
𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟐𝟖)
DIAS ATUAIS — CASA DOS CLARK
O silêncio na sala chegava a ser opressor, principalmente após Cynara se revelar. O ar estava pesado, a tensão era impenetrável. Todos se encaravam esperando por mais respostas, enquanto suas expressões oscilavam entre descrença, choque e medo. Eles jamais poderiam imaginar que, durante todo esse tempo, haviam compartilhado planos e estratégias ao lado de alguém tão profundamente envolvida na origem do problema que agora enfrentavam. Tudo bem que já sentiam que aquela garota era algo maior do que dizia, mas isso? Cynara era Lily, ou melhor, ela era a vampira que carregava o sangue Dascălu, a mesma linhagem de Sebastian. Irmã gêmea dele para ser mais exato. A morena de olhos azuis gélidos ergueu o olhar, com o semblante sério e pesado pela confissão que estava por vir.
— Por séculos, lutei contra meu irmão, tentando impedir sua ascensão ao poder sobre as outras criaturas. — Começou ela, a voz fria e determinada. — Mas não pensem que sempre foi assim. Durante muito tempo, eu fui fraca... cega pela culpa e pelo medo. Quando Sebastian conspirou para destruir tudo e todos à nossa volta, incluindo nossa família, nosso pai... Eu não fiz nada. Não o enfrentei. Deixei que ele se aproximasse do poder, e paguei o preço mais caro por isso.
Charlotte ergueu uma sobrancelha, enquanto Vera se mexeu inquieta na poltrona, e todo o som que Greg conseguiu fazer foi o de limpar a garganta. O vampiro a encarou de cima abaixo, até que o seu olhar questionador encontrou o dela, mas ele hesitou antes de falar. Talvez temesse a resposta. Cynara deu um pequeno suspiro antes de continuar.
— Tudo mudou quando ele tirou Isotta de mim. Ela era... a única coisa boa que eu tinha encontrado nesse mundo. Ela estava treinando para se tornar uma caçadora como o pai, mas que não sabia quem eu realmente era. Eu queria fugir com ela, deixar tudo para trás. Só que Sebastian descobriu, usou seu poder para controlá-la, e a levou à morte. Foi naquele momento que deixei de ser apenas uma sombra ao lado dele. Eu me tornei algo que ele jamais imaginou: sua maior inimiga.
Vera encontrou os olhos de Cynara, reconhecendo a dor de perder alguém. E entendeu como aquela perde havia feito a vampira e como moldou cada decisão desde então.
— Após a morte de Isotta, não houve mais compaixão em mim — Cynara continuou, com uma frieza em sua voz. — Fui atrás do meu irmão. Interferir em seus planos, destruí seus aliados, sabotei cada passo que ele dava rumo ao poder. Fiz isso por séculos, e em algum momento, ele passou a me temer. Sebastian, o vampiro que desejava controlar o mundo sobrenatural, temia sua própria irmã, cômico. Ele só passou a sentir assim porque ele sabia que eu estava disposta a sacrificar tudo para impedi-lo.
Charlotte cruzou os braços e se manteve de pé.
— Mas se você está há tanto tempo tentando pará-lo, por que parece que ele está mais perto do que nunca de conseguir o que quer? — Charlotte finalmente falou, sua voz séria e firme. Cynara desviou o olhar por um momento, a expressão endurecendo.
— Durante séculos, eu o persegui, mas ele se tornou mais difícil de encontrar. Antes eu conseguia invadir seus pensamentos, mas ele conseguiu me bloquear de alguma forma. Eu acreditava que, com o passar do tempo e o avanço da tecnologia, talvez ele tivesse desistido de sua busca pelo poder sobre os outros seres sobrenaturais. Mas então percebi que ele apenas estava esperando o momento ideal para pedir o que queria a Lilith, a mãe dos demônios.
— E como você descobriu isso? — Greg perguntou. Uma parte sua estava tentando processar tudo. Cynara soltou um longo suspiro, antes de revelar o que parecia ser o ponto mais sombrio de sua confissão.
— Foi o massacre na Pensilvânia. Dez jovens mortas de maneira brutal. Eu estive lá. Eu que invoquei Lilith e pedi a ela algo em troca... e foi então que soube que Sebastian jamais parou. Ele continuou, escondido, tramando sua ascensão ao poder. E eu deveria impedi-lo.
A sala pareceu se estreitar ao redor dos ouvintes. Greg ergueu as sobrancelhas grossas, a expressão totalmente horrorizada. Já Charlotte apenas apertou os punhos sem dizer nada. Vera, por sua vez, não conseguiu desviar os olhos de Cynara. A confissão ressoava fundo em seu coração, mas também gerava uma onda de medo que ela mal conseguia controlar.
— O massacre foi culpa minha, confesso — Cynara admitiu, sorrindo levemente. — Eu invoquei Lilith. Eu matei aquelas meninas e não Sebastian ou Charlotte, como fiz parecer.
— Sua putinha ordinária, eu quase levei a culpa de graça — Charlotte vociferou na direção da outra vampira.
— Disponha. — Cynara jogou o longo cabelo liso e negro para trás dos ombros.
— Beleza — Greg fechou os olhos brevemente, unindo as mãos em frente ao rosto. Quando abriu, encarou Cynara novamente — Então, quem era Lily? — Perguntou, tenso. — E como você descobriu que deveria se aproximar de Natalie?
Cynara suspirou, cruzando as pernas longas enquanto se acomodava na poltrona mais confortável.
— Lily realmente existiu, mas não como vocês imaginam. Não era Lilian Clark, como eu fiz parecer. O verdadeiro nome dela era Lilian Johnson, uma das colegas da faculdade que conheci enquanto me infiltrava no campus. Ela me pareceu a melhor opção para capturar a aparência e me envolver nos conflitos sobrenaturais de Toms River sem ser descoberta. Eu adoro esse truque, mas ele é... limitado, dura somente um tempo. — Ela fez uma pausa, deixando suas palavras assentar no ar antes de continuar. — Aliás, não foi difícil chegar até Natalie, para ser honesta. Seguir os rastros de Charlotte era o caminho mais lógico. Cheguei até aquele vizinho recém-falecido, Bill Clark, que convenientemente foi morto por Charlotte. Hipnotizar a viúva para ir embora da cidade foi fácil. Fica com a casa dela ainda mais. Com isso, fiquei com uma casa próxima, fortalecendo minha falsa identidade e ficando próxima do alvo.
Charlotte apertou os lábios, claramente irritada ao ouvir como Cynara usara suas próprias ações para se infiltrar. Vera, por outro lado, parecia desconfortável, como se ainda tentasse processar o fato de ter confiado brevemente em alguém que esteve enganando todos por tanto tempo. Cynara deu um meio sorriso amargo.
— Se a Natalie fosse um pouco mais esperta, teria reparado nos detalhes ao redor da casa. As plantas mortas, os ratos que começaram a morrer depois que eu tomei posse... todos sinais de que algo não estava certo. — Cynara gargalhou, pegando todos desprevenidos. — mas ela estava ocupada demais preocupada com uma certa vampira fazendo estrago, então foi aí que a Lily Clark surge com todas aquelas informações sobre os vampiros originais... Oh! Meu Deus, eu quero vingança pelo meu pai e minha amiga! — a imitação final fez Charlotte bufa.
— Você entrou na minha casa... — Vera murmurou, atônita.
Cynara descruzou os braços e se inclinou para frente, os olhos brilhando com um toque sombrio.
— Ao contrário do que muitos acreditam, vampiros originais como eu, que não morreram, não precisam da formalidade de pedir permissão para entrar em uma casa, como a Charlotte, por exemplo. É por isso que foi fácil entrar na sua casa, Vera. Não havia nada que pudesse me barrar, a não ser o próprio Sebastian... e até ele, naquele momento, não sabia o quanto eu já estava inserida nesse jogo.
Greg passou a mão pelos cabelos, claramente perplexos.
— Então você... se preparou para tudo isso. Tudo fazia parte do seu plano?
— Quase tudo, o resto vocês fizeram. — Cynara respondeu, sua voz fria. — Fingir ser Lily foi só o começo. Esse disfarce era para me aproximar do meu irmão e de seus planos. E, no processo, vocês acabaram sendo peões no meu jogo.
Charlotte estreitou os olhos, as engrenagens girando em sua mente enquanto ouvia Cynara contar sua história com uma frieza que fez sua raiva crescer. Então, as peças finalmente se encaixaram. O assassinato de Joe, que até então era um mistério, agora parecia fazer sentido.
— Foi você... — Charlotte disse, a voz baixa e carregada de ira contida. — Você matou Joe, não foi?
Vera sentiu um estalar nos ouvidos. O choque de ter ouvido isso foi o suficiente para sua boca ficar seca. Ela procurava por respostas para a morte brutal do marido, agora, o assassino estava a sua frente. Um sorriso malicioso curvou os lábios da vampira, que jogou os ombros para trás, inclinando-se contra a poltrona com uma arrogância perigosa.
— Ah, finalmente as peças se encaixam, não é? Sim, eu matei Joe. E tive motivos muito bons para isso.
Vera ofegou, a dor e o choque passando por seu rosto.
— Você... por quê? — Sua voz saiu em um sussurro, quase incapaz de processar o que estava ouvindo.
— Joe era um homem horrível, Vera! — Cynara não perdeu tempo em responde, sua voz pingava ironia e sarcasmo enquanto olhava diretamente para a outra mulher — Não apenas com você, mas com Natalie também. Eu percebi isso desde o início, sem nem precisa ler os pensamentos de vocês. E depois que entrei na sua casa, foi fácil manipular você, especialmente quando eu vi o quão vulnerável estava.
Os olhos de Vera se arregalaram, confusão e dor misturadas em sua expressão.
— Quando comecei a observar de perto, vi como Joe tratava Natalie. Ele era um monstro. Os pensamentos dele... sujos, doentios. — Cynara continuou sem piedade, sua voz cortante como uma lâmina. — Ele a desprezava, maltratava vocês duas. Eu vi isso nos olhos dele, e ouvi em seus pensamentos perversos. Não pude ignorar.
Charlotte trincou os dentes, mas concordava com tudo que Cynara dizia. Com sua audição sensível notou no coração acelerado de Vera.
— E você acha que tinha o direito de fazer isso? De tirar a vida dele e decidir por nós? — Disse Vera. Cynara deu uma risada fria, levantando-se com uma calma inquietante.
— Não se engane, Vera. Joe merecia o destino que recebeu. Ele era um verme, um homem fraco e desprezível. Eu o destrocei porque ele merecia isso. Se você soubesse metade do que ele pensava, teria feito o mesmo. Aliás, a Charlotte queria ter feito isso, não é? — Cynara se virou para Charlotte. — Quando ele machucou a Natalie e você teve que ajudá-la.
Charlotte não respondeu. Vera tremeu de raiva e dor, sentiu o chão fugir de seus pés. Tudo que ela acreditava estava desmoronando diante dela, e as memórias do tratamento de Joe começaram a vir à tona, os gritos, os olhares frios, a maneira como ele falava com Natalie. A forma que as duas eram agredidas e abusadas fisicamente ou psicologicamente por ele. Cynara estava certa. Ela sabia que seu casamento não era perfeito, mas Joe merecia morrer brutalmente? Ela se sentiu dividida entre a dor da perda e a dura verdade que Cynara revelava.
— Você... você manipulou a todos nós... — Vera balbuciou, os olhos marejados de lágrimas.
Cynara deu de ombros, sem um pingo de arrependimento.
— Eu fiz o que tinha que ser feito. E não leve para o lado pessoal esse lance do Joe, foi algo até divertido de fazer, sem falar das outras coisas. Agora, a única coisa que resta é impedir que Sebastian concretize seus planos. Se vocês ainda tiverem algum senso, vão parar de se lamentar pelo passado e focar no que está por vir.
— Então você atuou esse tempo todo? Até mesmo quando fingiu que estava machucada do pulso, quando a Charlotte e eu te capturamos? — Greg perguntou. Cynara arqueou uma sobrancelha, um sorriso desdenhoso curvando seus lábios.
— Foi fácil. Vocês subestimam o que uma vampira original pode fazer. Se deixar capturar foi uma jogada simples. E, sinceramente, o sabor do sangue da Charlotte nem é tão ruim. — ela disse, saboreando as palavras enquanto lançava um olhar provocador a Charlotte, que parecia prestes a explodir.
— Você... — Charlotte começou, mas Cynara a interrompeu com um movimento lento de sua mão, sem pressa.
— Mas não vamos fingir que sou a única aqui atuando, certo, Greg? — Cynara continuou, sua voz sedosa, com um brilho ameaçador nos olhos. — Afinal, você também tem escondido algumas coisas.
Greg franziu a testa, o desconforto claramente visível em sua expressão.
— Do que você está falando? — Ele quase engasgou. Cynara deu alguns passos na direção dele, seus olhos penetrantes no rosto de Greg.
— Ah, Greg, não se faça de desentendido. Você pode enganar os outros, mas não a mim. Posso ler seus pensamentos... Sei exatamente quem você é. — Ela deu uma risada fria, quase divertida. — Ou melhor, o que você é.
Greg não se moveu, mas um músculo em sua mandíbula se contraiu, a tensão no ar cresceu.
— Pare de falar em enigmas. — Charlotte interveio, irritada, cruzando os braços outra vez. — O que você quer dizer?
— Não se preocupe, Charlotte. Não é tão complicado assim. — Cynara deu uma olhada de soslaio para Greg antes de continuar. — O nosso querido Greg aqui não é exatamente o vampiro novato que vocês pensam. Sabem, a transformação dele... foi feita diretamente por Lilith. Não é qualquer vampiro que passa por isso. Mesmo que o sangue de Charlotte estivesse no organismo dele, foi Lilith completou o processo. Isso significa que ele não é apenas um vampiro qualquer. — Ela se aproximou mais de Greg, os olhos fixos nele como um predador prestes a atacar. — Ele é um vampiro original, assim como eu. A única diferença é que ele teve que morrer, enquanto eu não.
O ar na sala pareceu congelar. Charlotte piscou, a confusão misturada com indignação começando a se formar em sua expressão.
— Greg... isso é verdade? — Charlotte perguntou, incrédula, o tom de sua voz ameaçando furar o silêncio tenso.
Greg manteve o olhar frio, mas não respondeu de imediato. Algo em Charlotte dizia que Cynara não estava mentindo, mas também sabia que havia muito mais do que apenas isso em jogo. Cynara deu mais um passo para frente, inclinando a cabeça ligeiramente, como se analisasse Greg de perto.
— Você tem sido bom em esconder isso, Greg. Mas... não o suficiente. — Ela sorriu, dessa vez mais sombria, quase carinhosa. — Você está se fazendo de menos poderoso do que realmente é. Ah! E tem o pequeno detalhe de que... se preparem... Ele está fodendo com Lilith. Acho que nem mesmo a Charlotte esperava por essa.
Charlotte ficou paralisada, seus olhos arregalados fixos em Greg. O silêncio agora era sufocante, e Cynara parecia se deliciar com a tensão no grupo.
— Você... está transando com Lilith? — Charlotte repetiu, a incredulidade em sua voz se transformando em fúria. — Porra, você perdeu a virgindade com um demônio?
Greg abriu a boca para responder, mas não conseguia encontrar as palavras. Ele sabia que qualquer coisa que dissesse naquele momento só pioraria a situação. A verdade havia sido exposta, mas Cynara havia jogado toda aquela merda no ventilador para tirar o foco dela.
— Vocês dois são tão bons em esconder segredos — Cynara continuou, virando-se para encarar Charlotte agora, com um brilho provocador nos olhos. — É fascinante ver o quanto vocês se enganam. Mas eu não sou o inimigo aqui, Charlotte. Estou apenas colocando as cartas na mesa. Porque, para vencer Sebastian, vocês vão precisar de todos os poderes que puderem reunir.
Charlotte apertou os punhos, a frustração e a fúria estampadas em seu rosto. Tudo parecia estar desmoronando ao seu redor. Vera observou cada palavra e movimento com o coração apertado, então finalmente deu um passo à frente. Seus olhos estavam fixos em Cynara, mas era um olhar duro e decidido.
— Chega! — A voz da adulta cortou o ar como uma lâmina afiada, interrompendo a tensão na sala. Todos se voltaram para ela, surpresos pela sua súbita intervenção. Não deveriam esquecer que embora fossem seres poderosos, ainda havia uma adulta ali entre eles.
Cynara arqueou uma sobrancelha, curiosa, enquanto Vera se aproximava, mantendo a cabeça erguida e a postura firme, sem medo.
— Já sabemos o suficiente sobre seus joguinhos, Cynara — continuou Vera, sua voz ganhando mais força. — O que aconteceu no passado... o que você fez ou deixou de fazer, não importa agora. O que importa é o presente. E agora nós precisamos de respostas claras. Você está realmente do nosso lado ou não?
Cynara manteve o sorriso no rosto, mas os olhos brilharam com um interesse renovado. Ela podia sentir a mudança na energia de Vera, uma mulher que, apesar de ter passado por perdas terríveis, ainda tinha uma força surpreendente.
— Isso é uma pergunta interessante, Vera. — Cynara se aproximou lentamente, seus passos cuidadosos, mas cheios de confiança. — O que te faz pensar que eu preciso estar do lado de alguém? Eu tenho meus próprios motivos, e eu já sei onde meu irmão está, não preciso de vocês...
— Motivos que não vão adiantar de nada se Sebastian conseguir o que quer. — Vera estreitou os olhos, endurecendo a postura. A determinação em sua voz não cedia. — Natalie é minha filha, e eu sei que você sabe o que ele planeja fazer com ela. Se você realmente quer derrubar seu irmão, então precisamos acabar com isso de uma vez e pelo visto sozinha não tem sido vantajoso. Precisamos de todos os recursos disponíveis. E isso inclui você. Então, está conosco ou não?
Cynara se manteve em silêncio por alguns segundos, o olhar de Vera prendendo o dela com firmeza. Havia algo diferente naquela mulher, algo que Cynara não havia percebido até agora. Talvez fosse a urgência, o desespero de uma mãe... ou a força de alguém que já havia perdido tudo antes. E ela entendia bem a sensação de peder tudo.
— E se eu disser que estou? — respondeu Cynara, com um leve toque de sarcasmo, mas seus olhos refletiam uma sombra de seriedade. — Você realmente confiaria em mim? Depois de tudo? Todos vocês?
Vera não hesitou.
— Confiar em você não é o ponto aqui. — Ela deu um passo à frente, agora a poucos centímetros de distância de Cynara. — O ponto é que nós precisamos de você e você de nós. E se quiser acabar com Sebastian, então vai nos ajudar a salvar Natalie e colocar um fim nisso. Temos pouco tempo e cada segundo importa.
A sala ficou em silêncio, as palavras de Vera ecoando. Greg agradeceu mentalmente pelo foco ter mudado, enquanto Charlotte se perguntava como Greg havia ido parar na cama de Lilith. Cynara, por sua vez, olhou profundamente nos olhos verdes da Scatorccio e, por um instante, o sorriso malicioso desapareceu.
— Parece que você tem mais coragem do que eu imaginava, Vera. — Ela finalmente disse, inclinando ligeiramente a cabeça. — Muito bem. Vou ajudar... mas por meus próprios motivos. Se Sebastian conseguir o que quer, nada do que eu estou planejando vai importar de qualquer forma. E você está certa, o tempo está acabando.
Vera soltou um suspiro profundo, como se uma pequena parte da tensão dentro dela tivesse sido liberada. Ela se afastou um pouco, mantendo os olhos fixos em Cynara.
— Então é isso. Acabamos aqui. Agora precisamos ir atrás de Natalie e acabar com isso de uma vez por todas.
Cynara assentiu lentamente, enquanto Charlotte e Greg trocavam olhares. A decisão havia sido tomada, e todos sabiam que não havia mais tempo a perder.
— Vamos. — Vera concluiu, virando-se para a porta. — Antes que seja tarde demais. E eu dirijo.
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A sensação de está na presença de Chalotte passou subitamente, mesmo assim, um pequeno calor pousou em seu coração, e aquele era um sinal de que ela precisava aguentar mais um pouco. Natalie voltou a atenção para os vampiros, enxugando a lágrima solitária antes que algum deles percebesse.
— E agora, vou ter que assistir ela se transformar também? — Natalie ousou perguntar, com os dentes cerrados. Sebastian ergueu o olhar para ela, com um sorrisinho de lado.
— Tenho planos melhores para você. Christine, leve Natalie para a cozinha e a prepare, precisamos do sangue dela.
Natalie sentiu um arrepio percorrer seu corpo. A ideia de ser transformada em comida de vampiros era repulsiva, para não dizer ridicula e esperada, mas sabia que não podia lutar contra isso. Estava presa em uma situação da qual não conseguia escapar. Christine, mesmo relutante e visivelmente desconfortável com a ordem, sabia que desobedecer Sebastian não era uma opção. O medo a dominava, e mesmo com uma ponta de empatia por Natalie, ela acenou com a cabeça, resignada.
— Venha, Natalie — disse Christine em tom baixo, sem encará-la diretamente.
Natalie a seguiu, sem escolha, com o coração acelerado. A cozinha abandonada em que Christine levou Natalie era fria e desolada, com azulejos lascados e um leve odor de mofo no ar. Natalie observou Christine com uma mistura de medo e desespero. Embora relutante, Christine tentava manter-se impassível enquanto fazia o que foi ordenada, puxando uma cadeira e a limpando, seus olhos sempre evitando os de Natalie, mostrando a incerteza que sentia em seguir as ordens de Sebastian.
— Sente-se — disse Christine, sua voz baixa, tentando esconder o tremor.
Natalie hesitou, olhando ao redor, mas sabendo que não havia para onde fugir. Ela se sentou lentamente na cadeira velha. O barulho de passos pesados ecou pelo local, e Sebastian surgiu na porta, com um sorriso satisfeito no rosto. Ele segurava uma bolsa de sangue vazia com tubos e uma seringa na ponta, trazia também uma estrutura de metal, onde provavelmente a bolsa ficaria pendurada. Aquele era o contraste grotesco entre a prática humana de doar sangue e o que ele planejava fazer a ela.
— Não somos monstros, não completamente, pelo menos — disse ele, como se quisesse aliviar a situação. — A gente só... otimiza os recursos.
Natalie sentiu o estômago se revirar. A ideia de ser transformada em uma "bolsa de sangue" era insuportável, mas a percepção de que não podia lutar contra aquilo a assombrava ainda mais. Suas mãos estavam trêmulas, e o coração batendo forte. Ela tentou respirar fundo, focar em algo para afastar o pavor em seu peito, mas não adiantou muito. Christine estava evitando o olhar de Natalie, mas mesmo assim, começou a amarrá-la à cadeira com tiras de couro gastas. Seus movimentos eram lentos e hesitantes, como se estivesse tentando retardar o inevitável.
— De tudo que imaginei que faria comigo, me tornar uma bolsa de sangue ambulante foi surpreendente. Então é esse meu destino ao seu lado? — Natalie perguntou, com a voz trêmula, fingindo não tá entregue ao medo e a incerteza. — E o que vocês vão fazer comigo depois?
Sebastian sorriu mais uma vez, sem responder de imediato. Tudo que fez foi se aproximar com a agulha em mãos, enquanto a jovem se encolhia na cadeira. Com habilidade, o vampiro deslizou a ponta afiada para o braço dela com precisão, onde uma dor leve da picada só serviu para o aumentar o terror que transbordava no peito de Natalie. Ela tentou não assistir, mas foi impossível desviar o olhar do sangue viajando da sua veia para a bolsa de coleta. Cada gota sendo um lembrete da sua impotência. Natalie fechou os olhos, afastando-se da situação. Buscou concentra-se em algo, qualquer coisa que fizesse esquecer de onde estava. Seus pensamentos automaticamente foram para Charlotte. Onde ela está? Por que não consigo senti-la mais? Um vazio angustiante tomou de conta dela. Christine engoliu seco, salivando com o aroma do sangue. Ela era mais forte que aquilo. Por isso, se aproximou de Natalie no momento que Sebastian se distraiu com o celular.
— Não tenha medo. Ele não vai... matar você. — Sussurrou a vampira.
— Não agora, pelo menos — Sebastian a interrompeu, o olhar penetrante novamente em Natalie, que ainda preferia não encarar nenhum ponto fixo. — Mas vamos precisar de você por mais tempo. Você é especial, Natalie. Seu sangue... ele é muito valioso. — Ele deu um passo até ela, achando insolente a forma que foi ignorado. Puxando o queixo da jovem, se deparou com os olhos verdes e furiosos. O que Natalie tivesse disposta a dizer ele, simplesmente desceu pela garganta com a saliva. — Eu volto daqui a pouco para saber se encheu a primeira bolsa. Seja uma garota comportada e talvez eu te dê uma balinha quando acabar.
O silêncio entre as duas garotas na velha cozinha era interrompido apenas pelo som suave da bolsa de sangue enchendo. Natalie sentiu a fraqueza se espalhar por seu corpo enquanto o líquido do seu corpo era drenado. Com cada gota que escorria, o medo crescia em seu peito — o sangue de Charlotte, ainda em suas veias, estava se esvaindo, o que significava que Charlotte teria mais dificuldade em rastreá-la novamente. Ela fechou os olhos, tentando afastar a desesperança e concentrar-se no único fato que poderia lhe dar vantagem: Christine estava ali, e, mesmo relutante, poderia ser sua chance de escapar.
— Chris... — Natalie falou com a voz fraca, mas firme. — Isso não é o que você quer para sua vida... Você pode me ajudar. Podemos fugir daqui...
Christine desviou o olhar, os lábios trêmulos, mexendo nervosamente nos dedos enquanto evitava o olhar de Natalie.
— Você sabe que eu não posso — sussurrou a vampira, olhando rapidamente por cima do ombro. Com a audição sensível e apurada, ouviu Sebastian no andar de cima, ajudando Rory a cobrir o corpo da garota trazida da rua com terra. — Ele me mataria.
— Ele vai matar você de qualquer jeito, sua idiota— rebateu Natalie, com um sorriso cansado, mas amargo. — Ele só precisa de você por enquanto, até você não ser mais útil. E, no fundo, você sabe disso.
— Como tem tanta certeza?
— Não seja burra, Chris. — Natalie balançou a cabeça, um brilho desafiador em seus olhos, mesmo com o corpo enfraquecendo. — O que Sebastian realmente quer é sacrificar todas as garotas que ele transformou. Tudo faz parte de um ritual para Lilith.
— Sacrifícios? — Christine paralisou, o horror se espalhando por seu rosto.
— É isso mesmo. Ele vai sacrificar vocês todas e eu — disse Natalie, com uma franqueza cruel. Ela não sabia se aguentaria tirar mais que uma bolsa de sangue e se manter firme. — Ele não se importa com vocês como provavelmente vem dizendo, ele só se importa com poder para ele mesmo.
Natalie olhou diretamente nos olhos de Christine, percebendo o conflito que se formava na mente da vampira mais. Era agora ou nunca.
— Sebastian usou Charlotte desde o início — revelou Natalie, a voz um pouco trêmula pela fraqueza, mas ainda determinada. — Ela fazia o trabalho sujo para ele, você sabe, foi a primeira que ela pegou. Mas, quando ela decidiu parar, quando percebeu que ele não tinha limites... ele... fez o que fez...
Christine arregalou os olhos, surpresa com a revelação.
— Não... isso não pode ser verdade — murmurou a vampira, balançando a cabeça. — Ele nos disse outra coisa... pra mim e Rory. Ele disse que Charlotte tentou traí-lo... Foi por isso que ele teve que... — sua voz falhou, como se estivesse tentando justificar o injustificável. Natalie soltou uma risada amarga, sentindo a angústia crescer no peito.
— Ele jogou bem — disse ela, com sarcasmo. — Claro que ele contou essa história pra vocês. Se as vampiras que Charlotte transformou soubessem a verdade, nenhuma ficaria ao lado dele. Ele precisava de uma desculpa, precisava se vitimizar para manter a confiança de vocês. Que canalha mal comido.
Christine desviou o olhar novamente, claramente perturbada com essa nova perspectiva. Ela estava processando as palavras de Natalie, tentando encontrar uma maneira de conciliar o que sabia com o que estava ouvindo. Natalie a encarou, ainda sentada naquela cadeira, sentindo o traseiro doer enquanto peso da fraqueza começar a se instalar em seus ossos. Sua mente trabalhava rápido, procurando uma maneira de manipular a colega de time. Sabia que Christine, por mais que estivesse ali servindo a Sebastian, não era forte o suficiente emocionalmente para manter-se imune ao que ela tinha a dizer. Natalie precisava de uma brecha, e começaria pelas lembranças que partilhavam.
— Sabe, Chris... — Natalie começou. — Lembra de quando estávamos no The Storm? Você era a melhor jogadora, depois de mim, é claro. — Sorriu. Uma sombra de riso passou pelos lábios da vampira. — Você sempre me ajudou, principalmente naquela vez com a Olivia e Charlotte, lembra? Todo mundo contra mim... e você apareceu. Me ajudou a passar pelo inferno do bullying delas.
Christine continuou em silêncio, mas Natalie viu um brilho passar por seus olhos. A antiga Christine ainda estava ali.
— E as festas? — Natalie insistiu, tentando puxá-la para o lado emocional. — Aquele bar... a briga que estourou do nada, e nós tivemos que pular no meio do lixo para fugir. Aquela foi uma das noites mais divertidas da minha vida, mesmo com o cheiro horrível. Não sei o que faria sem você e a Lottie também estava no meio.
— Não começa, Natalie — Christine murmurou, os olhos vacilando, mas a expressão endurecida. Natalie, porém, não desistiu. Sabia que tinha encontrado um ponto fraco.
— Eu estive na sua casa. Fui procurar você depois que estive no hospital e me disseram que havia morrido. Mas eles... sua família nem se lembrava de você. Era como se você nunca tivesse existido. E então percebi que foi você quem fez isso. Você teve que apagar a memória deles... Christine, até da sua própria mãe! Nem seu gato eu achei. — Ela fez uma pausa, observando o impacto de suas palavras. — E por quê? Por causa do que ele fez com você. Você apagou quem era, sua história, seus sonhos. Veterinária, lembra? Você queria ser veterinária. E agora você está aqui, tirando o meu sangue para o monstro que te roubou tudo e vai roubar ainda mais.
Christine apertou os lábios, visivelmente afetada. Seus olhos se fecharam por um segundo, como se tentasse bloquear as memórias, mas Natalie sabia que era tarde demais. A conexão emocional já estava feita.
— Ele não vai parar, Chris. Ele já matou a Charlotte, e ela foi quem te transformou. O que você acha que ele vai fazer com você, ou comigo, quando ele conseguir o que quer? — A voz de Natalie ficou mais baixa, mas cada palavra era afiada como uma lâmina. — Você é forte. Sempre foi. Não deixe ele acabar com o que sobrou de você. Me ajude. Vamos sair daqui juntas.
Natalie pode sentir que estava conseguindo algo com a velha amiga. O silêncio só confirmava isso. Era questão de tempo Christines ceder ao que ela queria.
— E o que você quer que eu faça? — Christine finalmente quebrou o silêncio, dando um passo ameaçador em direção a Natalie. A expressão dela oscilava entre raiva e dúvida, mas Natalie não se intimidou.
— Ligue a torneira — respondeu Natalie, a voz baixa, mas firme. Ela olhou para o encanamento antigo, que parecia enferrujado e esquecido pelo tempo. — Assim eles não vão nos ouvir.
Christine hesitou por um instante, como se ponderasse a ideia, mas logo obedeceu, girando a velha torneira. Um jato de água amarelada e com cheiro horrível espirrou antes de estabilizar, o som do fluxo irregular preenchendo o ambiente. Era um truque que Natalie aprendera com Charlotte, quando tentaram evitar Aurora na mansão Matthews. Aquilo deveria servir para a audição apurada de Sebastian.
— Certo... — Natalie respirou fundo, tentando controlar a ansiedade que crescia dentro dela. — Você pode sair daqui. Vai ser difícil me levar junto agora, então o plano é o seguinte: vá para Toms River. Encontre Charlotte e diga a ela onde estamos. Exatamente onde estamos.
Christine franziu a testa. Charlotte? Seus olhos dançaram nervosos entre Natalie e a porta.
— A Charlotte está viva? — A voz de Christine quase vacilou. Natalie acenou. Um misto de felicidade invadiu o peito da vampira, fazendo-a acreditar que ainda havia uma chance de tudo se resolver logo. Porém, outra coisa a preocupou. — E se o Sebastian perceber? — A voz dela era um sussurro, cheia de medo.
Natalie mordeu os lábios ressecados, sentindo o gosto metálico do sangue. Não tinha como garantir nada, mas precisava arriscar.
— É por isso que eu devo ficar — respondeu a loira, sua mente já traçando um plano improvisado. — Eu posso distraí-lo. Ele vai precisar do meu sangue de qualquer jeito. Se eu estiver aqui, ele vai ficar ocupado comigo.
— E quanto tempo você acha que ele vai demorar até desconfiar? — Christine cruzou os braços, inquieta. — Estamos em Edgewater. Até Toms River... são quase duas horas. Ele vai perceber minha ausência e tem o sol...
Natalie suspirou, sabendo que estava pedindo demais, mas não tinha outra opção.
— Você sempre foi rápida, Chris. Rápida em campo, a melhor jogadora. Eu confio em você. — Ela fez uma pausa, encarando Christine nos olhos. — Lembra de quem você era antes disso tudo? Você era minha amiga. A pessoa que me ajudou quando todo mundo me virava as costas. Se você me deixar aqui sem fazer nada, vai continuar sendo controlada pelo Sebastian, sempre com medo. Mas se me ajudar, se ajudar a Charlotte... você terá uma chance de mudar isso.
Christine ficou em silêncio por um momento, as mãos trêmulas enquanto seus olhos encaravam o chão. A velha Christine, aquela garota cheia de sonhos e esperança, estava ali, enterrada sob o peso da vida vampírica.
— E se ele me pegar? — murmurou Christine, ainda incerta.
— Ele não vai pegar. — Natalie falou com mais certeza do que realmente sentia. — Porque você não vai deixar isso acontecer. Nós vamos acabar com ele. E com tudo isso.
A torneira continuava a jorrar água, abafando o som da conversa. Christine soltou um suspiro pesado, finalmente levantando o olhar para Natalie.
— Ok. — Ela assentiu lentamente, a voz mais firme do que antes. — Eu vou. Mas você precisa ficar viva até eu voltar. — Christine olhou em volta, como se já estivesse traçando um plano de fuga.
Natalie sorriu, sentindo um lampejo de esperança.
— Eu sempre fui boa em sobreviver. — Ela murmurou.
— Certo — Christine desligou a torneira com um movimento rápido. — Eu volto com Charlotte. Fique atenta e... faça o que for preciso para não levantar suspeitas.
— Não se preocupe. — Natalie respondeu, ciente de que o verdadeiro desafio ainda estava por vir.
Num piscar de olhos, Christine se tornou um grande borrão. Natalie sabia que não teria muito tempo até que Sebastian voltasse ou até que o sol saisse novamente. Ela precisava pensar rápido. Quando ouviu os passos dele descendo as escadas, sentiu o coração bater mais rápido, o suor frio escorrendo pelas têmporas. Agora, era só ela e Sebastian. A porta rangeu levemente, e Sebastian entrou na cozinha, os olhos imediatamente varrendo o ambiente. Ele franziu o cenho ao perceber a ausência de Christine.
— Onde está Christine? — Sua voz era suave, olhando cada canto.
Ela tinha que manter a calma. Sabia que Sebastian podia farejar o medo. Natalie deu de ombros, controlando a respiração.
— Não sei — respondeu Natalie, fazendo o melhor para soar natural, apesar do sangue ainda sendo drenado de seu braço. — Talvez foi buscar algo para comer. Acho que ela estava com fome e o iFood não entrega lanche onde estamos. — Ela deu de ombros, o mais casual que conseguia.
Sebastian ergueu uma sobrancelha, os olhos de um azul gélido cravados nela. Natalie sustentou o olhar, tentando parecer relaxada, como se não houvesse nada errado. Ela sabia que qualquer hesitação poderia custar caro.
— Comer? — Ele repetiu, com um toque de escárnio. — Christine não come há dias. E você espera que eu acredite que ela saiu agora para caçar?
Natalie engoliu em seco, já antecipando a desconfiança de Sebastian. Ela precisava ser mais convincente. A lembrança de todas às vezes em que usou sua lábia para escapar de situações difíceis em casa veio à tona.
— Talvez ela só estivesse cansada de me ouvir falar, pergunte a ela quando voltar — disse Natalie, dando um sorriso amargo. — Christine é uma vampira, mas ainda se irrita fácil. Não a culpo por querer uma pausa da minha presença ou da sua...
Sebastian se aproximou devagar, os olhos fixos nos dela, como se estivesse tentando ler sua alma. Natalie manteve a postura, a adrenalina correndo por suas veias enquanto o olhava de volta com o mesmo desdém que ele sempre mostrava. Ele parou ao lado dela, inclinando-se ligeiramente para checar a bolsa de sangue que estava se enchendo lentamente.
— Realmente, você fala demais, Natalie — murmurou, o tom perigosamente suave. — Isso vai acabar te matando.
Ela sabia que ele estava no limite entre acreditar e duvidar. E também sabia que precisava ser corajosa.
— Então acabe logo com isso — ela provocou, segurando o olhar dele. — Mas enquanto não faz isso, acho que sou a melhor distração que você tem.
Sebastian deu um sorriso frio, torcendo levemente os lábios.
— Você tem coragem. — Ele se afastou um pouco, ainda desconfiado, mas por ora satisfeito com a desculpa. — Vou checar Christine. Se ela não estiver caçando, vou saber. E se você tiver mentido, seu fim será muito pior do que o planejado.
Natalie assentiu, mantendo a postura firme, mesmo sabendo que estava cada vez mais fraca por conta da perda de sangue.
— Vá em frente — ela desafiou. — Mas não se preocupe, eu estarei aqui... esperando você voltar. Sempre à sua disposição. E não esqueça o docinho quando voltar.
Sebastian a observou por mais um momento, antes de sair da cozinha. Assim que ele se foi, Natalie soltou um suspiro longo, sentindo o corpo relaxar momentaneamente. Ela havia ganhado tempo. Não muito, mas o suficiente para que Christine pudesse escapar. Agora, tudo dependia de Charlotte.
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Vera mantinha as mãos firmes no volante, os olhos fixos na estrada que se estendiam à frente enquanto o carro cortava o caminho rumo à cidade onde Natalie estava, Edgewater.
— Eu posso dirigir se você quiser, tá? — Greg comentou, como se aquilo fosse resolver toda a tensão acumulada desde a saída de Toms River. Vera o encarou de soslaio, erguendo uma sobrancelha cética.
— E sua mãe sabe o que você está fazendo? — perguntou Vera, com a velha preocupação de mãe. Greg riu gentilmente, olhando pela janela.
— Não precisa se preocupar com minha mãe. Ela já tem preocupações demais — respondeu ele, jogando uma pitada de humor no meio da preocupação geral.
— Claro... — murmurou Vera, sem conseguir evitar um pequeno sorriso antes de voltar a focar na estrada. — Aposto que ela não sabe o que você faz com um demônio.
Greg pigarreou. No banco de trás, Charlotte mantinha os olhos presos à paisagem que passava, mas sua mente estava longe. Desde que Cynara revelou a verdade, os pensamentos da vampira estavam em constante movimento. Ela se pegou refletindo sobre como, no fim das contas, talvez ela e Cynara não eram tão diferentes assim. Ambas estavam dispostas a sacrificar tudo pela mulher que amava, ambas tinham Sebastian como o grande alvo de seus ódios. Elas compartilharam um desejo comum: vê-lo destruído.
— Parece que somos mais parecidas do que você gostaria de admitir, não é? — A voz suave de Cynara cortou seus pensamentos.
Charlotte a encarou brevemente, deparando-se com um sorriso malicioso no canto dos lábios. Então se virou para a janela, desconfortável com a invasão. Claro que Cynara conseguiu ler sua mente. Isso a irritava mais do que ela gostaria de admitir.
— Dá para parar de fazer isso? — Charlotte reclamou, franzindo a testa. — Sabia que isso pode ser classificado como assédio? Invadir a mente das pessoas.
— E você tem um apito na bolsa ante-invasão de mentes? — Cynara riu, um som baixo e quase agradável, como se estivesse se divertindo com o desconforto da vampira ao lado.
— Incrível como todas suas versões são chatas. — A Matthews revirou os olhos. Lily era irritante, mas Cynara conseguia ser pior.
— Relaxa, Lottie. Levaria um esforço enorme para invadir completamente sua mente — disse Cynara, apoiando a cabeça no banco. Seu dedo tocou a cabeça da vampira ao lado, enrolando uma mecha escura do cabelo no dedo. — As mentes dos vampiros são mais difíceis de atravessar. Exigem muito mais energia. Mesmo que eu quisesse, não conseguiria saber tudo que se passa aí dentro.
— Sorte sua — ironizou Charlotte, virando os olhos. — Tem muita coisa que você não ia querer saber.
— Ela não teve dificuldade para invadir a minha. — Greg murmurou mais para si do que para os outros ouvirem.
Cynara apenas continuou a sorrir, satisfeita com uma pequena vitória no embate mental. As duas ficaram em silêncio por alguns instantes, mas Charlotte não conseguiu evitar a sensação de estar exposta, vulnerável diante da irmã de Sebastian. Enquanto o carro avançava, o clima parecia momentaneamente suavizada. Porém, a cada milha que se aproximava de Natalie, o perigo se tornava cada vez mais real.
— Temos que ser rápidos quando chegarmos — murmurou Charlotte, finalmente quebrando o silêncio de novo. — Sebastian não vai hesitar em usar Natalie contra nós.
— E como você acha que ele vai usá-la? — Greg perguntou, em voz baixa, como se quisesse evitar uma resposta. Ele olhou para Charlotte pelo retrovisor, mas ela ficou em silêncio por um momento, abrindo os lábios enquanto pensava.
Vera segurou o volante com mais força, os dedos quase brancos de tanto apertar, como se o simples gesto pudesse afastar o medo que crescia dentro dela. O peito transbordava de angústia, e a respiração se tornava pesada. Não conseguia imaginar o que Sebastian estava fazendo com sua filha naquele momento, e a incerteza a matava por dentro.
— Ele vai mantê-la viva... por enquanto — Cynara finalmente respondeu, a voz fria e controlada. — Ele pode querer usar o sangue dela. Pode torturá-la... ou...
— Isso não me tranquiliza em nada, prefiro que se calem — murmurou Vera, seus olhos fixos na estrada, mas sua mente a quilômetros de distância, imaginando Natalie presa, sofrendo.
— Não é para tranquilizar — Cynara acrescentou, sua voz casual, quase indiferente. — Mas é verdade.
Vera engoliu em seco, o medo crescendo a cada segundo. O silêncio voltou a emparelhar sobre eles, pesado e opressivo.
— Eu não vi a Natalie ferida ou coisa do tipo, mas vi uma garota que provavelmente será usada no ritual e para completar uma transição, é preciso de sangue... e a Natalie é humana. — Charlotte falou.
— E um mais um... — Greg murmurou.
— Isso só significa que temos que resgatá-la o mais rápido possível. — Vera suspirou, piscando cada vez mais forte.
Vera olhou para o velocímetro, sentindo o suor nas palmas das mãos. A cada quilômetro percorrido, sua ansiedade se intensificava, o medo de perder Natalie, novamente, a esmagando. Ela lançou um olhar rápido para Cynara no retrovisor, e a vampira, como se sentisse o olhar, ergueu uma sobrancelha com um leve sorriso malicioso.
— O que foi? — Cynara perguntou.
— Só estava pensando... — Vera respondeu, tentando manter a voz firme. — Como alguém como você pode nos ajudar, afinal? Estamos realmente do mesmo lado?
Cynara inclinou a cabeça, os olhos brilhando de modo perigoso.
— Estamos do mesmo lado até Sebastian morrer, eu juro — respondeu ela, sem rodeios. — Depois disso, quem sabe? Mas relaxe, querida. Quero ver meu irmão cair tanto quanto vocês.
Vera não se tranquilizou. Algo na sinceridade casual de Cynara deixou mais alerta. Mas antes que Charlotte pudesse responder algo, Greg olhou para ela.
— Vai dar tudo certo, senhora Scatorccio. A gente vai trazê-la de volta. — Disse o vampiro.
A mulher respirou fundo, tentando se agarrar a promessa. Porque, no fundo, era tudo que ela tinha. O som do motor da picape tornou ecoar na estrada deserta e escura, levando-os ao encontro do destino certo que os aguardava em Edgewater.
Vocês nem imaginam a treta que está por vim...
CAPITULO ATUALIZADO: 25/01/2025 - NÃO REVISADO
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