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| • Chapter 24 • | Final.

Oiii depois de toda essa demora d4sgraç8da. Aqui está o final 😥 que dei meu sangue, paciência e afins lslalksdjbsh e não trabalhei sozinha graças a SunshineLupin  Ela que me manteu firme e me motivou a continuar 😳❤️ te amo muito meu amor, você foi fundamental pra tudo isso. Esse capítulo é dedicado a você e ao seu esforço aqui comigo nessa jornada.

MAS antes de começarem a leitura, eu gostaria de dar um recado sobre uma coisa que analisei nessa história e eu percebi que errei feio. Mas fazer o quê né, eu tinha só 15 anos na época quando escrevi e nem estudava sobre religiões em geral como hoje em dia, mas enfim. Não anula, e eu me senti bem incomodada, então só quero pedir desculpas.

Sobre o satanismo abordado aqui. Foi introduzido de uma maneira totalmente errada e estereotipada. Eles não matam, não fazem sacrifícios a sangue frio e muito menos são do mal. Repetindo, quem é do satanismo não é do mal e eu peço desculpas do fundo do meu coração se caso eu ofendi alguém ou se fiz parecer que tenho esses pensamentos ignorantes.

Muito pelo contrário, acho essa crença linda, cheia de paz e tenho até uma ligação com ela mas nunca me aprofundei nas vertentes, só no máximo o satanismo ateísta (Onde você é seu próprio Deus). Sigo os 11 mandamentos há anos e nem tinha ideia disso até ir procurar sobre. No entanto, nunca procurei me aprofundar nas meditações e afins pra poder dar atenção a outros assuntos que eu gosto quanto a Teen Wolf até porquê eu não tenho religião e acredito somente no poder do universo, um pouco nos Deuses gregos e é isso.

But, resumindo pra frisar aqui. Tudo relacionado aos demônios e a coisa toda do inferno, foi inventado por >>mim<<

Os demônios são de minha autoria, as habilidades tbm. Exceto Abbadon, que realmente existe na demonologia, o resto é tudo delírio da minha mente skskskks sério, eu juro que só me dei conta muito tempo depois e só preciso reforçar pra que NUNCA enviem ódio pra pessoas que são satanistas, pois o satanismo consegue ser mais cristão do que o próprio cristianismo. Quem estuda, sabe. Antes que venham me atacar aqui sem ao menos ter lido a bíblia cristã. (Quem vim com graça, vai receber resposta a altura. Ou simplesmente vou bloquear.)

Enfim, era isso meus wolfies, espero não ter ofendido ninguém e sim só passado informação. Tenham um ótimo dia, tarde, noite, madrugada. ❤️❤️

Boa Leitura!

~~~~x~~~~




Uma ventania forte que levantava as partículas de areia de um jeito tão agressivo que parecia querer formar redemoinhos por onde passava. Uma neblina densa que cada passo dado executava-se na defensiva. Era no meio da tarde teoricamente falando, e Beacon nunca havia adotado uma áurea tão sombria desde o período com os cavaleiros fantasmas. Todos presentes podiam afirmar com convicção. Não só o cenário mudou drasticamente, como também a energia que compõem a atmosfera. Com certeza este lugar não era mais o mesmo, tal que outros até alguns dias chamavam de casa.

Uma boa hora para uma frase que muitos já devem ter visto. Vivemos tempos sombrios, onde os piores perderam o medo e as melhores perderam a esperança. Infelizmente, definia bem o bando McCall.

— Não vamos conseguir acabar com todos desse lado da cidade! — Malia gritou desesperada tentando ser ouvida além dos grunhidos agudos dos seres que sobrevoavam suas cabeças. Derek a alguns metros rugiu alto num surto de raiva assim que um demônio subiu em suas costas, tentando mordê-lo.

A Tate se virou de abrupto ao ouvir um rosnado. Logo golpeando de maneira automática a figura animalesca que veio a seu encontro. A garota enfiou a adaga fundo no ser girando a lâmina em sentido horário, assim como fez com os anteriores. Acasionou em mais sangue em seu rosto quando a criatura se debateu, seguido do grito medonho o qual estava familiarizada demais.

Reverberou pela floresta antes do demônio que possuía uma feição semelhante a de um porco, cair desfalecido. A coiote rosnou irritada chutando a carcaça para longe de si, piscando os olhos brilhantes e verificando ao redor antes de seus joelhos cederem sem querer devido a exaustão.

Estava um completo caos. E havia sangue, tanto sangue. Não tinham ideia de como controlar isso, ou o que fazer primeiro e como despistar as criaturas que atendiam ao chamado daqueles que eram feridos por suas mãos. Soltavam um grito horrível que além de machucar os tímpanos lupinos, atraia mais outro grupo de demônios para atacá-los. Seus corpos doíam, os recursos que continham eram limitados comparado a um exército. Foi tudo tão rápido.


5 horas antes...


— Espera! — Alec pediu erguendo a mão num ato de defesa improvisada, mas que não deu certo. Recebeu de qualquer jeito a lâmina contra sua bochecha esquerda, raspando e cortando sua pele.

O menor caiu com o rosto contra a grama. Resmungando frustrado e praguejando. Estavam a horas nisso e parecia que sua cabeça não colaborava para se concentrar quando mais precisava.

Todos treinavam empenhados sem pausa, até precisarem parar devido a esse incidente. Liam quase indo ao chão assim que desviou o olhar para seu filhote no momento em que revidaria um dos socos de Scott. O beta rosnou com intensidade por ver seu menino sangrando, e Theo não ficou muito atrás. O chimera emitiu um ronco alto e grave de seu peito. Quase se assemelhou ao som característico que um felino produziria.

— Mantenha os reflexos, garoto! — Derek avisou após suspirar meio impaciente, estendendo a mão na direção do menor. Alec se virou no chão tentando focar sua vista afim de enxergar o que estava a sua frente. Agarrou o pulso do Hale de forma desajeitada até ser colocado de pé novamente. — Sei que tá ansioso com todas essas informações, mas você precisa tentar focar no que está fazendo aqui. — Explicou com mais calma. Os olhos verdes firmes no rosto do beta. Alec assentiu comprimindo os lábios, respirando fundo em frustração.

— Desculpa, minha mente parece que não consegue desacelerar. — O garoto confessou esboçando uma careta e abaixou a cabeça afim de limpar um pouco do sangue na bochecha que ainda saía, embora a pele estivesse se curando. Nem reparou na figura alta de um certo cacheado que se aproximava meio relutante, ainda que num ritmo rápido.

— Você tá bem? — Mike chegou não se importando em disfarçar a afobação no tom de voz. Ignorando o espaço pessoal para verificar com cuidado o ferimento no rosto do menor que guiou espantado o olhar até ele. Alec assentiu meio sem jeito ainda processando aquilo, vacilando um sorriso ladino sem perceber. Michael soltou o ar pelo nariz em alívio por não encontrar outra contusão no beta. — Toma mais cuidado. Pode parecer bobeira, mas.. quase infartei ali na hora. Tô falando sério.. — Ele emitiu uma risada fraca em acanho por ter que admitir. Sua mão ainda pousada na bochecha de Alec, limpando o sangue seco restante do corte usando o polegar.

Alec entreabriu os lábios meio perdido no que dizer, encarando as íris esverdeadas a sua frente. Seu raciocínio dando uma breve travada. Apenas conseguiu alternar seu foco entre Mike e Derek, distraindo-se novamente quando seu mate se aproximou um pouco mais. Derek bufou inquieto redirecionando a atenção para os outros membros do bando espalhados pelo gramado.

— Pausa de cinco minutos! — O Hale cedeu. Decretando num tom moderado após respirar fundo. Antes de mover seus pés em uma breve caminhada na direção de onde encontrava-se as garrafas d'água. Deixando os adolescentes para trás.

Deparou-se com algumas cheias, secas e outras pela metade. O lobo suspirou mordendo o lábio inferior, parando em frente a mesa e levando as mãos aos bolsos da calça. Talvez estivessem bem ansiosos para reparar o quanto tudo aquilo poderia ser um tanto inútil sem um plano traçado. Embora não pudessem prever propriamente cada detalhe do que viria a seguir. O que estavam fazendo, afinal?

— Não vai se hidratar? — Stiles chegou usando seu costumeiro timbre descontraído. Ainda que estivesse sem ânimo tanto quanto os demais. Passou em seguida os braços pelo tronco do mais velho abraçando-o por trás. O calor reconfortante do humano acolhendo o Hale. Apoiou o queixo no ombro forte.

Derek riu anasalado negando com a cabeça. Aconchegou-se contra o peitoral do namorado, acariciando os antebraços do mesmo que rodeavam sua cintura. Sentindo um beijo repentino sendo depositado em seu pescoço instantes depois. Seus músculos tensos relaxaram quase automaticamente.

— Só você pra deixar o clima minimamente mais leve a essa altura. — Derek comentou cansado esboçando um sorriso ladino meio sem vontade. Entrelaçou seus dedos com os do mais novo num ato um tanto necessitado sem perceber. O que fez Stiles praguejar baixo devido a força usada pelo lobo. — Desculpe.. — Ele não demorou a dizer num murmúrio, afrouxando logo depois suas mãos quase soltando-as. Isso antes do Stilinski impedi-lo. Mantendo unido aquele contato íntimo.

— Sei que sente que estamos sem rumo. Mas cada mínimo esforço agora, conta. Vamos conseguir.. — Stiles disse lentamente, tentando encorajar. Seus lábios pressionados de maneira suave contra o ombro do mais velho numa espécie de carinho por cima do tecido da camisa justa.

Derek assentiu ainda que não muito convencido, tombando discretamente a cabeça para o lado esquerdo afim de deixar o caminho livre para mais beijos do namorado. Stiles riu fraco ao entender, deixando selares molhados pela pele meio suada do lobo. Não que fosse problema, na verdade o humano até gostava. O que era mais um detalhe a lista de suas estranhezas.


Ao longe Liam se empenhava em conduzir uma conversa aleatória com Theo, apenas para manter o namorado tranquilo o suficiente para que desviasse um pouco a atenção do mais novo casal de adolescentes que se conhecia próximo a varanda da casa. Alec e Mike estavam distraídos demais um com o outro numa conversa aparentemente leve para notar o pequeno surto do Raeken. Liam bufou tentando ser paciente.

— Será que pode se esforçar pra manter a calma? Não posso fazer isso por nós dois se você não colabora. — Dunbar disse entredentes num tom baixo, enquanto segurava o rosto do namorado rumo ao seu. Afim de mantê-lo com o foco certo no momento. Theo fechou os olhos respirando fundo antes de assentir apertando os lábios em nítida chateação consigo mesmo. Liam o lançou uma expressão compreensiva, passando o polegar em um carinho suave pela bochecha do chimera. — Olha bem pra ele, Theo.. — Pediu de um modo gentil ainda mantendo o contato visual com o mais velho, que redirecionou a atenção devagar para Alec. — Ele está feliz mesmo em meio a todo esse caos. Vamos tentar... dá o benefício da dúvida. — Murmurou com cuidado, sugerindo. Theo engoliu em seco ajeitando a postura e abraçando a cintura do beta colocando-o mais perto, alternando o olhar entre o namorado e o filho.

Michael estava sendo capaz até de arrancar breves gargalhadas de Alec. Ainda que provavelmente fosse algo bem idiota para fazer o menor rir a essa altura. No fundo Raeken sabia que no fim Liam tinha razão, e o mais importante. A situação do garoto alto que descobriram ser mate de seu filhote, não era muito diferente da que ele já se encontrou anos atrás.

E que ainda possuía muitas sequelas, como por exemplo as várias alfinetadas trocadas entre ele e Malia, as vezes olhares desconfiados vindos de Mason.

Poderiam ser cenários até semelhantes, mas não iguais. Pois de uma coisa o chimera tinha a certeza e nem precisaria dos poderes para obter confirmação. Michael até tinha seu lugar numa alcatéia de assassinos, pode ter crescido com eles praticamente. Porém, era visível nos olhos do garoto. Nunca experimentou aquela sensação.

De quando matamos de verdade para sobreviver a todo custo, e nos vimos presos a esse ciclo de uma maneira que parece quase impossível despertar. Mike ainda que tivesse todo um histórico moralmente suspeito. A inocência no olhar do garoto era inegável, ainda que possuísse cicatrizes e mágoas.

— Okay. — Theo acabou por murmurar concordando. O que para Liam fora fácil demais para permanecer calado e apenas seguir. Teria proferido mais uma pergunta se o chimera não tivesse sido mais rápido em responder a dúvida estampada em seu rosto. — Somos os pais dele espiritualmente falando, mas também não podemos decidir por ele. — Explicou com calma embora odiasse admitir. Precisava ouvir esse fato de sua boca de uma vez.

Liam assentiu comprimindo os lábios, levando a mão direita de encontro a nuca do namorado iniciando carícias contínuas com os dedos nos fios curtos.

— Uma coisa de cada vez agora, pode ser? — Liam disse baixinho esboçando um sorriso suave, encostando sua testa com a do outro. Theo riu anasalado acenando com a cabeça devagar, roubando em seguida um selinho demorado do beta. Este que não hesitou em retribuir. — Tá mais calmo pelo visto.. — Comentou risonho, passeando os dedos em um carinho gentil nas bochechas do chimera. Theo ergueu as sobrancelhas, dizendo silenciosamente para não contar muito com isso.

— Calmo é uma palavra muito forte mas né... estou no processo. — O chimera confessou rindo fraco em nervosismo, olhando vagamente para o topo das árvores que o cercavam enquanto aproveitava o carinho que Liam fazia em seus cabelos. As folhas ao longe balançando um tanto rápido na breve ventania.

Nem notou uma movimentação repentina do namorado, que o agarrou pelo braço subitamente. Theo apenas sentiu quando seu corpo foi jogado rapidamente por cima dos ombros do beta. Logo se viu no chão, as costas colidindo contra a grama. Raeken piscou meio atordoado, deparando-se com a feição risonha de Liam. Este que ainda segurava seu antebraço como se fosse deslocar o osso.

— Nunca deixe o oponente distrair você. — Dunbar sorriu sapeca lançando uma piscadela ao mais velho que ainda processava o golpe executado. Theo riu de escárnio negando com a cabeça, seu coração acelerado pelo susto. Deu impulso colocando-se de pé num salto. O beta possuía uma expressão convencida. — Agora, foco aqui. Vem. — Encorajou chamando com os dedos mas era visível a provocação em seu tom. Theo ergueu os punhos numa pose de ataque, separando um pouco os pés.

— Espertinho. — Rebateu desdenhando. Liam brilhou os olhos avançando. Tentou acertar um soco certeiro rumo ao rosto do chimera, que acabou por desviar contra atacando. Theo segurou com firmeza o pulso do namorado antes de entortar o braço somente para imobilizá-lo nas costas do mais novo. Dunbar bufou esboçando uma careta frustrada, notando a respiração quente do chimera batendo em seu ouvido. — Mas talvez, você precise de mais disciplina se quiser continuar derrubando alguém nas primeiras tentativas.. — Murmurou emitindo uma risada rouca, apertando de leve o pulso do beta que botou os ombros para trás em reflexo. Liam riu assentindo.

Michael e Alec ao longe nem sabiam ao certo quando começaram a observar aqueles dois. O silêncio depois de alguns minutos havia pairado entre eles mas não fora necessariamente algo desconfortável. Apenas decidiram mutuamente aproveitar o mínimo daquela calmaria que restava por enquanto. Estavam treinando a horas e nem poderiam parar por muito tempo para digerir isso tudo no momento.

— Eles sempre foram assim? — Mike questionou esboçando um leve sorriso ao se apoiar na viga de madeira próxima a seu ombro direito. Observando pela visão periférica Alec fazer o mesmo antes de encará-lo.

— Desde que os conheço. Vi passarem de amigos para algo mais. Mas sei que não se davam tão bem assim até alguns anos atrás.. — O menor deu de ombros sustentando um sorriso fechado fofo na concepção de Mike, enquanto assistia a distância os mais velhos que pareciam mais se provocar do que treinar. Alec riu em adoração. — Theo nem sempre foi bom em tomar decisões e não teve muitas alternativas no início. Mas o que importa é que ele está bem e feliz hoje. Eles estão. — Explicou com convicção da melhor maneira possível, esboçando uma careta em incômodo ao levar as mãos para os bolsos da calça. Sentiu um pouco de frio de repente.

— É.. sei bem como é isso. — Mike murmurou meio que pensando alto, os olhos voltados para o chão. Ocasionou na atenção do beta voltada a ele rapidamente. E logo o mais alto limpou a garganta, tentando reformular. — Quer dizer, que bom que no fim.. ele encontrou a felicidade. — Disse num tom rouco, como se tentasse não transparecer em sua voz o que os pensamentos conflituosos resolveram o trazer.

Alec franziu de leve a testa, afastando-se da madeira onde se apoiava. Caminhou num ritmo calmo na direção do híbrido, sustentando uma feição tímida mas ainda assim não anulava o resquício de coragem que lhe subiu. Mike desviou o olhar do pessoal ao longe espalhado pelo gramado, guiando a atenção para o menor ao notá-lo tão próximo de si. O mais alto engoliu em seco, surpreso.

— E.. aparentemente, você também encontrou a sua. — O menor apenas disse, os olhos castanhos firmes nos verdes. O coração acelerando numa sensação nova, mas ao mesmo tempo satisfatória demais para se preocupar. Michael piscou algumas vezes seguidas assimilando. Esboçou um sorriso de canto totalmente tolo. — Posso tá me precipitando, mas.. tive que falar. — Acrescentou após um suspiro longo. Apreensão inundando as orbes adoráveis do pequeno devido a falta de resposta. Mike riu fraco meio sem jeito.

— Olha, você.. não podia estar mais certo. — Confessou o híbrido enquanto analisava cada detalhe no rosto de Alec. Não perdendo o momento em que as bochechas do menor ruborizaram. Mike não conteu o sorriso espontâneo, nem quando seu braço se moveu para puxá-lo devagar pela cintura contra seu corpo. O lobo se viu totalmente desconcertado nos braços do maior, mas também não se afastou e Mike interpretou isso como bom sinal. — Sei que tá tudo uma loucura agora, mas adoraria conhecer você melhor. Conhecer.. meu mate. — Deixou que os instintos falassem mais alto pela primeira vez durante a explicação. Suas espécies em conflito tentando tomar o controle. Seu lado lobo e coiote unidos reconhecendo o pequeno beta como deles.

Alec entreabriu os lábios pasmo. Erguendo um pouco as sobrancelhas. Era cômico até. O sentimento bom preenchendo seu peito outra vez, desarmando-o por completo. Não soube bem formular uma resposta na hora, como se sua mente tivesse reiniciado. Ainda mais ao sentir um aperto cuidadoso em sua cintura, logo tendo a mão do outro deslizando por suas costas em carícias constantes. Sem segundas intenções, e isso pôde notar.

— Gostei de como disse. — Admitiu num murmúrio envergonhado. Um sorriso contido dançando em seus lábios, induzindo Mike a retribuir do mesmo modo. Nunca disse em voz alta sobre, mas adorava aquele sorriso. Levou a mão direita aos fios na nuca do híbrido. Movendo os dedos pela área escondida por cachos num cafuné lento. Jurou escutar um ronronar baixo, e teve certeza disso assim que Mike inclinou-se mais para seu toque. Alec riu negando com a cabeça. — Não é tão durão quando faço isso, não é?.. — Provocou só para não perder o costume. Apoiando seu queixo contra o peitoral do mais alto ficando na ponta dos pés um pouco. Seus olhos castanhos voltados a ele.

Michael encolheu os ombros não se importando em disfarçar, passando os dois braços pelo tronco do menor. Espaço pessoal já a tempos esquecido por eles. O mais alto estava bem concentrado de fato, pois deu um sobressalto assim que captou um cheiro a mais e desconhecido. Um novo alguém no território.

— É só me ausentar que mais jovens apaixonados se juntam a trupe.. — Uma voz rouca e sarcástica soou de repente. Chamando a atenção do recém casal, mas principalmente dos demais. — Enfim, não mudaram muita coisa né. — Acrescentou modesto. Caminhando despreocupado.

Mike rosnou alto o suficiente para surpreender a todos. Ameaça nítida em sua feição enquanto encarava Peter, este que o analisou com a testa franzida.

Abraçou mais Alec até o mesmo estar praticamente escondido em seus braços, o rosto do beta pressionado em seu peito. As partes lobo e coiote agitadas não deixando o garoto raciocinar direito. Os olhos do latino mudando da colocação natural, para um amarelo vivo e brilhante quase puxado curiosamente para o laranja.

— Wow.. essa cara é nova. — Peter comentou tentando camuflar o susto. As mãos para cima num escudo improvisado em frente ao corpo. Seus pés se movendo devagar rumo ao bando.

Derek bufou praguejando baixo antes de se desvencilhar de Stiles e ir rumo a situação para resolver. Seu tio e suas aparições dramáticas.

Theo se alarmou a princípio, ele confessa. Porém, agora estava por um fio. Desde que aquela cena com seu filhote havia começado. Concentrava-se esse tempo todo ao máximo para não interferir como há minutos Liam pedia em seu ouvido.

Era segurado por trás até agora pelos braços do namorado num abraço firme. A boca do beta próxima a sua orelha, sussurrando algumas coisas que já não ouvia mais. Seu lobo se contorcia agoniado. Alec possuía o cheiro de Mike agora.

— Liam, as garras dele. Eu juro que se ele deixar um arranhão no meu filhote... — Theo nem conseguiu concluir o resmungo. Respirando fundo dando uma recuada por conta do breve puxão que Liam lhe deu, nem notou estar avançando.

Scott ao longe ergueu a mão num comando silencioso para que o beta o mantesse ali. Raeken bufou por ser puxado outra vez, buscando entrelaçar seus dedos com os do mais novo. Tinha que ser racional.

As garras de Mike expostas roçando nas costas de Alec as vezes mas de modo sutil. O menor visivelmente era cauteloso quanto a ideia de se mexer demais. Não que estivesse com medo de Michael propriamente, nada disso. Apenas conhecia a dimensão de como era difícil lidar com alguém cuja ambas espécies são super territoriais e precisam ser contidas na medida certa.

Theo era exatamente assim com ele, embora seja mais intenso ainda no momento. A melhor forma era não protestar muito, mas também não optar por fazer nada. Afinal, o latino não se acalmava sozinho.

— Michael, tá tudo bem, okay? — Stiles tentou da sua melhor forma. Derek ao lado dele tentando reforçar esse ponto. Mike somente rosnou entredentes ainda encarando a distância Peter, as mãos firmes segurando Alec. — Ele é tio do meu namorado. Podemos confiar nel.. — O humano esboçou uma careta, fez uma breve pausa, repensando descaradamente. Foi mais forte que ele. — Assim, na verdade depende. Mas...

— Verifica o tio dele. — Mike disse subitamente, cortando a fala do humano que deu um passo para trás em precaução. O tom suplicante do latino não passando despercebido. Em seus olhos era notório o medo, apreensão. Estava inseguro, assim como todos os outros. Só que se permitindo transparecer. — Eu não confio nesses pishachas soltos por aí. Ele ainda pode ter sido possuído. — Murmurou após respirar fundo. Sentiu Alec puxar de leve sua blusa, logo voltou-se a ele.

— Esquece isso e olha bem pra mim. — Pediu o menor usando um tom firme porém gentil. Movendo as mãos devagar para poder segurar o rosto de Mike. Ainda que os braços do híbrido o envolvesse num aperto firme. — Somos fortes juntos, lembra? E um pishacha não ousaria atacar sem estar em bando. — Ressaltou devagar, notando a respiração do mais alto regulando de forma gradativa. Alec o lançou um olhar terno, acariciando a nuca do mesmo. — Consegue se acalmar?.. — Sussurrou. A boca perigosamente próxima aos lábios carnudos. Percebeu as garras do latino se retraindo novamente.

Mike assentiu meio desconcertado, afrouxando os braços ao redor dele e mudando sua postura defensiva como se acordasse de um transe. Piscou vezes seguidas olhando para o resto do pessoal, que sustentavam feições preocupadas.

— Desculpe, eu.. geralmente não surto assim. — Murmurou Mike em nítido acanho, abaixando a cabeça e encarando seus pés por alguns segundos. Flashes do ataque que sofreu na floresta a apenas horas atrás voltando em sua mente sem aviso prévio, a escuridão densa da mata, as formas fantasmagóricas que o espancaram até que seus pulmões quase falhassem. Nunca foi alguém de adquirir traumas tão facilmente, talvez tenha se enganado para variar.

— Você quase morreu e encontrou seu mate. Tudo em um dia só. Sua reação foi natural, confie em mim. — Derek rebateu num tom calmo, como se entendesse perfeitamente. Embora suas mãos erguidas em frente ao corpo meio que esperando algum ataque de Mike, significasse o contrário. — Mas garanto que ele veio só ajudar. — Garantiu com convicção. Olhar focado em seu rosto. Mike concordou num aceno. Percebendo pelo canto de olho Alec se afastando de si. Lutou para ignorar a vontade de puxá-lo de volta.

— Na verdade fui obrigado. Mas sim, ajudar. — Peter ao longe não tardou em retrucar, sua clássica feição indiferente. Ganhou a atenção dos pares de olhos verdes do latino que até então estava empenhado a atacá-lo segundos atrás. Derek rosnou aborrecido virando o rosto para encará-lo, repreendendo-o junto a Malia. — O quê? Não foi você que me disse pra manter distância se possível? — Fingiu confusão. Stiles suspirou cansado.

— Como você tá ficando velho, vou explicar devagar. — Stiles tomou a palavra ao mover os calcanhares, ignorando o som emitido por Liam ao segurar uma risada. Caminhou na direção do Hale que arqueou uma das sobrancelhas para ele. — Definição da palavra aliado: unido por um pacto, um tratado de aliança, comparsa. O que você preferir. — Disse firme. Seu olhar cínico queimando o rosto de Peter se tivesse a capacidade. Brincava com a adaga em sua mão esquerda, girando-a de uma maneira ágil que chocou principalmente Derek. Peter sorriu ladino.

— Não me lembro de ter assinado nada.. — Provocou. Fingindo estar pensativo ao cruzar os braços sobre o peito. Malia rosnou dando um puxão no braço do pai. O humano segurou com certa força o cabo abaixo da lâmina. Peter riu desdenhando.

— Eu vou é assinar sua cara com essa lâmina. — Stilinski ameaçou entredentes, avançando um passo mas sendo segurado rapidamente por Scott que o agarrou pela cintura num aperto ágil, rumando para longe do Hale. Ele bufou desgostoso. — Okay, tô calmo! — Garantiu após respirar fundo. Sendo colocado ao lado de Derek que negava com a cabeça, um sorriso querendo aparecer nos lábios do lobo que o puxou para perto. — Não me lembrava do quanto ele era irritante.. — Resmungou em desprezo olhando de relance para o tio de seu namorado.

— Ele era tão ruim assim? — Alec perguntou em meio a uma feição risonha, alternando o olhar entre Stiles e Peter, este que acenou para ele sustentando um sorrisinho petulante. O beta franziu a testa. — Acho que tenho a resposta. — Murmurou para si mesmo. Notando Theo ao longe confirmar em um aceno de cabeça, logo fazendo um sinal com a mão para que ele se aproximasse. O menor não tardou em obedecer.

— O Peter é como um zumbido de mosquito no escuro, inferniza e depois some quando a luz acende.

Depois de tanto tempo, não esperavam ouvir essa voz outra vez. Scott principalmente, que virou a cabeça tão rápido que poderiam jurar ouvir um breve estalo de algum osso. Os olhos do alpha se arregalaram assim como os de Lydia e Malia. Stiles quase tropeçou.

— Depois eu que sou o exibido. — Peter comentou em tom baixo tentando ocultar um sorrisinho em seus lábios. Logo falhando de qualquer maneira. Chris riu não demorando a se aproximar em passos calmos. — E sério, mosquito? — Soou incrédulo com um de seus olhares presunçosos.

— Essa é uma das criaturas mais irritantes pra mim. — O caçador lançou uma piscadela ao lobo que riu, como se tivesse gostado. Um sorriso brincalhão dançando em seus lábios. O bando permanecia com suas expressões em um misto de confusão e curiosidade, pelo menos até Stiles se pronunciar.

— Espera, vocês.. — Mal conseguiu verbalizar toda a frase. Derek atrás de si tão atônito quanto o resto do pessoal. O dedo do humano suspenso no ar apontando entre Peter e o Argent. A expressão deveras impressionada. Chris apertou os lábios levando as mãos para os bolsos do moletom jeans que trajava, parecendo se segurar para não rir. — Cara c-como..

— Gente.. — Nolan chamou de repente. A tensão palpável em sua voz. Viraram as cabeças na direção do garoto, vendo-o inquieto e concentrado com algo a cima deles. Mas especificamente no céu. — Tem algo errado.. — Murmurou para lá de amedrontado. Encolhendo-se de leve.

Scott seguiu o olhar do namorado. Sentindo seu corpo gelar da cabeça aos pés, uma sensação horrível e sufocante em seu peito. O céu, antes banhado pelas luzes solares e o clássico tom azul, agora encontrava-se em um perturbador vermelho claro. As nuvens estranhamente escuras demais para ser considerado somente a manifestação clássica de chuva.


O alpha se moveu rápido para perto de Holloway, puxando-o contra seu peito de um modo protetor. Os braços do humano rodeando seu tronco de maneira necessitada. Os olhares de todos voltados para cima, em alerta. O que diabos...

— Alec, fica perto da gente. — Liam pediu num tom sério assim que notou o filhote quase se afastando. Apesar de deixar claro que gostaria de ser obedecido, não queria deixar a situação mais tensa do que já estava ficando. — Perto do Theo, por favor. — Viu o menor assentir devagar meio apreensivo sobre o que seria isso. Logo abraçando o tronco do chimera a seu lado. Raeken o segurou firme olhando ao redor como um cão de guarda. O beta avistou em seguida Mike ao longe, andando para o meio do quintal, parecendo apavorado com tudo isso. — Michael! — Chamou um tanto alto, fazendo um sinal com a mão exigindo que se aproximasse de uma vez.

O latino se virou no mesmo instante. Porém, o que intrigou Liam foi o olhar do mesmo. Parecia aflito, em pânico, a espera de alguma coisa específica. Uma voz tímida sussurrou na mente de Liam. Ele sabe o que está por vir. Rosnou baixo frustrado com essa possibilidade. Assistindo o garoto alto correr em sua direção enfim atendendo ao pedido. Uma repentina brisa iniciou com força. Agitando as folhas das árvores.

— Liam! Começou.. — Mike informou após soltar o fôlego pela breve corrida. O nervosismo percorrendo suas veias mais rápido do que era capaz de processar. O cacheado olhou ao redor vagamente quase que transtornado, focando nos rostos de Theo, Liam e Alec por fim. — Ele fez o ritual. E eu.. não tenho ideia do que será de nós a partir daqui. — Engoliu em seco odiando ter que liberar essas exatas palavras. Lembrando de semanas atrás quando torcia todas as noites para que não ocorresse fenômeno desse nível. Os batimentos cardíacos do casal aumentaram gradativamente. Alec se encolheu.

— Temos que entrar! Agora! — Ouviram Scott gritar ao longe, a ventania cada vez mais intensa só contribuindo para a dificuldade de comunicação. O moreno possuía Nolan bem preso em seus braços, não muito diferente de Corey com Mason. Os outros se espalharam rumando o mais depressa para a entrada dos fundos que levava a cozinha. — Lydia! Preciso que voc-

Um som agudo e ensurdecedor ecoou por entre as árvores. A princípio parecendo se tratar de algo semelhante a um corvo, só que ele precisaria ter uns três metros de altura para ser capaz de produzir um grito tão intenso assim pela mata densa. Todos se agacharam em reflexo, seus ouvidos sendo pressionados com força por suas palmas. Não que isso fosse capaz de abafar algo tão agonizante. Era descomunal.

— Lydia! — Liam chamou com a voz arrastada devido a dor nos ouvidos, caindo de joelhos junto a Theo que ficou próximo aos meninos. Os três ao ponto de se encolherem ainda mais se possível. O beta praticamente rastejou pela grama afim de chegar até a ruiva. Sua mente nublando em curtos intervalos de tempo.

A Martin diferente dos outros, não parecia afetada. Estranhamente inerte ao som. Os olhos claros antes com aquele brilho meigo, agora quase opacos e carregados de aflição. Seu semblante sustentando terror, encarando nada específico a sua frente. Liam esboçou uma careta dolorida, sangue escorrendo de seus ouvidos traçando um caminho até o pescoço.

Logo ele segurou uma das mãos da banshee ao tentar se colocar de pé. Conseguindo por pouco. Olhou vagamente para Malia ajoelhada na grama. Aquele grito não cessava, e se estivesse raciocinando um terço certo. Poderia jurar que aparentemente, aquilo se tratava de uma espécie de chamado para alguma coisa.

— Lydia.. o que você viu. — Dunbar murmurou. Sua voz baixa e meio ofegante perto do ouvido dela, mas serviu de qualquer jeito para despertá-la. Ela virou o rosto encarando o beta. O pavor estampado em suas orbes, os lábios entreabertos prontos para informar alguma coisa. — Por favor, fala. — Pediu apressado. Foi então, que tudo cessou subitamente. Um silêncio.

Parecia que o ar havia retornado aos pulmões de todos. A maioria ainda atordoados, com os ouvidos sangrando. Derek fora o primeiro a se erguer do chão, seguido de Scott e então Peter que não tardou a ir na direção de Chris. Ajudando-o e mantendo o caçador enroscado em si.

O Hale mais novo respirou fundo, passando a ponta dos dedos pela lateral de seu pescoço. O sangue ainda fresco. Ele franziu a testa esboçando uma breve careta, logo olhando ao redor. Um gelo subindo por sua espinha.

— Stiles.. — Chamou ao se dar conta do humano fora de seus braços. A preocupação visível em seu tom cauteloso e rouco. Os olhos abertos e atentos vasculhando a sua volta meio afobado. — Stiles! — Gritou dando alguns passos na direção da mata, mas não conseguindo captar pegadas ou rastro do cheiro. Suas íris já brilhantes denunciando estar nem um pouco disposto para um suspense como aquele. O lobo agitou-se cada vez mais ao constatar. Seu namorado havia simplesmente sumido. — Isso só pode ser brincadeira.. — Murmurou incrédulo num tom sombrio. Sua respiração profunda misturando-se aos rosnados ecoando de seu peito. Levou consideráveis segundos para perceber não ser o único nessa situação.

— Tem que ser brincadeira! — Scott esbravejou de repente, sacando as garras em uma pose defensiva, as presas expostas. Suas orbes vermelhas examinando os cantos do território de sua casa. — Nolan também sumiu.. — Afirmou tentando ignorar o nó que se formou em sua garganta devido ao pânico. A racionalidade lutando para se manter no comando.

Nem notara o modo como sua voz se fez presente. A frequência que só um alpha possuía não passando despercebida pelos outros betas.

Alec se levantava devagar, mas então se encolheu segurando no antebraço de Mike ao seu lado. O latino não hesitou em abraçá-lo pela cintura impedindo que caísse outra vez. O mesmo ocorrendo com Liam ao longe que lutou para não se ajoelhar. Sabia não se tratar de uma espécie de comando direcionado a eles propriamente, mas não conseguia evitar as reações de seu lobo.

— E o Mason.. — Corey acrescentou depois de alguns segundos estático. O desespero estampado em sua feição. Os olhos de Liam brilharam ao ouvir as exatas palavras, trocando um olhar agitado com Theo. Energias nervosas dos demais membros espalhando-se sem cessar pelo ar.

Alguma coisa passou em seguida sob suas cabeças, sendo assustadoramente rápido que mal conseguiram distinguir. Emitiu um som, que parecia como um bater de asas pesadas. Theo rosnou instintivamente dirigindo a atenção para o céu, analisando desconfiado por entre as nuvens. Seus olhos amarelos focados no que quer que ousasse dar as caras. Malia ao longe fez o mesmo.

— Alec, vem cá. — Chamou sinalizando com a mão, ainda com a cabeça voltada para cima. Não demorou para sentir o corpo pequeno chocando-se contra o seu. Um braço rodeando seu tronco num aperto firme. Theo abaixou o olhar mesmo que ainda relutante. Beijando os cabelos bagunçados do menor. Ignorou o fato de seu filhote estar segurando não tão discretamente a mão de Michael atrás de si, que fingiu não notar seu olhar. Raeken suspirou fundo redirecionando as orbes para o pessoal. — Vocês viram algo, não viram?! — Indagou aflito. Suas presas saindo sem hesitar. Assistiu Liam executar uma breve corrida em sua direção. Nem precisaram esperar muito por uma resposta.

— Se abaixem, agora! — Derek mandou. Sua postura tornando-se de ataque. Soltou um rugido que reverberou com força, junto a Peter que se colocou ao seu lado. Os olhos azuis brilhantes arregalados, encarando com pavor a criatura sobrevoando a casa. Levou alguns segundos para que o ser cessasse os movimentos aéreos com as asas enormes. Ficando num campo de visão amplo, mas não tão próximo do chão. Os Hale exibiram os dentes lupinos. — O que é você.. — Rosnou Derek, sendo impedido de avançar por Chris e Malia.

— Abbadon! Ele se chama.. Abbadon. — Lydia se apressou em informar, após longos minutos num transe sufocante. O ser de aparência quase humanóide, virou a cabeça na direção da ruiva. Sem qualquer sinal de alteração, a expressão vazia. As pupilas eram peculiares. Brilhavam num amarelo claro que destacava o par de chifres e meio na cabeça, residindo junto aos cabelos pretos longos. A Martin apertou os lábios reprimindo a vontade de correr. Alternando de relance olhares com Liam e os outros. — Não digam nada impensável. — Avisou num murmúrio após engolir em seco.

A banshee não está errada, afinal.. — O demônio se pronunciou. Seu tom de voz amplificado e ardiloso arrepiando os pêlos de cada um que o assistia. Tombou de leve a cabeça para o lado em uma rápida análise, um sorriso ladino quase imperceptível surgindo em seus lábios pálidos. — Sou o líder de todos. E eles estão apenas esperando meu comando.. — Completou calmo. Uma serenidade insana em sua feição. O bando se mantinha a espreita. Aguardando qualquer mísera menção de ataque. Abbadon ficou sério de repente, examinando cada rosto ali. — Isso vai ser deveras divertido. Aliás, já está sendo. Para os humanos, é claro. — Era notório a satisfação em seu timbre. Scott rosnou entredentes junto a Liam e Derek.


— O que quer dizer? — O alpha não escondeu a intensidade de sua raiva ao questionar. Seus pensamentos correndo, tentando decifrar onde os humanos poderiam estar. Principalmente Nolan. Arriscou dar alguns passos na direção da criatura, que ainda encontrava-se longe do solo.

Abbadon esboçou devagar um sorriso cínico, trocando olhares nada discretos com Lydia que lutou para não se deixar intimidar. O demônio moveu a mão esquerda erguendo-a, uma luz alaranjada surgiu cortando o ar.

Ele desenhou linhas horizontais e verticais. Que iam dando forma a uma figura semelhante ao pentagrama invertido, mas que possuía um símbolo parecido com o infinito na parte de baixo onde os ligava. Não demorou para entenderem o propósito daquilo.

Vozes aflitas misturadas a súplicas altas  reverberaram através do símbolo. Que então se transformou em algumas imagens, parecia ser um tipo de fonte holográfica bizarra. Exibiu cenários meio distorcidos a princípio, mas que eram diretos o suficiente para serem auto explicativos. Os humanos estavam lá. Todos eles presos.

— Eles não parecem estar se divertindo, não é? — Abbadon soou retórico em diversão, seus olhos de cores quentes aumentando a intensidade do brilho cada vez mais. Derek rosnou alto a beira do descontrole, tendo que ser impedido novamente. Dessa vez por Scott e Peter, ainda que a vontade deles fosse deixar o lobo ir a diante.

— Pra onde levou eles?! — Liam esbravejou ao sacar as garras. Trazendo o foco do demônio para si. Ele rosnou exibindo as presas superiores. Abbadon estreitou os olhos na direção dele. Batendo as asas com força num impulso gracioso, voando rumo ao beta.

Theo ao longe engoliu em seco. Seus olhos brilhando no amarelo intenso automaticamente. Respirou fundo tentando se manter no lugar. Os instintos entrando em conflito quase como um furacão devido a ligação com o Dunbar. Apertou de leve a mão de Alec atrás de si que retribuiu o ato. Sua mente trabalhando tão rápido que por um segundo se perguntou se a essa altura poderia ter hiperatividade. Mal assimilou sua ação a seguir assim que virou o corpo.

— Alec, fica aqui com ele, okay? — Theo proferiu tais palavras com um peso incômodo no peito. Sendo pior ao ter aqueles olhinhos castanhos carregados de medo lhe encarando. O menor assentiu mesmo que hesitante. O chimera se abaixou depositando um beijo rápido na testa do beta. Logo direcionou um olhar sério para Michael. — Cuida dele. — Disse numa ordem clara. Que não deixaria de ser comprida.

Mike concordou de prontidão. Puxando de leve Alec pelos ombros a medida que Theo se afastava. O menor se agarrou ao tronco do cacheado. Os olhos ainda acompanhando os movimentos do Raeken, que comprimiu os lábios apreensivo antes de apertar o passo. Suas orbes focadas em Liam que não demorou para notá-lo se aproximando.

— É bom recuar seja lá qual for sua intenção. — Theo afirmou alto e num timbre raivoso após se colocar na frente do namorado. Liam suspirou trêmulo segurando o pulso do mais velho no mesmo instante em repreensão, mantendo-o perto. Aquilo não iria acabar bem. — Fala de uma vez o que fez com os humanos. Mas diga daí  onde está. — Soou áspero e direto. Suas íris brilhando em ameaça. Lydia ao longe prendeu a respiração. Theo realmente havia voltado mais desequilibrado do que já era.

— Vejam só.. alguém com um espírito tão guerreiro. — Abbadon debochou emitindo uma risada rouca. Executou um movimento rápido e breve com a palma, que desfez a imagem de luz pairando sobre ela. Ele permaneceu sob o sustento de suas asas. Ficando cara a cara com Theo que não deu indícios de querer se esquivar daqueles olhos perturbadores. — Está acostumado com o caos, não é? Afinal.. tão cheio de amargura e arrependimentos. — Caçoou lendo o chimera de baixo para cima. Notando-o engolir em seco. A expressão intacta, porém algo interno havia sido atingido. O demônio sorriu realizado. — Seu nome é muito famoso em nossa casa, sabia disso minha criança? — Comentou como se suas palavras não tivessem um certo peso. Liam rosnou subitamente.


— Sugiro que repense sobre trazer todos de volta. — Dunbar sentenciou, advertência clara em seu tom, enquanto puxava o namorado para mais perto. Abbadon não expressou nenhuma reação nos primeiros minutos. Piorando a áurea tensa no local. O modo vazio como ainda encarava Theo. Quase como um suspense de filme de terror. — Isso não vai acabar bem pra você. Não nos conhece..

Ah, acreditem. Ele sabe bem quem são. Cada um. — Outra voz grave e um tanto profunda ecoou atrás deles, quase como se estivesse colada em suas costas. Um murmúrio inoportuno.

Derek se virou abruptamente rosnando, disposto a atacar qualquer coisa que se movesse de maneira ameaçadora a seu ver. Ainda que preso pelos braços de seu tio e Chris, este que parecia mais forte do que se lembrava. Não demorou para avistarem o dono do comentário. Só podia ser brincadeira.

Malia rosnou intensamente ao captar leves estalos ecoando pela mata, semelhando-se a galhos secos sendo quebrados. Adotou a clássica posição de ataque junto a Scott. Espreitando com suas orbes brilhantes o que quer que fosse.

Um ser escondido por entre as árvores mais altas foi quase impossível de não se notar. A criatura com sua pele num tom tão escuro que se destacava sob a luz carmim que a Lua proporcionava, que assim como todo o céu. Possuía um aspecto estranhamente avermelhado.

O demônio exibia um sorriso macabro constante por não ter lábios, os caninos longos e afiados que intimidavam quando mantendo muito do contato visual. E sem contar nos olhos pequenos, porém tão amarelos que eram impossíveis de não se ver em meio a toda aquela escuridão.

Theo deu um passo para trás em reflexo puxando Liam consigo. Olhando rápido para trás afim de checar Alec. O menor encontrava-se encolhido nos braços de Mike, mas parecia estar sendo contido para não cometer besteira. O chimera riria se as circunstâncias fossem mais leves. Seu menino era tão determinado e impulsivo quanto Liam poderia ser. E talvez meio imprudente, mas claro, que isso não vinha dele.

— Acho que nunca ouviram falar de Xagrak. — Abbadon sorriu maldoso ao apresentá-lo. Assistindo o demônio citado saltar da árvore e caminhar confiante na direção do bando que se espalhou querendo apenas distância dele. O ser pareceu achar divertido. Theo rosnou na direção dele assim que o mesmo mirou o foco para Liam. — Acho que deve se apresentar mais formalmente. — Sugeriu cínico. Xagrak emitiu um chiado ao concordar, dando alguns passos a frente. Redirecionou o olhar para o chimera, que franziu as sobrancelhas desconfiado.

Tudo ocorreu numa fração de segundos absurda. Nem conseguiram ao menos raciocinar com rapidez para uma possível escapatória.

— Não! Pai! — Alec gritou ao longe sem conseguir conter-se. Dominado pela angústia e o turbilhão de instintos. Debatendo seu corpo afim de escapar dos braços de Mike, este tão chocado quanto os outros ali.

Theo sentiu primeiro o ar se esvair de seus pulmões, e então a visão tornou-se turva aos poucos. Não estava compreendendo a princípio o que se passava. Somente soube que doía, e muito. Não tinha forças para protestar. O desconforto se concentrava na área de seu peitoral, onde seu coração habitava. Levou a mão direita até o local antes de perder a força nos joelhos, sentindo-os ir de encontro a grama.

— Theo! — Liam exclamou, amparando-o a tempo de não deixá-lo colidir totalmente contra o chão. Puxou o namorado com cuidado pousando a cabeça do mesmo em suas coxas e examinando-o depressa até notar algo. Logo erguendo a blusa branca que o Raeken trajava. Deparou-se com uma mancha na pele meio escurecida que se espalhava. — O que.. — O beta murmurou aflito, sua voz quase não saindo. Notou o modo como o mais velho piscava devagar enquanto observava seu rosto. Quase como se.. estivesse desistindo. — Não! Theo, fica acordado. — Implorou segurando o rosto do maior. O desespero aumentando. Levantou a cabeça olhando ao redor, percebendo que Xagrak permanecia com o olhar fixo em Theo todo esse tempo. — Para! Só para, por favor.. — Não se importou em demostrar fraqueza o suficiente só por seu tom embargado. Jamais aceitaria estar de mãos atadas assim, a menos que fosse esperto. — N-Nós já entendemos, não precisa..

Ah, mas apenas comecei.. — Xagrak o interrompeu num falso trimbre decepcionado. Aproximando-se mais um pouco. Theo cuspiu sangue ao jogar seu corpo para o lado, sendo segurado por Liam que brilhou os olhos em fúria encarando o demônio. Que escutou os rosnados dos outros ao seu redor, mas sabia que não seriam estúpidos neste momento. — Tenho o dom de apodrecer as pessoas de dentro para fora, claro que levando em conta o quanto de amargura e arrependimentos podem carregar para que isso se volte contra elas mesmas. — Era visível que se divertia com aquilo pela maneira como se enaltecia.

Liam rosnou entredentes quase enlouquecendo com a sensação de impotência. Dividido sobre avançar no demônio e arrancar qualquer parte dele que o proporcionasse vida, mas também em não se ver com forças para se afastar do namorado. Theo só sabia tossir o fluído vermelho, seu rosto cada vez mais pálido.

Alec na varanda a poucos metros. Tentava se soltar do aperto de Mike a todo custo. As lágrimas mais que evidentes acumuladas em suas íris castanhas. Se debatia, rosnava e quase arrancou um pedaço do braço de seu mate devido a força que exercia para avançar. Não se importava com as circunstâncias ou quem eram aqueles seres. Não aguentava ficar parado, assistindo seus pais sofrendo desse jeito.

— Sério que isso é ser um líder pra você?! Agir feito covarde e ainda se achar superior?! — Alec berrou com toda força. A raiva praticamente sendo arremessada através de suas palavras. Michael praguejou baixo assim que viu Abbadon virando a cabeça na direção do menor. Parecendo genuinamente curioso.

O demônio enfim pousou na grama ainda sem desviar o olhar traiçoeiro do pequeno beta. Erguendo a mão esquerda em seguida num comando mudo para que Xagrak cessasse sua tortura. E assim foi feito.

Theo tossiu alto antes de puxar o ar subitamente. Os pulmões voltando ao funcionamento regular, a dor se dissipando depressa. Ele agarrou os braços de Liam que o envolviam perto protetoramente. Por dentro agradeceu a Alec por isso. Mas a preocupação veio em dobro no momento em que Abbadon se afastou. A voz profunda e rouca dele soando.

— Não são jovens demais para terem um filho tão atrevido? — Soou retórico. Aproximando-se como quem não quer nada, mantendo uma distância segura de Alec. O menor não demonstrava nada além de ódio para sua surpresa, diferente de Mike que tinha o olhar fixo no demônio. De um modo sombrio em aviso. Abbadon riu. — Não sei qual a definição de líder para vocês. Mas garanto que meu jeito é bem mais prático. — Afirmou sempre permanecendo com a elegância irritante, na humilde concepção de Liam que observava tudo tentando pensar depressa no que fazer primeiro. O demônio retomou a avançar.

— N-Não.. não encosta nele! — Theo ordenou em seu timbre rouco e cansado ao tentar se erguer um pouco. Esboçando uma careta e emitindo um breve rosnado. Recebeu ajuda de Liam que praticamente sustentou a maior parte de seu peso ao apoiá-lo nos ombros. Havia soado alto o suficiente para fazer Abbadon interromper sua caminhada. Virando a cabeça na direção dele. — Deixa meu  filho fora disso. Ele.. não tem que ser envolvido.. — Acrescentou tentando ser o mais firme possível. Embora parecesse negociação, era nítido que implorava.

Abbadon somente permitiu que um sorriso surgisse em seu rosto como resposta, onde entregava o quão mórbidas eram suas intenções.

— Uhm então.. — O demônio riu baixo na breve pausa que fez. Não se importando em disfarçar o deboche. Ignorando o rosnado ouvido atrás de si, este vindo de Mike. — De um jeito ou de outro. Ele está tão envolvido quanto vocês.. — Informou simplista. Sua feição tornando-se fria, os olhos vazios outra vez enquanto encarava a alcatéia.

Abbadon somente levantou seu braço direito num ato brusco. Resultando no corpo de Mike sendo arremessado contra a parede da varanda ficando preso a estrutura, como se fosse um ímã reagindo ao metal. O híbrido urrou alto se debatendo com toda insistência, mas a força usada pelo demônio era sufocante. O limitava.

Alec rosnou pesado. Notando a onda familiar da raiva descomunal que vinha lidando a dias. Mal calculou suas ações seguintes. Ignorando as manifestações externas. Apenas se deu conta da má decisão quando seu pescoço fora rodeado por uma mão gélida, e seus pés já não encostavam mais no solo. Ele urrou furioso tentando se desprender do aperto.

— Isso é.. tudo o que você tem? — Desafiou Alec soando baixo e rouco ao sustentar uma feição desdenhosa. Abbadon arqueou as sobrancelhas com o olhar preso nele, apertando mais a garganta do beta que esperneou em resposta. — Porque.. não estou impressionado nenhum pouco! — Praticamente rosnou as palavras ao exibir as presas, embora respirar ficasse cada mais difícil.

— Você e seu cão de guarda ali, realmente possuem uma ligação incomum das que já vi.. — Abbadon murmurou num timbre curioso. Parecendo indiferente ao comportamento do outro. Analisava fundo nos olhos do menor e suspendendo-o ainda mais, o que comprometeu a jugular. Alec comprimiu os lábios tentando buscar fôlego pelo nariz, segurando forte nos pulsos do demônio em reflexo. — Por isso os pishachas se recusam a se aproximar de vocês agora.. — Concluiu pensativo. Estava imerso em seu raciocínio. Mal ouvindo a agitação atrás de si, principalmente a bagunça de rosnados.

Por pouco Theo não avançou. Liam tendo que o segurar pelos braço pois sabia que ainda residia fraqueza no mais velho. O chimera poderia estar domado pelos instintos e a raiva, mas pelo canto de olho conseguiu captar duas silhuetas ágeis passando numa corrida empenhada. Logo distinguindo se tratar de Peter e Malia. No entanto, a cena a seguir foi desmotivadora.


Ambos foram lançados para longe do ser. Após colidirem numa espécie de barreira invisível que cercava Abbadon, gerando uma luz branca devido ao impacto súbito. O demônio sorriu ardiloso elevando mais Alec que fechou os olhos com força tossindo, seus pulmões começando a queimar.

— Isso realmente vai ser interessante. — Foi tudo o que o ser das trevas disse. Não demorando a arremessar Alec repentinamente, este que gritou ao sentir suas costas colidindo contra uma das árvores que residia naquele território. Abbadon riu anasalado alternando o olhar entre o garoto imóvel na grama e Mike. — Patético, porém ainda fascinante. — Murmurou. Executando um movimento sutil nos dedos da mão direita.

Logo Mike caiu da parede, seu corpo chocando-se no piso de madeira produzindo um baque sonoro. O latino rosnou alto entredentes, sua respiração tornando-se cada vez mais profunda e audível devido aos roncos ecoando de seu peito. Toda a irritação do momento sobressaindo.

Ele raspou as garras no piso ao se levantar, os caninos para fora e o olhar assassinado focado em quem agrediu seu mate. Abbadon permaneceu indiferente, sua audição atenta ao redor. Esperando mais alguém ousar em avançar. Especialmente Theo e Liam, a essa altura mais que furiosos. A barreira era a única coisa que os impedia de acabar logo com a distância para o dilacerar.

Alec engoliu em seco abafando um protesto devido a dor aguda em seu ombro esquerdo. Havia deslocado o osso, sangue escorria de seu nariz e uma tontura desgraçada bagunçou seus sentidos consideravelmente. Viu de relance seus pais agindo de modo animalesco a bons metros dele, pareciam bem fora de si. Foi sua última visão do que ocorria antes de tudo escurecer.

— Aconselho vocês a se manterem civilizados. — O demônio proferiu tranquilo olhando ao redor. Sorrindo perversamente na direção de Xagrak, que espreitava a alcatéia. Desviou o foco encarando todos. — Sabem que não podem comigo se estiverem apodrecendo e se contorcendo. E imagino que amargura seja o que não falta em vocês.. — Debochou. Focado em observar os metamorfos. A intensidade dos rosnados aumentando.

— Tenho certeza.. que ele não é muito útil com a garganta cortada e o coração fora do peito. — Uma voz rouca e forte soou atrás do tumulto. Por um momento desconhecida, mas assim que pousaram seus olhares sobre o indivíduo. Quase não acreditaram. — E eu geralmente não hesito em minhas ameaças. — Garantiu arqueando uma das sobrancelhas, seus olhos brilhantes no azul gélido. Encarando Abbadon com intensidade. A mão direita com as garras fincadas de modo superficial na jugular de Xagrak.

— Chris.. você.. — Scott balbuciou estupefato. Soando meio desengonçado devido as presas raspando em seus lábios. Observou o Argent dos pés a cabeça, trocando um rápido olhar com Peter que parecia ter todas as respostas para suas dúvidas. Logo se voltou para o ex-caçador novamente. — Por isso não foi levado.. — Concluiu num murmúrio. Chris assentiu minimamente rosnando baixo, apertando mais o pescoço do demônio.

— Longa história.. — Ele respondeu num tom áspero devido a raiva, afundando mais as garras na pele escura do ser que emitiu um chiado. Deu bons passos para frente trazendo a criatura consigo. Abbadon ao longe contraiu os dedos com força, suas mãos em punhos evidenciando o aborrecimento contido apesar da expressão vazia. Chris bufou uma risada cínica. — Pode ter tirado os humanos do seu caminho. Mas saiba, que nem todo o poder do mundo, consegue acabar com a determinação de um grupo que encara o perigo infinitas vezes. — Enfatizou sem desviar o foco daqueles olhos intensos, que aos poucos foram assumindo um aspecto furioso.

— Vamos ver. — Deu sua sentença. A postura confiante nunca abandonando-o. Não percebeu quando seu campo de força havia enfraquecido por baixar a guarda. Isso até que uma mão cheia de garras o surpreendesse. Alcançando seu pescoço pela nuca.

— Malia! Não!! — Peter gritou com toda força avançando consideráveis passos. No entanto, mais uma vez não foi capaz de impedir outra atitude impulsiva da filha.

Abbadon arqueou as costas assim que recebeu diversos golpes em seu quadril. Com o que parecia se tratar de uma espécie de faca. O demônio franziu a testa meio confuso a princípio, até sentir um breve desconforto na região atingida. Algo bem incomum quando se tratava de seres como ele.

Malia se afastou rosnando entredentes. Sua mão apertando o cabo de prata da adaga agora totalmente banhada por um líquido preto e viscoso que escorria revestindo um pouco de seus dedos. A coiote não se intimidou diante ao olhar da criatura. Que praticamente lhe enviava com todas as palavras o quanto poderia despedaçá-la.

— Entendi.. — Ele disse simplista. Decifrando rapidamente o que continha de diferente na adaga. A Hale engoliu em seco, ainda que não vacilando a postura. Abbadon moveu a cabeça para o lado. — Jeito difícil. — Proferiu de maneira áspera e alto antes de com apenas um movimento. Jogar a coiote para longe. Num impulso forte capaz de derrubar juntamente os demais integrantes próximos.

Isso foi o estopim para Peter tomar a liderança e avançar. Seguido de Derek e os outros que transbordavam fúria para quem quisesse ver. Theo sendo o primeiro a tentar derrubar o demônio, trocando alguns socos generosos e chutes com o mesmo. Até ser imobilizado repentinamente por mãos gélidas. Merda.

O tal exército a espreita havia dado as caras mais rápido do que eles gostariam. E pareciam estar por toda parte no mesmo segundo que o chimera prestou atenção. Eles emitiam ruídos agudos e brutais por entre as árvores. Vultos rápidos passando de um modo que faria qualquer um perder a conta.


Liam não hesitou em atacar o ser por trás, perfurando o demônio com todo o ódio proporcionado por seu instinto protetor. A criatura emitiu um grito estridente e perturbador. Logo libertando Theo do aperto, este que não pensou duas vezes antes de virar o corpo e desferir um chute certeiro no submundando.

Dunbar rosnou satisfeito jogando o corpo inconsciente para longe. Sinalizando com a cabeça para que o namorado o acompanhasse depressa rumo onde Alec ainda permanecia desacordado. Theo exibiu as presas ao concordar, acelerando o passo em seguida.

Lydia a poucos metros, mal teve o luxo de entrar em choque. Pois ela sabia, estava apenas assistindo ao vivo e a cores. E não era nem um terço do que os aguardava. A ruiva usou de seu grito como escudo, enquanto desferia golpes e mais golpes nos seres que se aproximavam.

Recebia ajuda de Scott e Chris em seu encalço. Porém, foi como se sua mente tivesse dado um estalo pontual. Lembrou-se de um ítem em sua visão, tal esse sendo alguém que não via há muito tempo mas não perdia o grau de importância.

Ela soltou outro grito estridente em seguida, que carregava uma intenção diferente na frequência. Lydia caiu de joelhos. Uma ventania repentina se fez presente instantes depois. Era no momento a única esperança.

Mike ao longe nem sequer assimilou a situação direito ao seu redor. Apenas conseguia enxergar vermelho a sua frente, juntamente com os cortes profundos que deixou nas costas e asas de Abbadon. O líder poderia até estar meio desorientado devido aos resquícios de prata da adaga abençoada em seu sangue de demônio. No entanto, logo devolveu um dos golpes do latino sem medir esforços.

O garoto rosnou alto após se recompor. Pronto para avançar no submundando mais uma vez, sequer afetado pelos ferimentos abertos ainda. Quando teve seus braços segurados subitamente, imobilizando-o com agilidade para que ficasse ajoelhado. Mike exibiu as presas para as figuras altas nas suas laterais com a esperança de acertá-los. Possuíam a pele pálida, os olhos fundos e negros que davam a impressão de ler sua alma.. Ele nunca viu algo como aquilo.

— Levem-nos! — Ouviu a voz aborrecida de Abbadon sentenciar, em seguida alguns gritos a distância que por conta da agitação não conseguiu distinguir de quem eram. Virou a cabeça para encará-lo. Exibindo toda sua fúria nua e crua refletida em seus olhos brilhantes.


O demônio apenas se colocou a frente do híbrido. Mantendo aquele ar superior ainda que carregasse diversas trilhas de machucados feitos por Mike. Ele segurou o queixo do latino com força, recebendo um grunhido em resposta.

— Você nunca teve um lugar o qual pertencesse realmente, não é? — Largou a informação no ar. Observando a postura raivosa de Mike vacilar por míseros segundos. O demônio aproximou um pouco o rosto, ficando cara a cara com o garoto. — E adivinha, não é agora que terá. — Disse entredentes. Por fim soltando a mandíbula do outro. — Jogue ele na gaiola com os outros. — Foi o que conseguiu registrar antes que tudo se passasse em câmera lenta.

Abbadon se distanciando, os demônios assumindo o controle da cidade. Ou o que restou dela. Sua visão ficou turva de repente, até que somente enxergasse escuridão.


Tempo atual..



— Você vai desperdiçar suas últimas forças, Mike! — Liam rosnou em meio ao grito. Seus olhos brilhantes voltados para a figura agitada do híbrido que ainda depois de horas. Não desistia da ideia de arrebentar as grades em brasa. — Isso tá pegando fogo! É inútil! — Dunbar esbravejou por fim. Voltando a ajeitar a postura ao abaixar a cabeça. — É melhor se poupar por agora.. — Murmurou cabisbaixo. Intensificando mais o aperto ao redor de Alec, que se encolheu mais em seu colo.


Estavam trancafiados numa das gaiolas enormes do demônio desde que tudo começou. E o pior foi constatar em meio a exaustão que a única coisa que restaria fazer seria se afundar na impotência. Pelo menos até surgir uma noção que seja sobre onde os outros poderiam estar. Era angustiante.



— Mike, é inútil. — Scott suspirou vendo que o híbrido não ia desistir tão fácil. O McCall trocou um olhar preocupado com Liam, que desviou o olhar para Alec em seu colo. — Vai apenas gastar as energias que não tem.

— Bom, alguém tem que fazer algo! — Mike rosnou tentando socar as grades, o inferno estava solto em Beacon Hills, não podiam ficar sentados sem fazer nada.

— Mike, para. — A voz de Alec soou baixa e chamou a atenção dos outros três homens presos ali, vendo o lobisomem com o olhar preso no latino, seus olhos suplicantes. — Não adianta. — Mike abriu a boca para protestar mas o olhar de Alec o interrompeu. — Estamos presos Mike, não adianta.

— Não podemos desistir, estaríamos dando a batalha como perdida! — Mike retrucou abrindo os braços.

— Nós já perdemos. — Alec falou sem esperanças. Liam apertou os braços em volta de Alec que fechou os olhos, suas próximas palavras saindo em um tom fraco e quebrado. — Não sabemos aonde os outros estão. Eles podem estar mortos e nós somos os próximos.

— Mas ainda tem chance de eles estarem vivos. — Mike falou, tentando se segurar no pequeno resquício de esperança que ainda existia em si. — Ainda tem chance de sairmos daqui, ainda tem chances de ganharmos.

— Mike está certo, Alec. — Scott falou e o mais novo o olhou. — Ainda podemos sair daqui. — Ele se virou para Mike. — Mas não vamos conseguir nada se gastarmos todas as nossas energias.

— Eles têm que estar vivos. — Liam murmurou e todos concordaram. Eles eram sua única esperança.



*




Malia rugiu na direção do demônio, que apenas sorriu debochado. A Hale atacou o demônio, tentando cortar a pele pálida com suas garras. O demônio desviou empurrando a coiote. Ela já estava cansada dessa brincadeira.

Ela rosnou, seus olhos brilhantes analisando a floresta a seu redor, tentando achar algo que pudesse usar a seu favor. Ela enxergou Derek lutando ao longe com dois demônios, causando quase nenhum estrago nos seres submundanos.

Malia caiu no chão quando o demônio a atacou, segurando-a contra o chão, os olhos parecendo sugar sua alma. A Hale levantou a mão, prendendo a mesma no pescoço do demônio, antes de usar a outra mão para fincar a adaga na lateral do corpo do demônio. Ela jogou o corpo do demônio para p lado e se levantou, correndo na direção de Derek. Mais demônios se juntando ao redor do lobisomem.


Antes que ela alcançasse o primo, seu corpo foi jogado contra uma árvore com força, fazendo-a ter certeza de que uma costela se partiu. Malia se levantou cambaleante, segurando o pulso do demônio antes de suas garras alcançarem seu pescoço.


Sua adaga havia caído a alguns metros e ela tentou correr para a pegar mas o demônio a puxou pela perna, derrubando-a. A Hale meteu um chute no rosto do demônio e se levantou correndo para pegar a adaga mas outro demônio surgiu na frente dela.

— Vocês não desistem, não? — A coiote perguntou retoricamente antes de atacar a criatura a sua frente, tentando passar por ele para alcançar a adaga.


Malia meteu um soco no rosto do demônio, que retribuiu na mesma força. Ela chutou a lateral do corpo do demônio e tentou passar por ele mas o mesmo agarrou seu pulso, jogando-a contra uma árvore.

A morena rosnou se levantando e correu na direção do demônio e ele se preparou para o ataque dela mas ela se jogou no chão, deslizando por entre as pernas do demônio, alcançando a adaga e se virando, fincando nas costas do demônio, que caiu no chão.

Malia arregalou os olhos quando o outro demônio que lutava antes prendeu o braço ao redor de seu pescoço, enforcando-a. Ela se debateu tentando se soltar. Quando ela sentiu sua garganta queimar pela restrição de ar, o demônio a soltou e ela se virou vendo Deaton arrancar a adaga das costas do demônio.

— Como você ainda tá vivo? — Malia perguntou levando a mão ao pescoço, sentindo o ar invadir seus pulmões novamente.

— Não temos tempo para perguntas senhorita Hale. — Deaton falou apontando para onde Derek tinha dificuldade para escapar do aperto de um demônio.

Malia pegou sua adaga das costas do demônio e correu fincando a adaga no pescoço do demônio antes que ele percebesse sua aproximação. Ela estendeu a mão para Derek, que aceitou a ajuda.

— Precisamos arranjar um jeito de prender Abbadon. — Deaton falou olhando em volta para ter certeza que não tinham mais demônios por perto, enquanto usava a manga da camisa para limpar um corte em sua bochecha.

— Como? — Malia perguntou limpando seu rosto, que estava sujo por causa da luta. — Até agora ninguém teve uma ideia brilhante de como fazer isso.

— Precisaríamos de correntes abençoadas, sal, um lugar grande suficiente para prendê-lo... — Deaton citava tudo que tinha lembrança sobre o que seria necessário.

— Que tipo de correntes? — Derek perguntou interrompendo o druida, que o olhou por alguns segundos antes de responder.

— Grossas, o suficiente para não se quebrarem facilmente. — Deaton falou olhando atentamente para o filho de sua antiga amiga.

— O suficiente para segurarem uma coiote? — Derek perguntou olhando para Malia que pareceu entender a linha de raciocínio do primo. — Stiles guarda as correntes na escola.

— Mas aonde montariamos a armadilha? — Malia perguntou olhando para Deaton que parecia pensar.

— Descobrimos isso depois, agora precisamos pegar as correntes. — Derek falou começando a andar rapidamente em direção a escola, Malia e Deaton não demorando a lhe seguir.



*


Theo bufou, sua cabeça latejando. Sinceramente, estar preso por correntes já estava se tornando uma coisa normal em sua vida. Ele olhou para cima, vendo as correntes presas ao teto dos túneis, mantendo seus pulsos para cima. Ele voltou a encarar seus pés. Mal tocavam as pontas dos dedos no chão.

Nunca esteve tão quente nos túneis. Ele sentia o suor descendo por seu rosto, sua camisa grudada em suas costas. Ele não fazia ideia de a quanto tempo estava ali, ou quantas horas fazia que todo aquele inferno começou.

Haviam demônios espalhados por todo o canto, de vez em quando algum deles se aproximava e lhe dava um soco. Ele não aguentava mais encarar aqueles seres. Sentia que ia ter dificuldades de esquecer tão facilmente o olhar deles.

Ele levantou a cabeça rapidamente ao ouvir barulhos de luta e viu alguns demônios correrem na direção do som. Alguns deles passaram correndo na frente de Theo e o quimera segurou nas correntes, levantando seu corpo e prendendo as pernas ao redor do pescoço de um dos demônios, que se debateu tentando se soltar, antes de desmaiar.

Passos se aproximaram e Theo viu o cabelo negro esvoaçando quando um demônio foi jogado contra a parede. A asiática surgiu no final do corredor, girando sua katana e acertando duas das criaturas em sua frente.

— Kira? — Theo exclamou assustado. E a asiática o encarou por um minuto antes de acertar outro demônio com sua katana.


— Eu poderia dizer que é bom te ver, mas não seria verdade. — A Yukimura falou se aproximando e girou a katana, quebrando as correntes que seguravam o Raeken, que caiu com tudo no chão.

— Digo o mesmo. — Theo falou se levantando e passando a mão nos pulsos para estimular o sangue a voltar a circular por suas mãos. — Como me achou?


— Na verdade, eu estava atrás de qualquer um. — Kira explicou começando a caminhar pelo caminho que veio, sendo seguida pelo quimera. — Apenas segui a trilha de demônios.

— Como descobriu o que estava acontecendo? — Theo perguntou enquanto subiam as escadas para sair dos túneis, saindo no meio da cidade. As ruas vazias e com um aspecto destruído.

— As Skinwalkers. — A Kitsune respondeu simples não olhando para o garoto ao seu lado. — Precisamos achar os outros. Aonde eles podem estar?

— Quer duas opções? — Theo perguntou retoricamente. — Hospital ou Escola. Tudo acontece em um desses lugares mesmo.

Os dois se esconderam quando escutaram barulho de passos apressados e viram um monte de demônios correndo para leste. Em direção a escola. Os dois se entreolharam, e correram atrás dos demônios.



*


Derek abriu as portas da escola, entrando a passadas largas. Malia e Deaton tentando seguir seus passos rápidos. O local parecia mais sombrio do que o normal, seus corredores vazios e silenciosos.


— Vou pegar as correntes. — Derek falou saindo e nem esperando uma resposta. Deaton e Malia apenas assentiram seguindo em direção ao refeitório da escola, enquanto o Hale seguiu em direção ao vestiário.



Derek entrou no local desejado, seus sentidos sendo atingidos por todos os cheiros presentes no local, o fazendo franzir o nariz. Credo, Derek pensou enquanto tentava separar todos os cheiros e encontrar o que tanto conhecia.

Ele demorou a encontrar o cheiro específico, mas o seguiu até parar na frente do armário que queria. O armário de Stiles. Derek suspirou abrindo o armário e pegando a grande bolsa com as correntes, saindo rapidamente do vestiário.


Tudo o que queria era que o humano estivesse bem. Desde que tudo começou, seu pensamento sempre voltava ao Stilinski, sobre o que poderia ter acontecido com ele. Derek balançou a cabeça, Stiles estava bem e ele o veria de novo, mas para isso, tinham que deter Abbadon.


— Achei as correntes. — Derek falou quando alcançou Malia e Deaton no refeitório. O druida desenhava algo em um papel. — O que vamos fazer?


— Usem o sal para desenhar esse símbolo no campo de lacrosse. — Deaton estendeu o papel para Malia e olhou para Derek. — Preciso abençoar as correntes para elas surtirem algum efeito em Abbadon. Ganhem o máximo de tempo que conseguirem, os demônios devem estar perto.

— Vamos precisar de mais sal. — Malia sinalizou na direção da cozinha, e Derek a seguiu, ajudando a prima a pegar os sacos de sal antes de correrem em direção ao campo de lacrosse.


Derek observou o desenho e pegou um dos sacos rasgando-o, e começando a fazer o desenho. Uma estrela de cinco pontas invertida. Eles demoraram até finalmente terminarem o símbolo, um grande pentagrama no meio do campo de lacrosse.


Os dois voltaram correndo até Deaton e viram o druida murmurando em uma língua antiga antes das correntes brilharem e voltarem ao normal.


— Isso vai funcionar? — Malia perguntou enquanto se aproximavam.


— Precisamos atrair Abbadon para descobrir. — Deaton falou estendendo as correntes para os dois Hale. — As correntes devem ser o suficiente para o impedir de voar.

— Como vamos atrair ele? — Derek perguntou e um sorriso se abriu no rosto de Malia, que saiu correndo da cozinha. Deaton e Derek trocaram olhares confusos, até uma explosão soar e Derek correr até o lado de fora da escola, vendo um carro pegando fogo e Malia sorrindo satisfeita. — O que você fez, garota?

— Atraí Abbadon. — Malia apontou para longe. Aonde dava pra ver o líder dos demônio voando a toda velocidade na direção deles.

— E todos os outros demônios também. — Derek falou puxando a prima para dentro da escola quando os passos dos demônios correndo soaram ao longe.

Os dois correram pelos corredores e entraram na cozinha no mesmo instante que a porta de entrada da escola se abriu com tudo. Os passos pesados dos demônios soaram e os Hale se colocaram em posição de ataque, mas então escutaram o grito de banshee, fazendo-os cobrir os ouvidos.

A porta da cozinha se abriu e Lydia sorriu para eles, atrás dela todos os demônios caídos inconscientes no chão.

— Aonde você estava? — Malia perguntou pegando uma das correntes, enquanto Derek pegava a outra.

— Me escondendo, perdi minha adaga em uma luta. — Lydia falou apertando os lábios em uma linha fina. — Vão usar isso para prender Abbadon?

— Vamos tentar. — Derek falou saindo da cozinha. O bater de asas se tornando mais alto enquanto Abbadon se aproximava da escola.

Malia e Derek se posicionaram perto da porta de entrada da escola enquanto Deaton e Lydia se mantiveram afastados. Quando o bater de asas cessou, a porta se abriu violentamente, Abbadon entrando na escola com um sorriso divertido. Malia jogou a corrente, que se enrolou na asa esquerda do demônio e Derek fez a mesma coisa com a direita.

O demônio gritou com a queimação das correntes em suas asas e tentou levantar voo, mas Derek puxou a corrente com força, fazendo o demônio cair com tudo no chão. Malia começou a puxar a corrente. E Deaton se posicionou a sua frente, ajudando a puxar juntamente. Lydia também começou a ajudar Derek, e assim, os quatro começaram a tentar arrastar o demônio em direção ao campo de lacrosse.

Abbadon se debatia tentando se soltar, sem sucesso. Então, o demônio começou a tentar acertar eles com as garras. Em uma das tentativas, uma das garras de Abbadon acertou a perna de Deaton, fazendo o druida cair. No susto, Malia quase largou a corrente, fazendo Abbadon conseguir dar um passo pra trás, Malia tendo que fazer mais força para o puxar.

De repente, as correntes não pareciam mais tão difíceis de puxar e Corey se materializou na frente da coiote, ajudando-a a puxar aquele ferro. Dois rugidos soaram atrás deles e em alguns instantes, Chris e Peter estavam ajudando eles, tornando mais fácil puxar Abbadon para fora da escola.

Faltavam poucos metros para saírem da escola e entrarem no campo de lacrosse quando quatro demônios apareceram. Eles avançaram contra eles, fazendo Peter e Chris soltarem as correntes, facilitando Abbadon de dar alguns passos para trás, arrastando os que continuavam a segurar as correntes.

Theo e Kira surgiram no final do corredor e correram para ajudar Peter e Chris, liberando o caminho para Malia, Corey, Derek e Lydia continuarem a puxar Abbadon. Quando finalmente saíram a céu aberto, Abbadon começou a fazer mais força para tentar se soltar, mas suas tentativas foram em vão quando, com um último puxão, eles conseguiram jogar o demônio dentro da armadilha.

— Uma pequena vitória em uma batalha perdida. — Abbadon olhou em volta na armadilha com um sorriso debochado.

— Quem está preso é você. — Malia falou como se fosse óbvio. — Quem está perdendo agora é você.

— Vocês são mesmo insistentes. — Abbadon falou rindo. — Ainda acham que tem esperança?

— Mande eles embora. — Derek falou e Abbadon o olhou, assim como os outros. — Os demônios. Você controla eles, os mande embora.

— E por que eu faria isso? — Abbadon sorriu debochado. Derek puxou as correntes fazendo o líder dos demônios dar alguns passos a frente e batendo contra a barreira invisível da armadilha, gritando de dor com a queimação que sentiu. — Sal. — Ele rosnou.

— Mande eles embora! — Derek falou firme, apontando para os demônios, que lutavam contra Peter, Chris, Theo e Kira. Peter estava em uma luta perdida contra Vurothok e os outros se saiam até melhor, mas não o suficiente.

— Acham que podem me convencer? — Abbadon perguntou e tanto Derek quanto Malia puxaram as correntes fazendo o demônio gritar novamente. O demônio os encarou com raiva, cedendo. — Sed tamdiu messoribus eius egredietur. 

Os quatro demônios pararam, antes de sumirem, fazendo Chris correr para ajudar Peter enquanto Theo e Kira se aproximaram.

— Vocês ainda estão perdendo. — Abbadon falou irritado encarando o pack. — Ainda estão lutando por uma batalha perdida.

— Eu concordo. — Todos se viraram ao escutar a voz e viram Jason parado na entrada da floresta, um sorriso vitorioso em seus lábios. — O inferno está solto, vida longa aos demônios.

Ele abriu os braços e as árvores atrás dele se mexeram. Mas não parecia ser as árvores em si. Por entre as sombras, surgiu a figura maciça de um enorme cão negro com traços luminosos pela pele semelhantes a lava que percorriam sua estatura. Parecia ter quase três metros, e uma aparência demoníaca.

— Inugami. — Deaton sussurrou sendo apoiado por Corey, sua perna esquerda com um grande corte na parte de trás.

— Vejo que conhece a lenda. — Jason sorriu, um sorriso completamente maluco. — E eu sou o seu mestre.

— Se conhecesse a lenda, não teria o invocado. — Deaton falou simples, mas seu rosto demonstrava preocupação.

— Me poupe de sua "sabedoria", druida. — Jason debochou e olhou para onde Abbadon estava preso. — Soltem ele.

— Por que faríamos isso? — Kira perguntou. Não conhecia aquele homem, mas conhecia a lenda do Inugami. Se aquele rapaz foi capaz de completar o ritual, não precisava de muito para saber que ele era o motivo das Skinwalkers terem a enviado.

— Soltem ele ou sofram as consequências! — Jason gritou mas ninguém se mexeu. Fazendo-o assentir e se dirigir ao Inugami. — Ataque. Ataque todos eles.



Alguns minutos antes..



Liam levantou a cabeça ao ouvir movimentação perto da gaiola e olhou para Scott, que levantava para conseguir olhar ao redor.

Ao longe, o alfa viu surgir por entre os demônios protegendo a gaiola, uma parede de fogo. Uma parede não, uma pessoa. Parrish passava pelos demônios sem nenhuma dificuldade, seu corpo em chamas servindo como uma espécie de escudo autoritário.


— Como... — Mike perguntou se levantando surpreso.


— Cão do inferno. — Liam sorriu se levantando com Alec, o garoto tão surpreso quanto os outros três.

Parrish se aproximou e tocou as barras da grade, sugando o calor delas e entortando-as o suficiente para uma pessoa atravessar sem problemas.

— Como nos achou? — Scott perguntou saindo da gaiola rapidamente, os outros não se demorando também.

— Escutei o grito de Lydia. — O policial respondeu como se fosse simples. — Precisamos ir, eles estão na escola.

— Como sabe? — Liam perguntou e o cão do inferno o lançou um olhar autoexplicativo. — Lydia.

— Escutei ela gritar novamente a poucos minutos. — Parrish explicou saindo caminhando rapidamente. Alguns demônios surgiram a sua frente, mas ele apenas passou por eles, os demônios sumindo como se fossem feitos de vento.

Eles se entreolharam antes de saírem correndo atrás do hellhound, que abria caminho pela floresta.


Atualmente..



O Inugami mostrou suas longas presas e se preparou para atacar fazendo todos se colocarem em posição de defesa. O rosnado do animal imenso, reverberando de maneira gutural.


— Qual devo mandar ele atacar primeiro? — Jason sorriu maníaco. — Quimeras, lobisomens... — Ele pensou passando os olhos pelo pack. — Kitsune. — Ele lançou um sorrisinho ardiloso ao parar o olhar em Kira.


— Não tenho medo de você. — Kira falou firme, girando a katana entre os dedos. Sua pose confiante não sendo abalada.

— Ah, mas deveria. — Jason riu antes de apontar na direção da kitsune.


O Inugami rosnou se colocando em posição de ataque, se curvando e cravando as patas na terra pronto para pular. Porém, um rugido atrás de todos os assustou. O Inugami se estagnou no lugar no mesmo instante, encarando algo atrás dele. Todos se viraram fitando Parrish. Os olhos brilhantes dele junto a outros que se destacavam atrás do hellhound, fixos no Inugami. Logo distinguiram se tratar de Liam, Scott, Alec e Mike.


— Ataque! — Jason gritou mas o Inugami nem se mexeu enquanto Parrish passava por todos, seus olhos presos nos do Inugami que mal piscava. — Qual o seu problema?! Ataque eles!

Mas o Inugami não o obedecia mais. O enorme cão se afastou levemente de Jason e começou a rosnar na direção dele, fazendo o moreno dar alguns passos para trás, sua confiança vacilando.

— Eu sou o seu mestre! — Jason gritou indignado. — É a mim que você obedece!

— Não, ele se aliou a própria espécie. — Deaton falou tentando disfarçar a sombra de um sorriso. Jason se virou.

David e Nathan apareceram correndo por entre a mata, deslizando na grama sintética do campo. Seus rostos demonstrando emoções parecidas: raiva.

— Finalmente apareceram. — Jason falou irritado revirando os olhos. — Façam alguma coisa, idiotas.


Mas os dois não se mexeram. Eles se afastaram levemente se entreolhando. Jason os encarou confuso.

— O que estão esperando? — Jason gritou. — Façam algo!

— Pensou que por quanto tempo iria esconder seu segredinho, hein seu filho da puta? — Nathan disse entredentes. Numa seriedade que surpreendeu a todos, mas especialmente Jason que engoliu em seco já imaginando do que se tratava. — Matou  nosso pai sozinho no passado. Agora que arque com as consequências. — Sentenciou sem hesitar, cruzando os braços. David adotou a mesma postura, concordando com o irmão.

O Inugami rosnou na direção de Jason que se virou assustado. O enorme cão levantou a pata e a abaixou contra Jason, deixando um belo arranhão em seu peito que jorrou sangue em abundância. O lobisomem gritou dolorosamente com a queimação do corte, sentindo seu corpo ficar fraco de repente. Seus olhos brilhando num vermelho opaco pela primeira vez.

— Alec, não! — Liam gritou de súbito. Tentando segurar o garoto que se debatia em seus braços, mas ele saiu correndo em disparada na direção de Jason. Seus olhos demonstrando uma raiva imensamente insana no momento.

Jason cambaleou defendendo o primeiro golpe de Alec, retribuindo o ataque de modo improvisado. O adolescente atacava ferozmente o mais velho, que tinha uma grande dificuldade em se defender. Era a chance que o menor precisava, e esperou por tempo demais.

Alec ergueu as garras. E arranhou profundamente o braço de Jason que rosnou com a dor, tentando chutar as pernas do cacheado, que pulou antes de socar a cara do moreno. Fazendo-o cair fraco no chão desnorteado. Os golpes do Torres eram ágeis e precisos, mal parecia ele mesmo ali. Os demais assistiam abismados.

Alec cravou as garras no abdômen de Jason, fazendo-o arregalar os olhos tentando empurrar o garoto, que afundou ainda mais as garras. Mantendo as orbes lupinas fixas no inimigo que agonizava. De repente, Jason parou de se debater.

Alec possuía a respiração ofegante, os sentidos atordoados. Uma verdadeira bagunça. Levantou a cabeça ainda tentando recobrar o discernimento. Todos viram o exato momento que seus olhos mudaram do clássico dourado brilhante, para o azul gélido.

— Alec... — Scott balbuciou em um tom baixo. Sua boca aberta evidenciando seu choque. Mike pousou a mão sobre o ombro do McCall, num pedido mudo para que fosse empático.

Alec piscou algumas vezes fazendo seus olhos voltarem a apagar. Olhou para as próprias mãos e deu um sobressalto soltando um suspiro trêmulo esfregando-as, sujando elas mais ainda de sangue. O menor apertou os lábios meio que paralisando.

Agora com a adrenalina e raiva baixas. O peso do que aconteceu descia numa tonelada absurda sobre o garoto e ele sentia os olhares do pack sobre si.

— Alec. — Theo chamou se aproximando. E o mais novo o direcionou um olhar misto em preocupação e medo. O chimera abraçou o filho com força. — Tá tudo bem. — Sussurrou rente aos cabelos do adolescente.

Ninguém ousou falar mais nada. Todos muito chocados com a cena que haviam presenciado. Derek sustentava uma feição preocupada para com o garoto. Recordando-se de tempos sombrios. Ele não era muito mais velho quando seus olhos também ficaram azuis.

— Alec.. — Scott proferiu cuidadoso o nome do beta, que virou rápido a cabeça lançando um olhar apreensivo ao alpha. Encolhendo-se nos braços de Theo que esfregou suas costas. Os olhos levemente arregalados. — Fica tranquilo. — O moreno assegurou devagar. Alec não disfarçou a surpresa em sua face. — Ninguém vai julgar você aqui.


Alec assentiu minimamente escondendo o rosto no peitoral de Theo. Liam caminhou até eles e passou a mão pelos cabelos de Alec, que o olhou com o canto do olho. Dunbar sorriu levemente para o menor, mostrando que estava tudo bem.

— Será que.. agora acabou? — Malia disse com cansaço nítido carregado em sua voz. Enquanto se apoiava no ombro de Derek que a sustentava pela cintura. Seu corpo inteiro doía, como se suas forças tivessem sido sugadas. Malditos demônios.

— Na verdade.. — Corey disse de repente, mas nem precisou se dar o trabalho de terminar. A cena autoexplicativa ocorrendo ao longe. Deaton seguiu o olhar dele assim como o resto do pessoal.

Todos assistindo com certo receio o momento em que Inugami e Parrish alinharam seus poderes. A tensão se instalou no local rapidamente, tão depressa quanto uma luz que começou a se materializar aos poucos no meio do campo. Começou como um filete dourado de luz, e então foi aumentando gradativamente.

Enquanto isso Parrish encontrava-se diante ao Inugami, que possuía a cabeça curvada. A mão do hellhound pousada na testa do cão. Ambos de olhos fechados. A pose do animal era quase como uma reverência mas ninguém ali era líder. E sim um ato sobre respeito mútuo.

Logo aquela luz solitária, assumiu uma forma esférica. Seu brilho sendo tão forte que dificultava os outros de distinguirem o que ocorria dentro dela e o que poderia acarretar depois. No entanto, as respostas para suas dúvidas surgiram num instante.


Theo ao longe afastou alguns passos devido ao susto, puxando consigo Liam que o abraçou pela cintura ao mesmo tempo em que não desviara o foco do portal. Alec bem preso nos braços dos dois, partilhava da mesma reação. Os olhos castanhos esverdeados meio arregalados. Todos estavam pasmos.

Duas criaturas altas e esguias saíram de dentro da luz após longos segundos. O portal ajustando-se ao tamanho deles. Possuíam a cabeça de um chacal e corpo de homem. Suas poucas vestes na área da cintura e pernas com detalhes em ouro. Mal conseguiam acreditar no que estavam presenciando.

— Dois Anúbis.. — Kira murmurou estupefata, acompanhando com o olhar o caminhar lento dos dois Deuses egípcios. Ela apertou o cabo de sua katana com força. Scott se moveu sorrateiramente para perto da japonesa, segurando-a pelo pulso. Com medo dela fazer besteira. Ato o qual a Yukimura não tardou em romper. — Eu tô bem. Não sou tão louca assim. — Disse num tom baixo. Scott apertou os lábios assentindo sem graça, voltando a posição anterior.

Esta alma não tem mais solução. — Um dos Anúbis proferiu calmo. Embora não tenha reduzido o tremendo susto que deu nos outros. Seu tom era forte, intimidante. E parecia subir algumas oitavas a cada palavra. Sem contar no inglês perfeito. — Está condenada aos confins mais punitivos do submundo. — Declarou sem mais nem menos. Theo, Liam e Mike estremeceram ao longe.

O Anúbis estava ajoelhado e com uma das mãos sobre a cabeça do corpo de Jason. E com o passar dos minutos fora visível enxergar a alma do ex-alfa, transitando pelos braços do Deus antigo, que a guardaria com todo cuidado para que não fugisse. Era tão escura. Realmente não restava mais humanidade ali.


— E.. onde seria? — Mike mal conseguiu conter as palavras saindo de seus lábios. Arregalando os olhos verdes assim como os outros membros da alcatéia que direcionaram o olhar a ele.


Todos prenderam a respiração no momento em que o segundo Anúbis começou a caminhar na direção de Michael, deixando o outro cuidar da carcaça de Jason. A criatura mantinha um ritmo calmo, elegante. Era nitidamente da realeza. O latino respirou fundo tentando não correr dali.

— Não.. Mike! — Alec disse um tanto alto na beira de seu desespero. Quase se afastando do aperto de Theo, porém o chimera não permitiu. O menor esticou de maneira desajeitada seu braço esquerdo, na direção de seu mate. Que o lançou um olhar carinhoso, afim de assegurar estar tudo bem. Torres negou com a cabeça. — Não, por favor.. — O adolescente choramingou. Theo mordeu o lábio inferior se sentindo mal pelo filhote, mas não soltando-o. No entanto, Liam tomou a atitude de se colocar ao lado de Mike.

O Anúbis apenas parou em frente a eles. Encarando o rosto de Michael que mal piscava. Suas orbes fixas no Deus do submundo, que possuía quase dois metros. A criatura proferiu tal resposta de um modo pacífico, mas não deixou de soar perturbador.

Na própria mente dele. — O Anúbis informou de um jeito metódico. Não desviando os olhos animalescos do rosto de Michael, que engoliu em seco sentindo a mão de seu sogro segurando seu pulso. — Seu coração está leve, estabelecendo um equilíbrio entre a pena. Ótimo, você não tem lugar lá. — Sentenciou de maneira fria. Mike estremeceu levemente, assistindo o ser se afastar.

Ele quebrou todas as regras que se possa imaginar. — O outro Anúbis se pronunciou num tom alto e repreendedor. Após se levantar encarou a alcatéia. O corpo de Jason não residindo mais ali, como se tivesse literalmente evaporado. — Não somos grotescos e sanguinários como imaginam. Ele mexeu com forças as quais nem nós tínhamos permissão para tocar. Agora, tudo voltará aos devidos eixos. — Seus olhos passaram examinando cada rosto ali. Quase como se soubesse os segredos mais profundos.

A atenção do Anúbis parou em Nathan e David. Ambos já cientes do que se tratava. O bruxo assentiu trocando um olhar rápido com o irmão ruivo, logo caminhando na direção do Deus do submundo. Trazendo consigo em mãos uma espécie de livro. Ah, aquele livro. Mike pensou enquanto observava a cena.


Nescimus ubi deiecto praesidio hoc libro. — Nathan proferia num tom baixo, quase sendo dificultoso de ouvir. O Anúbis apenas assentia, mas não hesitou em tomar logo o livro das mãos do bruxo. — Sed peto pro omnibus in nomine delictum scelus scelere numinibus inferis diximus. — O rapaz negro fez uma breve reverência após finalizar. O outro Anúbis apenas observava. Era nítido que já tinha intenções prontas para aqueles dois.


— Nessas horas que eu gostaria de ter prestado atenção em latim na escola. — Scott resmungou negando com a cabeça. Sua testa franzida em frustração. Chris ao longe riu baixo, apoiando-se mais em Peter que o segurava pela cintura.

— Ele disse no início, que não faz ideia de como o alfa deles conseguiu o livro. — O Argent explicou brevemente, limpando um pouco do sangue ainda fresco da ferida já cicatrizada que habitava no canto sua boca. — E pediu perdão pelas atrocidades que cometeram em nome do submundo. — Completou casualmente. Dando de ombros. — Depois dessa. Vamos tirar férias permanentes. — O ex-caçador direcionou o olhar meio irritado a Peter, que riu baixo concordando.


Veniam consequitur, et sic non est pondus, solve fasciculos cordibus suis. — O Anúbis murmurou de repente, na língua do bruxo. Olhando entre David e Nathan, que assentiu conformado. — Et venerunt nobiscum, non habent arbitrium. — Disse sério, olhando fundo nos olhos de cada um. David até tentou protestar, mas o Deus do submundo foi mais rápido. — Sufficit!! — Ele gritou. Fazendo todos se encolherem em reflexo, assim como o ruivo que apenas assentiu. Abaixando a cabeça.


— Eles irão com eles.. — Theo disse num fio de voz, ainda mais abismado se possível. Intensificando os carinhos no cabelo de Alec, que a essa altura mal tinha reação para tudo isso. Liam arqueou uma das sobrancelhas curioso, olhando para o namorado.


— Desde quando entende latim? — Liam soltou a pergunta enquanto se aproximava, trazendo Mike consigo. O chimera riu baixo, olhando vagamente para Alec antes de voltar a atenção ao companheiro.

— Muito tempo livre? — Theo deu de ombros meio incerto. Liam estreitou os olhos na direção dele.

— Essa desculpa é do Derek. Conta outra. — Disse debochando. Passando um dos braços pela cintura do Raeken que o lançou um sorriso ladino. — Bom, espero que seja viagem só de ida pra aqueles dois. — Liam confessou após um suspiro. Analisando os garotos que acompanhavam os Anúbis rumo ao portal. A essa altura Inugami já havia passado pela fenda e sumido a tempos. Parrish encontrava-se em alerta num canto próximo a Lydia.

— Espero que sim.. — Mike concordou com pesar na voz. Respirando fundo evidenciando sua exaustão. Embora a falta de brilho em seus olhos verdes fosse algo desanimador.

Alec afastou um pouco o rosto do peitoral de Theo para encarar seu mate. Esticando novamente o braço na direção do William que não tardou a perceber o ato. O chimera disfarçou da melhor maneira o aborrecimento de ter que soltar o filho. Liam riu baixo observando. Era um avanço.

— Nunca mais abra a boca perto de um Anúbis. Entendeu, idiota? — Alec ralhou com o latino, que arregalou de leve os olhos ao receber um soco levemente forte em seu braço. O menor em seguida abraçou o mais alto com força, que riu de maneira silenciosa retribuindo.

— Carinhoso que nem você. — Theo comentou não perdendo a oportunidade. Liam o lançou um olhar indignado, deixando um breve tapa nas costas do namorado que riu. — Não disse?.. — Riu anasalado passando o braço direito pelos ombros do beta, que revirou os olhos.

— Shh, fica calado. — Liam brandou de forma baixa. Um sorrisinho fofo dançando em seus lábios.

O portal deve ser fechado por alguém desse lado. — Um dos Anúbis falou, chamando a atenção de todos para ele. O outro Anúbis já havia passado pelo portal com David e Nathan a sua frente. — Um sacrifício deve ser feito para reparar os erros causados por Jason Gandillon. — O Anúbis tinha o olhar preso em Alec, fazendo Mike se desesperar ao entender o que aquilo significava.

— Não. — Mike falou alto olhando para Alec. Enquanto o Anúbis sumia pelo portal sem olhar para trás. O beta o encarou confuso.

— Por que tá todo mundo olhando pra mim? — O garoto perguntou, analisando em volta com a testa franzida antes de parar o foco em Liam, que tinha a cabeça baixa. — Eu sou o sacrifício. — Alec sussurrou entendendo. O pavor nítido em sua feição.

— Filho... — Liam tentou mas ele o interrompeu.

— Vocês sabiam! — Ele acusou olhando entre os pais e o mate. — Porque não me contaram?

— Porque eu sabia que você não hesitaria! — Liam afirmou num tom duro. Expondo o desespero que se formava em seu peito. — E nós vamos achar outra forma, tem que ter outra forma. — Dizia tentando ignorar o nó que foi se instalando em sua garganta.

— O Anúbis acabou de dizer que esse é o único jeito. — Alec falou. Sua expressão suavizando. Liam negou com a cabeça, e Theo lançou ao menor um olhar repreendedor. — Eu tenho que fazer isso.

— Não. — Mike falou firme fazendo Alec se virar em sua direção. — Eu vou. — Ditou determinado.

— Você tá louco?! — Alec perguntou arregalando os olhos.

— Você tem pessoas demais que sentiriam sua falta, eu não. — Mike ressaltou simplista. Camuflando até bem demais o quanto declarar isso o afetava. — Eu vou. — Disse decidido.

— E eu  faço o quê sem você? — Alec perguntou exasperado. Dando alguns passos na direção do mais alto.

— Alec, eu prefiro mil vezes que seja eu do que você. — Mike confessou com pesar. O jovem negou freneticamente. Teimando. — Você não entende, Alec.

— Então, me explica Michael! — Alec esbravejou com os olhos lacrimejando. Sua respiração tornando-se densa. — Me explica, como isso é melhor?!

— Porque eu me importo com você e não posso te ver morrer. — Mike admitiu no mesmo tom. Seus olhos verdes carregados de agonia, encarando profundamente os castanhos do outro. — Porque eu sou egoísta o bastante pra não suportar viver sem você. Porque...

Alec avançou segurando a gola da camisa do latino, ficando na ponta dos pés e o puxando para baixo juntando seus lábios num beijo duro, calando-o. Mike arregalou os olhos em resposta, antes de começar a relaxar e ir fechando-os. Passou os braços envolta do tronco do menor, unindo mais seus corpos.

— Eu não posso te perder.. — Alec sussurrou choroso ao separar seus lábios, mantendo suas testas encostadas. — Não posso te deixar ir quando acabei de te encontrar. Você.. é uma parte de mim.. — Acariciou a bochecha do cacheado. Que ofegou perplexo.

— Nem eu posso perder você, baixinho. — Mike sussurrou de volta. Apertando de leve a blusa na área da cintura do menor.

— Mike. — Todos se viraram vendo Ryan parado na entrada da floresta perto do portal. E o William arregalou os olhos surpreso.

— Rye, você tá vivo.. — Mike sorriu para o mais velho. Afastando-se levemente de Alec. — Como chegou aqui?

— Nenhum dos dois vai morrer. — Ryan falou ignorando a pergunta. Dando alguns passos a frente, mancando. Mike franziu a testa trocando um rápido olhar com Alec que o encarava curioso.

— Como assim? — Mike perguntou devagar. Movendo seus pés na direção do mais velho.

— Você merece ser feliz, Mike. — Ryan murmurou sincero, deixando o irmão cada vez mais perdido. — Você está livre, e tem a chance de fazer parte de uma família. De criar sua própria família.

— Ryan, o que quer dizer com isso? — Mike perguntou sentindo os indícios da tensão preencherem seus ombros. A medida que pensamentos intrusivos chegavam a sua mente.

— Durante todo esse tempo que nos conhecemos, você foi o melhor irmão que nunca tive. — Ryan sorriu fraco. A maneira cansada como se esforçava para ficar de pé. — Por isso não posso deixar você perder a chance de ser feliz.

Mike olhou confuso para Alec e algo pareceu estalar em sua mente, fazendo-o encarar o irmão de olhos arregalados. O desespero em sua feição.

— Não. — Mike negou num tom alto. Ryan sorriu triste.

— Sinto muito, Mike. — Ryan falou e puxou uma adaga no bolso traseiro da calça, fincando-a com tudo em seu peito.

— NÃO! — Mike gritou correndo na direção do mais velho, segurando o corpo dele antes que atingisse o chão. — Não, não. — Murmurou em choque, ajoelhando-se no chão e apoiando a cabeça de Ryan em seu colo. — Por que fez isso? — Disse num tom trêmulo.

— Porque você merece felicidade em sua vida. — Ryan sussurrou engasgando-se levemente com o próprio sangue. — Não se culpe, por favor. — Ryan falou olhando nos olhos do latino, que essa altura lacrimejavam. — Seja feliz, Mike.

— Rye, não.. — Mike chamou chorando quando o mais velho focou seu olhar no céu, e suas íris foram perdendo o foco. — Ryan! — Mike o chamou novamente, mas o latino não conseguia mais ouvir o coração do garoto que um dia considerou um irmão.

Todos viram o portal começar a se fechar aos poucos, assim como o cenário macabro e fantasmagórico que foi deixando a cidade. Mike se curvou sobre o corpo imóvel de Ryan, chorando intensamente. Alec piscou ainda atordoado, porém caminhou sem hesitar até o mate. Se ajoelhando ao lado dele.

O menor focou a atenção brevemente no rosto vazio do rapaz, sentindo o peito se apertar. Logo passou de um modo cuidadoso a palma sobre rosto de Ryan, fechando os olhos do lobisomem. Apoiou suavemente a mão no ombro de Michael, tentando mostrar que estava ali para ele sem ser muito invasivo. A reação seguinte do William atingiu o menor como um soco. Principalmente ao ver o rosto choroso do latino.

Mike se lembra bem. De todas as vezes em seus anos de vida conturbados. Nunca gostou de mostrar sua verdadeira face, ou demonstrar fraqueza. Expor o quanto era sensível ou em raros episódios o mesmo garoto divertido e bobo antes de seus pais serem mortos. Antes de se ver como um ômega vagando por aí. Sem nada e nem ninguém.

Pela primeira vez ele se sentiu a vontade em deixar claro precisar de ajuda. Precisar de conforto. E no que dependesse de Alec, ele sempre teria todo o amparo e compreensão do mundo.

O maior se jogou nos braços do Torres, como se sua vida dependesse de tal ato. E de fato, Alec no momento era sua única razão pela qual queria viver apesar de tanta dor. Ele escondeu o rosto na curvatura quente do pescoço do adolescente, abafando o choro compulsivo que parecia não querer cessar.

Alec não hesitou em segurar o mate firme contra seu corpo, quase como se pudesse esconder o garoto em seus braços. Enterrou o nariz nos fios levemente enrolados do latino, esfregando as costas do mesmo. Seu olhar perdido vidrado na grama, a mente nublada de tantas emoções. Neste instante, nada mais importava para eles.

Liam observava o casal próximo ao corpo, mas optando por não interferir o momento delicado para ambos. Havia uma grande pontada de angústia em seu peito. No entanto, ao mesmo tempo aquela sensação de alívio querendo sobressair.

Com certeza seria grato a Ryan pelo resto da vida por poupar seu filho, mas ao mesmo tempo sentia muito pelas coisas terem tomado tal rumo tão doloroso. Theo não deixou de notar o vago conflito interno do namorado, logo abraçando mais o beta contra seu peitoral. Liam se aconchegou sem hesitar.

— Gente.. — A voz de Lydia chamou a atenção de alguns no mesmo instante. Que viraram a cabeça na direção da ruiva. — Estão ouvindo isso? — Questionou com a testa franzida. O resto dos sobrenaturais no recinto aguçaram sua audição rapidamente.

— Carros.. — Malia murmurou intrigada. Afastando-se de Derek e averiguando mais. Ela logo entendeu. — Trânsito! As pessoas.. — Mal precisou terminar seu raciocínio.

— Ai minha cabeça.. — Ouviram um praguejar perto das árvores. E então, não demoraram a ver Derek correndo na direção do indivíduo. Todos piscaram atônitos assistindo a cena. Uns aqui e ali prendendo o riso.

— Nossa, nunca vi o Derek se mover tão rápido. — Peter comentou risonho. Assistindo junto aos outros o sobrinho ocupado demais em distribuir beijos molhados pelo rosto de Stiles que ria ainda meio desnorteado tentando entender a situação. O Hale nem se importava de estar sendo caloroso demais na frente do bando, apenas seu humano era o foco.

E não tardou para que o mesmo ocorresse com Corey. Logo após Deaton garantir ter capacidade de se sustentar em pé sozinho, embora Kira tenha se aproximado do druida para ajudar.

O camaleão abraçou com força o Hewitt, que expressou todo seu alívio só naquele contato íntimo. E Scott não estava muito atrás.

— Me diz, me diz que não machucaram você? Pra onde foram? — O alpha questionava desesperado, procurando qualquer ferimento que fosse no rosto do Holloway. Devido aos instintos agitados, possuía o loiro bem preso em seu colo, este que tentava organizar seu raciocínio ainda. — Eu tive tanto medo.. — Scott encostou suas testas após respirar fundo. Nolan fechou os olhos aproveitando o aconchego.

— Me deixa voltar totalmente aí contamos tudo, pode ser? — Nolan sugeriu em seu tom cansado, esboçando um sorriso fraco e gentil. Segurou cada lado do rosto do alpha, que assentiu minimamente se inclinando mais para o toque do caçador. — Se saiu bem sem mim? — Questionou de maneira risonha. Seu jeito falsamente modesto que sempre divertia o McCall.

— Na verdade, estávamos perdidos. Eu principalmente.. — Confessou baixinho na última parte, intercalando o olhar entre os olhos e boca do Holloway. Firmando mais as mãos nas coxas do humano, que sorriu bobo.

— Você no fim sempre consegue a orientação certa pra vencer. — Nolan ressaltou com sua clássica confiança. Enquanto movia lentamente o polegar contra a bochecha do moreno.

Scott não aguentou mais aquela distância, avançando seu rosto e capturando os lábios do menor sem pensar muito. O beijo era intenso e envolvente, ainda que fosse somente um encostar de início.

Ao longe Kira franziu a testa com tamanho choque. A boca entreaberta vagamente enquanto assistia o casal ao longe trocando carícias. Mal conseguiu assimilar toda aquela batalha, agora teria que dá de cara com o lance sobre sua adolescência ter sido uma parte importante, porém perdida devido ao espírito da raposa. Toda aquela circunstância com as Skinwalkers.

Todavia, ela suspirou fundo, examinando o resto do pessoal espalhado pelo campo. Sentindo que havia cumprido seu dever. Ao menos um dos propósitos.

Estava feliz sim por Scott. E apesar de ainda ter mexido um pouco consigo aquela cena, junto a volta brusca até Beacon. Era a vida dele. E eventualmente outro alguém surgiria para ser o motivo do sorriso do moreno uma hora ou outra. A japonesa sorriu mínimo com o pensamento. Sentindo uma breve paz interior apesar de tudo.

— Pessoal, vamos. Antes que alguém nos veja assim. — Deaton disse calmamente após alguns minutos que se permitiu observar toda aquela emoção dos reencontros. O céu encontrava-se nublado, porém na aparência natural e convidativa de sempre. Alguns pássaros cantavam e uma ventania boa passava pelo campo as vezes. — Não tô muito afim de ter que me explicar pra polícia ou encarar o Sheriff Stilinski. Sem ofensa, Stiles. — O druida se adiantou em garantir. Ofegando baixo ao sentir sua perna latejar. Kira o segurou mais firme.

— Não ofendeu. Eu com certeza não vou escapar dele hoje. — O garoto falou erguendo as sobrancelhas de leve em sua típica feição conformada mas com um ar zombeteiro. Logo rindo fraco assim que Derek lhe roubou um selinho longo. Ele acariciou com carinho os cabelos do namorado, correndo os dedos pelos fios escuros. — Também senti sua falta. — Sussurrou apoiando por breves segundos a testa contra a do lobo.

— Ele tem razão, mas o que fazemos com o.. — Malia iria terminar sua pergunta. Quando notou que apontava para nada em específico no chão dessa vez. O corpo de Ryan antes caído no gramado, agora não residindo mais ali a tempos. — Caramba.. — Murmurou impressionada. O dedo indicador ainda estendido no ar. Peter ao longe negou com a cabeça rindo baixo achando graça. Enquanto se aproximava junto a Chris. Ela direcionou a atenção para eles em seguida. — Aliás, seus palhaços. Vão me contar direitinho essa história aí. — Enfatizou os dois através do olhar. O Hale deu de ombros.

— Claro que sim. — Concordou com a cabeça numa nítida resposta irônica. Entrelaçando seus dedos com os do Argent sem hesitar. Ignorando os olhares de certeiros. Sentia-se uma celebridade, e claramente se divertia com isso.

Alguns do bando foram se reunindo aos poucos para sair daquele campo sem serem vistos. Claro que antes se certificando se realmente estava tudo bem seguir mais a frente, devido a toda situação delicada com Alec e Mike, que até então não haviam se movido.

Theo garantiu apenas com um aceno breve de cabeça. Observando Scott retribuir o gesto com um sorriso triste para então virar de costas e ir caminhando com os outros. O chimera suspirou fundo voltando-se aos garotos, observando Liam que se aproximava em passos calmos.

O beta se ajoelhou logo atrás de Alec, que virou levemente a cabeça para encará-lo. Os olhos do menor marejados, mas era visível o quanto estava disposto a aguentar por Mike, que não o soltou desde então. Liam acariciou os cabelos do filho, deixando um beijo na testa do mesmo.

— Venham. Vamos pra casa. — Disse gentil. Lançando um olhar compadecido a Mike que havia erguido um pouco a cabeça. Expondo os olhos verdes meio avermelhados por conta do choro recente.

*

O falatório durante o trajeto até a casa de Scott durou somente algumas horas enquanto atravessavam a mata. Até que por fim chegaram às ruas. Logo as breves despedidas iniciaram. Todos cansados demais para por o papo em dia, teriam tempo de sobra de qualquer forma.

E com esse pensamento, cada um seguiu seu destino. Uns se dirigindo sem pestanejar às respectivas residências, ou no caso de Peter, Chris e Lydia; hospedagens. Precisavam de um descanso bem merecido depois de todo esse caos. E graças a diferença gritante na linha do tempo, ninguém precisaria se explicar de modo exclusivo ao departamento da polícia. Pelo menos, não todos.

— Tá, pai. Eu entendi. — Stiles murmurava ao celular, este sendo emprestado de Derek já que o dele havia literalmente explodido e até agora o humano não tinha ideia de como exatamente. — Okay, estamos indo. — O garoto suspirou fundo após desligar o aparelho e entregá-lo ao namorado. Esfregou os olhos de maneira cansada, apoiando-se no Hale que o acolheu passando o braço por sua cintura. — Beleza, ele vai me enterrar vivo. — Concluiu. Ainda mais levando em conta o que tinha para esclarecer.

— Então é melhor correr. — Liam sugeriu tentando conter um sorriso brincalhão. O Stilinski lançou a ele um revirar de olhos modesto, aproximando-se vagamente do beta assim que Derek se desvencilhou dele para destravar o camaro estacionado próximo a ali. — Sério, vou ficar bem. — Deu de ombros garantindo. Vendo o humano concordar em um aceno.

— Qualquer coisa.. — Estava prestes a dizer a frase clichê. Até se lembrar que no momento ficaria incomunicável. Ele bufou, dando um leve aperto no ombro de Liam, que riu anasalado negando com a cabeça. — Liga pro Scott. — Disse por fim antes de virar nos calcanhares. Teria que chegar o mais rápido possível no loft antes que Noah surtasse mais ainda.

— Tchau.. — Liam murmurou baixo, meio que perdido em pensamentos a essa altura. Seu sorriso desmanchando sem sequer notar. Acompanhou por alguns segundos a movimentação do carro do Hale, mas sem prestar atenção de fato. Até uma espécie de estalo em sua mente trazê-lo de volta. Ou melhor, uma voz.

Vai continuar parado aí na frente ou vou ter que buscar você? — Theo soou divertido, mas cuidadoso. Encontrava-se apoiado na janela do lado interno da casa, observando casualmente o mais novo pelo vidro. Apesar da preocupação palpável no rosto do chimera, sempre optava por não ser tão invasivo. Porém, não deixaria de jeito nenhum o namorado ir a beira da ansiedade sozinho.

Liam somente lançou um olhar agradecido ao Raeken, um sorriso ladino mais leve retornando em seu rosto. O beta não demorou a caminhar até a entrada do local, logo abraçando Theo pelo pescoço assim que entrou.

O chimera retribuiu na mesma intensidade, fechando a porta atrás do namorado mas permanecendo com o braço esquerdo enlaçado a cintura dele. Liam inspirou fundo o cheiro do mais velho, acalmando-se aos poucos.

— Parece que a minha cabeça vai explodir. A sua, não? — Confessou num tom rouco e baixo próximo ao ouvido do outro. Timbre este que enfatizava bem o quanto estava exausto.

Theo apenas o abraçou completamente pelo tronco por alguns segundos. Antes de sem aviso prévio, suspender o mais novo segurando-o em seus braços. Liam assume ter tido um breve susto, mas admite que aquilo era o que mais precisava no momento. Do colo de seu mate.

— Eu tava pior quando pensei que você ou Alec estivessem feridos. Ou até... — Theo nem conseguiu terminar. Dunbar assentiu minimamente compreendendo após admirar os olhos verdes enquanto executava um carinho lento pela bochecha do chimera usando o polegar.

Mal notou quando o mais velho se acomodou no sofá com ele sobre as coxas. Liam só se dando conta assim que o Raeken passou a deslizar as mãos devagar por seu quadril, subindo os toques vagamente. Quase como uma massagem. O beta suspirou.

— Acho que nunca vamos conseguir controlar o que entra e sai dessa cidade, não é? — Liam disse cabisbaixo, focando as orbes azuis no pescoço do namorado por um momento. Passando os dedos por ali afim de retirar resquícios de sangue seco.

Theo segurou o pulso dele gentilmente, fazendo-o parar. Liam direcionou os olhos para o rosto do mais velho de novo. Que guiou sua mão de encontro aos cabelos dele. Dunbar esboçou um sorriso quase imperceptível, brincando com os fios bagunçados.

— Infelizmente.. mas pelo visto sempre teremos ajuda. O que não deixa de ser alguma coisa também. — Deu um meio encolher de ombros. Suas mãos trabalhando em carícias contínuas na cintura do beta. Tentou do melhor jeito ser um tanto otimista. E Liam notou isso só por saber que normalmente, esse não era o forte do mais velho.

O beta esboçou um sorriso fechado em adoração. Inclinando-se e depositando alguns selares demorados pelos lábios do chimera. Raeken fechou os olhos em reflexo, apertando de leve a lateral do quadril do mais novo.

— Só espero que nada desse nível ocorra de novo. — Liam falou num murmúrio durante os beijos. Sorrindo sem graça para o jeito distraído e bobo do mais velho consigo. — Não quero ver o segundo amor da minha vida machucado outra vez. — Completou casualmente, indo roubar mais um selinho do outro. Quando Theo o parou de abrupto.

— Espera, como é? — O Raeken questionou devagar, como se não tivesse ouvido bem. Logo estreitando os olhos verdes na direção de Liam, que o lançou uma feição confusa por alguns instantes. — Quando virei seu segundo amor, Liam? — Não era teatro ou um falso tom dramático. Theo parecia realmente ofendido. Só o Dunbar sabe o esforço que fez para não gargalhar na cara do mais velho.

— Esqueceu do nosso filho, Theodore? — Usou um tom sério e retórico. Ainda que tenha vacilado depois uns risos fracos sem conseguir conter. Theo entreabriu os lábios pronto para rebater, até se acanhar por perceber o que o outro quis dizer. Havia feito uma cena para nada. — Deve ter batido a cabeça com força mesmo. O lerdo é o Scott, não esquece. — Ressaltou meio risonho passando os dedos em brincadeira no rosto do chimera. Theo revirou os olhos.

— Demônios quase nos mataram, descobri que você também se transforma em lobo e agora temos um filho. Minha lerdeza é justificável. — Argumentou convicto, assumindo seu clássico olhar cínico.

Liam negou com a cabeça se divertindo. Mudando meramente de posição no colo do mais velho, sentando de lado e não hesitando em aconchegar a cabeça no ombro do namorado. Theo o abraçou protetoramente. Apoiando a bochecha contra os cabelos do beta que agarrou de leve um punhado de sua blusa.

— Acha que eles vão ficar bem?.. — Liam murmurou após alguns instantes somente ouvindo a respiração do mais velho. Theo mordeu o lábio inferior um tanto incerto, esfregando a coxa esquerda do namorado.

— Só o tempo pode dizer. Mas espero que sim... principalmente o Mike. — Disse num fio de voz a última parte. O que obviamente não impediu Liam de captar, este que ergueu um pouco a cabeça para encarar o Raeken. O beta tinha um olhar sapeca para ele. — Esquece, não vou repetir. — Emitiu um rosnado automático em meio a afirmação. Liam gargalhou baixo, deixando um cheiro longo no pescoço do chimera emburrado que se arrepiou permitindo um vago sorriso tímido transparecer. — Sou um palhaço pra você, né?

— Agora que descobriu? — Liam arqueou uma das sobrancelhas. Theo mostrou-lhe a língua e voltou a abraçá-lo. Cansado de discutir. — Bem maduro. — Murmurou aconchegando-se contra ele. Theo só ignorou, aproveitando o momento e o calor que o corpo do mais novo proporcionava.

Enquanto isso no andar superior da casa, era visível a brusca diferença de energia no ambiente. E não era por menos. Mike não havia dito uma palavra desde que chegaram. E Alec respeitou isso. Somente perguntando o necessário e ajudando-o quando percebia o latino sem vontade alguma.

Estavam no quarto do Torres, e neste instante o mesmo ajudava o maior a secar um pouco da cabeleira cacheada. Ou melhor, secava para ele com a toalha. Michael encontrava-se só sentado na cama do mais novo, enquanto o tinha acomodado sobre suas coxas.

Um silêncio até que confortante pairava entre eles. Apesar de Alec ainda está preocupado e mexido com tudo isso. Esfregava devagar e sem muita força a toalha pelos cachos do maior, que praticamente cochilava com o rosto apoiado contra o peitoral dele.

Torres sorriu ladino ao reparar. Terminando de retirar os últimos resquícios do excesso de água nos fios, largando logo depois a toalha no sexto de roupa no canto do quarto. Alec suspirou fundo segurando com cuidado o rosto de Mike, que a essa altura já havia despertado. O menor acariciou com delicadeza as bochechas do garoto.

— Você quer comer alguma coisa? — Alec tentou mais uma vez. Seus polegares se movendo num carinho contínuo em cada lado da face do William, que negou com a cabeça novamente. O mais novo se rendeu em não insistir por hora. Dando só um aceno conformado. — Okay.. mas vai descansar. E eu não quero nem saber se..

— Deita comigo? — Mike o interrompeu. Mirando aqueles olhos verdes a ele. Possuíam um brilho peculiar. Na verdade, desespero seria a palavra exata. Alec apertou os lábios concordando. — Obrigado. — Disse num fio de voz. Intensificando mais o abraço ao redor do tronco do menor.

— Você não precisa pedir. Só pra deixar claro. — Alec garantiu sem pensar muito. Movendo sua mão de maneira breve pelas madeixas caídas na testa do William, jogando-as para trás. O mais alto esboçou um leve sorriso acanhado com isso. — Mas vai ter que me soltar. Preciso levantar pra ajeitar a cama. — Disse rindo anasalado para descontrair.

Mike logo ergueu as sobrancelhas se dando conta de que ainda segurava firmemente o mais novo. E foi soltando o menor aos poucos, ainda que seus instintos discodassem. Tentou esconder as bochechas coradas ao que se locomoveu para fora do colchão também.

Alec somente ria de modo silencioso, enquanto jogava alguns travesseiros ao lado da cama no carpete. Intercalando o olhar bobo vez ou outra para encarar o maior que o observava, esperando pacientemente.

Torres suspirou voltando a atenção para o edredom em mãos por uns instantes, perdendo-se um pouco numa linha de raciocínio que deveria ter tido sua atenção a tempos. Realmente, não havia mais sentido em se negar a tudo isso ou a manter a típica pose rígida que levou anos até construir. Somente Liam e Theo o conheciam além dessas barreiras. Porém agora, mais alguém teria essa permissão.

— Okay, pode vir. — Alec chamou o maior  após enfim se deitar, apoiando suas costas contra os poucos travesseiros que deixou. William não perdeu tempo em se aproximar dele. Quase como se necessitasse, e de fato era o caso.

Ele sequer cogitou em ficar no lado direito livre da cama. Apenas foi se aconchegando devagar em cima de Alec, até estar com a cabeça deitada sobre o peitoral do adolescente. Que ficou sem reação a princípio, mas por fim logo levou a mão para executar um cafuné lento no latino.

Michael suspirou fundo assim que começou a receber os toques. Sendo explícito sobre está gostando só por seu corpo ter relaxado em segundos. Torres sorriu mínimo ao notar isso, parando finalmente para apreciar direito os traços do rapaz. Trazendo algumas memórias recentes.

Alec havia se encantado desde o primeiro momento em que pôs os olhos no mais alto, isso ele não negaria mais. No entanto, nada se comparava com o agora. Poder observá-lo de perto, cada detalhe, com calma. Sem ameaças eminentes.

— Você é mais forte do que imagina, mate. — Alec murmurou depois de longos minutos. Não se importando se o outro a essa altura já dormia pesado demais para ouvi-lo.— Sei como é quando estamos sozinhos. Mas no que depender de mim, agora você saberá como é ter uma família de novo. — Disse decidido. Seu tom baixo se destacando no silêncio do cômodo. Quase como uma promessa.

Ele acariciou de leve a bochecha de Mike mais uma vez, plantando um beijo casto na testa do mesmo. Posteriormente se arrumou melhor na posição sem muitos movimentos bruscos. Permanecendo assim no decorrer dos minutos. Somente zelando o sono do maior, até que enfim suas pálpebras começaram a pesar.

(...)

Dia seguinte, às 9:57 AM.

— Liam, só vai logo lá. Eles não comeram nada ontem. — Theo pediu impaciente, enquanto terminava de preparar algumas torradas e ovos. Estavam na base do improviso no café por não terem tido tempo ou cabeça para lembrar de encher a geladeira. — E seja lá o que encontrar quando abrir aquela porta. Eu não quero nem saber. — Reafirmou de maneira séria, apontando a espátula na direção do namorado.

— Ah, então eu sou a cobaia, é isso mesmo? — Liam tinha a testa franzida, o que deixava sua feição mais cômica. Um ar ofendido em seus olhos a medida que tomava mais alguns goles de seu suco. Theo apenas deu de ombros voltando a mexer os ovos na frigideira. — Palhaço. — O beta se levantou contragosto após deixar o copo de lado. Rumando até às escadas. — Nessas horas que eu adoraria que o Alec fosse só um bebê.. — Murmurou lamentando. Logo ouvindo Theo batendo alguma coisa contra a grelha do fogão.

Ele é um bebê!! Pelo menos pra mim.. — Ouviu a última parte, mas como um sussurro. Liam não conteu a gargalhada que atravessou sua garganta. Agilizando seus pés a subirem os degraus logo. Não queria correr o risco de receber uma frigideira na cabeça.

Foi caminhando em um ritmo tranquilo pelo corredor. Esticando mais um pouco os músculos de seus braços por ainda está com preguiça. Avistou o último quarto no final do trajeto, outrora de hóspedes até um tempo atrás. Liam suspirou fundo parando em frente a porta, ponderando um pouco.

Óbvio que iria checar. Não se demorando em aguçar sua audição. Logo notou duas respirações serenas, indicando que os garotos ainda dormiam. Liam apertou os lábios hesitando, tremendo a perna. Deveria abrir? Bater? Emitir algum código?

— Deixa de ser ridículo, Liam. — O beta negou com a cabeça se repreendendo. Respirando fundo. — Já viu esse menino fazendo coisa pior. Vai pirar agora pra quê? — Murmurou meio irritado. Levando a mão até a maçaneta de uma vez.

Abrir não foi a parte difícil, mas o que viu a seguir com certeza o paralisou por alguns instantes. Sua cota para eventos inusitados estava se esgotando. De fato.

— Isso só pode ser um evento lunar de mil em mil anos.. — Liam sussurrou ainda tentando assimilar. Enquanto analisava os dois lobos na cama, que dormiam pacificamente enrolados um no outro. Não tinham notado sua presença ali ainda de tão exaustos.

O lobo mais cinzento e de pelagem abundante ao redor do pescoço. Encontrava-se com a cabeça deitada em cima do outro lobo que Liam reconheceu ser Mike, que permanecia apagado. Alec praticamente abraçava a cabeça do William, que tinha o corpo totalmente esticado no colchão. Parecia em paz. O beta não deixou de sorrir com o pensamento, entrando um pouco mais no quarto e se apoiando no batente da porta.

— Agora não sei se acordo vocês ou chamo Theo pra ver.. — Ele se interrompeu ao lembrar de um detalhe. Ou melhor, do que Alec mais gostava.

Liam não perdeu tempo. Percorrendo o quarto com os olhos rapidamente, até avistar abandonada na escrivaninha no canto do cômodo. A câmera Polaroid do adolescente. O menor havia comprado a um certo tempo quando esteve trabalhando, mas já nem tirava tantas fotos assim.

O beta mordeu o lábio inferior enquanto rumava com calma até o dispositivo. Torcendo para ainda estar com a carga do filme. Liam vasculhou o aparelho afim de verificar. Logo comemorando baixinho.

Ele se virou para os lobos, elevando a câmera e posicionando-a. Sorte que a mesma não estava com o flash ativado, porém o sonoro click nao impediu que Mike despertasse minimamente. Bem no exato momento do registro.

Liam quase se encolheu no lugar por ter sido flagrado, mas ele tinha que admitir que a foto ficou bem espontânea e.. fofa. Ele nem acreditava que agia exatamente como um pai babão neste instante.

— Liam, por que essa demora tod.. — Theo chegou de repente meio aborrecido. Seu tom alto quase acordando totalmente os lobos, se não tivesse travado antes assim que botou os olhos neles. Liam quase socou o namorado. Que mal piscou diante a cena. — Que porra..

— É, eu sei. Eu também tô surtando, e não só pelo fato dele ser uma mistura nítida de nós dois nessa forma. — Liam disse meio agitado, enquanto digitava concentrado na função legenda disponível na câmera antes da foto ser impressa.

Theo analisava calado a forma lobo de seu filho. Mas especialmente os detalhes que iam desenhando caminhos escuros nos pêlos bagunçados do menor. Era assustador. O focinho, formato do rosto e patas lembravam ele, porém o estilo da pelagem e orelhas se assemelhavam a Liam. O Raeken sentia que teria um colapso.

— P-Preciso definitivamente de mais café.. — O mais velho murmurou ainda meio perdido. Sentindo Liam por as mãos em sua cintura, guiando-o para fora do quarto. O beta ria baixinho. — Ele é tão lindo nessa forma, socorro.. — Theo esfregava os cabelos. Desacreditado.

— Ainda bem que registrei.. — Liam disse com uma feição modesta. Olhando uma última vez para o casal que despertava aos poucos. Dunbar certificou se a foto estava bem apoiada na Polaroid deixada na escrivaninha, para por fim fechar a porta ao sair.

Mal sabia eles. Que essa não seria a única surpresa.

*Lembrando que eles não são assim fisicamente, mas botei esses lobos para ilustrar o momento ❤️

                   ══════ ◖◍◗ ══════

3 anos depois..

Michael Santiago William.
• 20 anos.

Alec Torres Bowie.
• 19 anos.

Mudanças na maioria das vezes são fundamentais para que possamos crescer. Evoluir mentalmente em tantos níveis que nem imaginamos. Lutar pelo que queremos é a primeira coisa que nos sujeitam a aprender em um determinado momento. Mas quando somente falamos na teoria, ainda assim, não é tão pesado quanto vivenciar.

As mãos de Alec tremiam levemente enquanto roía as unhas. Seu corpo todo tenso enquanto ele andava de um lado para o outro em seu quarto. Sua respiração pesada só contribuindo para a ansiedade aumentar. Ele mal conseguia raciocinar uma coisa por vez.

Não demorou mais que algumas horas até que o menor ouvisse o bater da porta da frente soar, e então os passos afobados de Mike pelas escadas. A porta do cômodo abriu num instante.

— Eu tô aqui. Aqui. Hey.. — Michael chegou tentando não tropeçar nos próprios pés. Segurando o namorado pelos ombros gentilmente.

Alec não hesitou em abraçar o mais velho com força, que o suspendeu nos braços sem pestanejar. Pegando-o no colo de maneira firme. O que no fundo o menor agradecia sempre. Era um modo rápido de acalmá-lo.

— Eu tô aqui, vamos, respira junto comigo.. — Mike pediu num timbre sereno, esfregando as costas do garoto. Alec tinha o rosto escondido no pescoço do híbrido, inspirando o cheiro dele aos poucos. — Vai no seu tempo.. — Orientou gentilmente. Mantendo os carinhos enquanto se locomovia até a cama. Se sentou ajeitando o namorado  sobre as coxas. Esperando um certo tempo. O silêncio pairando no cômodo.

— Mike.. aconteceu. A gente.. droga. — Alec mal conseguiu verbalizar, sua voz embargando no final. Voltou a esconder o rosto na curvatura quente do namorado, que lhe fazia um cafuné contínuo.

Michael levou poucos segundos até raciocinar. Na verdade, seria eufemismo, foi de fato como um tapa em suas memórias. Sentiu a espinha gelar automaticamente. Sua mente rodando como se fosse um filme.

Retomou a exatos cinco dias atrás quando compartilhou uma breve suspeita com Alec após notar que o cheiro do mesmo parecia diferente. Mas claro que o menor teimou. Alegando de pé junto ser uma bobagem. Afinal, mitos não deixam de ser o que são de uma hora para outra, não é?

— Alec.. — Michael chamou devagar, num tom cuidadoso. Embora isso não tenha amenizado o breve pânico que crescia no Torres. Ele se adiantou. — Ei, baixinho. Por favor, olha pra mim. — Pediu meio agitado, trazendo o rosto do mais novo com delicadeza para encarar o seu. Limpou vagamente algumas lágrimas que rolaram dos olhos castanhos. — Eu não tô irritado, nem furioso. Ou o que seja. Então, já tira isso da sua cabeça. — Ditou com uma leve seriedade. E para o alívio de Alec, ele soava sincero.

— C-Como, não? Mike.. tem a minha faculdade que mal começou, a sua.. isso não, não vai.. — William cortou o falatório do mais novo subitamente. Capturando os lábios rosados com calma e firmeza. Alec foi diminuindo o ritmo, apenas permitindo-se se entregar. Mike segurou a cintura do mais novo puxando-o mais para frente em seu colo. Alec arfou em reflexo, segurando entre os dedos os cachos bagunçados na nuca do maior. — Me desculpa.. eu devia ter te ouvido. — Murmurou após recuperar o fôlego. Seus olhos ainda fechados, meio que sem coragem de encarar o namorado. Apesar de suas faces estarem literalmente a milímetros de distância.

— Não é culpa sua. Foi difícil de acreditar quando Deaton nos explicou, então eu já imaginava que você reagiria assim.. — Confessou baixinho. Permanecendo com a costumeira postura mansa. Suas mãos deslizando sem parar pela cintura de Alec, que já havia relaxado minimamente. — Nós fizemos juntos, e vamos lidar.. juntos. Claro que.. se você quiser. — Enfatizou a última parte rapidamente. Mirando aquelas orbes verdes para o menor que só então voltou a encará-lo. Alec respirou fundo.

— Você sabe que eu tenho medo daquele procedimento desde que o Deaton nos disse.. — Ressaltou sentido, engolindo em seco. Brincando com os fios enrolados do namorado devido a inquietação. — E.. eu poderia ficar estéril. Não quero.. Afinal, eu até queria.. filhos mas.. não agora. — Explicou da melhor maneira que conseguia. Apertando os lábios tentando conter o choro novamente. Mike negou com a cabeça, deixando um beijo demorado na testa do outro.

— Independente de como as coisas fiquem.. eu tô aqui, okay? — Michael garantiu direcionando aquele olhar convicto ao menor. Que por alguns instantes se perdeu na imensidão esverdeada. — Eu não quero palmas pelo mínimo. Mas sim que você reconheça que não vou a lugar nenhum. — Alec nunca viu tanta seriedade como agora. Ele assentiu minimamente, logo sentindo as mãos do William nas laterais de seu tronco.

— Eu.. vou te mostrar uma coisa. — Alec falou após se recompor, olhando ao redor até localizar na cama atrás de Mike a máquina nova que havia adquirido. Ele agradeceu mentalmente por isso, pois não queria sair do conforto do maior. — Você sabe que isso me relaxa, então.. eu meio que na hora só.. tirei a foto. — Ele entregou timidamente a câmera, que exibia na tela a imagem do inconfundível teste de gravidez. Estava destacado ali, 3 semanas.

— Não quer colocar uma legenda antes de imprimir? — O mais velho perguntou curioso. Um sorrisinho bobo dançando em seus lábios carnudos. Alec riu baixinho não sabendo bem como responder, então apenas deitou a cabeça no ombro direito do outro, que passou o braço entorno dele.

— Você não vai curtir essa parte, mas.. vou colocar só depois de ver a reação dos meus pais. — Soltou a informação quase que recuando em sua fala várias vezes. Emitindo um riso nervoso ao notar o coração do latino acelerar.

— É.. não tô curtindo.— Michael disse num timbre meio agoniado. Alec pegou a câmera das mãos dele. Deixando-a no colchão. — De qualquer jeito, Theo vai conseguir o que sempre quis. Me dá uma surra. — Acrescentou mordendo o lábio. Alec negou com a cabeça prontamente, erguendo a postura e segurando o rosto do namorado entre as mãos.

— Ele amenizou o ciúmes comigo, vai.. você me incentivou a isso agora. Então, neste instante quem vai garantir alguma coisa sou. — Alec disse esboçando pela primeira vez em horas um sorrisinho genuíno. Mike emitiu uma risada rouca. — Ele não vai te bater, okay? — Olhou fundo nas orbes do outro, depositando um selinho no mesmo em seguida. Mike concordou, retribuindo.

*

— Michael, seu filho da mãe! É melhor correr, garoto! — Theo gritou rosnando entredentes assim que levantou do sofá. Miike a essa altura já havia apertado o passo. Encontrava-se do outro lado do cômodo, próximo a porta dos fundos.

— Pai! — Alec chamou do outro sofá. Liam ao seu lado ainda tentando assimilar a notícia, mas também preocupado com essa explosão do chimera. — Ele não tem culpa, nenhum de nós.. foi na Lua cheia e..

Theo possuía a respiração pesada, os olhos brilhantes atentos a silhueta parada de Mike a poucos metros dele. Sequer ouvia seu filho. O pé esquerdo dele se moveu bruscamente, fazendo menção em avançar. Michael se encolheu em reflexo, também brilhando os olhos.

— Theo, não! — Liam repreendeu num tom neutro tentando não agitar mais ainda seu noivo. Alec ao lado dele buscou sua mão, apertando-a. Todos já sabiam mais ou menos o que veria a seguir. — Theo, eu mand-

O chimera nem o deixou terminar. Somente rugiu avançando seu corpo bruscamente na direção do latino. Mike foi rápido em abrir a porta dos fundos, que levava a uma parte do quintal ligada a mata que cercava Beacon. William não tardou em mudar de forma, correndo rumo aos arbustos.

— Mas que merda.. — Alec saiu meio afobado parando no deck de madeira. Respirando fundo e passando as mãos pelos cabelos.

Liam deixou um aperto carinhoso no ombro do filho, antes de se distanciar e descer. Precisava parar Theo, que a essa altura estava na forma lobo também. E corria quase sem cansar tentando pegar Mike, praticamente encurralando o latino que se movia de um lado para o outro. Pareciam dois seres brincando se não fosse a circunstância.

— Theo, se você der mais um passo.. — Liam ameaçou enquanto se aproximava do lobo preto. Seus olhos brilhando e as presas a mostra.

Theo virou a cabeça rosnando baixo na direção do noivo, exibindo as presas. Liam negou com a cabeça pronto para pegá-lo. Quando o chimera fugiu de seu alcance e pulou rumo onde Mike estava. A briga que se desenrolou era digna de um documentário sobre vida selvagem.

Rosnados soando de um lado. Ambos lobos se trombando e caindo devido a golpes fortes por parte de Theo. Mike apenas se defendia, as vezes dando chutes e mordidas no chimera. Alec ao longe revirou os olhos esfregando o rosto. Sentando-se na escada de madeira.

— Eu juro que seu pai vai dormir de couro quente hoje.. — Liam veio resmungando em passos pesados. Ocupando o lugar vago ao lado do filho, que encarava a cena preocupado. O beta mais velho bufou, desviando o olhar para o Torres. — Mas sério, filho.. você tá bem com tudo isso? — Dunbar disse cuidadoso. Se aproximando mais do menor que ainda tinha os olhos focados na briga. Parecia tenso demais para Liam simplesmente deixar passar.

Teve que perguntar, pois apesar das explicações que ouviu. Precisava ter certeza de que seu filhote estava realmente disposto a arcar com as consequências da decisão tomada.

Alec só apertou as mãos num breve tic nervoso. Abaixando o olhar para encarar seus pés sobre a grama. Liam o analisou por alguns segundos, até se mover ficando mais perto do mais novo. Que deitou a cabeça em seu ombro.

— Quando eu vi o resultado.. parecia que eu iria enlouquecer. Que tudo o que tinha em mente pro meu futuro, iria por água abaixo.. — Alec confessou baixinho, sentindo Liam buscar sua mão esquerda e entrelaçar seus dedos. O menor sorriu ladino com o gesto, elevando o olhar e se deparando com os lobos que até uns minutos atrás brigavam. Agora só se encontravam caídos na grama, um encarando o outro. Alec riu negando com a cabeça. — Mas Mike me lembrou que.. não tô sozinho. — Completou num timbre menos sobrecarregado. Liam deixou um aperto fraco na mão dele.

— E ele tá certo. Você tem a mim, ele, o bando. E por incrível que pareça, seu pai dramático ali. — Liam indicou com o olhar o grande o lobo negro. Alec riu voltando-se a cena. Theo estava concentrado demais em ameaçar a distância Michael para sequer ouvir um terço da conversa. O William permanecia parado e encolhido como se esperasse pelo pior. Dunbar suspirou. — Acaba logo com aquela palhaçada, por favor. — Pediu impaciente. Alec ergueu as sobrancelhas concordando. Levantou após respirar fundo.

Mas ele mal precisou completar o trajeto. Michael se apressou em caminhar até ele, mancando um pouco e choramingando baixinho. O que fez Alec se preocupar de imediato, até um estalo ocorrer em sua memória. Mike sempre tinha essa mania de fazer charme para cima dele. Era uma tática para ter atenção.

— Vem cá, amor. Vem. — Chamou Alec enquanto se arrumava na grama. Cruzando as pernas. Mike foi aumentando o choro, soando quase como um filhote desamparado. Torres esboçou um sorriso fechado, trazendo com cuidado o namorado para perto até estar em seu colo. Ignorou a provável cara emburrada de Theo ao longe. Acariciando os pêlos de Mike. — Sinto muito por isso. — Murmurou rindo anasalado. Beijando o topo da cabeça do animal.

Mike somente chorou mais um pouco. Se encolhendo no aconchego. Até optar por elevar o focinho minimamente, rumo à barriga de Alec, que por alguns segundos não soube bem como reagir. Honestamente, ele paralisou.

Michael moveu a pata esquerda executando tentativas leves em erguer sua blusa. Alec engoliu em seco mantendo o olhar nas orbes lupinas do outro por uns segundos. Tendo uma espécie de conversa que só ambos capazes de enteder. Após isso Alec suspirou cedendo, exibindo a barriga devagar.

Não havia mudado muito por estar no início da gestação ainda. Mas Mike passou a distribuir breves lambidas pela pele exposta, o que fez Alec sorrir meio acanhado. Esquecendo minimamente da sensação ruim que corroeu seu corpo a princípio de tudo.

Ouviram um grunhido a alguns metros deles. Alec levantou a cabeça, vendo a figura de Theo se aproximando em passos leves. Embora a feição do lobo negro não estivesse nada boa, não deixou de ser gentil ao deitar perto do filho.

— Eu não vou deixar de ser seu bebê, okay? — Alec murmurou num tom impassível. Levando a mão direita rumo as orelhas de Theo, que se inclinou para o toque automaticamente. Se encolhendo envergonhado. Liam observava ao longe a cena, rindo baixo do quão hilário Theo conseguia ser.

Mas de fato. Alec possuía apoio. O mesmo apoio que lutou até o fim para trazer a cidade de volta aos eixos diversas vezes. Desde os demônios, estavam aptos constantemente para enfrentar qualquer coisa.

E no momento, comemorar seria o único fator a se preocupar. E pelo visto, finalmente tempos menos sombrios estavam a caminho.

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Eu realmente nem sei o que dizer aqui skwkwmkdkxbsbxb sério, acho que só.. tenho que agradecer por toda paciência, os comentários, os votos, os momentos em que me fizeram rir e esquecer dos problemas.

A praticamente tudo que vocês me proporcionaram, a diversão. Eu sinto muito mesmo pela demora, mas infelizmente nessa pandemia foi/é uma montanha russa de emoções pra mim. É cansaço em dobro e as vezes tem que tirar ânimo e forças de não sei onde pra continuar.

Enfim, vocês devem entender o que tô falando. Tá sendo uma determinada experiência pra cada um, então espero de verdade que entendam que quando comecei a escrever sempre foi voltado a diversão. Portanto, é graças a cada um aqui que me acompanha, que estou melhor hoje em dia. Sério, vocês me ajudam a não enlouquecer apesar de todo o trabalho que é escrever, mas não tem jeito porque eu amo isso. Amo fazer isso e acho que nunca vou parar totalmente. 😳❤️❤️

E sério, mana SunshineLupin  você foi literalmente um dos principais motivos que me motivou a terminar essa história. De enxergar o potencial que ela tinha. E ver sua paixão quanto ao enredo, os personagens. Mas principalmente com os casais (você sabe quais são heuehje) Me fez bater de frente com a minha ansiedade pra não desistir. Fico feliz por ter te animado com essa história quando precisou, por ter te inspirado em qualquer coisa que fosse. Sem você e dentre outras pessoas, acho que eu teria abandonado isso aqui. Você é incrível, uma garota gentil e talentosa. Só merece sucesso em tudo o que você pretende fazer, e serei eternamente grata por toda sua ajuda. Sua escrita maravilhosa que me animou a seguir com cada passo nesse capítulo. Só.. agradeço de verdade. ❤️🛐🌈💓

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