𝟯𝟰
Suna me convidou para nosso primeiro encontro e não sei o que vestir.
Este não é um daqueles típicos momentos de indecisão de alguém que tem um monte de roupas e não sabe qual escolher. Literalmente não tenho o que vestir, está tudo pendurado no varal, porque minha mãe lavou todas as minhas roupas e só deixou no armário o que eu não uso, e é óbvio que não uso por uma razão: não cabem em mim ou simplesmente já partiram dessa para uma melhor (em outras palavras, as peças estão rasgadas ou transparentes de tão desbotadas). Por que Suna tinha que me chamar para sair logo hoje?
Ainda me lembro daquela voz doce no telefone, quando ele me pediu que, por favor, desse uma fugidinha do castigo. Como eu poderia dizer não? Obviamente não pensei direito quando respondi que sim. A única pessoa que pode me salvar é Sophia.
Quando ligo, ela atende no terceiro toque.
⎯ Funerária da Garota Stalker e presa, em que posso ajudá-la?
⎯ Até quando você vai fazer isso, Sophia? Já te falei que não é engraçado.
Ela solta uma risadinha culpada.
⎯ Eu acho engaçado. O que houve, resmungona?
⎯ Preciso que você venha aqui.
⎯ Você não está de castigo?
⎯ Estou. -diminuo a voz. ⎯ Mas vou fugir.
⎯ O quêêêêê? Como assim? -sophia exagera no tom.⎯ Bem-vinda ao lado sombrio da Força, irmã.
Solto um suspiro.
⎯ Você está louca. Vem para cá, mas me espera na esquina da minha rua.
⎯ Certo, mas você está escondendo o motivo da sua fuga. Vai para a balada comigo hoje?
⎯ Não, tenho... planos.
⎯ Com quem?
⎯ Depois te explico. Você vem, né?
⎯ Sim. Chego aí em dez minutos.
⎯ Obrigada, você é incrível.
⎯ Me diz alguma coisa que eu não saiba. Até daqui a pouco!
Desligo e enfio travesseiros debaixo dos lençóis, para parecer que estou na cama. Faço isso apesar de saber que minha mãe não vai conferir, porque jamais imaginaria que fugi e, bem, sinceramente, até algumas horas atrás nem eu acreditaria que sou capaz disso.
Saio do quarto sem fazer barulho. As luzes de casa já estão apagadas, então dou uma conferida rápida no quarto da minha mãe, e nunca pensei que ficaria tão feliz em escutar seus roncos. Ela está dormindo pesado; teve plantão ontem à noite e provavelmente não dormiu nada até agora. Por um instante morro de remorso, mas logo um par de olhos amarelados invade minha mente e isso é motivação o suficiente para sair de casa.
Já na rua, o frio me atinge com força. Sempre esqueço que o verão escaldante já passou. Não trouxe casaco, então abraço meu corpo, esfregando os braços. A rua está bem iluminada e há algumas pessoas conversando do lado de fora de suas casas. Eu as cumprimento cordialmente e sigo andando.
Na esquina, tremendo de frio, me dou conta de que talvez fosse melhor ter esperado um pouco no calor da minha casa. Só se passaram seis minutos. Sophia não mora longe, mas os sinais de trânsito podem atrasá-la um pouco. Estou morrendo de frio.
Está vendo tudo o que faço por você, seu idiota instável?
Quando avisto o carro de Sophia, sinto um alívio tão grande que sorrio que nem boba. Pulo dentro do veículo, e Sophia volta feito louca para casa.
Dezoito combinações de roupas depois...
Dizer que sou indecisa é pouco. Sophia me deu muitas opções, e todas eram lindas, mas me bate a ansiedade de querer estar perfeita para ele, e nada ali me parece à altura. Sei que ele estará lindo seja qual for a roupa que escolher. Preciso me achar bonita também e nunca me arrumei de modo especial para encontrar alguém. É a primeira vez. Suna continua marcando todas as minhas primeiras vezes.
Como vou superar esse cara se ele não para de fazer isso?
⎯ Eu voto pelo vestido azul escuro longo e os saltos. -opina sophia, mastigando um doritos com a boca aberta.
⎯ Que classe... -debocho.
⎯ Fica ótimo em você e servem para qualquer ocasião. Não sabemos aonde vocês vão.
Ela tem razão. Será que iremos ao bar de Osamu ou a alguma outra casa noturna? Depois de me vestir, estou penteando os cabelos quando vejo no espelho que Sophia se levanta e vem até mim. Ela está apontando o dedo laranja de Doritos na minha direção.
⎯ Preciso te falar uma coisa.
Eu me viro, nervosa. Seu tom é sério.
⎯ O quê?
⎯ Fico muito feliz que esse idiota finalmente tenha confessado o que sente por você, mas... -ela morde o lábio. ⎯ Não esqueça que Suna já te fez sofrer muito, e não estou dizendo para guardar rancor nem nada disso, mas ele precisa lutar para merecer seu amor. Você sempre se entregou de bandeja, e ele não deu valor. Meia dúzia de palavras bonitas não bastam, amiga. Você vale muito. Deixe que Suna saiba disso e que lute para conquistar seu amor.
Sinto uma pontada no peito ao ouvir essas palavras. Sophia percebe a mudança em meu semblante e sorri.
⎯ Não, não estou tentando estragar seu primeiro encontro. Só acho que é meu dever, como sua melhor amiga, te dizer a verdade, mesmo que seja um pouco dolorosa. Você merece tudo de bom, [Nome], eu sei disso, e esse idiota precisa saber também.
Retribuo o sorriso.
⎯ Obrigada! -digo, pegando sua mão. ⎯ Às vezes me deixo levar pelos sentimentos e esqueço tudo o que já passei com ele.
Ela aperta minha mão.
⎯ Te adoro, boba.
Meu sorriso aumenta.
⎯ Também te adoro, sua tonta.
Meu celular toca. Sophia e eu trocamos um olhar rápido.
Chamada recebida
*Suna Iscariote*
Pigarreio, nervosa.
⎯ Alô?
⎯ Estou aqui fora.
Essas palavras são suficientes para acelerar meu coração.
⎯ Já saio.
Desligo e solto um gritinho. Sophia me segura pelos ombros.
⎯ Calma!
Despeço-me dela e vou até a porta com o coração na boca. Por que estou tão nervosa? Certo, calma, [Nome], não tem razão para isso. É só o Suna, você já o viu pelado.
Ótimo, agora estou pensando no Suna pelado.
Saindo à rua, avisto o carro preto parado em frente à casa. Os vidros escuros não me deixam ver nada no interior do veículo. Concentro-me em andar direito e não sei por que estou com tanta dificuldade.
Maldito nervosismo.
Quando me aproximo, faço movimentos hesitantes diante da porta. Não sei se devo abrir a do carona ou a de trás. Ele me disse que viria com Antony. Será que Antony está no banco do carona? Ou no de trás?
Meu Deus, estou tão perdida!
Fico ali que nem uma idiota, sem saber o que fazer. Pelo visto Suna nota minha indecisão, porque abre a janela e pergunta, com sua voz neutra como sempre e o rosto perfeito:
⎯ O que está fazendo?
Não tem ninguém no banco do carona. Abro a porta e entro no carro.
⎯ Eu só estava... -começo a dizer, enquanto dou uma olhada para trás e vejo antony mexendo no celular. ⎯ Antony. Oi.
Ele ergue o rosto e sorri. Quando me acomodo no banco, volto a olhar para Suna e me dou conta de que ele está me analisando dos pés à cabeça. Até que me encara com um sorriso torto.
⎯ E eu? Não vai me cumprimentar?
Umedeço o lábio. Suna está tão lindo com essa blusa branca...
⎯ Oi.
Ele arqueia a sobrancelha.
⎯ Só isso?
Meu pobre coração bate tão forte que parece prestes a saltar pela boca.
⎯ Quer mais o quê?
Num movimento rápido, Suna desafivela o cinto de segurança, me segura pelo pescoço e me beija. Sua boca se move suavemente, e seus lábios deliciosos provocam em mim uma sensação maravilhosa. Controlo um gemido quando ele suga meu lábio inferior e dá uma mordidinha.
Antony pigarreia.
⎯ Ei! Eu estou aqui!
Suna me solta e me dá um último beijo rápido, sorrindo junto aos meus lábios.
⎯ Oi, meu bem.
Ele se ajeita no banco, põe o cinto de segurança e sai com o carro. Enquanto isso, fico ali paralisada, com as pernas bambas feito gelatina. Ai, meu Deus, o que esse garoto faz comigo com um simples beijo... Suna põe música eletrônica, e Antony se inclina para a frente, entre os dois assentos.
⎯ A Samy disse que está pronta.
A menção a esse nome me causa um frio na barriga. Suna faz uma curva.
⎯ Passamos para buscá-la, então. E o Greg?
Antony mexe no celular.
⎯ Já foi com o Nathaniel.
⎯ E as meninas?
⎯ Foram com eles.
Encaro Suna e em seguida olho para Antony.
⎯ Que meninas? Além de Samy, tem outras? -antony apenas assentiu concordando.
Suna para o carro em frente a uma bela casa de dois andares com um jardim lindo. Samy está parada ao lado da caixa de correio, deslumbrante num vestido curto colado no corpo e uma jaqueta bem bonita. Suas pernas são longas e muito atraentes. Será que não está com frio?
Ela sorri para Suna, e em seus olhos se vê a adoração por ele. É óbvio que ela gosta de Suna, e eu me pergunto se também fico assim quando olho para ele. Samy se acomoda no banco de trás, e seu sorriso vacila quando me vê.
⎯ Ah, oi, [Nome].
Sorrio para ela.
⎯ Oi.
⎯ Não está com frio? -pergunta antony, preocupado, e acho curioso como seu semblante sério se desfaz toda vez que samy aparece.
⎯ Não, tranquilo.
Suna olha para ela pelo retrovisor e sorri. Sinto uma fisgada na barriga, me obrigando a me mexer um pouco no assento. É muito desagradável sentir ciúmes. Eu nunca tinha passado por isso até conhecer Suna. E saber que eles já transaram não ajuda em nada. Já se viram nus. Meu Deus, é muita intimidade para uma amizade. E, para completar, Samy ainda é louca por ele. Não sei se estou exagerando, mas uso todas as minhas forças para me manter tranquila e não deixar transparecer nada.
A voz de Antony interrompe meus pensamentos.
⎯ Já estão todos lá, vão pedir as bebidas. O que você quer beber?
Suna balança a cabeça.
⎯ Não vou beber, estou dirigindo.
Fico surpresa com a seriedade e a maturidade de seu tom, mas também satisfeita. Antony bufa.
⎯ Que estraga-prazeres! Devíamos ter vindo de táxi, então.
Suna diminui a velocidade numa rua cheia de gente. A noite pelo visto está bem animada.
⎯ Não gosto de táxi.
Ergo a sobrancelha. Ah, o menino rico não gosta de táxi. Eu nem sequer posso me dar ao luxo de andar de táxi, minha única opção é ir de ônibus. Não quero nem imaginar o que Suna acha dos ônibus. Isso me faz lembrar que vivemos realidades bem diferentes.
Antony volta a interromper meus pensamentos loucos e me pergunta:
⎯ E você, [Nome]? O que quer beber?
Fito Suna, que segue concentrado no caminho. Posso sentir o olhar de Samy em mim.
⎯ É, bem, eu... -aperto as mãos no colo. ⎯ Vodka?
⎯ Você não me parece muito certa disso. -comenta antony. ⎯ Bem, vodka, então. Acho que pediram uma garrafa de uísque e outra de vinho. Vou dizer a eles para pedirem uma de vodka também.
⎯ Uma garrafa inteira?
Espero que seja para várias pessoas, não só para mim, ou vou terminar muito mal esta noite. Não, não posso me permitir passar vergonha hoje. Tenho que me comportar.
Quando chegamos, eu reconheço o lugar. É uma espécie de bar elegante que abriram há pouco tempo. Acho que não chega a oferecer concorrência ao de Osamu, porque fica bem longe do centro da cidade, enquanto o de Osamu está num ponto estratégico. Passamos pela entrada e acho estranho que o segurança não tenha pedido nossa identidade.
A primeira coisa que me surpreende são as luzes de várias cores e efeitos por todo canto. Passamos ao lado do balcão do bar, e barmans fazem malabarismo com garrafas e copos. Uau, todo mundo parece estar se divertindo muito. Subimos umas escadas decoradas com pequenas luzes coloridas até chegar a seu grupo de amigos. Esta noite vai ser interessante.
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