𝐌𝐀𝐑𝐈𝐆𝐎𝐋𝐃
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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
𝐌𝐀𝐑𝐈𝐆𝐎𝐋𝐃
ASSIM QUE A PALESTRA dos Keepers havia terminado, Lila insistiu para que acompanhasse ela e Cinco até uma cafeteria da cidade para conversar sobre aquilo. Mesmo que o garoto não desejasse a companhia de ambas, era bom conversar com pessoas bem informadas. De primeira, Celeste negou, pois sabia que seria arriscado extrapolar a hora. Mas, pensando bem, aceitou ir para poder ficar longe de casa por mais um tempo. Sentia-se cansada da mesma rotina de sempre.
— Olha, se aqueles artefatos são de linhas do tempo diferentes e estão aparecendo agora... — Lila começou.
— O reinício que o velhote fez pode não ter funcionado. Isso é possível? — Cinco perguntou, olhando para Celeste ao lado de Lila.
— Sinceramente? Só havia um reinício, não é? Uma chance. Vocês brincaram demais com as linhas do tempo tentando salvar o mundo. Mas eu realmente estou surpresa que, mesmo com o Oblivion, isso esteja dando errado.
— Mas o que isso quer dizer? — Lila perguntou.
— Eu não faço ideia — Cinco deu de ombros. — Seja lá o que for, não falem nada pra família, por enquanto. Tá bom? Nem pro Diego, nem pro papai.
— É claro que não. Ele acha que eu tô no clube do livro. — Lila rebateu.
— É, e meu pai acha que estou dançando. Fora de cogitação eu contar pra ele. — Celeste falou. Seus olhos sinceros.
— É mais fácil assim, não é? — Lila sorriu.
— Ter família é complicado. Vocês são duas falsas. — Cinco sorriu irônico.
— O que foi? A Celly nunca mentia, por acaso? — Celeste ergueu as sobrancelhas, se acomodando no sofá confortável da cafeteria e cruzando os braços.
— Acho que não pra mim. Ao menos eu confiava nela. — O garoto deu de ombros, dando uma enorme mordida no pão doce em que havia escolhido na cafeteria.
Lila sorriu quando notou que o bigode falso dele havia ficado todo sujo de açúcar. Celeste riu também, as duas achando graça e Cinco sem entender do que estavam rindo.
— O que foi?
— Tem açúcar no seu bigode, idiota. — Celeste avisou.
O garoto arregalou os olhos, envergonhado.
— O seu pai não ensinou nenhum dos meninos Hargreeves a comer? — Lila perguntou divertida. Cinco rapidamente limpou sua boca, falhando miseravelmente.
— Tem mais ainda. Ó, pega isso aqui — Celeste ironizou, pegando um guardanapo e estendendo para ele.
O garoto pegou o papel e limpou certo finalmente, enquanto Celeste falava algo com "Finalmente, Cinco", enquanto ria das reações dele. Lila também se divertiu com a sujeira que ele fez com o pãozinho doce, e não demoraram muito para terminarem de comer e sair da cafeteria. Tempos depois, Lila, Celeste e Cinco saíram do local, e Luther ligou para Lila, pedindo que viesse a mansão da Umbrella o mais rápido possível. Como ela já estava com Cinco, mas não sabia do que se tratava o pedido de Luther, acabou convidando Celeste para acompanhá-los também. O garoto tirou o bigode falso e passou em casa para trocar as roupas do disfarce enquanto Lila e Celeste iam até a mansão juntas.
Quando ambas chegaram, Celeste começou a espirrar com o pó do local, e simplesmente não acreditou quando Luther, na qual seu pai já havia falado bastante dele, disse que tinha "organizado" o local para morar.
"O que você tem como conceito de organização e limpeza?", ela perguntou, recebendo uma resposta que gerou uma discussão saudável entre os dois. Os dois surpreendentemente se deram muito bem, e o assunto pareceu fluir enquanto Celeste tinha seu humor ácido e ele parecia já saber como lidar com isso. Conforme os outros membros da família chegavam, todos estranhavam o fato de ter Celeste ali. Bom, não era sua irmã, mas de alguma forma a lembrava bastante, e eles quiseram saber como era sua vida na elite.
Ela conheceu todos os irmãos — com exceção de Viktor —, na qual não havia tido tempo de conhecer na época em que morou. Eles gostaram bastante da sua companhia, mesmo indagando sutilmente Lila o porquê de ela ter trazido alguém que tecnicamente não era da família. Quando perguntaram o porquê de ela estar junto com eles, ela só explicou brevemente um "estamos trabalhando juntos em uma pesquisa", mas não deu mais detalhes e mudou o assunto, pois tinham combinado de não contar sobre isso à família.
Ela sabia que quando eles a observavam, lembravam da sua outra versão, e não podia deixar de admirar o fato da garota ser incrível, já que nenhum lembrava de Celly com rancor ou desgosto — com exceção de Ben, que não teve muita interação com ela.
Quando finalmente Luther lembrou todos do porquê estavam reunidos, todos voltaram a focar no loiro. Celeste sentada educadamente ao lado de Lila, ouvindo o homem.
— Tá bom, Luther, estamos aqui. O que você queria? — Cinco perguntou impaciente.
— Aqui diz: "O seu irmão, Viktor, foi sequestrado. Sigam minhas instruções exatas e nenhum mal acontecerá a ele" — Luther lia o papel, que havia sido deixado na caixa de correios durante o horário da festa. Cinco rapidamente pegou a carta de sua mão, lendo a caligrafia impressa.
— Aposto que foi vocês sabem quem — Luther falou.
— Ah, quem? O papai? Qual é! O papai não sequestrou o Viktor. Ele tá cagando pra gente.
— Verdade — Celeste afirmou. — Completamente desinteressado nos problemas de vocês.
— Cinco, liga para os seus amiguinhos da CIA — Allison propôs, cruzando os braços.
— A CIA não investiga sequestros — o garoto pôs as mãos na cintura, soltando uma lufada de ar com o estresse. Só restaria eles para resolver o problema, e ele sabia disso.
— Só o FBI, não é? — Celeste perguntou.
— Alguém fez o dever de casa, pelo visto. — Ele ironizou.
— Não precisamos de ninguém. A gente dá conta — Diego afirmou.
— É! — O loiro concordou.
— Nós não somos mais uma equipe, Diego. — Cinco o lembrou.
— Nem nunca fomos — Benjamin falou com desdém.
— E, ainda por cima, perdemos os nossos poderes. — Lila deixou claro, bufando de frustração ao lado de Celeste, que parecia atenta ao que eles falavam, tentando entender o que havia acontecido, já que não havia participado das mesmas vivências que eles.
— Não. Eu não ligo. Se o Viktor está em apuros, eu vou. Tá? — Luther protestou, batendo no próprio peito. Diego olhou para Lila, buscando alguma confirmação. Ela murmurou um "Não olha pra mim. Não sou sua mãe", que fez ele topar o resgate do irmão na mesma hora.
— Boa sorte para os dois! — Lila ironizou, sua cara não demonstrava nenhuma diversão.
— O quê? — Diego perguntou preocupadamente, olhando para a esposa em um instante e buscando compreender a sua dúvida em relação ao resgate.
— Não consegue nem subir uma escadaria sem ter um infarto.
— Nunca estive em tão boa forma na minha vida. — Diego mentiu, se animando com a expectativa de fazer algo diferente da sua rotina.
— Caramba. Tá legal, gente. E agora? — Allison voltou ao foco.
— Ah... aqui diz que é pra gente se encontrar na lavanderia do Sy, na quinta avenida. — Luther explicou, lendo as informações da carta deixada pelo sequestrador.
— Perfeito! Vamos nessa! — Diego falou alegremente, saindo da enorme sala, sendo seguido por Luther. Os irmãos soltaram alguns "O quê?", "Vamos mesmo?" ou "Sério isso?", mas não se negaram ir resgatar Viktor.
Enquanto eles se levantavam, Celeste não sabia se deveria ir junto, então perguntou a Lila:
— Ei! É pra mim ir junto?!
— É. A não ser que queria ficar nessa sala empoeirada e cheia de teia de aranha.
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Ao chegarem na "lavanderia rápida do Sy", Diego estacionou a kombi e todos desceram rapidamente.
— Fiquem atrás do Cinco, ele está armado. — Lila ordenou.
Todos eles seguiram em uma fila desajeitada até a entrada da lavanderia, que não estava aberta para compras e clientes. Entraram pela porta dos fundos, Cinco com uma lanterna e pistola carregada, checando se o local estava limpo.
— Deve ter um cara armado. — Celeste afirmou.
— Como é que você sabe?! — Cinco sussurrou alto demais.
— Por que você está sussurrando alto? Se for sussurrar, o conceito é ser no volume baixo, idiota.
O garoto bufou, a olhando da forma mais julgadora possível e andando pelo estreito corredor formado por araras de roupas limpas e lavadas, empacotadas.
Atrás de Cinco, o restante ia seguindo em passos lentos. Celeste não estava acostumada com nenhuma experiência de resgate, diferente deles, então estava nervosa. Os lábios sendo comprimidos um nos outros, enquanto seu maxilar travava com a nova experiência.
— Gente! Vocês não estão sentindo esse cheiro? — Klaus perguntou. Uma marcará de gás em seu rosto. — Esse lugar é quase um lixão químico! — Ele reclamou.
Cinco andou mais depressa, cuidando caso o palpite de Celeste estivesse correto. Quando chegaram a parte principal da loja, encontraram uma pessoa amarrada à uma cadeira com um saco na cabeça. Luther correu para ajudar, tirando o item para que Viktor pudesse ver e respirar melhor.
O irmão pareceu despertar rapidamente, meio grogue.
— Opa, olha ele aí. — Luther sorriu.
— Ai, que alívio. E aí, Viktor? — Klaus perguntou.
— Então esse é o Viktor? — Celeste perguntou, conhecendo o último dos irmãos.
— Celly? — Ele pareceu atordoado. Foi como se tivesse visto um fantasma.
— Essa não é nossa irmã, Vik — Allison o avisou. Viktor pareceu se entristecer. De alguma forma, quando a viu, tinha quase certeza de que era sua irmã.
— Tecnicamente, eu sou sim. Mas... bem, não sou a Celly de vocês. Sou só a adotiva do Reginald — Celeste sorriu, envergonhada por mais uma apresentação hoje.
Celeste é o tipo de pessoa que, apesar de não ser nada tímida, não gosta de ser o centro das atenções. E desde a reunião dos Keepers ela estava sendo o foco de muitas coisas. Já havia falado sobre a sua vida tantas vezes hoje que já havia até decorado o que falar, mesmo que não precisasse.
— Somos todos adotivos. — Viktor lembrou.
— É, acho que você é nossa irmã, sim — Diego falou, dando uns tapinhas nas costas dela. — Você nem foi no aniversário da sobrinha, hm? — ele repreendeu o irmão.
— Bom, eu tava indo, mas aí eu fui sequestrado, então... — Viktor falou.
— Tá. Bela desculpa — Diego rebateu, sendo repreendido por Lila, que chamou o seu nome e balançou a cabeça negativamente.
— Acho que ele realmente foi sequestrado. Inclusive... ele está amarrado ainda e... — Celeste falou.
— É. Eu ia perguntar se vocês pretendiam me desamarrar. — Viktor falou.
— Vamos, claro. — Luther sorriu, se aproximando rapidamente e tirando com dificuldade as cordas que enrolavam seus pulsos. Benjamin rapidamente foi ajudar.
— Quem te sequestrou? Hargreeves e os capangas? — Ben perguntou. — Sem querer ofender. Sabe como é. — Ele olhou para Celeste, que deu de ombros.
— Duvido que tenha sido ele. Isso é coisa de amador. — Cinco deu de ombros.
— Tenho que concordar — Celeste falou.
— Você tá sabendo das coisas, né? — Cinco insinuou, desconfiando em como a garota sabia tanto sobre "amarrar uma pessoa".
— O fruto não cai muito longe do pé. Você também é um exemplo disso, seu maluco — Ela falou. Primeiro, um sorrisinho malicioso, depois, quando o chamou de maluco, puro ar de deboche.
O garoto pareceu soltar o ar pelo nariz, se concentrando novamente no local. Ele sacou a arma com a lanterna habilmente quando uma nova voz se fez presente na lavanderia.
— Peço desculpas se os meus métodos são um pouco amadores, mas é o meu primeiro sequestro, e eu espero que seja o último — uma voz masculina ecoou. A figura de um homem careca e barbudo, com óculos, se fez presente, saindo de trás das roupas lavadas e apontando uma arma para Cinco, que também mirava para ele.
— Um homem armado, não disse? — Celeste ironizou o momento de quando ambos entraram na lavanderia. Cinco revirou os olhos.
— Sequestrar nosso irmão e apontar uma arma pra gente não estimula a nossa boa vontade.
— Era o único jeito de garantir que vocês viriam pra cá. Todos vocês. Eu não podia dar chance pro azar. Especialmente quando se trata da... Umbrella Academy. — O homem argumentava. Sua arma balançando com o tremor das suas mãos. Certamente ele havia sido sincero quando disse que era o seu primeiro sequestro.
— Ninguém nos chama assim há seis anos. — Diego murmurou.
— Sinto muito, amigão, mas a Umbrella Academy não existe — Cinco o lembrou.
— Pera aí. Tá bom, então — o homem pensou um pouco, e então, de forma medrosa, foi largando sua arma aos poucos. — Espera um pouco. Espera aí...
O homem guardou a arma, e foi até a prateleira pegar uma caixa de papelão, que colocou em cima da mesa.
— Ó. Então podem explicar isso? — Ele perguntou, retirando uma folha de jornal e estendendo a eles. Uma enorme machete abaixo de uma foto estava ali, no jornal que ele havia retirado da caixa.
"𝚄𝚖𝚋𝚛𝚎𝚕𝚕𝚊 𝙰𝚌𝚊𝚍𝚎𝚖𝚢 𝚜𝚊𝚕𝚟𝚊 𝚃𝚘𝚛𝚛𝚎 𝙴𝚒𝚏𝚏𝚎𝚕 𝚎 𝚛𝚎𝚌𝚎𝚋𝚎 𝚊 𝚌𝚑𝚊𝚟𝚎 𝚍𝚎 𝙿𝚊𝚛𝚒𝚜".
Acima da grande machete, uma foto que mostrava os sete irmãos, e Celeste, em frente à Torre Eiffel.
A garota, assim que olhou a foto, franziu o cenho no mesmo instante. Como ela poderia fazer parte daquilo? Não fazia sentido.
— A Umbrella Academy salvou o quê? — Klaus perguntou com aflição. — Quando é que a gente salvou a Torre Eiffel?
— Eu nunca estive com vocês antes... como estou nessa foto? — Celeste perguntou, preocupada.
— Onde você conseguiu isso? — Viktor perguntou.
— Tava nessa caixa de tralha no porta-malas do carro da minha filha. O nome dela é Jennifer.
— E onde ela conseguiu isso? — Lila perguntou.
Os irmãos se reuniram em torno da caixa, pegando coisas que reconheciam. Celeste rapidamente reconheceu o seu pequeno ursinho de pelúcia que estava em mãos no dia que conheceu seu pai. O ursinho marrom, com os exatos detalhes. O pequeno remendo em seu braço esquerdo e as plumas queimadas de quando seu poder começou a aparecer. Ela ficou estagnada em seu lugar, completamente atônita.
— Eu não sei. — O homem perguntou, tropeçando nas palavras. Cinco revirou a caixa, procurando algo que conhecesse. Um objeto chamou sua atenção. O colar do infinito que dera a Celly. — Mas tá, escuta. Há mais ou menos um ano, ela fez novos amigos. E eles começaram a frequentar umas reuniões estranhas...
Ele pegou o colar com o maior cuidado com mundo, visualizando em sua frente como se todas as respostas para trazê-la de volta estivessem ali. Ele procurou na jóia qualquer sinal que o apontasse que aquele homem era uma farsa, mas cada detalhe dele estava ali.
O ar pareceu faltar dos seus pulmões, enquanto ele brincava com o colar em seus dedos. Sua memória viajou ao dia em que ela não tinha nada em seu corpo, somente o colar que havia permanecido em seu pescoço. O dia em que eles pertenceram um ao outro.
— ...são pessoas estranhas. Eles se chamam Keepers e... — Cinco, Celeste e Lila se entreolharam, prestando mais atenção no homem. — E aí, com o tempo, ela parou de falar comigo. Só parou. E isso foi há uns três meses, e eu não a vi mais desde então. E eu acredito que alguma coisa terrível aconteceu.
— Sei não, hein, parceiro. Talvez ela só não queria falar com você — Diego deu de ombros.
— Não! Não! A minha filha e eu somos muito unidos. Ela não faria isso comigo.
— Espera aí. Como é que você achou a gente? — Luther perguntou, claramente confuso.
— Eu a vi na TV. Toss N' Wash. — O homem apontou para Allison.
— A-ha! Viu? Todo papel conta! — Klaus apoiou a irmã, que fez careta. Ela odiava o comercial de sabão.
— Na verdade, eu tava observando vocês por um bom tempo. Eu lamento. Eu lamento. Me desculpem. — O homem falava. Suas palavras saíam gaguejadas pelo nervosismo. — Ela é tudo o que eu tenho e...
"Ela é tudo o que eu tenho", isso ecoou na cabeça de Cinco, mesmo ele não estando disposto a ajudá-lo.
— Por que precisa da gente? Liga pra polícia — Cinco falou. Suas sobrancelhas franzidas, tentando entender a situação.
— Eu liguei. Eles não fizeram nada...
— Olha, adoraríamos ajudar, mas não somos mais as pessoas dessa foto. — Viktor afirmou.
— É, a gente nem tem poderes mais. — Luther concordou, cruzando os braços em frente ao peito.
— É, não somos especiais. — Diego afirmou.
— Fale só por você, gordo — Ben retrucou.
O silêncio perdurou por alguns segundos, enquanto Cinco lembrava-se de Celly. Ele olhou para dentro da caixa com os itens, e notou um vidro que fora ignorado pelos outros irmãos. Uma espécie de líquido dourado cintilava ali dentro. Ele notou que Celeste, ao seu lado, havia-o notado também, mesmo ficando quieta. Os dois se entreolharam por poucos segundos. Ele respirou fundo, pedindo a Deus que o que viesse a fazer agora, não fosse mais uma perca de tempo.
— Dá 24 horas pra gente. — Ele pediu.
— Cinco, tá fazendo o quê? — Allison perguntou. O cenho franzido e o tom de voz levemente desesperado.
— 24 horas. Vamos achar sua filha — ele saiu do lugar, se aproximando rapidamente da caixa de papelão.
— Tá. Obrigado! — O homem aceitou. Sua expressão feliz, ainda meio atrapalhada.
— Gente, vambora — Cinco pediu, fechando a caixa com os itens e pegando-a para levar consigo.
— Do que você tá falando? — Luther perguntou. Os outros irmãos também contestavam sua decisão.
— Muito obrigado! Umbrella Academy, são especiais, sim — o homem falou, enquanto os irmãos se retiravam da loja. O homem os agradeceu até o momento em que todos saíram dali, um atrás do outro tentando entender a decisão de Cinco.
— Vamos embora! — Ele pedia, ignorando eles, que chamavam seu nome.
Ele realmente não deveria ter aceitado aquilo, afinal, era uma missão em grupo, e ele decidiu por todos. Fora isso que deixou os irmãos confusos, fazendo-o perguntas e contestando sua decisão.
— O que foi aquilo, cara? — Diego perguntou.
— Aí, por que tá pensando em ajudar aquele cara? — Ben perguntou.
— Cinco!
— O que tá rolando?! — Luther perguntou, enquanto Cinco abria a porta da kombi. Os irmãos todos em torno dele.
— Eu vou contar o que está rolando — Celeste falou, chamando a atenção deles enquanto todos se viravam para vê-la com atenção. Cinco ainda com a caixa em mãos e a porta da kombi aberta — Você notou o vidro cintilante, não é? — ela perguntou, olhando para o garoto que desviou o olhar. Ele não queria que ela ajudasse. Estava orgulhoso demais para aceitar ajuda da pessoa que, só por existir, havia tirado tudo dele.
— Vidro cintilante? Do que vocês estão falando?! — Luther perguntou.
A garota deu alguns passos para a frente, retirando a tampa da caixa e tirando o vidro de calêndula de dentro. O vidro cintilava tons de amarelo e laranja, era luminoso e atrativo. Ela mostrou aos irmãos, enquanto Cinco bufava.
— É isso que... há muitos anos tornou vocês especiais — ela explicou. O vidro gerando ruídos melódicos enquanto os irmãos se entreolharam.
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Cinco decidiu que seria bom eles irem juntos para um lugar e decidirem o que fariam com a calêndula. Celeste decidiu acompanhá-los até um restaurante japonês. Cinco não estava confortável ao lado dela, mas era óbvio que se ela os acompanhasse, poderia certamente ajudar.
Estavam todos sentados nas banquetas do restaurante, esperando a comida ficar pronta enquanto Cinco brincava com o frasco em suas mãos.
— O que eu quero mesmo saber é como a filha de um... um cara aleatório, acabou com um jarro de calêndula na mala do carro — Cinco falou. Realmente aquilo era sinistro.
Mesmo que o objeto pertencesse a outra linha do tempo, quem teria aquele item raro?
— Como sabe que isso não é só um jarro de geleca brilhante? — Diego perguntou.
— Toma um gole e descobre, valentão — Ben propôs.
— Não, eu tenho certeza que é isso que nos deixa especiais. — Celeste afirmou. — Olha, diferente de vocês, que já nasceram com ela... isso me deixou poderosa quando eu era criança.
— Como? — Allison perguntou atentamente.
— Bom, eu era órfã. Estava no meio da noite, doente. Isso aí magicamente entrou no meu coração-
— Você está brincando com a gente? — Ben perguntou. Realmente a história parecia um conto de fadas para crianças.
— Por que é tão difícil acreditar que entrou nela enquanto ela era criança, mas é fácil acreditar que nossas mães engravidaram do nada? — Cinco defendeu. — Continua.
— Bem, como eu estava dizendo... isso entrou no meu peito. Foi sinistro. Eu estava doente em um instante e de repente não mais. Os dias se passaram e... eu ficava mais forte. Digamos que tenha sido eu que tenha colocado, sem querer, fogo no orfanato.
Os Hargreeves a escutavam com atenção. Alguns até levantaram as sobrancelhas em sinal de surpresa quando ela disse que havia gerado uma tragédia local.
— Ah, enfim. Não é como se a minha história importasse muito. A questão é que eu me lembro perfeitamente da aparência do negócio que me deu poderes. Eu tenho certeza absoluta que é isso aí. E, bom, se por algum acaso eu estiver equivocada... o que poderá acontecer?
— Eu tomo a calêndula se o Ben tomar — Diego afirmou. Lila logo repreendeu com um "de jeito nenhum".
— Tá bom, vamos pensar no assunto — Cinco pediu, largando o frasco de calêndula no balcão cuidadosamente. — Digamos que seja verdadeiro. Alguém aqui quer mesmo os poderes de volta?
— Não. De jeito nenhum. — Klaus falou.
— Eu quero. — Ben afirmou.
— Pela primeira vez na vida tô conseguindo ficar sóbrio — Klaus disse, chamando a atenção dos outros para ele. — E eu tô até feliz. E o mais importante, eu tô 100% livre dos poltergeists.
Cinco pegou o frasco em mãos novamente, desta vez pensando em Celly. Obviamente, se todos eles tivessem os poderes novamente, as chances de gerarem um apocalipse era gigante. Mas, se ele tivesse seus poderes de volta, teria mais chances de ter Celly novamente. Eu prometi a ela, ele pensou. A foto que haviam tirado no hotel, pouco tempo antes de ele pedir ela em casamento voltou como uma ótima lembrança em sua cabeça. Ele deu um pequeno sorriso para si mesmo, enquanto os irmãos entre si ainda discutiam sobre a calêndula.
— Bem-vindos! — O garçom falou com um sorriso, arrancando Cinco dos pensamentos. Ele começou a bater com as espátulas umas nas outras e girá-las no ar. Certamente aquilo era uma das experiências que o local oferecia.
— Mandou bem, chef. — Cinco elogiou, aplaudindo junto com os outros irmãos quando o chef terminou a demonstração.
Diego foi o único que não gostou, já que um dia tivera o dom de fazer o mesmo que o chef, só que com perfeição. Diego encontrou defeitos na demonstração, dizendo que "o ângulo estava errado".
— Show! — Klaus elogiou.
— Ele é bom mesmo! — Luther falou animado. Diferente dele, Ben, ao seu lado, parecia achar tudo uma baboseira. O chef finalmente começou a fazer a comida.
— Olha, gente, eu também não quero — Viktor falou, voltando ao assunto da calêndula. — Eu tenho um bar de verdade pra cuidar, amigos, uma vida real.
— Vocês estão doidos, tá bom? — Ben começou. — A gente devia usar essa merda agora mesmo. Olha. Qual é, grandão! Sei que você quer. — Ele falou para Luther, que ainda estava com receio da ideia.
— Espera aí! Olha, é difícil decidir, porque-
— Qual é? Não precisa disso, Luther. A sua vida é muito fantástica! — Klaus elogiou.
— Não sei se é fantástica, mas eu tô me virando.
— Sério que é isso que a gente quer? Se virar? — Ben perguntou. Estava disposto a tentar o irmão.
— Eu vou fazer o que o grupo decidir, tá bom? Que tal? — Luther propôs.
— É, eu tô com o Luther. — Diego concordou, recebendo um olhar de incompreensão de Lila. — A maioria manda.
— É, isso.
— Por favor, me fala que você não tá levando isso a sério, né? — Klaus perguntou para Allison, sentada ao seu lado, que negou.
— Minha vida tá ótima. Tenho tudo que eu preciso.
— É, eu também. — Lila concordou com ela.
— Idem! — Klaus sorriu.
— Eu sinceramente acho que os poderes não vão nos ajudar agora — Celeste começou. — Não estamos lidando contra um apocalipse, não é? Só estamos ajudando um pai desesperado. Os poderes são úteis, mas não tem necessidade de arriscar essa linha do tempo.
— Você fala isso porque tem tudo, princesinha. — Ben retrucou.
— Está decidido. Votação encerrada. A gente não vai beber o suco misterioso nem recuperar nossos poderes — Cinco concluiu, antes que uma discussão entre Celeste e Ben fosse iniciada.
— Ai, que alívio! — Klaus suspirou fundo, se acomodando ainda mais na cadeira.
— Eu tentei. — Ben reclamou, se levantando do lugar em que estava. — Vocês são uns idiotas.
— Aí! Está indo pra onde? — Luther perguntou.
— Eu só tô indo mijar! Será que eu posso, Luther? Ou você vai perguntar pro meu agente da condicional?
— Ai, merda! Era pra eu ligar para ele às seis! — Luther olhou o relógio. Seu rosto demonstrando sua falha.
Os irmãos respiraram fundo. Cinco pensou em Celly... talvez fosse melhor assim.
— Ah, tá bom, tenho que ir embora, gente. — Viktor foi o primeiro a se levantar.
— Poxa vida, já? — Klaus perguntou tristemente.
— Qual é, Viktor! Fica mais um pouco! — Luther pediu. Fazia tempo que eles não o viam.
— Não, espera aí! Fica, cara. — Diego pediu também.
— É longe pra caramba. Até mais. — Ele se despediu, pegando seu casaco e lavantando da cadeira.
— Eu também tenho que ir. Tenho um teste amanhã.
— E esse é um teste importante pra chuchu, e a gente precisa muito ensaiar essas falas. — Klaus lembrou-a, fazendo questão de acompanhar Allison.
— Tenho que levar as crianças ao dentista às sete da manhã! — Lila falou, Diego soltou uma gargalhada de cansaço.
— Por que sempre tem que ser tão cedo?
— Porque a aula começa às oito. — Ela sorriu, falando o óbvio.
— Eu tenho ginástica amanhã de manhã. E já extrapolei o horário, já é tarde. — Celeste também falou.
— Opa, opa, opa! Calma aí, pessoal! Pra onde tá todo mundo indo? — Ben perguntou, voltando do banheiro. — A gente ainda nem comeu a carne!
— A festa acabou — Viktor falou. A voz arrastada de sono.
— Não! Tá bom? Uma última dose. Eu pago. Pelos velhos tempos. Por favor. — Ele pediu. O garçom deixou as pequenas doses de saquê em cima do balcão. — Klaus!
— Não! Não. — Ele negou. Estava feliz com a sobriedade.
— Ignora ele. — Luther pediu ao irmão, para evitar que ele se magoasse com a situação.
— Ele não bebe! — Allison o defendeu.
— Ué, saquê não conta. — Klaus rebateu, dando de ombros, finalmente cedendo a tentação.
— É isso aí! — Ben sorriu alegremente.
— Não conta?! — Luther perguntou.
— Ô, ele não. O cara tá sóbrio — Diego pediu, mas Ben o ignorou, entregando a dose de saquê à Klaus.
— Valeu. — Ele agradeceu.
Todos eles pegaram o pequeno copinho, esperando para tomarem todos juntos.
— Um brinde à Umbrella Academy que não existe! — Ben falou, olhando para os irmãos que esperavam o sinal para beber. — Kanpai!
— Kanpai! — Todos os irmãos falaram em uníssono, bebendo o líquido em um instante.
Celeste notou que aquilo não era saquê no exato instante em que a bebida desceu pela sua garganta, fazendo careta com o gosto horrível. Ela rapidamente largou o copinho na bancada novamente, e agradeceu pela noite.
Sentiu o seu estômago revirar, mas ignorou a sensação. Alguns irmãos se abraçaram, se despedindo. Ela falou com alguns, dizendo que foi um prazer conhecê-los. Os irmãos não demoraram para chamar alguns táxis ou pedir carona para Diego e Lila, que não demoraram a ir para casa. Havia sobrado somente Cinco e Celeste.
Ela já havia ligado para que viessem buscá-la, mas por algum motivo, estava demorando. Ela encontrou o garoto sentado em um banco qualquer na rua, com a caixa de itens ao seu lado, brincando com algum objeto em seus dedos. Seu rosto parecia ver aquilo com carinho, então ela se aproximou.
— Encontrou algo seu dentro dessa bagunça? — ela perguntou, se sentando ao lado dele para esperar o carro que a viria buscar.
— Na verdade, é dela — ele corrigiu. — Eu comprei pra ela quando percebi que não tirava ela da cabeça.
— E ela gostou?
— É, acho que sim — ele deu de ombros, guardando o objeto em seu bolso novamente.
O silêncio entre eles se fez presente por alguns segundos. A caixa entre os dois, ambos olhando para a estrada deserta.
— Eu encontrei algo meu também. — Ela murmurou.
— O quê?
— O ursinho de pelúcia — ela respondeu. Parecia submersa nos pensamentos. — Foi a única coisa que me restou deles.
Ela falou tão baixo que ele quase não escutou. Demorou para entender que ela se referia aos seus pais biológicos.
— Você conheceu eles?
— Não. As freiras às vezes deixavam escapar alguns comentários — ela deu de ombros. Sentia sua garganta fechada, seu estômago embrulhado. — Minha mãe morreu no parto e meu pai se matou por causa disso. Eles se amavam. Eu gostaria de ter conhecido-os.
— Eu sinto muito. — Ele falou. A garota ficou surpresa, virando seu rosto para ele. Não esperava nenhum sentimento de compaixão vindo dele por ela.
— Tá tudo bem — ela falou com sinceridade.
Um enorme carro preto virou a esquina, se aproximando dos dois.
— É a minha deixa — ela sorriu, se levantando do banco. O grande carro chique estacionou na frente dela, esperando-a.
— Até logo. — Cinco falou, pegando a caixa em mãos, pronto para ir para a sua casa.
— Até.
Celeste abriu a porta do carro, enquanto o garoto já caminhava pela rua. Ela o observou. Pensou em falar algo, mas preferiu se calar. A noite melancólica fez Celeste mudar seu olhar para a enorme e brilhosa lua no céu, e então, se sentiu tão sozinha quanto ele.
Segundo capítulo, amaram?
Quem estiver achando que vai ser enemies to lovers com os dois está erradíssimo.
Sou hater desse trope e completamente fiel a friends to lovers🙂↕️
VOTEM E COMENTEM pls 😽
Eu já estou com mais uns três capítulos prontos, o próximo sai dia 22/08!
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