ii. Decisions
Capítulo dois: decisões
O AR DA MANHÃ ESTAVA PESADO com o cheiro de sangue e terra molhada. O campo de batalha havia se acalmado, mas o caos ainda pairava.
Maera estava agachada ao lado de um homem ferido, as mãos ágeis movendo-se com precisão enquanto amarrava um pedaço de tecido em torno de um ferimento profundo em sua perna. Seus dedos eram delicados, mas determinados, e seu rosto, embora sereno, trazia a marca da concentração.
Jacaerys a observava de longe por alguns momentos, o contraste de sua delicadeza em meio à brutalidade daquela cena o deixava fascinado. Havia algo na maneira como ela cuidava dos feridos com uma quietude, uma calma, que parecia até improvável para o lugar onde estavam.
Ele se aproximou, inicialmente em silêncio, mas a sensação de proteção o fez avançar com mais intenção. Parte dele apenas queria vê-la de perto, observar como ela se movia, mas outra parte queria garantir que Maera estivesse segura. Por mais destemida que ela fosse, aquele lugar ainda carregava um perigo invisível.
— Precisa de ajuda? — ele perguntou, mantendo a voz baixa, quase íntima.
Maera ergueu os olhos, surpresa ao vê-lo ali tão próximo, mas não se permitiu desviar o foco do que fazia. Ela deu um pequeno sorriso, breve e leve, antes de voltar sua atenção para o ferido.
— Acho que já está sob controle, meu Príncipe. — respondeu ela com suavidade, embora houvesse uma nota de desafio, como se ela soubesse que ele estava mais interessado em observá-la do que em prestar socorro.
Jacaerys se abaixou ao lado dela, sentindo o olhar do homem ferido os acompanhar com cansaço. Ele pegou outro pedaço de tecido ao lado e o ofereceu, seus dedos roçando os dela por um instante. O breve toque foi o suficiente para deixar o ar entre eles mais pesado, quase tangível.
— Ainda assim, acho que posso ser útil. — disse ele com um sorriso torto e um brilho de curiosidade dançando em seus olhos.
Maera riu baixinho, uma risada leve que dissipava um pouco da tensão ao redor. Mesmo no meio daquele cenário sombrio, havia algo quase reconfortante na presença dele ao seu lado, algo que ela não esperava, mas que não parecia errado.
— Se você quiser... — murmurou ela, aceitando a ajuda com um olhar desafiador. — Mas não pense que vou sair daqui tão cedo.
Jacaerys a olhou por um momento, sentindo o calor de uma nova admiração crescer dentro de si.
Ele ajeitou o pano no ferimento do homem, concentrado, mas sem deixar de notar o quanto era bom estar ali ao lado dela, mesmo em meio àquele caos.
— Não vou te tirar daqui. — respondeu ele, com uma voz que quase se perdeu no vento gelado. — Mas vou ficar aqui. Só para garantir.
O sol estava se pondo, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho. O campo de batalha havia se transformado em algo muito mais calmo do que pela manhã, com as últimas tarefas de socorro e reorganização sendo concluídas.
Maera, com o rosto manchado de poeira e um leve traço de cansaço em seus olhos, terminava de cuidar de mais um ferido. Seus movimentos, antes rápidos e precisos, agora eram mais lentos, o peso do dia finalmente tomando conta dela.
Jacaerys a observava à distância, notando os detalhes de sua exaustão a forma como ela se movia com menos vigor, os ombros um pouco mais caídos. Ele pensou em dizer algo, talvez sugerir que ela descansasse, mas antes que pudesse, Cregan Stark apareceu, sério como sempre, mas com uma suavidade em sua voz que Jace já havia notado que era reservada apenas para Maera.
— Chamei uma carruagem para você, Maera. — disse ele, os olhos escuros e preocupados. — Já fez o suficiente por hoje.
Maera ergueu os olhos para o irmão e deu um pequeno suspiro de alívio. Ela não discutiu dessa vez, reconhecendo os limites de sua própria força.
Enquanto ela se preparava para seguir as ordens de Cregan, Jacaerys se aproximou, o semblante preocupado suavizando-se ao vê-la tão visivelmente esgotada.
— Eu a acompanho até a carruagem. — ofereceu ele com a voz baixa e educada.
Maera assentiu e os dois caminharam juntos até a carruagem, suas botas cavando na neve branca, e então, o príncipe falou novamente:
— Parece cansada... deveria descansar.
Maera levantou o rosto na direção de Jacaerys, seus olhos brilhando de um jeito travesso, apesar do cansaço. Ela deixou um pequeno sorriso dançar em seus lábios antes de responder, a voz carregada de provocação.
— Cansada? — murmurou ela, seus olhos escaneando o rosto de Jacaerys. — Se você precisar de cuidados, meu príncipe, estarei à disposição.
Jacaerys ficou paralisado por um segundo, os olhos se arregalando levemente. Ele não esperava uma resposta tão ousada, e o calor subiu ao seu rosto, tingindo suas bochechas de um vermelho discreto.
Tentou, sem muito sucesso, manter a compostura, mas era evidente que as palavras de Maera o haviam pegado desprevenido.
— Eu... — começou ele, mas se atrapalhou nas palavras, sem saber ao certo o que dizer.
Maera soltou uma risada baixa, divertida com a reação do príncipe. Ela o estudou por mais um momento, percebendo que seu charme havia causado o efeito desejado.
— Estou brincando, Príncipe Jacaerys. — disse ela, com um sorriso malicioso, entrando na carruagem com leveza. — Mas você devia descansar também.
Ela fechou a porta da carruagem com um último sorriso e Jacaerys ficou ali, parado, ainda tentando processar o que havia acabado de acontecer. Ele balançou a cabeça, um sorriso involuntário surgindo em seus lábios enquanto a carruagem se afastava, sumindo na luz dourada do crepúsculo.
Mais tarde, quando Jacaerys sobrevoava as terras geladas do Norte montado em seu dragão, o vento cortante sibilando ao seu redor, sua mente estava tão agitada quanto o céu nublado acima. A vastidão branca e inóspita do norte se estendia abaixo dele e cada batida das asas do dragão o levava de volta para Winterfell, mas sua mente estava longe.
O dia tinha sido longo. Ele sentia o peso da batalha nos ombros, não apenas pelas espadas e o sangue, mas pela constante tensão de saber que cada minuto passado ali o afastava de seus verdadeiros deveres. Rhaenyra esperava por ele. Seus irmãos, sua casa.
A guerra se aproximava como uma tempestade implacável, e ele sabia que suas responsabilidades estavam apenas começando. O Trono de Ferro exigia muito mais do que ele havia experimentado até agora.
E além disso, havia a casa Arryn. Outra peça no quebra-cabeça da guerra, uma aliança que ele ainda precisava consolidar. O futuro de sua mãe e de seus irmãos dependia dessas alianças, dessas decisões que ele era obrigado a tomar.
Quando finalmente pousou nos pátios de Winterfell, sentiu um alívio momentâneo ao tocar o solo, mas o frio cortante rapidamente o trouxe de volta à realidade.
Subiu para seus aposentos, o som das botas ecoando pelos corredores silenciosos do castelo. Assim que fechou a porta atrás de si, soltou um longo suspiro.
O peso de tudo parecia pressioná-lo e ele sabia que não poderia adiar sua decisão por muito mais tempo. Sentou-se na beira da cama, os olhos fixos no fogo crepitando na lareira. A proposta de Cregan Stark sobre Maera ainda ecoava em sua mente.
Ela havia demonstrado uma confiança e ousadia que o desarmavam, mas ele não sabia se podia confiar em seus motivos. Será que ela via nele apenas uma oportunidade de poder?
Ele precisava tomar uma decisão e logo. Cada momento de hesitação era um passo mais próximo da guerra e ele não podia permitir que suas emoções o distraíssem do que era mais importante.
Mas mesmo com todo o caos ao seu redor, ele não pôde evitar que um sorriso surgisse em seus lábios ao pensar na provocação de Maera mais cedo. Ela era um mistério que ele não sabia se queria decifrar ou manter à distância.
Ao amanhecer, Jacaerys caminhou pelos corredores de Winterfell com o silêncio do castelo ainda repousando sobre cada pedra. O frio do norte, tão intenso quanto os deveres que pesavam em sua mente, parecia morder-lhe a pele.
Ele não havia dormido muito. As horas haviam passado em um misto de pensamentos nebulosos e um descanso inquieto, revirando na cama como se as próprias sombras da noite o sufocassem.
Quando chegou ao grande salão, esperava encontrar apenas a quietude da alvorada. As chamas nas lareiras ainda eram fracas, mal iluminando o espaço cavernoso com um brilho laranja, como se o fogo estivesse resistindo à escuridão do norte. Porém, para sua surpresa, ela estava lá.
Maera.
Ela estava de pé, com os olhos fixos no horizonte gélido que se revelava por uma das grandes janelas. O vento lá fora rugia como um lobo selvagem, mas ali dentro, ela era um contraste silencioso.
Sua figura parecia pequena diante da vastidão de Winterfell, envolta em uma capa de inverno que mal conseguia esconder o abatimento em seu rosto. Havia algo na sua postura, no modo como os ombros estavam levemente curvados e no olhar distante, que a fazia parecer quase frágil. Quase.
Jacaerys parou na entrada, observando-a por um instante, sem fazer barulho. O perfil dela, iluminado pela luz tênue da manhã nascente, tinha um quê de melancolia. A expressão dela, normalmente forte e provocativa, parecia mais suave, quase triste, como se as muralhas que ela erguia estivessem cedendo, se não por completo, ao menos por um momento.
O coração dele se apertou inexplicavelmente. Talvez fosse o cansaço da batalha, o peso das escolhas não feitas, ou a forma como Maera parecia tanto parte do lugar quanto deslocada, como se o Norte a moldasse e prisionasse ao mesmo tempo.
— Não esperava encontrar alguém acordado a essa hora. — disse ele, a voz baixa, quase se misturando ao som do vento lá fora.
— E eu não esperava estar. — respondeu ela, um leve sorriso curvando seus lábios, mas sem alcançar os olhos. — Mas algumas coisas não nos deixam dormir.
Jacaerys observou Maera em silêncio, percebendo que a aliança de casamento proposta por Cregan não era tão simples para ela quanto imaginara.
Ele sempre supôs que Maera, com sua beleza e força, pudesse aceitar aquele destino com facilidade, talvez até com certo interesse pela possibilidade de poder. Afinal, ela havia mostrado entusiasmo quando o assunto fora mencionado.
Mas agora, ao vê-la diante dele, envolta em melancolia e pensamentos que pareciam distantes demais para que ele pudesse alcançar, Jacaerys se perguntou se havia subestimado a profundidade do que ela sentia.
— Como é sua relação com lorde Cregan? — Jacaerys perguntou, a voz suave, mas curiosa. Ele já havia notado como o lorde do Norte era protetor com a irmã mais nova, e como, às vezes, ela parecia uma pirralha teimosa com ele. Mas queria ouvir o ponto de vista dela, entender o que se escondia por trás dessa dinâmica.
Maera olhou para ele por um instante, surpresa pela pergunta, mas logo um sorriso sutil apareceu em seus lábios.
— Ele é tudo o que tenho, na verdade. — Ela suspirou, os olhos voltando a se perder no horizonte. — Nosso pai está doente há muito tempo, e nossa mãe... bem, ela morreu pouco depois de eu nascer. — A voz dela ficou mais baixa, quase um sussurro, como se a lembrança carregasse uma tristeza distante, mas não menos dolorosa. — Cregan é a única família que me restou, o melhor amigo que eu tenho. Sempre foi assim.
Ela deu de ombros, mas havia uma leveza em suas palavras, um carinho evidente pelo irmão. Mesmo que houvesse choques, que o teimoso Stark a irritasse às vezes e vice-versa, o vínculo entre eles era inquebrável.
— Ele me protege, sim, até demais às vezes. — Ela riu levemente, um som que Jacaerys achou encantador. — E eu sou teimosa. Sempre fui. Mas — Maera pausou, o sorriso se desvanecendo. — Não quero decepcioná-lo. Sei que, casando com você ou com qualquer outro, terei de ir embora.— Ela hesitou e ele viu seu olhar se suavizando. — E vou sentir muita falta dele.
— Imagino que seja difícil. — murmurou Jacaerys, sem saber ao certo como consolar.
Maera, não querendo que o peso daquela conversa deixasse o ar entre eles denso demais, virou-se para Jacaerys e perguntou, com uma leveza calculada:
— E seus irmãos? Como eles são?
Seus olhos se acenderam com a menção dos irmãos, algo genuíno e caloroso iluminando seu semblante.
— Lucerys é o meu melhor amigo. — Ele falou, um brilho suave e nostálgico cruzando seu olhar. — Sempre foi. Nós crescemos juntos, inseparáveis. Sempre que penso em uma lembrança feliz, ele está nela, de alguma forma. Não consigo imaginar a vida sem ele.
Maera observava cada nuance das palavras de Jacaerys com atenção, absorvendo a profundidade de seus sentimentos.
— E Joffrey... — Jacaerys continuou, uma ternura evidente tingindo sua voz. — Ele é especial. Quando ele nasceu, foi como se trouxesse uma nova luz para todos nós. Todos ficaram tão felizes. Eu ainda me lembro da primeira vez que o segurei. — Ele deu uma risadinha suave, quase melancólica. — Eu era só um menino, mas me senti responsável por ele de uma maneira que nunca havia sentido antes.
Maera notou como os olhos de Jacaerys brilhavam ao falar de seus irmãos. Havia algo bonito naquele laço que compartilhavam.
— Viserys e Aegon... — Ele suspirou. — São bem novos ainda, mas acredito que terão um bom futuro. Mesmo com tudo que está acontecendo, com a guerra se aproximando, são espertos e curiosos. Acredito que minha mãe é boa em criar guerreiros.
O silêncio caiu entre eles por um momento, o vento do Norte sussurrando ao redor. Era como se o ar frio estivesse trazendo lembranças de tempos mais simples, mais tranquilos.
Mas Maera sentiu que havia algo mais profundo, algo que Jacaerys ainda não havia dito. Ele hesitou, seus olhos se desviando para o chão por um instante, como se pesasse cada palavra antes de falar.
— Minha mãe estava grávida antes de tudo isso acontecer. — Jacaerys começou, sua voz mais baixa, quase um sussurro que o vento carregava. Ele parou por um momento, como se a dor de lembrar fosse palpável demais. — Uma menina. Se chamaria Visenya.
Maera sentiu o peso das palavras dele, a melancolia se infiltrando no ar ao redor deles como uma sombra.
— Ela perdeu o bebê quando descobriu que o trono havia sido usurpado. — Ele continuou, sua voz grave e profunda, cheia de uma tristeza que ele havia tentado esconder. — Eu teria adorado ter uma princesinha em casa.
Maera ficou quieta, o silêncio entre eles carregado de algo mais do que palavras poderiam expressar.
O coração dela apertou, vendo a dor que Jacaerys carregava, uma dor que ele parecia ter guardado para si mesmo por tanto tempo. Lentamente, ela estendeu a mão e sem dizer uma palavra, pegou a mão dele com cuidado.
— Eu sinto muito, Jacaerys. — Maera disse, sua voz delicada, baixa e cheia de sinceridade.
Ele fechou os olhos por um momento, absorvendo a compaixão dela, sentindo que de alguma forma, ela entendia a profundidade daquela perda, mesmo sem ter vivido o mesmo.
E naquele pequeno gesto, Maera não era apenas a lady do Norte, nem uma proposta de aliança. Ela era uma alma que o compreendia em sua dor, que compartilhava daquele momento de fragilidade com ele.
Jacaerys, quase sem perceber, se aproximou um pouco mais de Maera, como se o gesto dela o tivesse atraído para mais perto. Havia algo magnético naquele momento silencioso entre eles, uma conexão que o vento do Norte parecia reforçar, em vez de dispersar.
Seus olhos estavam fixos nas mãos unidas, o toque dela trazendo um calor inesperado em meio ao frio. Maera, por um breve segundo, permitiu-se a proximidade, sentindo o peso das emoções não ditas pairando no ar entre eles.
Mas então, o som pesado de botas ecoou pelo salão e Jacaerys se afastou rapidamente, como se tivesse sido arrancado de um sonho. Ele ergueu a cabeça justo a tempo de ver Cregan Stark entrando, os olhos atentos e inquisitivos. O lorde olhou para os dois com uma sobrancelha erguida, claramente surpreso ao vê-los juntos àquela hora.
— Surpreso em ver os dois acordados tão cedo. — comentou Cregan, o tom meio descontraído, mas com um leve toque de curiosidade. Ele olhou de Jacaerys para Maera, como se tentasse adivinhar o que havia acontecido antes de sua chegada.
Jacaerys rapidamente se recompôs, inclinando a cabeça em cumprimento ao Lorde Stark, a postura agora mais rígida, como quem tentava disfarçar qualquer traço de emoção.
— Apenas refletindo sobre o dia de ontem. — disse Jacaerys, com a voz controlada, mas ainda ecoando a intensidade do momento anterior. — Muita coisa aconteceu.
Maera, por sua vez, manteve a calma, embora uma leve curva permanecesse em seus lábios, como se o desconforto de Jacaerys a divertisse de leve. Cregan, percebendo o clima entre os dois, soltou um riso curto.
— De fato, muita coisa. — Cregan disse, dando um passo à frente, agora com os olhos sobre a irmã, sua expressão suavizando um pouco. — Espero que também tenham descansado um pouco.
Jacaerys assentiu, ainda um pouco rígido, mas relaxando com a presença tranquila de Cregan. O momento anterior ainda o assombrava e enquanto observava o lorde Stark falar, não conseguia esquecer o toque suave de Maera, a intensidade daquele breve instante e como tudo parecia ter mudado sem que ele percebesse.
Maera caminhava pelos corredores de Winterfell, os passos leves ecoando suavemente contra o piso de pedra fria. O vento do Norte sussurrava através das frestas nas paredes, mas ela mal o ouvia; sua mente estava absorta em pensamentos que iam e vinham, como folhas levadas por uma brisa invisível.
De longe, avistou Jacaerys. Seu manto de lã escura balançava levemente enquanto ele cruzava o salão e se dirigia ao escritório de Cregan.
Havia algo na forma como ele caminhava, a rigidez no corpo, que fez Maera parar. Seus olhos seguiram o príncipe até ele desaparecer pela porta de madeira pesada.
Sem hesitar, ela se aproximou em passos leves, quase como uma sombra, os sentidos aguçados pelo instinto. Quando chegou à porta entreaberta, inclinou-se levemente, o suficiente para ouvir o que acontecia do outro lado.
O ambiente lá dentro parecia carregado de tensão, como se o ar em torno deles estivesse à beira de romper.
— Lorde Stark. — A voz de Jacaerys soava firme, mas havia uma hesitação que Maera, acostumada a sutilezas, conseguia perceber. — Eu pensei... bastante... sobre a proposta.
Cregan não respondeu de imediato. O silêncio era espesso, pesado como a neve acumulada nas montanhas ao redor de Winterfell. Maera prendeu a respiração, tentando captar cada palavra que viesse depois, sentindo que o que estava por ser dito não seria fácil de ouvir.
— E qual é a sua decisão, príncipe? — A voz grave de Cregan cortou o silêncio como uma lâmina de aço, calma, mas exigindo clareza.
Maera quase pôde visualizar o olhar de Cregan, penetrante e cheio de expectativa, enquanto Jacaerys respirava fundo antes de continuar.
— Eu aceito. — disse Jacaerys, e suas palavras, embora ditas com uma tentativa de firmeza, tinham uma fragilidade que Maera não esperava ouvir. — Aceito me casar com a Lady Maera.
Maera apertou os dedos contra a madeira da porta, os nós brancos, contendo um misto de emoções que não sabia nomear. Jacaerys hesitava, isso era óbvio. Ele aceitara o casamento, mas não com a confiança que Maera esperaria de um príncipe tão resoluto.
— Espero que isso mostre minha lealdade à aliança entre o Norte e a minha casa. — Jacaerys continuou, a voz mais suave agora, quase um sussurro, como se ele tentasse convencer a si mesmo, não apenas a Cregan.
Cregan pareceu ponderar as palavras de Jacaerys, e o som de seus passos ecoou brevemente enquanto ele se movia pelo escritório. Maera não precisava ver para saber que o lorde Stark estava ponderando, calculando, como sempre fazia.
— Muito bem, então. — disse Cregan finalmente, sua voz voltando a assumir o controle da situação. — Se você a aceita como sua esposa, eu aceito que essa aliança será fortalecida.
E assim, a decisão estava tomada. Maera recuou alguns passos, o coração acelerado e as mãos tremendo levemente. Ela se afastou, sem saber como se sentia.
Maera saiu do corredor com passos rápidos, mas a mente pesada. Fechou os olhos por um breve momento, permitindo-se respirar fundo, como se pudesse se livrar da tensão que a pressionava. Sabia que aquilo era necessário.
Ao se afastar, a porta do escritório de Cregan permaneceu fechada atrás dela, mas lá dentro, a conversa entre os dois homens continuava. Jacaerys ficou em pé diante de Cregan, ainda hesitante, mas com uma determinação que tentava reforçar com cada palavra.
— Vou levá-la para Dragonstone. — disse ele, sua voz soando com um tom resoluto, como se estivesse tentando não só convencer a Cregan, mas a si mesmo. — Uma vez que a Rainha Rhaenyra retome o trono, o casamento será realizado. Quando eu for rei, Maera será minha rainha.
Cregan assentiu, os olhos fixos em Jacaerys, estudando cada movimento, cada inflexão.
O lorde Stark era um homem de poucas palavras, mas havia algo em seu silêncio que pesava tanto quanto qualquer sentença. Ele parecia satisfeito com a firmeza de Jacaerys, como se o príncipe finalmente tivesse abraçado o que significava fazer parte de uma aliança verdadeira.
— Isso é o que eu queria ouvir. — Cregan disse, sua voz grave ecoando no escritório. — Um rei precisa de uma rainha forte ao seu lado, e minha irmã é digna desse título.
Jacaerys acenou com a cabeça, mas a verdade era que, enquanto falava, ele tentava apagar as dúvidas que o corroíam por dentro.
As palavras saíam com clareza, mas sua mente insistia em se questionar se estava tomando a decisão certa por vontade própria ou se estava apenas cedendo à pressão. O tempo era curto, as forças inimigas cresciam, e ele precisava de um exército para Rhaenyra. A união com Maera não era apenas uma escolha pessoal, era uma jogada necessária.
Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que havia algo mais. Algo que começava a se formar no canto de sua mente, como um feixe de luz que tentava romper a escuridão.
Com um suspiro quase imperceptível, Jacaerys ergueu o olhar para Cregan e assentiu novamente, desta vez com mais firmeza, tentando convencer a si mesmo de que estava fazendo o que era preciso.
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