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— Bem-vindos ao Otinger's Origin, onde sua comida tem nostalgia no sabor e é preparada com amor!
Beatrice levantou as sobrancelhas enquanto olhava para uma das atendentes, que encarava os dois adolescentes fixamente. Tristan soltou um risinho nasalado, levando a sua mão até os ombros da Otinger e sorriu para a mulher, que sorria de volta. A garota ao lado do loiro sorriu sem mostrar os dentes, meio sem graça por ter sido pega de surpresa, afinal, geralmente entrava e andava direto para a cozinha.
— Oi. — Cumprimentou baixinho.
— Beatrice, Tristan, que bom que chegaram! — Judy sorriu para os adolescentes, aparecendo atrás da atendente. — Rachel, pode levar esse casal para a mesa oito?
— Claro, Sra. Otinger. Podem me seguir? — Falou a mulher, acenando para os dois adolescentes, que assentiram com a cabeça.
Beatrice apenas passou a andar atrás da mulher, enviando um olhar indignado para a própria mãe e sentindo as mãos do loiro nas suas costas. Tristan observou o restaurante cheio e então procurou a mesa oito, que ficava em um canto separado ao lado esquerdo do local. A mesa se encontrava ao lado de uma grande janela e era composta por duas cadeiras, como se aquele espaço fosse próprio para um casal. Quando a atendente mostrou a mesa, Beatrice acenou em agradecimento e sorriu para a mulher, acomodando-se na cadeira e olhando pela janela, esperando que o loiro fizesse o mesmo.
— Nostalgia no sabor?
— Lema do restaurante. Comidas de receitas dos Otinger, sabe? — Suspirou. — O negócio da família.
— Então a Judy herdou este restaurante?
— Sim. — A morena sorriu ao olhar pelo local. — Era um caos. As mesas eram de uma madeira velha, que precisou ser restaurada. Não deu para salvar tudo, mas, apesar disso, foi possível manter a maioria das coisas. E ainda bem que conseguiram, porque tudo tem o seu valor histórico... A única coisa que eu fiz a minha mãe trocar foram as luzes, porque ninguém merece aquela luz branca de mercado.
— Entendi. — Tristan riu. — E planeja mudar alguma coisa no futuro?
— Como assim? — O olhou.
— Quando o restaurante for seu...
— Ah, isso. — A garota passou a mão pelo vestido, franzindo as sobrancelhas. — Não tenho certeza se quero o herdar. Se este restaurante cair nas minhas mãos ele vai à falência, porque eu sou um fracasso na cozinha.
A garota soltou um riso nervoso, passando a brincar com a toalha de mesa. O loiro levantou as sobrancelhas, parecendo um pouco arrependido de ter puxado o assunto e observou quando a morena afastou-se do encosto para poder tirar a jaqueta, apertando os lábios e lançando um olhar para o Dugray, checando a expressão sem graça em seu rosto. Beatrice apoiou-se sobre os cotovelos na mesa e então viu o garoto desviar o olhar para o telefone. Estava o deixando nervoso?
— Acho que eu pesei o clima... — A Otinger riu.
— Não esquenta, baixinha, a culpa foi minha. — A garota negou com a cabeça, vendo sua mãe andar na direção dos dois.
— Está tudo bem. — Deu de ombros. — E sobre você? Quando você herdar a...
— Com licença — Judy sorriu. — Decidiram o que vão comer?
— Olha mãe, sinceramente não estou com muita fome. Eu pensei em algo mais leve, então...
— Você precisa comer, Beatrice. — Sua mãe a repreendeu e a mais nova apenas levantou as sobrancelhas.
— E eu vou, só não estou faminta.
— Certo. — A Otinger mais velha concordou e olhou para o loiro. — E você, Tristan?
— Ah, bem, eu posso comer o mesmo que a Beatrice pedir. — Dugray olhou para a garota do outro lado da mesa.
— Esses adolescentes... — Judy negou com a cabeça e saiu da mesa.
— Mas eu nem pedi nada! — A mais nova falou um pouco mais alto para que a sua mãe ouvisse, mas foi completamente ignorada.
Tristan soltou um riso nasalado do outro lado da mesa e a morena o olhou chocada. Dugray tinha uma alegria aparente ao ver a relação mais pura entre mãe e filha, se perguntando se a energia caótica era pior quando não estava presente — O que era mais do que óbvio. Gostava da forma em que Beatrice se encontrava em um misto entre rir ou olhá-la indignada, sabendo que tinha uma mãe incrivelmente carinhosa e maluca, pois Judy Otinger era, certamente, uma peça.
— Quanta ignorância! — A garota ainda o encarava, parecendo segurar o riso.
— Agora eu sei que é de família. — O loiro provocou, vendo a garota levantar apenas uma sobrancelha e o seu queixo cair.
— Vou fazer com que ela tenha conhecimento desta fala ofensiva.
— Não me faça perder pontos com a minha sogrinha.
— Ela não é a sua...
— Ainda, Beatrice. — Tristan estampou seu rosto com um grande sorriso presunçoso. — E você sabe disso.
• ⭒ •
A janta estava sendo mais do que tranquila, era até como se fosse leve demais para um momento com Tristan Dugray. As conversas fluíam facilmente, como se estivesse em uma conversa normal com suas amigas, porém, Tristan sempre passava a lembrá-la que era ele, sempre soltando alguma piada de duplo sentido ou sendo incrivelmente direto sobre estar interessado nela. Beatrice sempre ficava em choque, procurando sua mãe com o olhar e certificando-se que a mulher não o ouvia, o que tirava algumas risadas do loiro. O único ponto em que a incomodava era a constante vontade de arrancar o telefone das mãos do garoto, visto que ele constantemente o espiava, provavelmente esperando alguma coisa.
Tristan estava feliz ao ver a forma com que Beatrice entrava na conversa, ou o respondia de imediato sobre assuntos que o garoto jamais imaginou que a garota teria conhecimento sobre. Nunca viu a garota sorrir tanto como sorria, e o melhor de tudo isso era que toda essa alegria era direcionada para ele. O loiro a olhava até demais, mesmo que inconscientemente, evitando até falar, pois seu carinho por aquela garota era assustadoramente gigantesco. Nunca viu como uma garota de apenas um e sessenta poderia guardar tamanha fofura, tanto ao mexer nas próprias roupas quando estava nervosa, como também ao ter seu rosto iluminado quando Judy trouxe seu prato favorito, que continha apenas um purê de batatas com óleo de coco, carne com cebola caramelizada e brócolis. Comparado com tudo o que a mulher servia, era tão simples que nem parecia ter no cardápio, mas Beatrice exibia um sorriso tão grande que com certeza cumpria com o lema do restaurante ao ver que a comida realmente era preparada com amor.
— Bea.
— Hm? — A garota o encarou.
— Eu disse que você está linda hoje?
— Eu acho que já. — Beatrice parou para pensar e então concordou com a cabeça. — Sim. Foi no momento em que estávamos saindo do seu carro e eu fui ajeitar o meu cabelo.
— Estraga prazeres. — Tristan negou com a cabeça, dando mais uma garfada em seguida.
— Idiota. — Ela sorriu.
— E o que está achando do encontro? — Beatrice arregalou os olhos, estavam agindo tão naturalmente que havia esquecido que era um encontro. — Não precisa falar mais nada.
— Não se ache tanto. — Beatrice franziu as sobrancelhas, vendo quando o garoto olhou para o telefone mais uma vez e então voltou a olhá-la nos olhos. — E você? Está entediado?
— Jamais.
— Então por que está tão entretido no seu telefone?
— Uau, Beatrice, isso é ciúmes? — Ele arregalou os olhos.
— O quê? Não!
— Certo. — O loiro debochou.
— Estou falando sério!
— Eu sei. — Respondeu ironicamente, ouvindo a garota bufar.
Passaram muito tempo no Otinger's Origin, acontece que, independentemente das pequenas intrigas, foi um encontro agradável. Tristan parecia feliz e, Beatrice, ainda que não demonstrasse tanto, também não conseguia conter o sorriso em diversos momentos. Apesar de irritada com as suas gracinhas ou afirmações sobre estar com ciúmes, voltou-se ao seu prato e terminou de comer, ignorando todas as provocações do loiro. Foi às nove horas, quando o restaurante fechou, que resolveram voltar para a casa. Ficaram na frente do estabelecimento e esperaram a Judy, enquanto Beatrice respondia com "Não, está tudo bem." a todas as perguntas do loiro sobre estar com frio.
— Certeza? — Tristan a perguntou.
— Absoluta.
— Tudo bem... — Concluiu, olhando para o céu escuro sobre suas cabeças. — E eu posso te abraçar ou a Judy não pode ver isso também?
Os dois ficaram em silêncio quando a garota lançou um olhar entediado e o garoto colocou as mãos no bolso da calça. Ainda que estivesse olhando para o chão, Beatrice tinha um pequeno sorriso no rosto, feliz porque sua noite foi melhor do que esperava, inclusive, melhor do que havia planejado ao ficar sozinha. Tristan observava o sorriso pelo canto dos olhos, afinal, quando se tratava dela, não conseguia prestar atenção em mais nada.
— Beatrice? — Sua mãe apareceu, trancando a porta do estabelecimento. — Com quem você vai?
— Com você, mãe.
— Para ser bem sincera achei que vocês dois já tivessem ido, para ganhar tempo... sabe...
— Não. — Beatrice negou de imediato, olhando para a mais velha com uma sobrancelha levantada.
— Tudo bem. — A mulher deu de ombros. — Não se preocupe, Tristan, ela logo vai admitir que gosta de você.
— Me dá essa chave logo. — A garota falou irritada para a mãe, que riu e a entregou a chave.
— Bem, então tchau Judy. — O loiro abraçou a mais velha e então olhou para a Otinger mais nova, se aproximando com um sorriso divertido e a abraçando também. — Tchau, Bea.
— Tchau. — Falou e desvencilhou do abraço, quase que correndo em direção ao carro da mãe.
— Obrigada, Tristan. — A mulher sorriu e o loiro concordou com a cabeça.
— Até mais, sogrinha.
• ⭒ •
— Estou feliz que você está se soltando mais. — Judy falou para a filha assim que destrancou a porta de casa. — Honestamente, não imaginei que você realmente apareceria no restaurante.
— É, eu também não. — A garota cruzou os braços.
— Como assim? — Perguntou assim que as duas entraram em casa. — Você não queria ir?
— Não sei ao certo. — Falou a mais nova, agora fechando a porta.
— Como não sabe, Beatrice? — A mulher perguntou com a confusão evidente em seu rosto.
— Só não sei mãe. Ainda estou confusa...
— Então termine. — A Otinger mais velha deu de ombros e Beatrice arregalou os olhos.
— Terminar o quê?
— Termine com ele.
— Não temos nada para terminar. — Beatrice falou, franzindo as sobrancelhas.
— Bom, então pare de vê-lo, fale que não vai dar em nada.
— Por que eu faria isso?
— Não é o que você sempre fez com ele? — Judy falou, entrando na cozinha e sendo seguida pela mais nova.
— Não!? — Falou indignada.
— Mas tentou.
— Eu não tentei...
— Duvido. — Ouviu a mais velha falar e sua paciência chegou ao limite.
— Você duvida? O que é isso? Vamos apostar também? — A garota levantou a voz.
— Eu aposto que não consegue terminar com ele.
— Não somos crianças, esse assunto tem mais peso do que isso. Não vou fazer uma aposta idiota sobre uma pessoa.
Então Beatrice ouviu sua mãe rir, ainda de costas para a mais nova. A garota jamais sentiu aquilo pela sua mãe: raiva. Por que ela estava falando desse jeito sobre esse assunto? Estava tratando tudo aquilo como uma piada? Algo descartável, que ela jamais poderia fazer. Aquilo a enfureceu. O que havia acontecido com a sua mãe? Aquela com certeza jamais seria Judy Otinger, porque sua mãe jamais falaria daquela forma sobre alguém.
— Você está achando isso engraçado? Brincar com as pessoas...
— Certamente não, Bea. — Ela virou-se e a olhou nos olhos. — Por que está tão brava?
— O quê? Como não estaria brava? Está tratando tudo isso como se não fosse nada!
— Você acabou de me dizer que não há nada.
— Mas você fala como se Tristan Dugray não fosse nada. — Beatrice viu o momento em que a mulher sorriu e levantou as sobrancelhas.
— E daí? — Judy franziu as sobrancelhas, aumentando seu sorriso.
— Ele é um ser humano com sentimentos!
— E desde quando você se importa? — Beatrice olhou para a mulher com os olhos arregalados e boquiaberta. Sua expressão de ódio foi sumindo aos poucos, dando lugar para uma expressão chocada e, então, a garota compreendeu. — Ainda está confusa?
— Você não presta. — Suspirou, acariciando a própria testa. — E se você quer saber, não acho que isso vai dar em algo, Tristan estava claramente mais entretido no telefone do que na janta.
— Meu Deus, você está com ciúmes?
— Eu não estou! — Bufou. — Só estou falando, ele tem vários contatos de garotas no seu telefone, não seria difícil ele estar falando com alguma delas.
— Você está morrendo de ciúmes! — Sua mãe tinha uma expressão de choque enquanto ria, como se aquilo fosse cômico. — Acho que você está apaixonada!
— Eu volto a discutir quando você voltar ao normal. — A garota olhou pela última vez para a mãe antes de subir as escadas em direção ao seu quarto.
— Pare de agir como se eu estivesse bêbada!
"I don't know what to tell ya
Maybe I never knew
Not tryna make you jealous
But it looks so good on you"
FOR CRYIN' OUT LOUD! - FINNEAS
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