⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨
ERA VÉSPERA DE ANO NOVO, as ruas estavam cheias de pessoas esperançosas com as novas oportunidades que poderiam encontrar no ano que estava prestes a começar, deixando para trás todos os infortúnios do ano anterior. Todos na rua principal estavam tão focados em aproveitarem ao máximo os poucos minutos que restavam enquanto aguardavam pelo show pirotécnico que viria após a contagem regressiva, que não eram capazes ou se davam o trabalho de notarem a movimentação estranha na parte escura da cidade.
Uma jovem mulher corria apressada pelos becos desertos e mal iluminados. O penteado que havia escolhido com esmero para a data comemorativa havia desmanchado, deixando visível seus cachos ruivos que aos poucos ficavam cobertos com uma fina camada de neve. O gelo espalhado pelo chão e a falta dos calçados dificultavam sua corrida, fazendo com que escorregasse algumas vezes. Porém a grande quantidade de adrenalina emanada em sua circulação sanguínea impedia que pudesse sentir dor ou cansaço, estando determinada a lutar por sua vida até o último segundo.
Com um único salto a mulher de vinte e seis anos e um e sessenta e três de altura conseguiu agarrar a parte mais alta da cerca de metal, escalando o mais rápido que podia e caindo de quatro do outro lado, machucando assim a palma de suas mãos e rótulas do joelho. Sem tempo de notar os machucados, ela levantou cambaleando e correu para trás de uma pilha de caixas de madeira.
O suor escorria por sua face corada, levando com ele os últimos resíduos de maquiagem que existiam por ali. Chorando silenciosamente ela permaneceu no local, agachada atrás das caixas enquanto avaliava a situação que havia se metido. Ergueu a cabeça sorrateiramente, observando pelas frestas da madeira o portão por onde saltou. "Não demorara muito tempo para me encontrarem" Pensou fechando os olhos e rastejando para trás, colando suas costas na parede e sendo abraçada pela escuridão. Infelizmente não tinha para onde correr, estava encurralada.
Existia em seu coração uma pontada de esperança de que os tivesse os despistado ou que seus perseguidores tivessem desistido de matá-la. Infelizmente apenas o tempo seria capaz de dizer e, ali, um mísero segundo parecia durar uma eternidade. Dali era capaz de escutar, mesmo que baixo, o som animado das comemorações de ano-novo vindos da rua. Toda a festividade teria encantado o coração da ruiva em um momento menos assustador de seu destino, a própria estava prestes a ir em uma festa de réveillon antes de toda confusão dar início.
A falsa sensação de calmaria e todas as esperanças que possuía de sair viva daquela encrenca que se meteu foram desfeitas devido ao estrondo causado pelo estouro da cerca de tela. Ela levou a mão até a boca para impedir-se de gritar e encolheu os joelhos, tentando ficar o máximo possível fora de visão de seus perseguidores.
Foi apenas quando eles ingressaram no beco com passos pesados e pararam na parte iluminada pela luz da lua que a jovem conseguiu reparar do que estava fugindo. Eram dois algozes, ambos utilizavam ternos pretos que contrastavam com as máscaras animalescas coloridas que escondiam suas feições.
— Sabemos que está aqui, Evita.
A voz gélida de sua perseguidora soou assustadoramente perto de onde estava escondida e o fato de saberem seu nome tornavam as coisas mais apavorantes, fazendo os pelos do seu corpo arrepiarem até o último fio. Eles sabiam quem ela era, aquilo não tratava de um fato isolado, mas uma encomenda de assassinato que, com certeza, tinha a ver com as coisas que descobriu.
Eles trocaram sinais com a cabeça e rapidamente começaram a empurrar as latas de lixo, caçambas e outras pilhas de madeira, estando determinados a encontrarem Evita o quanto antes e assustando ainda mais a mulher. O algoz com máscara de urso foi responsável por tirar a ruiva do esconderijo. Para evitar ser esmagada pela enorme pilha de madeira e sem tempo de raciocinar sobre melhores opções de encarar a morte, ela rolou para o lado, revelando a localização que tanto sofreu para manter em sigilo.
Antes que ela pudesse fugir pela segunda vez, o homem com máscara de urso a segurou pelo braço fazendo força e deixando marcas roxas no formato de seus dedos sobre a pele branca. Ela começou a se debater numa tentativa falha de fugir, seu corpo tremia de medo, frio e desespero.
— Eu não sei o que vocês... — Evita começou a falar, mas foi interrompida por sua perseguidora. Com toda força que a mulher possuía, ela deferiu um soco sobre a boca do estômago da jovem, fazendo-a perder o ar e urrar de dor.
A mulher prosseguiu com os socos contra o corpo de Evita, tentando faturar a força do anterior e fraturando inúmeros ossos da ruiva. Parou apenas quando notou que ela não possuía mais forças para gritar ou fugir.
— Espera! — Gritou Evita com o máximo da força que conseguiu juntar quando viu a retirando a pistola do coldre.
— O que? — Perguntou a mulher apontando a arma diretamente para a menina caída no chão.
— No rosto não — Sussurrou Evita sorrindo com a boca ensanguentada.
— Que assim seja.
Como se tivesse sido cronometrado, a arma foi disparada no mesmo instante que fogos de artifício iluminaram os céus anunciando a chegada no novo ano. A garota sorriu com a estranha coincidência, não sentia mais dor e aos poucos a sonolência lhe tomava. Seus olhos estavam fixos no show pirotécnico que acontecia nos céus, aproveitando cada detalhe enquanto a morte lentamente a abraçava. No fim estava em paz, pois logo encontraria com seus ídolos e entes queridos do outro lado, descobrindo finalmente um dos mistérios da vida.
Ou pelo menos era o que achava.
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