
𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟎𝟏)
Ela não tinha controle sobre o próprio corpo. Natalie tentou parar no meio do caminho, mas seus pés não a obedeceram. Os galhos secos que se encontravam no chão e nas árvores, arranharam sua pele ao ponto de abrir cortes profundos. Seu vestido, antes branco, agora se encontrava vermelho devido ao sangue fresco. Se sentia exausta, como se tivesse enfrentado a maior das batalhas e perdido. Com lágrimas queimando nos olhos, ela soube que seu fim estava próximo. O terror apossou-se do seu corpo quando seus pés se moveram para dentro da água fria e de correnteza forte. Estava na reserva, enfrentando seu maior medo ao notar que caminhava para beira da cachoeira, onde uma queda a esperava ávida pelo seu fim. Natalie perdeu o fôlego, principalmente quando sentiu seu corpo ser arrastado pela correnteza. Ela ia morrer, agora tinha certeza disso.
— Natalie! — Ouviu seu nome ser dito em meio a escuridão, mas já era tarde demais para poder responder. Seu corpo afundou nas profundezas do lago, e mesmo que batesse os braços e as pernas para voltar à superfície, a correnteza era mais forte.
Gradualmente, Natalie deixou de lutar, assim como sentiu o corpo mais leve e os pensamentos mais limpos. A essa altura, a água nos pulmões não a incomodava mais, nem quando sentiu o corpo chegar a borda e despencar cerca de sete metros para uma parte ainda mais funda do lago. Talvez essa fosse a sensação de morrer: deixar de sentir tudo.
E só o que via era a escuridão...
Aterrissando violentamente no chão, Natalie acordou com o coração disparado. O corpo se encontrava encharcado de suor e a sensação de afogamento parecia ainda mais real agora do que antes. Há anos não tinha pesadelos tão reais como esse, mas no fim era só isso, um pesadelo. Quando percebeu que a luz do dia penetrava através das cortinas, amaldiçoou tudo ao seu redor, assim como prometeu a si que nunca mais beberia. Claro que a última parte só valeria até a próxima festa que participasse ou quando se sentisse deprimida o suficiente para se afogar em um mar alcoólico. Arrastando seu corpo até o minúsculo e bagunçado banheiro, Natalie deixou que a água fria a acordasse definitivamente. Com isso, lembranças da noite passada vieram como uma enxurrada. Charlotte Matthews esteve em sua casa da maneira mais assustadora e confusa possível. Sem saber se de fato havia vivido aquele aterrorizante momento com a — até então — garota desaparecida, Nat preferiu acreditar que só tivera um sonho lúcido.
Após escolher a roupa para a escola, disfarçou as olheiras escuras com corretivo e pó compacto em frente ao espelho manchado. Marcou o olhar com lápis preto e beliscou as bochechas para ganhar um ar de saúde. Na cozinha bagunçada, uma pilha de louça suja da noite passada estava causando um mau odor, mas o que revirou seu estômago foi tomar o café requentado de vários dias. Natalie ouviu a mãe murmurar enquanto espiava pela janela. Vera já estava no terceiro cigarro e usava a mesma roupa que escolheu no início da semana.
— É verão, mas os pássaros não cantam. Pássaros ficam em silêncio quando há algo ruim. — Murmurou Vera. Natalie franziu o cenho para o que a mãe dizia. Para sua felicidade, seu pai já não se encontrava em casa. — Os pássaros sempre sabem quando há perigo.
— Mãe? — Natalie foi cuidadosa ao se aproximar de Vera. Os olhos verdes e cansados, se voltaram aos olhos mais novos e obstinados. Vera via seu reflexo em Natalie, e talvez por isso, não conseguia encarar a filha por tempo longos demais. A mais velha encarou o chão, encolhendo-se ao toque da filha. — Não há pássaros cantando porque o Bill e o capeta do filho dele espantam todos com aquela espingarda.
— Não... — Vera balançou a cabeça em negação. Então fumou o cigarro. Não importava o que saísse da sua boca, ninguém acreditava em suas palavras, mesmo quando ela sempre acertava o que previa. Talvez se a ouvissem mais e desenhassem menos, muitas tragédias em sua vida teriam sido evitadas. Ela recorreu à cadeira, onde se sentou ainda com os olhos baixos.
— Você quer que eu faça um chá? — Natalie se inclinou para falar com a mãe, mas Vera não respondeu. Natalie suspirou, recuperando sua postura.
Com o passar do tempo, percebia como sua mãe se isolava cada vez mais em uma bolha alheia à realidade que vivia. Estava também mais fria e distante, murmurando pelos cantos e vendo coisas que não existiam. Era estranho pensar que em anos atrás, Vera era uma mulher completamente saudável, ou quase. No verão de dois mil e treze tudo mudou em sua vida. Foi como se uma luz apagasse em seu interior, e com isso, parte da sua lucidez fosse junto. Natalie gostaria de se mostrar forte e disposta a cuidar dela, mas a verdade era que a sua melhor parte também havia sido destruída e não se sentia capaz de fazer muito pela mãe. Ambas lidavam diariamente com seus demônios da melhor maneira que podiam.
— Você está com um cheiro estranho. — Vera aproximou o rosto ao corpo da filha. Natalie deu um passo para trás. — Com quem esteve ontem à noite?
— Com uns amigos, mas cheguei em casa cedo. — Natalie respondeu, arisca. — Onde você estava com o papai?
— Saímos. — A mãe deu de ombros. O odor de podridão estava crescendo em suas narinas. Vera se levantou de onde estava, vasculhando todo o cômodo com o olhar. — Sinto cheiro de... morte...
— Do que você está falando? — Natalie recuou um passo. Vera respirou fundo e apagou o cigarro no cinzeiro em cima da pia. Estava lutando contra seus outros instintos, era isso ou voltar para a ala psiquiátrica novamente. Seus olhos caíram para a filha, que se encontrava em alerta com seu estado. — Olha, mãe, eu tenho que ir. Vou comer alguma coisa na escola.
— Natalie, não quero que chegue tarde em casa...
— Tenho treino hoje depois da aula, não me espere.
Jogando a mochila nas costas, Natalie saiu pela porta dos fundos antes que sua mãe começasse com os devaneios de mau presságio. Tudo que queria evitar naquela manhã era alguma discussão com Vera, principalmente quando a pior época do ano se aproximava novamente.
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No ônibus escolar, encostou o rosto na janela gelada, imaginando que talvez sua mãe precisasse retornar ao médico ou tomar remédios mais fortes. Natalie reconhecia que Vera possuía um sexto sentido mais apurado que as demais pessoas, e querendo ou não, também herdara um pouco disso. No entanto, o que para sua mãe poderia ser considerado um dom, para seu pai não passava de baboseira e loucura que só piorava com o tempo. Não era do seu agrado sempre que precisava ouvir as discussões dos pais ou ter que defender Vera quando Joe, seu pai, a chamava de louca. A convivência em sua casa era difícil, e mesmo que amasse a mãe, não via a hora de sair daquele lugar e da cidade.
Em frente a escola, comprou algo para comer, enquanto observava seus colegas do último ano. As integrantes do time conversavam do outro lado, provavelmente contando quantas bocas haviam beijado ou transado na noite passada, só isso explicava o modo que gesticulavam. Natalie não tinha muito assunto para ir até lá conversar com elas, e sabia muito bem que se dissesse que Charlotte Matthews estava de volta, seria chamada de louca. Talvez fosse um pouco louca. Aliás, nem ela acreditava que a Lottie de fato esteve em sua casa ou se tudo que passou foi uma grande alucinação.
Não fazia o menor sentido a garota mais popular da escola surgir em sua casa sem mais nem menos. Todos sabiam que Natalie Scatorccio e Charlotte Matthews jogavam no mesmo time, mas andavam em vias diferentes, não chegavam a se odiar, mas nem de longe se davam bem. Por muitos motivos, Natalie preferiu guardar a experiência da noite passada em segredo ou até quando pudesse. Se Lottie estava de volta, então logo ela apareceria na escola, certo? Dando a última mordida no sanduíche, Natalie mirou o guardanapo no cesto de lixo e girou os calcanhares para a entrada da escola. Atravessou o mar de adolescentes cheirando a loções fortes de perfume e creme para barbear, rumo ao seu armário.
— Nat, ei! — Ouviu seu apelido ser chamado, reconhecendo imediatamente a voz. Natalie emitiu um brilho gutural, apressando os passos pelo corredor. — Nat...
— Greg, eu tenho que ir, tô atrasada para aula. — Disse em voz alta.
— Como se você se importasse com isso, Nat. — Gregory Smith sorriu em sua direção. Empurrou o óculos quadrado para trás e passou a mão pelo cabelo levemente cacheado e recém-aparado. Nat se deu por vencida, não tinha como fugir de Greg. Desde que o defendeu de alguns valentões da escola ainda no segundo ano, percebeu que uma porta fora aberta para uma possível nova amizade. Greg, o fotógrafo e redator do jornal, não tinha colegas, mas se considerava amigo de Natalie Scatorccio, até quando ela o ignorava, o que era frequentemente. — Quando procurei você na festa, já tinha sumido.
— Fui pra casa, a festa tava um porre. — Disse ela, encarando os lados.
— Eu tinha conseguido umas paradas maneiras, Nat, você ia gostar.
— Greg a coisa mais pesada que você conseguiu para mim foi maconha e passou três dias se sentido culpado por isso... e no fim, nem era maconha de verdade, só sálvia. — Nat revirou os olhos, deu dois tapinhas no ombro do colega e andou alguns passos a mais.
— É que eu também fiquei preocupado com você. — Greg apressou os passos para acompanhar a loira. Natalie poderia ser pequena comparado ao seu tamanho, mas dava passos longos e rápidos, assim como estava sempre mal-humorada. Ela o encarou de soslaio, com um sorriso maldoso nos lábios rosados e bem desenhados.
— Do que está falando? — Perguntou ela. Só parou quando chegou ao seu armário pichado. Ser uma das poucas bolsistas da escola, fazia com se tornasse alvo de piadas por parte dos colegas que odiavam as pessoas da parte sul da cidade. O que poderia ser uma ofensa para os outros bolsistas, para Natalie era uma verdadeira diversão, tratada até como um desafio. Ela nunca teve vergonha de esconder quem era e não se incomodava com a má fama que levava na escola. A vida era curta demais para não viver todos os dias como se fosse o último.
— Ontem à noite uma garota foi atacada na floresta.
— Atacada? Como assim? — Natalie franziu o cenho, demonstrando mais interesse na conversa.
— Foi a Christine, sua colega do time. Acharam ela machucada há uns cem metros de onde estava acontecendo a festa. Ela tá no hospital agora.
Natalie piscou, atônita. Eram informações demais para processar. Enquanto uma garota que está desaparecida há três meses surge em sua porta, outra é atacada no mesma noite. As coincidências chegam a ser hilárias para não dizer que são trágicas. Aquela semana, definitivamente, prometia ser uma bela caixinha de surpresa. E o pior, tudo estava acontecendo em um momento decisório da sua vida.
— Nat? — Greg chamou ao notá-la despeça.
— Eu tenho que ir... — Foi tudo que Natalie disse, antes de sair sem se despedir com as palavras certas.
— A gente se encontra no almoço? — Gritou o garoto, mas não teve nenhuma resposta.
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A aula de espanhol era entediante. Natalie escolheu a disciplina por acreditar que o idioma era o mais próximo do italiano, do qual sua família descendia, então não teria tantas notas baixas. Ela estava errada, pois acreditava que estava se comunicando com seres de outra dimensão sempre que a Sr.ᵃ Hernandes iniciava seus longos diálogos. Naquele dia, ela estava mais dispersa que o de costume, principalmente por esperar que Olivia Jones contasse sobre o ocorrido de Christine Barnes. Por isso, passou boa parte da aula se contendo em levantar-se de onde estava e ir até a capitã do time. Já estava acostumada a ser a última a receber informações, mas Chris era sua amiga, ou talvez, a colega mais próxima que tinha no time. Natalie se achava péssima em fazer amizades, principalmente por saber que as pessoas não duravam muito em sua vida. De certa forma, sua amizade com Chris não passava das duas terem alguns gostos parecidos e ela ser a única garota legal do time. Mesmo assim, ainda sentia muito pelo que aconteceu a ela na noite passada.
O sinal tocou fazendo com que Natalie erguesse o queixo apoiado na mão. Viu quando Olivia fechou o caderno e pegou suas coisas. Ela fez o mesmo, jogando a mochila nas costas e indo atrás da capitã do time pelo corredor. A alcançou próximo aos armários, quando esticou o braço e segurou Olivia pelo pulso.
— Quando ia me falar sobre o que aconteceu com a Chris? — Seu tom saiu rude e quase incriminatório. Olivia parou, soltando um suspiro irritado para a colega.
— No treino, não só para você como também para as outras meninas que ainda não sabem do ocorrido. — Respondeu a capitã. Natalie estreitou o olhar, inclinando levemente a cabeça. — Olha, Natalie, esse aqui realmente não é o momento para ter essa conversa.
— Como ela está? — Claramente, Natalie não se importava com qual era o lugar certo ou errado para saber sobre o estado de Christine.
— Os pais relataram à treinadora que ela está fora de perigo. — Olivia trocou o peso da perna. Natalie a soltou, sentindo-se mais aliviada.
— Então quer dizer que ela vai está aqui na final do campeonato?
— Dificilmente. — A capitã deu de ombros. Natalie escancarou a boca.
— Que porra, Liv, isso é péssimo para o time. Dependemos desse jogo. Eu dependo desse jogo! — Natalie se moveu inquieta. Notou que falava alto demais, já que as pessoas que passavam a sua volta a encaravam curiosas. Olivia se perguntou se Natalie estava mais preocupada com Christine ou com a situação do time. Era um fato que todas dependiam de uma boa performance em campo, em jogos de finais, muitos olheiros escolhiam suas próximas estrelas do mundo do futebol. Claro que com duas boas jogadoras ausente, as coisas ficariam mais difíceis. Então chegou a drástica conclusão de que Natalie estava desesperada pelo que seria dali em diante.
— Você está sendo bem egoísta, não percebe? — Olivia se afastou de Natalie. — Hoje, após o treino, quero falar com todas. Agora me deixe em paz! — Dando as costas definitivamente, ela se misturou na multidão de alunos.
Natalie encolheu os ombros. Olivia, pela primeira, estava certa, e isso fez com que se sentisse a pior pessoa do mundo. Ela poderia ser muitas coisas, mas não era uma filha da puta, embora fosse egoísta na medida exata para qualquer ser humano. Contudo, seu futuro estava em jogo e cada vez que pensava nisso, sentia a ansiedade ainda mais insuportável. Dando meia volta, Natalie fez o caminho para a próxima aula desgastante. Ainda havia muito tempo para o treino.
Naquele dia, Natalie concluiu que a notícia ruim corria rápido e as horas devagar. Todas as aulas que teve antes do treino, foi forçada a ouvir murmurinhos sobre o ataque ocorrido com Christine. Alguns alegavam terem visto um animal a atacando. Outros juravam que Chris estava acompanhada por alguém estranho quando sumiu no meio da floresta. E o mais bizarro, e engraçado para Natalie, foi a teoria de Greg, afirmando que a garota da linha de defesa fora abduzida.
— Você não acha isso, né? — Natalie ergueu a sobrancelha escura. Greg sorriu ao notar uma sombra de riso nos lábios da amiga.
— Não, eu só queria descontrair você, parece preocupada com tudo. — Disse ele. Estavam na aula de química, a última do dia, sentados na penúltima banca ao lado da janela. Natalie aproveitou para espiar o lado de fora. Estava quente e o sol brilhava forte, mas não havia sinal de pássaros. Nenhum deles. Estranho.
— Meio que fui uma babaca me importando mais com a final do campeonato do que com o estado da Chris. — Lamentou. Chris sempre se mostrou diferente das outras integrantes, era a única que fazia questão de ser simpática enquanto todas as outras a excluíam.
— Não é não!
— Sim, claro que sou! — Natalie insistiu. — Meu Deus, eu fui embora pela floresta, poderia ter sido eu.
— Foi uma fatalidade, poderia acontecer com qualquer um. — Greg coçou a nuca. Natalie mordeu os lábios. Uma parte sua gostaria de falar sobre o ocorrido da noite passada, quando uma garota, até então desaparecida em outro país, surgiu em sua porta com um comportamento estranho. Estranho mais ainda, era deduzir que o ataque de Christine poderia ter certa ligação com Lottie. Ela lembrava perfeitamente como Charlotte sumiu diante seus olhos de forma inexplicável. Talvez estivesse ficando paranoica como a mãe, mas algo em seu interior se revirava sempre que parava para pensar em Charlotte. — Você tá bem?
— Ainda estou em choque com o ataque da Christine, a polícia não disse o que era? — Natalie o encarou.
— Foi um animal ou algo do tipo. Ela perdeu muito sangue pelo que soube.
— Que merda!
— É uma grande merda. Ei, você vai fazer algo hoje a noite?
— Sim... — Não, ela não ia fazer nada a noite, mas preferiu mentir. Greg deixou os ombros caírem. O sinal tocou, anunciando o fim da aula, para o alívio de Natalie. — Te vejo amanhã. — Te vejo amanhã era a melhor forma da garota dizer que se importava, mesmo que pouco, com Gregory Smith.
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O sol estava quente, fazendo com que as garotas bebessem mais água que o costume. As The Storm se encontravam reunidas no gramado com os rostos vermelhos após um treino intensivo. Olivia queria experimentar a nova formação, principalmente agora que precisava de um bom empenho em equipe, mas tudo que teve foi decepção. As reservas pareciam perdidas, e se continuasse assim, o jogo estava perdido antes de começar. Quando a capitã do time pigarreou tomando a frente da equipe, todas pararam seus murmurinhos para ouvi-la. Natalie sentou na grama, sentindo a pele pinicar devido ao suor.
— Meninas, estamos iniciando o último ano no colegial e com isso, estamos indo para as finais do campeonato, ou seja, as estaduais. Esse último jogo irá custar o que queremos para o futuro e a sorte não está ao nosso favor. — Olivia fez uma pausa dramática. — Nossa colega, Christine, foi atacada por um animal selvagem e está internada, ela se encontra fora de perigo, mas sem previsão de alta. Chris é um pilar importante para a equipe, mas acredito em todas vocês. Por isso, devemos permanecer juntas, esse momento é fundamental para termos uma chance de vencer o campeonato. Então preciso que todas colaborem e se empenhem ao máximo.
— Já estamos fazendo isso, jogando como uma equipe. — Natalie ergueu a voz para ser notada.
— Ainda não é o suficiente. Eu vi o treino de fora, e vocês estão perdidas, realmente sabem jogar futebol? — Olívia levou as mãos para a cintura.
— Precisamos de tempo para melhorar. As meninas do banco de reserva chegaram agora. — Natalie levantou. Anos atrás, havia passado pela mesma cobrança abusiva quando entrou para o time, por isso, não deixaria que isso se repetisse com as novatas.
— Elas irão melhorar, não é? — Olivia lançou um olhar aterrorizante para as garotas. Natalie soltou uma risada nasal.
— Desculpa, mas agora é você que parece egoísta...
— Estamos sem nossas duas melhores jogadoras no time. — Olivia deu um passo para frente. — Não é egoísmo, é a realidade.
— A Liv tem razão. — Aurora Flaningan, a goleira, falou. Seu cabelo cacheado estava preso no alto improvisadamente e sua pele brilhava devido ao suor. — Se continuar assim, estamos fodidas. E já estamos sem nossas melhores jogadoras.
— Bem... — Natalie cruzou os braços. Ela não queria falar sobre Charlotte Matthews, não enquanto ainda se questionava do ocorrido da noite passada.
— Bem o quê? — Olivia perguntou. Natalie deu de ombros.
— Nada, eu só pensei em uma coisa. — Natalie percorreu o olhar por cada integrante do time. Não sabia até quando poderia guarda o que tanto queria falar. Talvez, se usasse toda a sinceridade em dizer que Charlotte estava de volta, uma parte sua até acreditaria nisso, e consequentemente, suas colegas também. Isso iria ajudá-las também. Lottie poderia ser uma menininha irritante e mimada, mas sempre foi uma boa jogadora. — Eu acho que ontem... bem... é meio louco dizer isso em voz alta, acreditem, eu estou tentando me convencer disso o dia todo...
— Fala logo! — Rory disse.
— A Charlotte... ela... é... — Natalie colocou uma mecha de cabelo para trás, se preparando para dizer as próximas palavras. — A Charlotte voltou, ela esteve ontem na minha casa toda estranha e depois... depois ela sumiu.
Silêncio. Natalie poderia dizer que ouviu somente os pássaros cantarem, mas eles estavam estranhamente silenciosos. Então pode ouvir apenas as respirações ofegantes das garotas a sua frente. Elas se encararam antes de voltar a atenção para Olivia, que parecia em choque com a informação.
— É impossível, ela sumiu faz três meses. — Janine, uma das reservas, se mexeu inquieta no gramado, levantando um murmurinho entre todas as garotas.
— E por que ela ia à sua casa? — Rory perguntou com a sobrancelha arqueada. Essa era uma pergunta à qual Natalie adoraria saber a resposta. O murmurinho cresceu ainda mais. Natalie se sentiu desconfortável, sabendo que nenhuma das colegas acreditava em suas palavras. Ela deveria ter ficado quieta, ter dito aquilo não fez nenhuma diferença.
— Certo, meninas, meninas. — Olivia tentou apaziguar a situação lançando um olhar feio a Nat, que cruzou novamente os braços chateada com a desconfiança. Quando finalmente conseguiu o silêncio, voltou a falar. — Nat, se a Lottie voltou, então, por que não nos procurou? Os pais dela deveriam ter informado as autoridades também, certo?
— Eu não sei, mas ontem Charlotte Matthews esteve na minha casa e precisamos dela na equipe para vencer as finais. Talvez ela volte para escola ou sei lá...
Olivia conhecia bem o instinto de competição de Nat, assim como seus problemas com coisas ilícitas. Aceitá-la no time ainda no primeiro ano não foi do seu agrado, visto que os problemas cercavam a garota sempre que podia. As The Storm carregavam uma boa reputação e Natalie não tinha a melhor fama. No entanto, seu desempenho em campo só crescia, e por conta disso, permitia que ela ficasse pelo tempo que fosse necessário. Entrar para o time também foi uma chance de fazer com que a garota problema andasse mais na linha. Porém, Olivia percebia agora que havia dado um novo vício a Scatorccio e que deveria cortar o mal pela raiz quanto antes. Charlotte Matthews estava desaparecida há três meses e era impossível surgir mágicamente na casa da garota que ela mais implicava. Isso tudo só significava que Natalie estava provavelmente envolvida com drogas ainda mais pesadas, e se fosse pega usando entorpecentes durante as competições, todo o time seria punido.
— Nat, acredito que você precise de um descanso. — Olivia apoiou a chuteira na bola. Natalie a encarou com as sobrancelhas escura erguida. — Vai ficar de fora dos treinos por algumas semanas, mas prometo que voltará antes da final, me prometa também que ficará longe das bebidas e das drogas.
— Você não pode me tirar do time logo agora! — Natalie deu passos até Olivia, que balançou a cabeça com a decisão tomada. — É sério? Vocês irão concordar com isso? — Nat olhou em volta. Nenhuma de suas colegas se opuseram diante da decisão da capitã. A loira sorriu com escárnio, voltando ao seu antigo lugar para pegar a mochila. Antes de ir embora, ergueu o dedo do meio no ar e gritou suas últimas palavras. — Vão todas se foder, suas cuzonas, eu pensei sermos uma equipe, mas você são umas... — Preferiu não completar a frase, ou se irritaria ainda mais.
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Como um furacão, Natalie passou por Gregory Smith, ignorando completamente sua presença no corredor quase vazio. Greg correu arrumando os óculos grandes no rosto, mas era quase impossível alcançar a figura mediana que se encontrava furiosa por algum motivo. Seu cabelo loiro e repicado pulava um pouco abaixo dos ombros, em alguns momentos era possível notar sua raiz escura manchada. Greg conheceu Natalie no segundo ano, na época, ela usava o cabelo naturalmente escuro e longo, mas foi nas últimas férias de verão que ela optou por radicalizar o visual e aderir um estilo ainda mais rebelde. Não importava como Natalie queria aparecer na sociedade, Gregory sempre acharia ela a garota mais legal do mundo. Só era uma pena que ela jamais fosse achar o mesmo dele.
— Nat! — O garoto tentou alcançá-la.
— Me deixe em paz, Greg! — Natalie vociferou por cima do ombro. Ela ainda usava o uniforme do time, um tom de azul royal e amarelo canário que se destacava em sua pele absurdamente pálida.
— Você precisa parar de afastar as pessoas, Natalie. — Greg disse alto, parando no meio do caminho. Na maioria das vezes, era exaustivo lidar com Nat suas constantes mudanças de humor.
— Certo, o que quer?
— Aconteceu algo no treino? — Greg perguntou. Natalie acenou com a cabeça. Estava segurando a vontade de chorar e gritar de raiva. — E então, está tudo bem?
— Estou fora do jogo por alguns dias. — Natalie respondeu secamente.
— Ah! Nat, isso é péssimo!
— Sabe o que é pior? — Nat o encarou com um sorriso irônico de lado. Greg negou com a cabeça. — Acham que estou louca ou que as drogas fritaram meu cérebro. Olivia, a senhorita perfeita, queria um motivo para me tirar dos jogos, e eu dei um abrindo minha boca.
— Como assim abrindo sua boca?
— Ontem a noite, a Lottie Matthews esteve na minha casa de um modo assustador.
— A Charlotte? Ela voltou?
— Pelo que parece, sim.
Gregory gostaria de acreditar nas palavras de Natalie, por isso não demonstrou desconfiança. Ao invés disso, ofereceu uma carona a ela até em casa, a fim de entender melhor toda a situação. Durante todo o caminho, ouviu atentamente tudo que Natalie tinha a dizer da sua experiência da noite passada. E após imaginar todo o cenário digno de um filme de terror, concluiu que talvez a amiga não estivesse errada. Por mais louco que fosse, ele acreditou fielmente que Charlotte Matthews estava de volta.
Em casa, Natalie preferiu relaxar em frente a TV antes que seu pai chegasse bêbado após mais um expediente de trabalho. Uma parte sua se sentia tranquila em ter compartilhado o que estava guardando o dia inteiro, ao menos Greg pareceu acreditar em sua história maluca da noite passada. Ainda estava irritada pela injustiça do time, mas sabia que não demoraria muito para Olivia implorar para ela voltar aos jogos, e então seria sua vez de se vingar do que havia passado. O filme que passava na TV acabou, dando início ao noticiário. A garota estava prestes a sair da sala quando ouviu algo sobre a floresta.
— Natalie, aumente a TV. — Sua mãe, sentada na poltrona com uma xícara de chá, pediu. Natalie obedeceu, aumentando mais um pouco o volume da TV.
"Hoje pela manhã, a polícia encontrou um corpo sem vida de um homem de meia-idade na reserva, há mais ou menos trinta quilômetros da cachoeira. Com ferimentos graves e sem sangue, a polícia suspeita ser um ataque de animal. Ontem a noite, houve um caso parecido, quando uma estudante do ensino médio foi atacada ao sair de uma festa, felizmente ela está fora de perigo. Para sua segurança, as autoridades pedem que tranquem suas portas e evitem a floresta."
— Eu falei. Eu estava certa! — Vera balbuciou as palavras em choque. Suas mãos tremeram ao ponto de derramar o chá que estava na xícara. — Há algo ruim muito próximo. Eu posso sentir o cheiro de morte em todo lugar.
Natalie gostaria de acalmar a mãe e dizer que tudo não passava de um ataque de animal e isso acontecia em alguns momentos. No entanto, duas vítimas em uma mesma noite era coincidência demais. Talvez sua mãe estivesse certa mais uma vez. Algo perigoso estava rondando a cidade.
Gostam de capítulos grandes? Sinto que me empolguei aqui. Por favor, relevem os erros que encontrarem, um dia ainda serei uma escritora que domina o português haha, o importante é compreenderem o que o cap quer passar, aliás, quais são as teorias? ♥
Gratidão por todos os favs, leituras, comentários ♥
A fanfic tem paylits feita e o link ta no carrd do meu perfil, vai lá!
CAPITULO ATUALIZADO: 20/01/2024 - NÃO REVISADO
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