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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟎𝟒)

Natalie estava determinada a não dormir naquela noite. Tomou essa decisão por ter medo de ser assombrada mais uma vez pelos pesadelos lúcidos e por continuar em choque com o que presenciou na mansão Matthews. Ainda era possível sentir o odor de morte impregnado nas narinas e na visão fantasmagórica rondando a parte interna da casa. Se antes as coisas já pareciam estranhas, agora mesmo que pressentia que algo estava indo muito errado na velocidade da luz. Sob as cobertas, navegou pelas redes sociais na intenção de dissipar todos os pensamentos de mais cedo da cabeça. Seus dedos digitaram uma mensagem para Greg, mas não teve uma resposta, e ao lembrar-se do estado que o garoto ficou após sair da mansão, talvez ele nunca mais voltasse a falar com ela ou demoraria um bom tempo para se recuperar do choque vivido.

Embora quisesse afastar Charlotte da cabeça, algo em seu interior se revirava em mantê-la fixa em sua mente. Natalie se odiou quando digitou o maldito nome dela na caixa de busca do Instagram, e para sua surpresa, nenhum perfil foi encontrado. O estranho era que mesmo após seu sumiço, o perfil na rede social ainda existia, mesmo que estivesse desatualizado. Nat engoliu seco, retornando a página principal, onde clicou no perfil das The Storm, rolou o feed até o final se deparando com fotos e vídeos dos torneios do time, mas nenhuma foto de Lottie. Era como se ela nunca tivesse participado de nada. Natalie desligou o telefone e encarou o teto. Uma chuva caía do lado de fora, com direito a trovões e ventanias fortes. Parecia que o céu chorava por alguma tragédia ou pressentia a chegada de algo pior. Sentiu os olhos pesados, mas não se deixou vencer pelo cansaço. Levantando-se da cama, caminhou até a cozinha, onde preparou um café forte.

Natalie...— Ao ouvir o nome ser sussurrado em suas costas, então sentiu tudo parar. Natalie se manteve estática, consumida pelo terror. Dessa vez está acordada, e bem acordada, tinha certeza disso. Sua mão se prendeu ainda mais firme em volta da caneca, e o que fosse que estivesse ali para assustá-la, sairia ferido caso tentasse algo. O chão rangeu com o peso do que se aproximava, assim como a sensação de ter mais alguém no mesmo cômodo cresceu ainda mais. — Natalie, o que faz fora da cama a essa hora?

A garota piscou, como se despertasse de um pesadelo. Ao virar-se, encontrou o pai, com olhos vermelhos e pesados devido à embriaguez e sono. Joe caminhou até a pia, onde encheu um copo de água para beber. Observou a filha em silêncio, notando como ela estava branca como um papel, muito mais que o normal.

— Nada, eu só estou sem sono. — Disse ela, enquanto bebia o último gole de café um pouco mais tranquila.

— E está bebendo café? — Joe ergueu as sobrancelhas grossas. Natalie deu de ombros.

— Me acalma. — Natalie deixou a caneca sobre a pia e caminhou para a entrada da cozinha. Odiava ficar a sós com o pai e ter que trocar mais de duas palavras com ele.

Voltou para o quarto em passos largos e trancou a porta. Devido ao café, se sentiu agitada, então procurou pelo notebook, onde pesquisou sobre mortes súbitas de pássaros. Porém, assim como as pesquisas que fizera na noite passada a respeito de ataques de animais, também não obteve sucesso. Frustrada, optou por ver filmes e séries até que o sol retornasse ao seu devido lugar.

Pelo menos, foi isso que planejou até cair no sono sem sonhos e pesadelos.

Pedimos desculpas por isso, policial. — Natalie abriu os olhos ao ouvir a voz do pai vindo da sala. — Sabe como são os adolescentes nessa idade, acham que nada vai acontecer a eles. Garanto que isso não irá mais se repetir.

A luz do sol, filtrada pela cortina, fez Natalie soltar um ruído gutural de raiva. Passou a mão pelo rosto, odiando o fato de ter adormecido na metade da série que assistia. Porém, ela lidaria com isso depois, já que agora, havia problemas maiores que estavam do outro lado da porta do seu quarto. E isso envolvia a segunda voz masculina e desconhecida que ouvia distante. Sorrateiramente, atravessou a porta do quarto e caminhou até a cozinha, na intenção de poder ouvir a conversa com clareza.

— Senhorita Scatorccio, é bom saber que acordou. — Natalie fechou os olhos e bufou. Não pretendia ser notada, mas sua casa era pequena demais para passar entre os cômodos sem ser vista. Olhou por cima do ombro e encontrou um policial ao lado dos pais na sala de estar. Joe tinha uma carranca no rosto e sua mãe mordia os lábios e estalava os dedos ansiosamente.

— Aconteceu algo? — A garota perguntou. Deu passos calculados até a entrada da sala. Por mais insano que fosse, Natalie não sentia medo do policial parado no meio da sua casa e sim do olhar atroz que levava do pai. Sua boca ficou mais seca só de imaginar o que poderia lhe acontecer quando aquele agente virasse as costas a deixasse a sós com Joe.

— Recebemos uma queixa de invasão domiciliar. O prefeito informou que você e outra pessoa invadiram a casa dele ontem a tarde. — O policial descansou a mão na fivela do cinto. Ela deu um breve sorriso. Era impossível que ainda vivesse alguém naquela casa devido ao estado que se encontrava. Natalie se sentiu uma idiota, deveria ter sido mais cuidadosa em procurar por câmeras, com certeza foi flagrada por uma.

— É... Eu... É-é — Gaguejou, não sabendo como prosseguir. Joe deu um falso sorriso e se aproximou da filha, passando seu braço pesado em volta dos ombros finos e pequenos. Natalie parou de respirar, assim como piscar. Só de sentir o calor do pai, seu subconsciente entrava em completo desespero. Se antes ela não conseguia formular uma palavra, agora mal sabia como ficar em pé.

— A minha filha só é um pouco impulsiva, além disso, ela era muito amiga da filha do prefeito e até fazem parte do mesmo time. Acho que ela estava com saudades e depois de tudo que aconteceu a Charlotte, decidiu ir até lá dar uma palavra de consolo ao senhor e senhora Matthews. Não é, querida? — Joe a espremeu contra seu corpo. Natalie acenou freneticamente após se dar conta que deveria demonstrar algo. — Viu só?

— Espero que isso não se repita mais, o prefeito está chateado por ter sua casa invadida por jovens... — Delinquentes, era o que diria, mas o policial poupou os pais a sua frente ouvir isso. — Bem, da próxima vez que quiser visitar alguém, telefone antes de pular o muro. Espero que tenham um bom dia, senhor e senhora Scatorccio. E você, mocinha, estarei de olho.

— Bom dia para você também. Tenha um bom trabalho.

Joe acenou para o policial, enquanto Vera o acompanhava até a saída. Natalie encarou o chão à medida que seu pai retirava o braço dos seus ombros.

— Olha para mim! — Disse ele, rudemente. A garota ergueu o olhar. — O que você tinha na cabeça quando pensou em invadir a casa do prefeito?

— Pai... — Natalie sentiu o nó na garganta. Ela sabia o que vinha agora. Podia sentir com antecedência todas as dores que carregaria pelo resto da semana.

— Vai para o seu quarto, eu estou indo logo atrás. — Joe apontou para o corredor. Natalie queria fugir, mas não chegaria muito longe mesmo se passasse pelo pai. Ele sempre a capturava, assim como sempre fazia questão de ser pior em seus castigos. Se virando para o corredor, caminhou lentamente de volta para o quarto.

— Joe, não precisa fazer isso com ela. — Ouviu a mãe dizer. Vera segurou o pulso do marido, mas foi empurrada contra o sofá violentamente.

— Cala a boca! Se você não cuida e disciplina a sua filha, então tenho que fazer isso! — Joe gritou enquanto desabotoava o cinto que usava. Natalie, acostumada com o que deveria fazer, ajoelhou-se no tapete do centro do quarto. Fechou os olhos e sentiu o coração bater no mesmo ritmo que as botas do pai se chocavam contra o piso de madeira velha. A porta foi trancada no mesmo instante que a menina soluçou. — Natalie, quantas vezes vou precisar fazer isso até você aprender a me obedecer?

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O dia estava escaldante, era sempre assim no verão. Por isso, a maioria dos jovens optava por roupas leves. É claro que Natalie gostaria de ter colocado algo mais fresco para aquele dia, no entanto, a melhor opção que achou foi sua calça jeans, a camisa de flanela por cima de uma blusa de rock antigo e sua jaqueta de couro. Ela estava definhando de calor, mas isso era mais suportável do que receber perguntas a respeito dos hematomas que carregava nas costas e braços. Para aquele dia, estava também decidida a não saber sobre nada que envolvesse Charlotte Matthews e toda a bizarrice que estivesse acontecendo em volta dela. Já tinha problemas demais e a filha do prefeito não seria mais um deles.

— Nat, a polícia foi à minha casa hoje pela manhã! — Greg tinha as pupilas dos olhos dilatadas enquanto dizia as palavras com rapidez. — Falei para você que era uma péssima ideia entrar naquela casa, que droga, agora estou de castigo.

— Desculpa. — Natalie disse tão baixo que Gregory pensou ter ouvido errado. Estavam no corredor, indo para a primeira aula do dia que tinham juntos.

— Você está bem? — Ele perguntou. Sabia que era uma pergunta idiota, considerando o estado soturno que Natalie se encontrava naquele momento. Mesmo  que tivessem pouco tempo de amizade, Greg podia dizer facilmente quando ela estava bem ou não e, naquele momento, Natalie dava todos os sinais de que nada estava bem.

— Estou, só não dormi muito bem. — Ela não o encarou nos olhos. Sua feição estava contorcida, como se sentisse dores. Suas passadas eram lentas e foi assim que a garota chegou até seu lugar próximo à janela, com um passo de cada vez. Natalie se arrastou até o banco, fazendo uma careta quando sentiu os hematomas doloridos das costas queimarem.

— Tem certeza que é só isso? Se quiser conversar...

— Que merda! Você pode me deixar em paz? Eu já pedi desculpas. — Foi grosseira propositalmente. Na maioria das vezes, essa era a melhor solução que achava para não ter que dar satisfação sobre sua vida ou dos abusos que sofria por parte do pai. Greg acenou, deixando-a sozinha. — Merda. — Murmurou para si.

No almoço, sentou-se em uma mesa vazia distante de qualquer grupo adolescente. Enquanto Greg se juntava aos seus colegas do jornal, suas parceiras do time conversavam unidas a respeito dos treinos. Sozinha, foi assim que Natalie se sentiu, mas felizmente, essa sensação não a incomodava mais. Colocando os fones de ouvidos, escolheu uma música aleatória enquanto tentava fazer sua primeira refeição naquele dia. Engolir o purê de batatas estava se tornando um verdadeiro desafio, já que seu corpo parecia recusar tudo que seu estômago acomodava. Muito provavelmente ela estava com uma infecção por conta da surra.

Seus pensamentos a respeito de Joe eram tempestuosos e tudo que ela sabia nutrir pelo pai, era o ódio. Natalie o odiava por saber que ele a odiava. Nem sempre as coisas foram assim, talvez, pensando melhor a respeito do tratamento que sempre levou em casa, ela só não queria ver que sua presença nunca foi do agrado do próprio pai. Joe tinha um motivo estúpido para acreditar que Natalie era um verdadeiro caso perdido. Um estovo em sua vida. E Natalie somava isso para ser um dos motivos para sair da cidade, talvez, antes mesmo que o colegial terminasse oficialmente.

Buscou no fundo da bolsa alguns comprimidos controlados da mãe, ela realmente precisava aquilo agora. Empurrou três pílulas pequenas goela a baixo acompanhadas por água. Sentiu o caminho até o estômago ser rasgado. Fechou os olhos e tentou distrair a mente, e fez isso por tempo demais até sentir o tremor das mãos aliviar. Quando voltou a abri-los, encarou o lado de fora da escola, então avistou Rory parada ao lado da cerca que separava a escola da floresta. Natalie franziu o cenho e entrou em estado de alerta quando a garota deu passos determinados em direção ao pequeno portão que ligava a trilha da reserva.

— O quê? — Natalie virou o rosto para as colegas do time, que mal pareciam ter reparado que uma integrante faltava à mesa. Olhou para frente, encontrou os olhos de Greg grudados aos seus. Como poderia falar com ele após tê-lo tratado tão mal?

Mesmo assim, Natalie torceu para o garoto entender o que seu olhar dizia. Ela se levantou de onde estava quando se recordou do sonho que tivera com Aurora. Não! Ninguém ia se ferir naquele dia. Encarou o lado de fora, não encontrando mais a goleira do time entre a cerca e a floresta. Greg saiu da mesa em que estava quando avistou Natalie ir em direção à porta do refeitório da escola, rápida como uma bala.

— Nat! — Chamou ele. A essa altura, Natalie estava longe, caminhando depressa enquanto pretendia evitar algo.

Natalie ignorou o chamado. Assim como não tinha tempo para explicar o que pretendia fazer, já que nem ela mesmo saberia como abordar Rory quando a alcançasse. A cerca que protegia os arredores da escola era alta, mas o portão era baixo e fácil de escalar, muito provavelmente, foi dessa forma que Aurora passou. Reunindo o que lhe restava de força, escalou o portão e pulou para o outro lado, adentrando na floresta silenciosa.

— Rory! — Natalie gritou, enquanto usava as mãos para empurrar os galhos dos pinheiros da sua frente.

— Natalie! — Ouviu em resposta, mas não por Aurora, e sim por Greg, que a alcançou segurando pelo pulso. — Para! O que está fazendo?

— Eu vi a Aurora vindo em direção à floresta, ela pode está em perigo, Greg! — Natalie tinha as pupilas dilatadas e a voz embargada pela emoção. Ela se debateu se afastando do garoto. Não tinha tempo a perder. — Chame por ajuda!

Natalie sentiu a quentura envolver seu corpo em uma bolha sufocante. Retirou a jaqueta de couro e a amarrou na cintura quando não suportou o calor. Caminhou pela trilha, sabendo perfeitamente que estava sendo seguida pelo colega. Greg não a deixaria sozinha, talvez esse fosse seu pior defeito. Ela gritou por Rory novamente, dessa vez mais alto, e em resposta, ouviu um grito fino e feminino. Isso foi o suficiente para fazê-la correr na direção do que acreditava ter ouvido. No entanto, quanto mais adentrava na floresta, sentia todos os sentidos adormecidos entrar em alerta. Uma nova onda de calor a fez procurar desesperadamente por ar. O suor escorria por todo seu corpo e sua boca estava seca. Natalie retirou a camisa de flanela, dessa vez, ficando apenas com a camisa de rock.

Greg, que também começava a agonizar de calor, percebeu quando a garota atirou a camisa xadrez para o chão. Sua atenção se prendeu às marcas roxas que ela carregava nos braços, que desapareciam por dentro da blusa em suas costas. Ele não gostaria de ter prestado tanta atenção, mas não tinha como reparar nos hematomas que antes a garota não carregava. Natalie tropeçou em uma raiz e caiu com as mãos apoiando o corpo, enquanto procurava por ar.

— Nat... — Greg correu até ela, se ajoelhando ao lado. — Você precisa respirar devagar.

Natalie acenou, mas sentia a fraqueza se instalar em seus ossos e pontos escuros surgirem em sua visão. O suor e calafrio percoreram seu corpo impiedosamente, trazendo um mal estar de imediato. Ela respirou fundo mais de três vezes até se sentir capaz de continuar sua jornada até Rory. Sentiu os pelos do braço arrepiarem, então se deu conta que estava sendo vigiada novamente. Olhou em volta, mas não capturou nada além de árvores e arbustos.

— Natalie, eu acho que você está com febre, é melhor voltarmos, não tem ninguém aqui.

— Não, eu ouvi um grito.

— Pode ter sido um pássaro, só isso.

— Os pássaros estão mortos, Greg, nós vimos eles! — Sua voz se elevou. — Todos eles morreram.

— Socorro!

Dessa vez era nítido que alguém corria perigo. Os jovens se entreolharam e compartilharam juntos a sensação de calafrios. Estavam com medo, mas ainda assim, continuaram o percurso até se depararem com a presença feminina no meio da clareira. Rory se encontrava sentada ao chão com as roupas e os fios de cabelo desordenados. Estava em um estado de choque e talvez, tremia muito mais que os dois colegas a sua frente.

— Rory, você está bem? — Greg perguntou, se afastando de uma garota enquanto se aproximava de outra, ajudando-a a se levantar.

— Eu-eu ouvi me chamar. Eu a vi vindo para a floresta... — Balbuciou a garota. Ela olhou em volta, piscando para ter clareza de onde realmente estava.

— Quem? Quem estava chamando você? — Greg desviou o olhar brevemente para Natalie.

— Rory, ela estava aqui, não estava? — Natalie deu um passo largo até a colega de time. Rory a encarou, com o rosto sujo de terra e a roupa amarrotada. — Eu acredito em você, pode me dizer se foi a Charlotte que te atraiu até aqui? — Poderia ser uma epifania deduzir aquilo, mas se Rory confirmasse o ocorrido, algumas peças poderiam se encaixar.

— O quê? — Greg olhou em volta.

Eu já não sei... Foi tão rápido, algo tentou me ferir, mas gritei o mais forte que podia. — Rory encarou o chão, enquanto um clarão parecia apagar lentamente suas últimas lembranças ao ponto de não se recordar de como havia parado ali exatamente. Ela piscou, erguendo o olhar novamente. Sentiu a pele suja e os cabelos cacheados ainda mais pesados. — Natalie... — A garota fez uma careta para a loira a sua frente e desviou o olhar para Greg. Então se deu conta de onde estava e como estava. — Que merda vocês fizeram comigo? Por que estou suja? Que lugar é esse?

— Do que você tá falando, Rory? Você veio até aqui, sozinha... — Natalie ergueu uma sobrancelha escura. A outra garota passou a mão pelo cabelo na intenção deixá-los mais apresentável.

— Se vim sozinha, então o que estão fazendo aqui comigo? — Aurora parecia estar de volta. — Isso aqui é algum tipo de vingança com seu amigo esquisito porque a Liv te tirou dos treinos? — A garota balançou a cabeça. Natalie desviou o olhar para Greg, em seguida para a Rory. Era como se uma tentativa de ataque não tivesse ocorrido há alguns minutos. A goleira do time bateu o pé no chão e bufou. — Vou voltar para a escola, e vocês ficarão bem longe de mim. A propósito, você está péssima, Natalie, deveria procurar um médico.

Rory girou os calcanhares para a trilha e sumiu entre as árvores. Natalie sentiu a presença de Greg ao seu lado, mas de tudo que poderiam dizer reciprocamente, preferiram ficar em silêncio, enquanto absorviam o que acabara de acontecer.

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O que está rondando a cidade tem fome. Uma sede peculiar. Um animal não catalogado ou apresentado na aula de biologia. Um ser sobrenatural. Algo saído das próprias trevas conhecido como inferno. E estava tão perto, principalmente dela. O cheiro da garota era como um queijo posto em uma ratoeira, tão deliciosamente perigoso. Talvez fosse isso que despertasse tanto interesse nos últimos dias, muito mais do que já despertava no passado. Não cansava de pensar na forma que o sangue fluía por suas veias, da forma que seu cheiro embriagante exalava quando o vento quente do verão batia contra sua pele. Ela era perfeita, mas obstinada demais para cair em seus truques por um tempo longo demais. Quanto mais perto se sentia dela, mas longe sabia que deveria ficar. Havia outras vítimas mais fáceis ao redor do seu alvo, mas era engraçado vê-la se questionar constantemente sobre sua sanidade. Houve momentos em que quis invadir sua casa e a atacar em sua cama, mas, no fundo, não queria vê-la morta. Era potencial demais para desperdiçar.

Então a vigiava constantemente. A sofrida e rebelde Natalie Scatorccio, estava caminhando perfeitamente para onde deveria. Se fosse tão esperta como pensava, não teria deixado-a entrar em sua casa na primeira noite. A espreita na escuridão, observou a garota loira em sua rotina de casa. Seus movimentos eram lentos e seu cheiro estava estranho. Quando a jovem retirou a camisa e as marcas escuras ressaltaram em sua pele pálida, foi que a criatura soube que algo havia lhe acontecido. Ela estava com uma infecção interna e se não procurasse um médico, sua situação poderia se agravar. No entanto, orgulhosa como era, Natalie se escondeu debaixo do edredom e adormeceu enquanto sua mãe caminhava pela casa como um fantasma, alheia completamente a saúde da filha. Havia uma forma de ajudá-la, por isso, o que se escondia na escuridão, deslizou seu corpo até a entrada na casa, e percorreu o caminho até o quarto da garota.

O cheiro dela era forte. Uma mistura intensa de sangue e seu cheiro humano inconfundível. A observou dormir por um tempo maior do que pretendia, e só percebeu isso ao notar que a garota estremeceu mesmo embrulhada. Se aproximou da cabeceira da cama e com a unha, machucou a palma da mão, deixando que o sangue escorresse em gotas até a boca entreaberta da garota. Natalie soluçou e mudou de posição sonolenta, lambendo os lábios molhados e engolindo o sabor de ferro sem se dar conta. Isso a faria ficar bem por alguns dias. Bem até demais, assim como as ligaria mais do que deveriam. Gradualmente, sua cor parecia retornar ao normal e as marcas estavam sumindo. O sangue também parecia ficar mais atrativo, tanto, que teve que se retirar da casa para não cometer uma atrocidade antes da hora. Estava com fome, com a boca salivando por algo. Já havia aprendido a controlar parte da compulsão, mas era só se aproximar dela, que sua fome triplicava novamente. Estava em um bairro pobre, onde a criminalidade era absurdamente alta. Então, obviamente, ninguém que desaparecesse por ali, faria tanta falta.

Ela tinha um alvo em mente, mas ainda não era a hora certa para isso. Por isso, caminhou até a casa ao lado, onde um homem calvo bebia cerveja e coçava o saco. Ele fedia, era nojento, e provavelmente um tarado em potencial, pois ao notar sua presença no quintal cheio de lixo, abriu um sorriso presunçoso.

— Oi, belezinha, que tal você entrar aqui em casa e brincar um pouco com o papai aqui? — Ele disse, antes de engasgar com a cerveja barata.

— Você me deixaria entrar? — A criatura piscou com ternura.

— É claro que deixo você entrar. — O homem sorriu em respostas.

Arrastando o pé pela areia batida, a criatura parou na entrada. Se não fosse convidada para entrar em uma casa, então não conseguiria passar pela porta. Se tentasse entrar à força, seu corpo entraria em colapso e explodiria. Esse era um dos fardos que tinha que lidar desde que se tornou o que era. Passando pela porta, vasculhou cada canto com o olhar. Estavam sozinhos. Ótimo. Não demorou para sentir a presença do homem logo atrás e do toque grotesco em seu corpo. A criatura se virou, não tendo mais motivos para esconder sua verdadeira aparência.

— Vo-você é um demônio... — A feição de horror estava instalada na face dele, enquanto sua voz sumia gradativamente.

— Um pouco disso também. — Ela sorriu, sentindo as presas ferir os lábios. Suas unhas curtas se tornaram maiores e afiadas como de uma águia.

O homem tentou fugir no momento em que se virou para a porta. No entanto, a criatura já se encontrava lá, com um divertido semblante no rosto. Ela adorava quando suas presas tentavam fugir. Tudo se tornava mais emocionante.

— Vai embora! — Ele gritou. — Eu vou chamar a polícia!

— Ah! Logo agora que as coisas vão ficar divertidas? — Ela inclinou o rosto. — Acho que não.

Em um golpe rápido, suas unhas afiadas afundaram na carótida dele. Um mar vermelho de sangue escorreu para o chão, quente e saboroso. O homem agonizou e se debateu, mas foi por pouco tempo. A criatura avançou com as presas pontiagudas, rasgando a carne para que pudesse saciar sua fome da melhor maneira que podia.

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Natalie acordou ao som de sirenes e vozes, contudo, não foi isso que a espantou, mas sim a sensação de saúde revigorada. Na noite passada, quando adormeceu devido à febre alta e às dores no corpo, tinha a certeza que levaria dias para se recuperar. No entanto, agora, tudo que sentia era se como nada a tivesse machucado. Saiu da cama em direção ao espelho que tinha no quarto, seus olhos se arregalaram ao se deparar com a ausência das marcas da surra que havia levado do pai. Com certeza aqueles hematomas levariam dias para sumir, mas agora, sua pele se encontrava lisa como se nada a tivesse tocado.

Não, não vimos ou ouvimos nada... — Ouviu Joe na sala. Natalie recorreu à janela do quarto, e tomou um susto ao se deparar com duas viaturas e uma ambulância na sua rua. — Tudo bem, tomaremos cuidado. — A voz do pai se fez presente ou vez.

Natalie esperou o bater da porta da sala para que pudesse sair do quarto, mas não antes de cobrir todo o corpo novamente. Não saberia explicar a ausência das marcas de agressão, tanto quanto não conseguia entender como aquilo era possível. Cruzou o corredor até a cozinha, onde encontrou a mãe fumando um cigarro.

— O que aconteceu dessa vez? — Perguntou a menina. Vera limpou a garganta enquanto tentava controlar a tremedeira das mãos.

— Foi o nosso vizinho, encontraram ele morto hoje pela manhã. — Disse ela. Natalie sentiu o chão faltar sob seus pés, então buscou uma cadeira próxima. — Ele foi assassinado em casa, parecia ter sido devorado vivo. Eu disse que o mal está perto.

— Deixa de besteira, Vera! — Joe bradou na entrada. Natalie encarou o chão. — Eu falei com a polícia e eles garantiram que foi um lobo, o mesmo que atacou aquele homem na floresta. O Bill só teve azar de ficar até tarde bebendo na varanda do quintal. A esposa dele o encontrou pela manhã quando voltou do plantão do hospital. Graça a Deus nem ela e o filho estavam em casa quando o crime aconteceu.

Como aconteceu? — Natalie perguntou. Joe encarou a filha.

— Eu não sei, não trabalho na polícia. — O pai respondeu grosseiramente. Marchou até a cafeteira e encheu sua caneca de "Eu amo o papai" até a borda. — E você já não deveria estar na escola? O que ainda faz em casa?

— Eu já estou indo. — Respondeu Natalie entredentes.

Minutos mais tarde, quando teve que cruzar na frente da casa de Bill, sentiu o corpo arrepiar. Ela havia salvado uma vítima para fazer outra, agora, ainda mais perto. Sua cabeça estava uma verdadeira confusão, assim como se sentia estranha. E o pior, se sentia estranha por se sentir bem. Na escola, o sinal disparou alto e estridente, irritando os ouvidos de Natalie como de costume. Como não havia encontrado Greg, seguiu o percurso para a primeira e entediante aula do dia.

A sensação de ser vigiada a assombrou novamente. Natalie olhou por cima dos ombros, sentindo que tudo estava indo muito errado rápido demais. Com a intenção de afastar esse sentimento para longe, ela apertou as unhas contra a palma das mãos e contou até onde podia. Porém, seus pensamentos foram interrompidos quando dois alunos com o dobro do seu tamanho a empurraram para que pudessem entrar na sala primeiro. Nat os xingou em pensamento, se dando conta que sua mochila havia escorregado pelos seus braços até o chão.

Se ajoelhou para pegar as coisas, e foi nesse momento que ouviu o estalar de saltos finos e caros contra o piso recém-polido. Primeiro, seu olhar se fixou nas belas panturrilhas torneadas devido a uma série de exercícios. Depois, Natalie engoliu seco ao se levantar com a mochila nas costas. Aquela presença trouxe um misto de sensações a Scatorccio, mas o coração acelerado e os lábios secos foram o que de fato a incomodou. O silêncio foi instantâneo na sala, talvez em toda a escola. E lá estava a garota havia sumido há três meses. Era ela, em carne e osso, Charlotte Matthews, sorrindo para a turma como se acabasse de voltar das férias. Natalie permaneceu estática, enquanto analisava cada centímetro de Lottie.

Diferente da figura fantasmagórica que surgiu em sua casa no meio da noite, Charlotte esbanjava ainda mais beleza agora do que tinha antes de desaparecer. Seus cabelos castanhos estavam bem escovados e alinhados. Sua pele estava bronzeada, com lábios e bochechas rosadas. Mesmo sendo verão, Lottie vestia uma blusa moletom branca de gola alta, cobrindo os braços até o pulso. Da cintura para baixo, não abriu mão da sua peça favorita: uma saia plissada, na cor preta e curta o suficiente para deixarem os garotos e ela imaginando se por baixo havia mais algum tecido ou não. Natalie gostaria de se aproximar e tocá-la para saber se era real, mas foi ao se lembrar do que estava acontecendo durante os últimos dias, que seu desejo passou.

— Quase me atrasei, mas é que a viagem até aqui foi de matar. — Lottie uniu as mãos em frente ao corpo e soltou uma risadinha. Ela virou o rosto, jogando o cabelo por cima do ombro de um jeito elegante. Seu olhar encontrou os de Natalie, que estava parada na porta, dura como uma pedra. — Oh! Desculpa, docinho, eu assustei você?

O bem sempre vence, a atualização veio e espero que tenham gostado da aparição especial ♥

E agora somos +3k de leitores, juro, isso me deixa muito feliz e motivada a continuar a historia mesmo quando penso em desitir.

CAPITULO ATUALIZADO: 16/03/2024 - NÃO REVISADO

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