𝐒𝐀𝐈𝐋𝐈𝐍𝐆 𝐓𝐇𝐄 𝐋𝐈𝐍𝐄𝐒
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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐅𝐎𝐑𝐓𝐘 𝐓𝐖𝐎
𝐒𝐀𝐈𝐋𝐈𝐍𝐆 𝐓𝐇𝐄 𝐋𝐈𝐍𝐄𝐒
OS SEGUNDOS SE PASSARAM. Allison, Luther, Diego e Viktor que estavam nas máquinas começaram a se debater. A dor era tão excruciante, que tinham a impressão de estarem revirando o próprio cérebro.
As memórias retornaram com tanta velocidade às suas cabeças, que sentiram-se tontos, fora de si e completamente anestesiados por todos os efeitos colaterais.
Lembravam-se de tudo.
Lembraram dos gritos de Celly quando ela era alvo da lavagem cerebral do próprio pai. Luther conseguiu lembrar facilmente que a havia chamado de mesquinha, e quando percebeu que as máquinas estavam sendo desligadas, se sentiu o pior ser humano do mundo.
Viktor lembrou-se do motivo pelo qual a garota passou a escrever em seu diário. Levantou da máquina com uma lágrima escorrendo do olho esquerdo.
Diego e Allison, mesmo que muito próximos da garota, só conseguiram lembrar do dia em que ela fora incriminada pelo próprio pai. Conseguiram somente lembrar-se de que Reginald havia matado Ben e a garota encontrada na missão — assim como, claro, Luther também se lembrava, e Viktor tinha memórias do que havia acontecido após aquilo.
Viktor não frequentava as missões, e quando viu que Reginald, com sua postura mais ansiosa e conturbada, chegou na Academia, notou que algo havia acontecido. Bastou Pogo trazer criança por criança — completamente desacordados para dentro de casa —, que o garotinho havia negado a si mesmo tamanha crueldade que o próprio pai poderia fazer.
Quando Viktor deparou-se com o corpo morto de Ben, sentiu seu estômago embrulhar naquela noite.
Pogo não teve permissão para falar sobre absolutamente nada com ele, e o garoto também não teve respostas do próprio pai, então, tirou suas próprias conclusões. Desesperadamente, Viktor se debateu contra o corpo de Pogo enquanto inalava clorofórmio, na intenção de que também dormisse.
No outro dia, cada criança acordou aos poucos. Cada um em um horário diferente. Primeiro, acharam que havia sido somente um sonho estranho. Entretanto, quando Reginald perguntou se poderiam manter uma boa relação apesar dos acontecimentos, fora suficiente para os filhos se rebelarem. Celeste havia sido a pior. Avançou no pai sem nenhuma piedade. A eletricidade jorrava pelos seus dedos. Ela desejava matá-lo ali mesmo. Ele nunca havia visto a filha tão descontrolada. Nenhum dos irmãos nunca haviam a visto daquela forma. A eletricidade deixou o peitoral de Reginald dilacerado, e Pogo, juntamente com Grace, tiveram que intervir e salvar a vida do velho homem, enquanto os irmãos tentavam apartar a briga e acalmar a garota.
Quando Reginald notou que não só ela, mas nenhum dos seus filhos continuaria ali após o acontecido, rapidamente teve de planejar algo grandioso. Um acordo foi feito com uma empresa de neurologia clandestina. No mesmo dia, as memórias de todos os filhos estavam alteradas, e nenhum deles nunca havia compreendido a memória que havia permanecido: Reginald Hargreeves em seu escritório, com curativos cobrindo todo o peitoral dele.
Celeste havia deixado uma marca enorme. Estava fora de controle. Não poderia mais permanecer na Umbrella Academy.
Reggie não pensou duas vezes antes de manipular cada jogada para que a garota decidisse sair por conta própria.
Agora, com os quatro irmãos tomando consciência das suas lembranças, a tensão no ambiente pareceu aumentar exponencialmente cada vez que eles se debatiam para sair do equipamento.
— Ai, caramba! — Luther ofegou. Os olhos fixos e tementes, completamente atônito com as lembranças que haviam voltado.
Allison rapidamente retirou os equipamentos de segurança, saltando da cadeira em passos rápidos. Ela tinha uma lágrima escorrendo em seu rosto, o coração palpitando ao ponto de parecer querer sair pela boca.
— Você assassinou o nosso irmão! — Ela gritou. A voz rouca, a respiração parecendo falha.
Viktor saiu das máquinas, se reunindo próximo dos irmãos em passos ansiosos.
— E a Jennifer! — Viktor completou. Balançava a cabeça negativamente, como se tentasse negar a si mesmo o que havia lembrado. Queria acreditar que tudo aquilo era loucura.
Diego, ainda desacreditado com tudo aquilo, levantou lentamente de onde estava. Os olhos completamente desapontados com as mentiras que ele havia acreditado a vida inteira.
— Filho da puta. — Ele murmurou. Lila, ao lado do marido, mesmo que não entendesse o que estava acontecendo, pôs a mão em seu ombro, o confortando.
Reginald, com olhares furiosos dos quatro e curiosos do restante, rapidamente decidiu se defender. Ele pôs suas mãos em frente ao corpo, ainda temente pelo ódio que recebia.
— Crianças, seja lá qual for a raiva que vocês sentem de mim, ela é mal direcionada. Preciso lembrar vocês de que foi o outro Sir Reginald Hargreeves que cometeu esse ato horrível? — Ele perguntou. Seus olhos passaram por cada um dos quatro que haviam tudo suas memórias restauradas.
— Do que vocês estão falando? — Lila perguntou. O rosto contorcido em uma careta, tentando entender.
— É. Devemos lembrar que não fizemos parte da Umbrella Academy? A gente quer saber! — Celeste falou, dando um passo à frente.
— Quando a gente era criança, o outro Hargreeves matou o Ben e a Jennifer! — Luther explicou. Parecia incomodado com tudo aquilo, e sua voz soou ignorante demais, até mesmo para a garota.
— E você acha que é só isso?! — Viktor reclamou. A voz alta como se tentasse expulsar todo ódio e nojo que sentia. Aguardou um pouco. Os irmãos olhando com atenção para que ele terminasse. Um silêncio permaneceu por alguns segundos. — Ele fazia lavagem cerebral na Celly.
— O quê?! — Alguns irmãos falaram em uníssono.
Cinco, quando ouviu tais palavras, cerrou o punho e travou o maxilar. Parecia não ter ouvido direito. Deu um passo a frente, suspirando. Seus olhos foram parar no rosto do mais velho na sala. Como ele pôde fazer isso?
— Do que você está falando, Viktor? — Cinco perguntou. Sua voz baixa como um murmúrio, buscando respostas concretas.
A tensão no ambiente explodiu. Antes, quase mínima comparada ao momento em que Cinco esperava respostas. Mais um silêncio. Só podiam-se ouvir as respirações pesadas dos irmãos que haviam tido as memórias restauradas.
— Ela não queria participar das missões. — Ele começou a explicar. Allison e os outros irmãos correram seus olhos para Vik, que, além de Ben, era o único que sabia sobre aquilo. — Estava sofrendo por você. Chegou um momento que ele cansou, e decidiu que fazer ela esquecer de você seria melhor.
Allison, ao lado do irmão, virou seu rosto para o pai. Sua feição contorcida em puro ódio.
— Como é que não sabemos disso?! — Ela perguntou.
— É! Do que você está falando?! — Luther reclamou.
— Eu só sei porque, depois do Pogo e da Grace, eu era o terceiro a saber um pouco mais das coisas. — Ele explicou. Olhou para Cinco, que parecia o fulminar com os olhos. Allison soltou uma risada ácida, em completa ironia e nojo da situação. — Ela teve que comprar um diário para escrever tudo o que lembrava sobre você... pois... — ele parou. Uma lágrima caindo dos seus olhos. Viktor baixou o rosto, contraindo o rosto em completa tristeza pela irmã. — ...pois se esquecia com facilidade.
— Posso afirmar que, possivelmente, ele tinha um motivo perfeitamente válido para fazer isso-
Reginald foi interrompido pelo punho de Cinco. O barulho do soco no rosto do mais velho chamou a atenção de todos ali na sala — até mesmo de Viktor, que estava olhando para os pés quando aconteceu —. Allison pôs a mão no rosto, surpresa. Diego e Luther correram para perto, a fim de impedir que Cinco fizesse algo pior.
— Cala essa boca imunda! — Cinco gritou. Reginald havia cambaleado uma distância de dois passos, pondo a mão na bochecha, que agora, tingia-se de um vermelho vivo.
— Cinco! — Celeste o repreendeu. Correu para perto do pai, segurando no ombro dele. Não queria que ele ficasse bem, realmente concordava que ele merecia aquele soco, mas se aproximou para evitar que o pai se irasse com a revolta do garoto.
— O que é isso?! — Abigail reclamou. Arregalou os olhos, pondo a mão para perto do garoto e o afastando com gentileza de perto do marido. — Na minha casa não. Querem brigar, pois briguem lá fora!
— Você tem noção do que fez?! — Cinco gritou. Avançando para perto do homem novamente. Dessa vez, Luther o segurou, para que evitasse coisa pior. — Ainda tem coragem de tentar dar uma explicação?! É por sua culpa que ela não lembrava das coisas, seu verme!
— Se acalma, Cinco. — Diego pediu. Sentia que a qualquer minuto, tudo poderia piorar.
— Me acalmar?! Me dá uma faca agora, Diego! Eu vou acabar com a vida desse miserável-
— Tente! Eu tenho certeza que o que eu devo ter feito, foi pensado com cautela, e fiz o que seria melhor para a academi-
— Pai! — Celeste arregalhou os olhos. Estava desacreditada que ele continuava a defender-se no assunto.
— Eram três crianças inocentes! — Viktor berrou. Avançou para perto do mais velho, a raiva tomou conta de si novamente, enquanto Cinco era apertado nos braços do loiro.
— Celeste possivelmente sim, mas Ben e a garota não! Se fossem deixados vivos, teriam iniciado uma cadeia de eventos cataclísmico que levaria à extinção de toda a humanidade! — Reginald argumentou. Cinco parou de se debater. O olhou com calma, mesmo que o ódio estivesse claro em seu rosto.
— Isso não explica NADA sobre a Celly! — Cinco voltou a gritar. Tentou impulsionar o corpo para frente, tentando teleportar-se, mas não funcionava como antes.
— Você não é diferente do outro Hargreeves. — Luther gritou. Sua conclusão fez os irmãos suspirarem. Seus braços ficaram mais firmes em torno do corpo do irmão, que parecia odiar estar ficando ali, preso, sem poder vingar o que Reggie havia feito com sua noiva.
— Vocês dois são psicopatas! — Diego gritou. Ele deu um passo à frente, o dedo apontando próximo ao corpo do pai. Seus olhos estavam com medo, coisa que não acontecia com frequência, devido a confiança enorme que ele tinha em si mesmo.
— Não é culpa dele. — Abigail se pronunciou. Cinco parou de se movimentar após um brusco movimento, que fora o suficiente para sair dos braços de Luther. Seu rosto em uma carranca que, além de raiva, demonstrava outras emoções. Diego entreolhou-se com Luther. — O Reg não é responsável pelo que houve com seus irmãos e aquela garota. Eu sou. — Ela confessou. Seu rosto parecia magoado. Parecia, de certa forma, realmente arrependida. — Há alguns anos, sintetizei um novo elemento. A própria essência do universo.
— A partícula chamada é de "calêndula". — Reginald se pronunciou. Cinco pareceu segurar-se para não calar a boca do mais velho com violência.
— E no mesmo momento... sem que eu soubesse, uma segunda partícula foi criada: durango. — Abigail voltou a falar. Ela juntou as mãos em frente ao corpo, envergonhada. — Quando calêndula e durango interagem, isso causa uma reação. É física essa reação. Irreversível e irrevogável, eu acho. A extinção de tudo que conhecemos.
— Purificação. — Cinco murmurou. Seus olhos atônitos. Mesmo que aquilo fosse realmente interessante, sua mente só o fazia lembrar do que Reginald havia feito com Celly.
— Quando eu percebi o que estava acontecendo, já era tarde demais para o nosso mundo.
— Foi assim que vieram pra cá... — Celeste murmurou. Parecia estar tendo suas perguntas pessoais respondidas naquele momento.
— Não tinha como saber, querida. — Reginald a acalmou. Pôs a mão no ombro dela, enquanto entreolhavam-se. Um silêncio pairou ali, até Lila se pronunciar:
— Olha, eu não quero ser babaca, não, mas o que isso tem a ver com a gente? — Ela perguntou. Levou a mão ao rosto, evidenciando um crescente estresse com a situação.
— A outra partícula está dentro da Jennifer. — Reginald deu de ombros. — Por isso, é imperativo que nenhum de vocês entre em contato com ela.
— E se a gente entrar? — Lila perguntou, de forma hipotética. Cinco respondeu de uma forma rápida, como se fosse óbvia. Naquele momento, parecia querer que aquilo acontecesse.
— Destruímos o mundo. — O garoto deu de ombros. Balançou negativamente o rosto, descrente com aquilo tudo.
— Eu já imaginava. — Lila reclamou. O silêncio ali dentro parecia estar maior. A tensão começava a se dissipar por parte dos irmãos, com exceção de Cinco.
Luther olhou para os lados, parecendo preparar-se para o que falaria.
— Ah... gente. — Ele chamou atenção. Sua mão ergueu-se para cima, a fim de dizer alguma coisa. — Eu acho que a gente tem um problema.
— Do que você está falando, Luther? — Celeste perguntou. A voz parecendo impaciente com toda aquela história de lembranças, elementos químicos e mundos acabando.
— Eles já entraram em contato... eu acho.
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Minutos após a recuperação das memórias, todos retornaram à sala de estar. Celeste andava de um lado para o outro, em completa impaciência. Diferente de Lila, que buscava entender como tudo havia acontecido.
— Eu não tô entendendo. Você deixou ele ir?! — Lila reclamou. Estava incrédula com toda a genialidade do loiro.
— Olha, como eu ia saber que o Ben estava infectado com... seja lá o que for isso. — Luther se defendeu. Mastigava um dos cupcakes presentes na tigela em sua frente.
— Eu não tô acreditando! — Celeste reclamou. Ela cruzou os braços, incomodada com tudo aquilo. Pôs a mão na testa, impaciente. — Você é um baita tolo!
Em sua volta, Diego e Lila. Mais ao fundo, Allison. Abigail na outra poltrona e Reginald quase fora da sala de estar. Luther estava sentado na poltrona em sua frente.
— Segura a onda, idiota. — Cinco pediu. Estava de pé próximo deles. Não havia falado muito desde que havia descoberto o passado de Celly. Estava quieto, pensando.
— Idiota? Eu? Sério? — A garota perguntou. A voz carregada de incredulidade. Quando olhou para Luther novamente, ele tinha uma expressão de inocência e fragilidade, que contrastava com a boca cheia de cupcakes. — Se quer xingar alguém, é melhor fazer isso com o imbecil do seu irmão! Agora pronto! A merda do mundo vai acabar em alguns dias! Como vocês podem estar tranquilos com isso?! — Celeste perguntou. Sua voz parecia ter um "quê" de desespero.
— Estamos acostumados. — Cinco deu de ombros.
— Sério?! Nem me fale! — Ela ironizou, dando alguns passos pela sala. — Primeiro, em 63
E agora, anos depois do reinício. Vocês têm alguma inclinação para o fim da vida na terra, meus parabéns.
Cinco somente bufou em irritação. A preocupação crescia nos irmãos. O garoto cruzou os braços, olhando negativamente para Luther, que claramente estava descontando a própria preocupação nos bolinhos.
— Mandou bem, Luther. Super bem. — Cinco ironizou. O garoto expirou, dando passos para o lado, na tentativa de espairecer os nervos.
— As marcas no braço dele. Como eram? — Abigail perguntou. Desde que Luther havia contado que havia visto as marcas, ela parecia interessada demais em saber como eram. Afinal, no seu planeta natal a catástrofe simplesmente chegou, e ela guardava toda culpa e curiosidade dentro de si há anos.
— Eu não sei. Pareciam com... — Luther tentou comparar a alguma coisa. Ele parou de mastigar os cupcakes para pensar, e então, falou: — Olha, pareciam um pouco com aquela coisa que o Klaus pegou quando a gente voltou de Ibiza.
Todos os irmãos da Umbrella — e Lila, que havia feito parte da viagem — soltaram murmúrios de nojo.
— Você é médico? — Diego ironizou. Cruzou os braços em frente ao peito, e alfinetou a profissão do loiro: — Ou só banca o médico em despedidas de solteira?
— Aí! Eu sou dançarino profissional! — Luther se defendeu. Voltou a encher a boca de bolinhos.
— Luther, tinha alguma coisa diferente nas marcas? — Abigail perguntou. Ela empertigou-se na poltrona, atentando-se a respostas mais específicas do homem.
— Não. Eram só vermelhas. — Ele mordeu o bolinho. — E brilhavam. — Ele parecia com os olhos desfocados, tentando se lembrar ao máximo o quão sinistro tudo aquilo era. — E pulsavam.
— Nossa. — Lila reclamou. Virou-se para o lado, incrédula em como ele poderia não ter contado aquilo antes.
— Viu uma ferida pulsando e brilhando e decidiu guardar pra você?! — Celeste perguntou. Deu um passo à frente, ficando mais próxima dele inconscientemente. Luther se assustou, achando que ela teria um novo surto de raiva.
— Não achou importante falar sobre isso? — Cinco perguntou. Seus olhos estavam sobre Luther, que não gostava dos olhares julgadores.
— Achei que tinha alguma coisa a ver com os nossos poderes voltando. Olha, todo mundo tá tendo problemas. — Ele argumentou. Depois, percebeu que poderia ser só com ele, então deu de ombros. — Eu sei que eu tô.
Reginald, que estava pensando em seu lugar, chegou ao ápice da impaciência, e retirou-se dali em breves passos.
— Já ouvi demais. — Ele reclamou. Os irmãos dirigiram suas atenções para ele. Celeste pareceu entender o que ele queria fazer em um instante, e bufou em desagrado.
Segundos depois, Reginald voltou à sala com um rifle em mãos.
— Ô! O que você está fazendo?! — Lila perguntou. Sua voz parecia preocupada. Todos presentes levantaram-se ficando em estado de alerta.
— Hora da caçada. — Reginald explicou, carregando a arma e se aprontando para sair.
— Ele vai matar o Ben outra vez! — Viktor reclamou. Sua voz parecia, de certa forma, desesperada com o que poderia acontecer.
— Caçada? Pai! Que merda! — Celeste reclamou. Estava à altura dos nervos com toda história dramática que havia surgido em sua vida há alguns dias. Primeiro, o lance dos Keepers. Depois, uma suposta purificação, que acabaria com o mundo.
— Um dos hospedeiros deve ser eliminado antes que a reação se complete. — Reginald explicou.
— Reação?! — Allison impôs, cruzando os braços. Estava ao lado da lareira chique da sala, e não demorou para demonstrar repreensão no assunto delicado. — Sabe que está falando de seres humanos, e não ratos de laboratório, não sabe?
— Reggie, por favor, escute os seus filhos. — Abigail pediu, ainda mantendo-se em seu lugar, esperando que seu pedido já tornasse a fazer efeito. — Você não pode matá-lo.
— Ela tá certa. Tem que ter outro jeito. — Luther falou. Todos os irmãos, agora mais próximos do que antes, olhavam com tensão para o mais velho.
— Eu compreendo. Se apegaram ao seu irmão, mas eu acho que vocês não compreendem o que está em jogo aqui-
Allison pegou a decoração acima da lareira. Brincou com o objeto em mãos — uma espécie de prato chique — enquanto pensava o quão seria bom jogá-lo no mais velho. Ela se entreolhou com Celeste, como se seus olhos a pedissem permissão para o que estava prestes a fazer. A garota somente concordou.
— Temos que agir antes que seja tarde demais. — Reginald concluiu. O mais velho virou-se em direção a saída, e nem conseguiu dar dois passos até Allison jogar a decoração exatamente em sua cabeça, fazendo ele cair de joelhos.
— Que tal você calar a boca?! — Allison perguntou. Um pequeno sorriso de satisfação por ter feito o que desejava. Celeste somente ergueu as sobrancelhas, cansada de tudo aquilo.
— O quê?! — Ele perguntou incrédulo. Não estava acostumado a ser destratado na própria casa, e toda essa experiência estava realmente o deixando boquiaberto.
— Já está na hora de você entender que não manda em mais nada aqui, velhote!
Quando ele fez menção em pegar a arma novamente, Viktor correu para perto de Allison, usando seus poderes para lançar a arma longe. Os poderes de Viktor se transformaram em uma aura poderosa, que envolveu o corpo de Reggie, fazendo-o sentir dor.
— Acham que essas atitudes infantis vão me impedir? — Ele perguntou. A voz carregada de sarcasmo e determinação. Ele tentou mover-se no chão, mas a aura de Viktor ficava mais forte e menos agradável a cada instante.
— Olha, eu posso pegar mais pesado com você. — Viktor ameaçou. Um sorriso de prazer se fez presente no rosto dele, enquanto emanava ainda mais os seus poderes para o corpo do mais velho, que começou a reclamar com o desconforto.
— Não! — Ele pediu.
— Viktor, por favor, não machuque ele. — Abigail pediu. Ainda mantinha-se em seu lugar, mesmo que agora estivesse muito mais preocupada com o rumo que aquelas contendas levariam.
— Por que não? Tudo o que ele faz é machucar todo mundo! — Viktor gritou. Seu cenho franzido demonstrava a crescente irritação. — O Ben, a Jennifer, a Celly, eu. Todos nós!
— Me poupe desse dramalhão! — Reginald pediu. — Uma vida não é mais importante do que um planeta inteiro!
— Mas a da sua esposa é — Viktor ironizou. Ele estava farto das hipocrisias do pai.
— Vocês meteram o nariz onde não deviam e deixaram a Jennifer escapar! Isso é culpa de vocês. — Ele falou. Ainda tentava sair de onde estava, mesmo que os poderes do homem não o permitissem. Agora, os pedaços do piso branco e reluzente começavam a desprender-se.
— Ah, não, não, não. — Viktor rebateu. — A culpa é sua! Durante toda a minha vida, tudo que eu quis era que você me notasse. Eu queria fazer parte da equipe. Em vez disso, você me tratou como se eu fosse defeituoso. E eu acreditei em você. Eu achei que você me conhecia melhor do que eu me conhecia. Mas agora eu sei que você não sabe de nada! Você é a razão disso ter acontecido! E eu não vou deixar você matar o Ben! Nem agora nem nunca! — Ele gritou. — Eu fui claro?
Celeste, que somente olhava toda a situação com cautela, preferiu se aproximar com cuidado de Viktor. Seus passos foram tão leves ali, que ele só percebeu que ela estava por perto quando a garota tocou o seu ombro. Os poderes dele pareceram desaparecer quando voltou à realidade e percebeu que estava passando dos limites.
— Está tudo bem, Vik. — Ela falou. Viktor bufou, travando o maxilar enquanto o mais velho recuperava-se.
— Você e o seu pai são dois teimosos. — Abigail reclamou. Ela deu alguns passos à frente, cruzando os braços.
Uma aura de tensão permaneceu no ambiente. Isso, claro, até que Reginald se levantasse de onde estava e ajeitasse o paletó.
Segundos depois, um segurança desceu as escadarias rapidamente. O homem tomou toda a atenção do ambiente quando aproximou-se do Hargreeves.
— Você demorou. — Reginald reclamou.
O homem, que não havia descido as escadarias para ajudar Reggie, e sim, para avisar que a operação de busca de Ben e Jennifer haviam tido sucesso, somente empertigou-se e sussurrou as informações no ouvido do seu chefe. Foi o suficiente para Reginald entender que não estavam muito longe.
— O que foi? — Viktor perguntou.
— Encontramos eles.
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Deu-se quase uma hora de viagem até uma recuada fazenda. Todos eles dividiram-se em dois carros grandes para irem juntos até o local — isso, claro, além dos outros dois carros de agentes da Hargreeves, que acompanharam o chefe para inspeção do lugar.
O local estava cercado pelos agentes da CIA, que não haviam chegado muito tempo antes deles. Um carro capotado estava bem no gramado verdejante. As árvores secas contrastavam com a neve que cobria certas partes do local. Haviam cercas de madeira, um enorme galpão e uma casa extensa, que se localizava bem onde a estrada terminava.
— Beleza. O Ben é um babaca, eu admito. Mas assassinato em massa? — Allison falou. Fez careta, enquanto olhava para todos os corpos e membros atirados ali.
— Ele transformou todo mundo em carne moída. — Lila falou. Saiu de onde estava, dando alguns passos até pegar um braço desmembrado e mostrar a tatuagem para os irmãos. — E o gosto deles pra tatuagem é horrível.
— É o símbolo dos Keepers. — Celeste falou. Dois passos foram o suficiente para se aproximar de Lila e tocar na estranha tatuagem de guarda-chuva quebrado. — É evidente que o Gene e a Jene têm parte nisso aqui.
— Tem razão. — Lila concordou. Logo, atirou o braço desmembrado no chão novamente, como se aquilo realmente não fosse importante.
— Isso vai além de ser psicopata. — Diego falou. A voz estava carregada de frustração, tentando entender o que havia acontecido ali.
— Pode ter sido uma missão de resgate. — Viktor deu de ombros.
— Está mais pra um massacre feito por dois indivíduos que estão ficando mais violentos a cada minuto. — Reginald respondeu. Estava tentando, a todo custo, mostrar para os filhos que tinha certeza em seu palpite.
— Você não tem como saber — Viktor revirou os olhos. Cruzou os braços em frente ao corpo, tentando não ter sua paciência com o pai esgotada novamente. Alguns irmãos ficaram aliviados quando viram Cinco se aproximando com respostas.
— Tá bom, meu pessoal me informou que essa fazenda inteira pertence àqueles dois lunáticos que emboscaram a gente em New Grumpson: Gene e Jene Thibedeau. — Ele explicou. Celeste exclamou um "Bingo!", enquanto abria os braços em vitória.
— Vai ver, o Ben matou os dois. — Luther deu seu palpite.
— Não seria má ideia. — Celeste resmungou. — Ainda estou com dor nas costas porque eles bateram na kombi do Diego.
— Infelizmente, a perícia achou rastros frescos saindo do celeiro. Então, eu acho que eles escaparam. — Cinco falou. Celeste fez careta.
— Só que eles não podem ter ido muito longe. — Allison afirmou, agachando-se no chão e cutucando um cadáver com um graveto. — Com base no rigor mortis, eu diria que o tempo de morte foi há seis ou sete horas — Allison falou.
— Como é que você sabe disso?! — Diego perguntou, cruzando os braços. A voz carregada de incredulidade e um pouco de sarcasmo.
— Wichita PD. Todas as quintas, às nove horas. — Ela deu de ombros.
— Prepare o carro. — Reginald pediu para um dos serventes. O homem saiu dali em passos apressados, completamente inquieto com a situação.
— Tenho que fazer uma ligação. — Allison falou. Levantou-se de onde estava e se retirou, seguindo para dentro da casa, onde possivelmente teriam telefones.
Cinco bufou, e então, discretamente saiu de onde estava. Queria ficar sozinho com seus próprios pensamentos, que o sabotavam a cada instante, o fazendo lembrar que tinha um poder em mãos que poderia trazer Celly de volta.
Ele pôs as mãos nos bolsos do paletó, enquanto seus pensamentos o angustiavam.
Se ao retornar, ele já havia sentido-se culpado por tê-la deixado esperando, agora, sua sensação de culpa e infelicidade havia crescido exponencialmente ao saber um pouco do que ela havia passado.
Queria trazê-la de volta, igual havia prometido a si mesmo quando notou que ela não sairia do elevador há seis anos atrás. Queria perguntá-la com exatidão o que havia vivido, mesmo que, talvez, ela não fosse lembrar. Sentia-se tão triste por ela.
Ele respirou fundo, encarando os carvalhos secos do inverno e a neve espessa em que ele pisava.
E se pudesse trazer ela novamente? E se todos esses poderes tivessem um propósito?
Ele pensava em planos lógicos diariamente, mas todos pareciam irreal. Tudo parecia ser em vão. Nunca tinha certeza de quaisquer plano para poder tentá-los.
Ele parou de pensar tanto quando viu Lila e Celeste se aproximando cautelosamente até eles. As duas pareciam murmurar entre si, e somente a aproximação repentina das duas fez ele bufar em desconforto.
— Beleza, pequeno idiota. Temos uma ideia. — Celeste falou. Se aproximou dele com um sorriso, que demonstrava uma brilhante ideia.
— "Pequeno idiota"? — Ele reclamou. Colocou as mãos na cintura, enquanto Lila cruzava os braços dela com o da garota.
— É. O posto de "grande idiota" foi tomado pelo Luther. — Deu de ombros.
— Espero que você esteja pensando o mesmo que nós. — Lila falou. As duas começaram a acompanhar os passos calmos do garoto.
— Raramente. — Ele alfinetou.
— Pode ter um jeito de parar com tudo isso. — Lila disse. Ela parou de caminhar, consequentemente, Celeste também. Ambas olharam para o garoto.
— A resposta é não, Lila. — O garoto falou. Olhou para Celeste, sentindo que possivelmente as duas teriam ótimos argumentos.
— Nem nos deixou fazer a pergunta.
— Porque eu sei que vou detestar. Pra que perder tempo?
— Não vai ser uma perca de tempo, Cinco. — Celeste interveio. Desvencilhou seu braço do de Lila, estando pronta para mostrar sua ideia. — Podemos voltar no tempo com seu poder e impedir essa merda toda.
O garoto fez um estalo com a língua, pensando por somente alguns segundos, até ficar completamente em dúvida.
— Como seria isso?
— Olha, a gente volta até o incidente Jennifer original e impede que o seu Ben toque aquela Jennifer. — Lila explicou, dando de ombros.
— Eu não sei se vocês duas lembram, mas nós três quase levamos um tiro. — Cinco impôs. Celeste revirou os olhos, como se aquilo não fosse nada. — Tá bom? Além disso, nunca funcionaria sem uma maleta.
— Deixa de ser bebê chorão. — Lila reclamou. — Não custa nada tentar. Tá na cara que, dessa vez, as regras são diferentes. De repente, a gente nem precisa de uma maleta. — Ela argumentou.
— Mesmo eu não gostando de você — Celeste começou. Cinco somente revirou os olhos, realmente não se importando com aquilo —, acredito que tudo tem um propósito. Você deve estar com esses poderes por um motivo.
É exatamente o que eu acho, pensou.
Acreditava também que, talvez, os seus poderes haviam voltado para que ele trouxesse sua noiva de volta. Caso voltassem no tempo e desfizessem o incidente Jennifer, Ben não morreria. Mas, impedir que aquilo acontecesse, mudaria o que no final?
Ele havia estudado à risca as regras da comissão. Sabia que fazer uma alteração tão drástica no fluxo do tempo poderia estragar tudo. Mas então pensou: E se eu me impedisse de viajar no tempo?
O apocalipse chegaria em 2019. Ele e Celly teriam mais tempo para viverem juntos do que nunca tiveram. Reginald nunca a machucaria, o incidente Jennifer poderia ser evitado caso ele não viajasse após o primeiro beijo com Celly. Tudo poderia ser consertado?
Celeste e Lila continuavam o olhando com esperança. Queriam uma resposta.
O garoto expirou. Sentia suas mãos suarem com a possibilidade de dar certo. Não faria isso com elas. Faria sozinho.
— Eu vou. Vocês me deram uma ideia brilhante. — Ela sorriu. Antes que Celeste pudesse protestar sobre ele não ter incluído elas no "Eu vou", o garoto somente disse "Au revoir", e deixou a cena do crime com o uso dos seus poderes.
Celeste e Lila se entreolharam. A garota franziu o cenho, engolindo em seco.
— Esse filho da puta nos deixou aqui. — Ela reclamou. Lila somente fez uma careta.
— Talvez ele vá precisar de nós depois. Quem sabe uma hora ele não volte, né?
— Ele não vai precisar de nós. Ele é um teimoso arrogante e imprudente. Vou ficar feliz se outra versão dele o matar naquela porcaria-
— Posso falar com você rapidinho? — Diego se fez presente. Aproximou-se de Lila, ficando ao lado da esposa, que sorriu pra ele. Quando Diego percebeu que Cinco não estava ali, franziu o cenho, confuso. — Onde é que tá o Cinco? Ele estava com vocês há... um minuto atrás.
— Longa história. Ele que se dane. — Celeste reclamou. A garota saiu dali em passos irritados, enquanto bufava por ter sido excluída do próprio plano.
Enquanto isso, na estação de metrô, as mãos do garoto tremiam, mesmo que não fizesse frio.
Saiu em passos rápidos de onde estava, atravessando as mesmas catacras familiares e cruzando o terminal.
Basta pegar o trem para a mesma direção de antes, viajar para 2006 e impedir que eu vá embora, pensou.
Ao notar que o trem se aproximava pelos trilhos, o garoto correu de onde estava, finalmente esperando que o metrô parasse. Olhando para trás, notou um papel, que parecia querer voar com o vento que o metrô em alta velocidade causava nos trilhos.
Ele estendeu sua mão, abrindo o papel, que pareceu deixar claro ser um mapa — mesmo que completamente confuso.
— Deve ajudar. — Ele deu de ombros.
Quando o metrô abriu, Cinco já podia sentir seu coração palpitando forte demais.
Eram tantas possibilidades... podia dar muito certo ou muito errado. Mas ele não tinha mais nada a perder.
O garoto deu três passos confiantes, que foram o suficiente para entrar dentro do trem. Ele segurou-se nas barras de ferro, para que não caísse durante o trajeto. Os minutos pareciam não passar. Ele teria de visitar todas as linhas do tempo possíveis. Tinha que realizar seu tempo na linha certa. Caso contrário, tudo poderia dar mais errado do que esperava.
Quando o metrô parou na nova estação, Cinco não demorou muitos instantes para sair.
Ele olhou o lugar ao seu redor, reconhecendo imediatamente que estava no mesmo lugar que estivera com Celeste e Lila anteriormente.
— Máquina de vendas quebrada, Austrália, três lâmpadas queimadas... — Ele murmurou. — Eu sou um gênio.
Olhou para as escadarias logo em sua frente e respirou fundo. Sabia que possivelmente ele teria colocado armadilhas. Subiu os degraus com pressa, mesmo que com cuidado. Quando o cheiro de fuligem entrou em suas narinas, ele sentiu todo o passado se fazer presente novamente. Sentia-se voltando ao inferno.
Pegou seu binóculos e olhou para o horizonte, procurando qualquer sinal perigoso. Quando notou que não havia nada, ergueu suas palmas das mãos para cima, impulsionando seus poderes para que ele viajasse no tempo exatamente na linha onde estava. Havia sido mais difícil do que imaginava, já que não estava acostumado com seus novos poderes e sua crescente desconfiança no poder recente, dificultava tudo.
Instantes se passaram, até ele sair de uma aura branca e notar que estava em um corredor chique. Sentiu sua cabeça latejar de dor. Um frio percorreu em suas costas. Estava muito nervoso. Isso é idiotice, o que eu estou fazendo?!
Ele balançou a cabeça, espantando seus pensamentos negativos e caminhou até um balcão presente ali no corredor. O papel de parede verde contrastava com os móveis e colunas de marrom-envernizado. Ele vasculhou as papeladas em cima do balcão, até achar um documento com data atual.
Quando leu "Oito de fevereiro de 2006", sentiu seu coração palpitar de alegria. Tudo poderia estar dando realmente certo.
Ele correu de onde estava, descendo cautelosamente as escadarias e percorrendo pelo corredor largo da academia. Bastava implorar para que ele não viajasse. Nem que isso significasse perder sua própria existência.
As luminárias acesas indicavam que era noite. Seus passos calmos, buscando não chamar atenção de ninguém desnecessário, quase não foram ouvidos. Ele ficou estagnado em seu lugar quando ouvira "sunshine on my shoulders" tocando baixinho há alguns metros. Sentiu as lágrimas inundarem seus olhos, e forcou-se a sair de onde estava. O barulho do rádio abafado ficava cada vez mais claro cada vez que ele se aproximava da última porta do corredor.
Seus dedos tocaram o batente da porta. Suas mãos tremiam de nervosismo. Quando sua mão empurrou cautelosamente a porta de madeira, seus olhos foram parar na fresta. Conseguiu notar somente uma silhueta.
Aquela que ele conhecia perfeitamente.
Celly estava sentada em uma cadeira de balanço. Inclinava seu corpo para frente e para trás, divertindo-se na cadeira enquanto lia um livro de romance.
Somente a luz amarelada do abajur em seu quarto alumiava o seu rosto, e a melodia, tão baixa, quase nem era possível de ouvir.
Ele sentiu seu coração querer sair pela boca. Queria correr para ela, matar toda sua saudade. Achou-se ridículo por estar tão desesperado. Nem percebeu quando uma lágrima de felicidade escorreu do rosto dele.
Cinco deu um passo para trás, temendo o que poderia acontecer. Quando prestou maior atenção nos quadros expostos no corredor, sentiu suas entranhas revirarem.
As fotos mostravam todos os irmãos reunidos. Celly, ele, Luther, Alphonso, Fey... e haviam outros que ele nunca havia conhecido. Todos pareciam estranhamente próximos, como se realmente tivessem crescido junto. Não era a linha do tempo correta.
— O que você acha que está fazendo aqui? — Ele ouviu uma voz o chamar. Sentiu seu estômago revirar. Eram os sete estágios.
Quando olhou para quem o havia chamado, notou ele mesmo. Sua aparência certamente mais nova. O garoto tinha um prato de pães com pasta de amendoim e marshmallow em mãos, e o burburinho havia sido o suficiente para fazer Celly sair do seu quarto para ver o que estava acontecendo.
— Cinco?! — Ela sussurrou. Ele sentiu que era para a versão que ela conhecia, já que ele ainda estava de costas para a garota. Ela deixou seu livro cair no chão quando notou o que estava acontecendo.
Cinco sentiu uma enorme necessidade de pedir para que ele não viajasse no tempo, lmas sabia que não surtiria efeitos em sua realidade, já que estava na linha do tempo errada. Ele olhou para trás, vendo os lindos olhos castanhos da garota sobre ele. Seus olhos baixaram para o chão. Sentia-se péssimo em saber que deixaria aquilo acontecer naquela linha do tempo. Ele engoliu em seco, e simplesmente voltou para o futuro.
Desceu correndo as escadarias. Sentiu os seus joelhos fraquejarem, e se apoiou neles. Ofegante, ele percebera que havia acabado de deixar que o ciclo se acontecesse. Esperava que, ao menos naquela linha do tempo, seu Cinco conseguisse impedir o apocalipse e terminasse com a pessoa que ele amava.
Ele correu de onde estava, seguindo para o trem que havia parado na estação. Queria voltar. Tudo isso era idiotice, nunca conseguiria trazer ela de volta.
As portas do vagão se fecharam enquanto ele se sentava no banco desconfortável e gelado do metrô. Ele manteve suas mãos nos joelhos. A sensação que tinha era de tontura. Cada vez que pensava em Celly sua ansiedade explodia dentro dele. A angústia alfinetava-o por dentro. Suas mãos tremiam, ele sentia sua língua formigar.
A viagem, que deveria durar pouco mais de cinco minutos, pareceu ficar estranha quando ele notou que estava demorando demais. Ele levantou-se de onde estava, olhando para as janelas do vagão enquanto via os túneis coloridos correrem pelas paredes. Ele olhou seu relógio de pulso... já faziam-se oito minutos que havia embarcado. Era para o metrô ter parado.
A sensação de ansiedade pareceu o dominar ainda mais, cada vez que a viagem parecia mais extensa e ele não sabia o que fazer para voltar.
Quando o metrô parou, Cinco nem precisou sair dali para perceber que estava no lugar errado. Realmente ele havia perdido sua estação, mas... por que diabos o trem não havia parado? Por que ele seguiu adiante?
Saiu do trem rapidamente, enquanto o ar parecia faltar em seus pulmões. Ele abriu o mapa que havia achado na estação inicial. Era tudo muito confuso. Ouviu o trem voltar a andar pelos trilhos, o deixando sozinho ali, naquela estação desconhecida.
O mapa em si não possuía muitas ramificação de uma linha principal, mas simplesmente não conseguia saber de onde havia saído. A última vez, Celeste e Lila haviam usado o mapa da coluna para guiarem-se, mas agora, sem as duas, não conseguia entender nada, já que antes não havia usado o mapa para saber de onde viera.
Um grunhido de frustração foi solto por ele, enquanto ele jogava o mapa no chão furiosamente. Olhou para os lados, e era nítida a diferença das outras estações. Ele pegou o seu caderno de anotações e começou a escrever: sete bancos confortáveis, lâmpadas em perfeito estado e o piso completamente solto por infiltração.
Ele virou seus olhos para as escadarias. Não tinha escolha a não ser procurar o caminho de volta para a estação principal.
MAIS UM E AGORA OFICIALMENTE JÁ ACABOU FAZ TEMPO MINHA ASSINATURA DA NETFLIX😰😰😰😰😰😰😰😰
Espero que tenham gostado, meus leitores fiéis que VOTAM NA MINHA FANFIC
amo vocês de coração, isso é muito gratificante.
Até o próximo (que já tá pronto, mas eu tô esperando terminar outros pra liberar 😜
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