𝟯𝟱
[NOME] [SOBRENOME]
Vocês se lembram do desconforto que senti no café da manhã daquele dia com os amigos de Suna?
Bom, estou sentindo algo parecido, mas muito pior.
Samy passa do meu lado e vai cumprimentando todo mundo. Com as mãos na frente do corpo, entrelaço os dedos e dou uma olhada em Suna, que agora também está cumprimentando todo mundo.
E eu?
Odeio essa sensação de ser invisível, de as pessoas agirem como se eu não existisse ou não estivesse parada diante delas. Principalmente esse bando de riquinhos acostumados a olhar os outros com ar de superioridade, a julgar a roupa que você usa, se é de marca ou se está na moda. E não, não estou generalizando, há muitas pessoas com dinheiro que são humildes, como Sophia e Atsumu, mas uma olhada superficial já basta para eu perceber como as garotas desse grupo avaliam em detalhes minha roupa e fazem caretas. E os garotos? Só me observam julgando se sou bonita o suficiente para eles falarem comigo.
Sinto como se tivessem se passado anos, quando na verdade foram só alguns segundos em que estou parada aqui feito uma idiota. Tenho que me obrigar a não sair correndo, para fugir de todos esses olhares inquisidores, e aperto minhas mãos de nervoso.
Queria poder dizer que é Suna quem se vira e vem até mim, mas não é. Samy foi a única que se comoveu com minha situação lamentável.
⎯ Vem, [Nome], deixa eu te apresentar.
Forço um sorriso simpático enquanto ela me apresenta a todos. Há três garotas, a de cabelos pretos se chama Ari, a loira ao seu lado é Luna, e a outra é aquela menina que vi na festa do time de Suna e que tomou café da manhã conosco há algumas semanas. O nome dela é Aime. Há outros dois garotos, além de Greg, Nathaniel e Antony. Um loiro de feições árabes, que se apresenta como Zanin, e um menino de óculos que se chama Rhonny. Sei que é possível que eu não vá lembrar esses nomes todos, mas não importa.
Dou uma olhada em Suna, que foi se sentar perto de Ari do outro lado da mesa. Tenho que me contentar em ficar ao lado de Samy, que foi a última a se sentar; antes dela está Rhonny, e eles parecem estar falando sobre algum show. Fico igual a uma trouxa olhando Suna, que continua conversando animadamente com Ari.
Meu estômago se contrai com o peso da decepção. Foi para isso que você me trouxe aqui? Para me deixar de lado e se divertir com crushes do passado? Baixando os olhos, vejo um copo na mesa à minha frente e luto contra a amargura em meu peito, um sentimento que me causa um aperto e muita angústia.
Dói muito...
Criei tantas expectativas para esse encontro, meu primeiro com ele. Pintei tantos cenários diferentes na cabeça, desde cenas românticas até uma simples ida ao cinema, quem sabe até só ficar no carro dando umas voltas pela cidade e conversando. Mas não foi nada disso que aconteceu.
Aqui estou, sentada, e ele lá do outro lado da mesa, distante de mim como no início de tudo. Quanto mais perto eu chego dele, mais a distância aumenta. A tristeza é devastadora, e eu me esforço para impedir que lágrimas brotem em meus olhos. Todos ao redor estão conversando, rindo, compartilhando histórias, e eu estou sozinha. É como se estivesse apenas assistindo à cena de fora.
Este é o mundo dele, a zona de conforto dele, não a minha. E Suna me deixou sozinha, sem a menor preocupação. Ele nem me olha, nem sequer uma vez. Já não consigo conter as lágrimas. Com a visão borrada, olho para minhas mãos no colo, tendo a visão do vestido que escolhi com tanto cuidado. Para quê?
Levanto-me e Samy se vira para mim, mas apenas sussurro:
⎯ Vou ao banheiro.
Passando em meio a uma multidão dançando, deixo as lágrimas escorrerem pelo rosto. Sei que todos estão muito ocupados se divertindo e nem vão reparar em mim. A música vibra e só diminui quando chego ao banheiro. Entro numa cabine e me permito chorar em silêncio. Preciso me acalmar, não quero ser a dramática que faz cena pelo que considerariam ser uma bobagem. A questão é que esse encontro significava muito para mim, e a decepção me dói demais.
Denovo. Denovo a mesma coisa que já deveria estar óbvia para mim a tanto tempo.
Eu devia ir embora. Mas como?
O lugar fica afastado da cidade. Um táxi seria uma fortuna, e não quero incomodar a Sophia de novo. Sei que ela viria sem se queixar, mas não quero atrapalhar sua noite, já a incomodei demais. Talvez eu só deva aguentar até todo mundo se cansar e logo iremos embora. Respirando fundo, saio da cabine do banheiro. Para minha surpresa, a garota de cabelos pretos, Ari, está parada em frente ao espelho, com os braços cruzados, como se estivesse me esperando.
⎯ Está tudo bem?
⎯ Sim.
⎯ Adoraria dizer que você é a primeira garota que vejo chorando por causa do Suna. -ela suspira com tristeza, como se já tivesse passado por isso. ⎯ Mas não seria verdade.
⎯ Estou bem. -afirmo, lavando o rosto na pia.
⎯ Certo, então, pequena obcecada.
Sinto um aperto no peito.
⎯ Como foi que você me chamou?
⎯ Pequena obcecada. -repete, cruzando novamente os braços. fico petrificada e ela percebe. ⎯ Ah, sim, todos nós sabemos das suas habilidades em perseguir o Suna. Ele sempre contava, morrendo de rir, que a coitada da vizinha tinha uma obsessão inacreditável por ele. Ai...
Preciso sair daqui.
Fugindo do banheiro, tento mais uma vez conter as lágrimas. Quero sair desse lugar, preciso de ar fresco, de algo que aplaque minha tristeza. Sei que Ari só queria me ferir, me tirar do seu caminho, mas isso não significa que suas palavras não tenham me machucado, porque a verdade é que Suna não me deu bola hoje e acho uma crueldade ele ter contado para os amigos sobre minha obsessão por ele.
Saio do bar e o frio do outono me atinge; com as mãos tremendo, pego o celular e ligo para Sophia. Meu coração dispara quando me dou conta de que o telefone dela está desligado. Há algumas pessoas do lado de fora, fumando e conversando. Abraçando meu corpo para espantar o frio, desço a rua e continuo tentando o número de Sophia, com a esperança de que ela me atenda logo.
SUNA ISCARIOTE
Ari continua me contando sobre uma de suas viagens, mas estou distraído. [Nome] está demorando muito no banheiro. Será que ela está bem? Talvez a fila esteja grande. Se bem que Ari foi ao banheiro há pouco tempo e já voltou. Interrompo sua história.
⎯ Você viu a [Nome] no banheiro?
Ari assente.
⎯ Vi, sim. Ela estava lavando o rosto, mas logo a perdi de vista.
Sorrio para ela, olhando para onde [Nome] deveria estar sentada. Alguma coisa está errada. Talvez eu esteja paranoico, mas estou com uma sensação estranha no peito. Vou até Samy.
⎯ Pode vir comigo para ver se [Nome] está bem? Ela está demorando muito no banheiro.
⎯ Sim, vamos. Eu estava me perguntando a mesma coisa.
Quando chegamos aos banheiros, Samy entra e eu fico esperando do lado de fora. Então ela sai com uma cara assustada.
⎯ Está vazio. Completamente vazio.
Sinto um aperto no peito e sei que é preocupação.
⎯ Então cadê ela?
Foi embora...?
Essa ideia atravessa minha mente, mas eu ignoro. Por que ela iria embora? Não, ela não iria, não teria com quem ir, e não teria razão para isso. Ou teria? Samy nota minha expressão confusa.
⎯ Talvez esteja do lado de fora ou na varanda, tomando um pouco de ar fresco.
Sem pensar duas vezes, deixo Samy e procuro [Nome] por todo canto.
Não está aqui.
Nem ali.
O desespero me domina quando minha mente começa a analisar cada detalhe da noite, seu olhar nervoso, a forma como mexia os dedos, de pé diante de todo mundo antes de sentar. E logo depois, quando se sentou ao lado de Samy e ficou me procurando com o olhar, havia um evidente vislumbre de decepção e tristeza em seus lindos olhos. Como não percebi? Como ignorei todos esses sinais e não fiz nada?
Porque você é um idiota que não está acostumado a pensar nos outros.
Minha mente me fisga com sua sinceridade nitidamente direta.
Sem fôlego, saio do bar, meus olhos procurando desesperadamente a garota que faz meu coração disparar dessa maneira. Fico torcendo para que ela não tenha ido embora, mas não poderia julgar se ela tiver ido. Estraguei tudo de novo.
Nas laterais do bar, só há duas ou três pessoas fumando. Dou uma olhada nos dois lados da rua: está vazia.
⎯ Não...
Ela não pode ter ido embora. Com quem?
Sei que se não conseguir encontrá-la, eu a perderei. Ela já perdoou tanta coisa que fiz... E sei que seu coração por maior que seja não poderá me perdoar de novo. Passando a mão pelos cabelos, disponho-me a dar uma última olhada no meu entorno, procurando-a.
[Nome], onde você está?
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