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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟏𝟏)

DIAS ATUAIS

O estado de estupor ainda era presente mesmo após dez minutos já ter se passado. Natalie permaneceu parada no canto escuro, enquanto as pessoas se tornavam um grande borrão à sua frente. O que ela fez? E por que logo com Charlotte Matthews? Odiava ter que confessar que caíra facilmente nos truques da vampira, mas a verdade era que o impulso de beijá-la veio totalmente do seu interior com uma combinação intensa de um desejo que nem sabia que possuía. Foi assim que sentiu ir do céu ao inferno em questão de segundos. O beijo foi saboroso, e a intensidade de como foi feito, acompanhado das provocações e ameaças, fizeram seu corpo queimar como nunca sentiu. Ela não sabia que esse tipo de enfrentamento era excitante. O leve gosto de sangue na boca foi o motivo para seu torpor, mas o desejo por algo proibido chegava a ser muito maior. Bem que Natalie adoraria dizer que esse erro jamais voltaria a se repetir, mas aquela altura, enquanto sentia o meio das pernas latejar como nunca e o coração bater depressa, sabia que jamais conseguiria. Beijar Charlotte foi bom. Se sentir atraída por ela — de uma forma muito incomum — foi melhor ainda. Entretanto, o seu lado racional gritou mais alto, a fazendo despertar. Charlotte Matthews ainda era uma assassina, e esse era um detalhe que jamais deveria ser anulado.

O borrão a sua frente se tornou mais claro, então percebeu que as pessoas corriam em todas as direções. Os gritos, que antes estavam abafados em seus ouvidos, se tornaram mais altos. As luzes foram acesas, iluminando o amplo ambiente em que estava, então Natalie percebeu que algo deveria ter acontecido, além de, claro, seu mundo parar devido a um beijo. Piscou, finalmente tentando sair de onde estava. Deu alguns passos, mas esbarrou em alguém maior e mais forte, que não se importou em empurrá-la para outra direção. Um pandemônio se alastrava por todo o lugar. Natalie sentiu uma mão segurar seu braço e a puxar para longe do redemoinho de confusão. Seus olhos vagaram pelo galpão, curiosos com o que estava acontecendo, mas tudo que viu foi três corpos estirados no chão. Morte. O cheiro de sangue tomou de conta do seu nariz, mas a essa altura, já estava atravessando a saída de emergência, rumo ao lado de fora.

— Puta que pariu... — Era Spencer, parando finalmente a sua frente. Ele arfou, jogou o corpo para trás e depois apoiou todo o peso nas mãos que estavam sobre os joelhos. Natalie não disse nenhuma palavra, pois tudo que via ao redor eram pessoas fugindo em seus carros ou a pé. — Vem, vamos embora antes que a polícia chegue.

— Tem pessoas mortas lá dentro. — Comentou ela, com a voz baixa e pesada.

— Bela observação, Nat! Agora vamos embora antes que nos chamem por testemunhas.

O rapaz a puxou pelas mãos em direção ao velho opala estacionado. Natalie tropeçou nos pés, mas o seguiu até o carro, enquanto se perguntava qual das duas vampiras haviam causado aquele estrago: Charlotte ou Christine? Ela não saberia dizer e nem queria deduzir qual delas era tão audaciosa em fazer um ataque tão publicamente. No carro, a garota viu as luzes da cidade correrem do lado de fora, e o silêncio pousar do lado de dentro. Nenhum dos dois havia dito qualquer palavra, mas Spencer logo tratou de reverter a situação embaraçosa.

— Onde você estava? Falei para não sair daquele lugar e quando voltei, você tinha sumido. — Um dos seus braços segurava a direção, enquanto o outro estava relaxado na janela. Natalie revirou os olhos.

— Me senti mal com aquela merda de droga que você me deu. Sair para beber água e me perdi para voltar. — Mentiu. Era óbvio que Spencer não deveria saber do real motivo do seu sumiço no meio da festa.

— Que droga, em pleno aniversário, alguém morre. — Reclamou ele. Dessa vez Natalie soltou um sorrisinho, mesmo não tendo achado graça. Alguém sempre morre. — O bom é que a noite ainda não acabou, quer ir em outro lugar? Podemos ir à praia, que tal?

— Odeio praia, e é muito longe. — O encarou. — Só me leve para casa, por favor.

— Tem certeza?

— Sim.

Spencer suspirou e, por fim, fez a curva de volta para o lado sul da cidade. Natalie afundou no banco de couro, em parte, ela estava agindo no modo automático. As mortes na festa ainda não lhe preocupava, porque sua cabeça ainda estava presa em outra coisa. Seus planos para aquela noite não envolviam Charlotte Matthews, mas já estava na hora entender que não havia como afastar a maldita diaba de saia para fora da sua vida. Onde ela estivesse ou o que estivesse fazendo, a vampira estaria lá também. Grudada a sua sombra como uma obsessora. Enraizada em seus pensamentos como uma praga. Sempre inevitável e tentadora como o fruto proibido. Mordendo os lábios, Natalie uniu ainda mais as pernas e cruzou os braços em frente aos seios quando os notou pontudos, reprimindo o pequeno calafrio que percorreu sua espinha quando o sabor de cereja se misturou na sua saliva.

— Você está bem? — Spencer a encarou de soslaio. Natalie acenou.

— Estou com frio.

— Tem certeza?

— Puta que pariu, você faz muitas perguntas.

— Deve ser porque você está agindo estranha pra caralho, Nat! — Rebateu ele. Natalie bufou.

— Eu só não estou a fim de bater um papo, então só me leva para casa. — Ela gesticulou insinuando que ele só continuasse dirigindo.

Spencer colocou a atenção novamente no trânsito e afundou o pé no acelerador. Alguns minutos depois, a garota saltou do carro sem se despedir. Como a porta da frente se encontrava trancada, deu a volta pelos fundos, para que pudesse entrar pela cozinha. Foi então que os pelos da nuca arrepiaram e um galho quebrou na escuridão. Natalie se virou, mas tudo que encontrou foi o balançar das árvores, além da cerca de ferro. Sua atenção foi ao encontro do outro terreno, exatamente para a casa onde seu vizinho foi assassinado há poucos dias. Uma luz no segundo andar acendeu e apagou rapidamente, mas Natalie ainda pôde ver uma silhueta se mover na escuridão, como se estivesse a espreitando do alto.

Entrou em casa e tratou de trancar a porta, mesmo sabendo que aquilo jamais impediria Charlotte de entrar novamente, e ela havia sido bastante clara quando disse que poderia voltar a sua casa quando quisesse. Natalie correu pelo corredor silencioso e se trancou no quarto, retirando as botas e as peças de roupas. Se jogou na cama somente de lingerie, sentindo o lençol frio tocar sua pele febril. Encarou o teto com rachaduras e em um piscar de olhos, teve uma breve ilusão de ver Charlotte pairando logo acima, com toda sua beleza esculpida minuciosamente. Natalie piscou, tendo aquela visão desfeita drasticamente à sua frente. Foi então que a curiosidade falou mais alto quando passou a pensar em todos os traços da vampira. Lottie carregava naturalmente aquilo que a maioria das garotas gostaria de ter, como: o cabelo bem alinhado, os lábios carnudos e bem desenhados, a pele macia e sempre bronzeada. A loira lambeu os próprios lábios, fechando os olhos. O gosto de sangue ainda estava lá, distante, porque agora, somente o sabor de cereja estava sendo realçado em sua boca.

A recordação da maciez alucinante dos lábios de Charlotte a fez soltar um gemido involuntário, principalmente porque uma das mãos estava próximo demais da calcinha. Natalie abriu os olhos e fungou, pensando em como deveria está melada entre as pernas por conta de toda a situação. Em toda sua vida, nunca se sentiu atraída por alguém do mesmo sexo, mas a ideia era confortável, o que não era confortável era se sentir atraída por uma assassina. Ela virou o corpo para o lado da parede, e apertou as coxas, sentindo o tesão aumentar ao ponto de se sentir dolorida. Natalie estava certa que não conseguiria pregar os olhos naquela noite, não enquanto não fizesse o que fosse necessário. Por isso, se deitou de peito para cima novamente e deslizou a calcinha pelos tornozelos sem dificuldade. Se masturbar era algo tão natural quanto fazer sexo, e confessava também que os únicos orgasmos que já havia alcançado na vida, era quando fazia isso sozinha.

Natalie fechou os olhos e pensou duas vezes no que faria. Não era errado, e ela precisava relaxar para poder dormir. Preparando-se para o que faria, tocou primeiro no bojo do sutiã, abaixando-o o suficiente para o mamilo rosado saltar duro. Ela suspirou, circulando ao redor para sentir o prazer crescer gradualmente. Fechou os olhos e beliscou levemente o mamilo, sentindo um pequeno choque descer até entre as pernas. Seus dedos traçaram uma linha reta pelo abdômen, indo em direção aos pequenos pelos que cresciam em seu monte de Vênus. Sem perder mais tempo, alcançou a boceta, concluindo que seus lábios íntimos estavam de fato muito encharcados. Sua costa arqueou, e ela deu o primeiro gemido alto quando a ponta do dedo circulou o clitóris inchado. Sabia que estava excitada e sensível, mas não tanto. O coração disparou quando um leve indício de prazer perpetuou seu corpo ao estimular brevemente aquela área. Seus movimentos começaram novamente, dessa vez, lentos e circulares sobre a protuberância macia. Mordeu os lábios e fechou os olhos, entregando-se ao prazer que proporciona a si enquanto seus dedos deslizavam facilmente pela área molhada.

"Você gosta quando faço isso?". A voz aveludada soou logo acima. Natalie franziu o cenho quando tudo ao seu redor se tornou mais claro. De alguma forma, se sentia à vontade com o que via, um ambiente mais refinado e limpo que o seu quarto. Charlotte sorriu para ela, deslizando dois dedos para dentro da garota. Natalie arfou, não entendendo como a fantasia parecia tão real. "Bem aqui..." Lottie movimentou o dedo indicador, fazendo a loira se contorcer de prazer. "É o ponto G."

— Ai, meu Deus! — Natalie fechou os olhos com força, sentindo seu ventre se contorcer. — Ai meu Deus...

"Meu nome, Natalie, é o meu nome que você tem que gritar!". Charlotte exigiu. Ela colocou mais um dedo na passagem apertada, girou o pulso e moveu o dedão para o clitóris sensível devido ao prazer. "Deus não tem nada a ver com isso. Agora grita o meu nome quando eu te fizer gozar!"

— Lottie... — Natalie afundou a cabeça no travesseiro com uma agradável fronha de cetim. Embora tudo não passasse da sua imaginação, o prazer que estava sentindo nesse momento era a coisa mais real do mundo. Seu clitóris foi estimulado cuidadosamente, provocando ondulações. Seu corpo se encontrou mais febril, da mesma forma que uma pressão inexplicável cresceu do seu ventre. — Charlotte, porra! — Ela gritou com os olhos fechados, quando o orgasmo a acertou precisamente, fazendo que uma sensação de dormência apossasse das melhores partes do corpo. Aquilo era como usar a melhor das drogas. Como experimentar chocolate pela primeira vez. Trepar com uma garota em pensamento era bom demais, e talvez na realidade, fosse ainda melhor.

"Imagina só quando eu começar a experimentar você e ter certeza que é um doce." A voz aveludada da vampira tocou sua pele do pescoço. Duas batidas na porta a fizeram cair no mundo real. Natalie abriu os olhos, completamente lânguida. Suas pernas tremiam, seu coração estava disparado e um riso bobo maquiado nos lábios. Sentiu o suor escorrendo na nuca, e embora quisesse dizer algo, não sabia como formular qualquer palavra. Natalie piscou, sentindo um pequeno vazio ao perceber que nunca havia saído da própria cama. Ainda estava em seu velho quarto bagunçado e com cheiro duvidoso impregnado no ar. Por alguns segundos, se perguntou se fizera mesmo aquilo, mas depois, só aceitou que se masturbou pensando em uma garota que sempre a infernizou. Ouviu duas batidas novamente na porta, dessa vez mais altas.

— Natalie, que merda você está fazendo nesse quarto? Que gritos são esses? — Era seu pai, batendo em sua porta em plena madrugada.

— Na-nada... — Gaguejou na cama. Seu orgasmo a tirou completamente da órbita. Sabia que tinha dito coisas, mas não que fizera isso tão alto ao ponto de acordar o pai de um sono pesado. — Eu só bati o dedo da quina da cama.

— Que seja, não faça barulhos. Algumas pessoas ainda precisam dormir.

— Tá bom.

Joe não respondeu, dando sinais de que voltou para o quarto. Naquela altura, tudo que Natalie conseguia pensar era nela, Charlotte Matthews, e na forma que ela estava dentro da sua cabeça, tornando reais aqueles pensamentos que agora se tornaram meio difíceis de serem escondidos, principalmente em seu peito.

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A água do chuveiro escorria pelo corpo indo em direção ao ralo. Estava fria, tanto que chegava a doer na pele, mas Natalie não se importou, e preferiu que o primeiro banho do dia fosse assim: gelado o suficiente para congelar tudo que sentia. Abriu os lábios e esfregou o sabonete no corpo. Ela precisava acordar, só assim poderia pôr os pensamentos em ordens, principalmente do que fez na noite passada. Entretanto, era impossível. Cada vez que se encontrava em silêncio, voltava ao momento que esbarrou com Charlotte, do beijo, e principalmente, do que ela fez em casa quando não suportou tamanho desejo por uma assassina. Natalie esmurrou a parede se recusando acreditar que se sentia atraída por uma máquina sanguinária. Não, definitivamente seus pensamentos intrusivos naquele dia estavam indo longe demais. Saiu do banheiro com a toalha em volta do corpo para o quarto. Trocou de roupa e pegou o telefone sobre a cômoda. Procurou na galeria as fotos da noite passada, e lá encontrou o que fez suas mãos tremerem. Agora via com mais nitidez o que seus olhos não conseguiam capturar. Assim como Lottie, algo monstruoso também pairava sobre a imagem de Christine. Por poucos segundos, ficou feliz da colega de time estar viva — ou quase viva. O telefone tocou, sendo atendido na primeira ligação.

Por favor, me diga que você ainda é você. — Antes de um "bom dia" ou "como você está?", Greg fez a pergunta mais óbvia para aquele momento. Natalie sorriu baixinho, com o aparelho esquentando em seu ouvido direito.

— Eu estou bem, Greg. — Respondeu ela. — Ainda sou a Natalie que você conhece desde o segundo ano, e que odeia ligações. — Se levantou apenas para fechar a porta quando ouviu a mãe falar do lado de fora com alguém, provavelmente algum vizinho. — É sério, você poderia ter só mandando uma mensagem, que eu responderia na mesma hora.

Eu tentei isso ontem e você não deu mais sinais. Fiquei preocupado, principalmente porque hoje vi nos jornais o que aconteceu naquela festa que você estava.

É, eu vi pessoalmente os corpos. — Natalie suspirou. Passou a mão pelo cabelo loiro repicado, logo teria que ajustar o corte e retocar a raiz escura.

— Você viu a Christine, e então, como ela se parecia? Foi ela que matou aqueles caras?

— Ela se parecia exatamente com a Lottie, até tirei uma foto, vou mandar para você. — Retirando o telefone ouvido, encaminhou a foto capturada da vampira ao amigo. Retornou a ligação, enquanto ouvia uma conversa se tornar mais alta na cozinha de casa. Com quem Vera estava conversando? — E é possível que ela tenha feito tudo sozinha ontem.

É possível? Então ela estava só? A Charlotte não estava também? — Greg não respirou entre as perguntas, parecia ansioso. Natalie engasgou com a saliva, principalmente quando ouviu algo cair e quebrar-se na cozinha.

— Greg, eu tenho que ir, podemos nos encontrar na biblioteca amanhã e pesquisar mais alguma coisa. Lembra do ataque da Pensilvânia? Podemos encontrar respostas com esse caso. — Natalie caminhou até a porta.

— Não, a minha mãe não quer me deixar sair de casa com todos esses assassinatos. E você ouviu a reportagem? Estamos em toque de recolher, todos devem ir para casa às dezenove horas.

— Então te encontro amanhã na Biblioteca logo cedo.

— Amanhã é domingo, Nat, e você ouviu a parte que eu não posso sair de casa?

— Fechado! Encontro você na porta da biblioteca.

Desligou o telefone antes que Greg recusasse sua ideia. Saiu para o corredor, enquanto ouvia uma conversa paralela se tornar mais alta. Andou na ponta dos pés para que sua presença não fosse entregue, mas ao parar na porta da cozinha, se deparou com olhos escuros e brilhantes. Uma garota estava sentada na cadeira com visão para o corredor. Ela sorriu para Natalie assim que notou sua presença. E a loira, desorientada com a situação, apenas franziu o semblante, decidindo se entraria ou não naquele cômodo. A Scatorccio tentou buscar em suas lembranças algum sinal daquele rosto, já que a aparência da visita era completamente comum. Aquela garota beirava provavelmente os vinte anos, tinha cabelos cacheados e longos. O tom natural era castanho, mas algumas mechas loiras iam até as pontas mais claras, queimadas devido ao sol — e isso explicava também o tom da sua pele marrom-bronzeada. Natalie concluiu que nunca a viu em toda sua vida, e conforme as coisas estavam indo nos últimos, não era do seu agrado ter uma estranha em casa.

— Oi, querida, bom dia. — Vera reparou a atenção da convidada presa no corredor. Então percebeu que a filha já estava de pé. — Achei que não fosse levantar tão cedo.

— Na verdade, acordei faz alguns minutos. — Natalie encarou a mãe, e a estranhou. Vera parecia lúcida e feliz naquela manhã. — Você está bem?

— Por que não estaria? Que pergunta boba, amor. — Vera abanou a mão do ar. — Venha, fiz café da manhã e temos visitas... — Apontou para a garota sentada na cadeira e depois para a cafeteira.

— É, eu reparei... — Natalie murmurou.

— Essa é a Lilian Clark. — Vera apresentou. Clark. O sobrenome queimou de um lado da cabeça de Natalie. Isso respondia aquela mudança na porta do vizinho no dia anterior. — Lilian, essa é a Natalie, minha filha. — Vera a apresentou.

— Por favor, senhora Scatorccio, me chame de Lily. — Pediu a jovem.

— Então me chame de Vera, querida.

— Será que dá para alguém explicar o que está rolando aqui? — Natalie cruzou os braços e encarou a mãe.

— Lilian, desculpe, Lily é a filha do Billy, ela se mudou para a cidade depois que você sabe... — Vera estremeceu no fim da breve explicação. Natalie abriu os lábios, pronta para questionar algo.

— O Billy tem uma filha? Achei que ele só tinha um filho... — A loira encarou a outra garota. Lily suspirou, fechando brevemente os olhos.

— Sou filha do primeiro casamento dele, se é que posso chamar aquilo que ele levava com minha mãe de casamento. — Explicou ela, com lembranças tristes da infância. — Meu pai nunca gostou da minha existência, então obviamente não falava a ninguém sobre mim, sabe como é essa história de gravidez indesejada na adolescência. Eu soube do ocorrido e decidi vir para a cidade dar apoio a minha madrasta e ao meu meio-irmão, principalmente agora que eles decidiram ir embora.

— Ah, bem, eu lamento pelo que ocorreu ao seu pai. — Natalie limpou novamente a garganta. Lily assentiu. — Então, vocês irão vender tudo e ir embora?

— Não, na verdade, eu decidi ficar na cidade por um tempo, só minha madrasta e meu irmão partirão. Vou ficar e resolver umas coisas... — Seu tom diminuiu. Natalie compreendeu que algo se escondia entrelinhas. — Então decidi conhecer a vizinhança e saber como era o meu pai, já que não tínhamos tanto contato como eu queria depois que ele foi comprar uma carteira de cigarro e nunca mais voltou.

— Boa sorte então. — Natalie sorriu de lado, maldosamente.

— Natalie! — Vera a repreendeu com o olhar.

— Ah, meu Deus! Meu pai era uma pessoa ruim? — Lily franziu o cenho, preocupada.

— Uma pessoa complicada, mas quem não é complicado? — Vera caminhou até a pia. — Querida, você é bem-vinda na nossa casa, o que precisar é só nos procurar.

— Obrigada, Vera. Bem, eu tenho que ir agora, não quero tomar do tempo de vocês, e tem muita coisa para fazer naquela casa. — Lily se levantou da cadeira. Deu um abraço em Vera antes de caminhar até Natalie. — Foi um prazer conhecer você também, Natalie, espero que possamos trocar mais ideias durante o tempo que eu ficar na cidade.

— É, quem sabe? — A loira respondeu atravessada.

Sem qualquer aviso, Lily a abraçou. Natalie congelou, pois esse tipo de contato era íntimo demais para ser dado por alguém que acabou de conhecer. Além disso, um choque percorreu seu corpo. Aquela fora a sensação mais estranha que sentiu desde que foi abraçada por Charlotte há alguns dias. A nova vizinha girou os calcanhares para fora da casa dos Scatorccio. Natalie soltou a respiração que nem percebia prender. Ainda pela janela cozinha, conseguia ver a outra garota andando até sua casa ao lado. Deduziu que foi ela que viu no segundo andar da casa dos Clark na noite passada, mesmo assim, uma dúvida martelou em sua mente.

— Mãe, a Lily por acaso pediu permissão para entrar aqui em casa?

— Não. — Vera caminhou até a geladeira. Retirou uma bandeja do fundo do congelador e encarou a filha. — Ela não fez esse pedido e eu também não lembro de ter dito algo. Ela só apareceu na porta e se apresentou e eu cedi espaço para ela passar. Sabe como são as pessoas de fora, né?

— De onde ela é mesmo?

— Sabe que eu nem perguntei? — Vera piscou. Natalie meneou a cabeça. — Bem, mas não importa.

— Você parece muito bem hoje. — Natalie observou a mãe cantarolar enquanto começava a fatiar um frango. Vera costumava ficar instável durante os aniversários de Natalie e os dias seguintes sempre eram os mais difíceis. No entanto, esse ano, as coisas pareciam bem diferentes, e não no sentido bom.

— Conversar com a Lily me fez acordar para a vida, querida, ela me disse que eu não deveria me prender ao passado, quando o futuro poderia ser melhor. Percebi que passei muito tempo me martirizando pelo que aconteceu a nossa família. — Vera suspirou. Natalie engoliu seco. — Isso me fez refletir sobre o que eu estava me tornando e como isso afetava você e seu pai. Eu quero voltar a ser quem eu era, Natalie.

— E sobre as coisas que me disse, sobre ter algo ruim na cidade, não sente mais nada a respeito disso? — Natalie se aproximou da mãe. Vera suspirou, arrependida das palavras que havia dito. Provavelmente, aquilo estava aterrorizando a filha da mesma forma que a aterrorizou, mas ela não podia fazer nada, sempre foi assim desde jovem e seu maior medo era que sua filha também herdasse esses... problemas.

— Querida, coisas ruins acontecem o tempo todo. Às vezes elas só se reúnem para acontecer de uma só vez. — Ergueu seu olhar para o da filha. Natalie se encontrava confusa, mas Vera não a culpava por isso. Agora, se sentia limpa e com pensamentos claros. Ter uma companhia para desabafar havia lhe feito muito bem. — Prometo que serei uma mãe melhor daqui pra frente. E para começar, você limpará o seu quarto. Hoje é sábado, então nosso fim de semana está apenas começando.

Natalie acenou, desistindo de conduzir a conversa para outro lado. Antes de atravessar a porta de volta para o quarto, percebeu o pequeno espelho quebrado no cesto de lixo. Piscou algumas vezes, então deu ombros. Deixou a mãe na cozinha, e se perguntou que tipo de palavras Lilian Clark havia dito à Vera para deixá-la tão bem.

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COBERTURA MATTHEWS

O grito masculino ecoou do quarto de hóspede. Alto e doloroso, mas não parou, já que sua respiração se tornou ofegante por começar a correr. Charlotte respirou fundo e aumentou o volume da TV, cruzando as longas pernas e ignorando tudo ao redor. Bom, ela tentou, já que segundos depois, um homem caiu aos seus pés, chorando desesperado à medida que uma ferida no seu pescoço espirrava sangue para todos os lados. A morena revirou os olhos, e irritou-se quando ele puxou seus pés suplicando por misericórdia. Isso a fez gargalhar, já que esse ato deveria ser pedido aos céus, e não a uma criatura forjada no inferno — que era o seu caso. Ela se inclinou para frente, deixando o rosto assumir outra forma, mas, não estava com fome, então só pretendia matar alguém de medo. Literalmente. Seu novo esporte favorito era simplesmente extravasar sua maldade, e qual a melhor forma que faria senão matar algumas pessoas que mereciam morrer? No entanto, seu momento de distração acabou tão rápido quando começou, já que o homem sumiu num piscar de olhos, surgindo novamente já sem vida do outro lado da sala.

Christine lambeu os lábios ensanguentados, orgulhosa de ter matado a terceira pessoa só naquele início da manhã. O corpo magro e pálido estava jogado aos seus pés, mas o que chamou sua atenção foi o ruído de protesto da melhor amiga. Charlotte inclinou o rosto e retornou a aparência humana novamente. Seu olhar estava preso na bagunça do apartamento, e ela com certeza surtaria ao ver a bagunça maior no quarto que Chris estava acomodada. A outra vampira abriu os lábios, mas não teve tempo para falar. Flashes da vida da sua última vítima correram diante seus olhos. Charlotte estava certa quando disse que ele era a presa perfeita. Em questão de segundos, viu a quantidade de mulheres violadas pelas mãos que antes estavam unidas pedindo por misericórdia. Aquele homem merecia morrer, mas deveria ter sofrido um pouco mais.

Charlotte encarou a amiga caminhar de volta para o quarto, e a seguiu. Devido à nova vida que deu a ela, a Barnes estava fadada a viver em sua cobertura no centro da cidade até que fossem embora definitivamente de Toms River — conforme havia lhe prometido. Aquele não era um lugar ruim, exceto, é claro, pelas enormes janelas de vidros dando a melhor vista para o litoral distante que causavam um grande incômodo a outra vampira. Antes, o senhor e a senhora Matthews estavam vivendo por ali, deixando que a mansão do outro lado da cidade apodrecesse durante o suposto desaparecimento da única filha. Não foi difícil para Charlotte achá-los e, levá-los de volta para casa, foi algo ainda mais fácil. Charlotte chegou ao quarto onde Christine estava recolhendo os corpos destroçados e, possivelmente, imaginando o faria com eles. As cortinas pesadas deixavam o ambiente escuro, pois a integrante da linha de defesa do time preferia assim. O sol queimava sua pele, algo que não incomodava nem um pouco Charlotte. Chegava ser injusto ela ter esse privilégio de ir a qualquer lugar na hora que quisesse, enquanto Christine precisava esperar a noite cair completamente, para poder sair daquele lugar.

— Você fez uma bagunça enorme. — Charlotte observou.

— Já estou limpando tudo. — Christine decepou um braço do tronco. Diferente de Charlotte, ela preferia somente beber o sangue do que se alimentar da carne humana. Era estranho seguir essa nova dieta, e para ser franca, ela não estava completamente satisfeita por ter se tornado o que era agora.

— Eu não estou falando só da sua bagunça daqui. — Charlotte caminhou até a janela, espiando o dia quente e ensolarado. — Deveria assistir o noticiário, você deixou três corpos para trás no meio da festa de ontem. — Chris congelou. A primeira regra dos vampiros era ser sutis, nada de ataque em locais públicos, e ela havia falhado miseravelmente.

— E as suas vítimas, também as encontraram? — Christine ergueu o olhar a Charlotte, que sorriu e deu de ombros.

— Somente quando o cheiro se tornar insuportável naquela caixa d'água, além disso, os corpos estavam desmembrados, irreconhecíveis. Nenhum sinal de que fiz alguma coisa, diferente de você. — Christine lambeu os lábios, arrancando mais um pedaço do corpo aos seus pés. Charlotte apertou a fonte do nariz. Não sabia que controlar novatos fosse algo tão trabalhoso. Agora ela entendia bem o motivo do seu mestre estar enfurecido com seus últimos ataques. — Quando saímos para caçar novamente, é melhor ser mais cuidadosa, também vamos procurar um lugar mais afastado de Toms River. Agora ponha esses corpos dentro do saco de lixo, para que eu possa desovar bem longe daqui.

— Eu ainda sinto um pouco de fome. — Declarou a amiga, levando o dedo sujo de sangue para a boca.

— Se você comer a carne, se sentirá saciada por mais tempo.

— Isso é muito nojento.

— Isso é o que somos agora. — A vampira Matthews vociferou. — E, duvido muito que esteja com fome, você já matou seis pessoas de ontem para hoje. Então, o que sente é só a necessidade de matar, caçar. Eu luto contra isso todos os dias, então sei que é difícil. Você precisa focar em outra coisa que não seja matar humanos.

— Falando assim, até parece que é fácil. — Christine bufou, finalmente conseguindo pôr o primeiro corpo no saco preto de lixo.

— Eu tenho me saído muito bem, se quer saber.

— Jura? — Christine sorriu com escárnio. — Você nem sempre é a rainha da sutileza, Lott. E mesmo que sempre tenha fingido ser alguém que não era, aposto que não é todo dia que consegue esconder que é uma vampira. Soube que você quase colocou tudo a perder com um ataque de raiva na escola.

— Você adora está certa sobre tudo, não é? — Charlotte inclinou o rosto, deu um passo curto até a cortina e abriu. Christine gritou e sibilou quando a luz solar invadiu o quarto, queimando sua pele como brasa quente. Seus pés agiram rápido em esconder-se do outro lado da cama. Charlotte sorriu, batendo os cílios em uma nítida expressão de quem estava alheia à situação. — Oh, querida, qual o problema? Um pouquinho de sol não irá fazer mal. — Seu sorriso se tornou ferino. — Você está tão pálida.

— Fecha a cortina! — Berrou do outro lado. Charlotte não obedeceu, na verdade, serviu para abrir ainda mais a cortina. — Por que o sol não queima você?

— Porque sou um caso especial. — Respondeu sutilmente. — Fui transformada por um dos primeiros, logo, algumas vantagens dele foi transferida a mim. — Charlotte fechou os olhos e sentiu o calor bater em seu rosto. — Mas como eu a transformei, então você não adquiriu minhas... digamos, condições.

— Não entendo porque fez isso comigo. — Christine encolheu no canto. Seus olhos começaram a arder, então uma gota de sangue pingou em sua mão. Ela estava chorando sangue? Charlotte fechou novamente a cortina e se virou para a amiga.

— Eu já disse que vamos fazer parte de algo maior, por isso estou selecionando a dedo quem deverá se tornar o que somos. E você é a minha melhor amiga, seria muito egoísmo se eu não a trouxesse para meu lado.

— Você me obrigou a apagar a memória da minha família, isso não é egoísmo para você?

— Foi uma medida segura para eles.

— Os seus pais continuam vivos, por que não fez o mesmo com eles?

— Porque eles precisam saber o que me tornaram.

— Quem irá pegar agora? A Natalie? — Christine levantou-se de onde estava limpando o sangue do rosto. Charlotte lhe lançou um olhar. — Ah, desculpe, esqueci que você é apaixonadinha por ela desde o primeiro ano, então talvez seja a última, só porque você adora ser teatral.

— Cale a boca! — Charlotte avançou contra a amiga, encurralando-a contra a parede. — Quem será a próxima não é da sua conta e não volte a falar da Natalie. Nunca mais! — Rangeu os dentes. — Você entendeu?

Des-desculpe. — Christine sentiu todas suas passagens de ar se fecharem. Charlotte sibilou entre os dentes afiados.

— Brigando tão cedo, meninas? — A voz masculina, carregada por um forte sotaque, perpetuou do corredor. Charlotte se afastou de Christine, enquanto controlava a raiva instalada no peito. — Essa casa está uma grande bagunça, por acaso estamos vivendo em um grande abatedouro de emos drogados?

— Se trouxer comida, então não verá cadáveres pelos corredores. — Christine disse. Sua mão correu pelo pescoço, e ainda lançava um olhar vingativo a Charlotte. — Você me aprisionou aqui, então me alimento como posso.

— De forma alguma, querida. Você pode ir embora quando quiser. — Ele apontou para a porta. Charlotte sorriu de lado. — É claro, se conseguir sobreviver por mais de cinco minutos no sol sem que sua pele pegue fogo e você se torne pó.

— Estou bem aqui. — Chris encolheu os ombros.

— Foi o que achei. — Ele sorriu, deixando que a ponta dos caninos afiados surgissem brevemente. — E quanto a você... — Virou-se para Charlotte. — podemos conversar.

— Sinto que se eu disser que não, não fará diferença alguma. — Charlotte suspirou.

— Me acompanhe. — Ordenou Sebastian, em seguida, apontou para Christine. — Limpe isso.

Sebastian percorreu o estreito e longo corredor até o escritório que se encontrava na última porta. O cheiro daquele lugar o enjoava, e a decoração não podia ser mais medíocre, mas não podia reclamar. Parou na entrada, deixando que sua última e mais bela criação passasse primeiro. Charlotte vasculhou toda a sala com olhar. Não era a primeira vez que encontrava ali, mas sempre que entrava naquele escritório se deparava com algo novo. Dessa vez, sua atenção foi atraída por um quadro muito pequeno de quando ela era criança, talvez tendo somente cinco anos, mas não demorou o olhar. Se virou para o vampiro que a transformou, enquanto ele assumia a cadeira de Malcolm Matthews como se fosse o dono daquele lugar. Pouco ela sabia sobre ele, assim como o mesmo fizera questão de contar somente o necessário para uma jovem tão curiosa. Sebastian Dascălu havia nascido durante o século quinze, justo no mesmo ano que Joana d'Arc era queimada viva em praça pública. Membro da seita intitulada de "Os Renascidos", Sebastian foi um dos primeiros homens a se tornar vampiro sem precisa morrer, e para isso, só precisou dar sua alma e sacrifícios para que Lilith, a mãe de todos os vampiros, o abençoasse com a vida eterna. Por viver muitos anos e fingir ter muitas vidas, se tornou rico em relíquias que sobreviveram ao tempo e contavam a história sobre a evolução da humanidade. O que Charlotte não sabia, era o que Sebastian almejava mesmo já tendo tudo. É claro que quando o conheceu na Romênia, soube que algo sombrio se escondia por trás daquele mar azul e frio que seus olhos carregavam. No entanto, devido às circunstâncias que a haviam levado até o lugar, não pensou muito quando selou um trato com o diabo. Ela deu não só sua alma, mas como a palavra que cumpriria uma tarefa arriscada.

— É melhor ser rápido no que tem a dizer, tenho muito trabalho para fazer com aqueles corpos e os tapetes manchados. — Charlotte sentou-se na cadeira logo à frente da mesa. Cruzou as pernas e encarou o vampiro. — E ainda faltam algumas meninas para trazer, certo?

— Exatamente oito meninas que precisava me entregar. A primeira lua de sangue acontece em uma semana, e a segunda, daqui em alguns meses, então tenho urgência para fazer o que precisa ser feito até o próximo domingo.

— Você não disse exatamente porque precisa de dez vampiros até a lua de sangue, e porque precisa ser exatamente dez garotas. — Charlotte inclinou-se para frente.

— Não faz parte do acordo você saber dos detalhes.

— No entanto, faz parte do acordo me envolver no que cogita fazer? — Charlotte indagou com autoridade. A princípio, quando tudo que conseguia sentir não passava de raiva e vingança, não se importou com a tarefa que deveria ser feita. Agora, começava a achar o acordo feito uma grande estupidez, e não tinha escapatória do que já havia prometido fazer.

— Você não será atingida com nada, meu bem, e até onde sei, você não se importa com nenhuma daquelas garotas, não mais.

— Eu ainda me importo com o que será delas depois que a lua de sangue chegar. Então se você quiser que eu continue fazendo seu serviço sujo, enquanto você finge ser alguém da sociedade, é melhor me contar o que planeja fazer com todas nós, ou será bem ruim eu ter que destroçar seu corpo e jogar no meio mar.

Sebastian jogou a cabeça para trás e gargalhou. Não era surpresa saber que Charlotte uma hora ou outra gostaria de tomar as rédeas da situação. Quando a conheceu, viu muito mais do que só uma garotinha apavorada pelo castigo cruel dos pais. Ele viu também um potencial grande demais para ser desperdiçado. Naturalmente, Charlotte era uma líder, e embora estivesse despedaçada por dentro, um fogo selvagem queimava nela ao ponto de brilhar em olhos escuros. Sebastian já havia visto e se envolvido com centenas de mulheres, mas nenhuma delas conseguiam ser como Charlotte Matthews. Nenhuma se encontrava tão quebrada quanto ela ou com uma quantidade absurda de raiva reprimida em seu peito pronta para queimar o mundo sem se importar com as consequências.

— Eu já esperava por isso... — A garota uniu as sobrancelhas. Ele gesticulou. — Pelo momento que você fosse me confrontar. — Sebastian passou o dedo pela barba por fazer. — Não tenho intenção de matar você, porque, tecnicamente, você já está morta. Eu já disse, não tem com o que se preocupar, tudo ficará bem no final e eu preciso de você até o fim.

— Só quero entender que tipo de valor temos tanto a você. — Charlotte levantou-se da cadeira, caminhando até o outro lado da sala. Apaixonou-se do espelho, tendo um vislumbre da face demoníaca refletida. Ela odiava aquela visão, e carregava dificuldade para dissociá-la do seu verdadeiro reflexo. — Se fosse mais transparente comigo, eu não faria tantas perguntas.

Sebastian levantou-se de onde estava, deu passos calculados até Charlotte. Ergueu o dedo e afastou uma mecha do cabelo escovado para que seus lábios pudessem se aproximar dos ouvidos da garota. Lottie estremeceu com o toque.

— O valor que vocês têm a mim é muito maior do que poderiam compreender. — Seus lábios gelados tocaram a pele da garota. — Ainda restam oito garotas e o tempo está passando.

— E se eu não trouxer nenhuma? — Ela se virou para ele.

— Então, minha querida, eu terei que matá-la, dessa vez para valer. E então, começar tudo novamente, o que seria exaustivo. — Ele suspirou, entediado. — Então sugiro que faça menos perguntas e cumpra sua missão. E uma última coisa... — Sebastian se afastou de Charlotte. Quando ela se deu conta, o mestre já se encontrava do outro lado da sala, se servindo com um copo de uísque. — Você e a Christine colocaram mais uma vez o nosso mundo em perigo, então decidi que como castigo, vocês não se alimentaram mais de humanos, e como estou bem criativo hoje, decidi que você deve matar a Natalie, aliás, ela está se metendo demais onde não é chamada. — O vampiro se virou e avaliou a reação da garota.

Charlotte sentiu o ar sumir dos pulmões. Matar Natalie estava fora de cogitação, e ela não faria algo
assim mesmo que sua vida dependesse disso. Seus olhos caíram para as mãos vazias, onde as pontas dos dedos tremeram levemente. Sebastian avaliou a reação da garota, enquanto engolia o sabor amargo do uísque, sentindo-o viajar ao fundo do seu estômago.

— Não posso... — Murmurou a garota. Ela estava com medo. Podia sentir o próprio odor invadindo suas narinas insuportavelmente. — Não pode me pedir uma coisa dessas.

— Se você não fizer, então eu farei. — Ele deu de ombros. Matar um humano era como matar uma barata, eles eram tão frágeis, embora acreditassem no contrário.

— Não! — Charlotte rugiu de onde estava. — Eu já disse que ela não faz parte disso.

— Tudo bem, querida, entendo como é amar alguém não ter para si. — Sebastian revirou os olhos. O amor juvenil proibido era entediante ao seu ver. — A Natalie pode viver por mais alguns dias, mas você não deverá mais se encontrar com ela, caso contrário, eu a matarei. Agora, me traga mais uma garota e deixe de fazer perguntas idiotas.

— Quem você quer? — Charlotte ergueu o rosto, com olhar endurecido e amargurado. Um sorriso deslizou pelos lábios de Sebastian.

— Me surpreenda. — Respondeu ele. Charlotte acenou, retirando-se do lugar. Quem ela queria enganar? Era de fato uma egoísta por decidir sacrificar várias garotas para manter sua garota viva. Natalie já poderia se considerar sortuda por isso ou muito amaldiçoada, pois em prol da sua segurança, pessoas morreriam e talvez, até a própria vampira que a amava.

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LADO SUL DA CIDADE

Natalie arremessou a pilha de coisas velhas para dentro da lata de lixo. Cumpriu sua obrigação em arrumar quarto, tendo a sorte de encontrar até o que já acreditava ter pedido há muito tempo. O bairro se encontrava tranquilo, sem vizinhos falando alto ou cachorros latindo um para os outros, por isso, foi fácil ouvir um grito agudo e feminino vindo de dentro da casa dos Clark. A princípio, Natalie permaneceu onde estava, já que ultimamente gritos em Toms River eram sinal de mau agouro. No entanto, imaginou o risco que a nova vizinha provavelmente correria ao estar naquela casa. E se Charlotte tivesse voltado para fazer o restante dos Clark seu prato principal? Natalie não tinha como prever novos ataques e nem sabia o que faria quando encontrasse aquela diaba de saia novamente. Outro grito foi ouvido, um pouco histérico e mais alto. E mesmo que a loira não fosse especialista em gritos, sabia muito bem que aquele provavelmente estava longe de ser um sinal de socorro. Por isso, deu passos até a casa ao lado, apanhando um galho grosso de árvores para usar como arma para qualquer ameaça que surgisse à sua frente.

— Lily? — Natalie chamou. Silêncio. — Lilian?

— Quem é? — Finalmente ouviu a voz da garota vindo de dentro da casa.

— Natalie, a sua vizinha. Eu ouvi você gritar...

Um curto tempo se passou até que Lily surgisse na porta. Suas bochechas estavam vermelhas e seus olhos desconfiados. Ela sorriu aliviada, enquanto abria a porta para a vizinha. Seu olhar caiu para as mãos da outra garota, que segurava um galho como se fosse uma arma letal.

— Tá tudo bem? — Apontou para as mãos da loira. Natalie limpou a garganta, soltando o galho no chão. Tudo bem, talvez tenha sido muito exagero, pensou a Scatorccio. — Desculpa, eu acho que gritei alto demais, não foi minha intenção. É que essa casa está infestada de ratos mortos no segundo andar. A Suzana deveria ter me dito que eu me depararia com eles. — A garota passou a mão pelo cabelo e sorriu quando percebeu que Natalie parecia prender uma gargalhada.

— Olha, ultimamente que as coisas nessa cidade estão bem estranhas, então você me deu um susto sim. — Ela deu um passo para frente. — Se quiser, posso ajudá-la com a bagunça que sua madrasta deixou.

— Ah! Não, nem pensar que eu vou explorar minha vizinha, eu acabei de chegar.

— Considerando o fato de você ter deixado a Vera mais próxima da realidade e até disposta a ser uma boa mãe, eu acho que estou te devendo uma. — Natalie enfiou as mãos no bolso do short. Lily a avaliou por alguns segundos, por fim, cedeu espaço na porta. A Scatorccio franziu o cenho e observou sua nova vizinha desaparecer na escuridão da casa sem nem ao menos convidá-la para entrar. — Ah, eu estou entrando... — Colocou um pé na frente do outro e atravessou a porta da casa.

— Desculpa, não a convidei para entrar, mas isso não é um problema, é? — Perguntou a outra.

— Não... se não for um problema para você, é claro. — Natalie respondeu, acanhada. Lily a encarou dos pés à cabeça, procurando por algo, por fim, acenou.

— Eles estão no segundo andar, vamos. E se prepare...

Antes que pudesse acompanhá-la pelas escadas, Natalie deu uma boa olhada na casa. Estava na cozinha, mas bastava andar um pouco para entrar na sala de estar, o local onde Billy Clark fora assassinado. Natalie podia sentir o odor da morte impregnado nos móveis. Por alguns segundos, sentiu um leve mal-estar e imaginou como Lily era capaz de ficar sozinha naquela casa, principalmente depois do que aconteceu.

— Natalie? — Lily voltou dois degraus da escada e a chamou. A loira ergueu a cabeça, piscando atordoada. — Você está bem?

— Sim, estou indo. — Engoliu em seco e subiu as escadas logo atrás de Lilian. Natalie sentiu arrependimento imediato ao se deparar com a cena degradante diante seus olhos. Ratazanas se encontravam mortas logo no primeiro quarto, aquele que ela supôs ser onde Lily ficaria.

— Causa morte: veneno para rato. — A garota apontou para uma lata de veneno no canto do quarto. — Tenho a impressão que vou encontrar muito mais no sótão. Deus me ajude.

— Acha que dá para limpar isso ou é melhor colocar fogo na casa e construir outra? — Perguntou Natalie, com uma pitada de humor a fim de distrair a velha sensação de déjà vu. Aquela cena dos ratos lembrava a mesma dos pássaros na casa dos Matthews.

— Tentaremos limpar, e se não conseguir, faremos a segunda opção. — Lily deu de ombros e sorriu.

— Você começa daquele lado e eu começo por aqui, tá bom? — Natalie sugeriu. Lily acenou.

Natalie foi rápida em alcançar as luvas e os sacos para retirar os animais mortos. Percebeu que Lily fazia o trabalho rápido e até parecia se divertir enquanto colocava as ratazanas mortas nos sacos de lixo. Que garota estranha, pensou a loira.

— Lily, posso perguntar sobre o que você e minha mãe conversaram?

— Você pode ficar tranquila. — Lily a encarou com um sorriso de canto de boca. — Eu não fiz nenhuma lavagem cerebral na sua mãe. Eu costumava ser estudante de psicologia até ter que trancar o meu curso há alguns meses. — Explicou a garota, recolhendo mais ratazanas pela cauda e as arremessando para dentro dos sacos de lixo. Por mais estranho que fosse, ela não parecia sentir nojo da tarefa. — Quando visitei a sua mãe, percebi que ela precisava conversar com alguém, então eu a escutei. Às vezes, as pessoas só precisam ser escutadas, não questionadas.

— Acho que tem razão. — Natalie piscou sem emoção. — Por que você desistiu da universidade?

— Eu perdi uma... amiga. — Lilian baixou o olhar ao ponto da sua face se tornar mais tensa. Natalie conhecia bem aquela expressão. Aquela era linguagem corporal de alguém que escondia muitos segredos. — Ela foi assassinada há dois meses em uma festa da universidade.

— Sinto muito. — Murmurou a loira. Lily deu de ombros.

— Não sinta, estou bem próxima de solucionar tudo.

— Solucionar exatamente o quê? — Perguntou Natalie ao amarrar a boca do saco de lixo. — Cogita pegar o assassino da sua amiga?

— Quase isso... você já terminou de pegar os seus ratos do lado daí? — Perguntou a morena. Natalie acenou, confusa. Juntas, desceram as escadas até a porta da frente e arremessaram os sacos com ratazanas para dentro do lixo.

— Você parece ser uma garota bem esperta, Natalie, então sugiro que tome cuidado com quem você convida para entrar na sua casa. — Lily alertou ao se virar para ela com semblante mais fechado. — O que matou o meu pai e minha amiga, ainda tá por aí fazendo vítimas. Pode parecer loucura, mas sei que não é um animal...

— Então o que você acha que é? — Natalie a encarou. Então ousou sugerir algo. — Acredita que foi alguma coisa sobrenatural, como um vampiro? — Sorriu para aliviar a tensão e demonstrar que não acreditava totalmente no que dizia. No entanto, a garota a sua frente paralisou por alguns instantes. Natalie percebeu, se aproximando dela ainda mais. — É por isso que está na cidade? — Questionou. — Não acredita mesmo que seu pai foi atacado por um lobo, não é?

— De onde venho, as coisas também saíram muito do controle, tanto que as autoridades não souberam responder às perguntas a respeito do massacre.

— Massacre? De onde você veio?

— Pensilvânia. — Revelou ela. — E o que presenciei lá é o mesmo que está acontecendo nessa cidade. Então peço que quando você for deitar na sua cama, fique com os olhos bem abertos. Porque o que matou meu pai voltará, e é melhor estar preparada para isso.

Esse foi só um gostinho do que ainda vem por ai...

CAPITULO ATUALIZADO: 21/06/2024 - NÃO REVISADO

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