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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟏𝟑)

"Logo as coisas ficarão bem piores do que já são". Lilian Clark tinha razão, mas se ela reparasse bem nas situações de Toms River, as coisas já se encontravam ruins. Natalie se remoeu sentada na cadeira, impossibilitada de desviar dos olhos escuros de Lily e do assunto voltado ao vampirismo. Suas mãos tremeram levemente, principalmente por saber que Charlotte Matthews estava na mira da garota recém-chegada à cidade, e a única vantagem até agora, era que Lilian não fazia ideia de quem exatamente estava por trás das mortes — ao menos, era isso que Scatorccio esperava. Porém, tudo dependia do tempo, e de até onde aquela garota buscou as respostas para o que queria. Natalie se manteve afastada e quieta quando Lily trocou ideias sobre as teorias criadas na internet com Greg. Mesmo tendo acabado de se conhecer, eles pareciam ter muito o que conversar, enquanto ela se martirizava ao procurar uma forma de salvar uma patricinha assassina. Suas sobrancelhas escuras se ergueram, quando um pensamento iluminou sua mente: E se o vampirismo tivesse alguma cura?

— Tem como reverter o vampirismo? — Natalie perguntou, atraindo novamente a atenção de Lily.

— Duvido muito, aliás, logicamente é impossível um vampiro deixar de ser vampiro. — Respondeu Lily, formando um vinco entre as sobrancelhas bem-feitas.

— Bom, pode ser que haja algo. — Natalie suspirou. — Até alguns dias, eu não fazia ideia de que vampiros realmente existiam ou que pactos com demônios funcionavam. Então, pode ser que tenha algo que desfaça isso, e um vampiro volte a ser humano.

— Você ouviu a parte que eu disse que um humano precisa morrer para se tornar um vampiro? — Lily se inclinou para frente. — Talvez haja um jeito de fazer um vampiro original voltar a ser humano, mas não um vampiro da segunda geração, já que eles precisam morrer para se tornar imortais.

— Além disso, se pensar dessa forma, fica fácil deduzir que se um vampiro de segunda geração voltar a ser humano, ele só...morrerá. Aliás, já estão mortos. — Greg concluiu. Natalie fechou os olhos brevemente, aborrecida por saber que talvez isso não fosse ajudar Charlotte, já que ela claramente era uma vampira da segunda geração.

— Vampiros são meio demônios, mas não é nada ligado a possessão demoníaca, então não tem como fazer uma sessão de exorcismo e expulsar o que tem dentro deles. — Lily falou. Os ombros de Natalie caíram ainda mais. — Mas, não julgo seu pensamento. Pode ser que tenha uma forma de fazer um vampiro original se tornar humano. Isso vai enfraquecê-lo e resolverá o problema que temos aqui, porém, tenho certeza que não estamos lidando com esse patamar.

— Como assim? — Greg colocou os cotovelos na mesa.

— Esses ataques desleixados e brutais não são obras de vampiros antigos, principalmente os primeiros a serem criados. Pense bem, eles já viveram por séculos, então jamais seriam burros de cometerem assassinatos tão explícitos e deixando pistas. — Explicou Lily. — Estamos lidando com amadores. Vampiros novatos. Soldados fazendo o serviço sujo para mestres e aproveitando a liberdade de terem o poder nas mãos.

— Caramba! Você sabe muita coisa sobre vampiros, teve bastante tempo para pesquisar, né? — Natalie estreitou o olhar com o dela.

— Eu perdi uma amiga e em seguida meu pai, se você tivesse perdido alguém para uma dessas coisas, também se manteria informada. — Lily rebateu.

— E você tem alguma pista do vampiro que matou sua amiga e seu pai? — Greg perguntou. Natalie engoliu seco.

— Estou perto de descobrir, e quando eu me aproximar de uma dessas coisas, vou acabar com minhas próprias mãos. — A raiva se fez presente em suas palavras. Lily respirou fundo, assumindo o controle das emoções. — Perder alguém é... péssimo. E perde alguém para um demônio sanguinário ainda pior. Minha amiga não fez nada para ser morta e meu pai, bem, ele não era nem um santo, ou um exemplo a ser seguido, mas era meu pai e ele foi morto e seu corpo... dilacerado, devorado, ainda vivo.

Bill Clark foi assassinado por Charlotte Matthews, mas Natalie não podia garantir que a vampira também era culpada pela morte de Madox, a amiga de Lilian. Contudo, isso não parecia fazer diferença para ela, que estava determinada a acabar com esse mal definitivamente.

— E então, o que já descobriram sobre os ataques daqui? — Lily perguntou. Natalie engoliu seco e encarou Greg, e se ele fosse esperto, entenderia que seu olhar naquele momento era um genuíno pedido de silêncio. — E aí? Não vão falar? Contei tudo que sabia sobre os vampiros, acho justo vocês me contarem o que descobriram aqui.

— Na verdade, ainda não descobrimos nada. — Natalie piscou, quase se atrapalhando com as palavras. — Não é, Greg?

— S-sim... — Respondeu o rapaz. Lily sorriu com escárnio.

— Qual é, eu sei que estão escondendo algo. — Lily encarou cada um dos rostos. Péssimos mentirosos, concluiu. — Por favor, não me façam acreditar que o vampiro que está fazendo tudo isso é algum conhecido de vocês.

Natalie passou a língua pelos lábios, tendo certeza que a cor do rosto sumia ainda mais a cada segundo. Greg pigarreou, desviando o olhar para uma estante aleatória de livros.

— Olha, se for algum amigo de vocês, devem saber que ele não é mais a pessoa que conheciam. — Lily endureceu as feições. Natalie mordeu o lado interno da boca até sangrar. — Os vampiros sempre sabem exatamente o que estão fazendo. Eles são como animais selvagens, agindo com um único instinto: matar. E eles fazem isso por diversão, por prazer, tédio ou qualquer motivo que quiserem acreditar. Vocês não devem cair nos truques deles, esses demônios são bons nisso.

— Um vampiro pode ser uma vítima também. — Natalie murmurou. Lily levantou as sobrancelhas, e gargalhou tão alto que ecoou por toda biblioteca. — Não tem graça.

— Jura? Você acabou de me contar a maior piada de todos os tempos. — Lily soltou um arzinho pelo nariz. — Vampiros sendo vítimas, muito engraçado, Natalie. — Completou. Natalie revirou os olhos, enquanto Lily desfazia completamente o sorriso do rosto e sua voz se tornava mais direta e ameaçadora. — Por que está agindo como defensora dessa espécie? O que os dois estão escondendo?

— O nosso tempo por aqui já deu, vamos embora, Greg. — Natalie se levantou da cadeira, Greg a acompanhou, mas não deu um passo para longe da mesa, pois seu pulso foi segurado por Lily.

— Vocês sabem quem matou meu pai, não é? — Perguntou a garota. Greg encarou Natalie, que parecia paralisada no tempo. — Quem foi? Qual vampiro fez aquilo com meu pai?

— Natalie, ela vai descobrir uma hora ou outra... — Greg direcionou as palavras à amiga. Natalie balançou a cabeça em negação. Lily sorriu de lado, concordando com o rapaz.

— É Natalie, eu vou descobrir uma hora ou outra. — Lily confirmou. — É só um nome.

— Eu não sei. — Respondeu a loira, dando de ombros. Lily suspirou, soltando o braço do garoto. — Não sabemos quem está matando.

— Ok! Já entendi que quer proteger esse vampiro, mas lembre-se, quando a fome se tornar maior que a razão, ele irá procurar por você ou por alguém próximo, e ele não terá piedade de destruir tudo. Eu vou descobrir quem matou meu pai, Natalie, só será uma questão de tempo. — Lily levantou-se da cadeira, dando passos ameaçadores até Natalie. Os olhos castanhos escuros, foram de encontro aos verdes, furiosos e brilhantes. — Você é esperta, eu não costumo errar nisso, mas agora, protegendo essa besta, está sendo muito burra. — Lily deu de ombros quando Natalie desviou o olhar para longe. — Tudo bem, eu acredito que você tenha motivos para estar fazendo tudo isso, assim como eu tenho os meus. Por isso, não vou parar até pegar esse maldito.

— Boa sorte com sua missão suicida, Lilian. — Foi a única coisa que Natalie disse a ela, antes de se retirar da biblioteca com passos largos e firmes. Greg a seguiu, encarando por cima do ombro a outra garota ficar para trás com um olhar de ódio queimando em sua face.

— Nat, ei, eu te levo para casa. — Greg alcançou a loira do lado de fora. Natalie passou a mão pelo cabelo.

— Essa garota é um perigo, eu não confio nela. — Natalie se virou, com a voz pesada pela emoção e raiva, apontando para a direção da biblioteca, onde Lily ainda se encontrava. — Ela não vai chegar perto da Charlotte, nem da Christine...

— Natalie, eu também não quero que elas se machuquem, mas elas não estão pensando nas pessoas e estão fazendo mais vítimas com o passar dos dias — Greg se aproximou ainda mais. Natalie passou a mão pelos fios loiros, desaforada. — O que aconteceu para você mudar de ideia? Não faz nem dois dias que você estava determinada a matar a Charlotte, e agora, parece que você está... protegendo ela.

— Eu só estou... confusa... — Espremeu os olhos, e respirou fundo. — Preciso pensar melhor no que fazer. Talvez eu devesse falar com a Charlotte e tentar entender tudo...

— O quê? — O garoto deu um passo incrédulo para trás. — Você ficou maluca? Esqueceu tudo que a Charlotte fez com você desde que voltou? E não vamos esquecer o detalhe principal: ela é uma vampira, Nat!

— A Charlotte não quer me machucar! — Declarou ela, alto e firme. Greg separou os lábios quando Natalie se calou e desviou o olhar para o chão. Aquele era um fato que passou a ficar mais claro a Scatorccio depois de alguns dias. Seu coração disparou ao pensar no beijo, nas palavras ditas no calor do momento e tudo que estava reprimindo insuportavelmente no peito. Natalie respirou fundo, e voltou a falar. — Vou encontrar a Charlotte, porque se ela quisesse me machucar, já teria feito no dia que foi até minha casa.

Greg se calou, sabendo que mesmo que tivesse uma opinião diferente da dela, não faria nenhuma diferença. Natalie já estava decidida no que faria, e nem ele ou ninguém, tiraria a ideia da cabeça até que ela realmente a perdesse.

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O corpo despencou de uma altura surreal, colidindo cruelmente ao chão. No entanto, ao invés de sentir a dor dos ossos se quebrando, sentiu algo macio amortecer sua queda. Houve um momento que pensou ter morrido, mas ela respirava, embora ainda tivesse medo de abrir os olhos. Rory passou a mão em seu corpo, notando que tudo ainda estava em seu devido lugar, depois, abriu um olho, notando um céu cinza e uma neblina densa. Sentou-se no asfalto, dessa vez, abrindo os dois olhos de uma só vez. Reparou que se encontrava no meio da rua do antigo bairro que cresceu. A sua frente, uma casa pareceu se materializar conforme a neblina dava uma trégua, mas o cheiro de fumaça a deixou em alerta, assim como as cinzas que começaram a cair do céu. Foi como um soco no estômago. Está naquele lugar era vasculhar novamente o passado que tentava fugir. Rory engoliu o nó da garganta, reunindo coragem para levantar de onde estava. Olhou em volta quando o cheiro de carne queimada cresceu à sua volta e as cinzas do céu começaram a cair mais depressa. Aos dez anos, Aurora Flanigan perdeu os pais e o irmão de cinco anos para o incêndio. A polícia nunca soube responder à causa do fogo, e logo, ela teve que se mudar para a casa dos avós em Toms River. Assim continuou sua vida enquanto tentava esconder e esquecer que o motivo de ter pedido toda a família, foi porque ela própria havia criado o incêndio enquanto brincava com um isqueiro no quarto.

Esse era seu maior segredo, e a culpa pesava em seus ombros sempre que o aniversário da tragédia chegava. Aurora olhou em volta, sentindo os olhos arderem devido às lágrimas. Ela não entendia como havia parado ali e o que estava fazendo antes. Todas as suas perguntas sumiram no momento em que a porta da sua casa foi aberta, e Joseph, seu irmãozinho, correu até ela. A garota deu um passo para trás, pois a criança que corria em sua direção estava carbonizada, e a pele despencava do seu corpo pequeno e metade do seu rosto estava em carne viva. Ela gritou, e quando tentou correr em outra direção, se deparou com sua antiga casa novamente.

"Não vai embora, Rô, queremos você aqui, conosco." Ouviu o garoto dizer. Rory balançou a cabeça, perdendo completamente a voz quando seus pais surgiram lado a lado na entrada de casa.

"Venha, meu amor, seremos uma família novamente, aqui é bem quentinho..." Sua mãe falou, erguendo o braço queimado, o qual alguns dedos mão se encontravam mais nas mãos.

Me perdoem, eu não queria...Aurora chorou.

Então sentiu a mão do irmão a puxar para a direção da casa, e como se não pudesse controlar os próprios passos, deixou ser guiada para o lado dentro. O cheiro de carne queimada e podre aumentou em suas narinas. Ela olhou para os lados, vendo a sua única rota de fuga sendo fechada e consumida pelas chamas. Olhou para frente novamente, indo em direção aos pais, aceitando que deveria ter morrido ali com eles, e não ter fugido sem chamar por ajuda. O fogo chegou até sua pele, fazendo-a gritar, enquanto gargalhadas eram ouvidos. O inferno estava em festa, enquanto a jovem pedia desesperadamente por socorro, mesmo sabendo que ninguém viria ajudá-la. Ela entendeu que deveria pagar por isso. Esse era seu castigo. Seu inferno. Sua dívida. Por isso, se calou, sentindo uma dor agonizante consumir sua pele e seus cabelos, queimando-a de fora para dentro, até que não restasse mais nada além de cinzas e culpa.

Sufocou com a terra caindo em sua boca quando acordou na escuridão. Usou as mãos para se livrar daquilo em cima dela, até atirar algo para longe, ouvindo se quebrar em milhões de pedaços. Aurora respirou ofegante quando percebeu estar presa em uma espécie de caixão, coberta por terra escura da cabeça aos pés. Ela pulou para fora, chegando até a porta em questão de segundos. Estava confusa, com sede e fome, e precisava fazer tudo isso passar, por isso, suas mãos sujas foram ao encontro na maçaneta, mas uma descarga a atirou para longe. Um emaranhado de cabelo cobriu a sua face, e seu coração disparou violentamente. Levantando-se novamente, sentiu a raiva crescer em seu peito de uma forma que nunca sentira. Isso era culpa de Charlotte Matthews! O que aconteceu com ela, foi causado por essa desgraçada.

— Me tirem daqui! — Aurora gritou com força. Seu estômago rosnou alto e a garganta começou a secar com o passar dos segundos. Olhou em volta, percebendo uma câmera no canto de uma parede, caminhou até lá, com os olhos presos na pequena led vermelha. — Charlotte, o que você fez comigo?

— Você precisa se acalmar, dragă mea. — Uma voz com um forte sotaque desconhecido preencheu o ambiente que estava. Era um homem, Rory soube reconhecer. As ondas sonoras causaram desconforto em seus ouvidos, fazendo tapá-los de imediato. Ela se sentia estranha de uma forma que não saberia explicar. — Vou entrar e ajudar você, acredito que está com fome, não é?

— Quem é você? — Perguntou ela. O estômago roncou alto e a sede veio mais forte. — Onde está a vadia da Charlotte.

— Sua amiga já fez o que deveria fazer, agora é minha vez de cuidar de você. — Respondeu suavemente. — Agora, mantenha-se calma, assim o processo será menos estressante. Entrarei e é melhor não tentar me atacar.

— O quê? — Rory franziu o cenho, mas optou por obedecer.

Encostou-se na parede, com medo de levar um novo choque. Onde estava era silencioso, mas enlouqueceria se ficasse mais algum tempo ali. Ouviu quando a maçaneta girou e abriu. Rory arregalou os olhos, primeiro notando a figura masculina que atravessava a porta. Ele era bonito como um astro de Hollywood. Os olhos azuis eram levemente acinzentados e os cabelos de um castanho quase loiro, penteado cuidadosamente para trás. O homem deu um sorriso ladino de lado, era jovem, tendo em torno de vinte e tantos anos. Seus trajes eram finos, usava um paletó preto por cima da camisa branca social, onde alguns botões se encontravam abertos, exibindo um peitoral firme. Ela piscou, engolindo um sabor amargo para o fundo da garganta. O homem sorriu afetuoso, mas Rory pode notar algo sombrio irradiar dele.

— Muito bem, comecemos pela parte simples. Aposto que está com muita fome, não é? — Perguntou ele, com uma suavidade impressionante. Seu sotaque era carregado, embora ele tentasse disfarçar bem. Rory acenou, sentindo uma orquestra de odores invadir suas narinas. Um cheiro incomum de ferro atiçou sua fome, fazendo-a salivar. — Não tive tanto tempo para escolher algo mais apetitoso.

— Algo apetitoso? — Questionou a garota.

— Sim, e ah! Queira me perdoar pela minha ignorância, eu nem me apresentei a você. — O homem deu passos largos até ela. Rory petrificou diante o olhar. Ele falava e se movia como uma pessoa do século passado. — Sou Sebastian, mas antes de partirmos para o banquete, que tal conversarmos um pouco? Acredito que tudo isso aqui é um choque, bem, literalmente. — Encarou a porta brevemente com um sorriso perverso no rosto. — Perdoe-me pela descarga, mas novatos são ariscos e perigosos até serem... treinados. Então encare isso como uma medida de segurança.

— Do que está falando, porra? — Rory trincou o maxilar. — Espera aí, você é o namorado de Charlotte, não é? — Sebastian gargalhou e deu de ombros.

— Parceiros, sim. Namorados? Não posso confirmar. Ela não faz meu tipo e nem eu o dela.

— O que fizeram comigo? Quero ir embora! — Ergueu a voz e marchou na direção do homem. No entanto, não teve coragem de passar por ele. Sebastian era maior em muitos sentidos e ela sentia isso mesmo sem entender como. Era como se... devesse a ele obediência.

— Você está com medo, eu compreendo, mas você não é mais quem era. É algo melhorado. Agora faz parte de uma coisa maior.

— Eu não quero fazer parte de nada! Denunciarei você e a Lottie por sequestro assim que sair daqui.

— Você pode fazer o que quiser, se conseguir sair daqui... — Sebastian cedeu espaço. Rory franziu o cenho, como assim se conseguir sair? — Vá em frente, pode ir embora, eu não vou impedi-la.

— É uma pegadinha, elas estão lá fora prontas para me pegarem, não é? — Rory cruzou os braços deduzindo que Charlotte e Christine provavelmente a aguardavam do outro lado.

— Pegadinha? Não, mas pode ser um quebra-cabeça. Se for esperta, chegará rapidamente as respostas que quer. Primeiro, você se recorda do que passou antes de acordar coberta por terra de cemitério? — Ele perguntou com o semblante mais fechado. A garota piscou, encarando o chão. Ela sentiu medo, dor, culpa, desespero. Foi o pior dos pesadelos, se é que foi um pesadelo. — Não entende o que aconteceu, não é? Por isso estou aqui para ajudá-la. Proponho começarmos pelo início. — Se aproximou da garota e ergueu um dedo. — Busque na sua mente aquilo que você não sabia que tinha...

Aurora engoliu seco e fechou os olhos. Não sabia como fazer isso, mas não precisou de tanto esforço para cenas borradas começarem a surgir através das memórias que não se recordava.

— A Lottie ela... — Um flash veio em sua mente. Estava na floresta há alguns dias quando foi atacada por Charlotte, foi tudo rápido demais. Inicialmente, viu algo que seus olhos não acreditavam, Charlotte passeava do outro lado da grade quando a chamou. Aurora a seguiu e aí o pior aconteceu. Outro flash a assombrou, exatamente quando a amiga desaparecida encarou a sua alma e mandou que ela esquecesse a tentativa de ataque, e no piscar de olhos, sumiu. Rory piscou, atônita, como poderia ter esquecido isso? Uma nova lembrança veio em sua mente, o momento em que teve o pescoço quebrado por Lottie, segundo após ser obrigada a beber seu sangue.

Ela estava morta! Rory sentiu o ar falta dos pulmões. Por quê? Como? Não sabia o motivo disso estar acontecendo. O homem à sua frente lhe lançou um olhar entediado, como se já estivesse acostumado com essas reações. Seu estômago roncou dolorosamente e alto, assim como sua garganta pareceu fechar quando secou ainda mais. Rory levou as mãos para o pescoço, caindo de joelhos no chão.

— Você precisa completar a transformação, precisa se alimentar de sangue. — Ouviu a voz preguiçosa de Sebastian pairar sobre ela. Rory ergueu o olhar. Sangue? Que tipo de gente era aquela que Charlotte estava envolvida? Seu corpo está secando de dentro para fora, precisa comer.

— Va-vai se foder! — Rory engasgou com as palavras. Levantando-se de onde estava, correu pelo corredor, ou melhor, sentiu os pés deslizarem pelo chão. Seu corpo colidiu com a porta, mas antes que pudesse atravessá-la para sair do apartamento, sentiu uma queimação nas costas. Então gritou, forte e estridente, enquanto sua pele pegava fogo e sua carne cheirava a enxofre. De novo não, pensou.

— Já chega com esse teatro! — Vociferou Charlotte, quando sua paciência esgotou-se. Foi rápida em fechar a cortina aberta, enquanto Christine saía de um lugar seguro para apagar as chamas da colega de time. Rory se encolheu no chão, enquanto o cheiro de carne queimada impregnava em todo o ambiente, mas ao contrário do que pensou, seu ferimento curou-se rapidamente. — Não dava para ser mais prático? Seus métodos de treinamento são tão antiquados, Sebastian.

— Estava sendo o mais prático possível, Charlotte. — Caminhando pacientemente, Sebastian surgiu na sala.

— Por favor, não me machuquem... — Rory soluçou. Sentiu algo escorrer pelo rosto, então percebeu que ao invés de lágrimas, era sangue que escorria dos seus olhos. Ela gritou horrorizada outra vez.

— Que patético. — Sebastian revirou os olhos. — Por que sempre os mesmos gritos de desespero?

— Não parece óbvio para você? — Christine lançou um olhar viril a ele.

— Ela está com medo, dê um tempo! — Charlotte rugiu na direção do vampiro mais velho, que ergueu as mãos em defesa. Se aproximou de Rory, dando seu sorriso mais amigável, embora, falso. — Querida, vai ficar tudo bem, confie em mim.

— Se afasta de mim, você me matou e tentou me atacar na floresta! — Rory se arrastou para longe.

— Você precisa comer, eu preparei algo. — Ainda usando o tom mais doce possível, se aproximou da colega de time. — Christine, pegue aquele copo sobre o balcão, sim?

— Não vou comer nada que você me der!

— Então vai secar e morrer, e eu terei que ir atrás de outra garota. — Dessa vez foi Charlotte que pareceu entediada. — Não vamos machucá-la, nada mais vai machucá-la. Na verdade, você agora está no topo da cadeia alimentar. — Rory fungou, havia algo nas palavras de Lottie que a fazia acreditar que coisas melhores estavam por vir, e quando ela tocou seu peito, bem acima do coração, uma calmaria irradiou do seu corpo, por isso, levantou-se do chão e caminhou ao lado dela até o sofá. Christine surgiu com um corpo fechado e um canudo. Charlotte acenou para ela beber. — Não tenha medo, não vou lhe fazer mais nenhum mal, não mais.

— O que você fez comigo? — Perguntou Rory, sentindo o sangue que estava molhando seu rosto, secar.

— É só um truque para acalmar seu novo temperamento, confie em mim. — Charlotte lançou uma piscadela a amiga do time.

Rory acenou, então posicionou o canudo nos lábios e sugou o que havia ali. Primeiro, foi atingida por uma bomba de sensações ao sentir o gosto metálico viajar ao fundo do estômago. Depois, tudo se tornou mais acentuado, as cores, os cheiros, os sons, e principalmente, a fome. A goleira sugou todo o sangue uma vez, desejando que aquilo jamais acabasse. Ela queria mais, muito mais do que só aquele copo podia oferecer.

— Ei, precisa se controlar! — Charlotte a segurou no sofá. Rory sibilou de uma forma que nunca se imaginou fazendo. Passou a língua pelos dentes, sentindo-os pontudos perfurarem seus lábios. — Se você ficou assim com sangue animal, imagina quando experimentar o humano.

— Quero mais!

— Sempre queremos mais, mas precisa deixar a noite cair completamente ou pegará fogo ao pôr os pés para fora. Ainda faltam duas horas para isso acontecer. — Explicou Charlotte. — Mas isso é o suficiente para darmos o próximo passo. Sebastian.

— Como assim? — A nova vampira perguntou. Ouviu passos, então Sebastian ajoelhou em sua frente, ao lado de Charlotte.

— Querida, você faz parte do que chamo de "A nova ordem mundial", logo, estaremos no topo do mundo. Porém, antes de chegar até lá, preciso prepará-la melhor. Você deverá aprender a controlar a força que tem, e quem sabe, até descobrir algum dom escondido aí dentro, igual sua amiga aqui. — Sebastian meneou a cabeça na direção da vampira ao lado. Rory piscou, não entendendo bem o papo de "a nova ordem mundial", mas seguindo em frente, deixou que a mão fria do vampiro a puxasse para cima. — Você ficará encantada com tudo que irá descobrir sobre o nosso mundo.

Charlotte suspirou, jogando copo com sangue de porco para dentro do cesto de lixo quando Aurora e Sebastian sumiram pelo corredor. Depois das mortes da noite passada, e as investigações tomando proporções maiores, as vampiras estavam proibidas de fazerem novas vítimas, ou seja, nada de matarem humanos. Por isso, Charlotte teve que providenciar sangue animal para matar sua fome e completar as transições por meio de um abatedouro local. O gosto não era dos melhores, o sangue humano sempre seria muito mais gostoso, mas isso era tudo que ela tinha agora. Ao menos, tomar sangue de animais, não traria a ela os flashes da vida de suas vítimas, cujo ainda a incomodava muito.

— Eu não acredito que vai mesmo trazer todas as garotas do time, Lott. — Christine fechou o rosto, enquanto Charlotte revira os olhos. — Deveria ser mais esperta, trazer essas meninas vai causar um alvoroço ainda maior.

— Por isso, há um motivo para vocês aprenderem a compelir. — Levantou-se de onde estava. — É para que perguntas idiotas não surjam. E, da mesma forma que você fez sua família esquecer sua existência, a Rory fará o mesmo com os avós. — Deu a volta pela sala, caminhando até uma janela coberta pela cortina. — Mas, talvez tenha razão, trazer todas é um perigo, por isso estou selecionando as melhores.

— E quem é a próxima? — Perguntou Christine, curiosa. — Aliás, o que o Sebastian quis dizer com a nova ordem mundial?

— Não sei, foi novidade para mim também. — A Matthews deu de ombros.

— É sério, você não tem nem um pingo de curiosidade pelo que devemos fazer? — Era claro que Charlotte tinha curiosidade, mas Sebastian jamais revelaria o que faria quando finalmente tivesse o que queria.

— Vamos descobrir de qualquer forma, Chris.

— Ou só podemos ir embora, e viver nossas novas vidas. Imagina o que não podemos fazer agora?

— Não declare isso em voz alta. — Charlotte encarou a amiga. — Não desafie o Sebastian. Por causa dele você é o que é agora, e por causa dele também, você pode deixar de existir.

— Você está sendo controlada por ele, Lottie, não percebe? Vampiros mestres conseguem controlar vampiros menores, no caso, você, eu...

— Não é uma questão de controle, Chris. — Charlotte fechou brevemente os olhos. — Eu devo isso a ele. Você não entenderia. — A vampira apertou os dentes.

— É, eu realmente não entendo. — Christine arfou. — Assim como não entendo como você tem coragem de deixar a cidade, principalmente depois daquilo que fez com a Natalie. Quer dizer, você conseguirá viver pela eternidade enquanto o único amor da sua vida fica presa nessa cidade?

— Você deveria entender que a manter distante, é o melhor. — Charlotte sentou-se em uma poltrona. — A Natalie é um alvo, e se a única forma de proteger ela for afastando-a, então farei isso.

— Nem você acredita nisso. — Christine caminhou até a amiga, parando a sua frente, dobrou os joelhos para que seus olhos fitassem os dela. — Finalmente você teve a chance de ter ela e agora vai deixá-la? Vi vocês duas, o beijo, a forma que ela estava completamente entregue a você, a não ser, é claro, que você tenha usado esse seu truque de confundir as emoções com ela.

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — Charlotte se defendeu, torcendo o rosto em desaprovação. — Falando assim, até parece que me aproveitei dela, o que não foi o caso. O que fizemos foi completamente racional. Eu jamais iria manipular os sentimentos dela, e eu só a ajudei afastando mais a dor que ela sentia.

Alguns humanos carregam dons escondidos ou que não conseguem compreender. Charlotte era um desses casos, já que em toda sua vida, nunca pensou que carregava algum tipo de poder. Ao tornar-se vampira, tudo se amplificou, e com isso, descobriu um dom adormecido. Agora, ela podia sentir e controlar as emoções de outro ser vivo. Conseguia confundir sentimentos e até aliviar dores com um só toque no coração. E foi assim que conseguiu acalmar a tempestade enfurecida no peito de Natalie, pelo menos, por algum tempo. Em nenhum momento pensou em se aproveitar da garota, embora talvez Natalie pudesse estar pensando assim. O beijo entre elas foi somente o resultado dos sentimentos que há muito tempo estava reprimido em seu peito, assim como o calor do momento. E para ser franca, foi a loira que a beijou, e não o contrário. No entanto, isso não faria diferença, agora Natalie era ciente do que Charlotte sempre sentiu por anos, mas agora mesmo que conseguisse ter a garota com facilidade, ainda era um passo arriscado.

— Charlotte? — Chamou Christine. A vampira encarou a amiga sem expressão. — Seu telefone está tocando.

— É claro. — Lottie pegou o aparelho da mesinha, deparando-se com ligações perdidas e mensagens de texto em sua rede social recém-ativada. Seu coração gelou. Principalmente ao ler o nome da pessoa que pedia para lhe ver com urgência: Natalie Scatorccio.

— Acho que é a primeira vez que vejo você pálida, de quem é a mensagem? — Christine quis saber.

Charlotte desligou a tela do aparelho e piscou. Embora quisesse muito a encontrar, sabia que isso a colocaria em perigo. Natalie já sabia sobre os vampiros, e Sebastian sabia sobre ela, e ele havia sido claro em suas palavras: A Natalie pode viver por mais alguns dias, e você não deverá mais se encontrar com ela. Charlotte não gostava de seguir regras, não após ter renascido, mas para o bem da Scatorccio, se manteria na linha como já estava fazendo.

— Ninguém importante. — A Matthews balançou a cabeça. A boca ficou amarga, e o coração pareceu endurecer um pouco mais.

— Tem certeza?

— Vou para casa, tenho uma ideia divertida de tortura meus pais. — Exibindo um falso sorriso, Lottie passou pela amiga, e não esperou por uma resposta. — Se o Sebastian procurar por mim, diga não voltarei mais hoje.

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LADO SUL DA CIDADE — CASA DOS SCATORCCIO

Joe já havia perdido as contas de quantas garrafas de cerveja bebeu naquele dia. Resmungou ao sentar-se na cadeira da varanda, com o pé esquerdo, chutou uma garrafa longe, vendo-a bater contra uma árvore e quebrar-se. Já estava escuro e frio, dando sinais que o verão estava indo embora e o do outono se iniciaria. Ele checou no relógio para saber que horas era e o ponteiro indicava dezenove horas. Olhando por cima do ombro, procurou pela presença da mulher, mas lembrou-se que era a hora do programa favorito dela, então provavelmente ela estava na sala hipnotizada pela televisão. Se prestasse bastante atenção, conseguia ouvir a voz do apresentador e das palmas coletivas da plateia vinda da TV. Gritou pela filha, mas por alguns segundos, gritou o nome errado, mesmo assim, não teve resposta nenhuma. Natalie ainda não estava em casa.

Conforme crescia, Natalie se tornava algo ainda mais impossível de controlar. Joe resmungou algo, jogando a cabeça para trás, principalmente quando ousou pensar na tragédia que a família passou. Era culpa da Natalie, ele sempre acreditou nisso mesmo que sua esposa dissesse o contrário. Seus olhos queimaram por um instante, então inclinou o corpo para frente, aumentando o som da caixa de música, onde um ritmo country preencheu rapidamente o vazio em seu peito. O vento frio chicoteou a brasa da churrasqueira, fazendo com uma faísca de fogo caísse em seus pés. O homem praguejou, levantando-se atordoado para apagar as brasas definitivamente. Joe cambaleou até o fogo, onde usou o resto da cerveja quente para cessar os últimos resquícios de chamas. Ouviu passos serem dados e se preparou para dar uma bronca na filha, mas não era ela que a encarava.

Na verdade, mal podia reparar em quem se escondia nas sombras, em uma distância segura. Joe separou os lábios e uniu mais os olhos tentando enxergar, mas estava escuro demais para deduzir quem estava adiante. Talvez fosse algum vizinho, ou alguém perdido.

— Quem é você? O que faz aqui? — Disse ele. A pessoa deu mais dois passos para frente, deixando que a luz da varanda iluminasse seu rosto. Joe bateu com o pé no chão. — Ah, é você, já está meio tarde para andar pela rua, não acha? Esqueceu-se do toque de recolher?

— Não. — Respondeu, com um sorriso no rosto. Joe franziu o cenho.

— Então é melhor você ir embora.

— Sério? Eu queria ficar mais um pouco. — Aproximou mais alguns passos. — Vim atrás de você.

— Atrás de mim? — Joe sorriu com desdém. — Olha, não sei o que lhe falaram, mas eu não gosto de visitas.

— No entanto, gosta de machucar sua filha, não é? — A acusação o pegou desprevenido. Joe se afastou imediatamente. — Sabia que consigo ler seus pensamentos mais sombrios?

— O quê? Que tipo de piada é essa? — Joe franziu o cenho. Como somente ouviu um sorriso baixinho, resolveu dar as costas e entrar em casa. Entretanto, antes que pudesse dar dois passos até a varanda da casa, foi surpreendido pela figura à sua frente. O que nitidamente não era humanamente possível, já que ninguém se movia em uma velocidade impressionante como aquela. — O que você é?

— Sou o que vai acabar com você.

— O quê?

Não houve tempo para mais perguntas, nem muito menos para respostas. Joe sentiu as unhas afiadas atravessarem sua garganta, arrancando suas cordas vocais. Ele não pode gritar, e o sangue o sufocou. A música alta serviu como trilha para seus últimos momentos em vida, enquanto aquela coisa demoníaca o devorava ainda vivo. Depois de um tempo, não sentiu mais nada, assim como não havia restado muito do seu corpo para contar história. 

Olha, quero teorias, muitas teorias, me contem tudo ♥

CAPITULO ATUALIZADO: 20/07/2024 - NÃO REVISADO

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