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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟑𝟐)

O hotel parecia se desfazer nas sombras enquanto o grupo se preparava para deixar o local. Charlotte observou os raios de sol se fortalecendo no horizonte. O silêncio no carro era impenetrável enquanto se dirigiam para a mansão abandonada onde Sebastian estava com Natalie. Uma meia hora passou rápido demais para os nervos de todos, e, quando o carro parou em frente à vasta propriedade, a tensão se abateu sobre eles. Charlotte observou a mansão à distância enquanto eles se preparavam para seguir com o plano. Mesmo à luz do dia, o lugar exalava uma aura pesada, como se os segredos de séculos estivessem guardados dentro de suas paredes antigas. As árvores ao redor, altas e espessas, pareciam sufocar a estrutura, tornando-a ainda mais ameaçadora. A vegetação crescia de forma desordenada, tomando conta do caminho de pedras que levava até a entrada principal. Aquela casa parecia estar esperando por algo – ou por alguém.

Seus olhos predadores percorreram cada detalhe da fachada: as janelas com vidros sujos e rachados, as trepadeiras enegrecidas que escalavam os muros de pedra desgastada. A mansão tinha um ar de abandono, mas Charlotte sabia que, dentro de suas paredes, a verdadeira natureza do mal esperava. As portas de madeira pesadas, esculpidas com símbolos antigos que quase se apagavam com o tempo, faziam parte da arquitetura sinistra, como se tudo ali estivesse ligado a algum propósito sombrio. Ela fechou os olhos por um segundo, respirando fundo. O cheiro de mofo e terra invadia o ar, apesar da distância. Era como se a própria casa estivesse apodrecendo, mas, ao mesmo tempo, mantendo algum poder misterioso em seu interior. Isso a fazia pensar em Sebastian, em como ele era um produto daquele ambiente. Ele estava tão enraizado naquela maldição quanto as pedras que sustentavam a mansão.

— Lembrem-se do plano. — Vera falou. A voz estava firme, mas a incerteza era perceptível. — Eu fico do lado de fora para tentar uma conexão com Natalie. Preciso de silêncio e concentração. Se eu conseguir falar com ela, talvez possamos guiá-la até nós.

Charlotte acenou, seus olhos fixos nas janelas da mansão. Sabia que Sebastian não estava brincando desta vez, e eles tinham pouco tempo até o sacrifício começar.

— Greg, você e eu entramos pelos fundos. — Charlotte quebrou o silêncio. — Sabemos que ele vai estar esperando por nós. Precisamos estar prontos para qualquer ataque.

Greg assentiu, mas parecia mais distante do que o normal. Ele precisava focar no resgate de Natalie, todos, de certa forma, contando com ele. Talvez fosse sua chance de se redimi e também por esconder tantas coisas aqueles que lhe rodeavam, mesmo que isso significasse perder mais de si.

— Entrarei pelo segundo andar. Ele reforçou provavelmente a segurança lá embaixo. Uma distração no andar de cima pode desviar sua atenção por tempo suficiente para vocês avançarem. — Disse Cynara.

Charlotte lançou um olhar para ela. A vampira gêmea de Sebastian ainda era um ponto de incerteza, mas eles precisavam de todos os aliados possíveis agora. Além disso, ninguém conhecia Sebastian melhor que ela.

— Certo — Charlotte falou, o tom frio. — E lembrem-se: não temos permissão para errar. Não deixem que ele fuja, e, principalmente, não deixem que ele leve Natalie.

Todos assentiram. Aquela era a última chance de salvar Natalie. Não havia volta. Vera fechou os olhos por um instante, tentando bloquear as emoções que se misturavam dentro de si. Sabia que precisava de uma conexão profunda e clara para alcançar a filha. No entanto, o medo da falha estava ali, à espreita. Ainda assim, ela sabia que não poderia hesitar.

— Vamos logo com isso — Cynara murmurou.

— Cuidado lá dentro. Ele vai fazer de tudo para nos impedir — Charlotte disse, sentindo que as palavras eram mais um lembrete para ela mesma.

E assim, de um a um, eles se dispersaram em direção aos seus respectivos pontos. A mansão parecia viva, respirando e exalando o perigo. Já no terreno da mansão, Charlotte tocou a superfície da parede enquanto se preparava para seguir seu caminho pelos fundos. O contato com a pedra fria enviou um arrepio desconfortável pela sua espinha. Era uma construção de séculos, desgastada pelo tempo, mas ainda de pé, como Sebastian. De certa forma, essa mansão era um reflexo dele: o exterior corroído, ocultando um mal mais profundo. Ela ergueu os olhos para as janelas quebradas, sua mente imediatamente se fixando em Natalie. Onde estaria? Em qual desses cômodos estaria trancada, sozinha, vulnerável? E por um momento, uma pontada aguda de culpa atravessou seu peito. Ela precisava resgatá-la antes que fosse tarde demais. Natalie não merecia estar presa naquele lugar, prestes a ser usada para algo que nunca deveria ter sido inserida.

Charlotte respirou fundo, tentando fazer o que sempre fazia — sentir Natalie, capturar seu cheiro, ouvir a pulsação que conhecia tão bem, uma presença que se destacava em meio a todas as outras. Mas... não sentiu nada. O vazio foi imediato. O silêncio dentro dela era assustador. A ausência de qualquer indício de Natalie a apavorou mais do que admitiria. Fechou os olhos, forçando-se a tentar novamente, a puxar qualquer resquício da essência de Natalie — sua pulsação, seu calor, o cheiro que antes sempre a guiava, mas... nada. Não havia cheiro. Não havia eco de batimentos.

Era como se Natalie não estivesse ali, como se tivesse desaparecido do mundo. O estalo de folhas secas sob seus pés trouxe Charlotte de volta ao presente. Ela e Greg avançavam em direção aos fundos da mansão, suas presenças quase imperceptíveis, mesmo no silêncio do lugar. Moviam-se como sombras, mas por dentro, Charlotte estava à beira de um colapso. A cada passo, seu desespero aumentava. Algo estava terrivelmente errado. Sentia a mansão observando-os, como se o próprio local fosse cúmplice das crueldades de Sebastian, pronto para tragar todos que ousassem cruzar suas portas e no entanto, nada de Natalie.

Greg estava ao seu lado, quieto, os olhos escaneando o ambiente com a precisão de um predador. Ambos sabiam que Sebastian não os receberia de braços abertos. Essa mansão abandonada era um covil, onde o perigo se escondia em cada canto. Não havia nada de casual ou esquecido naquele lugar — tudo era uma armadilha, uma isca, um jogo que eles precisavam vencer. Ao se aproximarem da entrada dos fundos, Charlotte se deparou com uma porta. Não hesitou. A frustração que ardia em seu peito pela falta de sinais de Natalie precisavam de uma válvula de escape. Com um chute firme da vampira, a porta cedeu, estilhaçando-se em pedaços que voaram para o chão. Charlotte olhou para Greg com um sorriso de canto, mas o que ele não via era a tempestade por trás daqueles olhos escuros. Ela não estava apenas furiosa, mas também aterrorizada.

— Não precisava disso, estava aberta — ele disse com um tom leve quando se aproximou do que restara da porta.

Charlotte o puxou de volta antes que ele pudesse cruzar a entrada.

— Espere. Precisamos nos preparar. Se Sebastian já transformou mais algumas garotas, não podemos ser pegos desprevenidos. — Ela pegou o que restava da porta quebrada, seus movimentos foram rápidos e precisos, e em segundos havia criado duas estacas de madeira afiadas. — Vamos fazer isso à moda antiga.

Greg pegou uma das estacas com um aceno de cabeça. Eles avançaram para o interior da casa. O cheiro de mofo e podridão dominava o ar, misturado com uma fraca fragrância metálica, quase imperceptível, mas que ambos reconheceram como sangue. As paredes eram cobertas por camadas de poeira e sujeira, com quadros antigos pendendo tortos, retratando figuras de épocas passadas. A mansão parecia abandonada há séculos, mas cada detalhe indicava uma ocupação recente e perversa.

— Isso aqui está igual a casa da minha avó, só um pouco mais sujo — murmurou Greg, passando os dedos pelo corrimão de madeira, que se desfez em lascas ao toque.

— Preciso apresentar um decorador para sua avó — respondeu Charlotte em um sussurro, enquanto seus olhos vasculhavam o ambiente.

As velhas cortinas, desbotadas pelo tempo, balançavam suavemente nas correntes de ar que percorriam os corredores estreitos. As janelas estavam cobertas por uma fina camada de poeira, e a luz do sol mal penetrava pelas fendas, criando sombras nas paredes. Os pisos de madeira rangiam sob seus pés, como se a própria casa protestasse contra a invasão. Os corredores eram longos e sinuosos, parecendo se multiplicar a cada curva. Charlotte franziu a testa enquanto caminhavam, sentindo-se como se estivessem entrando em um labirinto sem fim. Havia portas por toda parte, todas fechadas, como se escondessem segredos que preferiam não revelar. O silêncio era opressivo, quebrado apenas pelo ocasional estalo de madeira ou pelo som de respirações tensas. Greg olhou para os corredores à frente, tentando lembrar do mapa mental que haviam traçado antes de entrar. No entanto, as direções não pareciam fazer sentido; as curvas, portas e passagens eram confusas. Tudo parecia desenhado para desorientar qualquer um que ousasse invadir.

— Onde acha que estão as garotas? — Greg perguntou, virando a cabeça para um som distante, como uma risada abafada.

— Não sei se há realmente alguém aqui — Charlotte respondeu, apertando a estaca nas mãos. — Não ouço nada.

— Talvez estão bem escondidas.

— Ah, você jura? — Charlotte revirou os olhos.

Eles se moveram com cautela, prontos para qualquer ataque. As sombras nas paredes pareciam se mover, criando a sensação de que estavam sendo observados, mas nenhum som de passos além dos deles ecoava pelo corredor. Charlotte parou de repente no corredor. Greg a observou enquanto ela fechava os olhos, inspirando profundamente, tentando captar novamente o rastro familiar de Natalie. Ela permaneceu imóvel por alguns segundos, absorvendo o ar carregado de poeira e umidade, até que algo sutil — uma mistura de suor e perfume — capturou sua atenção.

— Ela esteve por aqui — murmurou Charlotte, abrindo os olhos com determinação.

Greg se posicionou ao seu lado, atento a qualquer sinal de perigo, enquanto Charlotte seguia o cheiro até uma porta de madeira no final do corredor. Ela empurrou a porta devagar, revelando um quarto. Era óbvio que havia sido improvisado para Natalie, com resto de comida sobre a cama. Lençóis revirados. No entanto, o quarto estava vazio.

— Droga, chegamos tarde — resmungou Charlotte, cerrando os punhos.

Ela se moveu pelo quarto, inspecionando cada detalhe, enquanto Greg vasculhava procurava por algo também, mas nada parecia indicar para onde Natalie havia ido, nem que havia alguém na casa.

— Não faz sentido — Charlotte comentou, irritada, enquanto olhava ao redor. — Não tem ninguém aqui.

— Talvez já foram... — Greg completou.

Eles trocaram um olhar preocupado antes de voltarem para o corredor, decidindo descer para o andar inferior outra vez. O ar ficava cada vez mais pesado à medida que avançavam, como se o próprio ambiente os alertasse sobre o perigo. Quando chegaram ao pé da escada, uma voz familiar ecoou por trás deles.

— Vocês também não encontraram nada? — Cynara surgiu das sombras. Seu rosto estava tenso, sinal de que não havia encontrado nada também.

— Nem sinal do seu irmão? — Charlotte perguntou, franzindo a testa.

Cynara balançou a cabeça.

— Não. E é estranho. Se ele estivesse aqui, eu sentiria sua presença. Mas há um vazio... algo não está certo — ela comentou, seu olhar vasculhando o ambiente ao redor.

— E as garotas? Não encontrou nenhum vampiro? — Charlotte perguntou.

— Nenhum. Os quartos estão vazios. Se tinha mais gente aqui, ele tirou todo mundo. — Cynara lançou um olhar significativo para Charlotte e Greg.

Charlotte mordeu o lábio, seus olhos queimando de frustração.

— E se ele descobriu que estávamos vindo? — Charlotte perguntou, com o cenho franzido, a inquietação crescendo em seu peito.

— Impossivel isso acontecer... — Greg balançou a cabeça.

— E ainda está de dia. As vampiras que estão com ele não conseguiriam sair da casa, nem com o céu encoberto. Elas queimariam ao mínimo contato com a luz. — Cynara respondeu.

— Que merda. — Charlotte praguejou, chutando uma lasca de madeira caída no chão.

Greg olhou ao redor quando algo atingiu suas narinas. Era um cheiro — denso e familiar — que despertou algo profundo em seu instinto vampírico.

— O que foi? — Charlotte perguntou, observando a mudança súbita na postura de Greg.

Ele não respondeu imediatamente. Seus olhos escureceram, e ele deu um passo adiante, se dirigindo às escadas que levavam ao subsolo. Os passos eram lentos, quase como se ele estivesse seguindo um rastro invisível. As outras vampiras o encararam confusas, mas decidiram segui-lo em silêncio, sentindo que ele estava prestes a descobrir algo importante. Greg os levou por um caminho que eles ainda não haviam explorado, os corredores cada vez mais claustrofóbicos, como se a mansão estivesse se estreitando ao redor deles. O cheiro que ele seguia ficava mais forte, algo inconfundível, mas ainda não conseguia identificar de imediato. Finalmente, pararam diante de uma porta entreaberta, onde uma luz fraca vazava pelas frestas.

— E se ele não tiver saído daqui? — Greg disse em um sussurro, suas palavras carregadas de algo sombrio.

— O que você quer dizer com isso? — Cynara se colocou ao lado dele.

Greg inspirou fundo, o cheiro agora inegável. Finalmente, ele se deu conta.

— Esse cheiro... é do inferno. — A revelação fez o sangue de Charlotte gelar.

— O quê?! — Charlotte recuou um passo, os olhos arregalados em choque. Ela olhou para Cynara, que também demonstrava a mesma surpresa.

— Ele já começou o ritual. — Greg finalmente falou, a voz grave. — Ele desceu ao inferno.

Charlotte apertou os punhos, o pânico crescendo dentro dela.

— Isso explica tudo. A ausência dele, das garotas... Natalie...— disse Charlotte, com a mente acelerada.

— Descer ao inferno... — Cynara murmurou, sua expressão endurecendo. — Maldito. Ele vai chegar primeiro até Lilith.

— Então estamos correndo contra o tempo. — Charlotte disse. Agora, mais do que nunca, eles precisavam agir rápido.

▬▬▬▬▬▬▬【☪】▬▬▬▬▬▬▬

Vera respirou fundo do lado de fora da mansão, os olhos fechados enquanto tentava se concentrar. O clima era pesado, como se algo invisível estivesse afetando seus ombros, dificultando a conexão. Ela tinha falhado tantas vezes em encontrar Natalie que o medo do fracasso a assombrava a cada tentativa. Mas dessa vez, ela sentiu que algo estava diferente, como se a presença de sua filha estivesse mais próxima, ao alcance, ainda que a envolvesse na escuridão.

— Natalie... — murmurou, com a voz trêmula, forçando-se a focar apenas na imagem da filha.

Vera abriu a mente, deixando que seu dom fluísse. No início, tudo parecia um borrão, um emaranhado de imagens desconexas. Porém, lentamente, as sombras começaram a se dissipar. Ela viu Natalie. A garota estava sentada em uma pedra, desorientada, com o corpo trêmulo, cercada por pedras grandes e antigas. Ao redor dela, o céu era de um cinza profundo, mas com raios vermelhos que cortavam a escuridão como se o próprio céu estivesse sangrando. Vera sentiu o coração disparar. Era um lugar sombrio, completamente diferente de qualquer coisa terrestre. Sua respiração ficou ofegante, as mãos tremendas. O que quer que fosse aquilo, não estava na nossa realidade.

— Natalie! — ela gritou, desesperada.

Natalie, mesmo desorientada, pareceu ouvir. Seus olhos, perdidos no vazio, começaram a olhar, como se estivessem tentando captar de onde vinha a voz. Ela parecia vulnerável, assustada, mas, ao mesmo tempo, determinada a se manter de pé.

Mãe? — A voz de Natalie ecoou pela conexão, fraca, como se estivesse se quebrando em milhares de pedaços.

O contato começou a tremer, ameaçando se quebrar. Natalie olhou ao redor, os olhos fixos em algum ponto distante, procurando por alguma saída. Mas antes que pudesse reagir, a conexão de Vera se despedaçou, caindo como cacos de vidro. A visão da filha desapareceu completamente, deixando Vera com um grito preso na garganta.

— Não! — Vera abriu os olhos, o desespero transbordando. Ela sabia que Sebastian havia começado o ritual. Sabia que sua filha estava presa em um lugar terrível, e não havia mais tempo a perder.

Sem pensar duas vezes, ela correu para dentro da mansão. O som de seus passos ecoava pelos corredores enquanto ela buscava freneticamente por Charlotte, Greg e Cynara. O coração de Vera parecia querer saltar do peito, o medo e o instinto materno guiando cada movimento.

— Encontrei Natalie! — Falou Vera assim que avistou o grupo. Seus olhos estavam arregalados de terror. — Ela está em um lugar muito ruim...

— É, meio que já sabemos disso. — Cynara falou, sem muita emoção, cruzando os braços com uma expressão de desdém.

— O quê? — Vera quase engasgou, o pânico começando a tomar conta. — Então vamos logo atrás dela!

— Essa parte você não vai gostar. — Dessa vez foi Charlotte que falou, sua voz firme, mas não menos grave.

— Como assim? — Vera disse, seu tom refinado, cheio de tensão.

Greg se mudou, os olhos refletindo uma mistura de compaixão e dureza.

— Há uma chance de que Natalie esteja no inferno. — Ele disse.

O mal-estar veio como uma onda súbita. Vera sentiu seu estômago revirar, sua visão embaçar por um momento enquanto o horror daquelas palavras a atingia em cheio.

— Ai, meu Deus! — murmurou, com a mão pressionada contra o peito, o coração disparado. Suas pernas vacilaram, e Charlotte rapidamente a amparou, segurando-a com força. — A minha visão estava certa — Vera conseguiu dizer entre respirações ofegantes. — É nesse lugar que ela está... aquele lugar terrível... Eu vi Natalie desorientada, com pedras ao redor, um céu escuro e raios vermelhos cortando o céu. Era como se o próprio estivesse se partindo. Ela parecia fraca, mas estava me tentando ouvir... Eu a chamei, mas a conexão se cortou. — As palavras de Vera vinham transmitidas de angústia. — Ela está lá, em algum lugar horrível.

— Então o que você viu é o que suspeitamos. Sebastian deve ter antecipado o ritual e descido ao inferno com ela. Isso significa que estamos quase sem tempo. — Disse Cynara.

— Eu vou com vocês — Vera insistiu, tentando firmar a voz. — Eu não posso deixar minha filha sozinha lá!

Charlotte balançou a cabeça.

— Não, Vera. Você é humana. O inferno não é um lugar onde você pode sobreviver. Se você for, não há garantias de que sairá de lá viva... se conseguir sair.

— Mas é minha filha! — protestou Vera. — Eu posso ajudá-la!

— Ela é sua filha, mas é a garota que amo, então confie em mim, eu vou trazer ela de volta, nem que seja a última coisa que eu tenha que fazer em vida. — Charlotte garantiu, com os olhos fixos na Scatorccio.

Greg olhou para Charlotte e Cynara, seus olhos revelando uma pequena parcela de dúvida, mas ele também sabia o que precisava ser feito.

— Não podemos arriscar, Vera. Você tem que ficar aqui. Deixe que nós tragamos de volta. É o único jeito. — Greg falou.

Vera estava prestes a protestar novamente, mas sabia, no fundo, que eles estavam certos. O risco era grande demais. Relutante, ela assentiu com a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.

— Vamos trazê-la de volta — Charlotte prometeu.

Então, sem mais palavras, o grupo voltou sua atenção para a porta antiga e entreaberta. Eles se abriram completamente, revelando uma visão que fez o coração de Vera apertar. Atrás da porta havia uma escada que se estendia até um espaço amplo e úmido, onde o chão parecia desolado. O cheiro de umidade e abandono enchendo o ar.

— Como os velhos tempo. — Cynara murmurou, tendo uma breve recordação do passado.

No centro do chão havia um símbolo estranho, gravado profundamente na terra, brilhando levemente em um tom carmesim. E no meio desse símbolo, um portal — um buraco negro e profundo, rodeado por pedras que pareciam está vivas, pulsando de energia. Uma escada estreita se afunilava no centro do portal, descendo até se perder na escuridão completa.

— É agora! — Greg disse, ajustando a postura enquanto olhava para o portal.

— Os mais velhos primeiro. — Cynara completou, já tomando a dianteira, descendo a escadaria com determinação.

Charlotte e Greg seguiram logo atrás. A cada passo que davam, o eco das botas sobre as pedras antigas se misturava com o silêncio que dominava o ambiente. Vera ficou para trás, observando com o coração na garganta. Ela viu as silhuetas dos três desaparecerem na escuridão conforme desciam cada vez mais fundo, até que não restava mais sinal deles. Então, para o desespero da Scatorccio, o portal começou a fechar lentamente, as pedras em volta se movendo como engrenagens antigas, até que o buraco sumiu completamente diante de seus olhos.

— Não! — Vera gritou, incrédula e aterrorizada, as mãos tremiam agarrando o tecido de seu casaco enquanto o pânico subia pela sua espinha. Ela estava completamente só. O portal havia desaparecido, e com ele, sua esperança de ver o grupo retornar ileso.

Se existia um inferno, então em algum lugar do céu deveria existir um Deus, e foi para ele que ela suplicou pela proteção da filha e daqueles que estavam indo salvá-la.

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Enquanto o grupo descia as escadas, a escuridão os envolvia de maneira sufocante. A cada passo, Charlotte sentia o chão sob seus pés desaparecer, como se as pedras fossem devoradas pela escuridão logo que as deixavam para trás. O silêncio era quase absoluto, exceto pelo som seco de suas botas nos degraus de pedra, ecoando como batidas lentas de um tambor distante. O frio era cortante, penetrando até os ossos e tornando o ar pesado, difícil de respirar. A sensação de estar eternamente aprisionada naquela espiral descendente fazia o coração de Charlotte acelerar, mas ela não demonstrava hesitação. À frente, uma luz quente e avermelhada começou a brotar lentamente, como uma promessa distorcida de que algo pior estava por vir. O calor pulsava, empurrando as sombras para longe. Conforme avançavam, as escadas que antes pareciam descer para sempre agora se inclinavam para cima, conduzindo-os a uma nova paisagem.

Diante deles, uma estrutura se ergueu: era um arco gótico, velho e desgastado, com símbolos arcaicos gravados em sua superfície, pulsando com uma luz vermelha vibrante, quase como se o próprio portal estivesse vivo. A atmosfera ao redor era densa, com a energia antiga e estagnada. O céu acima deles era um abismo negro, rasgado por raios vermelhos que serpenteavam como cobras de fogo, iluminando as nuvens pesadas com um brilho infernal. Ao redor, o terreno era tortuoso, formado por pedras desgastadas e irregulares, rachadas e cobertas por raízes negras que se entrelaçavam como veias. Lava escorria por fendas profundas no chão, criando pequenos rios flamejantes que desenhavam padrões caóticos ao redor do portal. A luz das chamas se refletia nas rochas e na vegetação morta, tingindo tudo com tons de vermelho e laranja.

Cada passo em direção ao portal fazia o calor aumentar, quase intolerável, contrastando brutalmente com o frio que os envolvia momentos antes. Parecia que a própria terra exalava dor e sofrimento, como se o inferno os estivesse convidando a entrar. Charlotte levantou os olhos para o portão de pedra, os detalhes grotescos esculpidos parecendo observar o grupo. Ela se sentiu pequena diante da magnitude daquilo, mas sua determinação a empurrava adiante. Os raios continuavam a rasgar o céu com fúria, e as correntes de lava se retorciam nas fendas como artérias expostas, pulsando com a energia latente do lugar.

— Impressão minha, ou o inferno está diferente? — Greg quebrou o silêncio, os olhos percorrendo a paisagem sinistra.

— Sua namorada não pode nos ajudar aqui? — Charlotte retrucou, sem desviar o olhar dos portões à frente.

Greg deu de ombros, um sorriso sarcástico nos lábios.

— Algo me diz que não estamos no reino de Lilith.

— Estamos em Sheol — respondeu Cynara, os olhos fixos no cenário ao redor. — Não no reino de Lilith. Aqui, ela não tem... digamos... jurisdição. O inferno desse lado parece diferente porque é diferente. Ele não vai se moldar para nenhum de nós.

— Já veio a esse lugar alguma vez? — Charlotte encarou Cynara, desconfiada.

Cynara suspirou, passando os dedos pelos cabelos quase loiro como se afastasse uma lembrança incômoda.

— Já ouvi falar dele, mas nunca estive aqui pessoalmente. Por isso, tenham cuidado. Não sabemos o que nos espera depois desses portões.

Charlotte apertou os punhos e deu um passo à frente, decidida.

— Só precisamos continuar o caminho e encontrar Natalie.

— Temos que ter cuidado — alertou Cynara. — Esse é o reino dos mortos. Espero que tenham sido boas pessoas lá em cima, porque não sabemos o que encontraremos aqui.

Charlotte não hesitou.

— Não me importo. — E, ignorando o aviso, subiu os degraus em direção aos portões, seus passos ecoando na imensidão sombria.

Quando o grupo atravessou os portões maciços de Sheol, o silêncio os envolveu como um véu sufocante. Charlotte, ergueu o rosto e tentou capturar o cheiro de Natalie no ar, mas tudo que conseguiu foi o odor nauseante de enxofre, denso e insuportável, que parecia impregnar até seus pensamentos. Ela franziu o cenho, frustrada. Esse lugar era um labirinto de escuridão e morte, não o tipo de lugar onde poderia confiar em seus sentidos aguçados. Cynara, por sua vez, movia-se com uma estranha familiaridade. Seus olhos percorriam as sombras grotescas ao redor, mapeando mentalmente o ambiente sombrio. Sheol. Seu pai costumava falar desse lugar como se fosse uma lenda, algo mais antigo do que o próprio conceito de inferno cristão. Ele passara grande parte da vida obcecado por ele, mergulhando em textos proibidos e invocações perigosas, tentando entender as camadas de cada inferno. Ele dizia que Sheol não era como os outros. Não havia a tortura ardente e grotesca do inferno de Dante, nem o caos visceral do reino de Lilith. Aqui, a morte era uma presença silenciosa, um lugar onde as almas vagavam sem destino, aprisionadas entre a vida e o esquecimento.

Ela sabia, no fundo, que estava aqui por causa dele. Sebastian deve ter encontrado uma maneira... Ele deve ter roubado. O Vaticano, é claro. Eles sempre tiveram relíquias, textos ancestrais que ninguém deveria ver. Ela já ouvira rumores de que Sebastian, nas suas incursões, tinha contato com mercadores de artefatos e talvez, em algum ponto, obtido o encantamento certo — uma chave para um dos portais mais antigos. O que ele faria com isso... Cynara nunca tinha certeza até agora. Mas ela sabia que o custo não seria pequeno. Pensamentos sobre seu pai, sobre a quantidade de vezes que ele falhou em suas invocações, a perseguiam. Lembrava-se do cheiro de incenso queimando em seu escritório, as longas noites de murmúrios e feitiços que nunca deram certo. Ele tentava, mas sempre caía nas armadilhas de traduções erradas, de invocações malfeitas, resultando em nada além de ecos e sombras. Mas Sebastian... ele tinha superado isso. Ele tinha conseguido o que nenhum outro havia conseguido.

— Meu pai tentou encontrar esse lugar muitas vezes... sempre falhando. O encantamento para descer até Sheol é quase impossível de conseguir, mas Sebastian sempre consegue o quer... Ele provavelmente roubou o ritual certo do Vaticano. Eles guardam segredos como esse, escondidos entre relíquias e textos sagrados. Apenas os mais ousados ou tolos ousam se aproximar. — Cynara olhou ao redor, a respiração pesada com a memória das incontáveis invocações falhas que havia testemunhado. — Agora estamos presos na realidade de algo que eu só tinha ouvido falar. Este lugar não vai se adaptar a nós. Ele não se importa com nossas intenções.

Charlotte permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras, os olhos fixos no caminho adiante. Cynara sabia que a vampira estava focada em Natalie, mas também que qualquer descuido ali poderia ser fatal.

— O inferno muda de acordo com quem entra — continuou Cynara. — Mas não Sheol. Aqui, é sempre o mesmo. A única coisa que muda são as almas que vagam perdidas... e o que nos aguarda.

— Você quer dizer que pode aparecer um fantasma a qualquer momento? — Greg perguntou.

— Pode ser uma das coisas. — Cynara respondeu.

Charlotte caminhava em silêncio, perdida em seus próprios pensamentos, quando algo a fez parar bruscamente. Ela ouviu seu nome, um sussurro carregado pelo vento que soava incrivelmente familiar. Seu coração deu um salto. Natalie? O tom de voz era tão parecido com o da jovem que, por um momento, ela se esqueceu de onde estava e olhou ao redor, buscando a fonte do chamado. E lá, entre as árvores densas e cobertas de espinhos, ela teve a certeza de que viu a silhueta de Natalie. Sem hesitar, Charlotte desviou-se do caminho de pedras, entrando na floresta sufocante. Os galhos das árvores eram baixos e retorcidos, e cada um deles parecia ter vida própria, arranhando sua pele e deixando cortes profundos enquanto ela corria. O cheiro de sangue misturava-se ao enxofre no ar, mas ela não parava. Os espinhos rasgavam sua carne com facilidade, e o sangue escorria por seu rosto e braços, mas a visão de Natalie adiante a impulsionava a seguir. A cada segundo, sua respiração se tornava mais pesada, o desespero maior.

— Natalie! — gritou, com a voz rouca, mas a figura não respondia, apenas desaparecia cada vez mais nas profundezas da floresta. Charlotte acelerou, ignorando o corpo machucado e as dores que a carne aberta causava.

Quando finalmente alcançou uma clareira, ela parou, ofegante, com o coração batendo freneticamente no peito. Lá, de costas para ela, estava a figura. O cabelo era idêntico ao de Natalie, os ombros caídos de exaustão, como se a garota tivesse estado presa ali por muito tempo. Charlotte se aproximou com cuidado, estendendo a mão.

— Natalie... finalmente... — sussurrou, sentindo uma mistura de alívio e desespero. Ela estava prestes a tocar o ombro da garota, a trazer Natalie de volta, a acabar com todo o tormento... quando, ao menor contato, a figura se duplicou.

Não era mais Natalie.

Charlotte recuou imediatamente, seus olhos arregalados, incapazes de compreender o que via. As figuras que agora se viravam lentamente para ela eram uma imagem distorcida de seus pais. Malcom e Emilia Matthews, seus rostos pálidos e cobertos de veias negras, os olhos completamente vazios, sem vida. Os rostos, agora estavam torcidos em expressões grotescas, com sorrisos maníacos e bocas cheias de dentes afiados. Eram versões demoníacas de seus pais, e, ainda assim, não havia dúvida... eram eles.

— Não... — murmurou Charlotte, dando um passo para trás, horrorizada. As criaturas começaram a andar em sua direção, arrastando os pés pelo chão da clareira. Seus olhos não piscavam, fixos nela, e seus sorrisos eram tão largos que parecia que a pele ao redor da boca iria rasgar.

Você deixou que eles nos matasse, Charlotte... — sussurrou a criatura que antes era sua mãe, a voz soando gélida e cortante, nada parecida com a de Emilia que ela conhecia. — Abandonou sua família... nos entregou ao inferno.

— Vocês não são reais! — Charlotte gritou, sua voz tremendo. Ela deu outro passo para trás, mas tropeçou, caindo sobre os joelhos. As criaturas avançavam, os dedos longos e deformados se estendendo em sua direção.

Nós somos seu passado... não pode fugir de nós... — zombou o demônio com o rosto de seu pai. Ele se aproximava, e a cada passo que dava, o chão parecia pulsar, como se o próprio inferno estivesse vivo, ansioso para devorá-la.

Charlotte finalmente gritou, um som que ecoou pela floresta sombria, enquanto se levantava com esforço e começava a correr. O medo gelava seu sangue, seus pensamentos consumidos pela necessidade de fugir. Sentia os pés escorregarem no chão úmido e irregular, os galhos e espinhos a rasgavam de novo, mas ela não se importava. Só queria escapar daquelas visões macabras, das vozes distorcidas que pareciam sussurrar cada vez mais perto. As criaturas a seguiam, movendo-se com uma rapidez sobrenatural, suas risadas ecoando em seus ouvidos, tornando impossível escapar completamente do terror. Ela correu o máximo que pôde, mas o peso das visões e o cansaço começaram a pesar, suas pernas tremendo com o esforço. Foi então que, de repente, uma mão forte agarrou seu braço e a puxou para o lado, tirando-a do caminho. Ela quase atacou, instintivamente preparada para lutar, mas ao olhar para cima, encontrou o rosto sério e firme de Cynara.

— Calma, é só uma ilusão! — Cynara a sacudiu, forçando Charlotte a focar. — Eles não são reais! Você não pode se deixar levar pelo que esse lugar colocará no seu caminho.

Charlotte estava ofegante, com o corpo todo tremendo, mas aos poucos as palavras de Cynara penetraram em sua mente. Ela olhou para trás, e as figuras de seus pais haviam desaparecido como fumaça. Tudo ao redor voltou ao silêncio sinistro de Sheol.

— Era um truque... — Charlotte murmurou, ainda em choque.

— Sheol vai brincar com sua mente se você deixar. Não caia nas armadilhas. — Cynara a soltou, mas seus olhos permaneciam sérios. — Precisamos continuar. E não se afaste de novo.

Charlotte assentiu, ainda trêmula, mas grata por Cynara tê-la encontrado. O lugar parecia querer devorá-los a cada passo, e ela sabia que aquilo era apenas o começo.

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Sebastian se erguia diante das vampiras, sua presença ainda mais imponente sob a luz turva do local onde estavam. O cenário ao redor era um pesadelo, uma visão de um inferno congelado no tempo, onde cada elemento parecia vivo e pulsante de malevolência. As árvores, retorcidas e cobertas por musgo viscoso, se erguiam como braços disformes de alguma entidade perdida, suas ramificações pendendo como garras, e o céu acima era um turbilhão de nuvens espessas e cinzentas. Ao fundo, silhuetas de torres negras se erguendo em espiral, como se tentassem tocar as profundezas do próprio abismo. A frente deles, um rio de sangue corria lentamente, denso e espesso, serpenteando pelas rochas negras e rachadas que formavam o terreno instável. O cheiro era metálico e enjoativo, uma mistura nauseante de ferro e enxofre que se infiltrava nas narinas de todos os presentes. O solo parecia vivo, pulsando com uma energia nefasta, e a água vermelha carregava consigo pequenos fragmentos de ossos e carne em decomposição, como se fosse o resquício de incontáveis almas perdidas. Sebastian, no entanto, parecia imune à visão, como se aquele cenário fosse uma extensão de sua própria vontade corrompida.

As garotas ao redor dele estavam sentadas sobre rochas irregulares, os olhos levemente pesados, ainda sob o efeito do sangue que haviam ingerido na mansão. Embriagadas o suficiente para não fazerem alardes do que estava acontecendo e do que ainda viria adiante. O poder estava prestes a ser canalizado, mas, para elas, era apenas mais uma memória confusa, algo que se sobrevivessem — o que aconteceria — ficaria marcado como um pesadelo ruim. Natalie, em contraste, estava ciente. Seu corpo estava tenso, seus sentidos alertas, mesmo com o ambiente ao redor tentando puxá-la para uma sensação de torpor. Ela não podia se deixar levar. Estava no centro de algo maior, algo que ultrapassava a própria compreensão daquele lugar, como uma peça vital no ritual que estava prestes a começar. A fronteira entre os reinos infernais parecia respirar com Sebastian, ele estava prestes a invocar algo que nenhuma daquelas vampiras, poderia compreender. A verdade, porém, estava guardada com ele. E no sangue que elas haviam bebido, nas correntes daquele rio pútrido, estava a chave para o que viria a seguir.

— Você vai esperar até amanhã? — Rory perguntou, curiosa, inclinando-se levemente para ele, como se buscasse entender melhor seus planos.

Sebastian sorriu enquanto se aproximava com a mesma leveza perigosa de um predador que se diverte com sua presa.

— No inferno, o conceito de tempo é... maleável — respondeu ele, a voz baixa e suave, mas carregada de uma ameaça sutil.

Rory franziu o cenho, seus olhos escuros se voltando para o céu acinzentado e vazio acima deles.

— Mas não há lua no céu. Na verdade, não há nada — observou ela, sua voz um pouco fria, tentando esconder a inquietação que começava a crescer dentro dela. — Quando saímos, ainda era dia...

— De fato, não vemos a lua e também não faço ideia de quantos dias já se passaram, mas estamos onde precisamos para fazer o que já deveríamos ter feito — Sebastian continuou, sua mão gesticulando vagamente para o horizonte. — O ritual deve começar. Com ou sem lua de sangue, Lilith vai sentir da mesma forma. Você sabe o que fazer com as garotas.

Rory acenou lentamente, mas sua mente estava em outro lugar. Seus olhos vagaram para Natalie, sentada sozinha sobre uma pedra, afastada das outras, seu olhar distante, como se estivesse imersa em seus próprios pensamentos, ou talvez, tentando escapar daquela realidade sufocante.

— E quanto a Natalie? — a vampira perguntou, sua voz carregada de um interesse dissimulado, quase como se estivesse sondando a paciência de Sebastian.

Ele seguiu o olhar de Rory até a humana, seus olhos se estreitando ligeiramente. A expressão dele, que antes parecia controlada, endureceu por um momento antes que ele desviasse o olhar, voltando-se para o rio de sangue.

— Ela será a última. O sacrifício final para Lilith — respondeu Sebastian.

— E se não for Lilith que vier ao nosso encontro? — Rory perguntou.

— Lilith já sabe que estou aqui — disse ele, sua voz ainda serena, mas com um tom levemente ameaçador. — Ela está apenas... aguardando. E nós vamos dar a ela o que ela tanto deseja.

Rory observou-o por mais alguns segundos, tentando ler além do que ele dizia, mas, por fim, aceitou a resposta com um aceno. Ela sabia o que tinha de fazer. Ela se virou lentamente, caminhando em direção às garotas. O ar parecia pesar cada vez mais enquanto ela se aproximava de uma delas. Havia um silêncio absoluto, perturbador, que parecia amplificar o som de seus passos sobre o chão encharcado. Rory se ajoelhou ao lado da primeira garota, sua mão pousando com gentileza no pescoço dela quase como um carinho. Então, num movimento rápido e preciso, ela quebrou o pescoço da garota, ouvindo o estalo seco do osso se partindo. Seu olhar não vacilou, nem hesitou. Esse era o começo do ritual.

Uma por uma, Rory executou o macabro dever. Cada garota, inconsciente, mergulhada em seus próprios sonhos sem saber que estava sendo conduzida para o último passo de sua transição. Os corpos eram então enterrados, dispostos com cuidado sob o solo pútrido, como sementes plantadas no inferno. Quando chegou à sétima garota que deveria ser transformada, Rory parou por um instante, sentindo o peso do momento. Natalie estava à sua frente agora, ainda distante, ainda alheia ao que estava acontecendo ao seu redor. Rory observou-a por um longo momento, sua mão pairando sobre o pescoço da garota. Ela hesitou por um segundo, mas então, sem mais delongas, continuou o processo sombrio.

— O que eles vão fazer com a gente? — Kate, a vampira transformada ainda na mansão, sussurrou para Natalie, sua voz trêmula, cheia de medo.

Natalie ergueu o olhar, frio, distante, como se a pergunta fosse quase absurda.

— Nos matar, ainda não é óbvio para você? — respondeu com uma secura amarga, sem tentar suavizar a brutalidade de suas palavras. Ela estava à beira do abismo, e a realidade crua do que estava prestes a acontecer já a tinha engolido. Havia uma frieza nela que Kate, mesmo nova nessa vida, não esperava.

Kate engoliu em seco, seus olhos vasculhando o ambiente. Tudo ao redor delas era sufocante, o cheiro de enxofre se impregnava no ar, as árvores retorcidas pareciam enjaulá-las, e o rio de sangue que escorria ao longe era o testemunho de que estavam em um lugar onde nada de bom poderia acontecer.

— Que lugar é esse? — Kate perguntou, sua voz baixa, quase um sussurro de pavor.

Natalie soltou um suspiro lento, cansado, observando a vastidão escura e retorcida ao seu redor.

— Com certeza não é uma linha abandonada de metrô — murmurou com sarcasmo. — É o inferno.

— Você está agindo muito calma para quem vai morrer — disse Kate, sua voz carregada de pavor e confusão.

Natalie olhou para ela com um sorriso vazio, sem qualquer sinal de esperança. Seus olhos estavam mais escuros, e pareciam esgotados, como se todo o medo e desespero já tivessem passado por ela e restasse apenas um sarcasmo frio e calculado.

— Você não ouviu o que eles disseram? Eu sou a última — falou, com uma ironia ácida que fez o estômago de Kate revirar. — O grande finale, o presentinho especial de Lilith. O último biscoito fodido do pacote. Vou ter tempo para me desesperar mais tarde.

Kate ficou em silêncio, assustada demais para responder, mas Natalie também não esperava que ela dissesse algo. As palavras eram sua armadura agora, a única coisa que a mantinha de pé naquele inferno literal. Porém, no fundo, mesmo envolta em sarcasmo e amargura, algo em Natalie começou a ceder. Ela sentiu a verdade nua e crua em cada palavra que dizia: ela não tinha mais solução, estava presa, e não havia escapatória. O sacrifício final, o presente para Lilith. Era isso. O fim.

Mas então... algo aconteceu. Algo inesperado.

No silêncio opressor daquele lugar, uma voz familiar ecoou. Baixa no início, quase um sussurro que ela mal conseguiu captar, mas inconfundível. "Natalie..." A voz da sua mãe, Vera. O coração de Natalie saltou no peito, e ela congelou, os olhos arregalados, como se o tempo tivesse parado por um segundo. Ela piscou, confusa, sentindo seu corpo inteiro vibrar com a lembrança. Vera havia tentado alcançá-la antes, em uma tentativa desesperada de canalizar seu espírito, e agora aquela sensação, aquela esperança mínima, retornava. "Não... não pode ser real...", ela pensou. Mas, contra sua própria razão, uma faísca de esperança se acendeu no fundo de seu ser, uma faísca que ela não sabia que ainda existia. A ideia de que sua mãe pudesse alcançá-la naquele lugar, mesmo que brevemente, fez com que Natalie se agarrasse a algo que não havia sentido em muito tempo: a possibilidade de que nem tudo estivesse perdido.

— Mãe? — Respondeu a loira.

Ela olhou para Kate, que pareceu não se importa mais com ela. Por um breve momento, Natalie permitiu-se sentir uma pequena, frágil esperança florescer no caos. Talvez, apenas talvez, houvesse uma chance de sair viva daquele lugar.

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— Onde esse caminho vai dar? — Greg perguntou, olhando em volta. A última vez que ele estivera no inferno, havia seguido por uma trilha semelhante, que o levara direto ao castelo de Lilith. Mas agora, a vastidão daquele lugar se estendia como um pesadelo interminável, o caminho serpenteando sem fim e sem qualquer sinal de destino.

Cynara olhou para frente, seus olhos fixos no horizonte distorcido. As palavras do pai ecoavam em sua mente, trazendo um conhecimento que ela desejava nunca ter precisado.

— Se as pesquisas do meu pai estiverem certas, o caminho vai levar à fronteira — respondeu Cynara. — Todos os reinos do inferno se conectam em algum ponto, e essa estrada deve nos levar até lá.

Greg soltou uma risada nervosa, varrendo o olhar ao redor, como se a qualquer momento algo pudesse emergir das sombras densas.

— Ótimo, isso aqui é a porra do Mágico de Oz versão infernal — ironizou o vampiro, tentando aliviar a tensão, mas suas palavras caíram no silêncio do inferno, engolidas pelo ar pesado e o cheiro de enxofre.

Charlotte soltou um suspiro, claramente impaciente. Aquele lugar já estava a desgastando, e o comentário de Greg não ajudava.

— A diferença é que não temos nenhum sapatinho vermelho para nos fazer voltar para casa — Cynara comentou, secamente, sem tirar os olhos do caminho à frente.

— Então como vamos voltar? — Greg questionou, seu tom mais sério agora, uma preocupação genuína surgindo.

— Lilith — Cynara respondeu, como se a resposta fosse óbvia, mas havia uma sombra em sua voz, como se dissesse algo inevitável.

Charlotte parou, irritada, a frustração borbulhando dentro dela. Tudo estava acontecendo por causa de Lilith. A cada segundo que passava, parecia que a maldita demônio estava por trás de todos os seus problemas, um fio invisível controlando cada passo.

— Dá pra não falar o nome dessa puta? — Charlotte disparou, a raiva evidente em cada sílaba. — Tudo isso está acontecendo por causa dela. Toda essa merda. Por causa de uma maldita entediada que decidiu brincar com nossas vidas.

Cynara virou-se lentamente, encarando Charlotte, seus olhos impassíveis.

— Ela pode estar ouvindo você, sabia? — disse Cynara, como se mesmo ali, cercada pela escuridão, Lilith pudesse estar à espreita.

Charlotte apenas deu de ombros, os olhos faiscando de frustração.

— Desculpa, mãezinha — retrucou a Matthews, sarcástica, revirando os olhos enquanto voltava a caminhar, como se não se importasse com as consequências de suas palavras.

O silêncio caiu sobre o grupo. A trilha sinuosa à frente parecia mais longa a cada passo, como se a própria essência do inferno estivesse se movendo ao redor deles. Horas pareceram se passar até que Cynara parou abruptamente, os olhos fixos no horizonte enevoado. Havia algo ali, algo que ela podia sentir, ainda que invisível aos olhos. O coração dela apertou, um nó de tensão crescendo em seu estômago.

— Eu sinto algo — ela murmurou, o olhar distante, mas a convicção em sua voz fez os outros se virarem para ela. — Sebastian... está próximo, mas não sei se fato estamos tão perto assim da fronteira.

— Pode ser um truque... — Greg alertou.

Charlotte sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A imagem de seus pais distorcidos por feições demoníacas ainda a assombrava, mas agora, a urgência de encontrar Natalie e acabar com Sebastian era tudo o que importava. De repente, um som perturbador ecoou no ar. Uma risada baixa e gutural, como se viesse das profundezas da terra, reverberou por toda a planície infernal. O som cresceu, gotejando sarcasmo e desprezo, uma voz que Charlotte reconheceria em qualquer lugar.

— Ou pode ser que não... — Charlotte sussurrou, os punhos se cerrando instintivamente. Seus olhos se estreitaram, a raiva borbulhando sob sua pele.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ao longe, na névoa vermelha, uma figura escura começou a se formar. O ar ao redor deles pareceu vibrar de novo, e Charlotte sentiu o sangue em suas veias ferver. Com um último olhar ao horizonte, a vampira Matthews respirou fundo, preparando-se para o viria a seguir.

Gente, rolou uma lua de sangue mesmo essa semana (14/03), se vocês meninas ficaram naquele dia durante esse eclipse, tenho uma grande notícia para vocês...

CAPITULO ATUALIZADO: 15/03/2025 - NÃO REVISADO

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