CAPÍTULO DOIS
a pegadinha terminou em morte?

                    SERENA SEGUIU SIMON ATÉ A VARANDA, os olhos fixos na grama, havia um garoto sentado ali, fumando o que devia ser, na certa, seu quinto cigarro só àquela noite.

──  Aí, se liga, aquele ali é o Leo, faz quase um mês que ele tá me devendo uma grana preta. Ele diz que tá na merda, mas eu não acredito. Aposto que deve tá com alguns trocados no bolso detrás da calça, perto daquela bunda gorda dele!... Se conseguir o dinheiro que preciso, sua dívida comigo tá paga!  ──  sorriu, apoiando seu braço sobre o ombro esquerdo dela, que rapidamente o afastou.

──  Eu nem conheço esse cara!  ──  reclamou, um tanto nervosa.

──  Então vai lá e diz "oi!", acho que é uma ótima maneira de se conhecer alguém!  ──  Kate surgiu logo atrás, com um sorriso cínico.

──  Tá, que seja...  ──  suspirou  ──  Então essa é a sensação de fazer um pacto com o diabo? Não tem como fugir, né? Dá última vez que isso aconteceu, a bruxa deixou vocês na merda!

──  Aí, nossa, eu tô com tanto medo do feitiço fodido que você vai lançar!... Já temos até o virgem que vai acender a vela pra você, olha só!  ──  e apontou para Simon, que prontamente se ofendeu.

──  Ei!  ──  reclamou.

──  Idiotas!  ──  a loira revirou os olhos e avançou sobre a escada que dava até o quintal.

Próximo a uma árvore, ao lado da cerca branca, Leonel Franklin encarava a lua prateada em meio a brisa fresca da madrugada, sua pele negra e seus cabelos encaracolados brilhavam sob aquela luz intensa. A fumaça branca do cigarro gasto passeando por seus lábios avermelhados e se perdendo na escuridão, tal como sua vontade de ir embora, a fascinou completamente, ou quem sabe fosse apenas seu jeito despretensioso de ser.
"E, que lábios!", ela pensou.

──  Quer um?  ──  Leo apontou o maço em sua direção.

Serena inclinou a cabeça, espantada com a voz grossa interrompendo o soneto dos vagalumes, aquilo a havia pego de surpresa, ela não pensou que o jovem tinha notado sua aproximação.

──  Tudo bem.  ──  e ajeitou-se ao seu lado, escolhendo um cigarro  ──  Não vai perguntar o que vim fazer aqui?

──  Acho que não quero saber. Tipo, todos estamos tentando esquecer dos nossos problemas, então, por que falarmos deles?  ──  puxou o isqueiro do bolso e deslizou seu dedo na lateral, acendendo a ponta da bituca pra ela  ──  Prefiro curtir esse momento, tem algo de errado nisso?

──  Não, claro que não.  ──  ela expeliu a fumaça, tossindo, aquilo foi um pouco forte considerando que era a primeira vez que fumava  ──  Cê não sabe quem eu sou, né?

──  Eu deveria?  ──  sorriu  ──  Na verdade, sinto que no fundo somos parecidos, não é por isso que estamos todos aqui?  ──  ela franziu a testa, tentando entender seu ponto de vista  ──  Mas você ainda quer saber o que eu aprontei, né? Você quer ter certeza de com quem está se envolvendo...

──  Não. O quê?!  ──  Serena interrompeu, por mais que houvesse se sentido atraída por ele, jamais pensou que diria aquilo abertamente  ──  Eu não... Olha, tem razão, eu tive alguns problemas, tá? Eu perdi alguém, é por isso que eu tô aqui!

Leo riu, sem qualquer receio. A jovem demorou a perceber que não era por conta do que havia dito:

──  Eu também me meti numa roubada, tô devendo pra aquele idiota ali atrás, mas vim aqui na festa dele tirar uma onda...

"Uau, ele sabe!", a Goode considerou.

──  Você é louco!  ──  rebateu, rindo.

──  É o que meu irmão sempre diz.  ──  coçou a nuca  ──  Ele trabalha no shopping, onde aquela garota morreu, sabe?  ──  então um nó na garganta de Serena se formou novamente, a dor em seu peito pelo que havia acontecido não estava tão distante e ficava ainda mais visível quando tocavam naquele assunto  ──  Ele dá duro pra pagar a merda da minha bolsa naquela escola de perdedores, mas eu não dô a mínima pra isso! Sei que devia tá me esforçando, mas ao invés disso, tô aqui, tentando acabar com a porra da minha própria vida!

──  Eu sei... É bizarro, as coisas sempre vieram muito fáceis pra mim. A vida toda!  ──  lamentou  ──  Não tô acostumada a perder, e sempre que perco, acabo ganhando no final. Mas agora, eu aprendi o que é isso, da pior forma possível!

──  Bem-Vinda ao meu mundo!  ──  retribuiu, com um olhar sincero  ──  E aí? Acha que já temos coisas em comum o suficiente?...

──  Como assim? Do que você tá falando?

──  Cê que me diga. Foi você que veio atrás de mim.  ──  seus rostos se aproximaram  ──  O que você quer?

Ela hesitou por um instante, confusa, com medo, mas só o suficiente pra ter a certeza de que aquele frio na barriga que sentia, apesar de assustá-la tanto, não iria passar, então devia ser enfrentado. E que melhor maneira se não seguir com o que mais queria?

Seus dedos macios deslizaram pela lateral do rosto do cacheado, seu toque suave o fez fechar os olhos, nesse curto tempo conseguiu imaginá-la quente e nua a sua frente, do jeito que planejou desde o instante em que a viu naquela noite. Ela o levou na conversa estranha com sua voz doce e sem pensar duas vezes, ele mergulhou no mar turbulento que havia se tornado o seu olhar, sem qualquer colete à prova de balas, foi atingido pelo convite certeiro, ambos estavam afundando, o que não parecia tão ruim os vendo tão apaixonados, ouviu Serena sussurrar em seu ouvido que seria melhor que "se entendessem lá dentro". E como se não pudesse resistir a tal sorriso malicioso, a encarou por uma última vez, antes dela encostar seus lábios contra os dele, rendendo-se aos beijos da loira. Agora, não pensava em mais nada que não fosse tê-la em seus braços.

Ela acreditou que a noite estava propícia para se fazer coisas das quais nunca teve coragem antes, só precisava da oportunidade perfeita, a qual parecia ter chegado. Mesmo que isso durasse apenas por mais alguns minutos, prometeu a si mesma que faria valer a pena.

──  Ih, ae, olha lá, Kate! Eles vão molhar o biscoito!...  ──  Simon que os observava da varanda, começou a rir  ──  Cara, não dá pra acreditar...

──  Cala a boca, seu nojento!  ──  ela respondeu, furiosa. Pegando o copo de bebida de suas mãos  ──  Me dá essa merda aqui!...  ──  e virou tudo de uma só vez.

Enquanto Serena e Leonel atravessavam para dentro da casa de mãos dadas, sob o sorriso pervertido de Kalivoda que insistia em constrangê-los e esperava que ela se recordasse do que haviam conversado, só que nenhum dos dois prestou atenção nele, Leo estava encantado demais, sendo levado pela garota de seus sonhos ao paraíso. Ele a empurrou até um dos quartos, fechando a porta, sem notarem as persianas abertas, pois a única coisa que importava era a maneira como seus corpos se movimentavam no escuro. De qualquer forma, estavam todos bêbados, e caso os vissem, a Goode estava decidida a negar até o fim. O que importava agora era deixar a felicidade invadir cada poro de sua pele, como se o amanhã não existisse.

Um beijo atrás de outro e sussurros desesperados foram o suficiente para fazer com que os pombinhos se atirassem a cama, se amassando e rindo da situação. Mas apesar de ter se rendido aos seus carinhos, Serena não deixou pra lá o combinado, ela deslizou os dedos pelas costas do garoto, conferindo se o dinheiro estava no local indicado e o caçou do bolso da calça com suas unhas, enquanto ele abocanhava seus seios, a fazendo gemer devagar, aproveitando para esconder as notas embaixo da cama, sem que percebesse. Não muito tempo depois, a loira o empurrou para baixo de seus quadris, o prendendo entre suas pernas, a fim de que Franklin apenas admirasse seu corpo esbelto sobre o dele. Aquilo seria inesquecível, garantiu.

Na parte externa da casa alguns jovens se despediam, tão chapados que eram incapazes de acertar um passo diante deles corretamente, a hora havia voado, menos lá dentro do quarto, onde o tempo parecia ter parado, e qualquer coisa relacionado a ele passaria despercebido para dois amantes tão dedicados. Porém, a sede que sentiam um do outro impediu que notassem a sombra ao canto das persianas os espreitando, parecia um vulto, imóvel, como se amaldiçoasse aquele ato, até que uma mão vinda da escuridão acertou o vidro da janela, a fazendo explodir e se abrir com um soco violento.

Seus rostos se voltaram para o barulho, aquilo assustou o casal, Serena gritou ao ver o semblante de uma caveira espiando em silêncio, enquanto o garoto saia de cima dela e a mesma se enrolava desesperada nos lençóis, pegando o dinheiro o mais rápido que conseguiu, um salto foi dado para dentro da casa, logo a Goode se deu conta de que a silhueta aterrorizante que os alcançara se tratava do "Máscara de Caveira", aquele era o assassino do shopping, o responsável pela morte de Heather. Um cara com uma capa preta e a máscara mais bizarra que já vira, não esquecendo da faca pontuda em suas mãos. Mas como poderia ter voltado?, ela sabia que seu pai o havia alvejado com um tiro na testa. Porém aquilo não era o que mais importava no instante, mas sim lutar pela própria vida e, com muita sorte, sobreviver.

Enquanto Leo vestia a cueca apressado, deslizando pelo chão de madeira por conta de suas meias, tentando escapar, a caveira o segurou levantando a faca prata que brilhou no alto, em contraste com a luz do teto, ambos entraram numa luta corporal, mas Franklin acabou tropeçando e o assassino caiu em cima dele.

A garota não sabia o que fazer, ficou paralisada, tentando dizer algo, mas só apenas alguns minutos depois de tamanho esforço, foi que sua voz saiu como um alarde:

──  LEO!  ──  Serena gritou da porta, o encarando apavorada.

──  SERENA!  ──  seus olhos se arregalaram, enquanto ele segurava a mão do assassino que empunhava a faca, bradando desesperado: ── CORRE!!

Ela não queria deixá-lo ali, sua ordem a atemorizou ainda mais, pensou em sua melhor amiga Heather e como ela havia ficado sozinha com aquele monstro, e agora a cena se repetia, não queria carregar àquela culpa novamente, mas sabia que não conseguiria defendê-lo, não naquele momento, seu sangue congelou, a fazendo ficar estática. Mas a adrenalina em suas veias parecia ter voltado a pulsar ao vê-lo suplicando por ajuda, fazendo com que tomasse a devida coragem para obedecê-lo e então correu apressada, batendo a porta e esbarrando em alguns jovens drogados que a encaravam com um sorriso alucinado e um pouco de estranheza por estar enrolada num lençol. Até que deu de cara exatamente com quem procurava:

──  Ei, gatinha! Como é que foi com o bonitão?  ──  Simon a interceptou no caminho.

──  Simon, me ajuda!  O cara da caveira tá lá dentro!!  ──  implorou já com a voz trêmula.

──  O quê? Do que é que cê tá falando?  ──  Kate ouviu e então se aproximou, com uma ruga entre as sobrancelhas.

──  Kate, me escuta, só ajuda o Leo!  ──  pediu pausadamente com o tom todo alterado.

Seus olhos então desviaram do semblante angustiado da Goode e se voltaram para a porta do quarto abrindo num estrondo, assistindo um Leonel apavorado sair correndo com o pescoço todo ensanguentado, não muito tempo depois do Máscara de Caveira surgir logo atrás dele, o perseguindo, tão rápido quanto o mesmo. Todos abriram espaço, espantados, buscando se esconderem atrás dos móveis. Eles aceleravam até a parte detrás do quintal, onde Kalivoda havia perdido o desafio antes. Serena não esperou pelos colegas e seguiu atrás do assassino e do garoto que estava ferido, o qual com toda a pressa sentiu seus pés vacilarem ao desequilibrar, prendendo o dedo do pé direito entre uma das pedras soltas da curta estrada que dava até a piscina, sentindo sua cabeça voar, perdeu o fôlego ao cair por cima de seu braço e bater a cabeça contra o chão, um barulho foi ouvido e todos os outros jovens seguiram até o lado de fora, prestando atenção no que acontecia.

Mas ao invés de acertá-lo fatalmente com a faca suja de sangue, o mascarado a largou próximo ao corpo caído, se virando para todos que o assistiam, levou as mãos até seu rosto, arrancando a face da caveira, revelando um pálido e franzino rapaz por trás dela, dos olhos negros e cabelos loiros que cobriam parte de sua testa e rosto, abrindo os braços, como se fosse o rei do lugar, dizendo alto:

──  Tã dã!  ──  e um sorriso irônico se formou em seus lábios  ──  O Timothy voltou dos mortos, aberrações!

Uma gritaria em comemoração e admiração foi ouvida ao redor. Serena não conseguiu entender absolutamente nada. Aquele era Timothy, irmão mais novo de Simon, ele havia sofrido uma overdose recentemente, mas foi reanimado, aquilo meio que se tornou uma espécie de piada entre os que o conheciam, porém a loira não sabia daquela parte da história e mesmo que soubesse, considerou aquela brincadeira agressiva e sem qualquer justificativa. Olhando para trás, a Goode então percebeu que mesmo Kate e Simon riam daquilo, zangada, a jovem os confrontou:

──  O quê?! Vocês sabiam disso?  ──  o suor ainda escorria por seu rosto.

──  Qual é rainha de Sunnyvale? Um pouco de diversão não vai matar ninguém... ──  Deena rebateu com a voz lenta, bêbada.

──  Foi só uma piada!...  ──  Kate se defendeu.

──  Isso não foi nada engraçado!  ──  Serena retrucou, se afastando e ao ver que o garoto continuava imóvel no mesmo lugar em que havia caído, se aproximou dele, angustiada  ──  Leo... LEO!! Leo, fala comigo!... ──  e colocou as mãos sobre os lábios ao perceber a grande poça de sangue em baixo dele  ──  Ele não tá respirando!

Simon abriu espaço na roda que havia se formado ao entorno do jovem desacordado.

──  AÍ, CARALHO!  ──  soltou, assustado com a cena em questão  ──  Timothy, seu filho da puta, você matou ele!

──  C-Cara, eu não fiz nada... Ele que tropeçou sozinho!  ──  tentou se livrar da culpa.

Kate então encostou os dedos em seu pescoço, para conferir se o que a loira dizia era verdade:

──  Puta merda! Precisamos chamar uma ambulância, agora!  ──  o avisou.

──  AÍ GALERA, SUJOU!  ──  Simon levantou a voz, alertando quem ainda havia restado na festa  ──  É melhor todo mundo ir! Vamos, anda logo, caí fora, vaza daqui!...

E então foi interrompido por um empurrão por parte de Serena, que acertou seu peito com as notas de dinheiro que havia ganhado pra ele. Agora o desafio estava pago, e por que não dizer de uma forma tão ruim que, sua vitória, sequer tinha gosto de vitória.

──  Tá aqui o seu dinheiro de merda! ──  seu rosto inconsolável o analisou uma última vez, a fim de que se lembrasse daquele olhar  ──  Se ele morrer, você vai implorar pra bruxa te levar, porque juro por Deus, Simon, sou capaz de fazer algo pior com você! Você não perde por esperar!

E lhe deu as costas.

₍ 001 ₎ Demorou, mas o
segundo capítulo chegou!
Espero que tenham gostado! ♡

₍ 002 ₎ Aqui o Timothy é
interpretado pelo Evan Peters,
mas vocês podem imaginá-lo
como quiserem. Aliás, em breve
vou atualizar a introdução
colocando mais fotinhos de
outros personagens.

₍  003 ₎  Não esqueçam de favoritar
e comentar. E, me digam o que
acharam do cap aqui!

₍ 004 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡