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As próximas semanas foram complicadas para ambos os lados. Tristan não teve coragem para tirar a foto de Beatrice do próprio armário e a garota não conseguia deixar de observá-lo de longe. O único problema nestes olhares sorrateiros, era que o Dugray sempre estava a olhando primeiro e não parecia tentar esconder isso, sempre a lançando olhares carinhosos, ainda que eles expressassem tamanha tristeza. Se perguntou se havia pegado muito pesado, mas o loiro não voltou a se aproximar. Confessava que foi frustrante não poder xingá-lo depois de alguma gracinha, pois é necessário perder para sentir falta.

Se Paris sabia sobre o assunto, não falava. Porém, após este distanciamento drástico, era quase impossível que não soubesse. Beatrice olhou para a Geller ao seu lado, que parecia ignorar a situação e conversar com Rory. Não puxou assunto com nenhuma das duas, estava ocupada demais trocando olhares com o loiro do outro lado do refeitório. Suspirou quando o garoto tombou a cabeça para o lado, sorrindo sem mostrar os dentes. Beatrice apenas apoiou o queixo sobre as próprias mãos, perguntando-se como ele poderia a tratar daquela maneira tão amigável depois de, praticamente, tê-lo afastado completamente.

— Não acha, Bea? — A loira a chamou, seguindo seu olhar até o Dugray, que continuava sorrindo em sua direção.

— O quê? — A de cabelos pretos perguntou, voltando-se para a conversa.

— Estamos falando que, se for melhor para a Rory, é melhor mesmo que desista do Dean.

— Não gosto dele. — Beatrice respondeu.

— É, eu sei. — A Gilmore respirou fundo. — O que há com você, hein? Por que está tão avoada?

— Nada... Só estava pensando. — A baixinha tomou seu suco de maçã.

— Você sempre está pensando. — Paris negou com a cabeça. — Eu queria entender o que há de tão complicado nesse relacionamento.

— Eu acho que é o fato do Dean ser extremamente ciumento. Não sei. — Rory a respondeu. — Eu só perdi completamente aquela sensação boa de estar com ele.

— Acha mesmo que o ciúme seria capaz de acabar com um romance? — A Geller deu uma cotovelada na Otinger, que teve certeza que levaria uma lição de moral.

— Quando ela é exagerada, sim.

— Eu imagino...

Se Beatrice ainda tinha alguma dúvida sobre Paris saber sobre o distanciamento dela e Tristan... Agora tinha certeza. Afinal, como estava confusa? Os dois compartilhavam todos os segredos e acontecimentos que possuíam. Olhou para a Geller e tombou sua cabeça no seu ombro, sentindo o amargor subir pela boca. Não queria se afastar dele, mas o quanto se machucaria se não o fizesse? Não era boa com seus próprios sentimentos e Tristan sabia disso. Esperava que algum dia o garoto pudesse perdoar pelo que havia feito com ele... Olhou para Rory, que parecia confusa com a cena e suspirou, tomando mais um gole do suco, antes de pronunciar:

— Rory, eu fui a um encontro com o Tristan na sexta-feira da mesma semana em que você teve o encontro com o Dean. Não sabia como te contar porque eu não queria fazer isso virar sobre mim. Eu odeio guardar segredos de vocês, mas eu não contei isso nem para a minha mãe ou Paris, apesar de não ser nenhuma surpresa para ela. — Rory apenas levantou a sobrancelha, parecendo processar tudo o que a garota havia dito. Após algum tempo em silêncio, respondeu a Otinger com calma:

— Olha, eu gostaria que você tivesse me contado antes, mas de qualquer forma estou feliz que vocês estejam se aproximando.

— Aí é que está o problema. — A garota esfregou as mãos na própria saia, tentando secá-las. — Eu o afastei na segunda-feira da próxima semana.

— O quê? Por quê? — A Gilmore arregalou os olhos.

— Porque ela é ciumenta.

— Não foi isso que aconteceu.

— Mas se afastar de alguém porque ele estava no telefone me parece bem ciumento da sua parte.

— Eu... não sei, achei que ele se importaria mais. — A loira ficou quieta e observou o Dugray, que não tirava os olhos daquela mesa. Porém, agora ele encarava Geller com o rosto sério.

— Eu não quero ser mais uma das garotas dele. — A de cabelos pretos negou com a cabeça. — Quer dizer, eu estava do mesmo jeito que Summer, era questão de tempo até eu perder a graça.

— O Tristan não é assim, Bea. — Rory arregalou os olhos ao ver a Paris observar a baixinha com raiva. — Ele não faria isso com você.

— De qualquer forma, já é tarde demais. — Suspirou. — Não acho que ele vá me querer agora.

— Como não? — Rory voltou à conversa. — Esse garoto é obcecado por você.

— Rory, se ele realmente gostava de mim, eu o machuquei. Talvez seja melhor para ele se nos mantermos afastados.

— Você gosta dele, não? — A Gilmore revirou os olhos. — É claro que gosta dele. Por que mais você estaria se importando tanto?

Beatrice permaneceu calada. Não queria conversar sobre isso, apesar da resposta ser bem óbvia. A Otinger mordeu os lábios, olhando para o próprio colo e sentindo seus olhos arderem. Quando foi que ficou tão emotiva assim por um garoto? Tristan era, de longe, uma das pessoas mais irritantes que conheceu e agora ela o queria por perto mais do que qualquer coisa. Era como se fosse viciada na companhia do loiro e agora se sentia mais sozinha do que nunca. Ninguém naquela mesa poderia culpar Beatrice, afinal, você não sabe o que é importante até que vire uma mera lembrança. Ele estava logo ali, mas o que faria? Você não tem o direito de machucar uma pessoa e simplesmente pedir permissão para voltar para a sua vida.

— Já é tarde. Talvez ele mereça alguém melhor que eu, não sei. Tristan já deveria estar conversando com alguém de qualquer forma, já que nunca tivemos nada além de um beijo.

— Tristan estava conversando com o Michael durante o encontro, Bea. — Paris pronunciou e a Otinger franziu as sobrancelhas.

— Com Michael? — Suspirou frustrada. — Está vendo, Paris? Não faz nenhum sentido. Por que alguém fala que é apaixonado por uma pessoa e, em um momento importante, como um encontro, esse alguém fica de papo com outra pessoa?

— Olha, eu não sei. — A loira olhou com preocupação para Tristan e Beatrice logo fechou os olhos com força.

— Eu perdi a graça. É simples assim.

— Você não perdeu a graça, Beatrice. — Rory tinha o olhar fixo na baixinha com as sobrancelhas franzidas. — O que faria ou faz você "perder a graça" é esse ciúmes que você está sentindo.

— Não sei, Rory. Acho que ele não está mais interessado em mim.

— Ele está respeitando sua decisão de afastá-lo.

— É o Tristan Dugray. — Paris voltou para a conversa. — Se você o chamar, ele volta correndo.

— Mas não faz sentido. — A Otinger bufou. — Chega, gente. Não quero mais falar disso.

— Bea — Rory a chamou baixinho. —, agir desta forma fez Dean ser um cara totalmente irritante e impossível de lidar. Não faça isso com Tristan. Ele parece realmente se importar com você.

A garota suspirou, encostando-se na cadeira e cruzando os braços. Tristan não participava da conversa na própria mesa, sentindo-se um pouco deslocado no local. Era, no mínimo, irônico que o garoto quisesse tanto sentar na mesma mesa que as garotas, visto que o popular, que possuía toda e qualquer mesa era ele. Ouviu um dos garotos do time respirar fundo, vendo o capitão tão cabisbaixo. O loiro olhou para Nick, um moreno de cabelos raspados, que tinha as sobrancelhas levantadas enquanto o encarava e bufou. O Dugray apenas fechou a cara, sabendo o que viria em seguida.

— Eu entendo, ela é bonita e tal, mas é só uma garota, cara. Você está realmente triste por causa disso?

— Você não conhece a Beatrice. — O loiro cruzou os braços. — Ela jamais vai ser "só uma garota".

— Não foi a primeira vez que ela dispensou você. — Outro garoto se intrometeu.

— Mas foi a primeira vez que doeu. — Tristan suspirou. — Dá para vocês pararem de se meter na minha vida romântica?

— Dá para você deixar de ser dramático? — Nick bufou. — A gente te conhece, cara. Sabe qual é o melhor remédio para esquecer alguém?

— Não vou ficar com nenhum de vocês, podem esquecer. — O Dugray brincou, ainda que tivesse um sorriso triste nos lábios.

— Deixem ele em paz. — Max revirou os olhos. — Ele está apaixonado, não vai ouvir vocês.

Apaixonado. Tristan repetiu essa palavra incontáveis vezes na sua mente. Se perguntou o momento exato em que o simples interesse que sentia pela garota tornou-se paixão. Não podia julgar as falas de Max como errôneas, mas era um pouco assustador pensar que estava, de fato, apaixonado. Perguntou-se se ela ao menos chegou a sentir o mesmo que si, o que logo descartou, visto que ela não o queria. Então perguntou-se se ela sabia o quanto fazia falta e o quanto se sentia só sem poder ao mínimo provocá-la. Respirou fundo. Nunca teve vergonha de demonstrar o que sentia pelas pessoas, mas por que Beatrice sempre pensou que ele estava brincando sobre os seus sentimentos?

— O Tristan apaixonado? — Nick riu. — Conta outra, vai.

— Olha o estado dele. Você é idiota? — Max bufou, vendo o capitão do time respirar fundo e encostar-se na cadeira.

— Mas que droga... Eu estou apaixonado. — O loiro confessou. — Eu estou apaixonado e ela não dá a mínima para mim.

— É, ser rejeitado dói, mas você se acostuma. — Max lhe deu um soquinho no ombro e o Dugray travou o maxilar. — Bola para frente, campeão. Ainda teremos um jogo para vencer.

— É. Tenho que descontar em algo. — Tristan concordou com a cabeça e ouviu o sinal tocar, levantando-se na frente de todos e saindo do refeitório sozinho.






"Oh, no, I've said too much
I haven't said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I though I saw you try"
LOSING MY RELIGION - R.E.M.

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