»009
Beatrice encontrava-se deitada de barriga para cima no chão da biblioteca. Sua cabeça estava apoiada na mochila enquanto folheava um livro aleatório, achado no meio do caos que se encontrava a sala.
— Truco! — Tristan gritou, batendo na mesa logo à sua frente.
O jogo de cartas foi divertido, nas primeiras horas. Eram apenas seis horas da tarde e continuava trancada com dois malucos. Dugray acabou ganhando mais uma vez no jogo, dessa vez com um quatro de copas, por culpa de um blefe.
— Sua vez. — O loiro avisou para a garota, que apenas deitou de lado fechando os olhos.
— Não quero mais jogar. — Respondeu.
Pela primeira vez naquela tarde, o local ficou em total silêncio. Beatrice até ficaria assustada, se não estivesse entediada ao ponto de esquecer tudo ao seu redor.
Tristan Dugray observou a garota deitada não muito longe de onde estava sentado. Os tênis pretos, a calça jeans larga e a blusa de lã verde escura. Bea abriu um dos olhos ao ponto de flagrar o garoto a avaliando.
Dugray levantou-se, andando até a baixinha e sentando ao seu lado. Os cabelos pretos mais uma vez se encontravam presos, fazendo o rosto da garota ficar mais aparente.
— Vai ficar me encarando? — Perguntou ainda deitada.
— Quantas partidas eu ganhei?
— Não faço ideia. Perdi a conta.
— Então você vai ter que me dar incontáveis beijos. — O loiro falou, ajeitando a franja da garota, caída em seu olho.
A mesma não o respondeu. Ignorou a mão do mais alto no seu cabelo, logo sentindo os fios pretos serem libertados. Encarou o seu elástico de cabelo, que agora encontrava-se no pulso do garoto.
— Vocês estão com fome? — Michael perguntou de repente.
— Muita. — Tristan respondeu.
— Você busca o lanche então? Pode até ensinar para a nova encrenqueira como que faz.
— Eu não vou sair daqui e vocês também não deveriam. — Beatrice defendeu-se. — Quem sabe o que pode acontecer se eles te pegarem?
— Medrosa. — Dugray provocou. — Vou pegar o que eu achar.
Então o loiro saiu pela porta. Beatrice franziu as sobrancelhas, observando a saída por um tempo. Logo sua atenção foi tomada pelo moreno, que continuava apoiado na mesa enquanto desenhava algo aleatório em seu caderno.
— Como me conhece?
— Você é direta.
— Não enrole. Como me conhece? — Repetiu a pergunta impacientemente.
— De um dia de detenção. — Michael deu de ombros.
— O quê? Você sabe que é a minha primeira detenção.
— Sim. Só que não é a minha primeira. Olha eu não sei se eu posso... — O garoto olhou para Beatrice que tinha uma expressão não muito agradável no rosto. — Ah, que seja. Eu estava na detenção com o Tristan, teríamos que ficar até tarde marcando o placar de um jogo... de xadrez.
— E é por isso? — A garota perguntou durante a pausa.
— Tristan viu você entrando e falou algo sobre ser uma garota quieta da sala dele. Eu ignorei, já que eu nunca vi um garoto tão galinha. Então ele ficou te encarando a partida inteira, fiquei até com medo. No outro dia em que cumpriríamos detenção de novo, ele falou que tentou conversar com você e foi abandonado falando sozinho.
— Ele me chamou de Mary, então eu corrigi ele. Aí ele continuou me chamando de Mary, mesmo que eu corrigisse. Então eu saí andando e ele começou a rir como um idiota. — Otinger se defendeu.
— Óbvio, é o Tristan. Aí eu quis tirar vocês da sala, porque eu não aguento mais ficar sobrando, mas você é teimosa e eu não quero discutir com ninguém hoje.
— Já entendi que o Dugray não é o único idiota.
Nessa hora, Tristan entrou rápido na sala, estava ofegante ao mesmo tempo que parecia segurar a risada. Correu até Beatrice, puxando as mãos da mesma para a levantar e guardando três potes descartáveis em sua mochila, notando a câmera guardada em uma capa e franzindo as sobrancelhas. Os passos do lado de fora logo o tiraram do seu transe.
— A boa notícia é que eu consegui lanches. A ruim é que o diretor está vindo.
Michael arregalou os olhos, correndo para fingir fazer a tarefa e o loiro ameaçou fazer o mesmo. Porém, quando notou, Bea continuava parada em pura confusão.
Tristan Dugray agarrou as mãos de Beatrice e a puxou para trás de uma das estantes. O mesmo então trouxe uma grande pilha de livros, a aproximando da baixinha.
— Finge que está organizando. — Sussurrou ao ouvir a porta ser aberta.
Beatrice foi rápida ao pegar um livro e virar de costas para o garoto. Teve que ficar nas pontas dos pés para alcançar a prateleira, então o loiro riu, puxando o livro de sua mão e colocando o objeto no lugar certo.
— Isso que dá ter um metro e doze de altura.
O diretor logo parou perto dos dois, fazendo a garota deixar sua lista de xingamentos de lado e pegar um dos livros da pilha.
— Dugray, ouvi dizer que estava nos corredores do colégio.
— Não sei do que está falando, senhor. Eu estou bem aqui. — Deu de ombros.
— Sei. — O homem negou com a cabeça. — Na próxima vez é melhor não correr nos corredores.
O homem, tão rápido quanto apareceu, sumiu do campo de visão dos adolescentes. Quando a porta foi fechada, Tristan se jogou no chão rindo e Michael fez o mesmo. O nervosismo de Beatrice continuava.
— Do que estão rindo?
— Ele nem liga mais. — O loiro sorriu para a morena.
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— Te vejo terça... na detenção. — Michael falou pra o loiro. — Tchau casal problema! — Despediu-se, saindo correndo na direção oposta dos dois.
— Idiota. — Beatrice murmurou antes de andar na frente do Dugray.
— Até que foi divertido. — O garoto falou, enfiando as mãos no bolso da calça. — Mas você ainda está me devendo uns beijinhos.
— Calado você é um poeta. — Soltou, notando pelo canto dos olhos o elástico no pulso do loiro. — Isso é meu!
— Só devolvo quando eu ganhar meu prêmio.
— Eu não concordei com nada disso. Acredito que você já está bem grandinho para saber que não é assim que se faz um acordo.
— Vai querer carona? — A ignorou, irritando a mais baixa e o garoto logo puxou sua mochila para ele. — Por que você traz uma câmera para o colégio?
Beatrice mordeu seus lábios para segurar seu impulso em gritar com o loiro. Suas bochechas já estavam vermelhas de raiva, fazendo o mesmo achar graça da situação.
— Não é da sua conta.
Os dois já se encontravam do lado de fora do colégio, quando Otinger tentou puxar os seus materiais de volta. O mesmo ao ver a morena avançar, desviou a mochila para as suas costas, fazendo com que as mãos da garota batessem em seu peito.
Tristan soltou uma risada alta e a mesma o deu um empurrão suspirando derrotada. Os dois paralisaram ao ouvir uma buzina. Para a surpresa — ou infelicidade — de Beatrice, sua mãe se encontrava dentro do carro olhando para os dois.
Nesse momento o garoto já caminhava em direção ao veículo com um grande sorriso. A morena se apressou para alcançar o mais alto, que já iniciava uma divertida conversa com a sua mãe. Judy abraçava o loiro com um grande sorriso. Beatrice se perguntou quando foi que os dois haviam se conhecido.
Foi aí que a ficha caiu. Era óbvio, provavelmente todos os seus pais estudavam juntos e isso explicava o porquê Tristan e Paris eram amigos de infância.
— Já está maior que eu! — A Otinger mais velha sorriu com a presença do garoto.
— Não é muito difícil. — O garoto brincou.
A baixinha parou ao lado de Tristan, que passou os braços pelos seus ombros, a abraçando. Nesse ponto, a morena já escondia seu rosto entre as suas mãos.
— Bem... vai querer carona?
— Que nada, Judy! Eu estou de carro.
— Você já dirige? — A mulher perguntou surpresa. — Que bom! Pode até dar uma carona para a Bea às vezes.
— Não precisa mãe... — Beatrice falou, pela primeira vez na conversa.
Judy percebeu o clima entre os dois. Ver sua filha desse jeito a fez franzir as sobrancelhas para o adolescente.
— Tristan Dugray! — A mulher repreendeu o loiro com um sorriso divertido. — Você é o menino que fica importunando a minha filha?
"I've been sleeping in a cardboard box
Spending every dollar at the liquor shop
And even though I know I haven't got a lot
I'll try to give you love until the day you drop"
THE BIDDING - TALLY HALL
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