PRÓLOGO
meus olhos serão seus olhos

          SUAS PÁLPEBRAS SE APERTARAM, TENTANDO ENFRENTAR A LUZ amarelada que ofuscava a nitidez dos detalhes ao entorno, mas ainda assim, conseguiu espaço para apoiar as mãos no solo frio sobre o qual se encontrava, recobrando os sentidos vagamente. Serena sacudiu a cabeça, os cabelos grudados em sua testa suada, seu corpo se curvou para ver o amontoado de pedras ao redor, como se estivesse dentro de uma caverna. Tudo o que se lembrava era da forte pancada que levara e do seu corpo sendo jogado dentro do porta-malas de um carro, as coisas estavam bastante confusas agora, até que sentiu o mal se aproximando lentamente, como um peso em sua coluna.

Ouvindo o som de botas estalando pelo chão, as quais paralisaram a sua frente, inclinou seus olhos cuidadosamente para cima, se deparando com Sheila que, esboçou aquele mesmo sorriso de antes e manteve seu semblante irônico inabalável. "Foi ela não, foi?", era tudo o que se passava por sua cabeça, mas a ficha demoraria a cair mais um pouco, especialmente porque não conseguia entender seus motivos tão peculiares para fazer aquilo.

── Ai, quanto drama! ── revirou os olhos, bastante centrada, enquanto a via cuspir uma quantidade considerável de sangue ── Ele vai chegar logo... Não se preocupe!

── Sheila... Onde eu tô? ──  a loira questionou fraco, limpando o canto dos lábios.

──  É parecido com o inferno, não concorda? Mas isso faz diferença pra você? ──  e se abaixou para analisá-la melhor, se divertindo com toda a situação ──  Vai ser interessante te esclarecer algumas coisas, Serena... Não! Não se levante. Você não vai conseguir escapar até ele chegar...

── Ele? ── seu cérebro estava tão nublado quanto o céu ao lado de fora naquele instante, como se uma nuvem negra cobrisse Shadyside.

── Eu não acreditei que você seria capaz de trair a sua família... Ah, desculpa! O seu pai ainda não deve ter te contado, tô certa? ── seu semblante transmitiu uma sensação de compaixão falsa que desmanchou-se em um limpar de lágrimas irônico.

── C-Contado o quê? ── buscava puxar todo o ar do fundo de seu pulmão, enfrentando dificuldade, inclusive, em se comunicar ──  D-Do que cê tá falando? Cadê a Blair?... ── tossiu rapidamente.

── Você sabe por que eu vim parar aqui? Nesse buraco repleto de merda que é Shadyside? ──  a mulher cerrou os punhos e pausou as palavras, como se quisesse causar um suspense ainda maior, se considerando a estrela do espetáculo que havia montado.

Ena apenas tentava achar uma saída, nem que fosse um mísero buraco, contudo aparentemente o escuro após as imensas pedras unidas entre si, tornava-se inevitavelmente maior e inacessível. Os corredores pareciam dar em lugar nenhum. Ela não temia que a morena a matasse, não... Na verdade, o seu grande medo era não ter a chance de retornar para ver Kate.

──  É claro que a minha vida não deve te interessar nenhum pouco... Mas, eu não ligo! Vou te contar tudo mesmo assim. E você vai ter que me ouvir! ── se ajeitou no chão, cruzando as pernas, feito uma criança inconsequente. Os olhos queimando em lágrimas, um estado de espírito duvidoso ── Porque, afinal de contas, eu amo falar sobre mim!...  ── sorriu acelerado, o peito inflado, parecia uma canção perturbadora ao fundo  ──  Você, com certeza, nem se lembra dos jantares luxuosos que eu participava na casa do frouxo do seu tio Will, com a sua falsa família rica... É claro! Como se lembraria? Eu sempre ficava em segundo plano. Foi assim nas festas, nos lugares em que eu tentava conquistar, na vida do Will... Só que aí eu cansei de ser a outra, percebi que o covarde do prefeito nunca me daria tudo o que merecia. Então eu, eu descobri um segredinho bastante curioso dos Goode por meio dele... E, embora eu não goste de me gabar, essa foi a coisa mais esperta que fiz em anos! Tá sendo o começo de uma nova vida... É, arrasei! Palmas pra mim!  ── mas ela foi a única que se aplaudiu ── O seu pai, ele é capaz de qualquer coisa pra segurar esse segredo. Então, ele teve que me aguentar... Somos praticamente carne e unha agora. Você não acha que eu sou um gênio?!

── Eu não sei que porra de segredo é esse... Mas você não vai se dar bem. Eu garanto! ── a loira cuspiu em seu rosto e Sheila trincou os dentes, nervosa. As têmporas saltando pelas laterais de sua cabeça, se lembrando da vez em que Frankie fizera o mesmo consigo em setenta e oito.

── Você não vai achar isso quando eu ocupar o lugar da vadia da sua mãe naquela casa! ──  e apertou o queixo de Ena, lhe provocando. A qual a empurrou na sequência, porém sem êxito, a morena apenas cambaleou de leve, se levantando tranquilamente, era injusto medir forças com alguém que havia acabado de acordar de um desmaio profundo como aquele.

── O que cê quer comigo? E com a minha mãe?... Onde ela tá?! ── as perguntas soaram secas.

Algo despencou pelo solo acima de onde estavam, causando um estrondo infernal. Sim, porque a jovem notou que se encontravam num ambiente subterrâneo. O que provocou um desespero ainda maior em seu âmago, pois o barulho era semelhante ao de um vidro se partindo ao meio ou um vaso rachando com o impacto. Logo em seguida, som de passos apressados alfinetando a madeira sobre elas e indo de encontro a onde estavam, reverberou em todo lugar. Em sua cabeça aquilo significava que já que de alguma forma havia alguém ali em cima, portanto também existia uma chance considerável de fugir e se salvar. E foi nisso que se agarrou com total esperança.

── SOCORRO!! AQUI EM BAIXO! SOCORRO!... ── aumentou o tom, anseando abrir espaço entre Sheila e começar a correr com o pouco de força que lhe restava... mas não foi como aconteceu. ── ME AJUD... ──  ela foi interrompida e sua voz se calou por conta de um soco forte e certeiro o suficiente na sequência, o qual levou da mais alta, a fazendo cair novamente no chão.

Em cerca de segundos, a pessoa bem intencionada e prestativa que a sunnyvale mais velha demonstrara ser, se transformou num ser sem escrúpulos e impiedoso. Suas unhas estavam manchadas de sangue agora, a chama das velas refletindo em seus olhos a fazendo parecer ainda mais demoníaca. Serena se arrastou, seu nariz ensanguentado por conta da lesão, escorrendo sem parar, ela o tocou com as pontas de seus dedos e os flexionou contra as pedras outra vez, deslizando na direção contrária da mulher, buscando forças. Seu queixo se levantou sutilmente e as pupilas azuladas paralisaram sobre uma espécie de gosma negra envolvendo um órgão humano pulsando frequentemente entre as sombras, talvez fosse um coração, não sabia ao certo. Moscas varejeiras voavam desordenadas em volta dele. Provavelmente estava delirando, ouvindo vozes incertas, vendo coisas.

Quando quase que por um impulso, num intuíto de se salvar junto de sua indômita curiosidade e o desespero, pôs seu indicador sobre a vícera palpitante e asquerosa, sentindo as batidas crescerem. Um vento se apoderou de seu corpo, o fazendo se contorcer por dentro. Um flash de cenas desconexas a artomentou, ligeiro o suficiente para raciocinar, se sentiu indo embora aos poucos, como se sua mente a estivesse deixando involuntariamente agora.

── Veja, é você, você precisa ver, veja!! ── a mesma voz que ouvira na floresta ecoou dentro de si.

Por um instante, uma lágrima rolou e, pareceu entender absolutamente tudo. Uma luz branca a atingiu, mas o sangue continuou ali, em seus dedos. Serena se perguntava em seu subconsciente onde estava, enquanto que diante dos olhos de Sheila, sua cabeça tombou, desacordada.

Entretanto, de alguma maneira, ela não era a única que estava tendo aquelas visões. Do outro lado da cidade, o plano havia continuado, embora Kate ainda muito desesperada e extremamente irritada, Deena seguiu com seu carro até a rodovia entre Shadyside e Sunnyvale, com seu irmão Josh no banco do passageiro e a amiga no banco detrás. Quando desceu, se aproximou da cova de Sarah Fier, estar mais uma vez naquela floresta lhe provocou arrepios. Quando desenterrou os ossos, abrindo espaço no musgo fofo novamente, seus olhos presenciaram a jaqueta de Peter antes posta ali, se abrir com seu toque trêmulo, revelando os restos mortais da bruxa. No entanto, Johnson agora tinha um trunfo contra a mesma, se sentindo orgulhosa, mesmo que o ar lhe faltasse entre um arfar e o outro. Ela estava com a coisa entre os dedos, o que foi deixado para trás em setenta e oito, a mão amaldiçoada de Sarah Fier, enterrada na árvore da forca tempos atrás. Os irmãos a resgataram, enquanto o resto do grupo ficou concentrado no shopping. O suficiente para derrotar a maldição, quis acreditar. Deena sabia que dependia unicamente dela, salvar Sam e Serena. Então a uniu com o resto dos ossos de uma vez por todas, um sussurro horripilante chacoalhou o galho das árvores e seus olhos paralisaram sobre um ponto no vazio, o som de moscas rondando ao entorno de seu ouvido fez com que a cacheada sentisse aquela onda de energia forte o suficiente para congelar o bombear de suas veias, ruindo em sua mente.

Sarah Fier não tinha parado, e o que quer que houvesse começado, também não havia acabado.

₍ 001 ₎  O PRÓLOGO FOI
REPOSTADO!! Não, isso
não é um treinamento.
Espero que tenham gostado!
Nossa Ena a caminho de vê
toda a verdade. Escrevi
esse capítulo com todo
amor p vcs!! ♡♡♡

₍  002 ₎  Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do cap
aqui!

₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡