𝟎𝟎𝟖. 𝗍𝗐𝗈 𝗌𝗂𝖽𝖾𝗌
𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐎𝐈𝐓𝐎
𝖽𝗈𝗂𝗌 𝗅𝖺𝖽𝗈𝗌
𝐉𝐔𝐍𝐄 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐕𝐀 quieta, mais quieta que o normal. Não que já não fosse calada a maior parte do tempo. Mas estava estranha. Malia sentia isso toda vez que chegava perto da mesma, e como sua colega de quarto, elas meio que ficavam juntas toda hora.
Mas a Brown estava preocupada, se ao menos se June estivesse a evitando, talvez ela acharia que estava mais normal. E depois da última conversa das duas, June realmente estava colocando no topo de suas prioridades evitar a Malia.
— O que foi? — Perguntou a Harris sentindo o olhar de Malia fixado nela.
— O que foi? Você é o que foi! — Falou a menina revirando os olhos.
— Para de drama, Malia — June a olhou séria — O que você quer dizer com isso?
— Quero dizer que você está estranha, e está com aquela cara de que quer desabafar — Falou calmamente.
— An? — Fez uma careta — Você inventa cada uma, que Juro Por Deus — Respirou fundo.
— Olha, nós já voltamos a nos falar — A olhou — Mais ou menos — Sussurrou completando — Está na hora de nós começarmos a conversar sobre coisas — Piscou.
— Não tenho nada pra falar — Deu de ombros se levantando.
— Ai June! — Reclamou — Pera aí, onde você vai? — Olhou para ela confusa.
— Tenho vida própria também, sabia? — Ficou com um semblante sério.
— Me poupe, se poupe e nos poupe — Revirou os olhos — Desembucha logo, não tenho o dia todo — Arqueou as sobrancelhas.
— Também não, estou atrasada — A olhou com indiferença.
— June... — Falou Malia chateada — Tudo bem, que seja, vejo você depois — Deu um pequeno sorriso e levantou da mesa.
— Malia! — Exclamou a Harris rápido.
— Sim? — Perguntou com expectativa.
Mas mesmo assim, June não se deixou levar, fechou a cara e saiu andando, sem olhar para trás, não querendo ver a amiga machucada por ela. Tudo que queria era simplesmente conseguir abrir seu coração, mas não conseguia, mesmo tentando ao máximo.
Ela estava decepcionada com ela mesma, sempre tentando procurar novas formas de sentir a menor coisa, e mesmo assim nunca conseguindo sentir nada.
Ela bateu o punho em sua cabeça, com raiva de si mesma, querendo que levasse um soco, querendo que alguém a batesse por ser estúpida, por ser ingênua ao pensar que conseguiria viver assim para sempre.
Óbvio que chegou um tempo que tinha feito paz com o fato de ser um coração de pedra, mas agora ela só sentia os estilhaços de pedra furando seu coração, o cobrindo por cima, o fazendo sangrar, o fazendo chorar.
E mesmo assim ela não conseguia tirar os fagalhos, não conseguia se dar ao trabalho de se manter viva, e tudo que sentia era seu pulso fraco, pedindo por socorro, pedindo para ser salvo, implorando para que não seja seu último suspiro.
E tudo que fazia era ignorar, ignorar a dor que vinha de dentro, ignorar todos seus ossos gritando toda vez que afastava alguém, ignorando sua cabeça falando o quão era idiota e burra.
E o que a machucava mais, era o fato de que ela estava em conflito interno, uma parte a xingava por ter se aberto ao mínimo de sentimento, por ter deixado entrar uma pequena partícula que ameaçava derrubar todo seu muro. Mas sua outra parte, gritava com todas suas forças para ela se permitir sentir, se permitir chorar, que a lembrava que sentir não é fraqueza.
Mas a menina preferia ignorar, ignorar todo seus problemas, pular por cima deles, e mesmo que estivessem correndo atrás dela, ela só faria um feitiço silenciador para tentar se convencer de que nada estava errado.
E era isso que fazia o tempo todo, mentir para si mesma tinha virado algo tão comum que não sabia diferenciar quem era, se as coisas que pensava fazia parte dela, ou era só mais uma mentira para sua coleção.
E ela não aguentava mais, sua cabeça doía, só queria arrancar seu cérebro, para ver se conseguia parar a dor ao menos um pouco. Só o suficiente para tudo ficar calmo, para todo o barulho em sua cabeça virar silêncio, só o suficiente por um tempo.
— Você está bem? — Falou uma voz, e só então tinha percebido que havia esbarrado em alguém.
— Sim — Falou tão baixo que nem escutou a si mesma, e quando encontrou aqueles olhos cinzas, típico de todos os Black, sua cabeça ficou em silêncio, pelo menos por alguns segundos, o suficiente para a fazer esquecer do que estava fazendo.
— Não me referi a nos esbarramos — Falou sério se lembrando daquele dia.
June não soube o que responder e optou a ficar em silêncio, tentando voltar á calma que seus pensamentos ficaram por alguns segundos. Tentando se lembrar de seus olhos sem precisar os olhar.
— Harris — Falou sério — Perguntei se está bem — A encarou profundamente.
— Eu ouvi — Falou apenas isso, frustrando o Black por seu jeito teimoso.
— Olhe para mim — Pediu com uma voz mais suave.
June demoradamente olhou para seus olhos, se perdendo no céu nublado de sua íris, todas as nuvens pareciam que iriam chover, e não que June entendesse muito de sentimentos, mas se não o conhecesse direito, diria que estava prestes a chorar.
— Você está bem? — Falou dando ênfase em você.
E dessa vez quem desviou o olhar fora ele, envergonhado de deixar suas emoções transparecerem, tentando calar a voz de sua mãe fazendo eco em sua cabeça, várias e várias vezes.
" Sentimentos são fraquezas, que se deixar passar por você, vai cair, e eu não vou te ajudar a levantar "
O menino balançou a cabeça tentando se livrar de memórias que pareciam grudar em sua cabeça como chiclete.
June o observava curiosa, querendo saber o que passava na cabeça do garoto a sua frente, parecendo atordoado por uma simples pergunta que tinha feito.
E se sentiu culpada novamente, sentiu vontade de dar outro soco em si mesma, mas dessa vez um que sangre. Sentiu seu lado racional gritando para sair dali enquanto seu lado emocional falava para abraçar o menino em sua frente.
E pela primeira vez em sua vida, ela quis ouvir o lado emocional, o que mesmo não sendo racional, parecia o mais certo, parecia o mais inteligente.
Mas não conseguiu. Ela levantou a mão para tocar em seu ombro e rapidamente a abaixou. Tentando se lembrar de quem era, das mentiras em sua cabeça.
E Regulus a assistiu ir embora, enquanto desejava muito ter recebido um abraço, mesmo que fosse de uma estranha, mesmo que provavelmente teria se afastado, só queria ter recebido um mínimo contato de carinho.
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