𝐋𝐄𝐓 𝐇𝐄𝐑 𝐆𝐎
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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐖𝐄𝐋𝐕𝐄
𝐋𝐄𝐓 𝐇𝐄𝐑 𝐆𝐎
DESDE QUE CINCO havia deixado a sala para buscar algo que convencesse Celly de que o Apocalipse realmente fora evitado, ela e Diego ficaram sentados lado a lado, cada um envolto em seus pensamentos. Celly bebia um conhaque, tentando se acalmar, ainda sem confiar que o pior havia sido impedido. Diego, por sua vez, tomava tequila. As palavras de Cinco haviam o atingido profundamente; apesar de ainda estar tomado pelo desejo de vingança, ele sabia que Cinco estava certo. Patch jamais teria pedido que ele seguisse por esse caminho.
O silêncio entre os dois era pesado, ambos mergulhados nas próprias preocupações. Diego suspirou, cansado, sentindo a necessidade de finalmente conversar com a irmã. Desde que ela havia ido embora, o contato entre eles se rompera, mas agora, com ela ali de volta, ele não conseguiu evitar.
- Sabe, Celly, eu estou realmente feliz que tenha voltado - disse Diego, sacudindo o copo para ver a tequila dançar no vidro. - Não precisa cortar o contato depois que isso acabar.
Ele a olhou nos olhos, e por um instante, ela percebeu ali um toque de saudade. O comentário a pegou de surpresa; sempre foram muito próximos, e desde que ela retornara, só haviam brigado uma vez, logo fazendo as pazes. Mesmo assim, aquilo não era comum entre eles.
- Eu fico feliz por isso. E... não pretendo me distanciar de novo - Celeste sorriu, com os olhos quase se enchendo de felicidade. Ainda assim, ao lembrar-se do passado, tomou mais um gole de conhaque, fazendo uma leve careta.
- Sério - disse ele, colocando o copo de lado e se virando mais para ela, como se quisesse que ela realmente entendesse. - Essa história maluca com o Cinco... e depois com o Ben... éramos só crianças. Nem lembramos direito do que aconteceu - ele resmungou, colocando a mão no ombro dela, querendo soar ainda mais sério. Ela esboçou um sorriso. - Hoje todos nós sabemos que o papai era bem manipulador...
- Menos o Luther - ela resmungou, sarcástica, tomando mais um gole. Diego soltou uma risada.
- Sim, menos o Luther - concordou Diego, rindo. - Mas ele vai perceber. Enfim, todos nós sentimos sua falta.
- Ah é? - Ela perguntou, aproveitando a oportunidade para brincar e arrancar algumas risadas. - Me conta isso direitinho.
- Eh... - Diego coçou a nuca, estreitou os olhos e bagunçou os dedos no balcão, tentando se lembrar. - A Allison chorava, o Klaus mergulhou ainda mais nas drogas, e a Vanya perdeu o prazer nos duetos de piano...
- Eu nunca fui tão boa quanto ela, mas dava pro gasto, até, né? - Celeste sorriu, as memórias trazendo um raro arrependimento por ter partido.
- Vocês eram ótimas - afirmou Diego. - Mas sério, quando você foi embora, eu fui o que menos sentiu sua falta, okay?
Celeste soltou uma gargalhada, divertindo-se com as alfinetadas que, mesmo nesses momentos, Diego não deixava de dar.
- Você é horrível mesmo! - retrucou ela. Os dois riram, ambos sabendo que era mentira; Diego sentira sua falta mais do que ninguém. Quem mais lhe daria apelidos ridículos, como "Didi"?
Quando a risada cessou, ficaram em um silêncio confortável, ainda iluminados pelas lembranças da infância - especialmente Celeste, que não esperava que aqueles momentos pudessem parecer tão preciosos. Ela deu um longo gole em sua bebida, enquanto Diego parecia novamente imerso nas lembranças.
- Eu não sou o único que sentiu sua falta. De verdade, Celly - ele concluiu. Então, um sorriso traidor surgiu em seus lábios ao lembrar de algo que faria a irmã rir. - Para ser sincero, o único que fingia que não sentia nada era o Luther. Eu o peguei no seu quarto, ouvindo sua música favorita uns meses depois que você foi embora, acredita?
Celeste riu, incrédula. Mas antes que pudesse responder, perguntando como Luther poderia ter sentido tanta falta dela - já que ultimamente ambos não se davam muito bem -, o loiro entrou na sala rapidamente, seguido de perto por Klaus, ambos parecendo uma assombração silenciosa.
- Vocês precisam vir comigo - disse Luther, parando à frente deles, com um ar preocupado.
- O que aconteceu? - perguntou Celeste, surpresa com a seriedade dele. Colocou o copo de bebida de lado, olhando-o com uma expressão preocupada. Em outro momento, teria feito algum comentário irônico, mas a tensão de Luther indicava que a situação era realmente séria.
- Só venham comigo.
Celeste resmungou, largando a bebida e levantando-se, os ombros caídos em preguiça. Diego a seguiu, e ela sentiu que ele ainda sorria, provavelmente lembrando da cena de Luther no quarto dela. O comentário parecia trazer de volta algumas das memórias boas de infância para ele também. Em contraste, Luther estava extremamente tenso, e Klaus parecia perdido, sem entender por que estava ali.
Luther os guiou, enquanto Celly, Klaus e Diego o seguiam, até um elevador que eles nunca haviam visto - exceto por Luther, que parecia ser o único ciente do que estava acontecendo. Desceram para o andar mais baixo, que nenhum deles sabia existir.
À frente deles, um longo corredor de paredes e teto arredondados, ao final do qual havia duas portas pesadas. As portas já estavam abertas, e ao longe, Celeste percebeu a presença de uma espécie de cofre imponente, revestido de ferro maciço e protegido por uma camada espessa de concreto e chumbo.
O lugar fedia. O ar parado e o tempo de abandono deixavam um cheiro denso de mofo, e todos torceram o nariz assim que se aproximaram das portas.
- Onde estamos? - perguntou Diego, lançando um olhar desconfiado para Luther. Estava atordoado; minutos antes, bebia tequila com Celeste, e agora, estava num subsolo estranho, seguindo Luther em um silêncio carregado.
- Vocês já sabiam que esse lugar existia? - Klaus perguntou, a voz marcada pela confusão, os olhos analisando o espaço úmido ao redor.
Eles passaram pelas portas pesadas e entraram em uma sala fria e sufocante, onde havia uma espécie de cofre sombrio. Aproximaram-se de uma pequena janela arredondada e espiaram lá dentro.
Vanya estava lá, deitada em uma cama estreita no canto. Celeste sentiu o estômago revirar.
- O que ela está fazendo aqui? Luther, solte ela! - exclamou Celeste, séria, incrédula com o que via.
- Não. Vocês não entendem... Ela é pior do que imaginam.
- Tá brincando?! A gente está procurando por ela até agora! Quanto tempo ela tá aí? - Diego perguntou, chocado.
- Já faz trinta minutos.
Celeste olhou novamente pela janela e viu Vanya começar a se mexer, recobrando a consciência. Parecia tonta, desorientada, como se ainda não entendesse onde estava.
O local abafava completamente a voz dela, e, segundo Luther, também suprimia seus supostos poderes.
Assim que retomou a percepção, Vanya correu para a porta e começou a bater compulsivamente no vidro, os olhos arregalados de pavor, implorando para que a soltassem.
Klaus observava a cena com a mão sobre a boca, com o olhar entristecido ao vê-la presa ali.
- Você prendeu nossa irmã só porque acha que ela tem poderes? - Diego questionou, desacreditado. Era difícil encarar o fato de que ela poderia ser como eles.
- Não, eu sei que ela tem. Pogo me contou. Ele e papai sempre souberam.
- E a melhor forma de lidar com isso é trancá-la numa câmara? - ironizou Celeste, lançando um olhar furioso para Luther.
- Por que esconderam isso da gente? - perguntou Diego, indignado. - Só eu que não sabia da existência desse lugar?
- Ele escondeu tantas coisas de nós... - murmurou Klaus, a voz pesada, absorvendo o impacto da situação.
- Escondeu porque tinha medo... - Luther respondeu, com um tom sombrio, os olhos fixos na câmara. - Medo dela.
- Ah, isso é ridículo! - resmungou Klaus, incrédulo. Celeste soltou uma lufada de ar. "Mas o que diabos está acontecendo hoje?"
- Ah, é? O papai mentiu sobre tantas coisas... Por que isso seria tão difícil de acreditar?
- Luther não está completamente errado nisso - comentou Celeste. Luther ergueu as sobrancelhas, surpreso pela aprovação.
- Bom, se você está certo, então talvez tenha sido ela quem matou o Peabody - Diego arriscou. Celeste quase engasgou, horrorizada.
- E quem cortou a garganta da Allison - completou Luther, sombrio.
- Não! Espera aí! Desculpa, mas vamos voltar um pouco, tá?! - Klaus interrompeu, quase em pânico. - Estamos falando da Vanya! Nossa irmã! Aquela que chorava quando pisava numa formiga quando era criança!
- Exatamente! - Celeste exclamou, com uma voz quase tão desesperada quanto a de Klaus. - Não importa que tipo de poder absurdo vocês acham que ela tem, ELA AINDA É NOSSA IRMÃ!
- Sei que é difícil de aceitar - começou Luther, hesitante.
- Não, não é difícil de aceitar! É impossível de aceitar! - retrucou Klaus, irritado.
- Não, ele tem um ponto - interferiu Diego. - Não podemos deixá-la presa sem provas.
- Com ou sem provas, não podemos deixá-la presa! - insistiu Celeste, a voz firme. "Como esses idiotas podem pensar assim?", pensou. - Ela é nossa irmã, lembram? Ela está apenas descobrindo esse poder agora! Deve estar sendo extremamente confuso pra ela!
- Por que a gente não abre a porta e pergunta? - sugeriu Klaus, dando um passo hesitante à frente, mais próximo da janela.
- Ela não vai a lugar nenhum! - Luther declarou, estendendo o braço para impedir Klaus. Ele estava determinado a não correr riscos. Não com Vanya, agora que não sabia o quanto ela poderia ser poderosa.
- Mesmo se você estiver certo... - Diego começou, cauteloso - ...ela precisa da nossa ajuda. E não podemos fazer isso com ela trancada.
- É! E até onde sabemos, ela pode estar tendo dificuldades com esse novo poder! Deve ser horrível, assustador! - Klaus argumentou, visivelmente comovido com a situação de Vanya.
- Exatamente o que estou dizendo! - retrucou Celeste, irritada. Sentia que Luther ignorava tudo o que falava, e isso a enfurecia. Ainda mais vindo dele, que parecia surdo às suas palavras por conta das recentes desavenças.
- Não, Celeste. Você não está entendendo. - Luther encarou-a com seriedade. - Todos sabemos que você ainda tem receio do apocalipse, certo? Vou te avisar: se a soltarmos, como você quer, ela vai ACABAR com o mundo! - rugiu Luther, cheio de raiva. Celeste deu uma risada amarga, desviando o olhar enquanto cerrava o maxilar. Ele continuou, sua voz cortante: - Se o que o Pogo me contou for verdade, então ela não é um perigo apenas para nós- - Antes que terminasse, Celeste fechou o punho e desferiu um soco que atingiu em cheio o rosto de Luther, fazendo-o cambalear para trás e tocar o sangue que escorria de seu nariz. Diego e Klaus ficaram boquiabertos.
- Cala a boca, seu idiota!
- Tá maluca?! - gritou ele.
- Ela é nossa irmã! Não percebe o que está fazendo? Vou te dizer o que vai acontecer, seu babaca! Você vai deixá-la presa e vai arruinar a vida dela!
Celeste avançou novamente, prestes a puxar Luther pelo sobretudo e desferir mais um golpe, mas Diego a segurou, tentando impedir que o conflito se agravasse.
Vanya estava mais calma agora, exausta de tanto bater no vidro sem ser ouvida. Antes que Celeste conseguisse se libertar dos braços de Diego, Allison apareceu, como uma âncora que a trouxe de volta à realidade. Ela se desvencilhou dos braços de Diego, bufando de raiva enquanto tentava se recompor.
- Allison? O que você está fazendo aqui? Deveria estar deitada - disse Luther, limpando o sangue com a manga do sobretudo.
Ela não podia falar, então escreveu em um papel:
"𝑺𝒐𝒍𝒕𝒆 𝒆𝒍𝒂"
- Não posso - argumentou Luther, firme. Todos sabiam que, ali, ele mantinha o controle. - Ela te machucou.
Celeste bufou novamente, contendo o impulso de eletrocutá-lo. Allison ignorou e continuou escrevendo no papel.
"𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒄𝒖𝒍𝒑𝒂"
Sinto muito, mas ela vai ficar aí.
Allison balançou a cabeça, desaprovando, e tentou passar por Luther para abrir a porta, mas ele a impediu.
- Ela tem que ficar aqui até entendermos com o que estamos lidando - insistiu ele, segurando Allison enquanto lançava um olhar para Celeste, que estava à beira de explodir, frustrada por não ser ouvida.
Celeste crispou os lábios, segurando a raiva e se afastou, saindo dali para evitar um confronto maior. Sentia que, naquele momento, qualquer argumento seu seria inútil. Ela estava exausta, e parecia que, mesmo com o apocalipse supostamente impedido, nada conseguia lhe trazer paz.
Seus passos ecoaram pelo corredor até que entrou no elevador, sem se importar com o que aconteceria. Vanya continuava tentando sair, desesperada e aos prantos por estar presa.
Celeste sabia que vê-la daquela forma era angustiante. Conseguia entender tanto o medo de Luther quanto o sofrimento de Vanya, e o peso da situação a enchia de frustração.
Enquanto o elevador subia, ela pensou: "E se Vanya realmente fosse a causa do apocalipse?"
Quando chegou ao andar desejado, Celeste saiu do elevador e foi à procura de Cinco, mas ele não estava lá. "Talvez o apocalipse tenha sido realmente impedido", pensou, com um suspiro pesado.
Subiu até o quarto, e finalmente - depois de tanto caos vestiu uma roupa comum do seu guarda-roupa. Tomou um banho para tentar aplacar a raiva e tirou o uniforme, trocando-o por um casaco rosa que Cinco lhe dera anos antes.
Após quase uma hora, decidiu ir até a cozinha tomar um café. Encontrou Grace fazendo panquecas para Diego, que estava sentado em silêncio à mesa. Passara a tarde toda resmungando. Tentara descansar, mas não conseguira dormir. Tentara ler algo, mas sua mente estava inquieta demais. Derrotada, resolveu comer algo decente.
- Decidiu tirar o uniforme? Fica muito melhor assim - disse Diego, pegando o prato agora pronto à sua frente. Ele começou a comer rapidamente.
- Obrigada - respondeu Celeste, entediada, dando de ombros. - Ela apoiou o rosto na mão direita, observando Grace cozinhar com a mesma graça e calma de sempre.
- Celly, querida. Vai querer panquecas? - perguntou Grace, sorrindo e segurando a espátula. Celeste devolveu o sorriso, educada.
- Sim, por favor.
Enquanto Grace preparava sua comida, Diego devorava a dele como se não tivesse comido há dias.
- Sabe, me surpreendeu você ter se irritado com Luther hoje. Aquele soco foi incrível - comentou ele, de boca cheia, claramente tentando puxar assunto, ainda na vibe da conversa interrompida sobre tequila e conhaque.
- Ah, é. - Celeste resmungou, desinteressada. - Finalmente achei uma desculpa pra arrebentar o rosto dele. Foi bom... aliviar o estresse.
- Ele mereceu.
Antes que Grace pudesse colocar as panquecas na frente dela, um estrondo ecoou do subsolo. Celeste e Diego trocaram um olhar, e só pensaram numa coisa: Vanya se libertou.
A casa começou a tremer. Poeira de concreto caía do teto, objetos acima dos móveis despencavam. A xícara de café escorregou da mesa, quebrando no chão e sujando o tapete. Nas gavetas, os talheres tilintavam, e as taças no armário se chocavam, algumas se estilhaçando. Celeste amaldiçoou o momento - não conseguia nem comer em paz.
- Vamos ver o que tá acontecendo - disse ela, irritada, e Diego se levantou de imediato. Os dois correram para fora, enquanto Grace buscava abrigo.
No corredor dos quartos, após subirem correndo os lances de escada, encontraram Klaus, Allison e Luther, todos igualmente confusos e aflitos.
- O que houve? - Diego perguntou, ansioso.
- De onde estão vindo essas explosões?! - Klaus exclamou, o desespero evidente em sua voz.
Eles então viram Pogo saindo de um quarto próximo. Seu olhar era de puro terror; ele já sabia o que estava causando os tremores, e a destruição iminente da academia.
- Vanya - disse Pogo, com uma calma sombria. Bastou essa única palavra para que o pânico se espalhasse entre eles. - Vocês precisam sair da academia, agora!
Allison correu para pegar seus pertences essenciais. Luther estava paralisado, orgulhoso demais para admitir, mas claramente arrependido. Celeste lançou-lhe um olhar intenso, cheio de reprovação, que parecia sussurrar "Eu avisei".
Segurando a mão de Klaus, Celeste saiu correndo com ele pelo corredor. Luther ainda gritou algo sobre "Peguem a mamãe!", e Diego logo os seguiu. Os tremores aumentavam, tornando cada passo mais difícil. Subiram as escadas para o salão principal enquanto Vanya, avançando pelos corredores, explodia tudo à sua passagem, tornando a estrutura da academia cada vez mais instável.
Celeste, Diego e Klaus correram para o local onde Grace deveria estar, mas não a encontraram. Resolveram contornar o mezanino para descer as escadas, mas, enquanto cruzavam o corredor, o teto começou a se desprender. Pedaços de concreto desabaram sobre eles, e os três perderam o equilíbrio, caindo com força no chão.
- Ai... - gemeu Celeste, sentindo a dor de ter batido a cabeça. Ao olhar para cima, percebeu um pedaço ainda maior de concreto prestes a cair sobre eles.
- Diego! Diego, acorda! - Klaus chamou, sacudindo o irmão, que permanecia desacordado.
Num instante de desespero, Celeste reuniu energia suficiente para criar uma descarga elétrica que os lançou para longe da área de impacto. Sentiu a dor percorrer seu corpo, mas sabia que não havia escolha. Pensou que aquele bloco de concreto ainda a esmagaria, mas algo a puxou para trás, junto dos outros, enquanto seu braço esquerdo ficou preso sob a pedra. No último segundo, a peça despencou, esmagando os dois últimos dedos de sua mão.
- Droga, Celly! Você tá bem?! - Klaus exclamou, com uma voz desesperada que logo se encheu de surpresa e alegria. - Puta merda! - ele disse, olhando para Ben em sua forma espectral, invisível para todos, menos para Klaus. Ben tinha salvado Celly, e ela ainda nem sabia disso. - Você fez isso?! Você salvou a Celly! - Klaus sorriu, tentando abraçar o fantasma, mas suas mãos passaram pelo ar vazio.
Celeste soltou um gemido agudo de dor ao puxar a mão esmagada sob o concreto. Com lágrimas nos olhos, pressionou os ferimentos para conter o sangue, enquanto eles recuperavam a consciência da situação.
- Vamos logo! - apressou Diego, ainda meio tonto, mas com adrenalina suficiente para se erguer rápido.
Diego passou o braço de Celeste por cima do próprio pescoço, ajudando-a a se equilibrar. Ele precisava de apoio para se estabilizar, e ela, que começava a ficar fraca, se apoiava nele com a mesma intensidade.
A sala da academia tremia violentamente, com rachaduras e abalos muito mais intensos do que no restante da casa. Tentaram avançar para onde Grace poderia estar, mas pararam ao avistarem Vanya, com a pele pálida e olhos brilhantes em azul que resplandeciam mesmo à distância.
- Volta, volta, volta! - Celeste sussurrou, aflita.
- Vamos pela saída de emergência! - sugeriu Klaus, tropeçando em alguns destroços.
Subiram mais um andar, evitando os escombros que caíam, e tomaram as escadas externas. Atravessaram o salão e saíram por uma janela, descendo rapidamente por uma escada estreita que levava a um beco secundário. Celeste, ofegante, apoiou as mãos nos joelhos, lutando para controlar a respiração pesada.
- Você nos salvou, Celly! - agradeceu Diego, colocando as mãos no rosto dela e beijando o topo de sua testa, aliviado. - Que porra! Quase morremos lá dentro!
Quando olharam para a academia, os tremores pioraram e as rachaduras se espalhavam pelas paredes. Tijolos se desprendiam do topo, levantando uma poeira sufocante que eles respiravam enquanto olhavam, horrorizados. Através de uma janela, viram Grace, sorrindo calmamente, como se não entendesse a gravidade do que acontecia.
O coração de Celeste se despedaçou ao vê-la assim, tão alheia ao caos ao redor. Ela e os outros começaram a gritar desesperadamente para que Grace descesse. Aquela era a mãe que os criou, que sempre cuidou deles, que ajudava Cinco a fazer pão e ensinou Celeste a preparar muffins de chocolate. Mas agora, Grace parecia resignada, presa ali sem perceber o perigo.
- Mãe! - Celeste gritou. - Sai daí!
- Desce aqui, mãe! - pediu Klaus.
- Você não pode ficar! A casa vai cair! - Diego quase gritava em desespero. - Eu vou te buscar! - E ele disparou em direção às escadas de emergência.
- Não, Diego! Volta aqui! - Klaus gritou, tentando segurá-lo pelo braço, mas era tarde demais. A casa explodiu em um som ensurdecedor, desmoronando em uma onda de estilhaços e poeira.
Os vidros das janelas estouraram, as paredes se partiram, e a escada se soltou do suporte, desabando junto com a estrutura. Os três se protegeram com as mãos sobre as cabeças, tentando escapar dos destroços que caíam ao redor.
Quando a fumaça finalmente se dissipou, Diego começou a vasculhar os escombros freneticamente em busca de Grace. Celeste e Klaus, em choque, sabiam que não havia mais esperança, mas Diego parecia incapaz de aceitar.
- Diego, para! - Celeste disse, puxando-o pelo braço, enquanto ele lutava para erguer pedaços de concreto.
- Ela se foi, cara - Klaus falou, com a voz baixa. - Ela se foi.
- O-o que vo-você va-vai fazer? D-dar as co-costas pra isso? - Diego gaguejou, as lágrimas caindo. Ele sabia que Grace se fora, mas ainda não conseguia suportar a ideia.
Desde pequeno, Diego tinha dificuldades com a fala, e Grace era quem pacientemente o ajudava a corrigir sua dicção. Agora, sob pressão, ele lutava para manter a voz firme, mas a dor o fazia falhar nas palavras.
- Não - Klaus respondeu, sério.
- Tá bom, mas e o Pogo, hm? - Diego perguntou, com um fio de esperança. Talvez Grace não pudesse ser salva, mas e Pogo?
- Ele não sobreviveu - Luther disse, a voz carregada de arrependimento enquanto caminhava sobre os destroços, acompanhado pelos outros. Ele respirava com dificuldade, o rosto marcado pelo remorso.
- O quê? - Celeste murmurou, aflita. Pogo sempre foi mais pai para ela do que Reggie jamais fora. Ela sentiu um aperto no peito. "Pogo, não..."
- A Vanya matou ele - explicou Luther, com um tom sério. Ele deu um passo adiante, engolindo em seco, sentindo o peso do próprio erro.
Celeste, tão mergulhada no luto, sentiu uma lágrima deslizar por seu rosto. A dor da perda de Pogo e Grace ao mesmo tempo era insuportável, abafando qualquer outra preocupação. Seus olhos caíram sobre o chão, o piso, a casa onde cresceu. O lar onde construiu memórias, muitas delas amargas, mas todas preciosas, rodeada por aqueles que amava.
- A Vanya... não... - murmurou Diego, incrédulo.
- Não, eu vi. Pouco antes de sairmos - respondeu Luther, com a voz sombria.
- A mamãe... e agora o Pogo... - Diego sussurrou, tomado por uma tristeza profunda, quase sufocante. A dor de perder quem ama e saber que essas pessoas agora só existiriam em suas lembranças era como um vazio insuportável.
- Sabem de quem é a culpa? - Celeste perguntou, sua voz carregada de amargura e raiva. Seu olhar transbordava ódio direcionado a Luther. Ela havia o alertado, implorado para que libertasse Vanya, e talvez nada disso teria acontecido. - De você! - acusou, com um tom quase venenoso. Ela avançou em Luther e o empurrou com toda a força que tinha, mas seu impacto foi ineficaz contra a superforça dele. - Você só precisava ser um bom irmão! SE TIVESSE ME ESCUTADO, A GRACE E O POGO ESTARIAM VIVOS! - gritou, a voz cada vez mais desesperada, enquanto socava o peito dele compulsivamente. Toda a raiva estava se transformando em frustração pura, e ela queria gritar, queria machucá-lo, talvez até quebrar seu rosto mais uma vez.
Luther, em uma tentativa de acalmá-la, a envolveu em um abraço firme. O ódio dela se dissipava aos poucos, dando lugar a uma tristeza profunda e uma frustração dolorosa. Ela percebeu, ao afundar no abraço dele, que talvez tudo o que precisava fosse daquele simples gesto. As lágrimas encharcaram o sobretudo dele, e ela ouviu o ritmo de seu coração, sentindo seu próprio peito apertar. Era quase como se ela pudesse sentir o arrependimento dele ali.
Por que havia voltado? Para sofrer tudo aquilo?
A semana que passara na academia, revivendo momentos da infância, só intensificara a dor de estar ali agora, vendo tudo desmoronar. A saudade que sentira naquele breve retorno agora se multiplicava, sabendo que essas lembranças nunca mais se repetiriam.
Ela se soltou do abraço de Luther e o encarou, tentando limpar as lágrimas, afastando-se rapidamente para esconder sua vulnerabilidade. Respirou fundo, frustrada, amargurada.
Nesse momento, Cinco apareceu, segurando um jornal e com uma expressão tensa.
- Gente! É isso! - gritou, a voz carregada de medo. Seus olhos refletiam arrependimento, como alguém que cometeu um erro irreversível. - O apocalipse ainda vai acontecer! O mundo acaba hoje! Celly estava certa no palpite.
Celeste sentiu o coração disparar, e a frustração foi tomada pelo medo de que o fim estivesse realmente próximo. Só podia ser Vanya.
- Mas... você disse que estava certo. Que Hazel era a única incógnita que havia restado - murmurou Celeste, ainda confusa e aflita.
- Eu errei, tá legal?! Esse jornal... - Cinco ergueu os papéis - ... eu encontrei no futuro, no dia em que fiquei preso! A manchete não mudou.
- Isso não quer dizer nada - rebateu Diego, de ombros. - O tempo pode ter mudado desde que o jornal foi impresso.
- Você não está me ouvindo! Quando achei isso, achei que o lugar tivesse desabado com tudo o mais. Mas estamos aqui! A lua ainda está brilhando, a Terra está intacta... mas a academia não está! - Cinco explicou, tentando manter o tom sério. Klaus rapidamente pegou o jornal, lendo a manchete daquele dia, enquanto todos prestavam atenção, apreensivos.
- Tô confuso! - Klaus resmungou.
- Então presta atenção, seu idiota! A Vanya destrói a academia antes do apocalipse - Cinco continuou, rindo amargamente, refletindo sobre os detalhes que havia compreendido errado. - Eu achava que o Harold Jenkins era a causa, mas ele é só o estopim!
- A Vanya é a bomba... - Celeste completou, com os olhos vagos, resignados.
O rosto dos irmãos expressava medo e exaustão. A ideia de que a irmã "comum" era mais poderosa do que todos eles juntos, capaz de causar o apocalipse, era perturbadora. Alguns ainda tentavam manter a esperança de que poderiam sobreviver, mas ninguém sabia o que esperar daquela noite. Não tinham noção dos limites de Vanya.
- Temos que achar a Vanya - falou Luther, determinado.
- E fazer o quê? Prendê-la numa câmara de chumbo? Nem isso foi suficiente! - rebateu Celeste, irritada.
Antes que Luther respondesse com algo como "então devemos...", helicópteros e viaturas policiais surgiram ao redor dos escombros. Não podiam ficar ali. As perguntas da polícia só os atrasariam.
- Temos que ir! Nos encontramos no boliche! - Diego ordenou, decidido.
Antes que Celeste pudesse correr com os outros, Cinco apareceu ao seu lado em um piscar de olhos. Ele a tocou no ombro e, num instante, estavam na outra avenida, longe dos destroços, seguros o suficiente para conversar. Ele olhou para Celeste e percebeu seu olhar exausto, seus olhos inchados de tanto chorar. Observou o cabelo desgrenhado, resultado de uma noite de fuga e desespero, e o peso em seus olhos. Ela só queria uma coisa: descanso.
- Ei! Você está bem? - perguntou ele, preocupado, sua mão pousando gentilmente no rosto dela, tentando acalmá-la.
- Tirando a fome e os meus dois dedos esquerdos que provavelmente nunca mais vão funcionar, sim - respondeu ela, irônica, mesmo sabendo que a situação não comportava o tom. Levantou a mão trêmula de dor; dois dedos estavam praticamente esmagados em um ferimento feio, mas a adrenalina ainda a mantinha alheia à dor.
- Meu Deus! Como você fez isso?
- Salvei Klaus e Diego - deu de ombros, deixando escapar um sorriso orgulhoso.
- Espera aí! Não sai daqui - pediu ele, a voz ansiosa e o rosto tenso. Em um instante, desapareceu com o teleporte.
Depois de alguns minutos, Cinco voltou, carregado com barras de cereais, analgésicos, gazes, esparadrapos e iodo. Remédios suficientes para alguém com os dedos esmagados, mas poucas opções para alguém com fome.
- Estende a mão pra mim, Celly - pediu enquanto derramava o antisséptico no ferimento para limpar a área. - Desculpa por não ter estado aqui para cuidar de você. É minha culpa...
- Não é sua culpa - ela o interrompeu, mas um gemido escapou ao sentir a gaze pressionando o ferimento. Ele enfaixou os dedos rapidamente, com um curativo apressado e desajeitado. A vontade de cuidar dela como ela cuidara dele nos últimos dias estava evidente, mas a iminência do apocalipse dominava sua mente. Afinal, de que valeria salvar os dedos dela se não pudesse salvar sua vida?
- Desculpa - sussurrou, visivelmente aflito, enquanto jogava fora o que não usaria. Com cuidado, abriu o pacote de uma barra de cereal. - Coma. Não pode tomar os remédios de estômago vazio.
Ela fez uma careta; uma barrinha de cereal era pouco diante da fome intensa que sentia, mas, por dentro, agradeceu o gesto dele.
Comendo em silêncio, ela tentava evitar contato visual. Seu coração batia descompassado, e uma angústia crescente a sufocava. "A morte da mamãe, a morte de Pogo... tudo que reconquistei nesses dias desapareceu num instante", pensou.
- Eu sinto muito - murmurou ele, pegando sua mão intacta e a puxando para perto, até seus olhos se encontrarem. Ele sabia o quanto ela estava sofrendo e, vendo o olhar abatido dela, sentiu-se culpado. Se tivesse ouvido seus avisos, talvez ela não estivesse tão destroçada agora.
- Eu sei que sente. Você também perdeu eles - ela disse, encolhendo os ombros enquanto as lágrimas escorriam silenciosas. Em um segundo, ela se rendeu ao abraço dele.
Ele a apertou contra o peito, sentindo o choro abafado no tecido de sua roupa, enquanto ela o abraçava com força. Ele inclinou o rosto para apoiar a cabeça dela, afagando seus cabelos de forma carinhosa e reconfortante.
- Eu te amo, Celly - ele disse com uma sinceridade que a fez estremecer. Ela sentiu o coração acelerar. "Ele me ama?", questionou-se, surpresa. Os olhos azuis dele pareciam entender perfeitamente o luto dela. - Consegue ser forte só por agora? - perguntou, com delicadeza. Ele escolhia as palavras com cuidado, sem minimizar as mortes de Pogo e Grace. - Vamos poder cuidar deles, mas primeiro precisamos impedir o apocalipse.
Ela o encarou, tentando entender a tempestade que girava em seu olhar. Quem mais eles perderiam? Ele? Tudo parecia incerto e perigoso. E, se falhassem, como ela poderia suportar a dor de perdê-lo de novo?
Estava perdendo o controle. O sentimento de impotência se apoderava dela, e o medo de falhar com ele a corroía.
Depois de hesitar, ela acenou com a cabeça, relutante.
- Vamos. Eu... estou pronta.
A voz dela saiu mais fraca do que esperava, como se não acreditasse completamente. Mesmo assim, lutava para afastar pensamentos sombrios. Pensamentos como "E se ele sumir para sempre?". Ela tentava se concentrar no objetivo: impedir o apocalipse.
Cinco pegou um comprimido da cartela e o ofereceu a ela. Não havia água, então ela fez uma careta ao engolir o analgésico seco, mas conseguiu. Ele guardou o restante dos remédios no blazer, aguardando pacientemente, sem pressa de alcançar os outros. Parecia que, naquele instante, todo o foco dele estava em ela estar bem. Observando-o, ela sentiu um frio na barriga, um misto de preocupação e esperança em meio ao caos.
Então, num piscar de olhos, Cinco a teleportou para o boliche. Não havia ninguém lá ainda. Foram os primeiros a chegar.
「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」
- Olha, eu odeio ter que dizer isso, mas todo mundo tem que se preparar - anunciou Luther, a expressão sombria. Todos haviam chegado praticamente ao mesmo tempo, com exceção de Celeste e Cinco, que surgiram cerca de dez minutos antes. Assim que entraram, começaram a negociar espaço com os proprietários e a pagar as fichas de inscrição, ganhando um pouco de tempo.
- Pra quê?! - Diego questionou, confuso. A tensão pairava; ninguém sabia bem por onde começar.
- Pra fazer o que for preciso pra deter a Vanya - respondeu Luther, dando de ombros, a voz tensa, enquanto Allison, ao seu lado, o repreendia com uma cadernada em sinal de protesto. - Talvez não tenhamos escolha, Allison.
- Nada disso. Sempre há opções - Diego interveio. A família estava claramente dividida.
- É? Tipo o quê? - Cinco questionou, lançando um olhar firme. Ele parecia concordar com Luther.
- Não sei - Diego respondeu, hesitante.
- Independente de tudo, só saberemos na hora, tá legal? - disse Celeste, entediada. Aquela conversa parecia absurda para ela, como se decidir impedir Vanya assim, sem mais nem menos, fosse coisa simples. - Vai depender se ela quiser cooperar.
- Concordo - murmurou Cinco, cruzando os braços.
- Olha, seja lá o que for, temos que encontrar a Vanya. Ela pode estar em qualquer lugar - Luther disse, preocupado. O tempo parecia escorrer por entre os dedos.
- Ou... aqui - Klaus interrompeu, balançando o jornal em mãos, um sorriso de vitória estampado no rosto. - Vejam isso!
Os irmãos se aproximaram dele, lendo a manchete com a foto de Vanya e da orquestra na qual ela tocaria como estrela, ocupando a cadeira principal.
- Tá certo. O concerto dela é hoje - Diego comentou, como se o detalhe tivesse acabado de cair em sua consciência.
Antes que pudessem voltar a discutir, foram interrompidos.
- Olá! - cumprimentou uma mulher loira, funcionária do local. Ela usava uma blusa vermelha, o uniforme do boliche, e parecia claramente constrangida. - Desculpe interromper, mas o gerente disse que, se não forem jogar, vão ter que ir embora - disse com um sorriso forçado, tentando suavizar a situação.
Luther, em resposta, pegou uma bola de boliche e, sem nem olhar, lançou-a pela pista, surpreendendo a todos ao conseguir um strike. A funcionária deu meia-volta, envergonhada, enquanto Celeste bufava, pensando: "Parecemos um bando de idiotas aqui".
Luther então voltou-se para Allison, que segurava o bloco onde havia escrito: "Ela é nossa irmã".
- Somos os únicos capazes de deter isso. Temos uma responsabilidade com o papai - Luther insistiu, sério.
- Você só pode estar brincando, falando dele nesse momento! - Celeste respondeu, irritada, o tom carregado de ironia e frustração.
- Ele sacrificou tudo para reunir a gente de novo - Luther rebateu, a expressão endurecida.
- Mas não podemos resumir tudo que faremos agora a uma simples "responsabilidade" com aquele velho cretino.
- Meça suas palavras... - murmurou Luther, revirando os olhos.
- Não, Luther - interveio Diego. - Ela está certa. O papai fez a parte dele nessa história, mas agora é com a gente.
- Exato. Não podemos dar a Vanya a chance de revidar - Cinco acrescentou, fazendo Luther suspirar, exasperado. - Há bilhões de vidas em jogo, e não estamos mais tentando salvar uma só.
- Talvez eu possa ajudar - Klaus disse, hesitante. Alguns irmãos suspiraram, irritados, como se não tivessem tempo para aquela intervenção.
- Agora não é a hora - cortou Luther.
- Deixa ele falar - pediu Celeste, lembrando que Klaus a havia ajudado a escapar ilesa da demolição da academia. - Ele salvou minha vida hoje.
- Sério? - perguntou Luther, confuso, com uma ponta de incredulidade e cansaço no olhar.
- É... eu recebi o crédito por isso - Klaus admitiu, revirando os olhos e soltando um suspiro cansado. - Mas o verdadeiro herói foi... o Ben.
Um silêncio imenso pairava entre eles, como se tivessem ouvido uma piada tão constrangedora que os deixara sem palavras - algo raro. Celeste e Cinco trocaram olhares, quase se entregando a uma risada.
- Isso é possível? - Celeste perguntou, levantando uma sobrancelha em tom sarcástico.
- Ei! Hoje ele me deu um soco! Na minha cara! Mais cedo, foi ele quem puxou a Celly e evitou que ela ficasse toda esmagadinha - explicou Klaus, indignado.
- Você é inacreditável, Klaus - Luther debochou, a incredulidade estampada no rosto.
- Quer provas?! É isso que você quer? - Klaus disparou, irritado. - Então tá! Vou te mostrar! Hora do show, baby. - Ele pegou a bola de boliche ao seu lado e se preparou para lançá-la com toda a força. - Pega!
A bola caiu com um baque, como deveria ser, mas Ben, em seu estado fantasmagórico, tentou pegá-la e fez uma careta ao falhar.
- Era pra alguém ter pegado a bola? - Celeste perguntou, confusa, reprovando a situação absurda com um gesto.
Cinco, ao lado dela, percebeu que ela estava nervosa. Aquela tensão estava presente desde que ele enfaixara os dedos dela de maneira apressada e desajeitada. Ele sentia os olhos castanhos dela o observando, como se dissessem em silêncio: "Vou me arrepender se não falar com você hoje".
- É... era - concordou Klaus, coçando a nuca, envergonhado pelo fracasso.
- Tem algum jeito de silenciar essa voz na sua cabeça, que grita pra ser o centro das atenções? - Luther perguntou, irônico. Se Celeste estivesse em um dia normal, teria sorrido com o sarcasmo de Luther, mas tudo era diferente agora.
Para Celeste, aquele momento era um turbilhão de emoções. Ao encarar Cinco, que há quatorze anos a deixara com o coração partido ao partir, sua raiva por nunca ter se declarado se misturava à saudade que a acompanhava como uma sombra. Ela tentava negar o amor que ainda ardia dentro dela, mas a dor da possibilidade de perdê-lo novamente a torturava, especialmente com o Apocalipse se aproximando. A amizade que construíram ao longo dos anos parecia um campo minado; cada palavra trocada carregava o medo de arruinar tudo.
Os ecos da perda de Grace e Pogo ainda ressoavam em sua mente, e o peso da possibilidade de perder Cinco novamente a deixava vulnerável. Estavam juntos em uma missão arriscada para impedir a destruição, e cada dia que passava a aproximava da dolorosa realidade de que, se algo acontecesse com ele, a chance de se declarar poderia desaparecer para sempre. Ele nunca saberia o quanto ela se entregara a ele. Celeste se via aprisionada entre o desejo de proteger seu coração e a urgência de libertar seus sentimentos. Estava quase correndo dali, atormentada por esse conflito intenso, quando tomou coragem e o chamou.
- Cinco? - sua voz vacilou. Os irmãos mal perceberam o que estava acontecendo, mas Cinco sim. Ele a olhou rapidamente, preocupado, atento. - Podemos conversar?
Ele quase sorriu, aliviado. Afinal, era o único que percebia que ela não estava bem, e se sentiu importante por saber que ela finalmente falaria com alguém. Era um alívio para ele ela compartilhar a pressão que ele mesmo havia imposto ao contar sobre o Apocalipse.
- Claro. - Ele respondeu, com a voz suave. - Vou te teleportar, tudo bem?
Ela não respondeu, apenas balançou a cabeça positivamente, e instantaneamente, reapareceram em um pequeno quarto de limpeza. Ali, deixaram as discussões familiares de lado, esquecendo, por breves minutos, as preocupações que os atormentavam. Contudo, Cinco logo se preocupou. Era incomum ver Celeste tão angustiada, ao ponto de ele perceber. Afinal, quando estava assustada, ela fingia estar corajosa; quando estava triste, disfarçava a dor. Ela era difícil de decifrar, mesmo para ele, que tinha essa habilidade.
- O que foi, Sunshine? - ele perguntou, confuso. O tom da sua voz soou reconfortante para ela.
Ali, no quarto escuro de limpeza, onde apenas a luz azulada da lâmpada estranha iluminava seus rostos, ela olhou em seus olhos. A preocupação e a paz que eles transmitiam eram quase idênticas. Olhar para ele era como contemplar um vasto oceano. Ele era magnífico. Percebendo o que estava pensando e o que estava prestes a fazer, ela o abraçou com força. Ele soltou um suspiro, surpreso, mas envolveu-a em seus braços, acariciando seu cabelo calmamente.
- Ei, ei... tá tudo bem. Eu tô aqui - ele a tranquilizou, sem apressá-la a encerrar o abraço. Ele não sabia o quanto ela precisava daquele momento. Quando ela se sentiu pronta, desvinculou-se dos braços dele. - Respira e me conta o que aconteceu - ele pediu, sereno. Ao notar que ela havia chorado, sua preocupação triplicou. Com cuidado, usou o polegar para limpar as bochechas dela.
- Eu preciso te contar uma coisa, Cinco - ela falou, as palavras saindo rápidas e trêmulas, enquanto as lágrimas continuavam a escorregar. "E se eu me declarar e perdê-lo novamente?", pensou, sentindo que não conseguiria suportar essa dor.
A voz de Celeste estava embargada, e assim que começou a expor seus sentimentos, as palavras saíram apressadas, quase incompreensíveis, transbordando desespero.
- Por tanto tempo, eu tentei negar o que sinto, mas não consigo mais - disse ela, a voz trémula e cheia de medo. - Eu tenho medo. Medo de te perder de novo, medo de arruinar nossa amizade, mas... eu não posso mais esconder. Depois daquele beijo... porra! Aquele beijo fez borbulhar em mim sentimentos que eu escondia até então - gaguejou, quase chorando novamente. Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. - Você me deixou quando mais precisei de você, e eu jurei que não me importava, que tinha seguido em frente. Mas a verdade é que, mesmo todos esses anos depois, eu ainda te amo. Você voltou e reacendeu em mim aquilo que eu... nunca havia esquecido.
- Celly... - Ele murmurou, perplexo.
- Somos melhores amigos, eu sei! Mas a verdade é que, quando me perguntam o que está acontecendo, nem eu mesma consigo acreditar que não te amo de outra forma. Eu falo besteira do tipo "Eu moraria com ele, mas somos só melhores amigos", e nem eu acredito nessa merda! Porque sei que não somos, Cinco. Não somos só isso.
Cinco franziu o cenho, e o coração dela acelerou ao perceber que seus dedos pareciam querer tocá-la. Ela hesitava, incerta se tinha força suficiente para concluir o que havia começado, e então suas palavras se atropelaram, misturando-se com a emoção, tornando a situação quase cômica.
- Eu amo o jeito que você me cuida, e amo o jeito que você sabe exatamente como me agradar. Eu facilmente passaria a minha vida inteira com você - ela gaguejou a cada palavra. - Eu moraria numa casa de madeira branca, com janelas grandes e uma varanda, e teríamos um cachorro e um gato, mas não como melhores amigos! Isso porque eu me casaria com você, Cinco! Se ao menos você quisesse.
A voz dela falhou. Ela respirou fundo, cerrando a mão em um punho firme, sentindo o suor do nervosismo escorrer pela lateral da testa. Quase engasgava com a intensidade das emoções, e Cinco a observava com atenção. O brilho em seus olhos a encorajava a continuar, mesmo que com dificuldade:
- Se a gente morrer hoje, eu vou morrer sem te contar como me sinto desde aquele beijo - falou, com a voz calma e baixa. Ele sentiu o peso daquelas palavras. - Vou novamente perder a chance de te contar tudo o que eu sinto a cada palavra, o sorriso dele se alargava, e a expressão que se formava em seu rosto era tudo o que Cinco esperara por toda a vida, deixando Celeste radiante. - E... eu não quero que isso aconteça. Porque... - as lágrimas voltaram a escorrer. - Porra! Eu já deixei de te falar isso uma vez, e não quero fazer isso com você de novo. Não quero fazer isso conosco novamente, porque eu te amo! - terminou, trêmula, mal acreditando que havia conseguido expor tudo.
- Repete a última parte? - ele pediu, sorrindo.
A vida é engraçada. O tempo é relativo. Ο fim, muitas vezes, parece estar à porta, mas nos negamos a aceitá-lo. Enquanto o apocalipse se aproximava, Celeste expunha seus sentimentos a Cinco, e isso se tornava a coisa mais importante. Cada um com suas vidas, cada um com seus sentimentos... o apocalipse chegaria independentemente disso. Para algumas situações, seria um alívio, mas para ela seria horrível não receber ao menos um toque, um sorriso, uma palavra da pessoa que amava. Um "é recíproco" da pessoa que povoara seus pensamentos diariamente por quase quinze longos anos.
- Eu te amo, Cinco - ela repetiu, secando as lágrimas.
O rosto do garoto se iluminou instantaneamente com um sorriso radiante. Cinco coçou a nuca, incapaz de esconder a imensa felicidade que sentia com cada palavra dela. Era como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. O apocalipse, de repente, não importava tanto quanto estar ali, juntos.
Ele se aproximou ainda mais dela se é que isso era possível e acariciou seu rosto, limpando as lágrimas que ainda escorriam. Seus olhos a observavam com uma intensidade que ela sentira falta. O brilho em seu olhar havia se intensificado, e ele a olhava com a pureza que só um amor verdadeiro poderia ter, da mesma forma que fizeram quando se beijaram.
Ele acariciou seu rosto, ainda sorrindo, enquanto seu polegar deslizava suavemente pelos lábios de Celeste, entrelaçando desejo e pura alegria.
- É muito mais que recíproco, Celly - ele sussurrou, fazendo o coração dela palpitar. Você parecia nervosa ao dizer isso. - Posso me desculpar por não ter me declarado primeiro? - perguntou, seus olhos agora fixos nos lábios dela.
- Se sua forma de desculpas for me beijar, por favor.
Celeste colocou a mão no rosto dele, deixando a outra enfaixada em seu abdômen coberto pelo uniforme, e selou os lábios em um beijo ansioso.
Ela abriu passagem para a língua do garoto, que rapidamente respondeu ao seu movimento, pressionando sua cintura e empurrando-a suavemente contra a parede atrás deles.
Os quadris de Cinco se chocaram contra os dela, enquanto suas mãos alternavam entre apertar sua cintura e puxar delicadamente seus cabelos. Ela se sentia sem fôlego, excitada e faminta por algo que esperara todos aqueles anos. Ele.
Pararam por falta de ar, mas não se afastaram. Cinco manteve o rosto perto do dela, sem soltar a mão da cintura da garota. Em um instante de silêncio, os dois começaram a rir, com as testas grudadas uma na outra.
- Isso foi bom - ele sorriu, divertido, parecendo não acreditar que realmente tinham feito aquilo.
- Acho que eu deveria ter feito isso muito antes - ela rebateu, um pequeno sorriso envergonhado brotando em seu rosto. Mordeu os lábios e voltou a beijá-lo, agora com pequenos selinhos. Não queria deixá-lo. De jeito nenhum.
Ele sorriu com os toques suaves em seus lábios. A mão dela se encontrou com a gravata dele, um gesto que sempre adorara. Deu um leve puxão, fazendo os lábios deles se grudarem novamente, tão intensos quanto antes. Ela ouviu Cinco sussurrar, "Não tem noção do quanto eu tive vontade de estar assim com você na última semana", contra seus lábios. Infelizmente, aos poucos, a realidade começou a se infiltrar. O apocalipse ainda não havia sido detido, e agora, ambos tinham motivos muito maiores para impedir isso.
- Temos que voltar - Cinco murmurou, irritado. Celeste baixou a cabeça, triste.
- É... temos sim - concordou, olhando para cima para encarar os olhos dele. O garoto nunca se sentira tão feliz em sua vida. Haviam dado, metaforicamente, mais um passo, finalmente.
Cinco segurou a mão dela e os teleportou de volta, juntamente com os outros. Seus lábios ainda inchados e vermelhos deixavam claro que não saíram apenas para conversar. Klaus os recebeu com um olhar surpreso e um sorriso açucarado, principalmente por Ben ter bisbilhotado o momento, contando para o irmão segundos depois do ocorrido.
ESSE CAPÍTULO ROLOU O BEIJO FINALMENTE🎉🎉🎉
Muito lindinhos gente
A Celly finalmente conseguiu expressar os próprios sentimentos 😽
Amo vcs leitores💗 votem e comentem!
revisão concluída ☑️ 💚
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