𝐇𝐞𝐜𝐭𝐨𝐫 𝐅𝐨𝐫𝐭 & 𝐌𝐚𝐫𝐜 𝐆𝐮𝐢𝐮 🇪🇸
·.¸¸.·♩♪♫ • 𝐋uísa 𝐂erqueira 𝐏oint 𝐨f 𝐕iew • ♫♪♩·.¸¸.·
O ambiente pesado que se instalou dentro do meu apartamento era notório desde uma ponta até à outra, cortado apenas pelo som abafado da televisão. As imagens do jogo daquela tarde ainda passavam na tela, os comentadores analisavam atentamente cada jogada que tinha liderado a vitória do Barcelona. Para Marc, porém, aquela vitória não significava nada. Ele nem esteve em campo. Nem sequer chegou perto de ser convocado.
Obsevei-o do outro lado da sala, ele estava sentado num dos sofás ali existentes. O sofá parecia pequeno demais para toda a tensão notória que crescia no peito dele. Os punhos cerrados sobre as coxas, os ombros rígidos, a perna e pé a baterem vezes e vezes sem conta contra o chão. O olhar fixo na televisão, mas perdido algures dentro de si mesmo.
Eu odiava aquele Marc.
Eu conhecia aquele olhar. Odiava conhecê-lo na verdade. A rigidez na mandíbula, o leve franzir que possuía na testa. Conhecia Marc o suficiente para saber que, quando ele ficava assim, qualquer palavra errada poderia ser um rastilho para uma bomba. Mas eu não podia simplesmente ignorar aquilo.
Suspirei, abraçando os meus próprios braços, tentando escolher as palavras.
- Marc, tens de parar com isso.
Tentei.
Ele nem sequer piscou.
- Parar com o quê, exatamente?
A sua resposta veio fria como um balde de gelo, e naquele momento desejei que fôssemos novamente apenas duas crianças de 8 anos a conhecerem-se pela primeira vez.
- Com toda essa frustração pôs jogo que te consome sempre que não és convocado.
Desta vez, ele riu. Uma risada curta, sem humor, que ressoou como os meus maiores pesadelos pelo apartamento.
- Frustração? - repetiu, de forma cínica. - Tu falas como se eu fosse uma criança a fazer birra pois não conseguiu o que queria.
Estreitei os meus olhos à medida que o encarava, cruzando melhor os braços.
- Eu não disse isso.
- Se queres saber, é o que parece. Como se eu estivesse a exagerar. Como se não tivesse o direito de me sentir assim.
Mesmo estando longe ssnti os ombros dele enrijecerem ainda mais, como se estivesse a preparar-se para uma luta que só ele sabia que estava para acontecer. Como se sentisse a necessidade de carregar o peso todo do mundo aos ombros, sem pedir ajuda.
- Tu tens todo o direito de te sentir assim, Marc. Mas não tens o direito de me tratar como se eu fosse culpada por isso.
Desta vez, ele finalmente virou o rosto na minha direção, os olhos a brilharem com uma fúria silenciosa.
Eu realmente estava a tentar salvar o nosso relacionamento, mas as atitudes dele não colaboravam.
- Eu não estou a culpar-te.
- Estás a agir como se eu estivesse errada por querer que leves as coisas de outra maneira.
Ele inclinou levemente o seu corpo para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
- Outra maneira como? Como quem?
Houve algo na forma como ele disse aquilo que fez o meu estômago revirar. Antes que eu pudesse responder, ele já parecia ter uma resposta, apenas parecia estar a escolher bem as palavras antes de as soltar na minha direção. Mas o olhar dele já tinha uma resposta.
- Como o Hector, talvez?
E durante um segundo, o meu coração parou.
- O que é que isso tem a ver?
Ele soltou um riso seco, balançando a cabeça como se já tivesse calculado que aquela seria a minha resposta.
- Ah, por favor, Luísa. Não te faças de inocente.
Pisquei durante algumas vezes, processando as palavras dele, surpresa com a acusação.
- Não estou a fazer-me de nada! Estás a meter o nome de Hector no meio de uma conversa que não tem nada a ver com ele.
Mas aquilo não o agradou, a sua linguagem corporal dizia tudo. Ele estava com ciúmes, mas para além de ciúmes ele estava irritado. Irritado por todos os últimos meses onde o melhor amigo dele esteve mais ao meu lado quando precisei do que ele esteve enquanto namorado.
- Não tem? - Ele bufou, passando uma das suas mãos pelo cabelo num gesto impaciente. - Claro que tem. Ele é o senhor "descontraído", não é? Ele nunca se preocupa com nada, nunca leva as coisas a peito, nunca nada o afeta.
Mordi o interior da minha bochecha, claramente irritada e cansada de toda aquela criancice dele.
- Tu melhor do que ninguém sabes perfeitamente que isso não é verdade. Hector preocupa-se, sim. Ele apenas... sabe lidar melhor.
Aquela última frase foi um erro. Assim que as palavras saíram da minha boca, vi os olhos de Marc ficarem frios.
- Ele sabe lidar melhor? - Repetiu, como se estivesse a digerir as palavras.
Engoli em seco, sentindo o nó na minha garganta apertar.
- Não foi isso que eu quis dizer.
- A mim pareceu me bastante que foi exatamente o que quiseste dizer. Sem tirar nem por.
A voz dele estava mais baixa agora, perigosamente calma, mas o maxilar trincado denunciava o que estava por trás de toda aquela calma.
- E sabes que mais? Talvez tu também gostasses mais se eu fosse um pouco mais como ele.
Olhei incrédula para ele, sentindo o meu sangue a ferver nas veias.
- Isso não tem nada a ver!
- Tem, sim, Luísa. - A voz dele subiu um tom, fazendo o meu nervosismo aumentar. - Tudo o que eu faço é sempre "demais", não é? Eu levo as coisas "demasiado" a sério, no teu ponto de vista eu importo me "demasiado".
- Porra, Marc! Sim! Tu importaste tanto que parece que tudo se torna uma questão de vida ou morte!
- E não é? - Abriu os braços, de forma exagerada, os olhos a brilharem de raiva. - O futebol é a minha vida, Luísa! Tu achas que eu posso simplesmente ignorar o facto de que estou a ser deixado para trás.
Senti a raiva misturar-se com algo mais. Senti um aperto no peito, uma tristeza profunda.
Ele realmente não entendia.
- Eu não disse para ignorares! Para de me tratar como uma doida e passa a ouvir-me! Eu só acho que precisas de aprender a respirar sem sentires que o mundo à tua volta vai desabar.
- Como o Hector?
Suspirei alto, fechando os olhos por um instante. Sim, talvez devesses aprender com ele a separar o futebol dos problemas do mundo real.
- Para de trazer o Hector para isto!
- Por que te incomoda assim tanto?
- Por que ele não tem nada a ver com esta história!
- Não tem? Ou tu só não queres admitir que gostas da forma como ele lida com as coisas?
- Estás sequer a ouvir-te, Marc? Estás a agir como um completo idiota!
- E tu estás a agir como se eu fosse um problema!
- Porque às vezes parece que és!
O silêncio dos minutos seguintes foi ensurdecedor. Marc ficou imóvel, os seus olhos presos aos meus. Senti o nó formar se de novo na minha garganta. Não queria ter dito aquilo. Não assim.
Ele passou a mão pelo cabelo, rindo sem humor.
- Se sou eu o problema, então por que ainda estás aqui?
Aquelas últimas palavras foram a gota de água.
Tentei falar, mas não consegui. Eu não sabia o motivo pelo qual continuava ali.
Ou talvez soubesse, e não queria admitir. Não queria admitir que, no meio daquela discussão, a imagem que mais passava na minha cabeça não era a de Marc.
Era a de Hector.
A forma como ele ria, como me abraçava, como tornava tudo mais simples, como nunca me fazia sentir que cada palavra era um passo em falso num campo minado. Adorava todos os nossos momentos, desde o mais descontraído até ao mais stressante, pois até nos mais stressantes ele sabia como os tornar calmos.
O meu peito subia e descia com a respiração acelerada. Marc olhava para mim, talvez ainda na esperança por uma resposta.
Mas eu não tinha uma.
E talvez esse fosse o maior problema de todos.
Peguei nas minhas coisas levantando-me apressadamente do sofá.
- Luísa! Luísa, onde vais!?
- Vou ter com a pessoa que não me faz passar por situações destas!
E sai do seu apartamento. Peguei no telemóvel sendo rápida para colocar o número de Hector, lágrimas a cairem dos meus olhos, sabendo que a única pessoa com quem eu mais desejava estar agora era com ele.
FIM ♡
1ª- Dependendo do resultado do jogo do Barcelona de agora ainda posto mais ummm
2ª- Beijinhos aqui da Itália para todas 😘❤️
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