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𝐑𝐄𝐆𝐑𝐄𝐓𝐅𝐔𝐋

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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐅𝐎𝐑𝐓𝐘

𝐑𝐄𝐆𝐑𝐄𝐓𝐅𝐔𝐋

MINUTOS APÓS O ACIDENTE do veículo, todos os Hargreeves agora se encontravam fora da kombi, respirando ar fresco enquanto tentavam assimilar o que havia acontecido.

A cabeça de Celeste ainda doía. Não tanto quanto suas costas, que haviam recebido todo impacto na hora do acidente. Todos os irmãos tinham ao menos um machucado.

Celeste não conseguia lembrar-se de nada. Ficou apagada por alguns minutos até recobrar a consciência, e quando acordou, minutos atrás, percebeu que seria melhor ficar dormindo do que sentindo aquela dor exponencial no seu corpo.

— Só mesmo essa família ridícula pra fracassar numa simples missão de resgate. — Ben reclamou. Antes, estava escorado na grade que delimitava o acesso à uma pequena loja, agora, saía de perto para se aproximar dos irmãos, que ainda permaneciam perto do veículo.

— A gente tava conseguindo resgatar ela — Luther rebateu calmamente. Olhava para a estrada, ainda meio atordoado e cansado.

O silêncio perdurou pouquíssimos segundos.
Todos tinham dúvidas sobre Jennifer e o porquê diabos haviam sido atacados por pessoas que nem sequer conheciam.

— Quem eram aqueles malucos usando pochetes? — Viktor perguntou, colocando a mão no seu ferimento. Estava sentado na kombi, justamente na porta, descansando.

— Só eu percebi que eles tinham cheiro de ovelha molhada? — Lila perguntou.

— Cabras, eu acho. — Luther corrigiu. Lila deu de ombros. — Ou talvez lhamas.

— Preocupante vocês saberem diferenciar esses cheiros — Celeste franziu o cenho. Desde que havia acordado estava deitada no veículo, ocupando os três assentos do fundo enquanto ouvia os irmãos reclamarem e perguntarem.

— E daí? — Diego protestou. Parecia se incomodar com alguma coisa. — Por que eles te chamaram de Nancy? — Ele perguntou, fazendo careta. Estava realmente confuso quando olhou para sua esposa. Realmente gostaria de confiar nela, mas ultimamente, ela parecia distante.

Quando Celeste ouviu a pergunta dele, se levantou bruscamente do assento, prestando atenção no que ela responderia. Cinco fez uma careta cansada, e então, Celeste desceu da kombi. Os três se entreolharam. A garota, com a mão na porta do veículo, se apoiando. O olhar de Lila pareceu dizer que não havia necessidade de mentir.

Lila até tentou falar algo, mas simplesmente não sabia por onde começar. Cinco tomou posição, se ajeitando em frente ao veículo e olhando para o irmão confuso.

— Eles se chamam Gene e Jene. Eles têm uma organização secreta chamada The Keepers. — O garoto respondeu.

— Culto sexual? — Diego perguntou. Parecia meio preocupado, mesmo que confiasse na esposa. Celeste, no mesmo momento, franziu o cenho, murmurando um "Meu Deus".

— Não, não é um culto sexual-  — Cinco defendeu, franzindo o cenho com a pergunta de Diego, sendo interrompido pelo mesmo.

— Não. Quando você investiga direitinho, é sempre um culto sexual. — Ele impôs, gesticulando com as mãos de maneira confiante.

— É. Nisso aí ele tem razão — Luther concordou. Ben, ao lado dele, o olhou com uma careta.

— Vocês estão generalizando. — Celeste defendeu. — É só um grupo extremista.

— Que acredita ter lembranças de uma linha do tempo alternativa. — Cinco completou, erguendo o indicador, como se lembrasse de um fato importante para compartilhar no momento.

— É. E umas lembranças deles tão bem certinhas. — Lila acrescentou.

— É... tem o lance dos objetos, não é? Eles têm provas de que, de alguma maneira, estão certos. — Celeste falou. O rosto em um misto de preocupação e desconfiança. Os irmãos, que não sabiam o que o trio havia presenciado, ficaram confusos com a declaração das lembranças e objetos.

— Tem razão. — Cinco concordou, a fitando por uns instantes. — Eles estão chamando esse fenômeno de Efeito Umbrella.

Os irmãos ficaram em silêncio, meio atônitos e confusos com a informação. Viktor então saiu do veículo, se aproximando ainda mais, interessado na conversa.

— Tá. E como isso é possível? — Ele perguntou.

Realmente. Após o reinício, ver que tudo estava começando a dar errado era preocupante. Tudo o que fizeram para salvar o mundo havia durado somente seis anos?
Os irmãos não sabiam aonde isso poderia levar. Entretanto, estavam começando a sentirem temor de um novo apocalipse... mais uma vez.

— Ah, a gente ainda tá tentando descobrir, tá? — Lila afirmou. Os ombros meio caídos deixavam óbvio que eles não tiveram muito avanço. Celeste saiu de perto do veículo e ficou ao lado dela, colocando a mão em seu ombro, como se a tranquilizasse. Ela expirou e falou:

— A gente também lembra de tudo que aconteceu antes disso. — Deu de ombros. O restante dos irmãos olharam para ela com atenção. Nunca haviam olhado por este aspecto. — Reiniciamos o mundo, mas lembramos de toda a nossa vida na linha do tempo normal. Talvez o papai só não sabia que isso ia acontecer com o resto do mundo. Deve estar sendo confuso para aqueles que não fizeram parte de tudo isso...

— É... Deve ser complicado acordar de repente e perceber que está tudo diferente. — Luther concordou. Os olhos fixos na garota, enquanto tentava entender o que, provavelmente, todo o resto do mundo havia passado. Talvez eles nem compreendessem o porquê de estarem ali após o reinício.

— Engraçado você ficar todo empático com o pessoal. — Diego ironizou. Ele cruzou os braços em frente ao peito, preparando-se para implicar com o loiro. — Pede pro triozinho te passar o contato e começa a fazer parte do grupo, Luther. Você vai se dar bem lá.

Luther somente expirou, sem muita paciência.

— O que eles querem com a Jennifer? — Ben perguntou. Celeste então semicerrou os olhos, achando interessante o quão interessado ele havia ficado nela de repente. Ele estava ao lado dela, e percebeu o olhar. A garota até deu um pequeno sorriso ladino, e ele desviou o olhar.

Ninguém respondeu. Cinco somente esfregou as mãos umas nas outras, tentando miseravelmente se aquecer do frio. Celeste deu de ombros.

— Ah, que beleza, ninguém sabe. — Ben ironizou, olhando decepcionado para o lado.

— Ei, ei, ei. Você está bem? — um murmúrio de Allison chamou a atenção dos irmãos para ela, que agora parecia tentar confortar Klaus.

O mesmo já estava olhando o mesmo ponto há mais de dois minutos, estagnado, pensando. A irmã claramente ficou preocupada, e com isso, todos irmãos olharam para os dois.

— Agora eu tô ótimo, tudo graças a você. — Klaus ironizou. Allison franziu o cenho, desacreditada com o tom de deboche. Ela tirou a própria mão do ombro dele, se afastando.

— Espera aí. — Ela gaguejou. Um sorriso irônico nos lábios, sem acreditar que o irmão estava agindo assim com ela. — Você está zangado comigo porque eu salvei sua vida?!

— Achei que tinha sido bem claro, mas não fui, quando eu disse: "Por favor, nada de calêndula" — Ele respondeu. Os olhos demonstrando decepção e raiva enquanto olhava para ela.

— Eu sei, mas o que era pra fazer? Te deixar morrer?

— Não, é só porque esses três anos foram ralo abaixo. — Ele falou. As sobrancelhas unidas em uma expressão de tristeza com a situação. Os irmãos estavam interessados na conversa de ambos. Celeste sentiu que aquilo geraria uma discussão desnecessária. — Três anos limpo e sóbrio, mas era isso que você queria, não era? — Ele perguntou, olhando para ela.

Allison o fitou, tentando entender porquê diabos o irmão havia ficado tão zangado com tudo isso. Para ela, não fazia sentido. Ela balançou a cabeça negativamente, meio incrédula ainda.

— Do que... O que você tá falando, Klaus?

— Tô falando disso. Do nosso pequeno relacionamento tóxico. O eterno faz-merdinha e a grande salvadora dele. — Ele debochou. Allison expirou lentamente, abrindo um sorriso de ironia.

Celeste franziu o cenho, não entendia do que estavam discutindo pois não havia contato entre nenhum deles durante os seis anos após o reinício. Entretanto, os outros já olhavam mais atentos que antes.

Desde que o mundo havia recomeçado, Klaus passou a morar com Allison após a ter perdoado por ter traído-os ao aceitar os planos de Reginald. Para ele, ela ter feito aquilo não era ruim, pois ele poderia recomeçar sem as drogas.

Ela o aceitou, e ele passou a ser o tio favorito de Claire, filha de Allison. Entretanto, sem os poderes para o ressuscitar, ele ficou um pouco mais medroso que o normal, desenvolvendo um enorme nojo de germes e bactérias ou qualquer coisa que viesse matá-lo.

— Enquanto eu tiver por perto, você não vai ter que ficar olhando pra sua vida miserável e vazia. — Ele falou. Demonstrando a clara insegurança.

Ele sabia que ela não gostava do fato dele ter se tornado tão medroso dele desde o reinício, e agora, depois dela não ter o ouvido, estava completamente decepcionado com ela. Estava prestes a desabafar e mostrar o quão infeliz ele estivera todos esses anos, mesmo que estivesse orgulhoso de si mesmo por ter se mantido longe das drogas e bebidas. A tensão no ambiente começava a aumentar.

— Entendi. — Allison falou, se levantando ligeiramente do lado dele. Ela ficou frente a Klaus, o olhando. — Uau. Talvez fosse melhor você pegar um pouco mais leve.

— Não, eu acho que vou pegar mais pesado, tá legal? — Ele rebateu, também se levantando de onde estavam. Ao invés de olhar para ela, ele saiu andando, ficando no meio dos irmãos e começando a falar o que tinha vontade. — No fim das contas, a nossa família é ótima em ser disfuncional mesmo.

Celeste ergueu as sobrancelhas, estava claramente preocupada com a situação que eles estavam gerando.

— Nós temos problemas paternos, problemas paternos —  ele afinou a voz, debochando completamente da situação deles — e um viciado em caos.

Viktor olhou para Cinco, que já estava achando graça daquilo. O irmão estava confuso com a reação de Klaus em relação à calêndula. Cinco, ao ter ouvido a última parte, sabia que ele provavelmente se referia a ele, e não gostou nem um pouquinho.

— Ei! — Ele protestou, franzindo o cenho.

— Exatamente! — Klaus o interrompeu. Cinco não conseguiu se defender, somente deixou que aquilo tomasse o rumo que deveria tomar. Estava exausto daquilo.

— Problemas maternos — Klaus se aproximou, apontando para Diego. — Mais problemas paternos! — Apontou para Luther. Agora, ele estava descontrolado, gritando com os irmãos enquanto os julgava da melhor maneira que encontrava. — Um babaca antipático! — Gritou para Ben, que olhava a situação com pena. Celeste, que estava entre Ben e Lila, sabia que seria a próxima, e franziu o cenho em relação à isso. — E você! Que... eu não posso dizer que tem problemas familiares, pois não tem. Até tratou o Benzinho bem e tentou salvar minha vida antes. Não posso julgar você. — Ele falou, bem mais calmo que antes. Agora, os ombros baixos. Ele deu um tapinha no ombro de Celeste, que até deixou escapar um pequeno sorriso. Ele olhou para Lila, ao lado dela, e continuou: — Você parece estranhamente tranquila, pelo que eu tô vendo. — Ele deu de ombros, meio derrotado por não poder julgar todos ali. Ele virou as costas. — Enfim, eu tô cansado de viver me escondendo... — ele voltou a debochar, se encolhendo ligeiramente —... dentro da sua bolha de tamanha superioridade.

Sua voz pareceu arrastada, enquanto ele se distanciava das garotas em passos curtíssimos. Ele finalmente voltou a olhar para Allison, que o olhava com decepção.

— Espera aí, então essa é a gratidão que eu recebo por ter cuidado de você nos últimos cinco anos? — Ela rebateu, se aproximando dele com os olhos semicerrados.

— Acho que você não tá entendendo nada, meu anjo. Quem cuidou de você desde que o Ray foi embora? — Ele perguntou, a fitando com pena. Ela riu completamente irônica. A raiva tomando conta do seu corpo.

Celeste só havia ouvido falar de Reymond uma vez, quando Reggie, seu pai, havia explicado as coisas que havia feito para trazê-las de volta. O homem havia entrado no acordo com Allison para que, quando ele reiniciasse o mundo, o mesmo fosse marido dela. Entretanto, quando ela ouviu a declaração de Klaus, ficou triste por saber que Allison não conseguiu ser feliz como achou que seria com o reinício.

— Todo mundo aqui cagou e andou. — Klaus continuou, levantando o braço para apontar para os irmãos. — Quem foi que cuidou da pequena Claire enquanto você se dava mal enquanto fazia cada teste de bosta? — Ele perguntou. Celeste ergueu as sobrancelhas, completamente surpresa com a discussão repentina. Há alguns dias atrás ele parecia incentivar Allison, e agora, ela o estava achando um pouco falso, mesmo que soubesse que ele só estava falando de cabeça quente.

— Então você acha que eu gosto de ter um homem adulto morando no meu porão e cobrindo a minha  casa inteira com plástico-bolha?! — Allison gritou. A voz era um misto de raiva de decepção. — Acha que eu gosto de ter que te tirar do buraco toda vez que chega no fundo do poço?

— Fundo? Moi? — Ele perguntou. Agora ele não parecia com raiva, mas triste. Logo, essa aparente tristeza se transformou em uma raiva explosiva — Você nunca me viu no fundo, querida. Porque eu não sou um poço, eu sou uma porra de uma fenda oceânica!

— Quer saber? Beleza. — Ela respondeu. — Tá. Se jogue bem lá no fundo!

— Eu vou.

— Porque tá na cara que é isso que você quer fazer. Divirta-se, eu não tô nem aí, Klaus!

— Obrigado. — Ele respondeu calmamente. — Sério, obrigado. Pelo menos dessa vez tá tendo um grãozinho de honestidade. É bom. Refrescante. — Ele ironizou. — Você queria o velho Klaus? E você conseguiu.

Com o clima tenso, alguns irmãos expiraram o ar que nem haviam percebido que estavam prendendo. Klaus saiu dali caminhando, se distanciando deles enquanto partia para longe. Alguns irmãos gritaram em protesto, pedindo para que voltasse, mas ele deu completamente as costas, quase sendo atropelado na avenida — mas, sem se preocupar, já que agora se tornara novamente imortal por conta da calêndula.

— Sabe de uma coisa? — Allison perguntou, focando nos irmãos agora. — Já que a gente tá aqui, por acaso alguém quer colocar alguma coisa pra fora? Porque agora é a hora. — Ela falou. A voz ainda alterada, esperando que a respondessem.

Celeste somente desviou o olhar, olhando para dentro do veículo, onde Viktor e Cinco já haviam desistido da discussão há minutos, e estavam tentando se aquecer ali dentro. Os irmãos ao lado dela pareceram não querer falar nada. Lila coçou a nuca, desconfortável.

— Por que agora seria a hora para colocar tudo pra fora? — Celeste sussurrou para Lila, ao seu lado, afim de conseguir alguma informação do porquê os outros a tratavam diferente.

Antes que Lila respondesse, Allison ouviu sua pergunta, mesmo que fosse um sussurro. O local estava com um silêncio completo devido a tensão, então, qualquer mínimo barulho, Allison teria ouvido.

— Quer saber porquê, Celeste? — Allison perguntou. A voz carregada de mágoa e rancor. — Porque tudo o que eu fiz por eles nunca é suficiente!

A garota fez um bico, meio desconfortável. Levou a própria mão até a nuca, coçando-a enquanto tentava não manter o contato visual com Allison. O olhar da morena estava inundado, ameaçando-a a chorar.

— Tiraram tudo de mim. Me colocavam na porra de uma vida nova a cada tentativa fracassada de salvar o apocalipse. — A voz dela estava rouca. Ela gritava desesperadamente. Parecia necessitar ser compreendida. — Destruiram minha vida três vezes! Perdi minha fama, depois meu marido, e por último, a minha filha! Mas nunca foi suficiente — ela falou. Parou por breves segundos, e então, olhou para Cinco dentro do veículo, voltando a acusar sem aumentar o tom de voz — ...porque o Cinco só conseguia pensar em ter uma vida com a Celly.

— Como é que é? — Cinco perguntou. O cenho franzido ainda dentro do veículo. Ele abriu a porta com velocidade, avançando pela neve, buscando saber se havia ouvido direito.

— Exatamente isso que você ouviu! — Ela gritou. — Você nunca sabe a hora de parar! Tenho certeza que só ficou indiferente com os novos poderes porque pensou em trazer ela de volta! Você nunca supera essa merda-

— Você nunca vai saber o que eu passei. — Ele falou. A voz compassiva, os olhos demonstrando incredulidade.

— Tem certeza? Eu perdi tudo. Estou na porra do fundo do poço há quatro anos!

Eu fiquei trinta anos em um apocalipse. Desde que cheguei naquela merda, eu só conseguia pensar em salvar a pele de vocês. Quando eu voltei, sabe quantas pessoas se importaram? Uma. a Celly parecia interessada o suficiente para saber o que eu havia feito no futuro-

— Queria que fizéssemos o que? Queria que a gente largasse as nossas vidas para te ajudar a salvar o mundo? Sabe o quão ridículo isso soa? — ela perguntou ironicamente, cruzando os braços à frente do peito. Cinco pôs as mãos na própria cintura. Seus olhos demonstravam complexidade. Ele fitou ela por vários instantes, enquanto a aura tensa piorava drasticamente ali, dentre os irmãos.

— Entendi. — Ele murmurou. Expirou o ar que nem percebera que trancava. Comprimiu os lábios, a olhando com pura decepção. — Foi tudo uma vingança idiota o lance do Oblivion? Eu merecia perder a Celly, só por que falhamos como equipe três vezes?

Sim, Allison pensou. Sempre que via os dois correndo para impedir o apocalipse juntos, ela só conseguia sentir ódio. Sabia que aquilo sempre acabaria mal. Cada vez que perdeu aquilo que amava, um buraco se abria em seu peito. Entretanto, ela via Cinco voltar a se esforçar cada vez mais. Sabia que era por Celly.

Mas, por que eles não poderiam parar? Quando eles iriam desistir? Quando ela estivesse morta? Quando estivesse perdido tudo aquilo que se importava?

No momento em que Reginald a propôs o trato, ele havia deixado claro que não traria Celly de volta. Ela havia ficado feliz, por um instante. Isso, claro, até ela perceber o que havia sentido e se culpar. Naquela mesma noite ela se olhou no espelho, se sentindo o pior lixo de ser humano que existia. Mas repetiu para si mesma que sua irmã só não estaria lá no reinício por culpa de Reginald.

Sabia que, talvez, poderia avisar Cinco. Sabia que, lá no fundo, ele não fazia tudo aquilo só pela garota que amava. Ela repetia isso incessantemente, com a mesma frequência que sua consciência afirmava que, se Celly continuasse existindo, Cinco nunca desistiria. Estava tão exausta.

Ela sentiu, naquele instante, encarando o maior erro que havia feito em sua vida, uma lágrima escorrer do seu rosto. Com Cinco expondo tão claramente o pensamento que atormentava ela há seis anos, ela se sentiu péssima. Havia percebido da pior forma o erro que havia feito. Ela não falou nada. Somente sentiu a lágrima escorrer e desviou o olhar. Tinha a impressão de que, com Cinco a olhando, ele conseguia ouvir cada pensamento dela.

— Não sei do que você está falando. — Ela murmurou, tentando negar a si mesmo a situação que havia causado há tanto tempo.

— Ah, tem certeza? — Ele perguntou. O garoto pigarreou. Suas mãos tremiam sob o casaco. Ele fitou sua irmã, tentando olhá-la nos olhos, mesmo que ela desviasse de forma desconfortável. — Eu esperava que fosse mais inteligente e soubesse que eu não havia feito aquilo só por ela. Ela era sim, a minha pessoa favorita, mas no apocalipse, vocês nunca saíram da minha cabeça.

O garoto respirou fundo, saindo dali e voltando para dentro do carro. Estava completamente decepcionado ao saber que a irmã havia pensado daquele jeito em qualquer momento.

— Eu cansei de ser a vilã da família — Allison murmurou. Os olhares dos outros irmãos caindo sobre ela.

Allison saiu de perto deles para pensar um pouco. Os passos largos fizeram barulho com a bota que ela calçava, e os irmãos, fora do veículo, a olharam se distanciar.

Cinco, sentado na kombi, começou a brincar com as próprias mãos. Ele perguntou-se se, por algum motivo, ela estivesse certa. Será que os outros concordavam com Allison? Será que, se ela estivesse viva, no lugar de Celeste, tudo estaria sendo pior? Teriam causado mais um apocalipse? Teriam tirado tudo de importante para Allison novamente?

Ele então, se viu pensando em Celly. Começou a pensar se, por algum motivo, Allison não houvesse feito isso com ele. Sabia que não estava no alcance dela trazer sua amada de volta, pois, mesmo que tivesse se oposto a Reggie na noite do casamento, não seria ela que futuramente controlaria a máquina para o reinício. Reginald sempre poderia fazer o que tivesse vontade.

De repente, se sentiu o maior egoísta de todos, mesmo admirando, de alguma forma, o que Allison havia feito. Ele teria feito igual, se isso significasse viver com a garota que amava.

— Agora que o show terminou, o que a gente vai fazer sobre a Jennifer? — Ben perguntou, quebrando o silêncio. — A gente tem que achar ela.

— Ah... Temos? — Celeste perguntou. — Aquele cara nem era o pai dela. Seria loucura a gente concluir essa missão. Foi tudo uma perda de tempo colossal. — Ela falou, entrando no veículo e se deitando ao lado de Viktor. Com tudo aquilo, estava se sentindo mais desconfortável do que nunca ao lado de todos eles. Sentia que ninguém a queria ali.

— É, nós não vamos a lugar nenhum nessa lata-velha. — Cinco resumungou. Diego logo entrou no veículo.

— Ele disse que eu e a Celeste éramos as melhores. Só pra constar. — Lila lembrou com orgulho, se aproximando da kombi.

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Pouco tempo depois, todos — com exceção de Klaus — se encontravam em uma simples oficina da pequena cidade. O cheiro de óleo de carro parecia inundar aquele lugar. Os diversos carros em torno da oficina, e a kombi de Diego suspensa no guincho hidráulico enquanto o homem consertava-a.

Não estavam ali há muito tempo, mas Celeste já estava completamente entediada. Andava de um lado para o outro. Seus pés pareciam querer sair correndo dali para se moverem — puramente ansiedade.

Cinco, estava pensando na próxima coisa que iria fazer, mas sua mente só o sabotava, o fazendo pensar em Celly e na discussão com Allison.

Celeste caminhou até a cabine telefônica, colocou algumas moedas que felizmente estavam sem sua bolsa, e esperou alguém atender. O telefone tocou, mas ninguém atendeu.

Ela tirou o telefone do ouvido, e retornou ele com força para dentro da cabine, completamente zangada. "Coisa maldita e desprezível!", ela murmurou. Precisava fazer alguma coisa para acabar com a ansiedade, mas parecia que tudo andava em câmera lenta, e já estava ficando exausta com isso. Seus pais não tinham notícias dela, possivelmente, e se Luther estivesse certo a respeito do papai controlar a cidade, ela teria problemas quando chegasse em casa.

— O que você tá fazendo? — Cinco perguntou, se aproximando. O olhar um pouco preocupado com a forma que Celeste havia colocado o telefone no lugar. — Eu ainda tenho que ligar pra polícia, desse jeito você vai quebrar a merda do telefon-

— Eu estou cagando pra suas ligações. — Ela rebateu, cruzando os braços e batendo consecutivamente na cabine.

— Ei, ei! Sua descontrolada! Se acalma, tá bom? — Ele pediu, segurando os braços dela enquanto ela o olhava sem um pingo de animação.

— Eu não estou calma, e provavelmente estou bem longe disso acontecer. — Ela falou, tirando seus pulsos das mãos dele e virando-se de costas. — Preciso achar algo pra ocupar minha cabeça.

No mesmo instante, seu estômago fez o ridículo barulho de fome. Ela fez careta, revirando os olhos. O garoto, em sua frente, pareceu se divertir com a reação dela.

— Ah. Agora faz sentido você estar assim.

— Cala a boca, Cinco. Não tem uma lanchonete decente nessa cidadezinha horrorosa. A última vez que eu comi, foi hoje de manhã, e já são três horas. Três horas da tarde!

— Tudo bem, tudo bem. Sei que você pode resistir mais um pouquinho. — Ele murmurou. A garota permaneceu em frente a cabine, desta vez, com a testa apoiada no aparelho, completamente inquieta. Cinco colocou as mãos nas costas dela, a empurrando sutilmente para que ele pudesse ligar para a polícia e falar sobre Jennifer.

A garota expirou lentamente, e então, voltou a perambular. Poucos segundos depois, a voz de Cinco começou a ecoar por ali, enquanto ele pedia informações sobre o carro que havia levado Jennifer há poucas horas.
Celeste decidiu então se sentar ao lado de Viktor. Ele se afastou um pouco para o lado, deixando mais um espaço para Diego, que também se sentou ao lado dele.

— Aí, sabe o que é estranho? — Luther perguntou, se aproximando e se apoiando em uma coluna. — Todas aquelas pessoas lá em New Grumpson... Elas estavam usando o equipamento militar com a marca da Hargreeves.

— Luther, todo aquele maldito lugar era uma cidade da Hargreeves. — Allison apontou. Todos os irmãos pareciam desapontados e curiosos com esse assunto. A morena, sentada ao lado de Lila e Ben, próximo aos outros, começou a prestar mais atenção no assunto.

— Precisamos descobrir o porquê. — Celeste falou. Encontrou uma pequena mola no chão e começou a apertá-la, para acalmar sua ansiedade. — Se o papai realmente controla aquele lugar, é porque há um motivo bem importante pra isso — Deu de ombros. Ela levantou seus olhos para Ben, que foi o próximo a falar.

— Parece que foi projetada pra manter a Jennifer como refém — Ele se levantou de onde estava sentado para andar de um lado para o outro.

— E o que ela tem de tão importante? — Lila perguntou. Sentada em cima de uma pequena escrivaninha velha, abandonada, se ocupando com um rádio estragado.

— Isso não é óbvio? Ela é uma de nós. — Allison deu de ombros.

— Não. Claro que não. — Ben protestou.

— Também acho que não. — Celeste falou. — Ela teria mostrado ao menos um poderzinho, né? Se bem que não ficamos tempo suficiente com ela pra provar essa teoria.

— Faria sentido ela ter poderes. Mas por que o papai ia construir um Show de Truman para ela? — Cinco perguntou, se afastando da cabine telefônica. Ele deu alguns passos, colocando as mãos na cintura enquanto participava da conversa.

— O cara enganou todo mundo. Nada do que a Jennifer disse bate com a história do Sy — Ben falou. Parecia não entender tudo aquilo. Ele fez careta. Os seus olhos vagaram sem ponto fixo, parecendo pensar em alguma resposta.

— Como os dois sumiram, nós só temos duas opções péssimas: ou nós vamos atrás dos Keepers, ou, pior, falamos com o papai. — Viktor falou. O rosto transparecendo cansaço. Todos os irmãos, exceto Celeste, protestaram.

— Qual é, cara? — Diego reclamou.

— Eu falo com o papai. — Celeste se prontificou. Parecia a única ali que não se importava em conversar com ele.

— Ótimo-  — Cinco sorriu, sendo interrompido por Lila.

— Nem pensar. Você vai ir com o grupo dos Keepers. — Ela disse, saindo de onde estava sentada.

— O que? — Cinco protestou, franzindo o cenho.

— É, ela sabe sobre o grupo tanto quanto nós. — Lila defendeu. O garoto pareceu pensar um pouco, e então, finalmente concordou com a cabeça.

— Okay. Temos que nos separar. — Cinco deu de ombros. — Eu, Lila e Celeste vamos atrás dos Keepers. O resto conversa com o papai.

— Eu vou com vocês três. — Diego protestou, se levantando de onde estava sentado e se aproximando do irmão. Celeste franziu o cenho com o protesto repentino. Isso tudo é necessidade de ficar perto da esposa?, pensou.

— Então eu vou atrás da Jennifer — Ben falou. A cabeça balançando alguns centímetros. Seu tom de voz deixou transparecer que, para ele, parecia que só ele se importava com a garota.

— É melhor a gente ficar junto. — Viktor falou. Ainda estava sentado ao lado de Celeste.

— Não, não é. E essa viagenzinha provou isso — Ben rebateu, apontando para os outros.

— Sempre tão gentil. — Celeste revirou os olhos. Expirou o ar que segurava, e então, relaxou ainda mais no banco, cruzando os braços em frente ao peito.

— Você tá muito empolgadinho pra quem não queria participar desde o começo. — Diego falou. O mesmo, franziu o cenho enquanto olhava para Ben, que ficou sem resposta alguns instantes.

— Vocês são um bando de palhaços. Eu vou sozinho. — Ele falou por fim. Os irmãos não levaram a sério até o momento em que ele realmente saiu dali sozinho, dando as costas para todos.

— Ei, Ben! — Celeste o chamou, se levantando de onde estava. — Você tá brincando?!

O rapaz não pareceu se importar, continuando a andar enquanto ignorava os protestos dos outros irmãos. A garota estava exausta. Cansada em todos os aspectos, e não pensou duas vezes antes de lançar uma rajada de vento o suficiente para fazer ele cair no chão. Luther engoliu em seco. Klaus levantou as sobrancelhas, completamente surpreso e fazendo careta. Cinco pigarreou. Todos achavam que ela havia feito algo péssimo, pois conheciam o mau gênio de Ben.

— Ei! — Ele gritou. Agora, as roupas sujas de terra. ele se levantou rapidamente, abrindo os braços sem entender a ação de Celeste.

— Você não pode dar as costas pra gente cada vez que as coisas não acontecem do seu jeito! — Ela gritou. O cenho franzido. Claramente estava zangada. Os outros irmãos levantaram as sobrancelhas, surpresos. — Seu... argh! Você é um idiota!

— Eu não estou dando as costas para vocês. — Ele rebateu, limpando as roupas sujas e voltando a se aproximar deles.

— Está sim! Antes, no início da missão. Agora, novamente para encontrar a garota. Pode me dizer o que está acontecendo, ou vai continuar a esconder as coisas? — Ela perguntou. Os braços cruzados. Ben se aproximou em passos lentos, parando há um metro da garota. O silêncio perdurou um pouco. Ela sentia que algo estava acontecendo e ele não queria contar.

— Eu não sei do que você está falando. — Ele começou. Os olhos dele pareciam cuidar do que iria falar. — E tanto eu quanto você não fazemos parte desse grupinho de Debi e Lóides — Ele falou. Respirou fundo. — É inteligente demais pra ficar com esse bando de palhaços. Se quiser, pode vir comigo.

— Eu dispenso. — Ela falou. Os lábios contraídos, tentando esconder que ela estava achando graça em o ter derrubado no chão.

  — Então me deixe fazer as coisas do meu jeito.

A garota semicerrou os olhos. O garoto ficou em silêncio. A tensão no local aumentando aos poucos. A mente dela a sabotava, fazendo retornar a memória dele caindo. Ela não conseguiu segurar, e soltou uma risada fechada, enquanto ainda tentava não rir — mesmo que já houvesse falhado.

— Quer parar de rir? — O garoto perguntou. Sua expressão séria. Tentava entender no que ela estava vendo diversão. Ela não segurou mais, e soltou uma risada engraçada em frente a ele. Os irmãos sentiram a tensão dissipar.

— Você caindo foi hilário. Sério. Se eu soubesse, teria feito antes.

Ben somente expirou, tentando não rir junto dela. Quando Ben deu meia volta e voltou a fazer o que teria feito antes de ser interrompido, Celeste soltou um sorrisinho divertido, que ele não pôde ver.

— Da próxima vez, vou deixar você vomitar até às tripas, seu ingrato horroroso! — Ela gritou. O garoto, já distante.

Com essa fala, a tensão pareceu se dissipar por completo, e os irmão até soltaram uma lufada de ar, completamente aliviados.

— Obrigado pela garrafa de água. Você automaticamente anulou isso quando me derrubou e riu da minha cara! — O garoto gritou de volta, ironizando a situação enquanto dava um sorriso divertido.

Dentre todos os Hargreeves, para Ben, Celeste era a pessoa que mais lembrava sua antiga irmã. Tanto na aparência, quanto na personalidade que ela tinha. Ter Celeste perto dele, fez ele perceber a saudade que tinha da sua família, e agradeceu profundamente por saber que a garota o tratava bem, mesmo que com implicância. Naquele momento, quando ela o repreendeu pelas atitudes, nunca ficou tão confortável. Era exatamente como sua irmã, Celeste, o tratava.

Na Sparrow, os irmão não eram tão unidos. Diferente de Celeste, que parecia querer cuidar deles sempre que podia. Antigamente, ele não gostava do fato dela ser fraca para as missões, mas com o tempo e com a falta dela, percebeu que era feliz quando tinha ela. Era feliz quando tinha todos eles.

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— Então esse aí é o clube do livro, não é, Nancy? — Diego perguntou, ironizando as mentiras que Lila o havia contado.

— Cala a boca, Diego. — Lila rebateu.

A viagem de volta havia sido bem calma, e finalmente, Diego estava ficando com fome suficiente para passarem em uma lanchonete durante o trajeto. Celeste agora, não estava mais com tanta fome quanto antes.

Os quatro desceram do veículo rapidamente, enquanto Diego resmungava e Celeste alongava as pernas, que já estavam um pouco dormentes.

— Você dirige — Diego entregou as chaves para Viktor, que acompanharia Luther e Allison para a mansão de Reginald em seguida.

— Tem certeza? A Wanda? — Ele perguntou incrédulo. Todos sabiam a afeição que Diego tinha pelo veículo.

— É. Eu não ligo mais pra isso. — Ele deu de ombros, logo entrando pela porta dupla do prédio de tijolos.

Celeste, Cinco e Lila já haviam entrado, e cuidavam cada detalhe, se atentando ao que quer que pudesse ajudá-los. Diego não demorou mais de dez segundos para sair do prédio novamente, instruindo Viktor a cuidar da kombi.

— Bem-vindos ao quartel general dos Keepers. Cortesia de Jene e do Gene. — Cinco falou. Todos já haviam subido as escadarias do prédio, e agora, adentrava a uma sala, que possivelmente era o escritório de Jene e Gene.

O primeiro a entrar na sala elegante, havia sido Diego, que moveu os olhos pelo lugar, estranhando toda a decoração. A sala tinha aberturas de madeira, as portas e janelas escuras. Um papel de parede verde destacava a parte superior da parede, e da metade inferior, um papel de parede azul. Um grande sofá amarelo, e uma poltrona rosa estavam no meio da enorme sala, assim como outras decorações participavam do ambiente: abajures, espelhos, livros, quadros e outros.

Lila fechou a porta atrás de si, e Celeste seguiu o lado contrário que Diego havia escolhido para procurar.

— A Jene e o Gene não deixaram muito pra gente procurar — Diego reclamou, procurando na mesinha de centro e outras estantes.

— Tenta se concentrar, amor. — Lila pediu

Celeste foi diretamente para um armário no canto esquerdo do escritório, abrindo pastas e gavetas, mas não encontrando nada de importante.
Todos eles estavam empenhados em vasculhar a sala inteira em busca de algo que os ajudasse, e assim estavam fazendo, mesmo sem muitas conquistas.

— Não tem nada de arquivos aqui. Todas malditas gavetas estão vazias. — Celeste reclamou.

— É. Todos os arquivos sumiram. — Lila concordou, se levantando de onde estava abaixada e se apoiando no armário.

— Bom, é isso que tá parecendo. — Cinco falou, fechando uma gaveta com força.

— Enquanto vocês três ficam aí passando vergonha, eu vou investigar melhor — Diego rebateu, colocando as mãos na cintura e dando alguns passos para sair da sala.

— Não tem nada aqui, Diego — Lila falou. Sabia que o marido desejava procurar nos outros lugares do prédio, e julgava isso como se fosse inútil.

— Nossos alvos saíram com pressa, né? — Ele perguntou.

— Sim. E daí?

— Daí que a pressa é inimiga da perfeição, gata. — Ele falou. Um sorriso no rosto. Logo, saiu da sala em passos rápidos.

Assim que a porta foi fechada, Lila se aproximou de Cinco, assim como Celeste. Ambas com perguntas diferentes.

— Desembucha. Por que você não consegue saltar? — Lila perguntou primeiro.

— Eu consigo saltar. — Ele falou simples, franzindo o cenho com a acusação. — Olha, é que eu não...

— Foi pra um metrô, não é? — Celeste perguntou, se ajoelhando no sofá e colocando os braços na escrivaninha atrás dele, em que Cinco revirava os livros. Ambos ficaram frente a frente, ela o olhando com os olhos semicerrados.

— O que? — Cinco perguntou. Claramente estava blefando.

— Você tem que voltar a ativa, parceiro. — Lila reclamou. As duas se entreolharam, e então, as cabeças concordaram positivamente.

Lila e Celeste se agarraram no garoto, que reclamou um "Não!", no exato instante que Celeste o deu um choque simples, que fora o suficiente para o corpo dele responder involuntariamente, os teleportando para um lugar diferente.

Assim que Celeste percebeu que os três estavam em um metrô, sentiu sua coluna gelar. Estava frio ali.  O garoto bufou, completamente irritado com as duas.

— Opa! Onde a gente tá? — Lila perguntou. Um sorriso irônico nos lábios.

— Numa estação de metrô. — Cinco bufou, como se fosse óbvio. Ele ajustou o terno no próprio corpo, e então, sentiu-se tão ansioso por Celly como na última vez que estivera ali.

Celeste virou o corpo para os lados, visualizando tudo o que conseguia. Ela então, percebeu que o sonho havia sido exatamente ali, mesmo que não fizesse sentido.

— Mas que merda... Por que trouxe a gente pra cá? — Celeste perguntou. O cenho franzido em confusão.

— Pode acreditar, não foi de propósito. — Ele deu de ombros.

Cinco foi o primeiro a sair de onde estavam, atravessando as catracas sem pressa.

— Está dizendo que seu corpo responde instantaneamente a esse lugar? — Celeste ficou confusa, o seguindo em passos rápidos.

— É. Desde que o Ben deu aquela droga de calêndula pra gente, quando eu salto, eu venho parar aqui.

— Maneiro — Lila sorriu divertidamente, avançando para a frente dos dois, estando bem mais animada para explorar o local do que os outros.

— Não muito — Cinco resmungou.

Os três adentraram a estação. Lila, andando mais rapidamente, enquanto os passos de Cinco e Celeste eram praticamente na mesma velocidade. A garota começou a olhar o lugar atentamente. Desceram as escadarias, um atrás do outro, e quando Celeste finalmente chegou ao terminal principal, sentiu-se familiarizada com o local.

— Esse metrô aqui eu não conheço — Lila resmungou. Parecia em um misto de diversão e confusão, enquanto começava a explorar o lugar.

— É... ele é... esquisito.

— É diferente de todos os metrôs em que vocês já estiveram — Cinco explicou, finalmente dando passos mais largos.

— Por quê? — Celeste perguntou, enquanto parava para passar a mão nos ladrilhos da coluna. Antes do garoto começar a explicar, ela se virou para ele, olhando para Lila e Cinco, que estavam próximos. Lila também parecia interessada no metrô.

— Essa é a parte esquisita. Eu peguei um trem para o oeste, viajei uma estação... e quando subi, era exatamente o mesmo dia, a mesma hora, mas uma linha do tempo completamente diferente. — Ele explicou, engolindo em seco. Celeste franziu o cenho, entreolhando Lila.

— Olha, que interessante. — Lila levantou as sobrancelhas, surpresa com a revelação. Celeste rapidamente se aproximou dos dois.

— Se eu dissesse que sonhei com este lugar exatamente no dia que voltei a ter meus poderes, seria estranho? — Celeste perguntou. Cinco rapidamente a olhou.

— O quê? — Cinco perguntou.

— Sonhei com esse lugar quando meus poderes voltaram. Quer dizer, não sonhei com este lugar. Foi um sonho estranho. Eu estava com você e então estávamos aqui, e algumas linhas sumiam e-

— Linhas?! — Ele perguntou rapidamente, franzindo o cenho. Não demorou mais de dois segundos para se afastar das duas, correndo para a coluna diferente do metrô.

As duas se entreolharam, confusas pela ação dele, e então, o acompanharam na mesma velocidade. Quando chegaram ao centro do terminal, a enorme e grossa coluna ainda estava ali, com as diversas linhas saíndo de uma maior e principal.

— Era isso aqui? Digo, no sonho. — Cinco perguntou, apontando para a coluna.

Quando Celeste se aproximou o suficiente, sentiu uma forte sensação de Déjà vu. Ela sentiu suas mãos e joelhos fraquejarem. Sentia que aquilo havia sido uma visão, mesmo que jamais tivesse tido isso em forma de sonho.

— Era... — Ela respondeu, passando a mão pelo mapa luminoso. — Porra, isso é muito estranho.

— Concordo. — Ele falou.

— Isso ajuda, né? — Lila perguntou, também ficando próxima ao mapa.

— Se eu conseguisse ler, sim — Cinco deu de ombros, decepcionado.

— Uma vez eu usei o metrô de Tóquio com um ferimento à bala na coxa e ainda por cima menstruada — Lila falou com orgulho, tocando o mapa colorido na coluna. — Não pode ser mais difícil.

— Eu tenho a impressão que isso é um pouco mais difícil, sim — Celeste semicerrou os olhos, se afastando do lugar para que Lila o inspecionasse.

— Então... Norte para sul... — Lila começou a murmurar, tentando entender as linhas embaralhadas do mapa. — Isso se conecta por aqui... Nossa, que confuso. — Ela reclamou, seguindo o dedo indicador pela linha que julgou ser a melhor. Cinco e Celeste se entreolharam, completamente preocupados ao rumo que levaria.

Cinco, ao lado de Celeste, pôs as mãos na cintura, bufando com toda a atitude animada de Lila. Um barulho familiar chamou a atenção dos três para os trilhos, enquanto, ainda longe, um trem se aproximava. Então, novamente aquele idioma estranho estava sendo transmitido. Cinco não sabia o que ele significava, então, em uma tentativa inútil, fixou seu olhar em um ponto específico, concentrando sua audição no idioma, tentando compreendê-lo.

Ele estava mais calmo do que da última vez que havia estado ali. Mesmo que seu coração ainda implorasse para que ele procurasse Celly, ele gostaria de fazer aquilo sozinho. Sabia que ter mais duas pessoas com ele só o atrapalharia em encontrá-la.

De repente, Lila soltou um gritinho de animação, finalmente parando de inspecionar o mapa e voltando sua atenção para os dois.

— Para leste. — Ela sorriu. — Vamos lá?

— A gente devia voltar pro Diego. — O garoto falou, olhando para Celeste em busca de alguma concordância.

Não, eu concordo com ela. — Celeste falou, fazendo o garoto revirar os olhos. — Isso aqui é muito interessante pra gente voltar pra lá.

Celeste sorriu, parecendo realmente influenciada pela ideia de explorar as linhas do tempo. Ela deu um passo à frente, usando o braço direito para abraçar Lila, que retribuiu o gesto.

— Viu só? Seu covarde. Vamos só dar uma volta. — Lila afirmou. O trem finalmente parou. As portas ainda fechadas atrás de Celeste e Lila, que sorriam, em uma tentativa de convencer o garoto.

— Eu não quero ficar andando de trem até a gente compreender isso-  — o garoto tentou protestar, mas Celeste bufou, ficando com raiva da teimosia dele. Lila, em uma atitude simples, rapidamente o puxou pelo pulso com força, guiando ele para dentro.

— Deixa de ser cagão! — Ela o repreendeu. Celeste logo os seguiu para dentro do vagão.

— É! A gente só vai compreender isso, se viajarmos um pouquinho. — Celeste sorriu, se animando com a possibilidade.

Os três finalmente entraram no trem, e as portas não demoraram para se fechar atrás deles. Celeste andou pelo trem, erguendo sua mão direita para arrastá-la nas paredes. Todo aquele ambiente, de alguma forma, Celeste parecia sentir que aquilo era familiar. Para Cinco, aquilo era mútuo, afinal: por que os seus poderes sempre o levavam para a estação?

Lila se sentou em um dos bancos. Cinco permaneceu de pé, pois sabia que a viagem costumava ser rápida. O garoto parecia impaciente, e as duas perceberam isso, mesmo não tendo comentado.

O garoto só conseguia pensar em decifrar todo aquele mapa e aquele idioma de alguma forma, mesmo que aquilo levasse a vida toda. Precisava fazer mais por ela.

A viagem não durou mais de seis minutos, quando as portas finalmente se abriram. Lá dentro, eles não haviam trocado muitas palavras entre si, pois as garotas sabiam que ele só estava as acompanhando por pura obrigação, e não queriam testar seu mau humor.

Quando os três se depararam com quase o mesmo lugar de antes, ficaram confusos. Desta vez, o lugar em que estavam era diferente. A estação estava diferente, e até mesmo Cinco ficou surpreso. Da última vez que havia usado o metrô, a estação em que havia descido era praticamente igual... mas essa possuía diversas diferenças.

— Isso... é sinistro. — Celeste murmurou, finalmente descendo do trem.

Os três olharam cautelosamente para os lados, temente de qualquer coisa que poderia dar errado.

— Eca. — Lila reclamou ao reparar em toda a estação. — Que nojo.

O lugar parecia ter infiltração. Os ladrilhos estavam machados e o mofo fazia parte dos rejuntes. Celeste deu mais alguns passos, se distanciando dos outros na estação, inspecionando os trilhos do trem logo à frente. Ela saiu dali, notando normalidade.  Quando voltou a olhar para os outros, Cinco tinha um pequeno bloco de notas em mãos.

— O que tá fazendo? — Ela perguntou, se aproximando. O cenho dela franziu, ao notar tantas anotações no pequeno livro. Lila logo se aproximou de Cinco, também.

— "Querido diário... — Lila começou, ironizando a situação enquanto ele ainda escrevia em seu bloco de notas, sem responder as perguntas ou as implicâncias delas. — ...por que eu sempre uso terno?"

Lila deu de ombros, sorrindo ironicamente com a implicância. Cinco a olhou de soslaio, e então, expirou o ar lentamente, pensando na resposta óbvia.

— A Celly disse que eu ficava bem com ele. — O garoto deu de ombros. — Antes que fiquem me perguntando mais e mais: estou deixando migalhas de pão. Uma máquina de venda quebrada, uma mancha no chão com a forma da Austrália... três lâmpadas queimadas. — O garoto descreveu o ambiente, finalmente olhando para Celeste, que havia tido sua pergunta respondida.

— Esperto. — Ela falou, erguendo as sobrancelhas. Celeste logo deu as costas para ele, procurando algo na máquina de venda estragada. — Vamos logo dar o fora daqui?

— O que foi? Você estava animada há seis minutos atrás. — Cinco implicou, sem tirar os olhos das suas anotações.

— Há seis minutos eu não estava sentindo meu nariz coçar com tanta umidade. — Ela rebateu.

— É isso. — Cinco respirou fundo, murmurando, após terminar de avaliar o ambiente. Finalmente guardou a caneta e o bloco em seu paletó.

— Onde você acha que a gente tá? — Lila perguntou, guiando seus passos para a escadaria de onde haviam descido na outra estação. Celeste rapidamente os seguiu.

— O meu palpite é o apartamento do Gene e da Jene. No mesmo dia, numa linha do tempo diferente. — Cinco respondeu.

— Linha do tempo diferente, aham. Eu sabia! — Lila falou, achando graça na previsibilidade do garoto.

Os três atravessaram o terminal sem muita demora. Subiram as escadas rapidamente e, dessa vez, as catracas já não estavam mais ali. Eles se depararam com um cenário catastrófico. As ruínas do lugar completamente em chamas.

O cheiro de mofo se dissipou completamente, sendo substituído pelo forte cheiro de fumaça que ambiente emanava. Tudo estava destruído.

Os três olharam para o local. Celeste pôs as mãos na cintura, impressionada.

— Olha só... talvez estejamos mesmo no apartamento da Jene e o Gene... só que em um cenário mais apocalíptico, hm? — Celeste perguntou, sendo otimista e tentando manter o que já sabiam sobre o metrô.

— Não. O palpite dele foi uma bosta, mesmo. — Lila implicou, olhando para o garoto, que o olhava para a destruição com pesar nos olhos.

Estar ali, fez Cinco se lembrar dos trinta anos que passara sozinho. Cada dificuldade que havia passado retornou em instantes.

— Deve ter saltado pra frente do tempo, até o fim do mundo. — Lila falou, avançando na frente dos dois. Cinco estava com o cenho franzido, tentando entender a situação.

— Não, não, não. — Ele impôs, saindo de onde estava e caminhando pelo local. Celeste fez o mesmo, seguindo a esquerda e cuidando com os entulhos. — Nós não pulamos pra lugar nenhum. Não estamos indo nem pra frente, nem pra trás no tempo. Só viajando por versões alternativas do presente, assim como a Celeste falou. — Ele olhou para a garota, que deu de ombros com o próprio palpite. O silêncio perdurou entre os três por alguns instantes. — Eu já estive aqui. Esse é o meu apocalipse.

— Seu apocalipse? — Lila e Celeste perguntaram em uníssono, completamente confusas.

— Isso. A linha do tempo original. Eu fiquei preso aqui por trinta anos. Essa é a linha do tempo em que o Viktor destruiu a Lua e nós não impedimos.

— Hm... — Lila murmurou. — Essa linha do tempo é bem escrota.

— Pois é, uma bosta. — Celeste concordou, saindo de onde estava e andando calmamente até o garoto.

O garoto pareceu semicerrar os olhos, os apertando para tentar ver mais detalhadamente o horizonte. Ele franziu o cenho, quando notou a movimentação perto dos escombros. "Esperem um pouco", ele pediu, pegando um pequeno binóculos de dentro do paletó, e posicionando nos olhos.

— Binóculos? — Lila perguntou.

— Como você carrega tanta coisa no paletó? — Celeste indagou, franzindo o cenho. Um bloco de notas, caneta e agora um binóculos.

Lila também tentou ver o que ele havia se interessado, e até tentou perguntar o que era. Entretanto, havia ficado sem respostas.

O sexto sentido de Celeste ficou aguçado em instantes. Seus pelos se eriçaram, ela franziu o cenho, confusa. Quando finalmente sabia o que estava acontecendo, rapidamente puxou o braço de Lila de onde estavam.

— Você peidou?-  — Lila iria perguntar para Cinco, antes de ser interrompida pelo puxão brusco de Celeste, a fazendo recuar do exato lugar onde um disparo de munição iria passar.

— Outra versão dele! — Ela gritou, ao mesmo tempo que o garoto havia pedido para que ambas se abaixassem.

Os três se moveram rapidamente, com os corpos curvados para se esconderem entre os entulhos. Correram até um carro da polícia, completamente detonado e deteriorado, usando-o para se protegerem de quaisquer disparos. Os três ficaram ofegantes com a adrenalina. Os disparos atingiam a lataria do carro, gerando tilintares e altos sons do impacto.

— Nós temos que sair daqui. Vão! — Cinco pediu, rapidamente saindo de onde estava e correndo para onde os três haviam vindo.

Celeste e Lila ficaram pra trás, demorando para se levantarem. Os entulhos no caminho dificultavam uma boa corrida, mas usaram todo seu fôlego para saírem dali o mais rápido possível.
Assim que alcançaram novamente a escadaria do metrô, desceram rapidamente os degraus. Cinco na frente, Celeste no meio e Lila atrás. Os três percorreram o terminal e entraram no mesmo trem que os havia trazido para aquela linha do tempo. Ofegantes, a porta do veículo fechou atrás deles, e os três nem sequer cogitaram viajar para outro lugar a não ser sua própria linha do tempo.

Mais ummmmm!
Eu tô tentando deixar os capítulos nos 5k de palavras MAS SIMPLESMENTE PASSA, QUE ODJO
KKKKKKKKK

Amo vcs, leitores que comentam na fanfic😽😽😽

Até, misamores😻

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