
chapter four
[Capítulo quatro.
HIGTON.]
Nikitta Sokolovski
Acordar de ressaca em um domingo e cheia de dor de cabeça não é algo que me aconteça com frequência. Não me lembro de quando cheguei em casa ou o que houve depois do barril de cerveja. Ah, o barril de cerveja. Deve ser por isso que eu necessito tanto colocar tudo o que ingeri nas últimas horas para fora. Abri os olhos remelados e me sentei em minha cama, dando de cara com meu reflexo despenteado no espelho.
— apavorante. – murmurei em minha voz rouca e baixa.
Só um banho me salvaria agora. Foi o que eu pensei antes de entrar no chuveiro, vomitar todo o líquido da noite passada e ficar com a bunda na cerâmica gelada e molhada enquanto a água caia em meu rosto. Sentia todo o meu corpo pedindo por socorro enquanto uma faísca de disposição se esvaia de mim. Era como se eu estivesse em uma discoteca e as luzes girassem sobre minha cabeça.
E para me salvar dessa minha quase morte, alguém – que eu presumo ser a tia Anastasya, bateu discretamente na porta do banheiro. Bateu outra vez ainda mais forte quando não obteve respostas. Enquanto eu só queria conseguir me colocar de pé sem ajuda, tia Anastasya esmurrava a porta ao lado de fora. Sem mais paciência, ela resolve ignorar o meu direito de privacidade e arrombou a porta com um feitiço.
— acabou de ir contra as normas da casa. – resmunguei meio embreagada enquanto apalpava o box. — eu vou notificar.
— levante desse chão, Nikitta! – ela me ordenou, não parecia amigável. Se enfiou junto comigo em baixo do chuveiro e me puxou para cima. — pode notificar o quanto quiser, eu ainda estarei certa em ir contra as regras se achar necessário.
— eu estou bem, tia Anastasya! – afirmei, mas infelizmente meu pé deslizou e eu só não caí de costas porque ela me segurou pelo ombro. Bufei ao me firmar novamente, buscando por uma toalha para cobrir meu corpo desnudo. — tudo bem, mas isso foi coincidência.
Titia me observou alcançar a toalha e a enrolar em meu corpo, ainda bem desconfiada.
— vejo que sua noite foi bastante agradável. – ela diz ao me dar um de seus olhares sugestivos. — e então, o que rolou?
Resmunguei antes de parar em frente ao espelho de minha pia, buscando por creme dental e minha escova para a higiene.
— conheci a namorada do Billy, fiz três novos amigos, bebi cerveja de cabeça para baixo por... cinco minutos? Eu não me lembro agora, mas deve ter sido. Você sabia que este é o recorde desta cidadezinha? Que mixuruca.
Ela me encarava incrédula, talvez pelo fato de eu ter bebido tanta cerveja em tão pouco tempo. Eu nem mesmo bebi mais nada depois da aposta, aquilo foi o suficiente para me embreagar pelo resto da noite e me fazer querer morrer pela manhã. No fim, foi tudo bastante divertido e... oh não.
— eu apostei com o garoto da sorveteria, titia. – um sorriso bobo surgiu em meus lábios. Bobo até demais. — ele perdeu e será obrigado a me dar sorvete de graça por cinco meses, além da carona e o nosso possível encontro que eu ainda não decidi se vou acrescentar à cláusula.
Ela me olhou em desconfiança, mas logo sorriu como quem estava prestes à zombar ou me dizer que eu sou uma garota muito atrevida. Deu tapinhas em minhas costas ao engolir seu riso a seco.
— bem, então a ressaca deve ter sido por uma boa causa. – ironizou ao me deixar para trás. — trate de se manter de pé, eu tenho um jantar hoje à noite.
Bom, aquilo sim era uma novidade para mim. Foi como se eu me curasse de quaisquer resquícios de ressaca naquele momento. A segui pelo corredor enquanto segurava a toalha ao redor de meu corpo, molhando todo o trajeto com os pingos de água que insistiam em escorrer de meu cabelo.
— um jantar tipo, um encontro? Você tem um encontro? Com quem, quem é que vai jantar com você?
— vai com calma, Sherlock. É um encontro, sim. – sorriu em timidez. Arregalei os olhos, abrindo a boca em um perfeito O. — eu conheci um cara no mercado enquanto comprava Waffle's, ele é da polícia. Nós vamos ao restaurante hoje e você vai ficar em casa com o seu irmão enquanto eu transo com um bonitão.
— ai, tia Anastasya, por Vellimg. – finjo ânsia enquanto ela ria. De qualquer forma, isso é nojento. — eu não preciso saber disso, wew.
— anime-se, meu amor, ganhou uma aposta noite passada.
[. . .]
O dia lá fora estava indo embora e tia Anastasya havia acabado de sair em seu carro, perguntei por quê o cara policial não veio buscá-la e ela me respondeu que era independente e poderia dirigir até seu encontro sozinha. Bruxas, sempre provando seus valores. A porta da frente bateu e eu me virei para ver quem entrava.
— relaxe, somos apenas nós. – Drey diz, estava com Max, como sempre.
— eai, Nikki! – a ruiva diz, veio até mim e beijou minha bochecha, se jogando em nosso sofá. — o que estava vendo?
— filme pornô entre mulheres. – ela arqueia as sobrancelhas, me fazendo gargalhar. Andrey finge ânsia, indo para a cozinha. — era um programa de tevê, mas estava chato e agora estou atrás de algo bom o suficiente para prender minha atenção pelo resto da noite.
— tenta o pornô entre mulheres, aposto que é mais interessante do que qualquer filme que esteja passando nas televisão. – ela deu de ombros, levantando. — Drey e eu vamos baixar novas músicas para nossos walkman's.
— Fiquem à vontade, estarei aqui em baixo a noite toda, é mais perto do banheiro e da cozinha. Seu irmão está tão acabado quanto eu? Por favor, diga que sim.
Ela riu em escárnio, sei bem o que significa. Billy não costuma sentir as consequências de uma noite repleta de bebidas, se bem o conheço ele nem deve estar em casa agora.
— Ele saiu hoje mais cedo, me disse um breve "diga que saí com amigos" e foi embora, batendo a porta. Eu acho que deve estar com a namoradinha.
— Urgh, e eu aqui, cuidando de adolescentes. – Praguejei em ironia, mas ela ri e balançou os ombros.
Max e Andrey não demoraram muito no andar de baixo, logo subiram e passaram o restante da noite em silêncio, baixando suas músicas deprimentes. Sempre foram assim, excêntricos, se escondendo o quanto podiam dentro de uma casa, privando tudo o que conseguiam do mundo lá fora. Não sei bem como funciona essa amizade, se é que não passa só disso... vai ver estão se agarrando dentro daquele quarto e eu nem notei. Mas acho que não, afinal Max tem um namorado que vai e volta muitas vezes, pelo menos foi o que meu irmão me contou.
Me debruço no sofá claro ao pensar que crianças tem uma vida amorosa mais ativa de que eu, uma jovem adulta. Mas a minha auto depressiação não durou por muito tempo, pois por volta dás sete o telefone sobre a mesinha ao lado do sofá tocou. Me estiquei para atender em rapidez, pensando que poderia ser tia Anastasya com algum problema. Talvez tenha acontecido algo que custou sua identidade e ela tenha perdido o controle, nunca se sabe.
— Alô? – Mas fiquei surpresa ao não ouvir a voz de minha tia responder. Ao invés disso, era uma voz um tanto grave e masculina.
— Eai, Sokolovski! – Steve Harrington diz ao outro lado da linha. Congelei por um segundo, o coração palpita mais rápido e ouço sua respiração pesada. — Espero não estar atrapalhando sua noite.
Certo, eu só preciso ignorar todo meu nervosismo e ser capaz de produzir uma voz normal para respondê-lo. É algo fácil, não? Sou perfeitamente capacitada para algo assim, eu não sou uma idiota.
— Hey, Haguirriton.! – DROGA, mas o que foi isso? Ok, eu só preciso corrigir. — Nossa, Harrington. Desculpe, ainda estou com a língua enrolada desde ontem.
Ótimo, uma ótima desculpa. Ponto para Nikki, por ser inteligente o bastante para contornar uma situação embaraçosa. Ouço o riso rouco de Steve, me parecia muito sóbrio e sem ressaca, pelo menos o fiz rir. Não entendo como um garoto que conheci há dois dias está fazendo isso comigo, é loucura.
— Ei, isso não é justo, o seu nome é bem mais complicado de que o meu e eu o pronunciei corretamente. – Implicou, tentando parecer chateado. A única coisa que conseguiu foi meu riso sincero. — Certo, eu posso deixar essa passar, mas não o erre novamente, em?
— Anotado, Higton. – O sobrenome incorreto saiu com a intenção de o provocar, e eu consegui. Steve bufou falsamente, o riso nasal soprando contra o telefone logo em seguida. — Onde conseguiu meu número, perdedor?
— Você me passou, não lembra? — Indagou em confusão. Não, eu não lembro de nada que aconteceu depois do segundo barril de cerveja. — Ah, então eu não deveria ter ligado. Mas tudo bem, porque eu também não lembrava e acabei encontrando o papel no bolso da calça hoje à tarde... estou te atrapalhando? Droga, eu espero que não.
Eu ri, ri porque seu desespero e nervosismo parecia fofo ao telefone. Steve Harrington estava nervoso por falar comigo, dá pra acreditar? Eu quem deveria estar, ele é um gato. Enrosco o fio do telefone em meus dedos enquanto me sento corretamente no sofá.
— Não, tudo bem, na verdade eu estava para enlouquecer de tanto tédio. Minha tia saiu para um jantar e... bem, estou de babá para o meu irmão não incendiar a casa. – Literalmente, Drey é um perigo para todos e até para si mesmo. — Mas, eai, como vai a ressaca aí do outro lado?
— Ah, qual é, linda, eu sou bom demais para pegar ressaca. – ele mentiu, e, de certa forma, meu coração pula de alegria ao ouvir o apelido que me profere. Meu riso ecoa a linha, encobrindo o fato de eu estar vermelha feito tomate agora, ressaltando apenas o quanto eu acho que aquilo é mentira. — Certo, você venceu, eu estou morto aqui.
Nunca bebi tanto e acho que deveria ser proibido a competição do barril de cerveja.
— Ora, não seja tão rigoroso quanto a isso. – Ri, o achando muito legal. Steve do telefone era tão atraente quanto o de pessoalmente. Até porque, por telefone todos são mais soltos. — É uma brincadeira muito legal, a minha favorita.
Seu riso me arrepia, fazendo-me notar o quão tolo aquilo parecia. Estou caidinha por um cara que eu só vi duas vezes, é mole? Nunca me atrai tão rápido assim por alguém, no mínimo levariam cinco ou seis dias para que eu sentisse algo por Steve, mas não, foi instantâneo. Assombroso.
— Sua favorita? – Ele soa assustado e brincalhão. — Sério, você não é uma garota normal. É a mais legal de todos os tempos, não dá pra acreditar que você seja uma pessoa real. – Suas palavras continuam me fazendo rir feito idiota, mas eu não me incomodo com isso agora. — Juro pra você, linda, você deve ter saído direto dos meus sonhos.
— Essa sua técnica de impressionar garotas por telefone não tem funcionado? Ela realmente é muito boa. – Rebati, na defensiva. Ele pode estar sendo muito legal agora, mas não esqueci do que as garotas me contaram sobre ele na festa. Steve é um galinha. — É sério mesmo que as garotas estão resistindo todo esse papinho torto e atraente?
A linha telefônica ficou muda por alguns segundos, sendo capaz de transmitir apenas a respiração do Harrington e o riso rouco e sem graça que veio logo em seguida. Eu assustei ele?
— Eu não ligo para elas no meio da noite de um domingo, nenhuma me foi tão atraente assim. Até agora. – E agora sou eu quem estou calada, em êxtase com sua fala. O que isso deveria significar? Droga, eu pareço uma adolescente por completo agora. — Ei, o que acha de irmos jantar fora amanhã, depois do trabalho? Afinal, sou sua carona por alguns meses mesmo.
Seu jeito faceiro de voltar a uma conversa e se safar do que acaba de dizer é impressionante. Steve Harrington realmente me é atraente, por completo.
— Eu sou vizinha da frente do Billy, me pega às sete da manhã e vemos se o jantar rola. Até amanhã, Higton.
Usar o sobrenome errado é algo que farei com frequência agora, apenas para ouvir o riso rouco que ele solta toda vez que o faço. Não espero por sua resposta, desligo o telefone. Parece que tenho um encontro.
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