Capítulo 9
𝐒𝐞 𝐧𝐚̃𝐨 𝐩𝐨𝐝𝐞 𝐝𝐞𝐭𝐞̂-𝐥𝐨, 𝐣𝐮𝐧𝐭𝐞-𝐬𝐞 𝐚 𝐞𝐥𝐞.
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𝐒𝐡𝐢𝐧𝐨𝐛𝐮:
O que está acontecendo aqui?! Era apenas isso o que conseguia pensar. Eu simplesmente havia elogiado Giyu Tomioka? Não, eu não fiz de propósito, as palavras apenas saíram da minha boca sem mais nem menos. Apesar de que... ele realmente estava bonito. Bem arrumado, eu diria. Enfim, eu não me importava com isso, eu o odeio, de qualquer forma.
– Ah... entra aí.
O convido para entrar, sem cerimônia. Não gosto de ficar enrolando do lado de fora. Giyu passou pela porta, entrando devagar, como se hesitasse. Quase o empurrei para dentro para que andasse logo, já não estava com muita paciência para ficar aturando-o. Fechei a porta atrás de mim, adentrando minha casa novamente.
– Fica à vontade. Vou voltar a cozinhar.
– Não precisa fingir ser gentil comigo.
– Como?
– É, você tá sendo gentil sem motivo, já que me odeia. Finja que estamos no colégio, eu prefiro daquele jeito.
Sim, eu tinha que admitir, era realmente estranho tratá-lo gentilmente, sendo que não faço isso no colégio. Também não fazia ideia do motivo de estar agindo assim com ele. Talvez eu apenas estivesse de bom humor, não fazia diferença. Voltei à cozinha, precisava terminar de preparar o lámen que havia prometido cozinhar para minhas irmãs. As duas estavam fora, Kanae no hospital, trabalhando, e Kanao marcara de sair com suas amigas, portanto, me deixaram em casa sozinha. Por isso mesmo aceitei receber o Tomioka, sabia que minhas irmãs não estariam aqui para fazer comentários e especulações sobre ele. Talvez até achassem que ele é meu namorado. Credo. Enfim, ainda precisava fazer milhões de coisas antes de realmente começar a receita. Giyu se aproximou da bancada onde estavam os ingredientes do lámen, mas não deixei que ficasse perto demais.
– O que está fazendo?
– Cozinhando. Não está vendo?
– Estou. Quis dizer qual prato.
E foi aí que eu tive a ideia - talvez a melhor da minha vida inteira. Eu podia usá-lo a meu favor, sua presença passaria de irritante à útil em questão de segundos se ele resolvesse deixar de ser idiota e colaborar comigo apenas por uma vez. Meu plano consistia em três passos simples.
– Não te interessa. A comida não é pra você.
– Interessa sim! Por isso estou perguntando!
Passo 1: Irritá-lo. Tirar a paciência das pessoas sempre funciona melhor para convence-las a fazer algo que não querem fazer.
– Ah, então você está curioso?
– Estou. Não ouve, não?
– Só te conto se fizer uma coisa para mim.
– O que é?
Passo 2: Chantageá-lo. A estratégia é usar as fraquezas do seu inimigo para enfraquece-lo e usá-lo a seu favor sempre que quiser.
– Se você me ajudar a cozinhar, eu te conto o que é. Talvez até te dê um pouco da comida que sobrar.
– O que precisa que eu faça?
Passo 3: Abusar do poder que lhe foi dado. A pessoa fará tudo o que você mandar, então, por que não aproveitar a oportunidade, certo?
– Preciso que você corte a cebolinha.
– Cebolinha? Qual dessas é...?
– Você não sabe qual é a cebolinha? Tinha que ser... é essa aqui, olha.
Apontei o ingrediente e ele o pegou, parecendo analisá-lo. Giyu provavelmente nunca tocara numa coisa dessas em toda a sua vida. Isso que mais me irrita em todos os estudantes do Colégio Kimetsu, todos são milionários e provavelmente nunca tiveram responsabilidades, nem mesmo cozinharam sua própria comida uma vez sequer. Enfim, dei a faca à ele e pedi que cortasse em cima da tábua de cortes, que ficava perto da pia. Ele foi até lá e começou a cortar, um pouco lento, parecia até uma criança. Foi sinceramente engraçado.
– Dá pra ir mais rápido aí?
– Eu já estou indo o mais rápido que consigo. Não coloca pressão!
Voltei a me concentrar em meu afazer, que era cozinhar a massa. Ela já estava no fogo, só precisava ficar de olho nela. Apenas esperava que ela não queimasse, o que quase sempre acontecia, porque perdia o foco com alguma outra coisa que precisava fazer na cozinha. A cada minuto que passava, dava uma olhada no fogo, e de vez em quando, parava para observar o Tomioka, enquanto eu ainda fatiava um pedaço de carne que fritaria para colocar no lámen depois que ficasse pronto. Entretanto, no momento em que menos esperava, ouvi Giyu reclamar.
– Mas que droga.
– O que foi?
– Me cortei.
– Ah, fala sério.
Fui até ele, vendo que realmente havia cortado a mão. O corte não parecia muito profundo, porém, também não parecia muito superficial. E estava sangrando. Droga. No fundo, eu sabia que isso iria acontecer, afinal, esse garoto mimado nem tem experiência com isso. Na verdade, ele não deve ter experiência em fazer nada por conta própria.
– Droga, Giyu. Por que você é assim, hein?
– O que que eu fiz de errado? Foi um acidente.
– Vamos, lá em cima tem um kit de primeiros socorros.
Antes de subirmos para o segundo andar, desliguei o fogão para que nada queimasse daquela vez e coloquei a faca que ele usava na pia. O caminho até lá em cima fora silêncioso, nem Giyu e nem eu dissemos uma única palavra. Obriguei-o a se sentar no chão de meu quarto, enquanto fui até o armário pegar um curativo para colocar nele. Me sentei no chão à frente dele, hesitante em pegar sua mão para poder observar melhor o corte. Nem sabia por que estava fazendo aquilo por ele. Não precisava, mas... ver alguém ferido ou doente me deixava mal, e sempre acabava cuidando da pessoa, por mais chato ou desnecessário que isso fosse. Tomando um pouco de coragem, peguei sua mão com cautela, analisando o corte. Apenas um curativo simples bastaria. Isso era bom, Kanae poderia notar alguma coisa faltando no kit dela se fosse necessário um curativo maior.
– Kochou?
Giyu quebrara o silêncio, me fazendo voltar a atenção para ele. Começei a fazer o curativo em seu corte, não queria falar com ele naquele momento. Parecia meio embaraçoso, mas não sabia muito bem o porquê. Não teria falado nada se ele não houvesse me perguntado:
– Por que está fazendo isso?
– Estou fazendo o quê?
– Por que está sendo gentil comigo?
– Porque...
Nem eu sabia a resposta. Apenas... estava sendo. Por mais que não quisesse. Por mais que ele fosse um idiota. Por mais que eu o odiasse. Eu estava ali, ajudando-o, sendo gentil com ele. A pergunta me deixara inquieta, não conseguia parar de pensar naquilo. Mas que droga.
– Pense que eu estou retribuindo o favor. Você me emprestou o guarda-chuva ontem, afinal...
Respondi, finalmente. Essa resposta parecera mais como uma desculpa, ao meu ver. Mas isso não importava. Estava ajudando-o porque era o certo a se fazer. Ou pelo menos estava tentando me convencer disso.
– Ah, sim... o guarda-chuva. Ok, agora estamos quites.
– Sim. Estamos quites.
Terminei o curativo com estranha rapidez, soltando sua mão assim que o fiz. Era esquisito ficar daquele jeito com ele, não de uma maneira ruim, mas de uma maneira... diferente. Diferente, essa é a definição de como me senti. Descemos, de volta à cozinha. Giyu não iria mais me ajudar a cozinhar, ele já estava me causando problemas demais naquele dia. Então, ele ficou do outro lado da bancada, me observando. Ele parecia surpreendentemente atento à todos os meus movimentos, como se eu pudesse matá-lo com a faca que segurava a qualquer momento.
– O que está olhando?
Perguntei, talvez interessada, ou apenas preocupada com seu olhar sobre mim. Ele hesitou em responder minha pergunta por um momento, porém, logo disse:
– Você.
– O quê?
– É, eu estou olhando pra você. Não tenho nada mais divertido para fazer.
– Ok...?
As perguntas e respostas de Giyu estavam me deixando muito confusa. Não conseguia decifrar o que ele realmente queria dizer com aquilo. Aquele seu olhar indecifrável era o que mais parecia misterioso. O que me deixava irritada. Na verdade, acho que sempre foi assim. É incrível o fato de que toda e qualquer atitude desse garoto consegue me irritar, independentemente do que seja.
– O que foi? Se incomoda que eu olhe pra você?
– Pra sua informação, me incomodo sim. Seu olhar me irrita. Por mim, você já tinha sumido daqui há tempos.
– Então me mande embora.
Já estava de saco cheio daquele moleque. Ele estava muito atrevido, na minha opinião, então, resolvi realmente expulsá-lo da minha casa, afinal, na verdade nem queria tê-lo recebido aqui. Não sei porque fui aceitar sua proposta...
– Ok, então vá embora. Suma da minha frente e nunca mais volte. Eu adoraria não ter mais que aturar sua presença.
– Eu estou indo!
Ele se afasta do balcão, indo em direção à porta de frente em passos apressados, o som de seus pés no chão fazia ficar aparente que estava com raiva de mim. Que ele ficasse, não me importava o que ele sentia ou o que pensava de mim, que ele se ferrasse. Entretanto, antes que chegasse a tocar a maçaneta, ele se virou para mim, me encarando. Revirei os olhos.
– Eu não posso ir embora agora. Meu pai vai me matar se souber que eu... fugi do encontro.
– Espera aí, você literalmente fugiu do encontro?
– É, sim. Eu fugi do encontro. Não sou obrigado a ficar suportando essa porcaria.
Aquela situação estava me deixando curiosa. Giyu havia me mandado mensagem no dia anterior, dizendo que não queria ir ao encontro que seu pai marcara para ele, entretanto, ele foi ao encontro e ainda fugiu dele, vindo pra minha casa? E outra coisa, por que a minha casa? Ele não tem contatos pelo colégio todo, amizades e etc? Talvez ele só tivesse feito isso para me estressar, me irritar até mesmo nos dias em que não temos aula. Por motivo nenhum quis perguntar a ele sobre a tal fuga.
– Ei.
– O que foi?
– Vem aqui, agora me responda uma coisa.
Ele se aproximou do balcão novamente, eu havia acabado de terminar o lámen. Os pratos estavam lindos. Será que havia acertado na receita pela primeira vez na vida?
– Você não acha indelicado fugir de um encontro?
– Era um encontro arranjado. Eu nem queria estar lá. Me chamou de volta pra me criticar, é?
– Não estou criticando, estou tentando fazer você ser menos chato. Dá pra colaborar e me ouvir?
Ele finalmente cala a boca e presta atenção no que eu digo. Nem sei por que estava repreendendo-o, não era da minha conta o que ele fazia ou não. Mas mesmo assim, mesmo assim...
– Mesmo que não quisesse ficar, deixar uma dama sozinha num encontro é ser muito babaca. Certeza que não é essa impressão que você quer que as pessoas tenham de você. É por isso que eu não gosto de você, entende? Tente ser menos idiota, ok?
– Ok... – Ele suspira. – Vou tentar.
Esperava que tentasse mesmo, não aguento mais esse garoto sendo chato com todos que conhece. Ele não sabe nem ser gente. E ainda mais, acha que sempre está certo. Não esperava dar sermão em alguém que odeio, um riquinho que por acaso viera parar na minha casa hoje. Nem sabia por que estava tendo aquele tipo de conversa com ele.
Um tempo se passou, e infelizmente recebi a notícia de que Kanae ia ter que ficar até mais tarde no hospital hoje, e provavelmente Kanao chegaria apenas lá pras 22h e acabaria caindo direto na cama. Não expulsei Giyu da minha casa como disse que faria, ele sequer me irritou mais depois da conversa que tivemos. E isso era ótimo. Será que aquilo realmente havia funcionado?
– Ei. Quer comer lámen? Sobrou um pouco.
– Eu não. Vai que está envenenado.
– Não está envenenado, seu idiota. Por que eu faria isso?
– É a sua cara fazer isso. Me chamar para comer, envenenar a comida e depois esconder o corpo no seu quarto.
– Caramba, você me deu uma ótima ideia.
Nós dois rimos. E isso era bem estranho. Enfim, coloquei os dois pratos de lámen na mesa e nos sentamos, um de frente para o outro. Decidi olhar em seus olhos pela primeira vez no dia. Diferente de todas as outras vezes em que já o encarei antes, sua expressão não parecia de raiva, de desprezo, ou qualquer outra coisa que já vira antes. Era apenas... um olhar relaxado, sem preocupações, como se fosse a primeira vez no dia que estivesse em paz. Consigo, e até mesmo comigo.
– Vá em frente, prove.
– Você primeiro. Não tô afim de morrer.
– Aff, ok.
Peguei meu hashi e antes de experimentar o lámen, senti seu aroma, aquilo realmente estava cheirando muito bem. Provei um pouco do macarrão. Nossa, estava muito bom. Ou talvez eu apenas estivesse com fome demais para julgar aquilo corretamente. Coloquei a mão no peito, fingindo uma dor inexistente apenas para zoar Giyu, que apenas ficou observando.
– Eu falei que tava envenenado.
Paro com a minha encenação, encarando-o. Suspirei, revirando os olhos. Nós dois rimos novamente.
– Não vai fazer nada? Eu tô morrendo.
– Não. Eu não me importo.
– Enfim, prova. Tá bom.
Ele analisa o prato minuciosamente, como se realmente houvesse alguma chance de eu ter colocado veneno ali. Apesar de que poderia muito bem fazer aquilo, era apenas usar os compostos médicos de Kanae... Não Shinobu, não. Eu não podia simplesmente assassiná-lo. Os pais dele pagariam um detetive particular e me pegariam muito facilmente. Era melhor eu tirar a ideia da mente, poderia dar muito errado pra mim. Enfim, ele provou um pouco do lámen também.
– Hm. Dá pro gasto.
– Isso! Sabia que tinha acertado na receita.
Fora simplesmente um fim de tarde agradável, mesmo que eu estivesse acompanhada do... meu inimigo. Talvez ele não fosse tão chato assim. Ou talvez eu estivesse enlouquecendo de vez. Ou as duas coisas. Não fazia mais diferença.
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𝐂𝐨𝐧𝐭𝐢𝐧𝐮𝐚...
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