CHAPTER 02
BEATRIZ AMBRÓSIO
Me enfio embaixo do chuveiro após o treino exaustivo de hoje. Nossos jogos estavam prestes a começar e até então, era normal treinar mas o de hoje pegou fogo. Literalmente.
Solto um suspiro aliviado ao sentir a água gelada em minhas costas. Ouço a conversa das minhas colegas de time mas nada que tire a minha mente do dia cansativo. Molho meu cabelo e após alguns minutos, me enrolo na toalha saindo da cabine.
— E aí, capitã? Qual nossa programação agora? — Tarciane, nossa zagueira, perguntou curiosa.
— Arthur disse que íamos pra Casa Brasil almoçar. Estão prontas? — perguntei e finalmente, eu estava.
— Comida brasileira? To prontíssima. Nada contra a comida daqui, mas não é a mesma coisa. — disse Marta e todas concordaram em resmungos.
— Então vamos agilizar porque o treino de hoje me encheu de fome. — Ary Borges deu tapinhas em sua barriga.
Soltei uma risadinha e logo todas estavam seguindo para o ônibus do nosso time. Me sentei atrás como sempre faço e apoiei minha cabeça na janela, tentando relaxar alguns minutos. Meu momento de paz acaba quando Gabi Portilho se joga ao meu lado, sorrindo igual uma criança atentada.
— O que foi, Gabi? — a olho, sabendo que vem uma bomba a seguir.
— A gente está indo na Casa Brasil, né? — Gabi sorriu e eu assenti, claramente desconfortável.
— Sim. — respondi, franzindo minha testa sem entender nada.
— E você sabe quem está lá? — Gabi sorriu mais ainda e eu já saquei aonde ela quer chegar.
— Quem? — pergunto, revirando meus olhos diante do seu grito histérico.
— Gabriela Guimarães!
Não posso evitar de sentir meu estômago embrulhando ao ouvir o nome daquela mulher, sabendo que vai estar no mesmo ambiente que eu. Meu coração chega a acelerar mais forte ainda.
— Está nervosa que eu sei. — Gabi sorriu mais contida ao perceber que causou o efeito que queria.
— Alguém tá com banco livre pra Portilho aí?! — elevei meu tom de voz, chamando a atenção das minhas amigas.
— Se tivesse, ninguém ia querer. Essa é a sua função! Aceite o desafio, Capitã! — a voz de Marta soou com uma pitada de diversão, fazendo todas rirem.
Me afundei na poltrona e apenas aceitei o jeito de ser da minha melhor amiga.
— Não precisa se preocupar. Se tiver algum piripaque, estarei segurando sua mão!
Não espero mais para colocar os fones de ouvido e topar a música. Vejo a mesma sorrindo, quase gargalhando e me permito soltar um pequeno sorriso para a minha amiga, que mesmo sendo louca da cabeça, me faz feliz.
Vejo as ruas de Paris mais movimentadas do que nunca. Pessoas cantando suas músicas do país de origem, casais felizes além de pássaros dançando pelo ar. É lindo, mais lindo do que imaginei. Paris, cidade do amor. Cidade dos contos felizes.
Me pego lembrando do meu passado, um flashback de devaneios vem de surpresa e então, lembro de Amber. A estadunidense, lutadora de judô, minha ex namorada e minha agressora.
Eu e Amber nos conhecemos em um jogo de futebol qualquer do Real Madrid, e como toda garota boba, eu diria que foi amor a primeira vista. Começamos a conversar e em um piscar de olhos, estávamos namorando. Nos primeiros meses, foram tudo flores mas depois que a rotina foi afetando, tudo mudou.
Brigávamos, mas eu sempre tentei estar presente na vida dela da melhor forma possível. Planejei viagens, passeios e tudo aquilo que fizesse a gente estar juntas e bem. Mas, não tinha solução. Aos poucos, Amber foi ficando possessiva e extremamente ciumenta, ao ponto de não querer que eu treinasse junto com minhas companheiras de time.
Até que um dia qualquer, me peguei assistindo o jogo de vôlei da seleção brasileira contra a Itália. Não tinha esse hábito mas era a única coisa pra ocupar minha mente do caos que estava minha vida. A cada ponto marcado eu comemorava como se fosse uma final, lembro de olhar pra Gabi Guimarães e admirar seu esforço assim como a personalidade forte de ser capitã.
Foi quando Amber entrou silenciosamente na minha casa, na intenção de me pegar no "flagra" com alguma outra mulher. Eu não estava com ninguém. Mas Amber surtou ao ver que eu estava assistindo jogos de outras mulheres.
Não lembro de muita coisa nesse dia, é como se meu cérebro me protegesse, mas ainda sim, lembro do primeiro golpe: um tapa. Cai no chão devido a força brutal do mesmo, e em seguida veio o segundo: um chute na barriga. Em terceiro: um puxão no meu cabelo. Em quarto: enforcamento. E a partir dele, perdi as contas do que aconteceu logo depois.
Quando ela acabou, fiquei jogada no chão sem força para levantar e pedir ajuda. Lembro de sentir o chão frio quase me abraçando. Lembro do meu celular tocando e tocando sem parar. Lembro da minha porta sendo arrombada pelos policiais espanhóis. Lembro da Gabi Portilho na poltrona do meu quarto de hospital. Lembro...
— Bia, chegamos. — dou um pulo com a voz de Gabi ao meu lado. Vejo sua mão segurando meu fone e logo uma expressão preocupada toma conta. — Tudo bem?
— Sim! Sim. — respiro fundo e olho para a janela, escutando os torcedores fazendo uma festa pra nos recepcionar.
Portilho me olha desconfiada, mas se quer perguntar algo, não o faz.
— Fizeram uma festa só pra nós! Tem coisa mais legal? — Duda Sampaio, a meio-campista, falou animada enquanto se jogava no ritmo da música.
Aos poucos todas vão descendo do ônibus e passando por debaixo do túnel que os torcedores formaram, uma festa sem igual. Quando foi minha vez, vejo Marta na minha frente, como se estivesse me esperando para me segurar caso não aguente a pressão. Não preciso falar nada pra ela saber o quão sou grata.
Assim que descemos juntas, o local explodiu em comemoração, gritos e cantoria. Sorri abertamente enquanto acenava para todos. Marta cruzou nossos braços e seguimos para dentro da Casa, que assim que entramos, mais uma onda alta de comemoração.
"A Ambrósio vem aí e o bicho vai pegar!"
Gargalhei levemente com a cantoria dos torcedores que logo vieram tirar fotos, receber autógrafos e conversar um pouco. Vejo que algumas mesas já estão ocupadas por alguns atletas e como se fosse um imã, eu vejo a seleção brasileira do vôlei sentadas perto da mesa do meu time. Isso foi ideia da Portilho e nada me tira da cabeça que não.
Após alguns longos minutos, ficamos livres e finalmente prontas para almoçar. Caminho, sentindo meu coração quase sair do peito na medida que avanço para nossa mesa, percebendo alguns olhares em nós. Mas apenas um chama a minha atenção.
Gabriela me olhava com curiosidade, dá pra perceber. Seus olhos castanhos pareciam me analisar dos pés á cabeça quase que discretamente, mas eu podia sentir seu olhar queimando em mim.
Thaisa parece cutucar e chamar sua atenção, fazendo a capitã desviar o olhar, mas ainda sim, eu percebo o quanto ela é linda pessoalmente. Mais linda do que imaginei.
— Meu.Deus! Você sentiu também essa tensão de vocês duas?! — Gabi Portilho sussurra em meu ouvido completamente pasma.
— Percebi sim. — sussurrei de volta e essa resposta foi o suficiente para a mulher me olhar surpresa, vendo que eu finalmente concordei com algo.
E então, olhei pra Gabriela de novo, mas o que mais me impressionou foi que ela já estava me olhando.
Olhando demais.
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'. 🇧🇷 • NOTES ! .:' ▪︎
OLHA QUEM APARECEU!!! Palmas, por favor?
Espero que gostem e comentem bastante! Cada comentário me traz motivação pra escrever muito mais!
Obrigada por estarem aqui! <3
Amanhã é meu aniversário, só pra lembrar e tal...
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