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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟏𝟎)

UM ANO ANTES DO DESAPARECIMENTO DE CHARLOTTE MATTHEWS

Uma velha caixa de sapato foi ao chão no momento em que Natalie puxou uma peça de roupa dos cabides. Franzindo o cenho, teve certeza de que há muito tempo escondeu aquilo no porão de casa, entre outros objetos que não queria mais ter contato. Ao que parecia, a caixa estava de volta ao seu devido lugar, provavelmente colocado ali por Vera em algum momento que ela se encontrava fora de casa. Respirando lentamente, caminhou até a cadeira mais próxima. Não iria lhe fazer mal algum ver o que estava ali dentro, por isso, ao sentar-se, tomou coragem e abriu a tampa. Deparou-se primeiro com uma antiga câmera polaroid que já não funcionava, assim como algumas fotos envelhecidas. Aquilo trouxe lembranças alegres da infância, fazendo-a sorrir com um nó preso na garganta. Revirou a caixa outra vez, encontrando algumas bonecas pequenas, cartinhas, adesivos, recortes de revistas e um velho e pequeno diário surrado. E foi o último objeto que fez seu coração acelerar ao ponto dos dedos ficarem dormentes e gelados. Estava errada em revirar as lembranças do passado, mas a coragem foi maior para abrir o caderno e ler o que estava ali. Seus olhos queimaram ao ler as primeiras páginas amareladas, onde letras distintas preenchiam os papéis com desejos e metas para o futuro. Lembrou-se então do motivo de não ter se livrado completamente das coisas, ela jamais teria coragem de enterrar a sua outra metade, embora ainda fosse doloroso lembrar-se das coisas vividas anos atrás. Foi por isso que quando tudo começou a desandar na sua vida, pôs as coisas boas em uma caixa e escondeu, decidindo que dali em diante, viveria as emoções na intenção delas partirem o mais rápido possível.

Folheou as páginas, ignorando algumas outras coisas escritas, assim como sentia uma pequena dor de algumas bobagens declaradas ali. Há muito tempo ela não escrevia, mas naquele instante, sentiu a necessidade de falar sobre seu dia como sempre fazia ao escrever naquele diário. Natalie pegou uma caneta e achou uma página em branco — ou quase branca. Seu dia foi péssimo, principalmente por ser arrastada mais cedo para um comício de Malcolm Matthews pelas The Storm. Tamborilando os dedos na mesa, pensou no que escreveria exatamente, já que fazia anos que não expressava seus sentimentos de outra forma senão mediante atitudes idiotas. Agora, escrever parecia algo complicado, mas precisava começar de alguma forma. Colocou a ponta da caneta preta na posição certa e traçou a primeira palavra.

Querido diário...

Merda, isso começou bem estupido, mas vamos lá!

Para início de conversa, já faz anos que passei achar uma idiotice escrever em um pedaço de papel o que sinto e o que vivo, então, essa será a última vez que aparecerei aqui. Dessa vez de verdade. Hoje, somente hoje, preciso desabafar com alguém ou algo sobre o meu dia, que para variar, foi uma merda. Ainda cedo, fui arrastada para um comício de Malcolm Matthews, o atual prefeito da cidade, que está se candidatando novamente. Até aqui, nenhuma novidade, já que o senhor Matthews também é o pai de uma das integrantes do time e um dos nossos financiadores (senão o principal).

Devo dizer que tenho teorias que todo o dinheiro que ele gasta com nossa equipagem, treinos e outras coisas, é, na verdade, uma grande lavagem de dinheiro, mas enquanto ele estiver nos bancando, não tenho o que reclamar. O time que participo é querido não só na escola, mas como em toda cidade, por isso, mostrar que damos apoio ao prefeito, gerará alguns pontos a mais a ele nessa nova reeleição. Charlotte Matthews, sua filha — e minha sutil inimiga — também cumpri sua parte, mesmo que ela não seja capitã do time, sua palavra ainda é ordem, e Olivia Jones — a capitã — a obedece sem contestar, sabendo que se um dia se opuser a qualquer ideia da amiga, será eliminada em dois tempos. Por isso, Lottie nos colocou em plena oito da manhã de um sábado para estar ao lado da sua família, dando o melhor sorriso e dizendo o quanto somos gratas pela chance de fazer parte dessa equipe. Bem, as outras garotas fizeram isso, pois para mim, restou ser grata por outro motivo. Após o longo discurso de Olivia Jones, fui chamada para frente, e devo confessar, torci muito para aquele palanque no meio da praça desabar e tudo acabar mais rápido. No entanto, nada sai como quero. O excelentíssimo prefeito assumiu o lugar bem ao meu lado, reparei como ele parecia se preparar para algo, apertando os olhos para que lágrimas derramasse com sua falsa emoção. Agora sei de onde Charlotte herdou todo seu talento para o drama. A mão do prefeito pesou em meu ombro, e quando ele começou a falar, eu quis me atirar dali mesmo.

"Eu fico emocionado com tudo isso, de verdade. Estamos aqui não só para lembrar que graças a essas meninas, estamos levando o esporte, antes dominado pelos homens, para outras garotas e mulheres. Eu já as vejo em grandes campeonatos e fico orgulhoso por fazer parte disso." Malcolm falou. Mordi o canto da boca, sentindo dores nas pernas por ficar tanto tempo em pé. "Mas estou aqui para falar também de outra coisa. Há alguns anos, criei o projeto de inclusão de jovens da periferia na escola mais tradicional e requintada de Toms River; East Zigma School. Foram ofertadas bolsas de estudos para aqueles jovens que residem nas áreas mais remotas do lado sul, assim tendo a chance de terem a oportunidade de um futuro melhor. E aqui estou ao lado de uma jovem que teve a chance de mudar de vida. Ela faz parte do que acreditamos serem aqueles que levarão o nome da cidade para o mundo." E ao dizer isso, eu engasguei com um sorriso, porque nem ele, eu ou aquelas pessoas acreditavam nisso. Malcolm só me ignorou e prosseguiu. "Natalie Scatorccio tem seus estudos custeados pela fundação Matthews, onde não terá que se preocupar com as taxas da escola até a faculdade."

A cada palavra dele, eu sentia meu corpo tremer ainda mais. Odeio falar em público. Odeio ser o centro das atenções. Meu coração estava disparado a cada segundo que passava. Eu estava puta por tantos motivos, que decidi que ali seria um lugar perfeito para arma uma bela vigarice. E isso me parecia ser bem justo só por está sendo usada como exemplo e ser lembrada de onde vim e quem sou. Olhei por cima do ombro, Charlotte estava saindo do palco ao lado da mãe, e as outras garotas soltaram sorrisinhos debochados pelo que eu estava passando. Christine cruzou os braços e balançou a cabeça para mim quando lancei um sorriso diabólico para ela.

"Senhorita Scatorccio, não quer falar um pouco de como se sente ao ter essa oportunidade única?" O prefeito colocou o microfone na minha frente, então tomei dele dando um passo adiante.

"Sou grata pela oportunidade de estudar em uma escola como a East Zigma School e com direito a uma bolsa integral. Sou uma das felizardas a sair direito da zona mais pobre e esquecida da cidade e por todos, para um lugar cheio de privilégios e riquezas. Quer dizer, se o prefeito não tivesse feito algo por nós, jovens sem perspectiva de vida, sabe-se lá o que eu estaria fazendo agora, né?" Olhei rapidamente para o prefeito, que gesticulou para eu falar mais. "Quando cheguei na escola que formou grandes nomes, eu recebi um soco no estômago com uma realidade diferente da minha, mas após um período de adaptação, percebi que não muda nada." Sorrir. "É tudo bem igual ao lugar que eu já estudava, o consumo de drogas, principalmente. Quer dizer, eu ainda posso ter uma overdose estudando em uma das escolas mais caras dos Estados Unidos, e a melhor parte é que isso não manchará meu currículo escolar, porque eles não querem que o mundo saiba que os ricos são tão podres quanto os pobres..."

"Me dê isso aqui, garota!" O senhor Matthews arrancou o microfone das minhas mãos, enquanto eu era puxada para fora do palco pelos seguranças. As pessoas estavam em choque e murmurando algo umas para as outras. "Bem, as drogas ainda são um problema muito grande entre os jovens..."

Não ouvi mais o que o prefeito dizia, já que fui expulsa completamente do palco. Então decidi ir embora, e tirar aquele uniforme azul que usava para jogar. Desci os degraus solicitando um carro de aplicativo para chegar em casa, mas nesse mesmo momento flagrei o que não pretendia nos bastidores. Emilia Matthews estava ao lado da filha, e pareciam estar discutindo por algo. Não consegui ouvir o que diziam, mas era sério. Ousei deduzir que se tratava sobre mim, mas duvido muito que tivessem ouvido alguma palavra minha. Parei completamente, vendo a forma que Charlotte estava sendo tratada por sua, até então, amorosa mãe. Ela era rígida, grosseira e me deu medo. A senhora Matthews segurou o pulso da filha e apontou um dedo em seu rosto, então em seguida marchou novamente para o andar de cima ignorando minha presença naquela escada estreita. Charlotte virou-se em minha direção, e nossos olhos pareceram se colidir. Notei que ela chorava, o que era estranho. Eu nunca a vi chorar, porque ninguém fazia Charlotte Matthews chorar — talvez nem mesmo de emoção — era ela fazia as pessoas chorarem, essa era a ordem certa dos fatores. Esse vislumbre durou poucos segundos, pois quando a filha do prefeito percebeu que se tratava de mim ali, endureceu o semblante e as lágrimas em seus olhos secaram rapidamente. Ela me deu as costas e saiu do alcance de todos o mais rápido possível.

Charlotte com certeza odiou ser flagrada por mim em algo pessoal, e eu me sentir invadindo uma situação que nem sequer deveria ter visto. Obviamente lutei muito contra a vontade de correr atrás dela e perguntar se estava tudo bem. Sabia que eu fosse tentar entender o motivo da briga e ajudá-la de alguma forma, seria tratada como lixo e, como não sou muito tolerante as suas palavras, a mandaria ir tomar um lugar desconfortável. Por isso, segui meu rumo para casa quando o carro chegou. Durante o caminho, pensei sobre nós duas e me perguntei o motivo de agimos assim uma com a outra. Charlotte não era legal comigo, não perto das amigas, onde ela fazia questão de se mostrar venenosa até a alma. Então, seguindo a linha de raciocínio, eu não tinha motivos para tratá-la bem e nem me importar com seus problemas. Olhei para fora da janela, me questionando se a Charlotte realmente tinha uma vida de comercial de margarina conforme pintava por aí.

Concluir que não. Então, mesmo que ela não tenha uma vida perfeita, duvido muito que um dia possa pedi alguma ajuda, porque seu orgulho jamais deixaria. E nisso eu a entendo, porque eu nunca pedi ajuda a ninguém para me resgatar do meu inferno e nunca pedirei.

Natalie largou a caneta sobre a mesa, sentindo a ponta dos dedos doerem devido à força feita ao escrever. Leu novamente tudo que pôs para fora, sentindo-se um pouco aliviada, mas só o suficiente para tirar a filha do prefeito da cabeça. Talvez voltar a escrever no pequeno diário, não fosse uma má ideia. O que ela não sabia dizer no momento, era quando faria isso outra vez.

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MANSÃO MATTHEWS

A mansão Matthews se encontrava quase em silêncio se não fosse os pesados passos de Malcolm caminhando de um lado para o outro na sala de estar. Sua respiração estava desregulada e a raiva de ter um comício fracassado por uma garotinha tola era intragável. Aliás, quem ela era? Uma fedelha vinda do lado sul da cidade e que teve muita chance de passar em um seletivo tão minucioso. Nunca foi do agrado do senhor Matthews dar qualquer tipo de chance às minorias da cidade, e a ideia de ceder bolsas de estudos partiu da própria filha, alegando que isso faria bem à imagem da família. Charlotte era a culpada por isso, e agora ela se encontrava calada e sentada na poltrona do outro lado da sala, enquanto deveria estar pedindo desculpas pela colega de time.

— Não dirá nada? — Encarou a filha. Charlotte ergueu o olhar, friamente. — Aquela garota é sua amiga, não é?

— Isso faz alguma diferença? — Perguntou a jovem. Emilia separou os lábios, pronta para impedir a filha de dizer algo ruim ao pai. — E eu não estava lá quando ela disse aquilo, e se quer saber, ela não mentiu em nada.

— Ela não teve a intenção de arruinar sua campanha, amor. — Emilia levantou-se de onde estava. Malcolm despachou seu comentário com um aceno desaforado. — Ela é só uma garotinha estúpida, em alguns dias ninguém mais se lembrará dela.

— Espero que tenha razão. Quem aquela garota pensa que é? — Malcolm caminhou de um lado para o outro da sala novamente. — Uma coisa é querer falar das dificuldades do lado sul da cidade, outra é querer arruinar a minha campanha com aquelas insinuações. E depois, o que você tinha na cabeça em sair do evento daquela maneira? — Malcolm encarou a adolescente novamente.

Charlotte engoliu o nó formado na garganta. Malcolm referia-se à pequena fuga da filha após uma discussão com a mãe. Emilia cometeu o deslize ao contar a ela sobre os planos do pai para seu futuro, causando assim um alvoroço ainda maior ao término do evento. Charlotte sumiu por três horas, sendo encontrada pelos seguranças caminhando sem destino por uma avenida. Sua tentativa de fugir foi tão falha, quanto Emilia deixar escapar a forma que a jovem Matthews iria garantir uma vida melhor para a família.

— Às vezes penso que o seu propósito é acabar com meus dias de vida, Charlotte. — Malcolm passou a mão pelo rosto, estarrecido.

— Eu não teria tanta sorte. — Charlotte falou, não se importando com as consequências.

— Charlotte! — A mãe a repreendeu.

— Não, eu tenho que falar! — Ergueu a voz na direção do pai. Emilia puxou o ar para os pulmões, prendendo-o ali. — Eu já sei o que planeja fazer comigo quando eu completar dezoito anos.

— Ah, meu Deus, eu não estou com tempo para lidar com esse drama agora, Charlotte. — Malcolm trocou o peso da perna, irritadiço. — Só se acostume com a ideia, será mais fácil assim.

— Drama? Você chama o que fará comigo de drama? — A garota levantou-se, dando um passo para frente. Os olhos queimaram, mas ela não choraria, não daria esse gosto ao pai. — Me vender é algum drama? — Gritou. Malcolm não se importou. — Eu não sou uma mercadoria, e eu posso arruinar você da mesma forma que pretende me arruinar! — Ela deu um passo ameaçador até ele. — Então, se ousar me força a casar com alguém por conta da sua ambição, vou abrir a boca e dizer ao mundo como os Matthews são imundos.

— Não esqueça que fazendo isso, você também será arruinada, Charlotte! — Malcolm se aproximou da filha, enfrentando o olhar afiado. — Agora, eu estou cansado de ouvir sua voz ou de ver você na minha frente. Você está de castigo, suba para seu quarto, agora!

— Quem não aguenta mais ouvir sua voz ou encarar alguém aqui, sou eu. — Charlotte deu as costas, batendo os pés até o segundo andar.

Trancou a porta do quarto e arremessou as chuteiras que calçava para longe. Seu coração bateu mais forte, enquanto seus pulmões pareciam comprimidos no peito. Charlotte respirou com dificuldade, andando para um lado e outro sem saber o que fazer. Quando o calor da raiva se tornou insuportável, arrancou a roupa e correu para o banheiro. Sem suportar toda a pressão, ela gritou. A princípio, sentiu que era por necessidade de soltar a raiva que sentia, mas depois percebeu que seus gritos não passavam de um puro pedido de socorro. Entretanto, ninguém veio, e nem viria. Ela gritou outra vez, mais forte, alto e doloroso, tanto, que dobrou o corpo para frente até o grito se transformar em choro e as lágrimas molharem seu rosto. A garota arfou, dessa vez, sentindo a necessidade de quebrar algo. Reparou no reflexo e rangeu os dentes. Os produtos importados de beleza que se encontravam sobre a pia foram atirados contra o espelho, quebrando a visão que tinha em milhões de pedacinhos. Sentiu nojo de onde estava, do que tinha e de quem era.

Puxou alguns tufos de cabelo, na intenção daquela dor acabar com a que sentia corroer por dentro, mas não fez efeito e a dor foi só momentânea. Cacos de vidros estavam espalhados pela pia, chão e, próximo aos seus pés, um pedaço grande e afiado parecia tentador. Ela precisava acabar com a dor. Acabar com tudo. Charlotte se ajoelhou e pegou o pedaço pontiagudo, sentando-se em um canto do banheiro bagunçado. Bastava um corte, só isso, aquela dor também seria por pouco tempo, e depois nunca mais ela sentiria nada. Nunca mais — frisou novamente. Só que para isso, precisava de coragem para ir até o fim, e ela era uma covarde. Era covarde também para enfrentar os pais como deveria. Charlotte se sentiu uma grande mentira — a maior mentirosa de Toms River. Lembranças vividas mais cedo a acertaram dolorosamente. A voz de Emilia ainda parecia soar em seu ouvido, mesmo estando sozinha naquele banheiro agora destruído.

"Você sente esse cheiro?" Ouviu a mãe perguntar ao lado. "Essas pessoas têm um cheiro horrível."

"Que cheiro?" Perguntou a jovem, confusa. Emilia dispensou a pergunta idiota.

"Queria, precisar retocar a maquiagem, estou começando a ver suas olheiras, venha." Puxou a filha para fora do palco. Charlotte espiou rapidamente, vendo que sairia justo no momento que Natalie foi chamada para falar.

Nos bastidores, deixou que sua maquiagem fosse retocada. Charlotte não havia tido uma noite bem dormida, principalmente quando foi forçada pelos pais a obrigar as integrantes do próprio time de futebol a participar de um comício. Ela odiava aqueles eventos, principalmente quando precisava força as colegas a participar também. Era comum não pregar os olhos devido à ansiedade que sentia só de se imaginar fingindo ser alguém que não era ao lado dos pais. E agora que as eleições estavam de volta, já se imaginava tendo crises atrás de crises até que tudo terminasse e Malcolm Matthews fosse reeleito. A garota abaixou o olhar e machucou a cutícula quando Emilia usou a ponta dos dedos para distribuir uma sutil camada de corretivo abaixo dos olhos.

"Muito em breve estaremos longe dessa cidade e dessas pessoas." Pareceu murmurar para si, mas ela estava falando com a filha, em um tom baixo para que só as duas pudessem ouvir. Charlotte encarou mãe

"Iremos embora?" A tristeza despontou em seu peito. Charlotte havia crescido em Toms River, e mesmo que conhecesse boa parte do mundo por conta das suas viagens de férias, ela ainda gostava de viver naquela cidade.

"Querida, seu pai está se elegendo a prefeito pela quarta vez." Emilia encarou a filha. "Mas precisamos de mais. Estamos em um processo de negociação para selar um acordo com a família Dalton. Se seu pai e o primeiro-ministro entrarem em consenso, nossa família irá alavancar dessa cidade para o governo do país todo."

"Que tipo de acordo?"

"Casamento." A palavra saiu fria dos lábios vermelhos de Emilia. Charlotte arregalou os olhos, com a nítida expressão de choque estampada na face.

"Você e o papai estão... me vendendo" A garota piscou atordoada, afastando-se das mãos da mãe.

"É um casamento com vantagens, amor, não pense que seu pai e eu não pensamos em seu futuro, não encare as coisas de outra maneira." Emilia gesticulou, achando bobagem a reação da filha. "Meu casamento com o seu pai aconteceu da mesma forma, e hoje nos amamos."

"Futuro, mãe, o meu futuro!" Charlotte disse, exasperada. Emilia encarou os lados, agradecendo por não ter ninguém ali além delas duas ali. "Eu decido o que é melhor para mim, não vocês. Eu não sou um objeto para ser vendido ou trocado e não me importo se seu casamento com o papai não passa de um acordo."

"Charlotte!" Emilia a repreendeu quando Charlotte alterou o tom da voz.

Em que século seus pais viviam? Eles por acaso achavam que ela era um prêmio a ser dado para alguém? Charlotte sentiu as lágrimas queimarem seu rosto quando sua mãe a segurou pelo braço e apontou um dedo para seu rosto, ameaçadora e hostil.

"Não faça uma cena no meio dessas pessoas." Ordenou a mais velha.

"Talvez eu devesse gritar para todas as pessoas saberem quem é Malcolm e Emilia Matthews de verdade e aí veremos se o papai realmente conseguirá levar a vitória dessa vez."

"Charlotte, juro que se fizer uma coisa dessas, eu a deixarei de castigo pelo resto da sua vida." Emilia aproximou-se da filha. "Agora chega com esse teatro, em casa conversamos."

Charlotte engoliu seco quando sua mãe a deixou. Ao virar-se para sair do lugar, deparou-se com Natalie, que a encarava com curiosidade. "Ótimo, era só o que faltava", pensou a jovem Matthews. Endurecendo a face o mais rígido que podia e afastando as lágrimas para longe, saiu do lugar. Tratou de caminhar o mais depressa possível, pois odiaria ter que lidar com alguma piadinha sem graça da Scatorccio a respeito do seu estado. Alcançou o outro lado da rua, e sentou-se na calçada com mil pensamentos correndo em sua cabeça. Ela queria fugir. Sumir da face da terra. Esconder-se em um lugar que nunca seus pais a encontraria. E fez isso, mesmo que fosse perigoso. Decidiu naquele momento que iria embora só com a roupa do corpo. Então caminhou depressa, se afastando cada vez mais do centro da cidade. No entanto, essa não era uma tarefa fácil, principalmente quando os seguranças a encontraram, e mesmo sob seus protestos, foi levada para casa.

O telefone tocou no quarto, fazendo-a voltar à realidade. Charlotte largou o pedaço de espelho do chão, repreendendo o pensamento de se matar. Caminhou até a cama vendo as mensagens que recebeu. Christine estava convidando-a para uma noite de meninas. Lottie entendeu que precisava disso, pois se ficasse em casa, certamente faria uma bobagem. Mandou uma mensagem aceitando o convite e marcando o ponto de encontro na boate preferida, onde tinha passagem vip mesmo ainda sendo menor de idade. Enxugou as lágrimas e após um banho quente fez uma nova maquiagem. Vestiu um conjunto rosa xadrez de três peças de uma coleção exclusiva. A minissaia não cobria completamente suas coxas, então aderiu colocar meia calça do mesmo tom da pele. Por cima da blusinha cropped rosa salmão, vestiu o casaco da mesma estampa da saia e completou o visual escovando os cabelos, para que pudesse colocar um pouco mais de movimento nos fios lisos escorridos.

Como estava de castigo, não poderia simplesmente sair no próprio carro, já que as chaves estavam em posse de Emilia. Então deu outro jeito. Mesmo de saltos altos, correu até as portas da varanda, avaliando a altura até o térreo. Por sorte, uma escada era fixada ao lado, por onde poderia descer sem muita dificuldade, só teria que tomar cuidado com os espinhos das roseiras que cresciam enroladas em torno da maneira. Charlotte respirou fundo, colocando a bolsinha com celular e seus cartões em volta do corpo. Desceu cada degrau com toda a agilidade que podia. Pegou o celular e chamou um carro de aplicativo. A última etapa para sair da mansão era passar pelos portões, mas ela não teria dificuldade, não se usasse sua lábia. Caminhou pelos paralelepípedos equilibrando-se nos saltos rosas choque. O carro do aplicativo chegou e ela ergueu a mão sinalizando para esperar. Se o motorista havia notado ou não, era problema dele. O segurança que cuidava da entrada surgiu em sua frente, balançando a cabeça em negação.

— Sinto muito, senhorita Matthews, mas seus pais deram ordens de não a deixar sair a menos que fosse acompanhada por eles. — Falou ele. Charlotte suspirou e bateu os cílios pesados devido à maquiagem. — Mencionaram que está de castigo.

— Entendo, mas você vai me deixar sair mesmo assim.

— A senhorita não ouviu, eu...

— Se você não me deixar sair, contarei aos meus pais que flagrei você transando com uma das domésticas na nossa piscina. — Ameaçou com um sorriso maligno no rosto.

— Eu não fiz isso, senhorita Matthews.

— Eu sei, mas em quem você acha que meus pais acreditariam? — Questionou com o semblante franzido. O segurança suspirou e encarou o outro lado do portão, onde um carro de aplicativo esperava. — Você tem menos de um minuto e eu vou odiar pagar uma taxa extra por fazer o motorista esperar tanto.

— A senhorita pode ir, mas por favor, não diga que eu a deixei sair.

— Jamais. E se facilitar minha entrada também, até ganhará uma promoção.

Os portões foram abertos, e Charlotte atravessou com uma conquista ganha. Cinco minutos depois, chegou onde precisava. Christine estava na porta, enquanto digitava algo no celular, nem um pouco satisfeita.

— Qual o problema? — Charlotte perguntou a ela quando se aproximou.

— Está muito cheio lá dentro, não estão permitindo que mais ninguém entre. — A amiga respondeu, revirando os olhos. — Vamos para outro lugar.

— Eu não vim até aqui para não entrar. — Jogou o cabelo por cima do ombro e caminhou até o segurança que protegia a entrada. — Oi, eu tenho entrada VIP, então tire essa cordinha e me deixe entrar com minha amiga.

— E você é quem mesmo? — O segurança, com o triplo do seu tamanho, perguntou.

— Chega, Lottie, vamos embora. — Christine puxou o braço da amiga, quando percebeu que ela estava ficando mais vermelha que um tomate. — Já consegui outro lugar.

— Onde? — Charlotte bufou se retirando ao lado de Christine. — Só aceito sair daqui se for um lugar com cadeiras macias, música legal e bebidas fortes.

— Você vai gostar desse. — Christine sorriu, confirmando a viagem para outro bairro.

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LADO SUL DA CIDADE

A decepção e o desgosto se fizeram presentes no rosto da filha do prefeito. Charlotte separou os lábios prontamente para soltar o primeiro comentário venenoso sobre o lugar escolhido por Christine. Estavam do outro lado da cidade, em um bar nitidamente duvidoso. No alto da fachada, um neon vermelho em forma de drinque iluminava a entrada, onde homens e mulheres conversavam unidos demais. A presença de motoqueiros e pessoas com estilos alternativos também chamou sua atenção. Aparentemente, Christine só escutou a parte de bebidas fortes, pois, obviamente, era a única coisa decente que encontraria ali. Um grupo de garotas mais velhas passou pelas duas outras jovens, comentaram algo e gargalharam. Charlotte cruzou os braços, enquanto Christine ainda mandava mensagens para alguém. Como se um letreiro estivesse escrito em suas testas, as pessoas as encaravam percebendo que elas não pertenciam aquele lado da cidade, principalmente a morena mais alta, cujo usava rosa de cima a baixo. Charlotte segurou a bolsinha da Chanel bem firme entre os dedos, pronta para se defender de qualquer pessoa ali se fosse preciso.

— Vamos, ela já chegou. — Christine finalmente falou, puxando a amiga para a porta.

— Ela quem? E por que viemos para cá? — Perguntou enquanto era arrastada para o lado de dentro do bar. E se a visão do lado de fora já era assustadora, a de dentro a aterrorizou.

Embora o ambiente fosse amplo, a quantidade de pessoas ali fazia tudo se tornar apertado. Charlotte prendeu a respiração quando uma orquestra de perfumes baratos e ruins invadiram suas narinas, a sufocando. Ao longe, um palco pequeno suportava o peso de uma banda de rock local, onde cantavam uma música antiga demais para ela reconhecer. A sua direita, encontrou um bar, com uma parede repleta de pôsteres e bebidas, das mais simples até as mais exóticas. Do outro lado, muitas mesas se encontravam cheias, assim como os sofás de couro. Andou mais um pouco, sentindo o calor humano aumentar à medida que se afastava da única rota de fuga acessível. Tudo ali era tão quente e vermelho, que a deixava com uma vaga sensação de claustrofobia.

— Uma amiga falou que aqui é legal. E eles não pedem identidade para saber se já é maior ou não. — Respondeu Christine depois de muito tempo. Charlotte uniu as sobrancelhas.

— Que amiga? — Perguntou logo atrás, sentindo um pequeno temor em receber aquela resposta.

— Natalie, oi! — Christine acenou para a presença feminina do outro lado. Charlotte parou onde estava no instante que seu olhar cruzou o de outra colega de time. Só podia ser brincadeira.

A Matthews fez uma careta, enquanto sua companhia corria animadamente até a outra garota sentada a uma das mesas, tendo que driblar alguns jovens bêbados. Charlotte se manteve onde estava, ponderando se deveria ou não seguir em frente. Como estava longe demais de casa e em um bairro desconhecido, optou por seguir Christine, mas sem ter a mesma sorte dela em desviar dos bêbados, e isso lhe custou algumas gotas de bebidas respingadas em sua roupa e algo molhado em seus pés. Ela ergueu as mãos em frente ao rosto e soltou um pequeno gritinho irritado.

— Caramba, eu não fazia ideia que aqui era tão cheio. — Christine teve que falar mais alto para ser ouvida.

— Por aqui é sempre assim. — Natalie respondeu, arrumando a franjinha recém-aparada que insistia cair na frente dos olhos. Havia chegado não fazia mais que dez minutos, e por sorte, conseguiu uma mesa de frente para a banda que se apresentava naquela noite. — Esse é o bar mais agitado desse lado da cidade. É assim que nos divertimos nos fim de semana.

— Agindo como selvagens? — Charlotte se aproximou da mesa onde as outras garotas estavam. Encarou os lados com um olhar desagradável. — Por que todos aqui parecem ter fugido da prisão recentemente? — Foi a vez de Natalie revirar os olhos.

— Cuidado! — Charlotte retraiu os ombros quando Natalie a encarou friamente. — Se encarar no fundo dos olhos de qualquer um aqui pode ser mordida. — Rebateu a implicância da filha do prefeito. Uma parte de Natalie ainda se lembrava do ocorrido de mais cedo, quando a flagrou em uma discussão com a primeira dama, mas claramente Lottie não era mais digna de pena, não quando julgava as pessoas do lado sul de se divertirem da única forma que poderia pagar.

— Dá um tempo, Lottie, vamos aproveitar uma diversão diferente só por uma noite. — Christine empurrou o ombro da amiga, para ela entrar no clima.

— E não precisa contar às meninas sobre isso. — Natalie cruzou as pernas sob a mesa, enquanto um sorrisinho diabólico deslizava pelos lábios. As outras duas garotas se acomodaram nas cadeiras de madeira, o qual os assentos estavam rabiscados por nomes aleatórios de quem antes havia sentado ali.

— Eu não contaria a ninguém que estive aqui, nem sob tortura. — Charlotte pegou alguns guardanapos para limpar a mesa e assim poder repousar as mãos. Natalie e Christine se entreolharam, confidentes.

— Eu achei esse lugar bem legal, se querem saber. — Christine comentou ao olhar em volta.

Com uma perspectiva diferente de Charlotte, Christine não achou o lugar ruim. Bem, algumas pessoas ali eram estranhas, mas o que podia se esperar de um bar que aceitava pessoas de todos os tipos? A diferença daquele lugar para a boate que sempre frequentavam era somente a posição social. Charlotte estava obviamente acostumada a frequentar os melhores ambientes, e por isso, se deparar com uma nova realidade tão escancarada assim, a pegou desprevenida. Aquele era o mundo de Natalie, onde a música era boa e o cheiro de álcool, cigarro e outras coisas não passavam de um detalhe.

— Na boa, Charlotte, você está com medo dessas pessoas? — Natalie se debruçou na mesa. O ponto rosa deslocado, encontrou o ponto preto do outro lado. Charlotte observou Natalie, que até se encontrava arrumada para aquela ocasião, ou que parecia ter feito o melhor para aquela noite. Os cabelos longos e escuros estavam penteados, e sua franja repicada contrastando com os olhos verdes. Ela vestia uma jaqueta de couro, antiga pelo visto, e usava um jeans escuro com rasgos enormes nas pernas que deixavam visíveis sua meia calça arrastão.

— Medo dessas pessoas? — A morena mais alta sorriu sem graça. — Tenho medo de ser esfaqueada por engano a qualquer momento.

— E considerando de quem é filha, realmente deveria ter medo. — Natalie deu de ombros.

— O que está dizendo? — Charlotte questionou. Natalie apoiou o rosto em uma das mãos, dando um sorriso amargo à patricinha.

— Ninguém aqui gosta do seu pai, nem da sua família, logo, também não gostam de você. — Revelou. Charlotte pigarreou, bem, nesse caso, não tinha o porquê julgar tanto essas pessoas. Ela também odiava o pai e a própria família. E talvez, se odiasse um pouquinho também.

— Ótimo, mas não estamos aqui para falar de família. — Christine declarou mais alto para mudar de assunto. — Agora podemos só pedir algo para beber, enquanto vocês duas fingem ser amigas pelo resto da noite?

— Por mim tudo bem, mas dependerá da Natalie. — Charlotte brincou com a ponta do cabelo. — Será que ela é capaz de não entregar minha identidade nesse lugar a qualquer momento?

— Eu só farei isso se você não parar de agir como uma garotinha fútil e mimada. — Natalie rebateu. — Mas pensando bem, acho que seria engraçado te ver correndo por algumas quadras desse bairro igual você correu na festa do pijama. Só seria uma pena saber que você perdeu mais um salto caro.

— Ok, entendi. — Christine falou mais alto, antes que Charlotte respondesse algo. — A Charlotte vai agir como um ser humano comum, e você não vai nos colocar em perigo, combinadas? — Chris encarou uma menina de cada vez. Natalie deu de ombros e Charlotte fez o mesmo. — Paz, por algumas horas, não é pedido, é uma ordem! — Apontou o dedo para elas.

Abaixar a trégua das implicâncias por algumas horas era fácil para Natalie desde que Charlotte colaborasse, e para isso, ambas precisavam beber muito. E foi o que fizeram. Três doses de tequila iniciou uma conversa animada sobre as próximas competições das The Storm, e as últimas coisas que fariam no ano seguinte, quando seria o último antes de cada uma partir para uma nova jornada na fase adulta. Natalie ouviu o que Charlotte tinha a declarar, aparentemente a filha do prefeito já possuía o futuro garantido ao embarcar na faculdade de moda em Londres, fugindo completamente do ramo da família na política. Charlotte, por outro lado, preocupou-se um pouco com o estado de Natalie, principalmente quando ela revelou que não sabia o que faria exatamente ao término do ensino médio, mas que provavelmente não ficaria na cidade. Christine contou seu sonho em seguir na carreira veterinária, mas que ainda seria muito ligada ao esporte favorito, o futebol. Depois de mais algumas bebidas, Charlotte e Natalie descobriram o gosto compatível para livros, e que para surpresa da filha do prefeito, a garota rebelde da escola adorava drama da mesma forma que ela.

O clima pesado entre a Scatorccio e a Matthews se dissolveu, e as implicâncias pararam, mas não algumas piadinhas. O efeito do álcool começou a pesar nelas, fazendo que Natalie se tornasse mais falante, dando sorrisos abertos de dentes brancos recém-livres de aparelhos dentários e fazendo com que Charlotte não escondesse seu olhar malicioso carregado de segundas intenções. E foi isso que fez Natalie piscar atordoada algumas vezes, e achou uma grande loucura deduzir que a garota mais rica da escola a estava cobiçando com o olhar. Bem, era o álcool, com certeza aquilo não passava das doses de bebidas coloridas que vinham até sua mesa, pensou ela. Charlotte inclinou o rosto, reparando bem nas feições que a rebelde da sua turma possuía. Sempre que a Nat sorria, ela fechava levemente os olhos e uma covinha surgia no em sua bochecha. Natalie Scatorccio era linda, mas será que ela se dava conta disso? Bem, provavelmente ela deveria se achar uma garota de aparência mediana, mas Charlotte sempre a acharia mais que isso.

— Nat, ei, que coincidência te encontrar aqui. — O olhar de Charlotte foi ao encontro do garoto mais velho parado ao lado da mesa. O fitou dos pés à cabeça. Não tinha muito de interessante em sua aparência, mas seus braços eram repletos de tatuagem aleatórias. Provavelmente, aquele era o tipo de garoto que Natalie deveria atrair.

— Não é coincidência, você sabia que iria me encontrar aqui hoje. — Natalie virou uma dose de bebida. O sorriso presente nos lábios de Charlotte desmanchou.

— Não vai apresentar seu amigo? — Chris mostrou interesse, recebendo um olhar feio das outras duas garotas.

— Spencer Monroe, ao seu dispor. — Respondeu ele sem perder tempo. — Eu tenho umas coisas bem legais para vocês aqui.

— Não estamos interessadas nos seus lixos, então vaza. — Charlotte respondeu, entendendo bem que tipo de coisas legais ele tinha a oferecer.

— Tudo bem, eu entendi, e vocês também são novas por aqui, né? — Respondeu encarando as duas garotas que nitidamente não pertenciam àquele bairro. — E como são amigas da Natalie, vou deixar uma diversãozinha...

— Tô sem dinheiro pra isso, Spencer, cai fora! — Natalie o enxotou sem mais nem menos. Charlotte revelou um sorriso maligno, enquanto via a expressão do rapaz fechar-se rapidamente.

— É por conta da casa, pode dividir com suas amigas. — Spencer realmente não desistia. Natalie o encarou de volta. Ele deixou um pino sobre a mesa, com algo branco dentro. — Bem, se quiser mais o que tenho, sabe onde me encontrar.

— Eu sei onde te encontrar, só não tenho interesse. — Respondeu Natalie, suavemente.

— Você que sabe. — Spencer deu de ombros, saindo da visão das garotas e sumindo entre a multidão.

— Ele até que é um gatinho, Nat. — Christine assoviou. Charlotte revirou os olhos.

— Eu realmente não entendo a tara de vocês com os garotos dessa cidade. — Charlotte balançou a perna sob a mesa, incomodada. — Todos são tão ignorantes e... espera aí! Isso é cocaína? — Observou com atenção o objeto deixado sobre a mesa.

Estava horrorizada com os níveis de amizade da Scatorccio, mas não chocada. Percebeu que Natalie não respondeu, pois seus dedos pálidos e finos estavam em volta do pequeno pino em questão de segundos. Charlotte encarou os lados, questionando-se se aquela garota pretendia usar aquilo em público, tão abertamente assim.

— Me dê isso... — Avançou contra Natalie, pegando o pino. — Não vou deixar colocar essa mistura de soda cáustica no seu corpo.

— Qual o seu problema, Charlotte? — Natalie rugiu, pegando o pino de volta. — Se não quiser usar, então não corta meu barato.

— Ah, pode deixar que eu não vou me importar quando você estiver tendo uma overdose no banheiro sujo desse lugar. — Charlotte pegou o pino novamente, arrancando um barulho irritado de Natalie. Christine observou a disputa com uma careta no rosto. — Você é uma atleta, não pode encher seu corpo com essas merdas.

— Como se você não usasse essas merdas também, Charlotte.

— Uma vez ou outra não faz mal, mas todos os dias é prejudicial! Você dorme nas palestras de conscientização, por acaso? Que merda!

— Chega, vocês duas! — Christine bateu com uma mão na mesa. Pegou o pino das mãos de Charlotte e derramou no chão, espalhando o pó branco com a ponta do sapato. — Pronto!

Natalie bateu com o punho na mesa e levantou-se furiosa. Charlotte a seguiu com olhar, com medo dela procurar por Spencer novamente. No entanto, a Scatorccio só caminhou até o banheiro e sumiu após passar pela porta. Charlotte fechou os olhos e respirou fundo, ela só estava tentando ajudar, será que era tão difícil assim aquela garota teimosa entender?

— O quê? — Charlotte perguntou, brava, ao reparar que Christine negava a cabeça em sua direção. — Fiz alguma coisa errada? Ela ia usar essa coisa, e sabe-se lá o que aquele cara colocou na mistura. E se fosse algo para dopar ela e depois...

— Não tem como impedir a Natalie de fazer essas merdas, Lottie. — Christine fechou brevemente os olhos. — Infelizmente isso faz parte de quem ela é.

— É claro que tem! — Charlotte se mostrou ainda mais irritada, inclinando o corpo para frente. — Quando ela vai perceber que essa vida pode matar ela? E que aquele cara pode fazer algo pior quando ela estiver fora de si?

Foi então que Christine sorriu, entendendo de vez tudo que estava acontecendo. O show de implicâncias seguidas de uma imensa preocupação eram sinais que ela nunca havia se dado conta. Talvez nem Natalie.

— Quando dirá a ela? — Christine pegou alguns amendoins e mastigou. Charlotte franziu o cenho. — Não se faz de boba, isso não combina com você, Lott.

— Dizer o que a quem?

— Dizer a Natalie que você é a fim dela.

Embora as palavras tivessem saído sutis da boca da amiga, Charlotte recebeu como um verdadeiro tapa de luvas. Piscou algumas vezes, sentindo o coração disparar rapidamente. Não soube como disfarçar, e as bochechas queimaram quando Christine alargou ainda mais o sorriso.

— É sério, Lottie, sou a sua amiga mais antiga, e já reparei que você não curte garotos, o que não é nenhum problema. — Inclinou o rosto. Charlotte bebeu um gole da tequila em seu copo. — Você gosta da Natalie, mesmo sendo uma megera com ela na maior parte do tempo. Meio que já saquei que isso é um jeito de mantê-la afastada, só não entendo o motivo, se fosse mais gentil, talvez você tivesse chance maiores de conquistá-la.

— Você não sabe o que diz. — Charlotte pegou a bolsinha sobre a mesa. No entanto, não sabia mais como disfarçar algo que provavelmente já estava escancarado. Será que a Natalie já havia deduzido algo semelhante?

Só de imaginar que seus segredos mais secretos estavam se tornando mais explícitos com o passar do tempo, já sentia a tenebrosa sensação de vertigem. Era óbvio que tinha sentimento pela garota rebelde da escola, e isso era algo completamente irracional da sua parte. Nunca soube exatamente quando começou a reparar em Natalie de outra forma, mas algo nela a atraia, e muito. No começo, pensou ser só curiosidade, Charlotte Matthews nunca se imaginou tendo sentimentos por outra garota, principalmente por uma que sempre escolhia as coisas erradas como certas. No entanto, Natalie tinha uma energia que a deixava hipnotizada. Ela era tão livre para ser quem era, isso a deixava mil vezes mais atraente do que Charlotte realmente queria admitir. Parte das implicâncias eram para afastar esses sentimentos — ou só porque não conseguia manter suas opiniões em pensamento e por Natalie ser uma pessoa difícil de lidar — mas ela obviamente estava falhando nisso.

Mesmo que se de alguma forma chegasse até Natalie para confessar os seus sentimentos, não saberia como a garota reagiria. Natalie sempre se envolvia com garotos, tanto amorosamente, quanto perigosamente. Charlotte também tentou fazer o mesmo, até perdeu a virgindade com um rapaz para ter certeza de que sua atração por uma garota era só curiosidade. Contudo, nada mudou, ela continuava não tendo atração por nenhum garoto. Se um dia ela tivesse coragem de falar o que sentia, será que seria correspondida? Charlotte preferiu manter os sentimentos escondidos, isso a evitaria ter um coração partido, principalmente agora que muita coisa em seu interior se encontrava dessa forma. Mesmo sabendo que não era o certo, e que o mundo já havia mudado, ainda preferia manter escondida sua sexualidade. Se ela não tinha coragem de confessar algo mais simples, jamais conseguiria admitir em público o que realmente era, principalmente por ter medo da reação dos pais que sempre controlaram tudo em sua vida.

— Lottie, desculpa se falei algo que a ofendeu...— Christine falou ao notar os pensamentos distantes da amiga. Charlotte ergueu o olhar para ela, estavam brilhantes e escuros. — Você está bem?

— Sabia que antes de vim para cá cogitei... me matar. — Revelou. — Mas não tive coragem.

— O quê? — Chris ergueu as sobrancelhas, horrorizada. — Por que você faria isso?

— Meus pais... Eles... Eles estão me vendendo. — Fungou. — Eu não tenho um futuro.

— E Londres? E sua carreira como estilista de moda? — Cristine deslizou a mão até a amiga. Charlotte balançou a cabeça.

— Eu só estava tentando impressionar a Natalie e você. Não tem Londres, não tem universidade de moda. Só um casamento forçado com alguém que nunca vi.

— Desculpa, Lottie, mas isso é bizarro demais de digerir.

— Imagina para mim, que viverei isso. Minha mãe deixou escapar mais cedo, por isso sumir. Aparentemente, devo me casar com o filho do primeiro-ministro dos Estados Unidos, só para que meu pai tenha um poder maior na política.

— Isso é um absurdo, que tipo de pais envolve os próprios filhos em um acordo que só favorece eles próprios?

— Bem, os meus pais fazem isso.

— Olha, Lottie, se quiser passar uns dias lá em casa, eu posso pedir para minha mãe falar com a sua, assim posso te ajudar a fugir.

— Como se o meu pai não fosse colocar os melhores investigadores atrás de mim. — Charlotte secou a lágrima de um dos olhos sutilmente para não borrar o delineador. — Preciso desaparecer, Chris, e talvez isso ainda não seja o suficiente.

— Ou você pode ficar e finalmente enfrentar seus pais. — Charlotte acenou, mesmo sabendo que nenhuma das duas coisas eram o suficiente para dar fim aos seus problemas. — Você pode contar comigo.

— Obrigado. — Charlotte sorriu levemente. — Você pode manter isso em segredo? Não quero que ninguém saiba, e...

— Não se preocupe, não vou contar a ninguém seu segredo.

— Sabe, Chris, acredito que você é a única amiga que realmente tenho dentro daquele time. — Falou. — Vou ao banheiro, já volto. — Avisou ela, ao levantar-se com a bolsa em mãos. Christine acenou.

Charlotte conseguiu cruzar a multidão com a respiração presa para não sentir nenhum odor. Ao chegar no banheiro, encontrou Natalie tragando um cigarro de maconha. Naquele momento, tudo que a rainha da escola queria era desferir alguns tapas na cara da outra garota, mas faria isso em vão, já que Natalie parecia estar em outra dimensão. Então, fez a única coisa que podia: deu seu olhar mais aborrecido enquanto o orgulho estava em volta dos ombros. Charlotte se encarou no espelho, arrumando o cabelo em ondas longas e verificando o estado da maquiagem. Natalie encarou também, deixando que um sorriso paquerador deslizasse pelos seus lábios. Charlotte era bem bonita, pena que era uma megera, pensou enquanto dava uma última tragada no cigarro. Quando seus olhos se encontravam, permaneceram fixos um no outro por um tempo longo demais.

— Não vai me dizer nada? Ou tá com essa cara de bunda à toa? — Natalie era desbocada, mas isso não incomodava Charlotte naquela altura do campeonato.

— Tem algo que eu possa dizer que impedirá você de aprender química sugando um pó pelo nariz ou colocando estrume em seus pulmões diariamente? — Charlotte retocou a maquiagem e se virou para a garota. Natalie deu de ombros.

— Não, não tem, docinho.

— Não ouse usar esse apelido contra mim, ele não combina em você. — Charlotte advertiu, por fim, sorriu do que dissera. Isso foi muito idiota dito em voz alta.

— Aí, Charlotte, você é uma idiota, sabia? — Natalie se uniu a risada, assim como sentia tudo mais calmo em seu interior. Se estava com raiva antes de entrar naquele banheiro para fumar, nem se lembrava mais do motivo.

— E olha que nem sou eu que está se drogando em um banheiro de um bar de quinta categoria.

— Se quiser é só pedir.

— Você só pode estar zoando com minha cara.

Natalie estava prestes a responder, mas sua atenção foi roubada pela confusão que parecia ter se formado do lado de fora do banheiro. Charlotte franziu o cenho e se assustou quando teve certeza de ouvir garrafas se quebrando e pessoas gritando. Segundos depois, Christine entrou no banheiro, com o rosto vermelho e ofegante.

— Que porra ta acontecendo lá fora? — Natalie perguntou.

— Um namorado ciumento chamou o cara da banda para uma briga. Acho que a situação generalizou e geral está se matando. Vamos dá o fora daqui! — Christine sabia que a saída estava interditada pela multidão. Por isso, caminhou próximo à janela no alto do banheiro, onde uma pessoa passava facilmente se subisse pela pia. — Da para sair por aqui!

— Vou primeiro. — Charlotte declarou, passando pelas garotas. Subiu na pia, tomando cuidado para seus saltos não a derrubarem.

A queda para o outro lado era alta, mas a sorte — se é que poderia chamar assim — era que o lixo ainda se encontrava ao lado de uma caçamba, fazendo com a queda ao chão fosse menos dolorosa. Um ruído de raiva fervilhou em seu interior, mesmo assim ela atravessou o espaço retangular até cair no meio de sacolas de lixo fedorentas. Não demorou para que Christine viesse em seguida, assim como Natalie. Do lado de fora, e mais seguras, se encararam em silêncio por alguns segundos até gargalharem ao ponto de suas barrigas doerem.

— Olha só, Charlotte, acho que agora você está se parecendo como uma pessoa do lado sul da cidade, da sua perspectiva, é claro. — Natalie saiu do meio do lixo, tirando uma casca de banana engatada na sua jaqueta de couro.

— Eu até estou cheirando como uma. — Pontuou ela.

— Vamos embora logo, a polícia tá chegando. — Christine soltou um gemido ao dizer aquelas palavras. — Não quero ser resgatada em uma delegacia por um dos meus irmãos.

— Vou chamar um carro... — Charlotte puxou o telefone do bolso.

— Você até pode chamar um, mas duvido que o motorista a deixe entrar fedendo desse jeito. — Natalie a encarou dos pés à cabeça. As roupas e grife de Lottie se encontravam sujas de lama e chorume do lixo acumulado de muitos dias. — Vocês podem ir para minha casa e trocarem de roupa, não estamos muito longe.

— Acho que era melhor ter ficado no bar. — Charlotte revirou os olhos.

— Charlotte! — Christine a encarou. E lá vinha o show de implicâncias novamente.

— Tá que seja, já passei metade da noite com você mesmo... — Natalie respirou fundo quando a filha do pareceu ceder a ideia. — Na sua casa pelo menos tem banho quente?

— Charlotte, não me dê ideia de escalda você na minha banheira. — Natalie girou os calcanhares para fora do beco. — Vamos logo, ou seremos assaltadas aqui.

— Do jeito que estamos? Aposto que vão ter medo da gente assaltar alguém. — Charlotte disse logo atrás.

— Você não dá medo em ninguém, Lottie — Natalie e encarou por cima do ombro. — E o máximo que você pode fazer agora é enxotar com fedor que está exalando.

— Acredite em mim, docinho, eu posso dar medo em alguém se eu quiser.

— Ah, eu com certeza pagaria para ver isso. — Natalie gargalhou.

— Por favor, não me façam voltar para aquele bar e pegar uma garrafa quebrada e começar uma briga com alguém. — Christine se abraçou, sentindo frio enquanto caminhavam pela avenida lado a lado. Natalie e Charlotte se encararam com um sorriso. Tirando toda a confusão, até que a noite não estava sendo ruim.

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Para uma casa tão pequena, Charlotte acreditou que mal fosse caber no único banheiro. A água estava quente, mas a Matthews não se atreveu a arriscar-se na banheira. Então, optou por tomar uma ducha rápida e praguejou em pensamento quando teve que usar alguns produtos baratos no cabelo, mas aquilo era melhor que fede a lixo. Natalie também havia lhe dado uma muda de roupas limpas, algo que fez a morena torcer o rosto em desaprovação, mas, naquela altura, não podia reclamar, mesmo que quisesse muito. Seus pais não sabiam da sua fuga, e realmente, nenhum motorista de aplicativo aceitaria uma chamada até sua casa no estado decadente que estava. Felizmente, as garotas se encontravam sozinhas em casa e Charlotte não estranhou quando perguntou a Scatorccio onde seus pais estavam e ela não soube responder, ou não quis.

— Lottie, não acabe com toda a água quente, ainda tem gente na fila do banho. — Ouviu Christine esmurrar a porta.

— Estou indo, é meio difícil de se mover nesse cubículo. — Reclamou do lado de dentro. Pegou a peça de roupa emprestada por Natalie, era um conjunto de short e camisa de moletom cinza.

Charlotte enfiou as pernas longas, sabendo que aquele short ficaria mais curto que o de costume em seu corpo, aliás, ela era maior que Natalie, e suas curvas mais salientes que a dela. Vestiu a camisa, levantando as mangas até os cotovelos e jogando o capuz para trás, enquanto secava o cabelo com uma toalha. Christine esmurrou a porta novamente, dessa vez arrancando um barulho irritado de Charlotte. A outra garota não perdeu tempo quando teve que invadir o banheiro antes que a filha do prefeito retornasse ao lado de dentro.

— Nossa... — Charlotte respirou fundo. Ainda precisava secar o cabelo. Caminhou até o quarto de Natalie, ou a zona que ela costumava dormir.

Era um cômodo pequeno, talvez do tamanho do closet do seu quarto na sua casa de férias em Aspen. Charlotte reparou nas paredes, onde pôster de bandas de rock e animes estavam presos aleatoriamente. A cama estava bagunçada e o espelho de canto servia como cabideiro para a jaqueta de couro e outras peças de roupas. A iluminação também não era das melhores, o que fazia com o ambiente ficasse menor do que já era. Natalie não se importava com organização e nem com a higiene do lugar, já que sobre a escrivaninha, encontrou dois copos sujos e um prato com resto de pizza.

— Não se preocupe, ficar na minha casa e usar minhas roupas, não irá matar você. — Natalie falou quando reparou no olhar enojado da patricinha parada na porta. Ela já se encontrava limpa, mas seu modo de falar ainda mostrava que estava um pouco chapada.

— Um pouco de organização também não irá matar você. — Charlotte passou pela porta, empurrando o cobertor com a ponta dos dedos para sentar-se na cama. Natalie sorriu amarga e revirou os olhos. — Preciso do secador de cabelo, pode me emprestar?

— É claro, está ali dentro, entre os ratos e as baratas, fique a vontade. — Natalie apontou para dentro do armário com um sorrisinho maldoso no rosto. Charlotte fez uma careta e caminhou até lá. Abriu a porta com dificuldade e alcançou o secador, trazendo com ele algo a mais que acertou sua cabeça em cheio. — Ai! — Praguejou com a dor. Então olhou para o chão, percebendo que um caderno estava entre seus pés. Se abaixou e pegou, voltando na direção da colega de time.

— O que está fazendo com isso? — Natalie saiu de onde estava, pegando o diário das mãos de Charlotte.

— Caiu na minha cabeça. Eu não iria ler, se é o que pensa. — Foi ácida em cada palavra. Natalie abraçou o caderno, suspirando.

— Não acho que seja tão babaca assim.

Charlotte não revidou com palavras, já que tudo que não queria naquele momento era uma discussão devido a um caderno idiota. Sentou-se próximo a uma tomada e ligou o secador, enquanto notava o desconforto em Natalie ao voltar para o armário bagunçado e esconder o objeto em um lugar mais seguro. Lottie não a julgou, já que assim como ela, também escondia muitos segredos em lugares escuros e incapazes de serem alcançados por outras pessoas.

Vocês curtem capitulos grandes? Porque acredito que agora será assim, até porque, sou uma pessoa muito detalhista nas cenas haha. Esse cap teve +9k de palavras (vcs vão ler em 1 minuto o que passei uma semana pra escrever).

Acho que a partir de daqui já para criar teorias sobre a forma que a Lottie se tornou o que é agora.

Sobre essas situações do passado, não sei vocês curtem e não haverá tantos caps assim, mas acho que momentos assim são bem fundamentais para entender a relação das meninas e outras coisas que ainda vão acontecer...

E isso, vejo vocês no próximo capitulo, docinhos ♥

CAPITULO ATUALIZADO: 08/06/2024 - NÃO REVISADO

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