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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐅𝐎𝐔𝐑

𝐈 𝐋𝐄𝐅𝐓 𝐘𝐎𝐔 𝐀𝐋𝐎𝐍𝐄

⛈︎彡𝐐𝐮𝐢𝐧𝐳𝐞 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐚𝐧𝐭𝐞𝐬.

AO TOCAR O SINO para o almoço, as crianças se agruparam rapidamente. Reginald não tolerava atrasos.

— Sentem-se.

Todas obedeceram à ordem de seu pai, acomodando-se nas cadeiras.

Celeste costumava se sentar ao lado de Cinco, seu melhor amigo. Ele era aquele que a compreendia sem julgá-la por suas lágrimas, sem exigir que fosse tão forte quanto os outros. Ele era a sua pessoa favorita.

Luther e Allison trocavam olhares cúmplices; Diego desenhava distraidamente com sua faca; Klaus escondia algo ilegal sob a mesa; Ben se perdia em um de seus inúmeros livros, enquanto Vanya comia, assim como seu pai e Celeste.

O nervosismo nos olhos de Celeste era palpável. Desde a noite anterior, Cinco havia decidido que saltaria no tempo, com ou sem a permissão de Reginald. A ideia a atormentava, causando um nó no estômago que lhe roubava o apetite.

Logo, Cinco começou a chamar a atenção do pai, cravando a faca na mesa com um estrondo que fez Celeste se sobressaltar, o coração acelerando em seu peito..

— Número Cinco?

— Eu tenho uma pergunta.

— A busca pelo conhecimento é algo admirável, mas não falamos durante as refeições. Está interrompendo Herr Carlson — falou Reginald, causando uma feição um pouco mais furiosa em seu filho.

— Eu quero viajar no tempo.

— Não — falou o pai com indiferença.

— Mas eu tô pronto. Tenho praticado meus saltos espaciais como pediu — falou se levantando da cadeira —, viu? — perguntou após se teleportar para o lado do pai.

— Um salto espacial não é nada se comparado aos mistérios da viagem no tempo. Um é como deslizar sobre o gelo, outro é como descer às cegas pelas profundezas da água congelante, e reaparecer como uma noz!

O garoto parou por alguns segundos tentando compreender, mas achou confuso.

— Eu não entendi.

— Por isso você não está pronto.

— Cinco, para — chamou a garota olhando em seus olhos.

— Eu não tô com medo — disse ele quebrando o contato visual com a menina. Não queria a magoar e sabia seu limite de parar. Iria convencer seu pai.

— Esse não é o problema. Os efeitos sobre seu corpo e sua mente são imprevisíveis. Eu o proíbo de continuar falando sobre isso! — ordenou Reginald, aumentando o seu tom de voz.

No mesmo instante, Cinco saiu furioso da casa, deixando as portas abertas enquanto seu pai gritava para ele voltar.

Celeste, em uma tentativa de fazer seu melhor amigo mudar de ideia, saiu correndo atrás dele. Não se importou com os gritos do seu pai atrás de si e continuou chegando mais perto do garoto na avenida.

— Cinco! Que merda você vai fazer?! — perguntou furiosa puxando o braço do mesmo para ele olhar em seus olhos, antes dele tentar o que desejava.

— Vai dar certo Celly, confia em mim!

— Pode dar errado! O papai pode estar certo — falou entre dentes.

— Você sempre acredita nele — disse seu melhor amigo após balançar a cabeça negativamente.

— Não fala isso. Eu não quero ficar aqui sozinha — falou ela franzindo o cenho, segurando as lágrimas que ameaçavam a derramarem-se.

— Você não vai. Eu vou avançar só algumas décadas, só até eu encontrar algo legal e voltar. Eu prometo Celly. Ou acha que eu vou deixar você aqui sem poder ver o nascer do sol comigo?! — perguntou o moreno sorrindo para ela, enquanto limpava uma lágrima solitária que escorria do rosto da garota.

Celly sorriu para ele também, mas deixou de contar sobre o seu sexto sentido, que dizia a ela que algo de ruim poderia acontecer.

— Eu prometo voltar. Não vou fazer você esperar tanto.

— Você promete mesmo? — perguntou agora dando o seu mindinho para ele cruzar.

— Eu por acaso iria mentir para a garota que eu amo? — ele perguntou dando arrepios na menina a sua frente. Logo ele cruzou seus dedos, selando a promessa. — Não menti em nenhuma atitude ou palavra ontem de noite.

"Nenhuma atitude, nem palavra", ela pensou consigo, se convencendo.

Mas afinal, o garoto não sabia a promessa que estava fazendo.

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⛈︎彡𝐃𝐢𝐚𝐬 𝐚𝐭𝐮𝐚𝐢𝐬.

— Eu tive que me virar com as sobras. Comida enlatada, baratas... O que desse pra achar — ele falou, a voz pesada de tristeza e seriedade. Seus olhos, abatidos, revelavam a dor de quem carregava aquele fardo há muito tempo. Mas havia algo mais. Aquele momento parecia ser um desabafo, e, de certa forma, isso me deixou feliz por ele. No lugar dele, eu provavelmente me fecharia para sempre.

— Nem posso imaginar — Vanya disse, abaixando o olhar, quase incapaz de processar a gravidade do que ouvia.

— Você faz qualquer coisa para sobreviver ou morre. Então, me adaptei. Qualquer dificuldade, eu encontrava um jeito de superar — Cinco continuou, desviando o olhar para o copo de café em suas mãos. — Tem algo mais forte?

Sem pensar duas vezes, Vanya se levantou para pegar o Whisky e servir todos. Enquanto ela fazia isso, eu costurava o braço dele, meus pontos desajeitados prometendo uma cicatriz feia. Cinco mantinha o rosto firme, mas eu sabia que a dor estava ali, escondida nas mãos que apertavam o braço da poltrona com força.

Vanya logo retornou com os copos. Peguei o meu e tomei um gole, o Whisky queimando minha garganta de uma maneira familiar, há muito esquecida.

— Acha que eu tô maluco — Cinco disse, notando o olhar de Vanya sobre ele.

— Não! É só que... é muita informação pra mim — ela se defendeu, confusa. Qualquer pessoa estaria.

— O que exatamente você não entendeu? — Ele perguntou, a voz ligeiramente áspera e impaciente.

— Por que você não se teletransportou de volta?

— Ah, claro! — Ele ironizou entre dentes, justo quando eu terminava o último ponto no seu braço. — Como eu não pensei nisso? — zombou, o sarcasmo escorrendo de cada palavra. — Viajar no tempo é como um jogo de azar. Eu mergulhei no gelo e não virei uma noz.

— Pelo jeito, você conseguiu decifrar o que papai disse — comentei, tentando suavizar o clima. — É meio filosófico, né? Pensando bem, até dá pra entender se você analisar com calma — falei, enquanto guardava o material e descartava o que havia usado. Eu estava desesperadamente tentando aliviar a tensão que pairava na sala.

— Analisar é muito mais fácil do que viver. Acreditem, é complicado — ele suspirou, exausto. Depois de uma pausa breve, voltou a falar: — Você acha que eu não tentei de tudo para voltar pra minha família? — perguntou para Vanya, que parecia cheia de perguntas, mas hesitante em fazer.

— Se você envelheceu no apocalipse, como ainda tem a aparência de um adolescente? — ela perguntou, incerta.

— Já falei sobre isso — disse ele, agora claramente impaciente. Levantou-se para servir mais bebida, dessa vez enchendo o copo. — Provavelmente errei nos cálculos.

— Nosso pai sempre disse que viajar no tempo podia mexer com a mente. Será que foi isso que aconteceu? — perguntou Vanya, enquanto Cinco, de costas para ela, bebia sua dose forte.

— Eu não deveria ter vindo — ele disse, girando bruscamente e indo em direção à porta. Seus olhos estavam inflamados de irritação. Ele havia escolhido a dedo para quem contar aquilo, então por que ninguém parecia entender? Ele atravessou a sala, enquanto Vanya percebia que tudo estava prestes a desmoronar. — Você é muito jovem. Muito ingênua para entender. Celly, venha.

— Não! Cinco! Cinco, espera! — Vanya implorou, e ele parou diante da porta. Eu permaneci sentada. — Faz tanto tempo que a gente não se vê... Assim como não vi Celly por anos — ela lançou um olhar para mim. A tensão era densa, mas não era de briga, era o peso da saudade. — Não quero perder vocês dois de novo. Só isso. Olha, tá ficando tarde e eu dou aula cedo. Preciso dormir e vocês também devem estar cansados — ela concluiu, erguendo o indicador como se tivesse lembrado de algo importante, e foi ao quarto, voltando com algumas cobertas. — Aqui — disse, preparando os sofás para que eu e Cinco pudéssemos descansar. — Podemos conversar amanhã. Prometo.

Vanya se afastou, e Cinco, pensativo, fixou o olhar em algum ponto da sala. Eu, por minha vez, tirei os sapatos que já machucavam meus pés. Acho que ele percebeu que não tinha escolha. Se quisesse que eu o acompanhasse, teria que me deixar dormir ali naquela noite.

— Vou dormir. E nada de baixarias no meu sofá. Eu dou aula para crianças aqui — disse ela ao sair, já com um "boa noite" sussurrado ao longe.

Engasguei com sua insinuação, enquanto Cinco deu um sorriso presunçoso. Deitamos cada um em um sofá, cobertos com as mantas que Vanya havia trazido. O silêncio logo tomou conta da pequena sala.

Minhas mãos passavam distraídas pela textura do sofá simples, enquanto minha mente se recusava a desligar, mesmo com o cansaço do dia.

— ...Celly, como foi para você quando eu fui embora?

Virei o rosto, encontrando seu olhar indecifrável. As memórias vieram à tona, aquelas que eu tanto tentava enterrar. Elas me atormentavam. Não eram nítidas, mas fragmentadas, confusas. Algumas coisas permaneciam, outras se perdiam em um vazio frustrante. Eu odiava ter esquecido de algumas coisas. Não pude mentir. Só Cinco conseguia me fazer encarar essas verdades.

— Foi horrível, Cinco. Todo dia eu acordava esperando que você estivesse ao meu lado. Seja para me tirar do sério ou para assistir o nascer do sol comigo — minha voz falhou, e fiz uma pausa. — Klaus tentava todos os dias conjurar você, e eu só podia desejar que ele nunca conseguisse. — Fiquei em silêncio por um momento, decidindo se deveria finalmente dizer tudo. — Reginald me culpou. E por que eu não seria culpada? Eu sabia dos seus planos. Foi minha culpa você ter ido embora-

— Pare. — Ele me interrompeu, firme. — Nunca mais repita isso. Nem em um milhão de realidades alternativas seria sua culpa. Reginald era um hipócrita! Inteligente? Sim. Mas um idiota. Ele não sabia de nada, então não acredite em uma palavra do que ele te disse — Cinco disse, sentando-se e me encarando com uma intensidade desesperada. Ele não queria que eu me afundasse naquela dor. — Se nossos irmãos acreditaram nele o suficiente para te magoar, isso só prova que eram imaturos.

— Todos nós éramos. Não tínhamos culpa.

— Sim. Todos nós.

— Mas, pelo menos, você voltou. Cumpriu nossa promessa de mindinho — eu disse, sorrindo, erguendo o dedo para lembrar da promessa.

— Me desculpe por ter sido desse jeito. Eu tentei voltar. Juro que tentei, Celly — ele falou, os olhos aflitos, carregados de tristeza. De repente, me senti a mais idiota do mundo por ter sido tão dura com ele antes. — Todos os dias eu tentava usar meus poderes, mas eles só me levavam de volta por alguns segundos. Tive que aceitar que seria inútil insistir. Comecei a usar matemática para tentar voltar para você.

— Você sempre foi bom nisso. Eu me sentia meio burra quando falava de cálculos perto de você — admiti, arrancando uma risada dele.

— Mas há coisas que você entende melhor que eu. Você é completamente de humanas — ele disse, e eu assenti com um sorriso de "verdade". O silêncio voltou a pairar por mais alguns segundos. Com cuidado, ele se deitou novamente, usando o braço como travesseiro. — Sabia que eu escrevi cartas para você no apocalipse?

— Vai me entregar elas um dia? — perguntei, antes olhando para o teto, mas agora virando de lado para fitá-lo.

— Na verdade, estão todas queimadas. Acho que foi minha forma de desabafar, mesmo sabendo que nunca chegariam até você — ele respondeu, com um leve encolher de ombros, voltando a fitar o teto da sala. A casa de Vanya parecia tão acolhedora agora.

— Deve ter sido muito difícil. Sinto muito que você tenha passado por tudo isso — falei, minha voz baixa, quase um sussurro.

— Acabei me acostumando. O pior era pensar que a qualquer momento eu voltaria para casa. Essa esperança me iludia todos os dias. Demorou muito mais do que eu imaginava.

— Qual vai ser o seu primeiro passo pra impedir o apocalipse? Tipo, temos ainda muitas memórias para viver juntos agora que você voltou. Não quero que tudo isso acabe em oito dias — perguntei, tentando esconder a ansiedade na voz.

Cinco deu um breve sorriso, mas ele logo desapareceu, substituído pela seriedade que sempre carregava. O peso de suas responsabilidades voltava à tona. Ele retirou do bolso o mesmo objeto que havia olhado no meu quarto antes: um olho postiço com "MeriTech" gravado na parte de trás.

— Isso estava na mão do Luther quando o encontrei morto — disse ele, me entregando o olho.

— Morto? — perguntei, sentindo uma pontada de aflição no peito.

— Todos vocês estavam mortos — ele respondeu, com a voz vacilante. — E você, pelo visto, não se importou muito com a margem de segurança dos dezesseis.

— Tentamos e falhamos, então? — A ideia me atingiu em cheio. Eu esperava o apocalipse, mas nunca pensei no que realmente significava.

— Pelo visto, sim. — Ele deu de ombros. — Mas agora eu estou aqui. Esse olho provavelmente está ligado a quem causou isso. Vou começar procurando a pessoa que precisa dele.

— Isso vai dar um trabalhão — resmunguei, esfregando o rosto. Eu tinha planejado voltar pra casa hoje, mas ao invés disso, estava me comprometendo a salvar o mundo. "Que maravilha." — Se amanhã cedo temos que ir para o lugar que fabricou esse olho, é melhor irmos dormir agora.
— A gente?

— Não acha que vou deixar você salvar minha pele sozinho, né? — Sorri, firme. Nunca fui de deixar os outros fazerem o trabalho por mim.

— É, você nunca faria isso — ele admitiu, com um sorriso irônico.

O silêncio se instalou por um momento, antes de eu finalmente dizer:

— Boa noite, Cinco.

— Boa noite, Sunshine.

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Acordamos cedo no dia seguinte. Sem esperar Vanya, que ainda dormia, Cinco e eu pegamos um táxi para o departamento de próteses, chegando bem antes do horário de abertura. Claro, Cinco "esqueceu" de pagar a corrida, se teleportando no último segundo, me deixando incrédula. "Estamos salvando a vida dele," foi a desculpa dele. Tive que me segurar para não voltar e pagar o motorista. Chegando ao edifício moderno e estéril, fomos os primeiros a entrar.

— Tem a chance desse olho ainda não ter sido fabricado, sabe? — comentei, enquanto Cinco girava o objeto entre os dedos, esperando atendimento.

— Tem que ter sido. Se não, isso só vai atrasar tudo. — Ele resmungou.

— Ahn... Precisam de ajuda? — perguntou um homem de jaleco branco, cabelos bem arrumados e um ar de eficiência. Ele mal disfarçava a curiosidade ao ver Cinco erguer a prótese ocular.

— Preciso saber de quem é isso — Cinco disse, com um sorriso forçado.

— Onde você encontrou isso? — O homem franziu o cenho, visivelmente confuso. Não era comum encontrar alguém perambulando por aí com um olho postiço.

— Não é da sua conta — retrucou Cinco, e eu quase engasguei. Dei um leve tapa na mão dele.

— O que deu em você hoje? — murmurei, tentando consertar a situação com uma mentira rápida. — Ah... me desculpe por ele, senhor — falei sincera, olhando de soslaio para Cinco. — A família de responsáveis dele trabalha com um atendimento especial. Eu… eu trabalho junto. Cuidamos e tratamos de pacientes diversificados, incluindo cegos. Provavelmente um deles deve ter perdido essa prótese durante um treinamento. Só... — falei.

— Queremos devolver para a família do dono — completou Cinco, sua voz com uma nota de irritação.

— Oh, que jovem atencioso — disse a mulher no balcão, lançando um olhar elogioso a Cinco.

Eu, que inventei a mentira, não recebo nada? Inacreditável.

— O problema é que os registros são confidenciais. Não posso fornecer essa informação — disse o homem, com um sorriso simpático.

— Sabemos o que isso significa — Cinco respondeu, seu tom endurecendo.

— Mas posso fazer o seguinte: você me dá o olho, e eu o devolvo ao dono.

— Nossa clínica também tem regras de privacidade. Não podemos simplesmente entregar o olho. Por isso viemos aqui, para resolver diretamente — falei, mantendo a postura firme.

— Tenho certeza de que o paciente ficaria grato — insistiu o homem, estendendo a mão para pegar a prótese, mas Cinco segurou firme.

— Você não vai tocar nesse olho — Cinco sibilou, entregando o objeto para mim. A tensão no ar era palpável.

— Escuta aqui, meu jovem…

— Não! Escuta você, imbecil! — Cinco o agarrou pelo jaleco, puxando-o até ficarem cara a cara. Meu coração disparou. — Eu vim de muito longe por isso, passei por coisas que seu cérebro de ervilha nem entenderia. Então me dê logo a informação que eu preciso e eu deixo você em paz — Ele apertou mais o jaleco. — E se me chamar de "meu jovem" mais uma vez, eu arremesso sua cabeça pra fora daquela parede! 

O ambiente ficou em silêncio absoluto. O homem, visivelmente abalado, não tentou reagir.

— Chame os seguranças — murmurou, e a recepcionista já discava o número.

Cinco o soltou e eu segurei sua mão, tentando acalmá-lo. Sem olhar para trás, ele murmurou xingamentos enquanto me guiava para fora, segurando em minhas costas.

— Isso sim é autocontrole — brinquei, guardando o olho no bolso. — Se quiser que dê certo, precisa pensar um pouquinho mais antes de agir.

— Ele que começou — Cinco deu de ombros, convencido. — Aquele idiota teve a coragem de tentar barganhar comigo. Comigo, Celly.

Cinco era um poço de orgulho. Descemos as escadas e, do nada, ele estendeu a mão para mim, sorrateiro. Não pude evitar sorrir de volta, embora tentasse resistir.

Por mais errado que parecesse, eu me sentia estranhamente aliviada por vê-lo agindo assim. Quando Cinco voltou, eu tinha imaginado que ele estivesse em um relacionamento, apaixonado por outra pessoa, e, de certa forma, ver que esses pequenos gestos ainda eram naturais para ele comigo me trouxe uma sensação de conforto, embora eu jamais admitisse isso. Ele claramente percebeu que eu estava gostando, apesar de tentar esconder. Com sua voz sempre carregada de ironia e autoconfiança, ele perguntou:

— Vai mesmo se fazer de difícil? Estou só estendendo a mão, Sunshine. Não estou te pedindo em casamento — ele provocou, com aquele tom presunçoso.

Suspirei, parando nas escadas e olhando para ele.

— Por que isso, Cinco? — perguntei, cruzando os braços.

Ele deu de ombros, sorrindo.

— Porque gosto de estar perto de você. Ainda somos melhores amigos, não somos?

"Éramos mais do que isso antes de você partir", pensei, mas fiquei em silêncio. Por que não?

Finalmente, segurei sua mão. Saímos juntos, enquanto Cinco já pensava no próximo passo.

— Vamos precisar de ajuda — ele resmungou, como se fosse o maior sacrifício do mundo.

— Tipo?

— Tipo Klaus. Aposto que ele tem tempo pra fingir ser nosso pai — disse Cinco. — Vou te teleportar. Se ficar enjoada, te compro um remédio.

Antes que eu pudesse protestar, já estávamos em outro lugar.

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Cinco e Celeste tinham acabado de chegar em casa. Ela foi direto tomar banho e trocar de roupa, já que ainda vestia as mesmas peças — uma calça jeans e um casaco rosa — que estavam encharcadas da chuva.

Ao abrir o guarda-roupa, percebeu que, além dos uniformes e pijamas, havia algumas roupas de passeio. Por um momento, pensou em vestir algo mais confortável, em vez do uniforme ridículo que a fazia parecer ainda mais adolescente. Mas lembrou de Cinco, que estava condenado a salvar o mundo vestido como um estudante. Não teve escolha — sua empatia foi mais forte do que o desejo de usar roupas normais. Colocou o uniforme, que logo a fez sentir frio, já que o vestido deixava suas pernas à mostra. Tentando combater o vento gelado, puxou as meias mais altas que tinha.

Sentada na poltrona, enquanto calçava os sapatos, seus olhos captaram algo familiar embaixo do assento. Franziu o cenho antes de reconhecer o objeto: um colar com o símbolo do infinito. Cinco havia lhe dado aquilo meses antes de partir, e o achado a fez sorrir de orelha a orelha. Ela pegou o colar, o colocou no bolso e terminou de calçar os sapatos.

"— Um colar do infinito? — Celly sorriu, incrédula com o quanto Cinco podia ser clichê.

— É porque vamos durar para sempre. Pelo menos, enquanto você usá-lo, vai se lembrar de mim — ele disse, com uma tentativa mal disfarçada de esconder o quanto estava feliz por ela ter gostado. Havia um toque de insegurança em sua voz, como se temesse que ela não tivesse realmente apreciado o presente — mesmo que isso fosse completamente bobo de sua parte, visto que a garota apreciava até mesmo pequenos gestos.

Ele se teleportou para trás dela, afastando os cabelos ondulados e compridos, e prendeu o colar em seu pescoço. O reflexo dos dois no grande espelho do quarto dela mostrava o cuidado que ele tinha ao colocar a jóia.

— Deixa eu adivinhar... — ela estreitou os olhos, cruzando os braços — …Foi ideia do Diego, não foi?

— A-ha! Dessa vez, não. — Ele sorriu. — Da última vez, você disse que eu precisava ter mais confiança, né? Que eu devia escolher algo que eu achasse que você fosse gostar. Dessa vez, fiz isso sozinho.

— Está de parabéns. — Ela sorriu. — Eu adorei, Cinco."

Ao terminar de calçar os sapatos e relembrar as memórias, ela saiu do quarto e subiu as escadas para encontrar Cinco e Klaus. Quando se aproximou do cômodo, ouviu-os discutindo sobre a roupa que Klaus deveria usar para o plano.

— Precisa ser algo mais profissional!

— Tá bom, vou procurar! Mas já aviso que vai ser difícil achar algo que combine com esse seu gosto de velho aposentado. — Klaus retrucou.

— O quê?!

Antes que a discussão piorasse, Celeste pigarreou, chamando a atenção dos dois.

— Oh... Que bonitinhos. Vocês vão sair com roupas combinando? — provocou Klaus ao notar que ela também vestia o uniforme.

— Na verdade, é um gesto de empatia — defendeu-se ela, franzindo o cenho. — Só ele não tem outras roupas, então não podia deixá-lo sozinho nessa.

— Valeu — Cinco fez uma careta.

— Muito fofos. Estou emocionado — Klaus colocou a mão no peito, exagerando a emoção. Celeste o fuzilou com o olhar, claramente irritada com a insinuação. Klaus rapidamente levantou as mãos em sinal de paz: — Tô brincando! — Ele disse, colocando a mão no ombro dela. — Vou procurar uma roupa que Cinco goste — e saiu, voltando ao seu quarto.

Um silêncio desconfortável pairou entre ela e Cinco, enquanto os dois inevitavelmente se olhavam, aproveitando para notar os pequenos detalhes um do outro.

— Você fica linda nesse uniforme. Acho que tinha esquecido como ele combina com você — confessou, arrancando um sorriso sincero dela.

Celeste sentiu as bochechas esquentarem com o elogio e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Encontrei algo no meu quarto — disse, puxando o colar do bolso. — Pode colocá-lo para mim?

— Claro! — respondeu, surpreso ao perceber que era o colar que ele tinha lhe dado. Ele ergueu as sobrancelhas, mas se manteve em silêncio, tentando não estragar o momento.

Ela se virou de costas, afastando os cabelos do pescoço, e sentiu a respiração dele se aproximar, fazendo seus pelos se arrepiarem ao toque. Cinco prendeu o colar com cuidado, e por um breve instante pensou em beijar o lugar que acabara de tocar, mas Klaus reapareceu, interrompendo a cena.

Ele estava sem camisa, segurando uma blusa estampada.

— Só tenho essa aqui — murmurou, fazendo bico.

De repente, sons de passos distantes os assustaram, fazendo Klaus se esconder dentro do guarda-roupa. Logo depois, Vanya entrou na sala, visivelmente preocupada. Ao vê-los, soltou um suspiro de alívio.

— Graças a Deus! Eu estava morrendo de preocupação! — exclamou.

— Desculpa por termos saído sem avisar — disse Celeste. — Achamos que não devíamos atrapalhar sua rotina.

— Vocês nunca atrapalham! — respondeu Vanya, como se fosse óbvio. — Sou eu quem devo pedir desculpas. Cinco, eu não soube ouvir você, e acho que não consegui processar o que você disse. Ainda estou tentando, pra ser sincera.

— Talvez você tenha razão. Talvez nem tenha sido real. Parecia real, mas... como você disse, o velho sempre falava que viajar no tempo pode afetar a mente — respondeu Cinco, com uma seriedade que refletia sua ansiedade em resolver logo o apocalipse.

— Eu não sou a melhor pessoa para falar sobre isso. Eu fazia terapia. Se quiser, posso te passar o número da minha terapeuta — ofereceu, com certa hesitação. — E, Celly, me desculpe por não ter dado a devida atenção a você. Ontem estava exausta e nem perguntei como você estava.

— Obrigada, mas acho que vamos descansar. Faz muito tempo que não durmo bem — Cinco disse, envolvendo o braço em torno da cintura de Celeste, que quase engasgou com o gesto repentino.

— Claro, descansem — Vanya sorriu e saiu, deixando o eco de seus passos pelo corredor.

— O que foi isso? — Celeste perguntou, tentando se recompor.

— O quê? — Cinco se fez de desentendido.

— Essa aproximação repentina! — resmungou, ainda vermelha.

— Precisávamos disfarçar, né? — ele deu de ombros, enquanto ela balançava a cabeça, incrédula.

Cinco foi até a porta, certificando-se de que Vanya já havia saído, enquanto Klaus, agora vestido, abriu o guarda-roupa, derrubando todos os objetos que estavam ali dentro. Celly soltou o ar que nem havia percebido estar prendendo.

— Ah, isso é tão... — Klaus disse, colocando dramaticamente a mão no peito — ... tocante. Toda essa conversa sobre família, nosso pai, essa aproximação repentina, o tempo-

— Dá pra parar de falar?! Ela vai te ouvir! — Cinco sussurrou entre dentes, irritado.

— Estou tão úmido... — Klaus respondeu em tom exagerado, o que fez Celly soltar uma risadinha, divertindo-se com a situação.

— Eu não mandei você vestir algo profissional?! — Cinco questionou, exasperado.

— O quê?! Essa é a minha melhor roupa — Klaus respondeu com sinceridade.

— Não quero nem imaginar a pior — Celly ironizou, revirando os olhos.

— Vamos procurar no armário do velho — Cinco bufou, estendendo a mão para que Celly o acompanhasse.

Ela segurou apenas o mindinho dele, caminhando despreocupada atrás dele.

— Ah, desde que você me pague por isso.

— Quando acabar o serviço — Cinco lembrou, e Celly logo percebeu que ele provavelmente não pagaria, mas deixou pra lá.

— Tá legal, só pra ver se eu entendi os detalhes: — Klaus começou. Cinco parou, assim como Celeste, ambos curiosos com o que ele diria. — Eu só tenho que ir a esse lugar e fingir que sou o bom e velho pai dele? Do Cinco, é isso?

— É, é tipo isso aí. — Cinco deu de ombros.

— E qual vai ser a nossa história?

— O quê? Do que tá falando? — Cinco perguntou, confuso, lançando um olhar para Celly.

— Eu era muito jovem quando tive você. Tipo uns dezesseis. Muito jovem e muito mal aconselhado — disse Klaus, com uma dose de drama exagerado.

— Claro — Cinco murmurou, revirando os olhos, tentando disfarçar o quanto se divertia com as bobagens do irmão.

— A mãe de você, aquela vagabunda, seja lá quem for, nos conhecemos na discoteca! Legal, né? Você lembra? Oh, meu Deus, o sexo era incríveeel.

— Meu senhor — Celly murmurou, franzindo o cenho e acelerando o passo.

— Que visão perturbadora vindo dessa coisa que você chama de cérebro — Cinco resmungou, em total desaprovação.

— A-ha! E você? — Klaus se voltou para Celly. — Você é claramente a namorada dele.

— O quê? Do que você está falando? — Celly perguntou, a voz levemente desesperada pela vergonha repentina.

— É óbvio. Vocês têm a mesma idade, estão com os mesmos trajes fofos. Estudam juntos na mesma academia. Eu apoio o relacionamento, sério.

— Klaus... — Cinco suspirou, cansado. — Cale a boca.

— Não me faça te pôr de castigo — Klaus provocou, apontando para Cinco como se fosse um pai severo.

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— Como eu disse ao seu filho mais cedo... e à namorada dele — o homem começou, e Celly arregalou os olhos, lançando um olhar para Cinco, que já tinha assumido o papel. Eles haviam concordado em não serem namorados no papel falso para o gerente, mas como todos achavam que realmente eram? — Qualquer informação sobre as próteses que fazemos é estritamente confidencial. Sem o consentimento do cliente, não posso ajudá-los.

— Não vamos conseguir o consentimento se você não nos der um nome! — Cinco retrucou, levantando-se e se aproximando da mesa, irritado.

— Não é problema meu. Sinto muito. — Ele suspirou, exausto da resistência.

— E onde fica o meu consentimento? — Klaus interrompeu, num tom melodramático.

Um silêncio desconfortável se instalou.

— Como é que é?

— Quem te deu permissão pra pôr as mãos no meu filho? — Klaus perguntou, fingindo estar com o coração partido, apontando para Cinco.

Celly e Cinco trocaram olhares incrédulos. "O que ele está fazendo?!", perguntavam-se.

— O quê?! — O homem repetiu, atônito.

— O quê? Você me ouviu.

— Eu não toquei no seu filho — o homem se defendeu, ainda confuso.

— Ah, é mesmo? Então como é que ele ficou com esses lábios inchados?

— Ele não tá com os lábios inchad-

Klaus interrompeu a frase do homem, desferindo um soco na boca de Cinco. Celly levou as mãos à boca, chocada com a rapidez da ação.

— Klaus!

Cinco virou-se, tocando a boca, e Celly se aproximou rapidamente para ver se ele estava bem.

— Droga — murmurou, ainda incrédula, enquanto Klaus continuava a falar com o homem. — Vou fazer um curativo depois.

— Era mais fácil me dar um beijo — Cinco murmurou tão baixo que ela não ouviu.

— Eu quero o nome agora! — Klaus exigiu, embora ainda mantivesse a educação ao finalizar com um "por favor".

— Você é maluco! — o homem respondeu, apontando para Klaus, assustado.

— Você não faz ideia — Klaus rebateu com deboche. — Oh, "paz na terra!"? Oh, que bonito! — Ele sorriu, e surpreendendo todos, pegou o globo de neve e quebrou-o contra a própria cabeça, o que fez vidro e água se espalharem pela sala. — Ah, isso dói! — Klaus gemeu, enquanto o sangue começava a escorrer pela sua testa. 

— Meu Deus… — Celly resmungou, incrédula. Ele estava indo longe demais.

O homem rapidamente pegou o telefone para chamar a segurança.

— Eu vou chamar a seguran-

— A-ha! — Celly interveio, arrancando o telefone das mãos do homem. — Não vai mesmo.

— O quê?! E quem é você pra me impedir? Sua- — o homem protestou, a paciência se esgotando.

— Ei! — Cinco berrou, segurando o homem pelo jaleco. — Você é idiota ou o quê? Se insultar minha namorada de novo, eu corto sua língua e mando de presente pra sua família!

O clima ficou tenso. Klaus, observando tudo, incentivou Celly com um "Vai, vai!". No nervosismo do momento, entrou no papel de namorada dramática:

— Socorro! O escritório do senhor Biggs… — Ela começou. A voz desesperada, carregada de um falso medo. — Ele está maluco! Bateu no meu namorado! — A voz tão carregada de uma falsa dramatização que Cinco até pensou que realmente namorassem. — Mandem os seguranças! Por favor!

Ela rapidamente balançou o telefone no uniforme, como se tentasse fazer os ruídos de quando alguém arranca o telefone das próprias mãos e então, desligou o telefone com um sorriso triunfante.

— Eu vou te dizer o que vai acontecer, "Grant" — Klaus disse, aproximando-se do homem, um sorriso satisfeito no rosto.

— É Lance — corrigiu o homem.

— Daqui a uns sessenta segundos, dois seguranças vão entrar por aquela porta, vão ver um monte de sangue, e vamos dizer que você... — ele imitou uma voz chorosa — ...nos bateu.

Cinco sorriu, finalmente entendendo o plano maluco do irmão, que coincidia com a encenação de Celly.

— Você mandou bem — Cinco elogiou.

— Você vai se dar bem na prisão, Grant. Um pedaço de frango como você... oh, meu Deus, vai ser disputado como uma... — ele rebolou, para horror de Celly e Cinco.

— Minha nossa, você é um louco pervertido! — o homem exclamou, atordoado.

— Agradecido — Klaus respondeu, cuspindo um pedaço de vidro que ainda estava em sua boca.

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Não demorou muito para o homem fazer uma nova ligação para a segurança, pedindo desculpas pelo alarme falso, e finalmente nos levando até a sala de documentos. Ele começou a buscar o código nos arquivos, mas já se passavam alguns minutos sem que encontrasse nada.

— Vou procurar a lista dos produtos fabricados — disse, abrindo outra gaveta, desta vez pegando uma pasta mais recente e checando os últimos registros. — Oh, isso é estranho.

— O quê?! — perguntei ao mesmo tempo que Cinco.

— O olho... ele ainda não foi comprado por ninguém.

— Como assim?! — Klaus exclamou, se aproximando do homem, que recuou levemente, claramente incomodado.

— Bem... pelos registros, o olho com esse número de série... não pode estar certo — ele verificou a ficha de novo, sem acreditar no que via. — Ele ainda nem foi fabricado — concluiu, nos encarando. — Onde vocês conseguiram esse olho?

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— Isso é muito, muito ruim! — murmurou Cinco, andando de um lado para o outro, claramente tentando pensar em uma solução.

Enquanto isso, eu me sentei nos degraus de uma escada próxima, observando os dois discutirem.

— Eu fui ótimo, não fui?! — Klaus comentou, sorrindo satisfeito. — "E onde fica o meu consentimento?!", babaca!

— Klaus! Isso não importa agora! — Cinco falou, quase cara a cara com ele, o desespero evidente na sua voz.

— Como assim não importa? Qual é o problema desse olho, afinal?

— Tem alguém que vai perder o olho nesses próximos sete dias, e isso vai causar o fim da vida na terra e tudo o que conhecemos — Cinco respondeu entre dentes, claramente frustrado por não ser levado a sério.

— Tá, mas... você pode me pagar aquelas vinte pratas agora ou...

— Suas vinte pratas?! — Cinco perguntou, incrédulo, quase rindo de nervoso.

— É, minhas vinte pratas.

— O apocalipse está chegando, e tudo o que você quer é se drogar?! — Cinco perguntou, em choque com a indiferença do irmão.

— Na verdade, eu também estou com fome. Meu estômago tá roncando — Klaus respondeu, imitando o som do ronco da barriga e tremendo os dedos, como se fosse uma piada.

— Você é inútil — Cinco disse, exausto, antes de ir se sentar nas escadas, a poucos metros de mim. — Vocês todos são inúteis!

— Ah, qual é. Você precisa relaxar, tá parecendo um velho rabugento — Klaus provocou, caminhando até nós e se sentando no meio. — Ah! Agora entendi por que você tá tão irritado — ele continuou, inclinando a cabeça para trás com um sorriso malicioso. — Deve ser aquele tesão reprimido, né? Todos esses anos sem ninguém... isso deixa qualquer um maluco.

— Klaus, se eu te der as suas vinte pratas você cala a boca? Ouvir você falar de sexo é bizarro. — Murmurei, envergonhada, tirando algumas notas do bolso e entregando para ele.

Apesar da piada, ele não estava tão errado. A pergunta que ele levantou me fez pensar... Será que Cinco realmente passou todo esse tempo sozinho? Será que nunca... teve ninguém? Eu mesma nunca tinha tido um relacionamento, mas isso não me tornava tão... amargurada quanto ele parecia ser às vezes.

Cinco, de repente, se levantou e rapidamente arrancou o dinheiro da mão de Klaus, que o olhou, surpreso e irritado.

— Ei!

Antes que ele pudesse reagir, Cinco segurou minha mão e nos teleportou diretamente para dentro de um táxi.

— Não pare — Cinco disse de imediato, percebendo o susto do motorista, que quase freou bruscamente.

Ele, percebendo meu desconforto — já que eu odiava ser teleportada sem aviso — colocou a mão suavemente na minha coxa, como se quisesse me acalmar, embora fosse um gesto quase inconsciente.

— Desculpa por não te avisar.

— Tudo bem. Se continuar assim, acho que vou acabar me acostumando.

— Isso aqui é seu — Cinco me entregou o dinheiro que eu tinha dado para Klaus.

— Podia ter deixado com ele... às vezes é bom fazer uma boa ação.

— Eu prometi que pagaria. Portanto, não é gentil que pague minhas contas.

— E você vai pagar mesmo?

— Ah... claro. Salvando a vida dele, acho que já estou fazendo o suficiente.

— Não se ele morrer de fome até lá — brinquei, tentando aliviar o clima.

— Ótimo ponto. Estou completamente arrependido — Cinco respondeu, com sarcasmo, e apertou levemente minha coxa, dessa vez de forma deliberada. Senti as borboletas no estômago e não consegui evitar corar, enquanto Cinco exibia aquele sorriso presunçoso que me deixava ainda mais desconcertada.

A intenção era soltar dois capítulos por semana, mas eu tô com vários deles prontos, então eu vou postando 🫢
Votem e comentem bastanteee
Até o próximo capítulo 🔆

revisão concluída ☑️ 💚