𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐂𝐈𝐍𝐂𝐎
❛ Orange town and syrup village arc ❜
PARTE 3
Ouvir Luffy reclamar por dias a fio que não tinha nada para comer além de frutas era estressante e até um pouco angustiante. A única coisa que aliviava um pouco a tensão que isso causava indiretamente eram os momentos divertidos e cômicos em que a navegadora do bando tentava afogá-lo para que ele se calasse. Mas também não se podia culpá-lo por isso.
A situação em que se encontravam não era das melhores. Havia mais ou menos uma semana que tinham partido da ilha onde derrotaram Buggy e três dias desde que passaram por terra firme, onde infelizmente não havia uma civilização decente — apenas uns animais bizarros e um homem vivendo em um baú.
Se quisessem realmente ter alguma chance de chegar à entrada da Grand Line, precisavam de muito mais do que apenas um sonho, um garoto de borracha com um chapéu de palha, uma navegadora agiota, uma fotógrafa que lia jornais e um espadachim bêbado e sonolento.
No momento, estavam navegando com o barco que Nami roubou dos capangas do Buggy, já que o bote velho que Luffy, Zoro e Mai tinham desde Shells Town já tinha ido para o inferno depois que Luffy quis colocar muita coisa dentro dele. O barco atual não era muito espaçoso ou luxuoso, mas definitivamente era melhor do que o anterior. Um simples bote salva-vidas.
Então, sem dúvida, a primeira coisa em que deveriam se concentrar era em conseguir um navio que prestasse. Isso era uma prioridade.
Em segundo lugar, deveriam se preocupar em encontrar um cozinheiro competente e também armas — como canhões, por exemplo — ou ficariam muito vulneráveis a ataques inimigos e até mesmo à marinha, e morreriam facilmente de fome, já que o capitão era um boboca tapado que não sabia acender o fogão sem se queimar.
Com a cabeça apoiada nas pernas de Zoro — usando-o como um travesseiro confortável — Mai se permitiu se perder em pensamentos por um momento antes de voltar a prestar atenção na leitura do jornal que o News Coo — as gaivotas jornaleiras — haviam entregue pela manhã.
A esverdeada não sabia dizer quando adquiriu o hábito de ler jornais com tanto interesse, mas sabia que em algum momento isso seria útil, afinal, só os tolos negavam que o conhecimento também é poder.
Com seus olhos claros percorrendo as linhas impressas, ela leu a notícia de que mais um reino havia sido invadido e seu monarca destronado pelo exército revolucionário no west blue.
As páginas dos jornais estavam sempre recheadas de descrições de como os rebeldes revolucionários eram violentos. E isso deixava a Roronoa muito intrigada. Claro, assim como ela acreditava que poderiam sim existir bons piratas, também poderia haver mais do exército revolucionário que o público não sabia, deixando-a desconfiada de que nem tudo que era anunciado era a verdade absoluta.
Talvez o exército tivesse uma motivação para suas ações muito maior do que o público mundial compreendia, e o terror era a forma que o governo mundial usava para apaziguar uma possível revolta da população contra eles mesmos. Dominando constantemente as vidas de milhões e milhões de pessoas com um absolutismo baseado em manipulações, controlando a todos como marionetes com cordas finas e quase invisíveis. Sutilmente, todos eram levados a acreditar no que viam.
Era difícil saber qual lado estava certo só com esse pensamento, pois o que definia um vilão ou um herói era a perspectiva de quem narrava. Nem tudo é realmente o que parece.
Mai soltou um pequeno grunhido, inquieta. Odiava quando se perdia em pensamentos assim, pois parecia que nada que vivera ou acreditara era exatamente aquilo, e isso a deixava em uma longa crise existencial. A inquietude não passou despercebida pelo irmão mais velho, também de cabelos verdes, que abriu os olhos preguiçosos da soneca que tirava.
— O que foi? — perguntou, avaliando a expressão desgostosa no rosto da mais nova.
Dessa vez, ela não fora rápida o bastante para fingir que não era nada, então mentiu descaradamente. Não se sentia obrigada a falar sobre isso. Não quando não conseguia explicar com palavras o que sua mente elaborava tão bem. E não era como se Zoro fosse burro ou qualquer coisa assim, ele era bem inteligente e observador, mas... às vezes era difícil expressar um ponto de vista tão específico sobre algo tão complexo e profundo. Do qual não tinha provas e fundamento algum.
Ela só não queria parecer uma maluca.
— Uma pirata famosa da grand line está sendo cotada para se juntar aos shichibukai — respondeu, mudando de assunto.
Não que isso fosse mentira. Estava ali no lado esquerdo da página, onde a foto da mulher de expressão séria era estampada — inclusive, em um ângulo horrível que o fotógrafo escolheu. Dava até arrepios em Mai, como quem fez aquela fotografia era péssimo —, mas também não era o seu foco anteriormente. Zoro pareceu aceitar essa desculpa — ou talvez estivesse com preguiça demais de questionar — e apenas ouviu mais um pouco sobre a tal pirata, respondendo casualmente.
Num certo momento, Nami saiu da cabine com um mapa nas mãos e um olhar firme. Os fios alaranjados dos seus cabelos balançavam com o vento e os olhos cerrados indicavam que preocupações a atormentavam. Observando-a de lado, depois de desviar a atenção da sua leitura, Mai estava prestes a perguntar-lhe se estava tudo bem, quando ela se pronunciou.
— Escutem, se continuarmos assim nunca vamos conseguir entrar na Grand Line — exclamou de repente, chamando a atenção dos companheiros, que se ajeitaram para ouvir o que ela tinha a dizer.
Luffy, que estava sentado na proa do barco com uma maçã nas mãos, balançou a cabeça várias vezes.
— É verdade, tá faltando carne aqui. Comer fruta todo dia está me adoecendo.
Esse comentário poderia facilmente ter sido entendido como uma forma de amenizar a situação, tirar um pouco da tensão em que Nami se encontrava. Claro, se não tivesse saído da boca de Luffy. Ele obviamente não estava vendo outros assuntos importantes além de uma ausência dolorosa — na sua visão — da falta de proteína.
— Uma biritinha também cairia bem — comentou dessa vez Zoro, compartilhando do mesmo pensamento que o capitão.
Momentaneamente, Mai fechou os olhos, como se não quisesse acreditar que estava rodeada de tapados e então se sentou para tentar, pelo menos ela, levar o assunto da navegadora a sério. Como realmente era.
Depois de atirar uma maçã exatamente no meio da testa do espadachim de cabelos verdes, fazendo-o choramingar descontente, Nami cruzou os braços, ficando ainda mais séria. O fio fino da sua paciência estava prestes a partir.
— Vocês deveriam escutar com mais atenção o que a Nami está falando. Ela não está brincando. — Interveio Mai, não querendo deixar a pauta morrer.
— Exatamente. A Grand Line é o lugar mais perigoso do mundo, os piratas mais fortes estão lá atrás do One Piece — explicou ela com a mão na cintura — e eles têm navios muito maiores do que este.
— E tripulações maiores também — murmurou Luffy, devorando outra maçã.
— Nós não temos uma tripulação decente e o nosso navio definitivamente não está à altura. Não temos a menor chance de chegar lá — Comentou uma Nami já cansada.
— Não vivos, pelo menos — Mai comentou com naturalidade, tendo as pernas encolhidas próximas ao peito.
Com essa fala, todos voltaram o olhar para a esverdeada, questionando como ela podia dizer algo tão trágico como se não fosse nada. As bochechas da Roronoa mais nova coraram imediatamente de constrangimento ao perceber o que tinha falado e ela discretamente desviou os olhos, assobiando e fingindo estar invisível. Fazendo-se de sonsa.
Ela não podia deixar de questionar o seu maravilhoso dom de fazer os piores comentários nas piores horas. No final ela preferiu apenas dar de ombros para isso. Não era como se estivesse mentindo, de qualquer forma.
— O que fazemos agora, então? — perguntou ela, deixando de se fazer de boba.
— Vamos encontrar um cozinheiro e um músico! — ergueu os braços para cima um esperançoso Luffy.
A afirmação do capitão deixou uma enorme interrogação estampada na expressão da fotógrafa. Beleza, um cozinheiro era o básico para a sobrevivência da tripulação mas… um músico? Sério? Para quê?
Diferente de Mai, isso pareceu divertir e fazer sentido para Zoro, que deu uma leve gargalhada. Uma leve gota escorreu na lateral do seu rosto. Como era possível que eles dividissem o mesmo neurônio?
— E então, Nami?
A navegadora estendeu um mapa, apontando para uma ilha específica ali. Ela parecia entender perfeitamente tudo naquelas linhas traçadas que deveriam guiar as pessoas pelos mares e isso fazia Mai ter vontade de beijar os pés dela. Sério, a alaranjada para Roronoa era como uma divindade inteligente — levando em consideração que ela não tinha o menor senso de direção.
— Há uma ilha pequena ao sul daqui. Seria ótimo se conseguíssemos um barco maior lá.
— E carne também — acrescenta Luffy.
— E claro, não podemos nos esquecer da bebida — brinca o espadachim, dando um highfive em Luffy. Porém, os dois logo reclamam ao levarem um tapa na cabeça de Mai.
— Ei, por que você fez isso, sua maluca? — eles perguntam ao mesmo tempo.
— Porque vocês são dois imbecis sem noção.
"Fala sério, esses caras que são os futuros rei dos piratas e o melhor espadachim do mundo?" — pensa consigo mesma.
[...]
Com o destino da próxima ilha já definido, a viagem não levaria mais do que duas horas. Aproveitando a oportunidade, Mai resolveu trocar de roupa. Ela usava uma calça preta comprida e uma camiseta azul-claro. Era um conjunto confortável e do seu agrado, mas o calor era intenso e ela detestava se sentir suada. Por isso, ela optou por vestir um short e uma blusa mais solta que não deixavam aquela sensação ruim de roupa colada.
"Pronto, agora me sinto uma nova mulher" — pensou consigo mesma, arrumando o cabelo, que prendeu em um coque com a ajuda de uma bandana.
Quando finalmente pisaram em terra firme, a garota de cabelos verdes não perdeu tempo e abriu um largo sorriso, alongando-se e espreguiçando-se, sem se importar com a conversa dos seus companheiros. Ela estava muito mais interessada em aproveitar o clima agradável daquela ilha — que apesar de quente tinha bastante sombra.
A ilha tinha uma estreita faixa de areia e muitas árvores no alto de um morro. Não era um lugar paradisíaco, mas era bonito e tranquilo. Havia também um pequeno desfiladeiro que provavelmente levava ao vilarejo que Nami havia mencionado.
Ao se aproximar mais dos amigos, Mai ouviu um ruído sútil vindo da mata no morro. Ela apertou os olhos naquela direção e viu uma saraivada de tiros de algum tipo de bolinha — que ela não se esforçou para entender naquele momento — vindo de todos os lados e bandeiras piratas bem amadoras sendo hasteadas entre os arbustos.
A garota ficou um pouco confusa, mas não baixou a guarda nem por um segundo. Ela não era tão ingênua assim. Logo, uma risada forçada ecoou e um sujeito magricela, de pele bronzeada e nariz avantajado apareceu, se gabando como o temível e poderoso "capitão Usopp", o homem com mais de oitenta milhões de subordinados à sua disposição.
A mão de Mai foi instintivamente para a sua cintura, com uma expressão claramente divertida diante da lorota do desconhecido. Ele era engraçado e quase convenceu Luffy com sua conversa — o que não era muito difícil, na verdade — mas Nami tinha bom senso e pôs fim à palhaçada.
Para surpresa dos três amigos, o capitão do bando puxou assunto com Usopp, dizendo conhecer o pai do rapaz, que animado os convidou para almoçar com ele na vila.
Essa foi uma das coisas mais aleatórias que Roronoa já viu, mas ela não reclamou.
Afinal, ela poderia comer de graça graças a isso.
O restaurante escolhido era um lugar simples, mas muito limpo e bem cuidado. A comida também era maravilhosa. Mai sentia que podia chorar a qualquer momento, por saborear algo de verdade depois de tantos dias se alimentando só de maçãs e outras frutas.
Era quase um alívio ver um prato repleto de carne e outros alimentos coloridos.
Enquanto se deliciava, ela também se perdia em seu próprio mundo, observando o vazio pela janela. Ela pensava em como precisava urgentemente de um álbum para guardar as fotografias que tirava em papel, já que era muito arriscado levar um material tão sensível como sua câmera para o mar. Se a perdesse, estaria quebrando sua promessa com Luffy de registrar tudo.
Era isso, assim que possível compraria um álbum.
— No que você tanto pensa? — ouviu a voz de Zoro perguntar-lhe e virou o rosto para ele, vendo-o tomar um gole de saquê. Curioso com o que ela pensava em silêncio.
— Acho que vou comprar um álbum, o que você acha? — contou casualmente ao irmão.
Zoro não entendia nada sobre fotos. Nada mesmo. Então a opinião dele não valia muito, mas para não desagradar a questão que sua irmã mais nova estava preocupada, ele respondeu:
— Acho bom, se a câmera cair no mar já era.
Mai concordou, ela também pensava assim. Ter a confirmação de Zoro para sua dúvida a deixou mais tranquila, então agradeceu com um sorriso.
— Olha, sem querer atrapalhar a conversa... — Nami interrompeu delicadamente a conversa entre Ussop e Luffy, chamando também a atenção dos dois irmãos — Você conhece alguém aqui na vila que possa nos emprestar um navio? — indagou sua dúvida, esperançosa.
— Como pode ver, nosso vilarejo é pequeno e não tem ninguém aqui com esse poder todo.
— Bom, tem uma casa bem grande lá no morro — Zoro comentou observador.
Mai franziu o cenho olhando para fora da janela novamente. É mesmo, havia uma mansão muito grande e elegante lá. Ela nem tinha reparado, mesmo que estivesse há um tempo olhando para fora.
— O dono é algum conhecido seu? Talvez pudesse nos ajudar — comentou a esverdeada, roubando um pedaço de torta do prato da navegadora que lançou um olhar ladino e repreensivo para ela.
A expressão de Ussop, de repente, se fechou repentinamente de uma forma rude e, usando a pior desculpa possível, ele simplesmente saiu do restaurante, deixando todos com uma expressão surpresa. Caso se esforçassem, poderiam ver as engrenagens de seus cérebros tentando entender uma mudança tão rápida.
— Você entendeu alguma coisa? — Ainda boquiaberta, Mai sussurrou para Nami.
— Nada — respondeu — Nadinha mesmo.
Deixando o assunto de lado por um momento — pelo menos durante a refeição — o quarteto permaneceu no restaurante, até que de repente um trio de crianças que se autodenominavam "piratas de Usopp" apareceu por lá, esperando "resgatar" o seu capitão. Mas elas se assustaram ao ver a barriga enorme de Luffy, pensando que o rapaz do chapéu de palha tinha engolido Usopp. Era um reflexo claro de suas mentes infantis e imaginativas.
— Seu capitão? — deu uma risada maquiavélica — Ele foi devorado, sem dó nem piedade — Zoro disse com uma expressão sombria e assustadora, fazendo as crianças tremerem e se abraçarem com medo.
Mai levou a mão ao rosto, incrédula. Como era possível que um homem daquela idade e daquele tamanho se divertisse assustando crianças inocentes? Só podia ser um cabeça de musgo mesmo.
— Para de assustar eles, seu cabeçudo, são só crianças. — A fotógrafa reclamou, olhando de lado com irritação para o irmão mais velho.
— O quê? É divertido — ele deu de ombros inocentemente, como se não tivesse feito nada. Ignorando completamente o olhar reprovador.
Depois que a Roronoa mais nova acalmou gentilmente os pirralhos e explicou que Usopp tinha saído do restaurante de repente, ela conseguiu convencê-los — na verdade, suborná-los com doces — a levá-los até a casa da senhorita Kaya — a mulher que descobriu ser a dona da mansão no topo da colina. Durante as conversas que tiveram no caminho, as crianças contaram muitas coisas sobre Usopp e Kaya. Entre elas, que os dois passavam muito tempo juntos, e que Usopp contava histórias fantásticas — e mentirosas — para animar o dia dela, já que ela ficou muito triste e doente depois da morte dos seus pais.
Mai escutava tudo com atenção, encantada. Parecia uma história digna de um romance. Talvez fosse muito sonhador da parte dela, mas ela se perguntava o que o narigudo sentia realmente pela moça com quem ele conversava. Se eles eram apenas melhores amigos ou se havia algo mais.
Ela definitivamente precisava parar de ler livros de romance.
— E a senhorita Kaya fica melhor com a companhia do Usopp? — A esverdeada perguntou enquanto caminhava de braços dados com Nami, que achava engraçado o olhar sonhador da amiga — isso é muito fofo.
— Sim — eles responderam em uníssono, acenando com a cabeça.
— Então vamos lá pedir para ela arranjar um navio para nós! — Luffy sugeriu animado, assim que chegaram à imponente cerca da propriedade.
— Sua cara não treme não? — Mai cutucou Luffy, soltando-se da navegadora para se aproximar do capitão — O Usopp é especial para ela, não para nós.
— Isso é verdade, duvido que ela vá nos dar um navio assim do nada — Zoro concordou com os braços cruzados.
— Que isso, gente?! Não custa tentar, né?
Essa era realmente uma péssima ideia e, com certeza, poderia causar muitos problemas para eles. O trio de crianças até avisou sobre a segurança rigorosa do lugar, mas Luffy não prestou atenção em absolutamente nada e em segundos seus braços já estavam esticados sobre as enormes grades, pronto para invadir a casa por cima.
Com um suspiro pesado, Mai seguiu a decisão dos demais companheiros e se agarrou em Luffy, mesmo que isso tinha a possibilidade de dar muita merda. Eles voaram por cima da cerca quando Luffy se soltou e aterrissaram de forma desajeitada no chão terroso.
Bom, pelo menos para eles foi assim.
Usando seus poderes, Mai controlou a velocidade do seu pouso e evitou bater a boca no chão. Como uma boa amiga, ela também salvou Nami desse destino patético. As duas mulheres de cabelos curtos pousaram suavemente no chão e viram Zoro, Luffy e as crianças se levantarem atordoados. Elas se olharam sorrindo e deram um pequeno highfive.
Como esperado pela conversa anterior, Usopp estava ali, sentado em uma árvore não tão baixa, conversando com uma garota loira de aparência frágil — que Mai supôs ser a tal Kaya. A jovem olhou curiosa e um pouco assustada para os invasores, afinal, não era todo dia que pessoas caíam do céu depois de invadir sua casa.
Quando ela perguntou ao narigudo quem eram aquelas pessoas, ele ficou sem graça e travado um instante, mas isso passou despercebido pela garota, já que ele logo inventou uma de suas mentiras habituais.
— E-eles são os novos membros dos piratas de Usopp — mentiu descaradamente.
Obviamente, Luffy desmentiu isso e, antes que a loira pudesse falar mais alguma coisa, alguém apareceu para interromper a conversa. Um homem de aparência fina e endinheirada se aproximou do grupo, fazendo Mai sentir um arrepio e o corpo ficar tenso. De repente, ela não se sentiu mais tão à vontade ali.
O tal homem era o mordomo da casa de Kaya, Klahador. Ele era extremamente rude e ríspido com suas palavras. E, como se não bastasse maltratar Luffy quando ele estava sendo gentil e educado, ele começou a proferir palavras humilhantes para Usopp, julgando-o por suas origens humildes e expondo o abandono de seu pai, que deixou sua casa, esposa e filho para se tornar um pirata.
Claro, o pai do Ussop de forma alguma estava certo mas… Qual a necessidade de relembrar isso?
O passado é algo que deve ficar intocado.
Os punhos de Mai estavam tão apertados que se suas unhas estivessem um pouco maiores, ela estaria sangrando pelos cortes. Ela estava enojada.
Aquele cara se achava tão superior por estar em uma classe social mais alta? Quem ele pensava que era para falar daquele jeito com Usopp e Luffy? Ele era apenas um empregado da casa também, nem tinha tanta moral para falar algo. Esse miserável…
Seu estômago revirava e seu subconsciente pedia para quebrar cada um dos ossos dele ali. Felizmente — ou não —, ela ainda tinha um lado racional e não fez nada, mesmo quando Usopp se enfureceu e socou a cara do mordomo ou quando eles foram expulsos aos pontapés. Ela resistiu ao estranho instinto que pedia para fazer o contrário.
Com passos mais firmes do que o necessário, ela e os amigos se afastaram da propriedade. A expressão no rosto da mais nova quase fez Zoro rir. Era engraçado como a cara dela se contorcia quando ficava nervosa.
— Você vai velha rápido assim — ele disse, caminhando ao lado dela.
— Hm? — ela perguntou confusa, sem entender do que ele estava falando.
— Você está com a cara toda esquisita — ele segurou uma risada — vai ficar cheia de rugas.
Mai o encarou sem emoção por um instante olhando-o de cima a baixo como se julgasse todos seus pecados, mas logo desviou o olhar.
— Aquele homem, o mordomo — ela disse, sem olhar diretamente para ele enquanto se apoiava em uma cerca velha que havia ali — Acho que poucas vezes na vida vi alguém tão desprezível.
Zoro concordou com um grunhido.
— É. Não é como se nós fôssemos santos também, mas não precisava ofender a família do cara — ele comentou enquanto se sentava no chão, colocando suas katanas no colo.
Um suspiro pesado escapou da esverdeada.
As coisas tinham ficado mais complicadas do que o esperado e olha que eles nem tinham causado tanta confusão assim. Sinceramente, até que eles se comportaram bem, considerando como Luffy costumava agir e falar sem pensar.
Enquanto observava a tranquilidade daquele lugar e aproveitava a sensação agradável do vento acariciando sua pele, Mai tentava afastar uma faísca de dúvida que surgiu em sua mente nos últimos minutos.
Aquele homem...
Ele lhe causou uma sensação ruim desde o primeiro momento em que ela pôs os olhos nele e isso não fazia sentido algum, mas... pensando melhor agora. Ele não parecia estranho. Por incrível que parecesse, ele parecia familiar demais. Embora sua mente trabalhasse para se lembrar, nada vinha e isso a deixava frustrada.
A bolha de pensamentos da Roronoa foi repentinamente estourada, ao ouvir Nami chamar seu nome.
— Cadê o Luffy? — a alaranjada perguntou, questionando a amiga sobre o paradeiro do capitão.
Mai franziu a testa olhando ao redor. Já fazia vários minutos, talvez até horas que eles tinham saído da mansão e ela nem tinha notado que Luffy não estava ali. Ela estava tão presa em seus próprios conflitos internos que nem viu o tempo passar.
— Deve estar com o Usopp, não sei — ela deu de ombros.
Ela confiava em Luffy, por mais idiota e impulsivo que ele fosse, ele era muito forte e sabia se defender sozinho. Ela não sentia necessidade de se preocupar com ele.
Ele seria o próximo rei dos piratas, não é como se alguma coisa fosse acontecer tão longe do objetivo.
— Espero que ele não esteja aprontando nada — Nami disse, se acomodando sobre a cerca.
— Isso é difícil de garantir — ela comentou, arrancando um risinho da amiga.
Então, os próximos acontecimentos foram bizarros.
Uma das três crianças apareceu chorando, dizendo que tinha visto um homem estranho andar de costas. Mai estava quase ignorando, pensando que os moleques passavam tempo demais com Ussop e pegavam sua mania de mentir.
Mas... era verdade.
Em poucos segundos, o queixo dela quase caiu. Havia mesmo um homem andando de costas, o que era uma aberração. Ele se dizia um hipnotizador que estava de passagem pelo vilarejo e isso despertou uma certa desconfiança na garota.
Mai sacudiu a cabeça, tentando se livrar desses pensamentos.
O que estava acontecendo com ela? Estava desconfiada daquele homem a troco de nada. Não tinha razão para pensar mal dele. Só porque ele era esquisito? Bom, ela não sabia, então preferiu ignorar, concentrando-se em abanar o rosto para aliviar o calor que começava a fritar seus neurônios.
O clima agradável de antes agora estava sufocante. O ar até tremia, como se o chão estivesse em brasa. Por dentro, ela agradecia por ter trocado de roupa ao chegar na costa. Estaria assada agora se estivesse com suas roupas anteriores.
— Vocês não acham estranha essa demora toda, não? — Mai perguntou, sem querer parecer paranoica.
— Não... o capitão costuma ficar horas na praia quando está triste — um dos piratas de Ussop respondeu.
Mai encolheu os ombros, talvez estivesse ficando louca. O narigudo provavelmente só precisava de um tempo e Luffy estava lá para... ser ele mesmo.
Alguns minutos se passaram até o trio de pirralhos se agitar e chamar a atenção dos piratas. Um Ussop frenético — não no bom sentido — vinha correndo em direção a eles e, estranhamente, Luffy não estava junto, deixando os companheiros curiosos e um pouco preocupados, já que quando tentaram perguntar algo foram simplesmente ignorados.
— O que será que aconteceu? — Mai murmurou a pergunta, vendo o narigudo continuar sua corrida para o vilarejo.
— Vamos descobrir — Nami exclamou, descendo da cerca. Ao lado dela também estava Zoro que ajeitava suas espadas em sua faixa.
— Ei, pedaços de gente, me digam onde fica essa praia aí — o imediato exigiu, sendo logo ignorado pelas crianças que cochichavam entre si em uma rodinha — ei, me respondam logo.
Felizmente eles concordaram em guiá-los sem muita resistência e depois de alguns minutos de caminhada, já estavam parados em um penhasco com uma vista belíssima para o vasto oceano, das ondas quebrando nas pedras. A parte preocupante era que Luffy não estava lá.
A esverdeada olhava em volta: por cima da árvore, até debaixo das pedras, e simplesmente não via o capitão. Onde ele poderia ter se metido? Esse era um ótimo questionamento.
— Ei, venham aqui! — A navegadora chamou pelos companheiros, parecendo ter achado algo.
A passos rápidos, ambos os Roronoa se aproximaram dela, tomando cuidado para não tropeçar e cair lá embaixo. Ao observarem o que a navegadora tinha visto, seus olhos se abriram em surpresa.
Luffy estava caído e aparentemente desacordado.
— Temos que ir até lá — disse o espadachim.
— Como vamos descer? — Nami questionou, preocupada. — Se tivermos que dar a volta, vamos demorar muito.
Mai soltou um suspiro, ouvindo a conversa. Ela não queria fazer aquilo, pois sabia que ficaria cansada depois, mas como não restava opção, sobrou para ela.
— Fiquem perto de mim — alertou.
— O que vai fazer? — perguntou a alaranjada, aproximando-se conforme foi pedido.
— Só observem.
Após ter todos próximos a si, uma espécie de aura esverdeada rodeou o grupinho de pessoas, exercendo um tipo estranho de força. As crianças tinham os olhos arregalados, vendo aquilo. Era simplesmente diferente de tudo que já tinham visto na vida, principalmente quando começaram a flutuar lentamente até embaixo.
Mai mordiscava o lábio inferior, concentrando-se em levar todos em segurança. Era pesado. Seu ombro parecia que ia se partir a qualquer momento, suas mãos tremiam pelo peso e isso a deixava brava consigo mesma.
De que adiantava ter uma habilidade tão boa se não conseguia usá-la direito? Se não conseguia controlá-la!?
Evitando pensar nisso, ela apertou os olhos levemente, tentando se concentrar. Em poucos instantes, todos já estavam em terra firme novamente. Porém, a língua da garota de cabelos verdes estava quase pendurada, buscando desesperadamente ar para seus pulmões.
Como tinha pouco tempo de posse da Nōri Nōri no mi, ela ainda não sabia usar bem seus poderes sem gastar muita energia, por isso qualquer coisa a deixava exausta — exceto, claro, por levitar objetos leves e/ou a si mesma.
Depois de descansar por cerca de cinco minutos e recuperar o fôlego, ela se juntou aos amigos que estavam todos ao redor de Luffy, que estava inconsciente. A preocupação era se ele tinha se ferido ou se alguém tinha feito algo ruim com ele.
— Como será que ele veio parar aqui? — perguntou Nami, aflita com o capitão.
— Esse boboca deve ter caído lá de cima — respondeu Zoro, também tenso por mais que soubesse disfarçar melhor.
Mai estava prestes a verificar o pulso do Monkey D., quando ouviu leves roncos que indicavam um sono profundo. Irritada, ela suspirou. Descrente.
— Não acredito... — murmurou, cansada.
— O que foi? — o tom de voz de Nami revelava preocupação, tanto com a amiga quanto com o capitão.
— Esse idiota está dormindo.
— Que trouxa — Zoro disse em uma risada sarcástica antes de cutucar o capitão com a bainha de uma de suas espadas. Segundos depois Luffy acordou tranquilo, como se nada tivesse acontecido.
Assim que Nami terminou de dar um sermão nele, Luffy então explicou para os companheiros e as crianças sobre os planos malignos que o mordomo — que na verdade era um pirata famoso — tinha de atacar a vila naquela noite e matar a senhorita Kaya para ficar com toda a sua fortuna. Ao ouvir tudo, Mai sentiu um embrulho no estômago.
Parecia que realmente sua "intuição" estava certa sobre aquele sujeito e ele não era nada confiável. No fundo ela se sentia até um pouco idiota por não ter escutado a voz do seu coração.
Mas como poderia saber?
Ele era um desconhecido e ela não tinha bola de cristal... quer dizer. Ah, estava tudo muito confuso. O que realmente importava era que precisavam encontrar Ussop urgentemente e decidir o que fariam.
— Oioi meus queridos! Como estão?! Em primeiro lugar queria pedir desculpas por demorar tanto pra atualizar e ainda trazer um capítulo tão capenga como esse. Enfim, o que vocês estão achando da interação do bonde das maravilhas (vulgo mugiwaras haha)?
— Obrigada por estar aqui, sua presença me deixa extremamente feliz! <3
— Deixe seu voto, por favor ✨
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