Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟑𝟏)

O calor tocou a pele do rosto. Então Natalie abriu os olhos, percebendo que se encontrava à beira do lago de Toms River, os pés quase tocando a água. O som suave e constante da cachoeira distante preenchia o ar, como um sussurro familiar que a envolvia. A brisa fresca soprou contra seu rosto, trazendo uma sensação tão real e vibrante que a fez franzir o cenho, confusa. Como ela havia chegado ali? A última lembrança era de paredes fechadas, do cheiro pesado e metálico de onde Sebastian a mantinha presa... e agora, do nada, ela estava cercada por árvores altas, o céu claro acima, como se o mundo tivesse girado sem aviso. Ela olhou em volta, a confusão crescendo. A água à sua frente era tranquila, cristalina, mas ela se manteve afastada da profundeza por segurança. Seu peito se apertou ao pensar na profundidade oculta daquele lago. Sua fobia de água era uma constante lembrança sombria do que havia acontecido no passado. E agora, mais uma vez, parecia cercada por aquilo que mais temia.

Ao longe, o som da cachoeira crescia, sua força reverberando nas pedras. Próximo a ela, as rochas formavam uma moldura natural, escorregadias e traiçoeiras. Foi então que as viu — duas garotinhas. Elas brincavam nas pedras, descalças, rindo como se o mundo não tivesse perigo algum. Natalie estreitou os olhos, reconhecendo uma estranheza naquela cena. Ela sabia que algo estava errado. As meninas estavam muito perto da área mais funda, e isso era perigosa demais. Quis gritar para alertá-las, mas, ao abrir a boca, nenhum som saiu. Tentou novamente, desesperada, mas era como se sua voz estivesse presa em algum lugar distante. O pânico subiu por sua espinha enquanto ela via as duas crianças continuarem a brincar, indiferentes ao perigo.

Foi nesse momento que algo lhe ocorreu, um pensamento que fez o sangue gelar em suas veias. Elas pareciam... familiares. Os cabelos castanhos com o mesmo corte. A maneira como corriam, o som suave de suas risadas. Ela as conhecia. Ela mesmo era uma delas. Aquilo não era apenas uma cena qualquer, era uma lembrança. Ela e Anelise. O lugar onde tudo aconteceu. O coração de Natalie disparou. Ela precisava impedi-las, precisava salvar Anelise dessa vez. Mas quando tentou correr até elas, sentiu uma mão firme segurando a sua, detendo seu impulso. Natalie virou-se bruscamente, pronta para se libertar, mas então congelou. Anelise estava ali, de pé ao seu lado, e a encarava com os mesmos olhos que Natalie via todos os dias no espelho. Mas algo estava diferente. Anelise não era mais uma criança. Agora, ela era tão velha quanto Natalie, o reflexo perfeito de sua irmã gêmea, exceto pelos longos cabelos castanhos que caíam sobre os ombros.

Natalie ficou sem reação. As palavras pareciam presas em sua garganta enquanto processava o impossível.

— Ane? — sua voz finalmente saiu, entrecortada pela incredulidade. A irmã assentiu, com um sorriso suave e triste nos lábios.

— Oie, Nana.

— Como... Isso... isso é um sonho, não é? — A confusão e o medo lutavam em Natalie. Como poderia estar falando com sua irmã morta?

— É um sonho, mas também é um meio para você entender o que precisa — respondeu Anelise, sua voz era suave, mas havia uma seriedade no tom, como se ela soubesse mais do que deveria. — Há coisas que não podemos mudar, Natalie. A morte é uma delas.

Natalie desviou o olhar para as duas meninas ainda brincando nas pedras, sentindo a dor daquela lembrança, o final inevitável que viria em breve. Ela não conseguia suportar a ideia de perder Anelise de novo.

— Eu não consegui te salvar, Ane. — A voz de Natalie falhou. — Eu tentei, mas você...

Anelise apertou a mão dela, firme, mas carinhosa, forçando Natalie a encará-la.

— Há coisas que estão além do nosso controle, coisas que simplesmente acontecem. E minha morte... foi uma dessas coisas.

Natalie sentiu as lágrimas queimarem seus olhos, mas piscou para afastá-las, sem saber o que mais dizer.

— Você precisa se perdoar, Nana — Anelise disse, com uma suavidade que contrastava com a força em seus olhos. — Esse é o verdadeiro poder que você precisa encontrar. O perdão. Não pelo que você fez, mas pelo que carrega dentro de você, essa culpa que te consome desde que eu me fui.

Natalie piscou, sentindo um aperto no peito. O nome da irmã soava como uma ferida aberta, que ela nunca conseguiu fechar. A lembrança daquele dia voltava, como um pesadelo recorrente que a prendia ao passado o tempo todo.

— Eu sinto muito... — A voz de Natalie tremeu.

— Não foi sua culpa, Natalie — Anelise interrompeu, firme, mas com uma doçura que fez os olhos da irmã marejarem. — O que aconteceu não estava nas suas mãos. Você era só uma criança. E eu... eu nunca te culpei por nada disso. Mas, enquanto você não se perdoar, vai continuar presa ao passado. Presa ao que nunca pode mudar.

Natalie tentou conter as lágrimas, mas elas vieram, com uma força que ela não sabia conter. Sempre foi assim — uma culpa silenciosa, carregada como um fardo solitário. Ela nunca disse em voz alta o quanto se culpava pela morte da irmã.

— Como posso perdoar a mim mesma? — perguntou, quase em desespero. — Como posso esquecer o que aconteceu?

— Não é sobre esquecer — Anelise explicou, inclinando-se ligeiramente para frente. — É sobre aceitar que você fez o melhor que podia. Você precisa perdoar a si mesma, porque, até que faça isso, não conseguirá seguir em frente. O que aconteceu comigo, não impede você de viver. Não deixe que o peso do passado te impeça de seguir adiante.

O silêncio que se seguiu foi pesado, mas não opressor. Pela primeira vez, Natalie sentiu que, talvez, aquela dor antiga pudesse ser aliviada, se ela se permitisse.

— Eu sinto tanto a sua falta... — Natalie murmurou, apertando as mãos de Anelise, tentando segurar sua presença por mais tempo.

— Eu sei... mas não estou realmente longe. Estou com você. — Anelise sorriu, um sorriso suave, mas cheio de verdade. — Mas agora, você precisa se libertar desse fardo, Nana. Viver por você, não pelo que acha que perdeu. E saiba que eu sempre estarei com você, onde quer que vá.

O som de água correndo começou a ecoar ao longe, enquanto o sonho e a imagem de Anelise começavam a se desfazer lentamente.

— Não... Ane, por favor, não vá... — Natalie suplicou, as mãos da irmã se esvaindo entre seus dedos.

— Eu estou com você... sempre estarei... — foi o último sussurro de Anelise, antes que tudo ao redor de Natalie mergulhasse na escuridão.

Natalie acordou com um sobressalto, o corpo tremendo e a respiração entrecortada. Sua boca estava seca, e, antes que pudesse se controlar, um soluço escapou, seguido por um choro abafado. Ela permaneceu deitada por alguns instantes, encarando o teto escuro acima de si, sentindo o eco de seu sonho reverberar dentro de seu peito. Com um movimento hesitante, sentou-se na cama, enxugando as lágrimas com as costas das mãos. O peso da realidade ainda a pressionava, mas algo havia mudado. O sonho com Anelise era mais que uma lembrança dolorosa, mais que o estresse dos últimos dias ou a fome e fraqueza que a assombravam. Era um sinal. Ela tinha que lutar. Determinada, Natalie olhou ao redor, percebendo pela primeira vez que estava em outro cômodo. Não era a cozinha defasada onde Sebastian a mantinha antes. O quarto era vasto, decorado com móveis antigos de madeira pesada. As cortinas, embora desgastadas pelo tempo, pendiam com elegância nas janelas altas. Levantou-se da cama, sentindo o chão frio sob seus pés, e se aproximou da janela. Ao puxar a cortina, a luz suave da manhã entrou no quarto, iluminando seu rosto pálido. O dia havia amanhecido.

Um misto de alívio e confusão tomou conta dela. No entanto, antes que pudesse organizar seus pensamentos, ouviu uma batida suave na porta. O som fez seu coração acelerar novamente, a tensão voltando em ondas. Ela deu um passo para trás instintivamente, enquanto a porta se abria devagar. Rory entrou, com uma expressão neutra no rosto e uma bandeja nas mãos.

— Trouxe comida — disse Rory, sem emoção, enquanto fechava a porta atrás de si e colocava a bandeja sobre uma pequena mesa próxima à cama. — Você deve estar com fome.

Natalie observou a garota por um momento, ainda cautelosa. Rory parecia... diferente. Havia algo na forma como ela se movia, a maneira fria com que a encarava. Até pouco tempo atrás, Aurora era a goleira do time The Storm, ágil e observadora. Embora fizesse parte do grupo popular da escola, que muitas vezes a hostilizava, Rory nunca foi uma das que a provocava ou participava do bullying diretamente. Na verdade, ela até era uma pessoa legal, sempre neutra e distante dos conflitos, diferente das outras garotas que a cercavam. Tentando apelar para aquela parte de Rory que ainda conhecia, Natalie respirou fundo e decidiu jogar com a memória do que um dia foi a garota à sua frente.

— Rory... Eu sei que você não é assim. — A voz de Natalie saiu mais firme do que esperava, apesar do medo que sentia. — Você nunca foi dessas que machucava os outros. Você era legal, nunca foi cruel como as outras. Nós éramos colegas de time, lembra? — Ela fez uma pausa, buscando algum lampejo de reconhecimento nos olhos da vampira. — Não precisa seguir o Sebastian. Ele não é o que você pensa.

Rory virou-se para encará-la, o rosto inexpressivo, mas os olhos carregados de uma intensidade que Natalie não reconhecia. A frieza era notavel, deixando-a tão diferente da garota que defendia os gols como uma muralha. Agora, essa nova Aurora parecia ter sido moldada pelo gelo.

— O que você sabe sobre o que eu sou, ou o que eu quero? — Rory rebateu com uma voz cortante, o olhar frio. — Eu escolhi isso, Natalie. Eu escolhi seguir Sebastian, porque ele é mais do que qualquer um de nós poderia ser.

Natalie deu um passo à frente, mesmo com o cansaço pesando sobre seu corpo.

— Sério? Você acha que ele vai te dar o que você quer? — Natalie olhou diretamente nos olhos de Rory. — Aurora, ele não te vê do jeito que você o vê. Não importa o quanto você tente ser leal ou como ele te trata bem por enquanto... no fim, você é só mais uma para ele sacrificar. Ele só quer o seu sangue, assim como ele quer o meu.

Rory franziu a testa, dando um passo em direção a Natalie, como se sua paciência estivesse no limite.

— Cale a boca. Você não sabe nada sobre o que está acontecendo. — O tom de Rory começou a vacilar, mas ainda cheio de dureza.

— Eu sei o suficiente. — Natalie continuou, sem recuar. — Ele nunca vai te querer de verdade, Rory. Tudo isso é uma mentira. Você acha que é especial, mas no final, você será apenas mais uma oferenda para Lilith, assim como eu ou as outras.

A expressão de Rory finalmente mudou. A raiva explodiu em seus olhos, as mãos cerradas em punhos enquanto se aproximava mais de Natalie, o rosto vermelho de fúria.

— Cale-se! — Ela gritou, os dentes à mostra, claramente controlando a vontade de atacá-la. — Isso é mentira! Sebastian me ama... Ele precisa de mim!

Natalie não recuou, ainda que seu coração estivesse disparado. Ela havia tocado um ponto sensível, e agora precisava seguir.

— Você acha que ele te ama, Rory? — Natalie provocou, encarando-a com firmeza. — Ele já decidiu o seu destino, e não é o que você imagina. Não terá felizes para sempre quando o dia do ritual chegar.

A fúria de Rory atingiu o auge, e ela avançou com uma velocidade sobrenatural, prendendo Natalie contra a cama. Seus olhos brilhavam com raiva contida, e seus dedos afundaram nos ombros de Natalie, imobilizando-a com uma força que a humana não poderia resistir. O rosto de Rory estava a poucos centímetros do de Natalie, seus dentes afiados à mostra, como os de uma serpente prestes a atacar.

— Você acha que sabe alguma coisa sobre mim? — Rory sibilou, a voz baixa e ameaçadora, cada palavra carregada de veneno. — Eu nunca fui boa, Natalie. Nunca. Desde que eu era pequena.

Natalie engoliu em seco, tentando disfarçar o medo que fazia seu coração martelar no peito. Se ela demonstrasse fraqueza agora, Rory poderia realmente matá-la. Respirando fundo, ela olhou direto nos olhos da vampira, mantendo a calma.

— Rory, tenta se lembrar... de quem você foi. — A voz de Natalie saiu mais suave, mas firme. — Isso que você está dizendo... não é verdade. Você sempre foi uma boa pessoa.

Rory riu, mas o som estava longe de ser alegre. Era uma risada amarga, quase animalesca.

— Uma boa pessoa? — A vampira repetiu com desdém, aproximando-se ainda mais, seu hálito quente contra a pele de Natalie. — Eu matei meus pais, Natalie. Queimei eles vivos dentro de casa. Meu irmão também. Todos eles morreram por minha causa.

Natalie sentiu o choque tomar conta de seu corpo. Ela ficou sem fala por um momento, processando a confissão. Rory sempre fora uma figura distante, mas nunca alguém que ela teria imaginado carregar algo tão sombrio. Era como se uma máscara tivesse caído, revelando uma face desconhecida, um monstro que sempre estivera lá, oculto.

— Eu... eu não sabia disso, Rory. — Natalie finalmente murmurou, a respiração pesada. — Mas, mesmo assim... acidentes acontecem. Isso não define quem você é.

Rory apertou os ombros de Natalie com mais força, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e frustração.

— Acidente? — Ela cuspiu. — Não foi um acidente.

Natalie piscou, o terror crescendo em seu peito, mas ao invés de recuar, ela lembrou-se de Anelise.

— Eu perdi minha irmã também, Rory. — Natalie falou, sua voz vacilando, mas ela insistiu. — Ela morreu por minha causa. E eu passei anos me odiando por isso. Mas... eu tive que aprender a me perdoar.

As palavras pareciam provocar uma leve hesitação em Rory. Algo em seu olhar escureceu, como se, por um breve instante, estivesse lutando consigo mesma. Natalie percebeu a oportunidade e continuou, a voz baixa, quase um sussurro.

— Eu sei o que é se sentir presa pelo passado, como se você fosse apenas as coisas ruins que fez. Mas você não é só isso, Rory. Tem uma parte sua que pode lutar contra isso.

Rory manteve os olhos fixos em Natalie, seus dentes ainda à mostra, mas sua raiva parecia menos explosiva agora, mais controlada. Natalie não sabia se tinha conseguido atravessar as barreiras que a vampira havia erguido, mas algo havia mudado — mesmo que pouca.

— Você não entende... — Rory murmurou, a voz ainda carregada de fúria, mas com uma nota de dúvida. — Eu nunca quis ser salva.

— Talvez não seja sobre ser salva. — Natalie respondeu suavemente. — Talvez seja sobre fazer a escolha certa agora.

Rory hesitou, o ódio em seu rosto vacilando enquanto ela lentamente afrouxava o aperto nos ombros de Natalie. Sem dizer nada, a vampira se afastou, dando um passo para trás. Natalie, ainda ofegante, se ergueu lentamente, sentindo os músculos tensos relaxarem. A atmosfera no quarto mudou, e a intensidade mortal de Rory deu lugar a algo inesperado. A vampira virou-se de costas, passando as mãos trêmulas pelo rosto. Quando voltou a encarar Natalie, seu olhar era diferente. As lágrimas que escorriam de seus olhos eram de sangue, um sinal claro da tristeza e arrependimento que ela tentava esconder.

— Não resta muito pra mim, além disso... além do que me tornei. — A voz dela saiu fraca, quase um sussurro. Ela deu um pequeno passo para longe da cama, com os ombros curvados. — Às vezes, eu sinto que ele está apenas me usando. — Rory riu amargamente, limpando as lágrimas de sangue que manchavam seu rosto. — Mas é como se, de alguma forma, eu ainda não conseguisse me afastar. Como se estivesse presa nessa... atração por ele. Não sei explicar. É como se uma parte de mim soubesse que... não vai durar muito mais tempo.

O arrependimento que transparecia em Rory foi suficiente para amolecer o coração de Natalie. Ela não sentia mais medo da garota à sua frente, mas sim um pesar profundo por alguém que, de certa forma, também era prisioneira das circunstâncias. Natalie se sentou na beira da cama, olhando para Rory com cuidado.

— Eu sei que parece que não há saída, mas talvez ainda haja uma chance. — A voz de Natalie era suave, mas firme. — Uma chance de acabar com tudo isso. E você não precisa ser uma parte disso, Rory.

Rory enxugou mais uma lágrima de sangue, encarando o chão.

— Christine... onde ela está? — A pergunta de Rory pegou Natalie de surpresa, e ela hesitou antes de responder.

— Eu não... sei... — Natalie manteve a voz calma, mas estava relutante em revelar mais. Ela não sabia em quem podia confiar naquele momento. — Tudo vai ficar bem, Rory. Mas você precisa escolher de que lado quer estar. Pode me ajudar. Podemos nos ajudar.

Rory ergueu os olhos, a expressão endurecida pelo que parecia ser uma decisão difícil. Ela respirou fundo e, depois de um longo momento de silêncio, assentiu.

— Eu vou ajudar. — Sua voz saiu baixa, mas resoluta. E pela primeira vez desde que entrara naquele quarto, Rory parecia verdadeiramente vulnerável.

▬▬▬▬▬▬▬【☪】▬▬▬▬▬▬▬

No hotel, o ar parecia denso, quase palpável com a tensão que pairava sobre o grupo. Todos estavam reunidos em torno do notebook de Greg, cujas mãos pairavam sobre o teclado enquanto ele exibia a imagem estática da mansão de Sebastian. A tela iluminava os rostos sombrios ao redor da mesa, revelando detalhes da nova propriedade adquirida por Sebastian. Ele havia vasculhado o Google Street View, capturando todas as possíveis entradas e saídas. O silêncio que se instalara era inquietante; não era apenas a gravidade da situação, mas o reconhecimento da dificuldade que tinham pela frente.

— Esse é o lugar — disse o vampiro, o dedo traçando o perímetro da propriedade. — Tem duas entradas principais: a da frente e uma lateral, que provavelmente é para os empregados. Mas, como podem ver, é uma casa antiga, sem câmeras ou grandes seguranças. Só as vampiras que ele criou... mas, durante o dia, elas não são problema. Vão se queimar ao mínimo contato com o sol.

— Então, Greg, não vai pedir ajuda para a Lilith? — Charlotte provocou, sem tirar os olhos da tela. — Seria bom ter um demônio do seu lado, não acha? — Sua voz pingava ironia, com aquele toque cruel que só ela sabia fazer.

Greg revirou os olhos, claramente incomodado, mas manteve o tom contido.

— Eu raramente encontro Lilith... e, mesmo que quisesse... ela não é do tipo que ajuda de graça.

Charlotte inclinou-se para frente, um sorriso venenoso dançando em seus lábios.

— Raramente, é?

O rosto de Greg se contraiu por um momento, mas ele manteve o controle.

— Lilith não é que você acha que ela é. — Sua resposta foi seca, mas a tensão era palpável.

— Chega disso. — Cynara interrompeu o embate, a voz firme e autoritária. — Nós temos que focar. Não importa o que Lilith quer ou o que você fez, Greg. O que importa é Sebastian. Ele é o alvo. E eu... eu vou acabar com ele. — Seu olhar tinha uma frieza gélida, e uma determinação que fez o grupo se silenciar por um momento. Charlotte deu um leve suspiro, finalmente tirando os olhos de Greg e voltando sua atenção ao plano.

— Ah! Claro. Vamos deixar Sebastian para você. Afinal, ninguém aqui tem mais motivos para matá-lo do que você. — Ironizou a Matthews. Cynara revirou os olhos.

— Só estou dizendo que meu irmão e eu temos muito o que resolver. — Cynara tentou explicar.

— Mas não esqueça: ainda temos Natalie para resgatar. Se nos distraímos, ele vai usá-la antes de sequer termos a chance de chegar perto dele. — Charlotte acrescentou.

— Certo. Agora, vamos nos concentrar no resto do plano. Precisamos atacar pela lateral — continuou Greg, retomando o controle da discussão. — podemos usar a cobertura das árvores ao redor. Durante o dia, será a melhor forma de entrar. As vampiras dele são fracas sob o sol, mas se entrarmos à noite, estaremos com problemas. A luz natural é nossa maior vantagem, e precisamos agir rápido.

— E depois? — Vera finalmente perguntou, a voz baixa, mas cheia de preocupação. — Como garantimos que sairemos de lá com Natalie?

— Eu e Charlotte podemos entrar por aqui, pelo lado mais escondido. Cynara pode tentar a janela do segundo andar. — Greg continuou, ignorando a tensão anterior. — Vera, talvez você possa usar o seu dom para sentir onde Natalie está dentro da casa. Se conseguirmos distraí-los, é mais provável que a resgatemos rápido. Christine, você infelizmente deve ficar. — A vampira sentada na cama, suspirou. — Então estamos todos de acordo?

▬▬▬▬▬▬▬【☪】▬▬▬▬▬▬▬

Natalie encarou a bandeja de comida à sua frente, o estômago estava embrulhado tanto pela fome quanto pela dúvida. Observou o sanduíche simples, talvez de algum aplicativo de entrega, junto com uma xícara de café e uma garrafa de água. A comida parecia quase fora de lugar naquele cenário, como se tivesse vindo de outro mundo, um onde não havia vampiros e armadilhas. Um questionamento ousado passou pela sua cabeça: teria o entregador daquela comida ter sobrevivido a entrega? Rory colocou a bandeja sobre a cama com um gesto calmo, quase indiferente, como se fosse um ritual cotidiano. Seus olhos escuros observaram Natalie, esperando que ela se mexesse, que aceitasse.

— Você pode comer, sabe? — Rory falou, a voz controlada, quase fria, mas havia um tom de sinceridade que pegou Natalie desprevenida. — Não tem nada de errado aí. Eu não como mais isso, claro... mas achei que você poderia precisar de algo antes de tentar qualquer coisa.

Natalie hesitou por um momento, os dedos trêmulos se aproximando da borda da bandeja, ainda sem tocar a comida. Ela olhou para Rory, tentando decifrar qualquer traço de ameaça em suas palavras ou expressão, mas a vampira parecia mais neutra do que o esperado.

Isso por si só já a deixava inquieta.

— E... onde está Sebastian? — Natalie perguntou, a garganta seca, desviando o olhar para a comida, sem coragem de encarar Rory por muito tempo.

Rory deu de ombros, cruzando os braços e recostando-se na parede ao lado da janela.

— Ele saiu. Deve estar atrás de mais garotas, disse que tem um jeito de fazer isso de um modo mais fácil... — A voz de Rory soou amarga, mas havia uma verdade ali, e Natalie se agarrou a isso. — Vai demorar um pouco até ele voltar.

Natalie sentiu uma pequena onda de alívio. Pelo menos, por enquanto, ela estava a salvo. A ideia de comer finalmente pareceu menos arriscada, e seus dedos alcançaram o sanduíche, embora com hesitação. Ela deu uma mordida, o gosto simples, mas reconfortante, enquanto Rory continuava a observá-la com atenção.

— Você realmente vai me ajudar? — Natalie perguntou, ainda desconfiada, mas sentindo a necessidade de uma resposta clara. Rory parecia diferente do que lembrava, mas a verdade ainda estava encoberta em sombras. A vampira inclinou a cabeça para o lado, como se ponderasse a pergunta, mas acabou soltando um suspiro.

— Confie em mim, Nat. — Ela falou suavemente, sem a usual dureza. — Eu posso ser... tudo isso agora, mas ainda sinto. Não sou só uma ferramenta dele, pelo menos não quero ser. Não mais.

Natalie franziu o cenho, ainda mastigando o sanduíche, mas mantendo os olhos fixos em Rory. Ela estava começando a sentir que talvez houvesse verdade em suas palavras. Rory nunca fora má com ela no colégio, e, mesmo agora, parecia menos fria do que deveria ser uma cúmplice de Sebastian. De alguma forma, ela parecia mais humana naquele momento do que qualquer outra coisa. A vampira pegou a garrafa de água da bandeja e a estendeu para Natalie.

— Beba isso. Você precisa se manter forte se quer sair daqui. — Rory disse, com uma gentileza quase inesperada.

Natalie aceitou a garrafa, seus dedos ainda trêmulos ao tocar o plástico gelado. Ela olhou para Rory, buscando qualquer indício de traição, mas, por enquanto, tudo que viu foi uma garota tentando, de alguma forma, ser útil. Rory estava oferecendo ajuda real, era o que parecia.

— Eu não sei o que vai acontecer quando ele voltar... mas enquanto ele estiver fora, posso tentar te ajudar a encontrar uma saída. — Rory continuou, olhando pela janela, como se medisse o tempo que restava até o retorno de Sebastian.

— Obrigada, Rory. — disse Natalie, sua voz estava carregada de sinceridade, mesmo que sua desconfiança ainda permanecesse fixa na mente. Rory olhou para ela, uma sombra de sorriso nos lábios, antes de se voltar novamente para a porta.

— Não me agradeça ainda. — Ela murmurou, a expressão séria de novo. — Não temos muito tempo.

— E quanto à garota que você transformou? — Natalie perguntou, desviando o olhar para a porta. Podia lidar com Rory, mas outro vampiro desconhecido complicaria as coisas. A ideia de uma presença ainda mais incontrolável ali, sozinha naquela casa, a fazia sentir um nó no estômago.

Rory hesitou por um segundo, antes de responder.

— Ela está lá em cima, trancada em um quarto, e vai ficar lá por um bom tempo. Eu espero. — A voz de Rory saiu quase num sussurro, como se revelasse algo que não deveria ser dito. — O dia já amanheceu e... — ela mordeu os lábios, um gesto que parecia deslocado em seu rosto imortal. — Droga, eu não posso sair à luz do dia.

— Então me guie até a saída. Eu saio e volto com ajuda. — Natalie largou a garrafa de água sobre a cama. — Você só precisa manter Sebastian ocupado com minha ausência.

— Ele já tirou muito do seu sangue, e vai precisar de mais. — Rory desviou o olhar, focando nas veias no pescoço de Natalie por um momento longo demais. Seus olhos ficaram pesados, a fome evidente em seu rosto pálido. Natalie percebeu e limpou a garganta nervosamente. — Além disso, você continua fraca e esse lugar é longe de qualquer civilização. Também não há chance de você sair por aí andando sem cair dura no meio da estrada.

— Eu preciso tentar, pelo menos. — Natalie respondeu com firmeza.

Ela se levantou da cama, os passos firmes e decididos, apesar da exaustão evidente. Quando alcançou a porta e girou a maçaneta, sentiu os olhos de Rory queimando em suas costas, observando cada movimento seu, avaliando.

— Você não vai conseguir, Nat... — Rory murmurou, quase para si mesma.

Sem responder, Natalie abriu a porta e saiu, seus pés pisando o chão frio do corredor estreito. Ela precisa chegar até a porta principal, mas isso parecia mais dificil agora. A casa parecia um labirinto de sombras, cheia de portas e corredores que se estendiam como tentáculos. Cada passo ecoava no vazio escuro, o ar abafado pelo peso do silêncio. Ela sentiu o medo crescer dentro de si, mas continuou, forçando-se a seguir em frente. De repente, parou bruscamente. Havia passos ecoando atrás dela, ficando mais altos a cada segundo. Antes que pudesse reagir, Rory apareceu ao seu lado, a expressão tensa.

— Kate. — Rory sibilou, os olhos estreitos. — Ela conseguiu sair do quarto.

— O que a gente faz? — Natalie perguntou, o coração acelerando no peito.

— No caso você, eu sugiro que corra. Agora. O mais rápido que puder. — Rory respondeu, os olhos escuros refletindo uma mistura de urgência e medo. — Não pare até encontrar a saída, fica pra lá. — A vampira apontou para frente.

Natalie não hesitou. Virou-se e começou a correr pelos corredores escuros, cada curva levando a outro caminho incerto, como um quebra-cabeça impossível de resolver. O labirinto parecia se fechar ao redor dela, as sombras mais densas e sufocantes. O medo pulsava em sua mente, mas ela não podia parar. Então, de repente, algo se chocou violentamente contra seu corpo, empurrando-a com força contra a parede. O impacto fez o ar escapar de seus pulmões, e, antes que pudesse reagir, ela viu o rosto pálido e enlouquecido da vampira recém-transformada. Os olhos dela estavam vazios, selvagens, os dentes expostos em um rosnado animalesco. As mãos da vampira seguravam Natalie com uma força sobrenatural, prendendo-a contra a parede.

— Vai me matar de fome, querida? — A recém-transformada sibilou, as presas perigosamente perto do pescoço de Natalie.

O pânico tomou conta de Natalie, seu corpo paralisado pelo medo. Ela tentou lutar, mas a força da vampira era maior. Naquele momento, Natalie sentiu que o fim estava próximo. E então, como um borrão, Rory apareceu de repente, arremessando a outra vampira para longe com uma força brutal. Kate caiu no chão com um rugido furioso, mas Rory se posicionou entre ela e Natalie, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e determinação.

— Pare! — Rory rosnou, as presas expostas. — Não toque nela.

— Estou com fome, e o sangue dela é tão... — Kate puxou o ar entre os dentes, os olhos brilhando de desejo.

— Quer que aquela bolsa de sangue seja sua última refeição? — Rory ameaçou, dando um passo à frente, a postura ameaçadora.

A tensão se instalou no ar. Kate se ergueu lentamente, os olhos fixos em Rory, avaliando se deveria atacar de novo. Mas o instinto de autopreservação a fez hesitar. Rory era mais forte e, claramente, não hesitaria em usar essa força.

— Volte para o quarto. Agora. — A voz de Rory era baixa e afiada como uma lâmina.

Kate rosnou de volta, mas recuou lentamente, desaparecendo nas sombras. Quando ela sumiu, Rory se voltou para Natalie, o rosto suavizando.

— Você está bem? — perguntou a vampira, ofegante.

Natalie assentiu, ainda recuperando o fôlego, o coração batendo acelerado. Rory estendeu a mão, ajudando-a a se levantar com um toque quase delicado.

— Podemos precisar dela para sair daqui. — murmurou Natalie, sua voz baixa enquanto ela tentava ignorar a dor que ainda latejava em seu corpo.

Rory hesitou, o conflito claro em seus olhos.

— Não sei se podemos confiar nela... nem nas outras que virão. — Sua voz vacilou, revelando um medo que raramente transparecia.

— Por isso mesmo que tenho que ir. — Natalie deu um passo adiante, mas Rory a deteve, com um aperto firme no braço.

— Eu já disse que você não vai muito longe, Nat. E quando voltar, eu posso muito bem já estar morta. — A voz de Rory tremeu levemente, uma rara vulnerabilidade surgindo em suas palavras. — Escuta, eu sei que isso soa loucura, mas é melhor esperar Sebastian voltar. Podemos pensar em algo mais concreto, sem agir por impulso. A Christine não voltou até agora, provavelmente achou alguma ajuda, certo? — A vampira estudou a reação da humana. — Então... por que não esperamos por ela?

— Porque não temos tempo, Rory! — Natalie sibilou, a urgência em sua voz fazendo com que Rory recuasse um passo, passando a mão pelo cabelo em um gesto frustrado. — O ritual acontece amanhã. Amanhã! — O desespero crescia em cada palavra, o olhar de Natalie queimando com intensidade.

Rory suspirou, olhando para o chão por um momento, claramente dividida.

— Eu só... só quero ajudar sem que mais ninguém morra no processo. — sua voz estava quase rouca, um eco de dúvida pesando em cada palavra.

— Além das garotas que ele vai transformar em vampiras? Isso inclui você e eu, Rory. — Natalie se inclinou para a frente, encarando-a com firmeza. — Não podemos esperar mais. O que Sebastian está fazendo não tem volta.

O conflito nos olhos de Rory se intensificou. Ela soltou o braço da garota e balançou a cabeça, seus ombros caindo em uma expressão de derrota momentânea.

— Eu só... preciso de mais tempo.

Rory deu um passo para trás, desviando o olhar de Natalie por um segundo, como se lutasse internamente com o que estava prestes a dizer. Ela passou a mão pelo rosto.

— Eu entendo sua pressa, de verdade. — Sua voz saiu suave, quase um sussurro. — Mas se você sair agora, Natalie... não vai conseguir. — Rory ergueu os olhos, e havia uma sinceridade crua neles. — Sebastian não é estúpido. Ele vai perceber sua ausência rapidamente, e ele... — Rory hesitou, franzindo a testa, como se não quisesse pronunciar as palavras que viriam a seguir. — Ele vai te caçar, onde quer que esteja. E vai matar quem estiver no caminho.

Natalie respirou fundo, irritada, e balançou a cabeça.

— É um risco que eu estou disposta a correr.

— Eu sei, mas e se houver outro jeito? — Rory deu um passo mais próximo, sua voz agora repleta de urgência. — Podemos ganhar tempo com Sebastian, enganá-lo, talvez tenhamos uma chance real. — Rory fez uma pausa, os olhos fixos em Natalie. — Eu posso ajudar a manter ele distraído quando voltar. E, se precisarmos, manipulamos ele. Usamos o tempo a nosso favor.

— Manipular Sebastian? — Natalie ergueu uma sobrancelha, claramente cética.

— Ele confia em mim, Nat. — Rory pressionou, o tom firme. — Se eu fingir que ainda estou do lado dele, você pode ter tempo de descansar, se recuperar. Vai estar mais forte quando tentarmos escapar de verdade. — Rory fez um gesto de desespero, suas palavras cada vez mais intensas. — Agora, você está fraca. Ele tirou muito do seu sangue. Se sair daqui, só vai se colocar em perigo. — Rory mordeu os lábios, em um gesto quase humano. — Eu só quero te ajudar. Por favor, me deixe fazer isso.

Natalie hesitou, o coração batendo acelerado enquanto as palavras de Rory ecoavam em sua mente. Era uma proposta que parecia razoável, especialmente com a exaustão que pesava sobre ela. O olhar de Rory estava fixo nela, e, por um momento, a vampira parecia genuinamente preocupada, dividida entre seu momento sombrio com Sebastian e o desejo de ajudar.

— E se ele perceber que estamos tramando algo? — A pergunta de Natalie veio hesitante, como se ela já estivesse considerando a possibilidade de ceder.

— Ele não vai. — Rory afirmou com confiança, mas havia uma sombra de incerteza em seus olhos. — Ele tem muitas outras coisas em mente agora, está obcecado com o ritual. Se jogarmos nossas cartas com cuidado, teremos uma chance de vencê-lo no próprio jogo.

O silêncio que se seguiu era pesado, e Natalie sentia a batalha interna dentro de si. Ela sabia que o tempo estava contra elas, mas a proposta de Rory não parecia insensata. Com o corpo ainda fraco e a mente exausta, talvez fosse realmente melhor esperar, ganhar mais força... ou talvez fosse exatamente o que Sebastian queria.

— Eu... — Natalie começou, sem saber ao certo o que dizer.

— Me deixe te ajudar. — Rory interrompeu suavemente, estendendo a mão, quase como um pedido silencioso. — Confie em mim, só dessa vez.

Natalie encarou a mão de Rory, seus pensamentos girando como um redemoinho. Se Rory estava realmente sendo sincera, então talvez elas pudessem ter uma chance. Mas e se tudo isso fosse uma armadilha? Ela sentia o peso da decisão em cada fibra do seu corpo.

— Tudo bem. — Natalie finalmente cedeu, pegando a mão de Rory com um aperto fraco. — Mas se algo der errado, se ele descobrir...

— Ele não vai. — Rory garantiu, um brilho de determinação cruzando seus olhos. — Eu vou garantir que ele não perceba nada.

▬▬▬▬▬▬▬【☪】▬▬▬▬▬▬▬

Horas haviam se passado quando Sebastian entrou na mansão, seus passos ecoando pesados no chão de pedra. Ao chegar na cozinha, seus olhos caíram sobre Natalie, que estava próximo à bancada, com o sangue sendo drenado outra vez.

— Vejo que está cooperando melhor do que eu esperava — Sebastian disse, sua voz gotejando sarcasmo enquanto se aproximava. Natalie soltou a bolsa sobre a bancada, a testa levemente úmida pelo esforço.

— Só me adaptando às suas... regras, não tenho opção, né?

Sebastian ergueu uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, sons distantes de conversa começaram a preencher o silêncio. Eram vozes femininas, nervosas, que ecoavam do outro lado da mansão. Natalie reconheceu o som imediatamente. Mais garotas, assim como ela.

— Isso... é música para os meus ouvidos — Sebastian murmurou, com um sorriso cruel se formando em seus lábios. — Você acha que está lidando bem com essa situação? Espere até amanhã.

— Legal. Mais vítimas para o show de horrores. Só falta pipoca. — Natalie tentou manter a compostura, mas a tensão se fez sentir em seus ombros.— Eu prefiro as salgadas, com muita manteiga e coca geladinha, não se esqueça.

Sebastian ignorou o comentário e levantou a voz.

— Rory!

A vampira apareceu quase instantaneamente, seus passos rápidos, mas havia algo sutilmente inquieto em sua expressão. Ela se postou ao lado de Sebastian, evitando o olhar de Natalie, mas era claro que a situação estava se complicando.

— Quero que prossiga com o combinado — disse Sebastian, estendendo para ela uma jarra de cristal. — Corte seu pulso e encha isso. Seu sangue vai começar a transformação nas garotas. O dela — apontou para Natalie — será o toque final, o que completará tudo.

Rory hesitou por um breve segundo, o suficiente para que Natalie notasse. Segundos depois, ela pegou uma jarra e uma faca sem discutir, fazendo um pequeno corte no pulso e deixando o sangue fluir para dentro o objeto. O som do gotejar era o único ruído, além da respiração acelerada da unica humana naquela cozinha.

— Isso é só o começo — murmurou Sebastian. —  O sangue humano dela vai completar a transformação das novas vampiras. E amanhã, quando o ritual começar, teremos o sucesso promissor.

O pulso da vampira se curou assim que a jarra preencheu até metade. Em um ato aparentemente casual, ela se aproximou de Natalie, seus olhos brilhando com uma promessa silenciosa de que ainda havia um plano.

— Ela está pronta, Sebastian. O sangue de Natalie já foi drenado o suficiente para o que precisa — Rory falou, sua voz mais firme. — Ainda temos algumas horas até o ritual, e é melhor não apressar esse processo. E você trouxe muitas garotas, controlar todas elas até amanhã vai ser trabalhoso.

Sebastian parou por um momento, os olhos fixos em Rory como se estivesse ponderando suas palavras. Finalmente, ele deu um sorriso sombrio e assentiu.

— Apenas se preocupe com o que lhe ordena, dragă mea.

Com isso, ele se afastou, indo em direção às vozes distantes das outras garotas. Rory e Natalie ficaram sozinhas na cozinha, o silêncio pesado entre elas. Assim que ele desapareceu no corredor, Rory se virou rapidamente, desfazendo a ligação da bolsa de sangue com Natalie.

— Precisamos manter isso até amanhã — Rory sussurrou, olhando para Natalie com urgência. — Ele precisa acreditar que tudo está indo como planejado. Fique forte. O pior ainda está por vir, mas temos uma chance.

Natalie, assentiu. Ela ainda não confiava plenamente em Rory, mas sabia que naquele momento, era sua única opção.

— Você acha que ele vai tirar mais sangue? — A voz de Natalie vacilou, e seu corpo parecia mais fraco a cada minuto.

— Vai, mas não muito mais do que o necessário. — Rory respondeu, o olhar sério. — Seu sangue é apenas para completar a transição das garotas que ele trouxe. Com elas, o número para o ritual está fechado. — Ela fez uma pausa, os olhos cheios de tensão. — Precisamos de um plano, e rápido.

Natalie processou as palavras, sentindo um aperto gelado no peito.

— Espera... ele vai me transformar... — Um mal-estar súbito tomou conta dela, fazendo-a recuar instintivamente. Ela tropeçou de volta ao banco onde estava sentada antes, o coração martelando. Quando seu sangue humano não fosse mais necessário, ela sabia o que viria a seguir. Sebastian não desperdiçaria nada, por isso, transformá-la em vampira seria o próximo passo. Seu coração bateu descompassado.

— Isso não vai acontecer. — Rory falou com urgência, quebrando o silêncio pesado.

As palavras deveriam ser um conforto, mas o medo não se dissipou do peito de Natalie. A essa altura, tudo que ela podia fazer era torcer para que Christine já tivesse encontrado Charlotte e alertado o grupo.

— Eu preciso voltar para onde Sebastian está. Fique aqui e não faça besteiras. — Rory pediu, saindo com a jarra em mãos, assim como uma das bolsas de sangue de Natalie.

Natalie observou Rory sair, deixando-a sozinha. Seu corpo ainda se sentia fraco, mas a sensação de urgência a fez forçar-se a levantar. Ela respirou fundo, ignorando o mal-estar que a envolvia, e encarou a porta aberta para o corredor escuro. Rory havia feito o possível para ganhar tempo, mas a incerteza do que viria a seguir era insuportável. A ideia de ser transformada fazia seu estômago revirar, mas não havia tempo para hesitações. Rory e Sebastian estavam ocupados, e ela precisava agir. E logo. Apoiando-se no balcão da cozinha por um momento, ela reuniu as poucas forças que ainda restavam. A cada passo, sentia como se o chão estivesse se afastando de seus pés, mas a determinação era maior. Ela não ia desistir. Saindo da cozinha, Natalie seguiu pelos corredores confusos da mansão. O ambiente era sufocante, e o ar parecia ficar mais pesado a cada passo. As paredes estreitas e as portas sem fim faziam o lugar parecer um labirinto sem saída. O silêncio apenas amplificava a sensação de desorientação, exceto por uma voz ao longe, vinda de onde Sebastian estava.

Mesmo distante, ela podia ouvir claramente o tom autoritário dele.

Vocês estão aqui para servir. — Ele falava às garotas que havia atraído para aquele lugar. — Preparem-se para o evento. Tudo que pedimos é sua obediência, e em troca, terão o privilégio de participar de algo grandioso. — Sua voz ressoava com uma frieza controlada. Natalie quase podia ver o sorriso manipulador nos lábios dele enquanto falava.

Revirando os olhos, ela continuou seu caminho, mantendo-se o mais distante possível daquela parte da casa. A ideia de Sebastian enganando aquelas meninas com promessas vazias só alimentava sua raiva. Ele as trouxe para serem transformadas, apenas mais peças descartáveis no seu plano doentio. Natalie poderia aparecer no comodo e dizer a verdade, mas provavelmente seria taxada como louca. Por isso, seguiu outro rumo. Ela virou à esquerda em um dos corredores, encontrando uma escada que levava ao segundo andar e talvez mais outros. Consciente de que Kate, a outra vampira, estava nos andares superiores, evitou subir. Não queria arriscar um encontro com ela naquele estado frágil. Suas pernas tremiam, e seu corpo ainda parecia estar drenando energia com cada passo. Mas ela precisava continuar.

Sem demora, chegou a uma porta diferente das outras. Ela hesitou por um momento, ouvindo o silêncio atrás dela, antes de abrir lentamente. Do outro lado, encontrou uma escada que descia para um lugar mergulhado na escuridão. Respirando fundo, ela começou a descer, cada degrau ecoando no silêncio. A sensação de umidade se intensificava à medida que descia, e o ar ficou pesado, com um leve cheiro de mofo misturado com terra úmida. Quando seus pés tocaram o chão, Natalie olhou ao redor, tentando ajustar seus olhos ao ambiente. O lugar parecia um túnel antigo, com paredes de tijolos desgastados pelo tempo e tochas de fogo iluminando fracamente o caminho. O frio que emanava das paredes somado ao seu cansaço fazia seu corpo estremecer. Ela se sentia mais vulnerável do que nunca, o ar úmido grudando em sua pele e tornando difícil até respirar profundamente. Ao seguir em frente, seus olhos se fixaram em algo no chão.

Um símbolo estranho estava desenhado na terra batida, rodeado de velhas caixas empilhadas. Algo sobre o símbolo a incomodava, mas ela não sabia exatamente o que significava. Curiosa, e com uma leve sensação de que aquilo poderia ser importante, ela se aproximou de uma das caixas. Empoeiradas e antigas, estavam cobertas por palavras escritas em um idioma que Natalie reconheceu vagamente como romeno, a língua nativa de Sebastian. Ao mexer nas caixas, encontrou vários papéis velhos, cheios de palavras estranhas que não conseguia decifrar. Mesmo sem entender, ela sabia que aqueles documentos continham informações cruciais sobre os planos de Sebastian. Então, seus dedos tocaram algo frio. Outra caixa, essa menor, com adornos detalhados. Ao abri-la, seus olhos se fixaram em um frasco pequeno, com algo viscoso dentro. Sangue.

Seu coração disparou. O sangue no frasco poderia ser de Sebastian ou de algum outro vampiro, mas a ideia que lhe ocorreu foi aterradora: e se beber aquele sangue lhe desse uma vantagem? E se, ao se tornar uma vampira, ela pudesse recuperar sua força e talvez ter algum controle sobre o processo de transformação? Seu corpo enfraquecido gritava por uma solução, qualquer uma, e a ideia de resistir parecia impossível naquele momento. Relutante, mas determinada a sobreviver, Natalie abriu o frasco. O cheiro metálico do sangue atingiu suas narinas, fazendo-a hesitar novamente. Mas ela não podia voltar atrás agora. Com uma expressão de nojo, ela aproximou o frasco dos lábios e bebeu o líquido espesso e amargo. O gosto era horrível, e ela quase vomitou na mesma hora. Engolindo com dificuldade, ela sentiu a garganta queimar enquanto o sangue descia, a textura quase viscosa se prendendo na descida da garganta. Seu estômago revirava, mas ela segurou firme, determinada a não desperdiçar a oportunidade que talvez estivesse diante dela.

Guardando o frasco vazio de volta no lugar, Natalie tentou colocar tudo de volta como estava. Fechou a pequena caixa e deu um último olhar para o símbolo no chão, algo dentro dela lhe dizia que havia mais segredos ali do que ela conseguia entender naquele momento. Mas não tinha tempo para pensar. Ao subir as escadas novamente, seu corpo já começava a sentir algo estranho, uma leve sensação de energia percorrendo suas veias, mas talvez fosse só a esperança de sair daquele lugar ainda viva. No entanto, assim que ela chegou ao topo da escada, seus olhos se arregalaram ao ver Sebastian e Rory ali, esperando por ela.

— Achei que você estivesse perdida — disse Sebastian com um sorriso perigoso, seus olhos brilhando de suspeita.

Rory estava ao lado dele, com o olhar frio e distante, uma máscara perfeita de indiferença e lealdade ao vampiro. O contraste em sua expressão era nítido, tão diferente de antes. Rory parecia uma sombra de sua antiga persona, e Natalie se perguntou quão profundo era o papel que ela realmente desempenhava nos planos de Sebastian.

— Curiosa demais para o próprio bem, não acha? — Sebastian avançou um passo, seus olhos fixos em Natalie como se pudesse ver cada movimento dela, cada segredo que ela tentava esconder.

O sangue de vampiro que ela acabara de ingerir ainda percorria seu sistema, mas Natalie sabia que não poderia deixar Sebastian perceber. Ela engoliu em seco, tentando parecer o mais neutra possível.

— Só estava... explorando — Natalie respondeu, lutando para manter a voz firme, embora o medo estivesse presente em cada célula de seu corpo. — Acabei me perdendo do meu quarto.

Sebastian deu um passo à frente, os olhos de predador cravados em Natalie.

— É mesmo? — Ele arqueou uma sobrancelha, a diversão mal disfarçada em seu tom. — Porque acho que você está querendo antecipar o que faremos na lua de sangue. — Sebastian deu mais um degrau à frente, e Natalie recuou, tentando manter a distância entre eles. Ela sentia o coração martelar no peito, sabendo que o sangue de vampiro em seu corpo ainda não havia mostrado seus efeitos completamente, e que ela estava sozinha, sem escapatória fácil.

Ele meneou a cabeça, como se saboreasse a situação, antes de lançar um olhar para Rory, que se mantinha impassível ao seu lado.

— Rory, onde está mesmo a Christine? — perguntou, a voz suave e cheia de insinuações.

Rory, que até então parecia uma aliada silenciosa de Natalie, sorriu de maneira gélida. Seus olhos, que antes exibiam uma sombra de preocupação, agora brilhavam com uma crueldade contida.

— Procurando ajuda para Natalie, mas acredito que o sol já a torrou todinha — respondeu Rory com um tom casual, saboreando cada palavra como se fossem um banquete. Havia algo tão malicioso em seu olhar, que Natalie sentiu o chão sumir sob seus pés. A traição que sempre suspeitara, mas nunca quis acreditar, finalmente se revelava de forma brutal.

Natalie arregalou os olhos, sentindo o estômago revirar, não só pelo sangue de vampiro que ela havia tomado, mas pela surpresa de ser enganada esse tempo todo.

— O que você... — começou a loira, tentando processar a situação.

Rory deu um passo à frente, seus olhos frios fixos em Natalie, com a mesma expressão falsa de antes, mas agora livre de qualquer pretensão de empatia.

— Ah, Nat... — Ela suspirou, os lábios torcendo-se em um sorriso frio. — Você realmente acreditou que eu estava te ajudando? Que eu estava do seu lado? — Rory riu baixinho, vazia e cruel. — Eu só estava ganhando tempo. Mantendo você por perto, enquanto Sebastian preparava tudo.

Sebastian observou a cena com prazer visível, seus olhos dançavam de Natalie para Rory como se estivesse assistindo a um espetáculo cuidadosamente coreografado.

— Ela foi bastante convincente, não foi? — Sebastian zombou, sua voz escorrendo veneno. — Rory foi uma excelente jogadora, devo admitir, — disse Sebastian, como se estivesse concedendo um elogio. — Te deu uma falsa esperança, tudo isso para garantir que você ficasse quietinha, enquanto tudo se desenrolava o resto.

Natalie sentiu o desespero crescer. O ambiente ao seu redor parecia mais frio, e o ar pesado, como se as paredes estivessem se fechando. Ela tentou dar mais um passo para trás, mas a fraqueza em seu corpo era evidente agora. O sangue de vampiro que ela tomou não estava fazendo o efeito que esperava. A transformação que a assustava tanto parecia ainda mais próxima e inevitável.

— Parabéns pelo showzinho, vocês dois se merecem — murmurou Natalie, engolindo a dor e o pavor.

Sebastian sorriu com misto de satisfação e crueldade. Porém, havia algo que ela estava escondendo, e ele estava impaciente para descobrir o que. Com um movimento brusco, ele avançou um passo, e sua voz veio carregada de veneno.

— Aliás, Natalie, para quem Christine foi pedir ajuda? — Ele a encarou, esperando uma resposta imediata.

Natalie engoliu em seco. O medo misturava-se ao cansaço e à dor. Ela não havia revelado a Rory a quem Christine estava procurando, mas, ao que parecia, a vampira já sabia o suficiente para levantar suspeitas. O silêncio estendeu-se por um instante, que parecia interminável, até que Sebastian dilatou as narinas, perdendo a paciência. Num movimento brutal, ele empurrou Natalie com força, derrubando-a pela escada. Ela rolou, desamparada, até bater no chão de terra batida. Uma onda de dor percorreu seu corpo.

— Eu te fiz uma pergunta, humana insolente — Sebastian rosnou, sua voz reverberando nas paredes úmidas do subsolo.

Natalie, ainda no chão, tossiu e cuspiu sangue, o corpo protestando a cada movimento. Mesmo assim, reuniu toda a força que restava em seu corpo e encarou Sebastian com desprezo.

— Vai se foder — ela sibilou entre os dentes, a dor fazendo sua voz tremer levemente, mas o olhar permanece desafiador. Rory observou a cena de cima, seus passos lentos enquanto descia os degraus.

— Natalie está confiante demais de que sairá daqui com a ajuda de Christine — Rory comentou, maliciosa. — Mas uma andorinha não faz verão, não é mesmo? — Ela sorriu, aproximando-se de Sebastian. — E ela está confiando em alguém realmente capaz de dissuadir você.

Sebastian se abaixou, ficando à altura de Natalie, seus olhos fixos nos dela. O olhar dela, mesmo dolorido, continuava impassível, lutando contra o medo. Ele sentiu a resistência dela, algo raro entre os humanos, uma capacidade incomum de fechar a mente para invasões. Mas ele era paciente, persistente, e já tinha lidado com mentes fortes antes.

— Vamos ver, então, quem está vindo te salvar — sussurrou Sebastian com um sorriso predatório, os olhos agora cintilando de expectativa.

Ele invadiu a mente de Natalie com brutalidade, forçando seu caminho através das barreiras que ela desesperadamente tentava manter. A resistência dela era impressionante para um humano, mas ele era muito mais poderoso. A barreira mental de Natalie estava se partindo, e então, como se estivesse rasgando um véu, ele viu. Charlotte. Viva. A visão de sua antiga criação, aquela que ele havia descartado como uma ameaça menor, agora estava clara e intacta na mente de Natalie. E não apenas viva — ela estava vindo. Charlotte, com toda sua fúria, indo direto para ele. Sebastian se afastou abruptamente, o olhar se tornando mais sombrio. Um sorriso lentamente se formou em seus lábios enquanto as possibilidades se revelavam em sua mente.

— Charlotte... — ele murmurou, quase para si mesmo, uma faísca de diversão misturada com surpresa. Rory estendeu uma sobrancelha, percebendo a mudança no ar, e o nome de Charlotte fez seus lábios formarem um sorriso perverso. Sebastian deu um passo para trás, ponderando os novos desenvolvimentos. O plano original estava prestes a mudar. Ele não podia mais esperar. Se Charlotte estava viva no caminho, era preciso antecipar o sacrifício e garantir que seu objetivo fosse cumprido antes que ela chegasse. Ele olhou para Rory. — Está na hora de antecipar o ritual. Chegou o momento de descermos ao inferno. — Sebastian olhou de soslaio para Natalie, que tentou recuperar a respiração e analisar o que ele havia visto em sua mente. — Vamos fazer o sacrifício diretamente a Lilith, e eu irei pessoalmente com as garotas. Charlotte... poderá assistir de camarote enquanto falha mais uma vez.

CAPITULO ATUALIZADO: 01/03/2025 - NÃO REVISADO

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro