𔘓 señorita
𔘓 terceiro (03)
━━ señorita
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atualmente
em shibuya, 2023
Señorita, Shawn Mendes, tocava baixinho na sala quando Nanami levantou. O barulho do seu chinelo fez com que Emi percebesse sua presença e controlasse o quadril para que parasse de se mexer.
Ela havia acordado há pouco tempo e preparava o mínimo que sabia fazer na cozinha: gohan, ovos mexidos, café e missoshiro. Uma verdadeira mistureba nipo-americana.
Dormiu bem. Teve uma ótima noite de sono envolta nos braços do mais velho e igual a música, arrepiava toda vez que ele a chamava de Senhorita Emi. Calafrios subiam por seu corpo junto da forma com que ele passava os dedos de maneira delicada sobre sua pele.
Caiu no sono deitada no peito dele e acordou como a concha menor. Depois de anos e anos sem nada disso, a sensação era tão intensa quanto única. Fazia o corpo formigar todinho e a boca ressecar por inteiro.
Um sorriso involuntário se formava em seus lábios. O som da respiração suave de Nanami nas suas costas trazia uma sensação de paz estonteante para o quarto, a qual ela não sabia que precisava até então.
Se virou lentamente para observar Nanami - sem acordá-lo - e seu coração deu um salto ao ver o rosto sereno e adormecido dele. Cada detalhe era divino. A maneira como os cílios pouco grandes demais descansavam, o contorno dos lábios ligeiramente se curvavam e a mandíbula marcada parecia gravada em sua mente.
O toque casual de seus corpos separados apenas pelos lençóis provocava um turbilhão de emoções em Emi. Uma mistura de excitação, conforto e uma alegria tranquila. Como numa partida de xadrez.
Havia uma nova leveza em seu peito, um desejo de compartilhar mais momentos como aquele, de explorar cada nuance da presença de Nanami em sua vida.
Enquanto ela permanecia ali, absorvendo cada detalhe, percebeu que talvez fosse a hora de admitir para si mesma que estava tendo aquelas "quedinha" de adolescentes e com certeza, ia além da amizade ou atração física.
Era uma paixão crescente, um sentimento que trazia tanto ansiedade quanto uma doce antecipação do que poderia vir. Cada segundo ao lado dele parecia mais precioso, e ela se pegou ansiando pelo próximo sorriso, pelo próximo toque, pela próxima conversa.
Pela próxima vez que ele a chamaria de Senhorita.
E sabia, naquele instante, que algo profundo estava florescendo por dentro. Algo que mudaria sua vida para sempre. E embora fosse quase de um dia para o outro, tempo não era questão de qualidade. Afinal, ninguém apoiaria um casal como Andie e Benjamin, de "Como perder um homem em dez dias" se não fosse algo verídico.
Quando menos esperou, enevoada pelos próprios pensamentos, Nanami a abraçou por trás e beijou a curvatura do seu pescoço.
- Você ficou ótima com a minha camisa.
- Que susto! - Ela não pulou ou deu um grito, apenas se encolheu sob seu toque. - Bom dia para você também, Nanami.
- Bom dia, Emi. Como passou a noite?
- Muito bem. Dormi feito um bebê. Esse colchão é maravilhoso.
- Fico feliz que tenha te agradado. - Deu uma olhada por cima do ombro da garota, ainda com os braços envoltos na cintura. - O que temos aqui? O cheiro está delicioso.
- Café, gohan, ovos mexidos e um pouco de missoshiro porque eu errei as medidas da receita.
- Uau. Porque não me deixou preparar o café? Eu poderia ter te levado na cama. - Deu uma massageada em seus ombros. Isso a fez relaxar um pouco e suspirar.
- Para de bobagem. Não há necessidade de nada disso.
Ele se afastou e pegou duas xícaras de café, as enchendo com o líquido escuro do bule.
- Você trata assim todas as suas paqueras?
- Não sou adepto a práticas como "sexo casual".
- Não?
- Não, Senhorita Emi. - Palavras reviravam o estômago da garota. - Você foi a primeira e única exceção.
- Então eu fui a sortuda?
- Ou azarada. Fica a cruel dúvida. Mas o que eu posso fazer? Sou um verdadeiro cavalheiro.
- Fato. Você é o homem mais educado que eu já conheci na vida.
- Lamento por isso.
- Ah, não, você deveria se orgulhar. Adolescentes hoje em dia são um pé no saco.
- Acho que para a ciência você ainda é considerada uma adolescente, não? - Pegou uma colherada do gohan.
- Tanto faz. Não me sinto como uma. - Levantou sua xícara e fez um brinde com ele. - Manias americanas?
- Não consigo acordar sem uma xícara de café. Confesso.
- Bem, nem eu. Estamos quites.
Ela sorriu e se sentou na cadeira da ilha. O loiro foi ao seu lado e se sentou ali também. Mas antes, pegou um post it do chão e o colocou em cima do balcão. Riu sozinho ao olhar o papel, massageando as próprias têmporas.
- Eu estava sem óculos, desculpa.
A caligrafia ali era horrível. Parecia um borrão em itálico, bem como médicos escrevem. Emi começou a gargalhar e apertou os olhos, tentando entender o que significavam aquelas letras.
- Você realmente tentou?
- Não muito. Estava concentrado em coisas mais importantes.
Na mesma hora um alarme tocou. Emi olhou para o lado, encarando a tela do celular, e viu que se tratava de um dos seus despertadores de urgência marcados para às 07:00.
A cadeira quase caiu para trás com o solavanco que deu ao levantar. Virou a sopa na boca de uma vez só e correu na direção do quarto, gritando:
- Eu estou muito atrasada! Eu nem vi a hora passar, caramba!
- Pode tomar banho aqui se quiser.
Watanabe quis morrer. Sentiu vergonha por ser tão intrometida e descarada a esse ponto, mas não teve opção. Enquanto desabotoava sua camisa, sem ao menos fazer contato visual com Nanami, pediu:
- Você poderia me emprestar uma roupa sua? Uma calça e uma blusa, um terno, um pijama. Qualquer coisa.
- Claro. Pegue o que quiser, se é que algo serve em você.
- Obrigada.
Em questão de minutos já estava enrolada em uma toalha e dentro do closet, procurando junto do mais velho uma peça de roupa que a servisse. As calças não eram problema, afinal Emi tinha coxas enormes que acompanhavam as do loiro. No entanto, os braços mais finos deixavam a desejar naquele tecido.
Encontrou um terno bege que combinava com uma calça da mesma cor e pensou que aquilo dava para o gasto. Colocou a peça superior por cima do sutiã bordado em renda que mais parecia um top e finalizou tudo soltando o cabelo loiro em grandes e longos cachos.
A maquiagem foi apenas uma base disfarçada de corretivo encontrada no fundo da bolsa e um batom vermelho claro que só tirava sua feição anêmica.
Nanami bateu na porta bem quando ela acabou de se arrumar.
- Tudo certo aí?
- Aí, desculpa. Por um segundo eu esqueci que essa não é minha casa.
- Sem problemas. Leve seu tempo.
Watanabe abriu a porta enorme e convidou-o para entrar, mesmo aquela sendo sua casa. Ele a olhou sem palavras. Tentava focar em apenas uma parte do seu corpo, porém era impossível. Todos os detalhes chamavam atenção em sua aparência.
Por um segundo o loiro ficou parado, mas logo o clima deu uma pesada e a garota sorriu diante da forma com que ele a olhava:
- Oi?
Nanami limpou a garganta e disse:
- Bem, é isso. Também tenho que me arrumar para trabalhar.
- Você está me expulsando?
- Não, não...Na verdade tem algo que eu gostaria de te mostrar.
- O que?
- Venha comigo.
Não pegou sua mão, apenas guiou o caminho. Fez Emi dar uma bela volta no closet e abriu uma gaveta cheia de gravatas. Borboletas, slims, standards e de pontas retas.
Todas estavam separadas por pequenas divisórias e bem dobradas, como se fossem organizadas meticulosamente. Emi tapou a boca de tão empolgada que ficou. Também se sentiu lisonjeada por ter a sorte de ver aquela coisa tão pessoal de Nanami.
- Nanami, isso é incrível! Quantas!
- É, pois é. Dizem por aí que sou um grande fã de gravatas.
- Nossa, sem dúvidas! Uau, eu adorei!
- E eu queria que você escolhesse uma para mim hoje.
- De verdade?
- De verdade.
- Deixe-me ver.
Passou os dedos muito delicadamente sobre uma gravata vermelha, depois uma colorida, outra azul e por fim, a escolhida. Uma espécie de oncinha marrom meio esverdeada com uma cor de musgo. Deu de ombros para dizer:
- E a camisa?
- Pode deixar que eu me viro com ela.
- Tudo bem, então. Mal posso esperar para ver como ficou.
- Como? - Ele deu uma risadinha fraca. - Acha mesmo que eu vou te mandar uma foto? Sem chances. Odeio fotos.
- Ah, Nanami, como não? Deixa de ser velho. Eu quero ver.
- Pode me ligar quando quiser.
- Veremos.
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Mesmo no auge do quarto - e último - ano da faculdade de administração, ainda se importava com o jeito que aparecia pelos corredores. Deu um bom sorriso para os colegas de corredor e foi para a sua respectiva sala.
Um dos seus fones estourava Guys My Age, Hey Violet, enquanto esperava a segunda aula do dia se iniciar. O bocejo que deu antecedeu qualquer coisa inclusive a ansiedade que estava de receber uma mensagem de Nanami.
Um sorriso sapeca se formou no rosto da jovem Watanabe ao pensar na possibilidade de ficar com ele. Ficou empolgada e feliz ao passo que nervosa. O pensamento de tê-lo falando para ela coisas lindas como as que sempre saiam de sua boca a deixava mole em sua cadeira da primeira fileira, bem na frente do professor - que já saia para dar lugar ao próximo.
Imaginar sua voz e seu jeito bruto e todo educado era surreal. Dava calafrios por toda parte, além de a deixar com uma enorme vontade de fazer xixi. Querendo ou não, era difícil pensar que um quase completo desconhecido causava toda essa comoção.
Desligou o celular, mas ainda permanecia buscando por outra mensagem. Ficou eletrizada. Mordia os lábios tentando adivinhar a surpresa que Nanami faria para ela.
Os pés batiam no chão sem parar e as mãos não paravam de batucar na mesa. Mas nada se comparou a rotação que seu estômago fez ao ouvir uma voz grave vinda de trás do seu corpo.
Era idêntica a da noite passada e percorria cada músculo do seu corpo como agulhas na acupuntura. Ela foi da porta até a mesa de centro em frente a lousa e rebateu nos ouvidos de Emi:
- Bom dia a todos. Sou Nanami Kento, mas podem me chamar apenas de Nanami. Sou o novo professor de economia de empresas e decisão de produtos, serviços e preços de vocês. Sou formado em administração e em direito pelas universidades Federais de Kyoto e Tóquio, tenho duas pós graduações em administração de empresas e uma em psicologia, um mestrado em controladoria e finanças e doutorado em gestão estratégia de organizaçoes. - Escrevia algumas coisas no quadro enquanto falava. - Já tive diversos empregos ao longo desses bons anos no segmento, portanto acho que vamos aprender muito de agora em diante. Leciono desde 2016, quando abandonei a maravilhosa ideia de trabalhar de home office como CEO de uma das maiores empresas de auditoria do país e antes que me perguntem, sim, eu me arrependo. Alguma dúvida? Podemos começar?
Se virou lentamente para frente, observando a turma e apoiando as duas mãos na mesa atrás de si. Era Nanami o professor de Emi e a garota não podia estar mais feliz e interessada por aquilo.
Suspirou bem fundo antes de abrir os olhos, mas quando o fez, pareceu que perdeu todo o ar. Congelou em seu lugar, a mente viajando de volta às noites passadas. Lembrava-se de cada detalhe - a conversa envolvente no bar, os risos compartilhados, a conexão inesperada e a intimidade que se seguiu. Agora, essa lembrança parecia um sonho distante e irreal diante da nova realidade.
A gravata era a escolhida por ela. Seu corpo trajado com um terno creme e camisa escura, diferente da roupa mais casual que usava na noite anterior, mas o sorriso era inconfundível. Os conceitos escritos no quarto delatavam a forma formal de falar e justificavam a dificuldade de não ser meticuloso nas suas explicações.
Nanami falava, mas a aula era puro borrão para Emi. Um celular apitou de longe, contudo o professor foi o primeiro a buscar o seu no bolso. Isso fez a garota dar um sorriso em pensar que ele também estava ansioso pela mensagem dela.
Quando seus olhos esbarraram, houve um brilho de reconhecimento seguido de surpresa. Claro que foi algo sutil e contido, porém foi evidente. Hesitou por um segundo, continuando a aula como se nada tivesse acontecido ao assumir postura profissional.
Ambos mal conseguiam se concentrar. Na verdade, foi mais fácil para o loiro dar um jeito no comportamento do que Watanabe parar de fantasiar na sua cadeira.
Ele continuava com uma expressão séria, bem diferente do homem relaxado e charmoso com quem ela passara a noite anterior. Continuava falando, sua voz firme, mas com um leve tremor que apenas Emi parecia notar.
Quando a aula finalmente terminou, Emi guardou seus materiais o mais rápido possível, esperando escapar antes que alguém percebesse seu desconforto. O que também acontecia com o loiro que passou os dedos pelo cabelo e liberou todo classe um pouco antes do horário previsto.
- Classe, preciso de um representante. Podem me trazer na próxima aula.
- Nanami, a Emi é nossa representante. Emi Watanabe. Aquela ali. - Um aluno qualquer apontou para a jovem.
Vários outros alunos concordaram com a cabeça e pequenos murmúrios.
- Certo. Emi, tudo bem por você?
- Sim.
- Por gentileza, consegue ficar na sala por um instante?
Os alunos começaram a sair, e ela assentiu. Alguns olhares curiosos pesaram sobre si, mas logo desapareceram. Respirou fundo e caminhou até a mesa do professor. Quando a sala estava vazia, Nanami fechou a porta e se aproximou dela, sua expressão misturando preocupação e seriedade.
Sem deixar o homem completar o que tinha que dizer, Emi ficou nas pontas do pé, de salto, e levantou um dos dedos até a altura do rosto de Kento.
- Que merda é essa?
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