudá-lo a se entender com Régulos. O pensamento do irmão mais novo de Sirius a fez desviar a atenção por um momento. Durante o almoço, Régulos havia pedido para conversar com ela à noite; algo o incomodava profundamente, e Maelys sabia que precisaria estar lá para ele.

Ao empurrar a porta da biblioteca, a sonserina entrou com o rosto fechado, ignorando os olhares dos poucos alunos e o olhar vigilante de Madame Pince. Caminhou em direção ao fundo da sala, onde a luz era mais fraca e as estantes abafavam os murmúrios. Seus passos eram deliberadamente calmos, mas sua respiração traía o nervosismo. Quando estava prestes a virar em um corredor para alcançar a mesa escolhida, sentiu duas mãos agarrando seus ombros. 

— BUUU!

O susto percorreu seu corpo como um raio. A respiração falhou, a visão pareceu embaçar, e suas pernas vacilaram por um instante. Mas a reação veio rápida, quase instintiva: Maelys arrancou a varinha do coque que prendia seus cabelos, empurrou o meliante contra a estante de livros e o prendeu com o braço firme contra o pescoço. A ponta da varinha pressionava a bochecha do intruso com ameaça palpável. 

Respirando fundo, irritada, ela finalmente reconheceu o rosto à sua frente. 

— Porra, Black! — sibilou Maelys, afastando a varinha com um movimento brusco. 

Sirius, com seu sorriso infame, inclinou a cabeça levemente para o lado, os olhos brilhando com diversão. 

— Está me chamando para outro beijo, cobrinha? — provocou, sua voz carregada daquele tom insolente que a fazia querer amaldiçoá-lo. Como uma maldição imperdoável, as palavras dele trouxeram à mente o beijo que haviam compartilhado, o mesmo momento em que ela havia dito exatamente aquela frase antes de ceder. — Eu não costumo beijar a mesma pessoa duas vezes, mas por você cobrinha posso abrir uma exceção.

O sangue subiu ao rosto de Maelys, mas não de timidez ou confusão — de pura raiva. Sem hesitar, ela apontou novamente a varinha para o rosto dele, o olhar fervendo como gelo em chamas. 

— Cale a boca antes que eu te transforme em uma cobra de verdade, Black.— rosnou, pressionando o antebraço contra o pescoço dele com mais força, como se pudesse sufocar não só suas palavras, mas também o sorriso arrogante que insistia em desafiar o controle dela.

Sirius não desviou o olhar, o sorriso permanecendo como se estivesse imune às ameaças dela. No fundo, era isso que mais a irritava: ele não a temia. Pior, parecia gostar do perigo, como se cada confronto entre eles fosse uma dança que ele estava determinado a vencer.

Por fim, Maelys soltou o braço, empurrando-o de leve enquanto se afastava para a mesa mais próxima.

— Sente-se logo. Temos trabalho a fazer — disse, tentando soar indiferente, embora o coração ainda batesse descontrolado.

Mas Sirius não se mexeu de imediato. Ele ficou ali, encostado na estante, observando-a com um brilho inconfundível nos olhos. Maelys deslizou suavemente para o assento, sua postura impecável como sempre, mas o leve franzir de suas sobrancelhas denunciava uma ponta de irritação. Com gestos meticulosos, começou a retirar os materiais de estudo de sua mochila, organizando-os na mesa com um cuidado que parecia quase deliberado. No entanto, a sensação do olhar constante de Sirius sobre ela logo quebrou sua concentração.

Erguendo os olhos, encontrou o rosto dele, que exibia aquela expressão desafiadora e casual que tanto a incomodava.

— Não vou fazer esse trabalho sozinha, Black. — declarou com firmeza, o tom cortante como a lâmina de um punhal.

Sirius sorriu de canto, aquele sorriso que parecia sempre estar à beira de uma provocação. Sem perder tempo, ele se jogou de forma desleixada na cadeira ao lado, deixando a mochila sob a mesa, o seu corpo estava relaxado como se estivesse no Salão Comunal dos grifinórios, não numa biblioteca silenciosa.

— Por que mandou a Rosier fêmea falar comigo sobre o trabalho? — perguntou, inclinando a cabeça com uma falsa curiosidade enquanto cruzava os braços.

Maelys suspirou, um suspiro pesado, mais de aborrecimento do que de cansaço. Fazia três dias desde que o professor Slughorn havia atribuído o trabalho, e ela sabia que não poderia continuar adiando. Contudo, havia preferido evitar Sirius, ocupando-se com o que realmente importava — ou pelo menos era o que ela dizia a si mesma. Naquele caso específico, sua "ocupação" incluíra passar horas escondida na cozinha, degustando doces preparados pelos elfos domésticos.

— Eu estava ocupada naquele momento. — disse, sua voz carregada de uma calma forçada.

— A Rosier me disse que você estava na cozinha... — Sirius arqueou uma sobrancelha, o brilho travesso em seus olhos ficando mais intenso. — Comendo doces.

Merda, Pandora! pensou Maelys, cerrando os dentes por um breve instante.

— Eu estava ocupada, — repetiu, o tom mais defensivo, as palavras marcadas por uma leve rigidez.

O sorriso de Sirius se alargou, um misto de provocação e divertimento estampando seu rosto. Ele se inclinou um pouco mais para ela, como se quisesse compartilhar um segredo.

— Então, devo acreditar que você não está mais com fome, certo? — Sirius provocou, abrindo a mochila com a familiar displicência que parecia ser sua marca registrada. De lá, retirou dois pequenos saquinhos de comida, o olhar transbordando de falsa inocência. 

Maelys franziu a testa, desconfiada. Estava certa de que Pandora havia dito algo a ele — provavelmente um de seus segredos mais banais e, ao mesmo tempo, mais íntimos: sua paixão por comida, especialmente bolos. Era um fato conhecido entre seus amigos, que adoravam zombar de sua devoção inabalável à confeitaria. Bolos eram sua perdição, uma alegria simples que não discriminava recheios ou coberturas. Quando criança, ela sonhara em ser confeiteira, imaginando-se criando obras-primas açucaradas. Mas esse sonho foi cruelmente esmagado por seu pai, que transformara a inocente aspiração em uma lição amarga sobre responsabilidades e expectativas familiares. 

— Deve, porque não estou com fome — respondeu Maelys, mordendo o canto interno da bochecha em um gesto que traía seu nervosismo. 

— Poxa, cobrinha, agora terei que comer dois pedaços de bolo sozinho — disse Sirius, adotando uma expressão de falsa tristeza. Contudo, o brilho travesso em seus olhos traía a alegria maliciosa que sentia ao provocá-la. 

Maelys suspirou, irritada. Pegou sua varinha e, com movimentos rápidos e precisos, prendeu os cabelos em um coque frouxo no topo da cabeça. Enquanto ela se ocupava, Sirius abriu um dos sacos e tirou um pedaço de bolo, começando a comê-lo com evidente deleite. 

— Devemos começar o relatório explicando a função da Poção Polissuco e seus ingredientes — declarou Maelys com a voz firme, autoritária. Estava decidida a conduzir o trabalho à sua maneira, sem espaço para distrações. 

— Ah, vá lá, você sabe que não precisa de mim para isso. Sabe exatamente para que serve a poção — Sirius respondeu, a boca cheia, o que fez Maelys arquear as sobrancelhas com uma expressão de absoluto nojo. Ele continuou, despreocupado, como se não notasse ou não se importasse com o desagrado da sonserina. — Está tudo aí, na sua cabeça brilhante — disse, antes de estender a mão e dar um leve peteleco na testa de Maelys. 

Ela o encarou com olhos estreitos, a raiva borbulhando silenciosamente em seu interior.

Ah, como ele sabia se fazer insuportável.

Mas ele estava certo. Maelys sabia tudo sobre a Poção Polissuco, cada ingrediente, cada nuance do preparo, cada propriedade mágica que a tornava tão única. Determinada a não dar espaço para distrações, mergulhou no trabalho, a pena deslizando com precisão pelo pergaminho enquanto suas palavras cuidadosamente escolhidas tomavam forma. A sala parecia se encher do som sutil desse movimento, uma melodia quase hipnótica que só era interrompida pelo som ritmado de Sirius mastigando seu bolo.

Por vezes, seus olhos traidores desviavam para o segundo saquinho de comida que Sirius trouxera. Era um movimento rápido, quase imperceptível, mas não o suficiente para escapar da atenção do grifinório. Assim que se permitia espiar o pequeno pacote, a sonserina rapidamente voltava a concentrar-se em suas anotações, mordendo o canto interno da bochecha em uma tentativa de ignorar a fome e, mais importante, a ideia de ceder a ele.

Ao lado dela, Sirius a observava com um interesse que ele mal se dava ao trabalho de disfarçar. Seus olhos percorriam Maelys como se quisesse capturar cada pequeno gesto, cada expressão fugaz. Ele notava como ela inclinava a cabeça levemente ao escrever, como o coque frouxo deixava algumas mechas caírem sobre sua nuca. Percebia o modo como sua respiração se acelerava ligeiramente sempre que seu olhar vacilava em direção ao saco de comida — um detalhe que ele achava deliciosamente humano.

Havia algo de fascinante em Maelys naquele momento. Ela estava ali, tão concentrada, tão determinada, como se o peso do mundo repousasse sobre seus ombros e, ainda assim, encontrasse forças para mantê-lo equilibrado. Sirius, comendo o bolo despreocupadamente, não conseguia deixar de sorrir internamente. Era um contraste que o intrigava: a intensidade calculada dela frente à sua própria descontração.

— Maelys... — a voz de Sirius quebrou o silêncio com uma suavidade quase inusitada, como se cada sílaba fosse moldada com cuidado. Ele havia terminado seu lanche, o sorriso descontraído ainda brincando em seus lábios. Quando a chamou, ela ergueu os olhos azuis em sua direção, hesitante, mas curiosa. Havia algo na forma como ele pronunciava seu nome que a desconcertava, como se houvesse mais peso em sua fala do que ele permitia transparecer.

— Pode comer o outro pedaço. Estou cheio. — Ele gesticulou casualmente para o saquinho de papel ao lado dele, como se a oferta não fosse nada demais.

Por um instante, Maelys ficou estática, sua cabeça ligeiramente inclinada em surpresa. Sirius Black, aquele insuportável grifinório que parecia viver para provocá-la, estava oferecendo-lhe comida? Algo dentro dela quis recusar, talvez por orgulho, mas outra parte — uma muito mais sincera — sabia que resistir seria impossível. Afinal, por Merlin, quem em sã consciência recusaria um pedaço de bolo?

Com dedos elegantes, ela pegou o saquinho, hesitando apenas o suficiente para lançar um olhar curioso a ele antes de abri-lo. A doçura do aroma do bolo atingiu seu olfato, arrancando dela um pequeno sorriso interno que não permitiu que transparecesse em seu rosto.

— Obrigada, Sirius. — Sua voz saiu mais suave do que ela pretendia, enquanto abria o saquinho, pegou o bolo com cuidado, como se fosse um pequeno tesouro.

Sirius arqueou as sobrancelhas, visivelmente surpreso, e o sorriso que antes era apenas malicioso ganhou uma dose de divertimento genuíno.

— Você disse "obrigada"? Pra mim? — Ele inclinou o corpo em direção a ela, fingindo preocupação exagerada enquanto colocava a palma da mão em sua testa. — Você está bem, cobrinha?

Ela afastou a mão dele com um tapa leve, o olhar desdenhoso, mas com um brilho que traía sua irritação ensaiada.

— Para sua informação, Black, eu sou educada. — Sua voz assumiu um tom altivo, quase professoral. — Quando alguém oferece algo a mim e eu aceito, devo dizer "obrigada".

Ele riu, uma risada calorosa e genuína que ecoou na sala silenciosa.

— Ah, claro, a grande e graciosa Maelys Malfoy, a epítome da cortesia. — Ele inclinou a cabeça, os olhos brilhando de divertimento. — Vou anotar isso, nunca se sabe quando vou precisar de uma aula de boas maneiras.

Enquanto ela mordia o bolo, tentando ignorar a provocação, o sabor doce e familiar parecia aliviar qualquer tensão que pudesse estar entre eles. Maelys não disse nada, mas, por um instante, deixou um pequeno sorriso escapar. Talvez fosse o bolo, talvez fosse a paz momentânea naquele pequeno gesto de generosidade.

Após o último pedaço, ela colocou o bolo de lado e entregou suas anotações a Sirius com um movimento decidido. O papel estava repleto de palavras cuidadosamente escritas, cada linha exalando a perfeição obsessiva que caracterizava a Malfoy. Era impecável, ela sabia disso, mas ainda assim queria que ele revisasse. Não por precisar, mas para que ele pudesse, ao menos, fingir que tinha participado do trabalho.

Sirius pegou o papel com um brilho travesso nos olhos, examinando as palavras por alguns segundos antes de erguer o olhar para ela com uma expressão deliberadamente séria.

— Você esqueceu um ingrediente, cobrinha. — Sua voz carregava um tom de gravidade que fez os olhos de Maelys se arregalarem, a calma anterior desaparecendo em um instante.

— Impossível! — ela exclamou, arrancando o papel de suas mãos com a velocidade de um relâmpago. Seus olhos percorreram freneticamente cada linha, até que a verdade se revelou: não havia nada de errado. Absolutamente nada.

Quando percebeu a brincadeira, Maelys ergueu o olhar com fúria controlada, mas foi recebida pela visão de Sirius jogado para trás na cadeira, gargalhando como se tivesse acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo. O som era tão alto e desinibido que parecia inadequado naquele ambiente, e, ainda assim, impossível de ignorar.

— Você tinha que ver a sua reação! — Ele conseguiu dizer entre risos, as mãos no estômago enquanto tentava recuperar o fôlego.

No início, Maelys sentiu a irritação subir como uma maré, mas logo algo mais forte a venceu. Primeiro, foi um sorriso relutante. Depois, uma risada genuína que explodiu de seus lábios, cristalina e leve, como se por um momento ela também tivesse esquecido o peso que carregava.

— Você é um idiota, sabia? — Ela riu, balançando a cabeça enquanto seus cabelos platinados caíam em desalinho.

— Um idiota genial, não esqueça disso. — Sirius piscou, inclinando-se para frente com um sorriso tão descarado que quase parecia encantador.

E foi nesse instante que Madame Pince surgiu entre as estantes, como um espectro vingativo, seus olhos faiscando de irritação enquanto fitava os dois jovens como se quisesse fulminá-los ali mesmo.

— Silêncio! — ela exclamou com severidade antes de desaparecer tão rapidamente quanto havia surgido.

Sirius, por mais corajoso que fosse, deu um salto da cadeira, a mão instintivamente indo ao peito como se pudesse acalmar seu coração acelerado. Maelys, por outro lado, não perdeu a compostura tão facilmente, mas sua mão correu automaticamente para a varinha que prendia seu coque. Ela a segurou firme, pronta para qualquer eventualidade, os olhos ainda brilhando com o resquício de sua risada anterior.

— Merlin, essa mulher é pior que um dementador! — Sirius exclamou, ofegante, enquanto Maelys, já recuperada, ajeitava os cabelos e lançava um olhar condescendente.

— E você é pior que um bicho-papão, Black. — disse ela, mas o sorriso suave que brincava em seus lábios deixava claro que, apesar das palavras, ela apenas estava gracejando com ele.

Sirius respondeu com aquele sorriso que parecia pertencer exclusivamente a ele — desafiador, despreocupado, e, de algum modo, absurdamente encantador. Era o tipo de expressão que desarmava até os comentários mais ácidos. Maelys, contra sua própria vontade, sentiu o sorriso dela se ampliar. Talvez Sirius Black não fosse seu maior pesadelo. Talvez, na verdade, ele estivesse longe de ser.

Mas então, algo mudou. O brilho zombeteiro nos olhos de Sirius cedeu lugar a uma sombra mais densa, e sua postura relaxada tornou-se mais contida. Ele inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, como se precisasse daquela proximidade para atravessar a barreira invisível que ele e Maelys haviam construído ao longo dos anos.

— Maelys... — chamou ele, sua voz baixa e desprovida de qualquer traço de brincadeira.

— Sim? — Ela parou, o sorriso desaparecendo enquanto seu rosto adotava uma expressão neutra, quase defensiva.

Sirius hesitou por um instante, como se estivesse buscando a maneira certa de formular sua pergunta. Ele finalmente ergueu os olhos para encontrar os dela, e o que Maelys viu neles a surpreendeu. Não havia sarcasmo, nem ironia. Apenas preocupação genuína.

— Como Régulos está? — Ele perguntou, a voz quase um sussurro. — Ele está bem?

Maelys piscou, sentindo o peso daquela pergunta ecoar em seu peito. Respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas.

— Sirius... — começou, sua voz carregada de algo que ela não conseguia definir. — Eu não sei. Você conhece o irmão que tem. Régulos não se permite demonstrar seus sentimentos. Ele tenta aparentar que está bem, como se nada pudesse atingi-lo.

Ela fez uma pausa, mordendo o lábio inferior enquanto desviava o olhar por um momento, lutando contra a vontade de ser completamente honesta.

— Mas eu sei que ele não está. — continuou, sua voz mais baixa, quase como se admitisse um segredo. — Ele carrega mais peso do que deveria.

Sirius inclinou-se ainda mais, os olhos fixos nela, como se cada palavra que saía de seus lábios fosse uma peça de um quebra-cabeça que ele precisava desesperadamente resolver.

— Ele não fala comigo... — Sirius murmurou, a dor subjacente em sua voz quase imperceptível, mas para Maelys, era impossível ignorar.

Ela suspirou, deixando os ombros relaxarem enquanto se permitia olhá-lo diretamente.

— Ele sente sua falta. — disse a sonserina, com uma sinceridade que fez o coração de Sirius vacilar. — Mas... ele não sabe como lidar com isso.

— Eu fico imaginando se ainda sou para ele, um irmão... ou só mais uma sombra na vida dele.

Maelys permaneceu em silêncio por um momento, estudando o homem à sua frente. O Sirius Black que todos viam — corajoso, rebelde, brincalhão — parecia ter desaparecido, e o que restava era alguém que não apenas sentia, mas que carregava o peso de sentir demais.

— Ele ainda te ama, Sirius. — disse a Malfoy finalmente, sua voz tão firme quanto gentil. — Mas Régulos é como um quebra-cabeça que ninguém nunca terminou. Ele guarda as peças mais importantes para si mesmo. Talvez você nunca saiba exatamente o que ele sente, mas isso não significa que ele não sente.

Sirius ergueu os olhos, encontrando os dela, e por um momento pareceu que ambos estavam compartilhando um entendimento silencioso.

— Obrigado, cobrinha... — disse ele, a voz baixa e suave, como se aquela gratidão fosse algo íntimo, quase sagrado. Maelys arqueou uma sobrancelha, inclinando ligeiramente a cabeça, a curiosidade evidente em seu olhar.

— Obrigada pelo quê? — a malfoy perguntou, sem entender o motivo por trás daquele gesto inesperado.

— Por ser sincera. — Sirius respondeu, se inclinando para se aproximar dela. Agora, a distância entre eles era tão pequena que Maelys podia sentir o calor dele se misturando ao seu. A respiração dele roçava seu rosto, e cada fibra de seu ser parecia congelar e incendiar-se ao mesmo tempo.

Ela tentou manter a compostura, mas era inútil. Seu coração batia descompassado, ameaçando escapar do peito. O calor subiu rapidamente para seu rosto, e ela sabia que estava ruborizada. Ele parecia perceber, mas não fez menção de recuar. Em vez disso, Sirius manteve os olhos fixos nos dela, aqueles olhos cinzentos que pareciam capazes de desvendá-la por completo.

Lentamente, ele ergueu a mão, seus dedos firmes e quentes pousando suavemente no pescoço dela. Foi um toque cuidadoso, quase hesitante, mas que fez Maelys sentir como se o mundo ao seu redor tivesse desaparecido. Ele se aproximou ainda mais, seus rostos separados apenas por um sopro de distância.

Diferente da primeira vez, aquele momento não carregava a urgência de um impulso súbito. Era algo mais profundo, mais controlado, como se ambos soubessem o que queriam, mas estivessem aguardando o momento perfeito. A respiração de Sirius era calma, e Maelys, quase sem perceber, sincronizou a dela com a dele.

Quando Sirius encostou a testa na dela, o mundo pareceu parar. Ele fechou os olhos, e sua mão deslizou para acariciar suavemente a pele dela. Maelys, por sua vez, continuou a encará-lo, os olhos azuis brilhando com um misto de desejo e hesitação. Ela sabia o que queria. Merlin, como queria. Beijá-lo novamente parecia a única coisa que fazia sentido naquele momento.

Mas então, como um golpe frio e cruel, as palavras de seu pai e de seu irmão ecoaram em sua mente, arrancando-a daquele momento perfeito:

"Sei que gosta de desafios, mas não se deixe levar por banalidades. Não manche o nome da família, Maelys." A voz de Lucius era fria e implacável.

"Não se aproxime de sangues-ruins e não faça amizade com traidores de sangue." A sentença de Abraxas Malfoy vinha carregada de uma autoridade que parecia impossível de ignorar.

A realidade atingiu Maelys como um feitiço paralisante. Por mais que desejasse ceder, por mais que seu coração clamasse por Sirius, sua mente estava acorrentada às expectativas e à pressão de sua família. Maelys piscou, o brilho nos olhos agora misturado com uma sombra de conflito. Sirius, com a testa ainda encostada na dela, percebeu a mudança. Ele abriu os olhos lentamente e a encarou, sua expressão carregada de uma preocupação silenciosa.

— Maelys... — começou ele, mas ela afastou-se um pouco, a mão tocando a dele no pescoço, removendo-a com cuidado.

— Sirius, eu... — A voz dela saiu baixa, quase quebrada, mas não conseguiu continuar. Ela queria ignorar aquelas vozes, queria seguir o desejo que queimava em seu peito, mas as palavras de sua família pesavam como um feitiço inquebrável.

Então, naquele momento, Maelys percebeu que, por mais que quisesse Sirius Black, havia um abismo entre eles que ela não sabia como atravessar.

— Já terminamos aqui. — a voz da platinada saiu rápida e firme, como se quisesse pôr um ponto final em tudo, mas a ligeira tremulação em suas palavras entregava sua confusão interna.

E antes que Sirius pudesse sequer processar suas palavras, ela começou a jogar seus materiais na mochila, os gestos apressados e desajeitados refletindo o caos que sentia. Papéis foram amassados, a pena caiu no chão, mas Maelys sequer se importou. Precisava fugir. Precisava respirar.

Sirius, por outro lado, ficou imóvel, os olhos cinzentos fixos nela, um misto de surpresa e preocupação desenhado em seu rosto. Ele abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu. Era como se algo nele também o tivesse paralisado, como se sentisse que, por mais que tentasse alcançá-la, ela já estivesse escapando.

— Maelys... — começou ele, mas ela não esperou.

Com um movimento rápido, a sonserina ergueu a mochila e se afastou. Seus passos ressoaram na biblioteca quase vazia, ecoando entre as estantes como um lembrete de sua partida apressada. Ela não olhou para trás, mesmo que cada fibra de seu ser gritasse para fazê-lo. Se olhasse, sabia que desmoronaria.

Sirius permaneceu sentado, os cotovelos apoiados nos joelhos, observando-a desaparecer entre as prateleiras de livros. Ele passou a mão pelos cabelos escuros, soltando um suspiro pesado. Havia algo nela que ele não conseguia desvendar, uma muralha que parecia intransponível. E, mesmo assim, ele não conseguia afastar a sensação de que queria tentar, queria atravessar aquele abismo.

Maelys, já longe da biblioteca, respirava com dificuldade, os olhos ardendo com lágrimas que ela se recusava a deixar cair. Sua mente era um caos de pensamentos, a voz de sua família se misturando à lembrança do toque de Sirius, do olhar dele que parecia atravessar todas as suas defesas.

— Eu não posso! — ela repetiu para si mesma, como um mantra, mesmo que parte de seu coração gritasse o contrário.

Maelys Malfoy respirou fundo mais uma vez, tentando afastar qualquer resquício do turbilhão que havia acabado de vivenciar. Ela havia feito o certo.Era isso que repetia a si mesma como um mantra. A escolha que fizera ao se afastar de Sirius Black não era apenas sensata; era necessária. Aquilo fora um momento de fraqueza, nada mais. Não iria se repetir. Não podia. Ela era Maelys Malfoy, a herdeira de uma das mais nobres famílias do mundo bruxo, a princesa da Sonserina, um modelo de dignidade e lealdade aos preceitos que guiavam sua linhagem. Sirius, por outro lado, era o oposto de tudo isso.

Ele era o rebelde, o traidor que zombava de sua própria herança, um homem que vivia quebrando as regras que sustentavam o mundo deles. Qualquer envolvimento com ele significaria não apenas desonra, mas uma afronta direta aos valores que ela fora criada para defender.

Enquanto seguia pelos corredores em direção à comunal da Sonserina, Maelys estava perdida em seus pensamentos, cada passo ecoando o conflito interno que a consumia. O silêncio do castelo parecia amplificar suas dúvidas, mas ela se recusava a ceder. Era o certo. Era o necessário.

Mas então, sua reflexão foi bruscamente interrompida.

Ao virar uma esquina, Maelys esbarrou em alguém que parecia tão perturbado quanto ela havia estado minutos antes. O impacto quase o derrubou, mas seus reflexos rápidos a fizeram segurá-lo antes que ele caísse. Seu olhar frio e controlado se derreteu em uma expressão de preocupação ao reconhecer quem estava diante dela.

— Régulos? — sua voz saiu alarmada ao perceber o estado deplorável do jovem Black.

O herdeiro dos Black estava desorientado, os olhos e o nariz vermelhos, claramente denunciando que estivera chorando. Era uma visão tão fora do normal para ele que um nó imediato se formou no peito de Maelys. Régulos era sempre contido, reservado, o tipo de pessoa que preferia se esconder atrás de máscaras cuidadosamente construídas.

— Régulos, o que aconteceu? — Ela o segurou pelos ombros, forçando-o a olhar para ela. — Você está bem? Fale comigo!

Ele piscou algumas vezes, como se estivesse lutando para focar nela. Quando finalmente percebeu que era Maelys, sua expressão de desespero pareceu aumentar.

— Lys...— a voz dele saiu quebrada, frágil, como se cada palavra fosse um esforço monumental. Ele soluçou antes de continuar: — E-eu preciso sair daqui... N-não consigo... respirar...

O apelido carinhoso que Régulos usara para chamá-la fez o coração de Maelys apertar ainda mais. Ela conhecia aquele tom desesperado, a vulnerabilidade em suas palavras. Algo muito grave havia acontecido. 

Sem hesitar, ela o puxou para longe do corredor central, levando-o até um canto mais isolado. Segurou-o com firmeza, mas com delicadeza, mantendo contato visual para que ele soubesse que ela estava ali.

— Respire comigo, Régulos. Devagar. Siga meu ritmo. — Ela segurou uma das mãos dele, guiando-a para acompanhar o movimento de sua própria respiração.

Aos poucos, os soluços de Régulos começaram a ceder, embora lágrimas ainda escorressem por seu rosto. Maelys sabia que ele era orgulhoso demais para desmoronar completamente, mesmo agora, mas também sabia que, se não o ajudasse a se abrir, ele sufocaria sozinho com o peso do que quer que estivesse enfrentando.

— Régulos, você confia em mim, certo? — perguntou, sua voz mais suave agora, quase um sussurro. — Então me diga... O que aconteceu?

O jovem Black hesitou, desviando o olhar para o chão, como se estivesse travando uma batalha interna. Quando finalmente voltou a encará-la, Maelys viu um mar de dor em seus olhos.

— Eu... Eu não sou forte o suficiente, Lys. Não sou como eles querem que eu seja. — Ele engasgou nas palavras, cada sílaba parecendo arrancar um pedaço dele. — Estou cansado de tentar... De decepcionar todos. Meu pai... Minha mãe... Até Sirius... eu não sou normal.

Ao ouvir isso, Maelys sentiu uma onda de emoção inundá-la. Régulos, sempre tão controlado, tão impenetrável, agora se mostrava vulnerável diante dela. Sem pensar duas vezes, ela o puxou para um abraço, envolvendo-o com um calor que contrastava com a frieza dos corredores de pedra ao redor.

— Você é forte, Régulos. E não precisa carregar tudo sozinho. — murmurou ela, sentindo-o relaxar ligeiramente contra seu ombro. — Você não está sozinho, e eu não vou deixar você afundar, ouviu?

Por um instante, o mundo ao redor desapareceu. Não havia castelo, nem famílias rigorosas, nem julgamentos. Apenas os dois, compartilhando uma dor que os conectava de uma forma profunda e silenciosa.

MALFEITO, FEITO!

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