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𝟯𝟵


Eu me permito aproveitar o abraço de Suna por cinco segundos. Sei que não posso esperar que ele mude de um dia para outro, mas pelo menos deveria tentar um pouco mais. Foi lindo ouvir ele dizer que lutaria por mim e começaria do zero. Mas me ignorar por uma semana? Péssima jogada. Ele parece ter algum problema para usar o bom senso ou talvez nunca tenha tido que usá-lo com outras garotas.

Vivendo e aprendendo...

Talvez Suna nunca tenha precisado se esforçar com as mulheres. Um único olhar de seus olhos lindos, além daquele sorriso malandro, é mais do que o suficiente para tirar a calcinha de qualquer garota. Eu sei, me incluo nessa também, mas estou tentando sair dessa lista a um tempo.

Ignorando os protestos do meu coração e indo contra os hormônios burros que sei que estão cada vez mais alegres com a proximidade de Suna, dou um passo para trás, empurrando-o para longe. Quando meu olhar encontra o amarelo dos olhos dele, posso ver a confusão nadando na superfície. Isso é tão difícil. Pigarreio.

⎯ O que você está fazendo aqui?

Ele franze as sobrancelhas ao escutar o tom frio da minha voz.

⎯ Vim te ver.

Sorrio.

⎯Bom, já me viu, tenho que ir. -dou meia-volta e começo a caminhar em direção aos meus amigos.

Suna segura meu braço, fazendo-me girar de volta para ele.

⎯ Ei, espera.

⎯ O quê?

Seus olhos examinam cada detalhe do meu rosto.

⎯ Você está brava comigo.

⎯ Não.

⎯ Está, sim.

Ele dá aquele sorriso torto de que tanto gosto.

⎯ Você fica linda quando está com raiva. -paro de respirar por um segundo.

O que eu deveria responder depois disso?

Seja forte, [Nome]. Lembra quando você decidiu desistir de comer chocolate porque dava muita acne? Foi difícil, mas você conseguiu.

Suna é o chocolate.

Você não quer espinhas.

Mas é tão gostoso.

Espinhas doem!

Sem saber o que dizer, dou outro sorriso meio torto.

⎯ Desculpa, meu bem, essa foi uma semana... -o sorriso desaparece. ⎯ Bastante complicada.

O semblante brincalhão de Suna é substituído pela tristeza que ele luta para esconder. Quero perguntar se aconteceu alguma coisa, mas tenho a sensação de que ele não vai me contar.

⎯ Tudo bem, você não me deve explicações, afinal de contas, somos só amigos.

No momento em que as palavras saem de minha boca e vejo o impacto que têm sobre ele, me arrependo. Eu o machuquei, mas não era minha intenção, só queria fazer uma piada para aliviar a tensão. Suna umedece os lábios como se tentasse ignorar o que eu acabei de dizer.

⎯ Bom, na verdade eu vim te buscar. Queria sair com você hoje.

⎯ Já tenho planos, desculpa. -suna dá uma olhada nas pessoas atrás de mim.

⎯ Com eles?

⎯ É, vamos comemorar porque passamos em uma prova.

Suna franze a testa.

⎯ Mas geralmente não passam...?

Não com uma nota tão alta como a de hoje.

⎯ Ah, não é isso, é só que... é sexta-feira. Você sabe, inventamos qualquer motivo pra comemorar.

⎯ Você não pode dar uma desculpa para eles e vir comigo?

⎯ Não, você tinha que ter me avisado antes.

⎯ [Nome]! -apressado, yin grita meu nome.

Suna olha para ele, analisando-o da cabeça aos pés.

⎯ Quem é ele?

⎯ Um colega de turma. Eu realmente preciso ir. -me agarrando ao autocontrole, dou um último sorriso e me afasto dele.

Estou prestes a alcançar meus amigos quando Suna aparece andando ao meu lado. E eu o encaro com um olhar de quem não sabe o que está acontecendo.

⎯ O que você está fazendo?

⎯ Vou com vocês. -informa ele. ⎯ Sou seu "amigo" também. -mais uma vez, faz aspas com os dedos. ⎯ Então também posso fazer parte de uma comemoração entre amigos.

Estreito os olhos e abro a boca para protestar, mas Suna dá um passo à frente para cumprimentar Sophia. Depois ele se apresenta a Yin, dando-lhe um forte aperto de mão.

Sophia me lança um olhar de "mas que droga...?", ao qual respondo com uma expressão confusa no rosto.

⎯ Bem, aonde vamos? -pergunta suna sorrindo, transbordando carisma.

Sophia sorri de volta.

⎯ Pensamos em ir ao café da rua principal. -suna faz uma expressão confusa.

⎯ Vocês comemoram com café?

Sophia arqueia a sobrancelha.

⎯ Sim. Algum problema?

Ele levanta as mãos pacificamente.

⎯ Não, nenhum, mas tenho bebida em casa. -oferece suna.

Rá! Tentando me levar para o seu território, idiota?

Boa tentativa.

O rosto de Yin se ilumina.

⎯ Sério?

Suna assente, encontrando um aliado.

⎯ Aham, e muito boas.

Yin olha para nós.

Sophia e eu nos entreolhamos, e é ela quem nos salva.

⎯ Vamos?

⎯ Não, obrigada, preferimos café.

Yin faz uma expressão contrariada.

⎯ Mas... -sophia agarra seu braço e crava as unhas nele.

⎯ Ai! Café! É, café é melhor.

⎯ Suna age como se estivesse desapontado.

⎯ Bom, então acho que vou ter que beber sozinho com o Atsumu.

Sophia o encara de repente.

⎯ Atsumu?

Ele põe a mão nos bolsos da jaqueta como quem não quer nada.

⎯ Sim, ele deve estar tão sozinho em casa.

Sophia hesita, e posso ver que agora ela quer ir para a casa de Suna.

Que manipulador!

Ele comprou Yin com a bebida e Sophia com Atsumu. Suas jogadas são inteligentes, devo admitir. Sophia não diz nada, mantém o olhar fixo no chão. Sei que ela não dirá que quer ir em voz alta, porque colocará nossa amizade em primeiro lugar, como sempre. Ela está deixando a decisão em minhas mãos, e por isso a amo tanto.

Yin e Sophia querem ir, e, se eu disser não, vou me sentir a vilã da história, e Suna sabe disso. Para manipular, ele é bem inteligente, mas para fazer as coisas darem certo comigo, não. Nesse quesito, seu cérebro deixa a desejar.

⎯ Está bem, vamos com ele. -informo, sem opção.

Minha casa fica aos fundos da casa dele, então posso só ir com eles, deixá-los à vontade e depois ir embora. Parece um plano simples, mas sempre que vou à casa de Suna, termino na cama com ele, ou no sofá. Algo dentro de mim diz que desta vez será diferente.

Veja como um desafio, [Nome].

No caminho para a casa de Suna, ligo para minha mãe e digo que vou estudar com a Sophia em um café. A tensão entre nós diminuiu um pouco, mas ainda tenho que avisar a ela onde estou de vez em quando.

O carro tem o cheiro dele, e, embora eu tente ignorar o que sua proximidade provoca em mim, meu corpo não mente e nem consegue controlar as próprias reações. A casa de Suna continua tão elegante quanto me lembrava. Yin não para de falar sobre tudo o que vê, e Sophia arruma o cabelo minuciosamente quando acha que alguém está olhando para ela.

Um Atsumu sorridente surge do corredor e acena para nós. Ele está muito fofo com o cabelo despenteado, calça jeans, uma camisa xadrez folgada, desbotada e aberta e, por baixo dela, uma camiseta branca.

⎯ Vocês vieram mesmo.

⎯ Ah, o estressado do jogo de futebol que gritou para toda a multidão aqui? -cumprimenta yin.

⎯ Ele é meu irmão. -explica suna.

A empregada deles, de cabelo ruivo, desce as escadas carregando uma cesta vazia.

⎯ Boa noite.

Todos respondemos, de forma educada. Suna ordena em uma voz simpática:

⎯ Tia, faz uns drinques e leva para a sala de jogos, por favor.

Ah, não, a sala de jogos não. Ele está fazendo de propósito?

Eu o encaro por um segundo, e seu sorriso malicioso me diz que sim.

Sophia e Atsumu se cumprimentam constrangidos, e me pergunto o que aconteceu entre os dois nos últimos tempos. Preciso me atualizar. Todos nós entramos na sala de jogos, e ela continua exatamente como me lembrava. A televisão grande, os vários consoles de videogame, o sofá... O sofá onde perdi minha virgindade.

A paixão, o descontrole, as sensações. Os lábios dele nos meus, as mãos por todo meu corpo, a fixação de nossos corpos nus. Sem perceber, toco meus lábios com as pontas dos dedos. Sinto falta dele, e é uma tortura tê-lo tão perto e precisar manter distância.

⎯ Está se lembrando de alguma coisa? -a voz dele me trás de volta à realidade, e eu abaixo minha mão o mais rápido possível para me virar de frente para ele.

⎯ Não.

Meus olhos procuram as outras pessoas, que estão ligando um console e arrumando tudo enquanto riem de algo que Yin disse.

⎯ Não precisa mentir. -ele chega um pouco mais perto. ⎯ Eu também me lembro desse dia quando venho aqui.

⎯ Não sei do que você está falando. -me faço de idiota e me afasto para passar por ele e ir até meus amigos.

⎯ Toda vez que me sento nesse sofá, lembro de você, nua, virgem, molhada pra mim.

Engulo em seco, desviando dele.

⎯ Para de dizer essas coisas.

⎯ Por quê? Você tem medo de ficar molhada e me deixar te comer de novo? -não respondo nada e me afasto de suna.

De repente, ficou muito quente aqui. Nossa Senhora, por que você torna as coisas tão difíceis para mim?

⎯ Ei, está tudo bem, princesa? -pergunta yin quando me aproximo do grupo. ⎯ Você está toda vermelha.

⎯ Princesa? -questiona suna, vindo até nós.

Yin sorri como um bobo.

⎯ Sim, ela é minha princesa, a dona deste humilde coração.

E assim surge o minuto de silêncio mais constrangedor do dia. Suna cruza os braços, fuzilando Yin com o olhar. Sophia e eu nos entreolhamos sem saber o que fazer. Yin continua a sorrir de forma inocente.

Atsumu nota a tensão.

⎯ Ah, Yin, você é sempre tão engraçado. Vamos jogar. -sophia muda de assunto.

Surpreendentemente, Suna segue o fluxo.

⎯ Certo. O que vocês acham de a primeira partida ser entre mim e ele?

Suna aponta para Yin e depois para si mesmo.

⎯ Você e eu? -yin pergunta.

⎯ Sim, mas uma competição sem prêmio não tem graça.

Yin se anima.

⎯ Está bem. Qual é o prêmio?

Suna olha para mim, e eu espero o pior.

Se você ganhar, pode levar três jogos originais da minha coleção.

O rosto de Yin se ilumina e em seguida ele pergunta.

⎯ E se eu perder?

⎯ Se perder, vai começar a chamar a [Nome] pelo nome. Nada de princesa ou qualquer outro apelido.

Seu tom de voz me lembra de como esse garoto pode ser frio. Yin ri alto, impressionando todos nós. Ninguém fala nada, e acho que ninguém se mexe. Abro a boca para dizer que ele não tem direito de interferir na minha vida e em como os outros me chamam, mas Yin é mais rápido.

⎯ Não.

⎯ Como é?

⎯ Se vai ser assim, então não quero jogar.

Suna abaixa as mãos.

⎯ Está com medo de perder?

⎯ Sim, e posso até não ser correspondido, mas pelo menos tenho coragem de gritar para todo mundo e não fico manipulando e criando joguinhos bestas para conseguir o que eu quero.

Ah! O que foi isso agora?

Os nós dos dedos de Suna ficam brancos, tamanha a força com que ele cerra os punhos.

Yin sorri para ele.

⎯ Homens lutam abertamente por tudo o que querem, crianças fazem desse jeito. -diz ele, apontando para suna.

Dá para ver que Suna está se segurando muito. Sem dizer nada, dá a volta e sai da sala de jogos batendo a porta. Solto um suspiro de alívio. Yin sorri para mim, como sempre.

Sophia se senta no sofá ao nosso lado.

⎯ Você é doido! Achei que fosse ter um ataque cardíaco.

Atsumu está com uma expressão que não consigo entender. Pela primeira vez, não consigo ler seu rosto meigo.

⎯ Você teve sorte, não deveria ter provocado ele assim.

Yin se levanta.

⎯ Não tenho medo do seu irmão.

Atsumu sorri, mas não de uma forma doce, é o tipo de sorriso atrevido que os Iscariote dão quando não gostam de algo.

⎯ Você fala muito de maturidade, mas acabou de provocar alguém sabendo dos sentimentos fortes dele só para sair por cima. Quem está fazendo joguinhos bestas agora? -ele pergunta com o olhar mais gélido que sua face ja teve, e rápido substitui por um doce e falso sorriso, em questão de segundos. ⎯ Ja volto.

Ele passa pela mesma porta pela qual seu irmão foi embora. Independentemente de quem esteja com a razão, Atsumu sempre vai ficar ao lado de Suna. Apesar de qualquer coisa, continuam sendo irmãos. Os enigmáticos irmãos Iscariote.

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