PRÓLOGO
antigas rivais contam uma
história

               NUMA CASA ISOLADA NO MEIO DA FLORESTA DENSA de Shadyside, inúmeros relógios em seu tic-tac incansável pela madrugada a dentro alertavam a mulher que se escondia ali sob as regras que um dia ela mesma criara. Tentando se manter a salvo, C. Berman quase nunca saia de casa, acompanhando tudo pelos noticiários que anunciavam mais uma nova morte, desta vez a de um jovem local chamado Simon Kalivoda, o qual supostamente havia se matado por fazer uso exagerado de anfetamina, a frente do caso, mais uma vez, o tão respeitado Xerife Goode.

Sua única distração além de seu cachorro, eram aquele balançar dos ponteiros acelerados. Mas naquela noite, seu jantar foi interrompido por luzes ofuscantes do que deviam ser lanternas vasculhando o exterior da casa, invadindo a parte de dentro pelos frestos entre as madeiras. Ela correu o mais depressa que pode, escondendo seu animalzinho de estimação no closet, se preparando para atacar, algo naquela invasão lhe dizia que o perigo estava bem próximo, C. Berman não gostava muito de conversar,  pra quem já havia visto a morte de perto, sabia que palavras não eram uma arma muito poderosa a se contratacar naquele pequeno instante em que a faísca de vida se perde na escuridão e a alma se encontra com o vazio.

Quando a janela da cozinha abriu num solavanco, ela empunhou uma faca, a levantando, disposta a desferir golpes contra a sombra que saltou por cima de seu carpete. Mas a voz madura e apavorada diante dela, a impediu.

──  Não se mexe porra!  ──  ordenou num grito.

──  Ei, espera! Calma. Sou eu, Sheila. Lembra? Setenta e oito....  ──  a respiração descontrolada da mulher caída no chão a fez arregalar os olhos, não podia crer na ousadia da velha conhecida.

──  O que você tá fazendo aqui? E por que não devo seguir em frente e acabar com a droga da sua vida?  ──  repetiu.

──  Você tentou salvar a minha vida uma vez, só me deixa explicar...  ──   Sheila se ergueu aos poucos, se apoiando na pia atrás de si  ──  Eu trouxe uma pessoa, Deena Johnson, ela te ligou hoje mais cedo. Ela tá com problemas...

──  Como me encontrou?  ──  a questão ainda martelava em sua mente.

──  Bom, eu tenho os meus truques.

──  Ah, então você foi possuída pela
Sarah Fier?...  ──  Berman ironizou.

A outra paralisou ao perceber o sarcasmo do destino, mas logo respondeu:

──  Eu?... Não. ──  levando a mulher até a parte de fora onde um grupo de adolescentes a esperavam, abriu o porta-malas do carro de uma das garotas em seguida, revelando uma Sam descontrolada e rosnando feito um bicho  ──  Já ela...

──   Não. Não!... Você disse: uma pessoa, eles tão em quatro e tem um monstro no porta-malas!  ──   C. Berman se descontrolou.

──   Ei! Ela não é monstro. ──  Deena rebateu ──  O nome dela é Sam!

──  Berman! Eu sei que aquele verão foi o pior de todas as nossas vidas...

──  É claro que sabe, você tava lá, contribuindo, sendo uma vaca!  ──  revidou.

──  Eles vieram me pedir ajuda...

──  É, e o quê? Você de repente se tornou a Madre Teresa de Calcutá? Um refúgio para os oprimidos? Agora se importa com todo mundo? Ah, "Santa Sheila"! Olha, é melhor ter piedade de todos nós!

──  Eu sei que você me odeia. E eu também não gosto de você. Mas milhares de pessoas morreram naquele verão, e eu, eu sempre me senti culpada, porque eu nunca pude me redimir com ninguém, eles morreram! Todos eles...  ──  suspirou  ──  Eu não vim aqui pedir o seu perdão. Mas se sabe como ajudá-los, então faça isso! Em nome das pessoas que foram assassinadas naquela noite!

──   Você podia ter esperado o jornal das seis pra ver se a gente tinha morrido, mas não esperou. ──  a cacheada se intrometeu  ──  Você ligou de volta!

──  E... E-Eu não posso ajudar vocês.  ──  fraquejou, dando as costas para o grupo.

──  Não foge, Berman! ──  Sheila insistiu  ──  Você já foi mais corajosa!

──  Vai se foder, sua escrota!  ──   rebateu, reativando todo o seu ódio guardado a sete chaves  ──  Você não viu a pessoa que mais amava morrer bem na sua frente. Você não sabe de merda nenhuma!

──  Não sei mesmo? E por acaso você sabe? Sabe o que eu tive que enfrentar pra sobreviver naquela noite depois que acordei naquele banheiro nojento?  ──  seu rosto se fechou, ao lembrar do desespero  ──  Nós duas passamos por muita merda! Mas estamos aqui agora, e eles precisam da nossa ajuda...

──  Você é a nossa última chance. ──  Deena assegurou  ──  Minha namorada tá possuída por ela. E amarrada no porta-malas. Mas você viu a bruxa, e sobreviveu. O que foi diferente? Por favor! Pode ter alguma coisa em você. Algo que, ajude a acabar com ela...

──  Não tem! Ela é invencível. Fujam! Pro mais longe possível e o mais rápido possível, é a sua única chance!

──  Eu não posso... Eu não posso fugir! É a Sam, eu não posso deixar ela morrer.  ──  a adolescente a encarou  ──  E eu não vou... Eu amo ela! Por favor...

Berman viu o sofrimento nos olhos da garota, sabia que se tivesse tido uma chance de salvar aquela pessoa na tal noite sombria de verão, também o teria feito.

──  Ei, Sheila?  ──   segurou rapidamente o braço da de cabelos negros no mesmo instante em que a viu atravessar para a varanda  ──  Que porra tá fazendo?

──  Me convidando pra entrar, já que não fez isso! Eu sei que você quer ajudar, para de enrolar, anda logo...  ──  ela o puxou de volta, esperando na porta.

──  Tá, que seja. ──  deu de ombros ──  Só deixa ela longe do Major Tom!  ──  pensou em seu cachorro primeiro e, depois acelerou para o interior do lugar.

Colocar Sam para dentro do casebre da sobrevivente não foi uma tarefa muito fácil, mas assim que a arrastaram até o banheiro, Deena e Josh conseguiram amarrá-la com um pano contra o encanamento. Kate e Serena que estavam mais atrás, entraram por último no local, Schmidt ficou bastante impressionada com a quantidade de fechaduras aos cantos das portas e outras tantas medidas de segurança, comentando aquilo:

──   Caramba! Cê vive assim desde setenta e oito?

──  Isso não é da sua conta. ──  se levantou, pegando um livrinho na estante.

──  Ei, por acaso isso é uma foto?  ──   a loira encarou as páginas do pequeno caderno que segurava  ──  Eu também tenho várias dessas. Aqui, olha! Na caixa que era da minha mãe.  ── e aproveitou para espalhar tudo pelo chão.

──  Meu Deus! ──  Sheila se aproximou, verificando com cuidado  ──  Os registros da Blair...

──  Espera! Você é a filha do Nick?  ──  Berman parecia ter tomado um choque ao raciocinar aquilo.

──  Sim, sou. ──  confirmou, olhando diretamente para a mulher de cabelos negros ao seu lado, interessada  ──  Você a conhecia?

──  É claro. Quem não conhecia a mulher mais sortuda de Sunnyvale? Aquela que tinha um futuro promissor ao lado de um Goode, pena que abandonou tudo de última hora.  ──   Sheila deu ênfase na frase  ──  Olha, a gente não era exatamente amigas, mas...

──  E quem gostava de ser sua amiga, Sheila? Só aquelas duas pestes que, com certeza, tinham algo a ganhar por te bajular...  ──  a outra sentou-se numa poltrona a frente deles.

──  Você ainda pode enviar seu currículo se quiser, Berman.  ──  ergueu as sobrancelhas.

──  Vai pro inferno...  ──  disse lentamente.

Então os irmãos Johnson saíram do banheiro e foram até a sala, se juntando as outras, Josh foi logo dizendo:

──  Tá tudo certinho. Ela tá, tipo, amarrada no banheiro, não tem como fugir agora. ──  então um grunhido mais alto se escutou, Fraser estava se tornando ameaçadora naquelas circunstâncias, porém ele continuou, disfarçando  ──  Tá suave!...

──  Sentem aí...  ──  C. Berman chacoalhou a cabeça e os jovens a obedeceram  ──   Em Shadyside. O passado nunca fica no passado. Isso foi em doze de julho, no verão de mil novecentos e setenta e oito. O primeiro dia do acampamento... Uma semana depois, minha irmã tava morta!

E lançou sua foto sobre as outras. Ela caiu leve e rápida feito uma pena, mas se lembrava daquele verão ter sido exatamente o oposto: intenso e longo, como o corredor estreito a caminho do inferno.

₍ 001 ₎ Hey amores, cheguei!
Felicidade define o que eu tô
sentindo por dar início a essa
segunda fase. Mas confesso
que tbm tô apreensiva que nem
no início, pq afinal de contas
tamo começando tudo de novo,
e sim, é uma nova etapa. Capitulo
curtinho de introdução, mas no
próximo já seremos transportados
a 1978!! Ansiosos? Espero que
tenham gostado ♡♡

₍  002 ₎  Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do cap
aqui!

₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡