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Perambulava pelos corredores como se isso fosse aliviar seu tédio. Honestamente, não queria voltar para a sala onde o Clube de Xadrez estava, ainda mais enquanto tinha duas pessoas em sua mente. A garota havia se aproximado demais dos dois loiros, mesmo que sem querer. Isso acabou virando sua vida de ponta cabeça, ao finalmente ter resquícios de empatia pelos seus novos interesses os quais acabou mantendo por perto inconscientemente.
O cabelo loiro voou aos passos ligeiros da garota à sua frente. Beatrice piscou algumas vezes, incrédula com a presença da Geller naquela tarde. Como nunca a notou por ali? E o que ela fazia durante as tardes? Mordeu o lábio, começando a segui-lá. Talvez não fosse a escolha mais apropriada, mas estava curiosa demais para deixar que os seus pensamentos a parassem - ou curiosa demais para saber o que Paris Geller passava em seu cabelo, porque ele estava brilhando mais do que as luzes do colégio.
— Por que a pressa? — Perguntou andando no mesmo ritmo.
— Bea? — A loira parou de repente, voltando-se para a morena. — Aonde está indo?
— Estou seguindo você. — Confessou enquanto dava de ombros. — Aonde você está indo?
— Para a biblioteca.
— Biblioteca?
— Sim. Estou procurando informações para o jornal do colégio. — Ela sorriu. — Também participo do Clube da Leitura das segundas a quintas, e de vez em quando tento alguns artesanatos. Meu terapeuta disse que me faria bem. Ontem aprendi a fazer um origami e seria o que eu faria na sexta-feira, mas pensando bem... não sei se quero ficar em casa.
Beatrice ficou parada, digerindo as informações jogadas de forma tão natural pela loira à sua frente. Sua única reação foi franzir as sobrancelhas, afinal, essa garota era multitarefas ou só maluca? A Geller tinha um sorriso no rosto; um sorriso que quebrava o seu coração. Não deveria ter ficado surpresa... não quando sabia que Paris Geller tinha uma cobrança excessiva sobre si mesma. Na verdade, não quando os estudos foram a única coisa em que a loira tinha.
— E você? — Paris perguntou. — O que estava fazendo?
— Ah, bem, eu estava no Clube de Xadrez, que eu sempre participo nas segundas, quartas e sextas... — A morena falou constrangida.
— E acabou? — A Geller demonstrava uma curiosidade genuína.
— Sim. — Mentiu. Não contaria para alguém tão esforçado quanto Paris que estava fugindo do clube.
— Ótimo! — Ela exclamou. — Então você pode me ajudar!
— Não sei ao certo... — Beatrice comentou, mas a loira já havia segurado sua mão, puxando ela pelos corredores.
— Bem, espero que não se importe com o Michael que está na sala. Sei que você não gosta muito de garotos, mas tem dias que ele fica na dele. Não deve o conhecer, ele gosta de ficar meio isolado.
— Conheço o Michael, Paris. — Beatrice mordeu o interior da bochecha. — O que é isso? Estamos prestes a montar o "Clube dos Introvertidos" ou coisa do tipo?
— Isso é interessante. — Ela riu. — Nunca imaginei que fosse o conhecer, apesar dele conhecer muito daqui. Talvez isso seja algo em comum entre vocês dois.
— Não sei. Confesso ser ignorante à vida alheia. — Foi o que a Otinger disse, recebendo um olhar irônico da loira. — É, eu sei que comecei a me interessar pela sua vida, mas isso foi por pura preocupação. Não tenho que me preocupar com nenhuma outra vida.
— Nem precisava se preocupar com a minha, mas, no fim, isso nos tornou amigas.
Beatrice a encarou pensativa. De fato, passou a se importar pela vida da Geller e isso acabou as aproximando. Tristan também começou a se interessar pela vida da morena e isso acabou os... bem, aproximando. A capacidade do Dugray em a deixar constrangida, mesmo que em seus próprios pensamentos, era insana. Sua mente estava gritando no mesmo momento para que parasse de ficar pensando nessas coisas, mas pensar em se reunir na mesma sala em que Michael a deixava nervosa, afinal, não o via desde aquele acontecimento.
— Mas você começou a agir estranho. — A morena retrucou.
— E como teve certeza de que eu estava agindo estranho? — A garota olhou para os armários ao longo dos corredores, bufando.
— Tem razão. Eu sou muito curiosa, satisfeita?
— Não. Acho que você é uma pessoa preocupada mesmo. Gosto disso em você.
— Oi?
— Não me faça repetir, Otinger. Não estou com tempo.
— É muito difícil admitir que sou uma amiga incrível? — Aonde foi que Beatrice havia arranjado tanta confiança e intimidade? Não se sabe. Independentemente disso, elas haviam sumido com a fala seguinte:
— Meu Deus, o beijo do Tristan deve ser contagioso!
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Se arrependeu de seguir Paris no momento em que pisou na biblioteca, afinal, evitava o lugar desde sua última visita ao melhor amigo do Tristan. O cômodo estava um caos, que, se tratando da biblioteca, até que era comum. A morena até sentia um certo medo de estar no corpo do Michael e ter que flagrar a quantidade de adolescentes que certamente não apareciam somente para ler.
A loira soltou sua mão e virou-se com um sorriso grandioso, um sorriso que fazia Beatrice se questionar do quanto a garota conseguiu esconder esse peso que sentia desde a infância. Se culpava mais uma vez por pensar nisso, ainda mais quando pediu desculpas e tentou se convencer a parar de se intrometer. Porém, era difícil esquecer das confissões da Geller e olhar para o seu rosto a fazia imaginar os rostos dos seus pais com aquele ambiente desconfortável que presenciou no restaurante. Honestamente, Beatrice Mary Otinger jamais pensou se importar tanto com Paris Geller, e não podia culpar ninguém... não quando sua vida passou a ser cinco vezes mais interessante e vívida na presença dos dois loiros.
Estava, agora, parada em frente a uma estante. Não sabia exatamente o que procurar, enquanto Paris havia encontrado diversas informações sobre datas comemorativas relacionadas ao colégio. Era de se admirar seu talento, principalmente enquanto os únicos livros que a Otinger gostava de ler eram sobre romance e fantasia. Paris estava tão concentrada nos seus livros, que Beatrice realmente não conseguiria parar de admirá-la. A forma com que parecia tão despreocupada fazendo aquilo, aliviava a mente de Beatrice ao pensar que, pelo menos nesses momentos, Paris tinha algum conforto.
— Você está ficando cada vez mais rebelde. — Ouviu enquanto sua mochila era estendida na sua frente. — Terei que fazer outra ligação para a minha sogra.
— O que está fazendo com a minha mochila? — Falou, puxando o objeto das mãos do loiro e voltando-se para o lado, onde o garoto se encontrava.
— O que você acha que eu estou fazendo com a sua mochila? — Levantou uma sobrancelha, vendo a baixinha alisar a saia completamente nervosa. — Resolvi passar para te ver, mas fui avisado de que você saiu e não voltou para a sala por cerca de uns vinte minutos atrás.
— Eu não queria mais jogar. — Disse, deixando sua saia para mexer nas próprias unhas. — Então resolvi sair para tomar um ar.
— Na biblioteca?
— Sim, na biblioteca. — A garota bufou.
— Certo. — Beatrice se segurou para não o xingar pelo seu tom irônico.
— Escuta... — Levantou a cabeça e o olhou nos olhos pela primeira vez naquele dia. — Não quero que a Paris saiba que eu faltei ao clube para estar aqui.
— Porque, de fato, é um grande ato de rebeldia. — Ele concordou com um sorriso divertido nos lábios.
— Porque ela consegue fazer de tudo ao mesmo tempo e eu mal aguento uma tarde no Clube de Xadrez.
— Você é tão perfeita para precisar arranjar uma insegurança tão boba quanto essa ou está brincando? — Tristan cruzou os braços.
— Estou falando sério. Paris vai pensar que eu sou uma idiota.
— Sabe o que eu penso? — A garota inclinou a cabeça para o lado. — Que você está me devendo muito desde a última vez que estivemos juntos nessa biblioteca.
— Não estou te devendo nada, eu nem apostei.
— Você é tão cruel que decide me rejeitar com o meu coração em jogo? — Ele a perguntou, apoiando seus braços na estante atrás da garota.
— Não seja dramático. Não tenho paciência e não quero discutir.
— Eu sei — Tristan levantou seu queixo. —, e isso te deixa incrivelmente linda.
Seria estúpido de sua parte pensar que não estava ficando vermelha. Na verdade, já se imaginava com a cor de um tomate. Ele estava perto demais, querendo cobrar tudo da sua última "aposta", que só se encontrava de pé porque Tristan Dugray usava o argumento de que a garota não havia negado em momento algum seus pedidos. Se perguntou o que faria para o responder à altura, mas tratando-se do Dugray, sua maior tortura era o silêncio. Foi isso o que fez. Tentou manter sua expressão completamente neutra ao tirar a mão do seu queixo e virar-se para sair do meio das estantes, onde andou até Paris, que parecia alheia ao mundo ao seu redor. Se o jogo do loiro era deixá-la desconcertada, o ignoraria.
Michael não havia trocado uma palavra com a de cabelos pretos desde que a mesma pôs os pés na biblioteca, mas pouco importava. Já estava claro que o moreno entendia mais da relação dos dois e, honestamente, preferia que ele ficasse calado, afinal, os dois loiros já haviam a constrangido por si só. Tristan abriu um grande sorriso enquanto a seguia, parecendo conhecer este jogo, pois todas as vezes que Beatrice resolvia ignorá-lo, ele sempre conseguia sua atenção de volta. A Geller, então, levantou sua cabeça para olhar o casal se aproximando, mas a Otinger já havia a encarado antes mesmo que pudesse dar início a qualquer frase.
— Acho que já está na hora de ir. — Dugray avisou, estendendo o braço e o apoiando sobre os ombros da morena, a puxando para mais perto.
Sentiu raiva não só pelas provocações, mas por sempre reagir a elas das piores formas. Tristan sabia do seu efeito ao sentir os ombros rígidos da baixinha. Não admitiria isso em voz alta, mas naquele momento, ao julgar pela aparência, sentiu que os dois pareciam com um verdadeiro casal. No fim, o que mais a assustava era o fato de não saber se gostava ou não daquele frio na barriga e da sensação confortável que Tristan trazia. Era irônico o evitar mas estranhamente gostar de ter ele por perto. Se a própria morena achava seus sentimentos confusos, não conseguia nem imaginar o que o loiro achava dela.
Analisando a situação de fora, era cada vez mais óbvio que Dugray não gostava apenas da beleza de Beatrice, pois seus sentimentos estavam escancarados para qualquer um reparar na forma carinhosa que o garoto a olhava. Porém, para a de cabelos pretos, nada estava claro ou definido, principalmente por Tristan Dugray ser o primeiro e único que a olhava desta forma. Paciência era o que não faltava ao loiro, principalmente por compreender que há alguns meses atrás, ela mal saía de casa. Cheirou os cabelos da baixinha e sentiu a mão gelada ser colocada acima da sua, não para tirá-la, mas sim como um gesto automático. Ainda que Beatrice Mary Otinger tivesse suas dúvidas, Tristan tinha a completa certeza de que se o afeto era o que a faltava, ele lhe daria todo o carinho que tinha.
"But I've been overseas
And I've been havin' dreams
L'amour de ma vie
Love so bittersweet, mm"
BITTERSUITE - BILLIE EILISH
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