·˚ ༘₊·꒰ 𝟎𝟗 ─── 𝐎ut 𝐎f 𝐂ontrol
𝐈carus 𝐅alls ─── Capítulo nove
↳ ❝ [ Fora de
controle ] ¡! ❞
5.183 palavras ↳ vote e comente ¡! ❞
OUTRA VEZ ATHENA ESTAVA NA CASA DE TONY STARK, no laboratório dele, ainda o ajudando no mesmo projeto: a aprimoração de seu traje. No entanto, ela não sentia a empolgação que sentiu da outra vez. Não importava o quanto ela se esforçasse, não conseguia tirar da cabeça que Tony estava conversando com Irina naquele dia.
Petrova se inclinou sobre a bancada, ajustando os circuitos do novo sistema de direcionamento do traje do Homem de Ferro com bastante precisão. O silêncio era quase estranho entre eles, já que normalmente, Tony falaria sem parar, explicando as melhorias no traje, provocando-a ou reclamando do seu hábito de beber quantidades excessivas de café.
— Você tá estranhamente quieta. — Ele quebrou o silêncio, sem tirar os olhos da tela enquanto revisava os dados do sistema. — Não é normal. Quer dizer, você é rabugenta, mas nunca tão calada assim. Athena não respondeu. Só girou um parafuso com um pouco mais de força do que o necessário. — Ok, então. Vai fingir que eu não existo hoje?
— Aposto que já sobreviveu coisa pior. — ela rebateu. Athena engoliu seco, ignorando o nó em sua garganta e a constante sensação de incomodo e voltou a focar no trabalho.
— Aham. Certo. — Tony cruzou os braços, estudando-a por alguns segundos. — Você dormiu bem? Tá sentindo alguma coisa? Alguma reação estranha por causa do... do que a gente descobriu no seu sangue?
— Estou ótima. — Ela respondeu rápido demais, voltando a mexer no painel do traje.
— Se tiver alguma coisa errada, pode falar. — Ele insistiu, mais sério dessa vez. — Eu não sou só seu chefe.
Isso foi o suficiente para fazê-la parar. Athena apertou os dedos ao redor da ferramenta em sua mão, tentando se concentrar na familiaridade do metal frio contra sua pele. Ela engoliu seco e se concentrou mais uma vez.
— Só estou concentrada no trabalho. — Petrova ajeitou a ferramenta na mão e tentou se concentrar no parafuso, deixando Tony Stark totalmente de segundo plano.
— Tá bom, Miss Mistério. Mas se eu descobrir que você tá escondendo alguma coisa, a gente vai ter uma conversinha séria.
— Para com isso, Stark. Você não é meu pai. Pode parar de agir como se importasse.
A tensão no ar se tornou quase palpável. Tony piscou, surpreso, e por um segundo, um silêncio pesado pairou entre eles.
— E ainda bem, porque, se eu fosse, você estaria de castigo agora. — Stark falou, ainda na tentativa falha de manter o clima leve. Porém logo, ele começou a falar algo que a muito tempo o incomodava e ainda não havia encontrado uma chance de perguntar: — Aliás... Onde estão seus pais? Você nunca fala sobre eles. E olha que eu procurei, viu? Mas não tem nenhum registro. Nada. É como se você tivesse surgido do nada.
Athena olhou para ele de contragosto, com raiva no olhar e mordeu a própria boca. Ela podia usar seu maior mecanismo: dizer algo extremamente cruel que o faria se afastar, mas ao invés disso, ela largou a ferramenta e deu as costas.
— Qual é, Petrova? — ele chamou, mas ela ignorou e continuou andando na direção da saída do laboratório até sumir do campo de visão dele. — Athena. — Ele chamou mais firme, no entanto, ela já havia desaparecido, deixando a porta entreaberta.
ATHENA DEIXOU A ACADEMIA DE BALÉ com a porta se fechando bruscamente atrás dela. Já era de noite, ela havia ficado mais tempo que o necessário, depois que suas ''mini alunas'' foram para casa, ela continuou treinando alguns exercícios extremamente difíceis. Ela queria se desafiar, era o que dizia a si própria, mas na verdade, ela queria se auto punir.
Petrova foi surpreendida pelo ar frio da noite e por isso puxou o casaco para mais perto do corpo, sua mente ainda longe e entorpecida pela exaustão dos ensaios. Pelo menos, dançar a manteve ocupada—longe da escola, longe das mensagens não respondidas do Stark e da presença de Irina que havia ressurgido não só na sua mente.
Seus cabelos estavam presos em um coque, mas ela o soltou, deixando os fios balançarem com o vento enquanto ela descia a escada em passos ritmados por mais que suas pernas estivessem doloridas. Mas, ela parou quando viu uma silhueta familiar encostada no poste de luz.
Peter Parker estava ali, balançando levemente o peso de um pé para o outro com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta, os olhos vasculhando a entrada como se soubesse que ela sairia a qualquer momento. Quando Peter a viu, seu rosto se iluminou em um sorriso aliviado.
— Ah, ainda bem. Eu já estava começando a achar que você tinha sido sequestrada por alienígenas ou algo do tipo.
— O que diabos você tá fazendo aqui?
Athena arqueou uma sobrancelha, descendo os degraus com um cansaço que não se dava ao trabalho de esconder. Ele ignorou o tom nada receptivo e deu de ombros.
— Você faltou hoje. E também não respondeu minhas mensagens. — Ele inclinou a cabeça, observando-a de um jeito que a fez sentir que ele estava analisando cada microexpressão sua. — Então, fiquei preocupado.
— Eu não preciso de uma babá, Parker.
— Ótimo, porque eu também sou péssimo com crianças.
A de cabelos pretos bufou, Peter atrás dela agora era tudo que ela não precisa. Não quando sua cabeça já estava cheia de preocupações. Ela continuou andando, passando diretamente por ele. Parker já estava acostumado, então ele apenas seguiu ela e foi só quando os tênis dele começaram a fazer barulho que ela notou que havia chovido durante a tarde.
— Você tá bem? — Peter perguntou enquanto ela seguia.
— Eu to ótima. — Ela forçou um sorriso que até parecia convincente. Peter continuou andando atrás dela.
— Tá bom... Mas então, por que você faltou? — Parker perguntou, ele estava curioso, já que era a primeira vez que Athena faltava a aula, e ela não parecia estar doente. A garota, por sua vez, nem precisou pensar na resposta.
— A instrutora principal faltou, precisei cobrir. — Disse com naturalidade, como se aquilo fosse verdade absoluta.
O Parker aceitou a resposta, ele acreditou, mas ainda parecia confuso.
— E então, por que você não responde o Sr. Stark? — Peter disse e Athena
— Ele mandou você me checar? — A pergunta soou mais como uma acusação.
Parker arregalou os olhos, Tony havia sido claro quando disse para ele ser discreto, mas pelo visto, não havia conseguido.
— O quê? Não! Quer dizer... — Ele respondeu coçando a nuca e desviando o olhar. — Não...
— Parker. — Athena disse firme, olhando para ele com um olhar que quase fez ele engasgar. Ele não gostava quando ela ficava brava com ele.
— Tá bom, tá bom! Mas olha, tecnicamente ele não mandou exatamente eu vir atrás de você. — Peter disse se atrapalhando nas palavras. — Ele só... Sabe, fez um comentário, tipo... "seria legal se alguém descobrisse se a Athena tá viva" e, bem, eu achei que talvez... Fosse uma boa ideia checar.
— Ele mandou você me checar e disse para não me contar. — Deduziu. Petrova revirou os olhos e continuou andando. Peter abriu a boca, depois fechou. Depois abriu de novo.
— Eu não confirmo e nem nego. — Ele disse finalmente e então apertou o passo para alcança-la.
— Mas ei, se ele não tivesse dito nada, eu teria vindo do mesmo jeito.
Ela estava incomodada, e não sabia exatamente o motivo. Se era a presença de Parker, os pensamentos sobre Irina e Tony, ou a enxaqueca que esta estraçalhando sua cabeça naquele momento. Mas então, ela sentiu a familiar e não tão boa sensação de que algo estava errado e que havia alguém a observando.
Parker pareceu não notar, e Athena tentou olhar para trás de canto de olho, praticamente sem mexer a cabeça.
— Vai embora, Parker. — ela disse ainda agitando descontraída.
— Não, eu vou te acompanhar até em casa. — Ele insistiu, se esforçando para parecer prestativo e quem sabe, ainda arrancar alguma informação dela. Caramba, já fazia tempo que
— Vai embora, você não entendeu ainda que sua companhia é inconveniente? — Ela girou nos calcanhares e cravou os olhos nele, sua voz cortante. Athena até tentava não pegar muito pesado com ele, mas talvez se mandasse ele ir a merda, talvez ele desistisse de a seguir. — Eu esqueci uma coisa na academia. Não me siga.
Petrova andou de volta para direção oposta a que estavam indo até agora. Se alguém estava seguindo eles, era melhor se separarem, particularmente ela não acreditava que isso tinha algo a ver com Peter e nem que ele seria útil sem seu traje de Homem-Aranha, então ela preferia o mandar para longe e enfrentar sozinha, seja lá o que fosse.
Peter ficou confuso por um momento, parte dele dizia para ele deixar ela sozinha e a outra parte para segui-lo. Mas, decidiu que já havia levado grosserias o suficiente para uma única noite. Ele era bem ciente que ela sabia se cuidar sozinha e que quanto mais ele tentava se aproximar dela, menos ela gostava dele. Honestamente, ele nem sabia o motivo de se sentir tão atraído com a ideia de continuar tentando se aproximar.
Era comum para Athena que sua mente trabalhasse mais rápido do que era considerado comum, mas ela já estava acostumada com isso, por mais que algumas vezes (na maioria) fosse algo mais prejudicial do que bom. Ela voltou para direção da academia e ao dobrar a esquina, ela viu Irina Ivanov casualmente encostada na parede, o que fez Petrova bufar.
— Que falta de educação, querida. Eu vim de tão longe e você nem ao menos me dá um abraço? — a mulher disse com a voz cheia de deboche, já que estavam a sós, nenhuma das duas precisava manter as aparências.
— O que foi? Cansou brincar de paquerar o Stark e resolveu vir pessoalmente? — Athena respondeu, ainda mantendo a voz controlada e a expressão facial casual.
— Ah, Athena, sempre com a língua afiada. Sinto falta de quando você falava menos e obedecia mais. — A mulher respondeu bufando e dando alguns passos na direção da mais nova.
— O que você quer? — Petrova perguntou sem paciência para os jogos de sua mãe.
— Não posso mais falar com você? Estou curiosa. E o menino bobão que estava te seguindo, ele é sempre assim? — Irina sorriu se aproximando da mais nova, ela parecia, de certa forma, animada. — Ele parece um verdadeiro golden retriever, não é? Tão leal, tão prestativo, aposto que para você é fácil o manipular.
Petrova não respondeu, ela já estava acostumada com os ataques pessoais que vinham da mulher, não era surpresa nenhuma que ela estivesse a seguindo e a observando. Ela não demonstrou nenhuma reação. Irina continuou.
— Quer dizer que agora dá aulas de balé? É curioso. Porque, se bem me lembro, na Sala Vermelha você era uma bailarina terrível. Sem graça, sem leveza...
— Isso é o Queens, não a Sala Vermelha e estou ensinando balé para crianças. Não treinando assassinas, não vou ameaçar ninguém se errarem um giro. — Petrova disse, ainda como se fosse a conversa mais casual do mundo.
Irina sorriu e se aproximou um pouco, a obsessão que ela sentia por diminuir Athena sempre foi inexplicável. A mulher tocou o braço da mais nova, o toque foi leve, ainda assim já era o suficiente para Athena querer revidar como sempre fazia. Seu cérebro sempre a deixava em alerta quando era tocada, mas com a Ivanov, ela nunca conseguia reagir.
Parte dela tinha certo medo, e a outra parte não queria dar tal satisfação para a mulher. Athena não se mexeu, nem mesmo quando as unhas de Irina cravaram fundo na pele de seu braço. Ela continuou sem demonstrar nenhuma dor ou incomodo.
— Você ainda era péssima no que fazia.
— E você ainda não respondeu por que está aqui. — Athena respondeu calma, ignorando a ardência na região onde as unhas de Irina estavam cravadas fundo.
— O que você quer com Tony Stark? — A mais velha disse e Petrova quase riu. Então era isso? Ela queria dar um golpe em um bilionário e achava que Athena iria ficar no caminho.
— O que eu quero com ele? — ela soltou uma risadinha nasal, quase como se o Stark realmente não importasse absolutamente na vida dele. Athena era boa em fingir, e quanto mais Irina achasse que Athena não se importava com ele, melhor. — Nada. Ele é um otário que me paga um salário para não fazer nada.
A Ivanov soltou o braço de Athena, e Petrova sentiu as gotículas de sangue se formarem na pele, ela quis levar a mão até o local e esfregar para aliviar a dor, mas não fez.
— Bom. — Irina murmurou, observando o pequeno ferimento com um sorriso satisfeito.
— E você? O que quer? Dinheiro?
A mais velha deu uma risada como se julgasse a acusação de Athena como algo infantil. Em um gesto de puro cinismo, passou a mão pelos cabelos de Athena, talvez sabendo o quão ela odiava isso.
— Quero apenas que fique longe.
— E se não? — Athena perguntou erguendo o queixo na direção da mais velha.
— Você sabe o que acontece com quem se mete onde não deve, não sabe, querida?
Athena permaneceu imóvel. Seu coração batia rápido, mas seu rosto era uma máscara de tédio absoluto.
— Eu não tenho medo de você.
— Veremos. — Foi tudo o que Irina disse antes de dar meia volta e sair.
Athena ficou para, respirou fundo algumas vezes na noite, antes de dar meia volta e continuar seu caminho para casa, sozinha e com as mãos levemente trêmulas, era difícil que alguém tivesse essa capacidade de desestabilizar ela dessa forma.
QUANDO PETROVA ABRIU A PORTA, FICOU SURPRESA EM VER AS LUZES ACESAS. Ela já estava quase na defensiva, quando Yelena saiu da cozinha segurando uma colher de pau.
— Eu estava tentando fazer um bolo, mas tá meio estranho. — Yelena disse quando viu a mais nova, ela tinha um pequeno sorriso no rosto, e falava casualmente como se não tivesse ficado vários dias sem dar um único sinal de vida.
— Você está em casa! — Athena disse animada por um momento, se aproximando da loira, que deu uma risada quando notou sua animação.
— Uau, por um momento achei que você ia me dar um abraço. — Belova riu voltando para cozinha, Fanny e Harry Styles estavam acomodados em um canto e o forno estava ligado, com o cheiro de chocolate preenchendo o local.
— Eu não abraço. — Athena revirou os olhos e puxou uma cadeira para se sentar, largando sua mochila no chão. — Mas estou feliz em te ver. Por mais que não faça nenhum sentido você sumir por dias e voltar fazendo um bolo.
— Eu precisava de um tempo. — Yelena deu ombros enquanto mexia a massa com desinteresse, ela provou um pouco e fez uma careta. — Isso aqui tá horrível.
— Você é insuportável. — Athena suspirou, passando as mãos pelo rosto.
— Eu sei. — A loira respondeu sem o menor remorso, mas depois parou para analisar melhor a postura da mais nova. — Você também sumiu hoje, não sumiu?
— Eu precisava de um tempo. — A de cabelos pretos fez uma careta, imitando a postura de Yelena.
— Um tempo do quê?
— Por que eu tenho que responder as suas perguntas se você nunca responde as minhas? — Athena revirou o rosto enquanto apoiou os cotovelos na mesa e o rosto dentre as mãos.
— Você não tem que responder nada. Responde se quiser.
Yelena foi sincera, ela não forçaria Athena falar algo que não quisesse, e a mais nova sabia muito bem disso, era por esse motivo que se sentia tão confortável na presença dela. Mas dessa vez, Athena sentia que queria falar sobre o que aconteceu.
— Eu vi minha mãe. — Ela disse finalmente, Yelena enfiou o bolo no forno de qualquer jeito e virou para olhar para Athena. — Ela tá... Por aqui, não sei se exatamente no Queens ou no norte, vi ela em ambos. E foi tão infernal quanto você pode imaginar.
— Você tá bem?
— Óbvio que sim. — Athena respondeu rápido demais, com um tom seco, como se quisesse encerrar o assunto antes mesmo de ele começar. Talvez estivesse tentando convencer a si mesma mais do que a Yelena, que não fez questão de insistir.
— O que Irina quer?
— Provavelmente dar um golpe no Tony Stark. — A de cabelos pretos respondeu dando ombros enquanto Yelena soltava uma risada sincera.
— E você não vai avisar ele?
— Por que eu faria isso? Ele é adulto... É problema dele. — Ela disse, era meio óbvio, não? Athena queria se convencer de que não precisava se meter nos problemas que não eram dela, afinal já tinha coisa o suficiente para lidar.
— Hm... Talvez porque ele paga seu salário?
— A vida continua se ele parar de pagar. — Athena afundou mais o queixo nas mãos, ela havia conseguido juntar bastante dinheiro entre as aulas de balé e o dinheiro que Tony pagava. Isso era mais um luxo do que uma preocupação, pelo menos por enquanto.
— E porque ele se preocupa com você. — Yelena acrescentou, tirando uma lata de cerveja da geladeira e dando um gole.
— Problema dele.
Yelena apenas sorriu de lado, mas não disse nada. No fundo, ambas sabiam que Athena se importava mais do que admitia.
— Você pode dizer que não se importa, mas eu sei que se importa. — Ela provocou depois de alguns segundos apenas observando Athena atentamente.
— Não me importo. — Petrova retrucou no mesmo instante e sem hesitar.
— Você está literalmente emburrada porque viu sua mãe e sabe que ela está tramando algo contra ele. Se não ligasse, não estaria irritada.
— Eu não estou irritada.
— Ah, claro. Você está perfeitamente tranquila. — Yelena zombou não conseguindo conter um sorriso divertido. — Tão tranquila que fez questão de me contar, mesmo sabendo que eu ia rir da sua cara.
— Você já tá rindo da minha cara. — A de cabelos pretos resmungou, se levantando da cadeira irritada. Como Yelena podia a conhecer tão bem?
— Pois é, porque você está sendo patética. Só admite logo que está preocupada. E que se importa o suficiente para não querer que ele caia no golpe da Ivanov.
— Não me importo. — Athena repetiu, mas sua voz saiu menos firme do que antes.
— Você se importa.
— Não me importo.
— Se importa.
— Não me importo! Se Tony Stark morresse hoje, eu não derramaria uma lágrima.
— Porra, calma ai, isso foi sombrio. — Yelena estreitou os olhos e deixou a cerveja sob a pia antes de levantar as mãos em sinal de redenção.
Os próximos minutos foram silenciosos, mentalmente Athena se perguntava se havia passado do limite. Então o cheiro de chocolate foi ficando mais forte e o forno finalmente fez um pequeno barulho indicando que estava pronto.
— O bolo está pronto. — Yelena disse enquanto vestia as luvas, abria o forno e puxava a assadeira.
O bolo não parecia exatamente bonito. Na verdade, estava meio torto, rachado no topo, e parecia ter crescido mais de um lado do que do outro. E Yelena parecia frustrada, ela tinha muitos talentos, mas desinformar um bolo claramente não era um deles.
— Sai logo, desgraça. — Ela murmurou, batendo a forma contra a pia.
— Você tem que passar uma faca nas laterais primeiro. — Petrova bufou, pegando a faca da mão de Yelena e fazendo o movimento certo.
— Ah, então você sabe alguma coisa sobre bolos. — Yelena zombou, cruzando os braços enquanto observava.
— Diferente de você, eu sei seguir um tutorial no YouTube.
Yelena revirou os olhos, mas finalmente conseguiu desenformar o bolo quando Athena terminou. Ele caiu no prato com um plop estranho. Meio deformado, mas pelo menos inteiro.
— Perfeito. — Yelena declarou, mentindo descaradamente. Ela cortou um pedaço e colocou em um prato, deu uma garfada e fez uma careta. — Tá horrível.
— Sem surpresa alguma. — Athena disse como se fosse óbvio, mas sua curiosidade falou mais alto e ela pegou um prato para se servir de um pedaço.
— Enfim. O Homem-Aranha ainda tá apaixonado por você?
— Peter nunca esteve apaixonado por mim.
— Sei... — Yelena disse desconfiada, enquanto andava até a geladeira novamente para pegar outra cerveja e tirar o gosto do bolo de seu paladar.
Na verdade, era melhor assim. Melhor que Peter não se metesse mais na vida dela. Com Irina por perto, ele não precisava estar envolvido em nada disso. Ela sentiu o estômago afundar ao se lembrar de quando deslocou o pulso dele por acidente. Parker havia tentado esconder, agir como se não tivesse doído tanto, mas Athena viu o jeito como ele segurou o braço depois, a mandíbula travada para não demonstrar nada.
Petrova encheu a boca de bolo, estava quente o suficiente para ela queimar a língua e tinha mais gosto de ovos do que de qualquer outra coisa. Mas ela engoliu, já havia comido coisa pior.
— Ele só é carente. Ele quer atenção e alguém que ele possa salvar, com toda aquele síndrome de herói.
O tom foi mais cruel do que ela pretendia, mas Athena não se corrigiu, já Yelena, por sua vez, ficou um pouco curiosa.
— Por que você sempre diz coisas cruéis sobre as pessoas quando está na defensiva?
— Eu não faço isso. — Respondeu de forma rápida e seca.
— Claro. E eu sou uma ótima confeiteira.
— Talvez eu só seja uma pessoa cruel. — Athena concluiu depois de quase um minuto mastigando em silêncio. Novamente, tentando convencer mais a si própria do que a Yelena. — E você tem razão, o bolo está horrível.
Belova observou a mais nova se levantar, dar as costas e sair andando sem olhar para trás, mas não ficou brava com ela. Yelena não era a pessoa mais compreensiva do mundo, mas, por alguma razão, se tornava algo perto disso quando se tratava de Athena.
A loira soltou um suspiro antes de começar a arrumar a bagunça da cozinha. Ela sabia que Petrova era complicada, e não a julgava por isso, afinal sabia tudo que ela havia passado, e a conhecia bem o suficiente para dizer que seu jeito de proteger as pessoas era as tratando mal para que elas se afastassem primeiro. Athena tratava a si mesmo como uma ameaça para os outros, e por isso tentava os manter longes, mesmo que por meio de palavras ou atitudes cruéis. Mas isso não significava que ela era uma pessoa ruim. Yelena queria poder ajudar mais, mas não sabia como.
DESSA VEZ, ATHENA FOI PARA ESCOLA, no intervalo ela se sentou em um canto mais afastado com a bandeja intocada à sua frente. Ela apenas brincava com o garfo enquanto aquela batata frita em formato de carinha sorridente a encarava.
O fundo era uma barulheira de conversas e gritos e ela se amaldiçoava por ter esquecido seus fones de ouvidos. Foi ai que ouviu uma voz familiar parar exatamente na sua frente e ergueu o rosto para encara-lo.
— Você sempre soube escolher os melhores lugares pra se isolar.
Athena não precisava erguer os olhos para saber que se tratava de Peter. Ele estava em pé, segurando sua própria bandeja, com um olhar que era em partes curioso.
— Vai sentar aqui? — Ela perguntou com um tom de julgamento quando finalmente olhou para ele.
— Eu estava considerando. — Peter deu um meio sorriso.
— Não. — Petrova respondeu firmemente e o sorriso dele sumiu tão rápido quanto veio.
— Não?
— Não. — Ela confirmou enquanto pegava o refrigerante e dava um gole sem olhar para ele. — Tem um milhão de mesas nesse refeitório. Vai sentar em outra.
— Qual é, Athena... — Ele deu uma risada curta, nervosa, como se não soubesse se ela estava brincando ou falando sério. — Desde quando eu preciso de permissão pra sentar com você?
— Desde agora.
— Tá bom. Entendi a indireta.
— Não foi indireta. — A garota ergueu os olhos de novo, esperando o Parker se mover, mas, por sua vez ele ainda estava hesitante, esperando que ela dissesse que estava brincando, mas com ela não disse, murmurou algo inaudível e se afastou.
Petrova esperou ele sair, mas não o seguiu com o olhar ou verificou onde ele se sentou. Ele tinha outros amigos, ficaria bem. Era melhor assim.
A garota se afundou em seus pensamentos novamente, outra vez não havia dormido muito de noite e o peso de não saber o que fazer estava começando a deixar ansiosa, embora ela não demonstrasse. Ela continuou mastigando a comida, mas não sentia nenhum gosto e seu maxilar estava travado, tornando a mastigação quase dolorosa. Foi ai, que outra vez sentiu alguém parar na frente dela e murmurou algum xingamento em russo para si mesma.
— Você tá muito sozinha pra alguém tão bonita.
Um garoto que ela não fazia a menor questão de conhecer se jogou na cadeira em frente a ela, um sorriso confiante no rosto. O cabelo dele era escuro e bagunçado de um jeito que parecia calculado, e ele usava uma jaqueta de couro, e provavelmente era mais velho que ela.
— Dá licença. — Petrova disse seca, o rapaz apenas ignorou o protesto e continuou falando.
— Eu estava te observando faz um tempo. Você tem uma vibe meio misteriosa, sabia?
— Legal. Agora vaza.
— Qual é, só estou tentando ser legal. Não precisa ser tão fria. — Ele riu, se divertindo da situação como se ela estivesse brincando.
— Não sou fria. Só não gosto de perder tempo.
— Então, em vez de perder tempo, a gente podia fazer algo útil. Tipo sair depois da aula. — Ele deu uma piscadinha charmosa.
— Eu vou falar de novo, bem devagar. Sai. Da. Minha. Mesa. — Athena disse firme, espaçando as palavras e deixando bem claro que ela não estava com humor para isso.
— Você tem namorado ou algo assim?
— Eu tenho uma paciência muito curta. — ela rebateu.
— Relaxa, não precisa ficar na defensiva. Só quero conversar... — Ele ergueu a mão e deslizou os dedos pelo braço dela, em um toque leve e atrevido. — Você não precisa agir assim. Aposto que, se me desse uma chance, ia gostar.
Ela congelou por um breve segundo, sentindo o incomodo do toque dele queimar em sua pele. O rapaz não notou nada errado a principio, mas então, em um movimento rápido viu Athena pegar a faca que utilizava para comer e apontar na direção dele.
Petrova não calculou o movimento, apenas agiu com a mão leve, ela sequer tremia. A faca estava perfeitamente pressionada em um ponto especifico abaixo da garganta dele.
— Encosta em mim de novo e eu enfio isso na sua jugular. — Petrova disse baixo, mas de alguma maneira parecia que todos a sua volta já haviam notado. Ela apenas não notou.
— Q-que porra é essa? — O menino gaguejou arregalando os olhos, sem entender o que estava acontecendo.
— Eu te avisei. Eu tenho uma paciência muito curta.
Athena retirou a faca quando viu que ele não ia fazer mais nada, mas mesmo antes que tivesse tempo de reagir, Petrova agarrou a parte de trás da cabeça dele e a empurrou com força contra a bandeja cheia de comida.
A maior parte dos estudantes começaram a fazer burburinhos ainda mais altos, finalmente chamando a atenção dela. Athena apertou mais a cabeça do garoto na comida enquanto uma garota no canto soltou um gritinho agudo, derrubando sua própria bandeja no chão. Ela pegou a faca novamente, segurando com ainda mais força e mirando no pescoço do rapaz, que estava se debatendo contra o prato.
— Athena, o que você está fazendo? Larga isso. — A voz soou atrás dela, e quanto Athena virou o rosto viu Parker, parecendo quase... assustado.
Ela soltou o cabelo do mais velho e abriu a boca para falar alguma coisa, no entanto nenhum som saiu, e antes que pudesse realmente formular uma frase, notou dois professores vindo em sua direção.
— O que diabos está acontecendo aqui? — O sr. Harrington disse com os olhos estalados, quase tão assustado quanto os outros alunos que haviam presenciado a cena.
Petrova soltou a faca e caiu no chão, ela ficou parada enquanto o garoto a xingava de todos os nomes possíveis e todos os alunos tentavam explicar a situação, um falando por cima do outro. Athena estava se odiando profundamente naquele momento, não por arrependimento, mas por saber que era a primeira vez que agia de forma tão burra.
Ela costumava ser muito mais esperta que isso, ela era uma espiã, já fora enviada para assassinar políticos sem deixar rastros para trás e agora havia simplesmente surtado na escola? Isso não era ela. Mas agora, Athena sabia que estava fodida.
PETROVA ESTAVA COLABORANDO, em partes ou o quanto era possível, agora ela estava sentada como uma condenada na sala do diretor — ao menos ela havia ido até ali de boa vontade. Ela parecia estar esperando uma sentença, mas ficava em silêncio, afinal, era assim que ela aprender a aceitar punições por erros.
— Nome e contato dos seus responsáveis. — A voz do diretor soou firme, sem paciência para enrolação.
— Preciso mesmo? — perguntou baixo, mas ainda havia uma ponta de deboche ali, por mais que não fosse sua intenção agora.
— Você está brincando comigo, Srta. Petrova? Você atacou um aluno no meio do refeitório, ameaçou-o com um objeto cortante e causou um pânico generalizado. É claro que preciso entrar em contato com seus responsáveis. Agora, passe o nome e o telefone deles.
Athena respirou fundo. Ela não podia simplesmente dizer que não tinha pais. Muito menos que seus documentos eram falsos. Nem visto americano tinha, na verdade nem certidão de nascimento.
O silêncio se estendeu, o diretor estava esperando uma resposta que aparentemente não viria fácil, então ele resolveu que teria que fazer do jeito difícil.
— Se você não me der um número agora mesmo, vou chamar a polícia.
— Era uma faca de plástico, eu não ia machucar ele de verdade! — Ela rebateu e sua voz soou com o sotaque mais russo do que soava normalmente.
— Contato do seu responsável. Agora.
Petrova soltou um suspiro exagerado e puxou o bloco de notas do professor. Utilizando uma caneta azul, ela escreveu um número de telefone.
— Meu tio. — Ela disse, como se aquilo não fosse a maior mentira que já tinha contado.
O diretor se virou, discou o número e telefone chamou, chamou e como ela já esperava, ninguém atendeu. Era um número falso, apenas para ganhar tempo, no entanto, ela estava começando a se sentir ansiosa, a sala parecia menor e ela estava começando a sentir coisas que ela não estava acostumada a lidar.
— Ele deve estar ocupado. — Athena disse com um sorriso nervoso quando o diretor se virou para ela após por o telefone de volta ao gancho.
— Que conveniente. — O diretor cruzou os braços. — Você tem exatamente uma hora para me trazer o contato real dos seus responsáveis. Ou eu chamo a polícia.
O mais velho saiu do escritório, deixando Athena sozinha. Petrova encarou seus pés, tentando varrer sua mente em busca de opções válidas, mas não estava conseguindo se concentrar. Parecia que o chão ia abrir a qualquer momento, como no sonho onde ela dançava em um vidro em cima de corpos com Dreykov a encarando. A sensação era quase a mesma, mas dessa vez não era um pesadelo.
Petrova não sabia o que estava acontecendo com ela. A garota já havia lidado com situações piores, já esteve diante de homens muito mais perigosos, já encarou a morte mais de uma vez e nunca se sentiu dessa forma. Athena sentiu o coração martelando contra as costelas, uma tontura repentina, a boca seca. Isso era ridículo. Isso era patético. Ela precisava sair dessa. Precisava pensar.
Notas:
Oie meus amores, estão bem?
Mais um capítulo! Esse demorou quase uma semana para ser escrito Meu Deus (comecei dia 13 e terminei dia 19, e na minha cabeça fazia muito menos tempo que eu tinha atualizado)
Enfim, Athena percebendo que talvez a escola seja pior que a Sala Vermelha kkkkkkkkk
Brincadeiras a parte, espero que tenham gostado do capítulo, acho que esse foi "tranquilo" o próximo será um pouco mais caótico rs
Inclusive, eu queria fazer esse ato dois em cinco capítulos, igual o primeiro, mas vai ser IMPOSSÍVEL, então esse ato vai ser maior.
Espero que tenham gostado do capitulo, não esqueçam de deixar uma estrelinha e até logo ❤️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro