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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍

𝐈 𝐇𝐄𝐋𝐃 𝐘𝐎𝐔𝐑 𝐁𝐎𝐃𝐘

⛈︎彡𝐀𝐩𝐨𝐜𝐚𝐥𝐢𝐩𝐬𝐞.

"QUERIDA CELLY... os dias no apocalipse tem sido difíceis de viver sozinho. Acho que nunca pensei que se isolar, ou não ter interação social fosse afetar tanto a mente de alguém.

Eu me pergunto como teria sido se eu não tivesse saltado no tempo. Quem sabe eu treinaria para isso na Umbrella Academy e não cometeria erros.
A gente poderia crescer juntos e iríamos viajar pelo mundo assim como nós desejávamos aos onze anos. E talvez, se eu criasse coragem, te pediria em casamento depois de uns anos. Você seria a noiva mais linda do mundo.

Sabe, as vezes me sinto imbecil por escrever cartas que você nunca vai ler. Porém escreve-las faz parecer que eu não estou sozinho, apesar de ser mentira.

Quando eu cheguei aqui, eu encontrei seu corpo. Você estava gelada, estava mais jovem do que o normal, como se tivesse usado seus poderes para deter o que quer que tenha causado tudo isso.

Seja lá quem apanhou de você, levou uma surra feia, mas ganhou nos últimos segundos.

Foi horrível ver você morta Celly. É uma lembrança que eu quero apagar completamente da minha cabeça. Acho que eu poderia viver sozinho mais noventa anos, mas não conseguiria te ver morta mais uma vez.

Com amor, seu Cinco." 

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⛈︎彡𝐃𝐢𝐚𝐬 𝐚𝐭𝐮𝐚𝐢𝐬.

Após tomar banho e vestir roupas limpas, Celeste subiu ao quarto superior para verificar o progresso de Cinco nos cálculos. Pogo havia informado que Grace já estava consertada, e a notícia encheu Celeste de tanta alegria que ela não resistiu: abraçou-o com força.

Caminhou pelos corredores e subiu até o andar dos dormitórios. Ao se aproximar do cômodo, o som do giz riscando a parede indicava que Cinco ainda estava ocupado. Quando entrou no quarto, ficou boquiaberta ao se deparar com quase todas as paredes cobertas de cálculos.

— Uau — murmurou, girando levemente sobre si mesma, o olhar surpreso diante do esforço do amigo. Seus lábios entreabertos revelavam o impacto do que via.

— Acho que consegui, Celly. É sutil, mas promissor — disse ele, modesto, enquanto dava de ombros.

— Sutil? Isso com certeza nos leva a algum lug-

— O que é isso aí? — Luther entrou sem cerimônia, interrompendo-a.

Celeste o fuzilou com o olhar. Detestava ser interrompida. Engoliu a irritação e se manteve em silêncio, embora estivesse à beira de explodir. "Vamos dar uma chance", pensou, reprimindo o desejo de arrebentar o nariz do irmão ou deixá-lo aos cuidados de Grace após uma bela descarga elétrica.

— É um mapa de probabilidade — Cinco respondeu, como se fosse óbvio. Luther, no entanto, parecia longe de entender como aquilo ajudaria a impedir o apocalipse.

— Probabilidade de quê? — Luther perguntou novamente, sua hesitação refletindo o cuidado diante do estresse visível de Cinco.

— Da morte que pode salvar o mundo — Cinco disse sem emoção, esfregando as palmas das mãos, pensativo. — Reduzi para quatro.

— Você está dizendo que uma dessas quatro pessoas causará o apocalipse?

— Não. Estou dizendo que uma dessas mortes pode impedir isso. — Cinco corrigiu com frieza.

Luther umedeceu os lábios, tentando absorver o que os irmãos discutiam. Celeste apertava os punhos, controlando-se para não expulsá-lo do quarto, já antecipando suas perturbações.

— Não tô entendendo.

— O tempo é instável, Luther. — Celeste respondeu, a voz ríspida. — A menor alteração pode mudar tudo no contínuo temporal. Tipo o efeito borboleta. — Ergueu as sobrancelhas, claramente exasperada. — O que Cinco precisa fazer é encontrar as pessoas com maior probabilidade de impactar a linha do tempo e... — Ela quase mencionou a palavra "matar", mas se conteve, prevendo a reação de Luther. — Fazer com que elas impactem a linha do tempo.

Cinco desceu da cama, onde estava alcançando a parte superior da parede, e começou a anotar nomes em um papel.

— Milton Green? Quem é ele? Um terrorista? — Luther perguntou, intrigado.

— Acho que ele é jardineiro — Cinco respondeu, estreitando os olhos enquanto tentava lembrar com precisão a profissão do homem.

Luther franziu o cenho, surpreso.

— Tudo bem... E como vocês planejam fazer com que eles impactem a linha do tempo? — Ele perguntou, ainda confuso.

Celeste abriu a boca para impedir Cinco de responder, mas foi tarde demais.

— Matando, ué.

— Não pode estar falando sério! Isso é loucura, Cinco! De onde você tirou isso?! — Luther gritou, a voz tomada pelo desespero quando viu Cinco retirar uma arma debaixo da cama.

— Do quarto do papai — respondeu Cinco, casualmente, enquanto tirava a capa da arma.

— Não. Não pode ser. Celly, você concorda com isso? — Luther perguntou, incrédulo. Celeste apenas deu de ombros, sentando-se na cama. — Claro que concorda.

— Acho que papai usou essa arma para caçar rinocerontes — Cinco comentou, calmamente, ao carregar a arma. — Parece com o modelo que eu usava no trabalho. Encaixe perfeito nos ombros.

— Você não pode! Esse tal de Milton é só um homem inocente! — Luther exclamou, sua voz repleta de incredulidade.

— É matemática básica, Luther. Uma vida para salvar bilhões. — Cinco deu de ombros. — Se eu não fizer nada, ele vai morrer em quatro dias de qualquer forma. O apocalipse não poupa ninguém.

— Nós não fazemos isso. — Luther afirmou, tentando apelar para a moralidade.

— Nós? — Celeste debochou. — Nós quem? A Umbrella Academy? Isso morreu há quinze anos. Supera.

— É. — Cinco concordou. — Nós não vamos fazer nada. Eu vou.

— Não posso deixar você sair e matar inocentes, Cinco. Não importa quantas vidas você diz que vai salvar. — Luther insistiu, seus olhos suplicando por uma solução diferente.

— Então tenta me impedir — Cinco desafiou. Vendo que Luther permaneceu em silêncio, ele apenas deu de ombros, ajustando a arma nas costas. — Vamos, Celly. — Pediu ele.

Celeste não protestou. Lançou um olhar de desprezo para Luther. Ela odiava quando ele atrapalhava seus planos. Apesar de sentir que Luther estava desistindo rápido demais, ela não se importou. Segurou a mão de Cinco e se levantou.

— Teria sido mais fácil se nem tivéssemos contado pra ele sobre o apocalipse murmurou.

De repente, num acesso de raiva, Luther agarrou o pescoço de Celeste. O mundo dela virou de cabeça para baixo quando foi brutalmente puxada para longe de Cinco e jogada contra a parede. O impacto fez um som abafado, enquanto sua cabeça batia forte. A pressão intensa em torno de seu pescoço sufocava-a, e cada respiração se tornava uma batalha desesperada por ar.

— Você não vai a lugar algum — Luther declarou, os olhos fixos em Cinco, como se Celeste fosse uma figura secundária em sua luta, ignorando que a pessoa que ele estava machucando era sua própria irmã.

Enquanto a distância entre ela e Cinco aumentava, a frustração e a impotência eram claras nos olhos dele. Cinco, decidido, ergueu a arma, agora mirando em Luther, que mantinha o aperto firme no pescoço de Celeste, deixando-a suspensa e completamente indefesa.

— Põe... ela... de volta — Cinco ordenou, cada palavra saindo carregada de uma ameaça contida. Celeste lutava contra o aperto sufocante, chutando e usando as mãos para tentar aliviar a pressão dos dedos de Luther, temendo o uso dos próprios poderes. A escolha de resistir ou arriscar rejuvenescer era uma tortura que limitava suas opções.

— Abaixa a arma. Você não vai matar ninguém hoje. Eu sei que a Celly é importante pra você, então não me obrigue a machucá-la — a voz de Luther soou firme, mas a pressão no pescoço de Celeste se intensificava, transformando o ato de respirar em uma angústia insuportável.

Celeste sentia a tensão de Cinco aumentar. Seus dedos batiam nervosamente na arma, a determinação em seus olhos lentamente se transformando em desespero.

— É ela, ou a arma. Você decide — Luther provocou, a voz dura enquanto apertava ainda mais o pescoço da irmã, esmagando sua traqueia a ponto de cada respiração ser uma luta quase impossível.

— Cinco... — Celeste chamou com dificuldade, a sensação de sufocamento se intensificando. A luta por ar transformava-se em um grito silencioso de socorro. Seus poderes estavam além de seu alcance agora, eclipsados pela dor insuportável.

Os segundos arrastavam-se, uma eternidade de dor, e a pressão na cabeça de Celeste crescia, tornando-se insuportável. Luther, implacável, apertava ainda mais, enquanto Cinco hesitava, sem tomar uma decisão.

Então, finalmente, ele carregou a arma e disparou. A bala passou raspando pela orelha de Luther, cortando como uma lâmina antes de se alojar na parede. O susto e a dor repentina fizeram Luther recuar, soltando o pescoço de Celeste enquanto levava a mão à orelha ferida.

Ele resmungou de dor, mas quando Celeste caiu no chão, o alívio foi imediato. Recuperando o foco que lhe faltava, ela liberou uma poderosa descarga elétrica que fez Luther cambalear para trás. Tossindo, tentando recuperar o fôlego, Celeste percebeu o impacto do golpe: havia voltado aos dezesseis anos. Cinco, surpreso, largou a arma e correu para ela, enquanto Luther se contorcia no chão, o sangue escorrendo da orelha.

— Merda. — Cinco resmungou, teleportando-se ao lado de Celeste. Ele a envolveu em seus braços, os dedos acariciando seus cabelos ondulados, o medo estampado em seu rosto. Por que havia demorado tanto para agir?

Celeste tentava se recompor, o ar ainda dificultoso ao passar por sua garganta. Lágrimas de raiva escorriam de seus olhos, e as marcas vermelhas dos dedos de Luther estavam perfeitamente visíveis em seu pescoço.

— Se encostar nela de novo, juro por Deus que o próximo tiro vai direto na sua cabeça, Luther. — Cinco murmurou, a voz grave enquanto pressionava suavemente o pescoço de Celeste, tentando acalmar a dor.

A marca avermelhada deixava claro o quanto ela havia sofrido. Determinado a não perder tudo, Luther se levantou com dificuldade e puxou a arma para si.

— Eu podia... fazer isso... o dia todo — retrucou ele, a voz falhando enquanto tentava soar firme. Celeste, mesmo em meio à dor e ao ódio puro, soltou um sorriso sarcástico.

— Estou vendo, sim. — Ela rebateu. — Recomendo checar seus batimentos. Se demorar, talvez você seja o próximo a ser enterrado.

— Tá tudo bem — Cinco acalmou, a ideia de continuar com a arma já não parecia mais tão atraente. Não se Celeste fosse ferida de novo. Ele ainda não conseguia entender como tinha deixado as coisas chegarem tão longe.

Luther, apesar da dor que irradiava por todo seu corpo, ficou de pé, ofegante, mas ainda determinado.

— Eu sei que você é uma boa pessoa, Cinco. Se não fosse, você não teria arriscado tudo para voltar aqui e salvar todo mundo — disse Luther, dando um passo à frente. Celeste o encarou com um desgosto profundo, algo que nunca havia sentido antes. — Mas você não está mais sozinho.

O silêncio entre os três foi curto, mas denso. O tempo suficiente para a mente de Celeste formular um plano.

— Acho que tenho uma ideia. Mas não sei se vai funcionar, já que não conheço muito sobre o seu antigo trabalho, Cinco.

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O plano de Celly não era complicado, mas seria um desafio fazer Hazel e Cha-Cha morderem a isca. Eles haviam pegado uma maleta preta no escritório de Reginald, e Cinco escrevera um bilhete, pedindo uma conversa com os dois há poucos minutos.

Celly pensara em tudo com uma rapidez impressionante. Ligara os pontos quando Cinco mencionou que a dupla faria qualquer coisa para recuperar a maleta. Ela lembrava-se da Gestora, do contrato rompido, dos anos de trabalho e do garoto afirmando que ninguém era melhor do que ele.

Agora, os três aguardavam no carro estacionado, esperando algum sinal de que Hazel e Cha-Cha viriam. Luther estava no banco do motorista, com a maleta ao lado. Cinco, desconfiado, fazia questão de evitar que Luther ficasse próximo de Celeste, e, por isso, sentara ao lado dela no banco traseiro. Celeste, entediada, começava a pensar que talvez tivesse exagerado ao formular um plano tão complicado. Observava a paisagem, enquanto Cinco e Luther olhavam fixamente para a estrada à frente.

— Sabe, eu nunca gostei — Cinco quebrou o silêncio. Seus olhos vagos chamaram a atenção dos dois. Celly percebeu que ele estava prestes a falar algo sincero; seus olhos sempre ficavam nublados nesses momentos.

— Do quê? — Luther perguntou, confuso, sendo puxado de volta de seus devaneios.

— De matar. — Cinco respondeu. — Eu era bom no meu trabalho e tinha orgulho, mas nunca me deu prazer. — Ele deu de ombros, e, de forma deliberada, pousou a mão na coxa de Celeste. O gesto fez com que ela lutasse para manter o controle, as borboletas no estômago em plena agitação. O aperto na coxa fazia com que sua concentração se esvaísse. — Foram aqueles anos de solidão. A solidão faz coisas estranhas com a mente.

"Como ele pode estar fazendo isso comigo enquanto fala de um assunto tão horrível?", pensou Celeste, incrédula, tentando disfarçar o quanto estava gostando do toque.

— É, você ficou lá por muito tempo — Luther comentou, pensativo, perdido em suas próprias lembranças. — Eu fiquei só quatro anos na lua, mas já foi o suficiente. — Celeste soltou uma risada sarcástica e revirou os olhos. — Ficar sozinho te destrói.

— Acha que eles vão acreditar? — Celly perguntou, ansiosa para mudar de assunto e evitar que Luther continuasse falando sobre a lua.

— Estão desesperados — Cinco respondeu, seus olhos azuis presos nos dela. — É como se um policial perdesse a arma. Se a comissão descobrir, todos estarão na merda. — Ele olhou para a maleta no banco da frente. — E, sem contar, eles ficarão presos aqui até recuperá-la. Você bolou um ótimo plano.

— Fico feliz que tenha ajudado — Celly sorriu, embora estivesse quase incapaz de formular uma frase coerente com a mão de Cinco sobre sua coxa, o gesto longe de ser inocente.

— Você foi ótima. E, desta vez, acho que não mataremos ninguém. — Cinco completou. Luther soltou um suspiro exausto, que parecia sussurrar: "tomara".

— Acho melhor a maleta ficar comigo — Luther sugeriu. — Caso eles queiram atacar um de vocês.

— Um de vocês? Como se você tivesse agido de forma tão diferente há algumas horas, né? — Celeste rebateu, sua voz carregada de cansaço e irritação.

Ela olhou pelo retrovisor e viu Luther revirar os olhos.

— Não importa o que aconteceu… somos cruciais para o plano — Cinco começou, visivelmente desconfortável, evitando qualquer proximidade com Luther após o incidente. — Vivi muito, mas vocês dois ainda são jovens. Vão ter que aguentar e se protegerem.

Celeste segurou o riso, achando a seriedade dele engraçada, mas não queria estragar o momento.

— Tanto faz pra mim. — Luther resmungou, e Celeste deu de ombros, sem prometer nada.

O silêncio se instalou no carro, enquanto Cinco acariciava sua pele com o polegar. Celeste mal conseguia se concentrar agora — não pelo toque, mas porque Hazel e Cha-Cha poderiam aparecer a qualquer momento, obrigando-o a parar.

Ela suspirou frustrada ao avistar um carro no horizonte.

— Estão vendo aquele carro? — perguntou. Os outros dois também notaram. A tensão aumentava no ar.

— É agora — Cinco disse. — Celly, fica no carro.

Ela riu como se tivesse ouvido uma piada, mas ainda não tentou sair.

— Oi? Tá falando sério? — Ela perguntou, incrédula, vendo o sorriso desaparecer do rosto dele. Luther já havia saído do carro, levando a maleta. Só restavam ela e Cinco em um confronto silencioso.

— Estou. Super sério — Cinco respondeu.

Celly soltou uma risada de deboche, balançando a cabeça. Colocou a mão na maçaneta interna, mas foi impedida quando Cinco se inclinou sobre ela, segurando a porta com força. A proximidade inesperada fez seu estômago revirar, suas bochechas corando instantaneamente.

— Fica. — Ele insistiu. — Eles são perigosos.

— Sai! Eu fiz 80% do plano, idiota. — Ela resmungou. Mas, com os rostos tão próximos, tudo o que conseguia focar eram os olhos e a boca dele, irresistivelmente próxima.

— Fique. — Ele repetiu, a tensão entre os dois aumentando. Era como se todo o plano deixasse de importar. A garota estava quase hipnotizada, tentada a deixar seu orgulho de lado e obedecer a ele sem receio.

— Vocês vão parar com isso?! — A voz abafada de Luther do lado de fora quebrou o feitiço. Ele bateu no vidro, frustrado com a demora.

— Vou te dar um choque se não me deixar sair — Celeste ameaçou, levantando as sobrancelhas em desafio.

Cinco bufou, derrotado. Ele preferia portegê-la lá fora, mas não arriscaria ficar tão dolorido quanto Luther.

— Você é muito teimosa. — Ele resmungou, afastando o braço e liberando a porta.

— Assim como você. — Ela respondeu, saindo do carro enquanto Luther reclamava da demora.

Quando Cinco desceu também, colocou a mão nas costas de Celeste, guiando-a com cuidado pela estrada.

O carro azul já havia passado por eles e estacionado mais à frente. Hazel e Cha-Cha se aproximavam, suas máscaras intimidantes.

— Vai dar tudo certo, tá bom? — Cinco sussurrou. — Eu vou desaparecer, mas volto. Prometo.

— Só… não me faça esperar tanto de novo. — Ela pediu, a voz carregada de emoção. Cinco sentiu aquilo como um golpe.

Quando chegaram perto, Celeste achou curioso como Hazel e Cha-Cha, mascarados, pareciam quase fofos.

— As máscaras são mesmo necessárias? — Cinco perguntou casualmente, colocando as mãos no blazer.

Celly, atenta, olhou para trás, certificando-se de que a maleta parecia verdadeira. Para sua sorte, parecia convincente.

Hazel e Cha-Cha retiraram suas máscaras e as jogaram no chão com desdém. Cha-Cha, com sua postura imponente, claramente liderava a dupla, apesar de Hazel estar ao lado.

— Então, onde está a maleta? — Cha-Cha perguntou de forma direta.

— Uau, é assim que vocês querem começar? Podemos voltar para o nosso carro e encerrar isso por aqui, se preferirem. — Cinco deu de ombros, provocando.

— Não vai andar nem até a metade do caminho — Cha-Cha ameaçou, sacando a arma e apontando para ele. Cinco, no entanto, apenas sorriu, como se a ameaça fosse irrelevante.

— Guarda essa arma, agora. — Celeste ordenou. A eletricidade começando a dançar por suas mãos, revelando seu poder e arrancando um sorriso satisfeito de Cinco.

Cha-Cha imediatamente guardou a pistola, e Celeste, em resposta, também dissipou a eletricidade, mas permaneceu alerta. Cinco a havia avisado sobre a traiçoeira natureza deles.

— Como vocês perceberam na última visita, nosso irmão não é um gigante comum. — Cinco comentou casualmente.

— Verdade. Você deixou cair um lustre nele e ele se levantou como se fosse nada — Hazel disse a Cha-Cha, sua voz mostrando uma ponta de interesse.

— Se vocês tentarem acabar com ele, ele vai esmagar a maleta. E acho que isso não é o que vocês querem, certo? — Celeste provocou com um sorriso sarcástico.

— Provavelmente vai esmagar nós dois também — murmurou Hazel, preocupado. —Como podemos ajudar uns aos outros?

— Precisamos que entrem em contato com a Gestora. Quero falar com ela, cara a cara. — Cinco respondeu, direto.

— Falar sobre o quê?! — Cha-Cha perguntou, impaciente.

— Isso não é da conta de vocês. — Celeste respondeu firme, cruzando os braços, claramente confortável com a situação. Cha-Cha hesitou por um momento, considerando as possibilidades. Sem muitas opções, ela cedeu:

— Só não mencione a maleta para ela. — Cha-Cha pediu, com Cinco ponderando por um segundo antes de concordar.

Os agentes se afastaram em direção a um telefone público na estrada, enquanto Celeste e Cinco retornavam lentamente para onde Luther esperava com a maleta.

— Você tá louca? Quer morrer? — Cinco sussurrou para Celeste, sem tirar os olhos dos agentes à distância.

— Não sei do que você tá falando. — Celeste deu de ombros, fingindo desinteresse.

— "Isso não é da conta de vocês"? —Cinco imitou o tom dela, incrédulo.

— O que foi? Isso era da conta deles?

— Preciso te lembrar que eles são assassinos treinados? — Cinco questionou, sua voz carregada de frustração.

— Não precisa, na verdade — Celeste respondeu com um olhar desafiador.

— Então o que tá acontecendo com você? — Cinco perguntou, genuinamente preocupado.

Celeste suspirou, exausta. Ela olhou para Luther, que estava distraído com a maleta, e revirou os olhos antes de voltar sua atenção para Cinco.

— Tô de saco cheio daquele babaca, só isso.

Cinco soltou um suspiro cansado, como se entendesse completamente.

— Tudo bem. — Ele resmungou. A mão que estava no ombro dela deslizou até os dedos de sua mão, um gesto simples, mas cheio de significado. — Vamos resolver isso logo, okay? Aguenta mais um pouco. E se ele errar de novo, você tem minha permissão pra quebrar o nariz dele dessa vez.

— Confesso que ver ele com dor no chão foi bem satisfatório. — Celeste sorriu, lembrando-se da cena.

— Você é terrível. — Cinco riu, incrédulo, apertando levemente sua mão antes de levar os dedos dela aos lábios, depositando um beijo gentil. Celeste sorriu diante do gesto. — Me desculpe por ter demorado tanto pra te ajudar antes. Eu...

— Ei! Tá tudo bem. — Ela o interrompeu, apaziguadora, enquanto percebia o olhar dele sobre as marcas no próprio pescoço. — Isso aqui não é nada. Vai desaparecer logo.

— Mas poderia ter sido pior, Celly. — Cinco insistiu, seus olhos revelando arrependimento.

— Mas não foi. — Celeste respondeu com firmeza. — Olhe pelo lado bom. Agora o Luther tem uma falha na orelha esquerda, e eu pude descontar minha frustração nele, não é ótimo?

— Não vejo nenhum lado bom nisso. — Cinco murmurou, ainda incomodado. Celeste suspirou, frustrada.

— Você realmente adora remoer as coisas, hein? Meu Deus.

— É porque estou realmente arrependido e…

— Cinco! — Ela estalou os dedos na frente do rosto dele, chamando sua atenção. — Já falei que está tudo bem. Sério.

Os olhos dele finalmente suavizaram. Quando Celeste colocou a mão suavemente na bochecha dele, Cinco sentiu como se o mundo ao redor tivesse desaparecido. O toque dela o acalmava, e ele se pegou admirando o modo como o vento balançava o cabelo dela, os olhos castanhos que pareciam brilhar à luz do sol... Ela era absolutamente perfeita.

Antes que ele pudesse processar, Celeste o surpreendeu, puxando sua gravata e depositando um beijo em sua bochecha. Um gesto simples, mas que o deixou completamente corado, com um sorriso desajeitado nos lábios.

Ela se afastou antes que ele pudesse comentar, quase saltitando de volta para onde Luther os esperava.

— E agora? O que fazemos? — Luther perguntou, olhando para Cinco.

— A gente espera. — Cinco respondeu, com indiferença.

O sol brilhava intensamente, aquecendo suas peles enquanto o tempo se arrastava. Celly tamborilava o pé no chão, impaciente, torcendo para que Hazel e Cha-Cha ainda não tivessem percebido nada, e que o plano não acabasse saindo do controle.

Não demorou muito. Após alguns minutos, um som alegre e infantil chamou a atenção deles: um caminhão de sorvete se aproximava pela longa estrada.

— Isso… — a garota murmurou, confusa. Não era possível que a gestora estivesse vindo em uma van de sorvetes, certo?

— Não é ela — Cinco disse, como se lesse os pensamentos dela.

Quando o caminhão passou, os três tiveram uma visão clara de Klaus, acenando animadamente para eles. A cena os fez franzir o cenho de confusão, ainda mais ao ver Diego gesticulando para que acelerassem. Ben, em sua forma espectral, parecia ainda mais empolgado.

— O que eles estão fazendo aqui?! — Celeste murmurou, aflita. O plano inteiro estava prestes a desmoronar.

Klaus dirigia sem controle, enquanto Ben ria, jogado em cima dos irmãos, ansioso pelo impacto que tornaria tudo ainda mais emocionante. Diego já havia gritado para Klaus frear, mas foi ignorado, e agora se arrependia amargamente por ter deixado Klaus ao volante.

— É uma armadilha! — Cha-Cha gritou, disparando em sua direção, com Hazel logo atrás.

Sem hesitar, Luther se colocou na frente de Celly e Cinco, protegendo-os de qualquer bala que pudesse atingi-los. O caminhão, no entanto, atropelou os dois agentes, jogando-os para fora da estrada no instante em que o tempo congelou.

Apenas Cinco continuou se movendo, imediatamente associando a interrupção ao surgimento da Gestora. Ele saiu de trás de seu irmão, avançando para entender o que estava acontecendo. Tudo estava parado, como se o tempo houvesse deixado de existir.

Aproveitou a oportunidade para olhar Celeste, imóvel, sem a pressão de sua presença. Observou a falha em sua sobrancelha direita, a pintinha sob a esquerda, os olhos perfeitos... a boca. Mas foi tirado de seu transe:

— Belo truque, não é? — A voz suave, carregada de entusiasmo, chamou sua atenção.

A Gestora, com seus cabelos brancos e trajes elegantes, retirou os óculos escuros, sorrindo ao vê-lo.

— Olá, Cinco. Parece que está bem, apesar de tudo.

— Bom te ver de novo — ele respondeu, embora sua expressão sugerisse o contrário. Colocou as mãos nos bolsos, observando a mulher traiçoeira à sua frente.

— Parece que foi ontem que nos conhecemos. Claro que você era um pouco mais velho. Parabéns pela regressão de idade. Muito esperto, despistou a todos nós. — Ela sorriu, com um olhar que quase parecia um elogio.

— Ah, é. Queria ter crédito por isso. Só calculei mal as projeções de dilatação do tempo e... é, você sabe. Aqui estou — disse, levantando os braços com falsa modéstia.

— Seus esforços são inúteis. — Ela deu de ombros. — Então, por que não me diz o que você quer de verdade?

— Quero que impeça o apocalipse de uma vez por todas — Cinco respondeu diretamente.

— Você entende que o que está pedindo é praticamente impossível, até mesmo para mim? — Ela sorriu, impassível. Cinco sacou a pistola da cintura, apontando diretamente para ela. — O que tem que ser, vai acontecer.

— É? — A voz dele gotejava sarcasmo e ameaça.

— Eu serei substituída — ela respondeu com indiferença. — Sou apenas uma engrenagem em uma máquina — disse, fazendo um gesto com os dedos como se imitasse uma engrenagem. — E essa sua ideia de recrutar sua família para impedir o apocalipse... não passa de fantasia. — Sua voz era quase um sussurro, enquanto ela se movia como um predador circulando sua presa, cada passo intensificando sua presença. — Mas devo dizer que estamos impressionados com sua persistência. Sua determinação é realmente notável. E por isso, queremos lhe oferecer um novo cargo. Na Comissão. Gerência. — Ela sorriu, como se oferecesse o mundo em suas mãos.

— Desculpe, o quê? — Ele riu com sarcasmo, incrédulo.

— Volte a trabalhar conosco. Você sabe que lá é o seu lugar-

— Aqui é o meu lugar — Cinco corrigiu sem hesitar. — Eu poderia ter o cargo que fosse, nada se compararia à vida que tenho ao lado da pessoa que amo.

— Você não estaria mais na divisão de correções. — Ela ofereceu, como se fosse uma vantagem. — Falo do escritório central. Teria o melhor plano de aposentadoria, sem essas viagens intermináveis. Você é um profissional distinto, mesmo nesse uniforme de garoto — disse, apontando para as roupas dele, agora com um ar mais entediado. — E temos a tecnologia para deixar Celeste Hargreeves envelhecer normalmente, ao seu lado. Ela poderia usar seus poderes sem medo de voltar a ser... uma criança.

Cinco piscou, surpreso. Um brilho de interesse apareceu em seus olhos, sua arma agora menos firme.

— Como isso é possível? — ele perguntou, confuso.

— Basta ela chegar ao próprio limite. Mas não seria doloroso para ela. Nós dois sabemos o quanto ela é forte — disse a Gestora, aproximando-se lentamente, como se elogiando Celeste. — Ela seria perfeita para trabalhar com você.

— Não coloque a Celeste no meio disso — Cinco interrompeu, a voz dura e firme. — Nunca mais sugira transformá-la em uma assassina.

— Ela já é — a Gestora deu de ombros. — O que acha que fazia quando trabalhava para o governo? Ela matava.

— Isso não importa. — Ele retrucou rapidamente. — Tenho certeza de que ela nunca se orgulhou disso.

Ele sabia o peso da morte. Sabia como a culpa de tirar uma vida atormentava a alma. Nunca desejaria isso para Celeste.

A Gestora passou a mão delicadamente pelo rosto de Cinco, persuadindo ele.

— Estamos todos buscando o mesmo, no fim — disse, seus olhos azuis penetrando nos dele. — Podemos fazer isso acontecer. Podemos dar a você uma vida feliz com sua namoradinha. Ela não precisa trabalhar conosco, se não quiser.

— E a minha família? — Cinco perguntou, sério.

— O que tem eles? — a mulher respondeu, quase cuspindo as palavras, o desprezo evidente em sua voz.

— Quero que eles sobrevivam.

A Gestora olhou ao redor, avaliando cada irmão, claramente se perguntando o que Cinco via naquela bagunça de família.

— Todos eles? — ela perguntou, relutante.

— Sim, todos eles.

Ela levantou as sobrancelhas, pegou seus óculos escuros e sorriu.

— Muito bem, vou ver o que posso fazer — disse, estendendo a mão. — Temos um acordo?

Ele parou por um instante, os dedos batucando no paletó. "Tenho que voltar", pensou. A decisão queimava em sua mente.

— Espere um pouco — pediu.

Cinco pegou as armas dos agentes, retirou a munição e jogou-as em direções opostas no vasto gramado à beira da estrada. Seu olhar se voltou para Celly, que teria sido atingida no braço. Ele moveu a bala, mudando seu impacto para um lugar menos vital.

Ficando diante da garota congelada no tempo, uma dúvida o tomou, apesar da confiança que tinha no plano. Respirou fundo, segurou delicadamente o rosto dela e depositou um selinho suave em sua testa.

— Não vou demorar, querida — sussurrou, como se tentasse acalmar a si mesmo tanto quanto a ela.

A gestora já estava impaciente, pigarreando, tentando apressá-lo para a comissão. Relutante, ele voltou, apertou a mão dela e desapareceu da cena. No mesmo instante, o tempo voltou a correr.

Hazel e Cha-Cha, que haviam sido arremessados momentos antes, caíram pesadamente no chão. As balas disparadas contra os três irmãos atingiram apenas objetos insignificantes. A van, que avançava desgovernada, colidiu com o carro dos agentes, causando um impacto brutal que fez todos os passageiros rangerem os dentes.

— Cinco?! — Celeste chamou, notando que ele já não segurava sua mão. Estranhamente, sentia como se algo tivesse tocado sua testa, e seus dedos automaticamente foram até lá, ainda atordoada. Ela quase podia ouvir o vento sussurrando que ele não demoraria.

— Onde ele está? — Luther perguntou, confuso, apesar da tensão entre eles. Não queria conversar com ela, mas a situação exigia.

— O plano deu certo! — exclamou ela, um sorriso de orgulho se espalhando pelo rosto. Luther também sorriu, e por um momento, ambos esqueceram sua recente briga. Eles saltaram de alegria, comemorando.

— Rápido! — Luther disse, jogando a chave do carro para ela ao notar Hazel e Cha-Cha se levantando do asfalto.

Luther, gritando algo como "vem pegar" para os dois agentes, não demorou para lançar a maleta falsa para longe.

Enquanto Celeste ligava o carro, ela viu Klaus e Ben saindo do caminhão de sorvete e correndo até o veículo, com a ajuda de Luther, para fugir.

— O que vocês estão fazendo?! — Klaus gritou, preocupado, ao se acomodar no banco de trás.

— Salvando o mundo! — respondeu ela, ainda rindo, sentindo uma confiança profunda de que Cinco realmente não demoraria.

— Cadê o Cinco? — Diego perguntou, entrando no banco da frente ao lado dela.

— Entra no carro! — gritou Luther. — Acelera logo, Celeste!

— Acelera! Acelera! — ecoou Klaus, ainda se recuperando da adrenalina.

Com todos os irmãos dentro, Celeste pisou no acelerador, e o carro disparou, deixando marcas de pneus no asfalto. Pelo retrovisor, ela observou Hazel e Cha-Cha tentarem disparar contra eles, mas sem sucesso, já que estavam sem munição.

Ela sorriu de forma maliciosa ao vê-los protestando e gritando em desespero. Acelerando ainda mais, ela fechou os olhos por um segundo, drenando a energia dos dois agentes, fazendo-os desmaiar no asfalto quente. Rindo, os irmãos observaram a cena com diversão.

— Ei! O que você fez?! — Klaus perguntou, notando o sorriso travesso no rosto dela.

— Eu? Nada — disse ela, fingindo inocência, gargalhando.

— Fez sim! — Klaus insistiu. — Sua ruguinha na testa sumiu!

Ela quase freou o carro bruscamente.

— Ruguinha? Eu não tenho ruga!

— Agora não tem mesmo! — Klaus provocou. — Você fez eles desmaiarem!

Ela deu de ombros, sorrindo novamente. Já estavam longe o suficiente para que os agentes caídos não pudessem mais ser vistos.

— Fiz isso pelo Didi — ela disse, um sorriso suave nos lábios. O apelido de infância fez Diego fazer uma careta, mas ele não pôde deixar de sentir um carinho imenso pelo gesto dela. E, de repente, todos no carro começaram a rir, como se o peso do apocalipse tivesse momentaneamente desaparecido.

Enquanto isso, em outro lugar, Vanya finalmente encontrou em Leonard Peabody alguém que a via com um olhar de verdadeiro afeto. Esse sentimento a envolveu, trazendo-lhe a inclusão que tanto desejava. Porém, a presença de Leonard, ao mesmo tempo em que a preenchia com afeto, também ajudava a apressar a chegada do apocalipse.

Para Vanya, o sentimento de exclusão sempre fora devastador. Desde pequena, sem poderes, ela era deixada de lado, marcada pela ordinariedade. Leonard, com sua manipulação sutil, fazia-a acreditar que era especial. E ela realmente era.

Mas muitas tragédias poderiam ter sido evitadas se Vanya tivesse sido incluída na dinâmica familiar desde o início. Talvez o apocalipse viesse por outras razões, mas se Reginald Hargreeves tivesse sido um pai decente e a treinado, talvez o fim do mundo sequer existisse.

Mais um pra vocêsssss
espero que tenham gostado 💗
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Obs: machuquei SUPER um dos meus dedos e talvez por causa disso a atualização de domingo se atrase 🫢 mas prometo que vcs não ficarão sem capítulo novo :)

revisão concluída ☑️ 💚