❆ 𝟎𝟎𝟏 ❆
Manhattan estava tumultada desde manhã. Muitas pessoas deixaram para fazer as compras encima da hora, transitando pela cidade apressadas, em busca dos presentes perfeitos.
A Baldwin Confectionery estava cheia, muito mais que o habitual, deixando Eleanor ainda mais nervosa em poder atendê-los bem e rápido. Monica e Jake eram ágeis e os dois únicos funcionários.
Monica Green era uma jovem confeiteira, como Eleanor, de 25 anos, e começou recentemente pois a mulher já não aguentava trabalhar sozinha na cozinha.
Jake Geller, 30, era o melhor amigo de Eleanor desde a época da escola. Apoiou o projeto da confeitaria e vinha cuidando do caixa até então. De vez em quando, realizava entregas quando a Baldwin não podia.
A empresária não conseguia respirar direito por conta da agenda lotada e alguns pedidos reservados para aquela semana.
Assim que voltou de mais uma entrega, caminhou direto para seu escritório, sendo seguida por Jake. Jogou-se em sua cadeira e massageou suas têmporas, desejando dormir ali mesmo.
— Você precisa de férias.
— Eu preciso realizar as demais entregas.
— Não, não. Você precisa descansar, Lea. Já faz muito tempo que não tira um tempo pra você.
— O que quer dizer com isso? — Viu o sorriso travesso do amigo aumentar, sabendo que viria mais uma piada.
— Você está horrível. Está mais cansada que eu, e olha que é rica.
— Ah, cala a boca. Eu trabalho muito.
— Exato. E é neste ponto que entrarei, como sua família. — Viu-a reclamar e riu baixo. — Lea, você precisa ir com calma e relaxar.
— Não preciso.
— Certo. Quando foi a última vez que curtiu ouvir os coralistas?
— Ontem?
— Natal de 2017.
— Jake...
— E quando tirou um tempo só para você? Para dizer "Olha, eu existo."? Como diz sua irmã, você está parecendo um robô.
— Não faça isso... — Pediu, já prendendo o riso com a imitação do rapaz.
— Eu. Sou. A. Eleanor. Baldwin. E. Não. Paro. De. Trabalhar.
— Para!
— Eu. Preciso. De. Férias.
— Jake.
— Eu concordo com você, Lea. Precisa mesmo de férias. — Respondeu, sarcasticamente.
— Eu não irei tirar férias até terminar meu trabalho.
— Eleanor, depois de amanhã é Natal. O fim de mais um ano está chegando. Você acumulou alguns aninhos sem tirar férias. Não acha que já está na hora?
— Essa confeitaria precisa de mim, Jake. E ainda tem o aniversário da Rachel...
— Essa confeitaria tem à mim e Monica. Ela pode ficar sem a chefe por um tempinho. E quanto ao aniversário, por Deus, Lea! Você é a amiga da aniversariante! Não pode trabalhar, sabia? Deve curtir e festejar com a família. Tudo dará certo.
— Você é um chato.
— Amo você também. Agora, não se preocupe. Irei realizar o restante das entregas. Você pode fechar a loja e ir para casa.
Viu Jake sair e suspirou, encontrando o porta-retrato em sua mesa com ele e sua irmã esmagando-a em um abraço. Os três eram inseparáveis na escola.
Apesar de Madison ser a mais nova entre os dois, estando em algumas séries anteriores, eles jamais a excluíram e passavam o tempo juntos. Desde a entrada, intervalo e saída.
Sua família costumava brincar de que a caçula passou a perna na mais velha por estar casada e com uma linda filha de 4 anos.
Não era como se Eleanor não quisesse casar também, longe disso. Ela queria construir sua família, só não tinha tempo e um pretendente que a merecesse.
Não era qualquer um que tinha a "honra" de estar na presença da mulher e ela conseguia ser bem seletiva. A pessoa deveria ser romântica, mas não melosa; apreciar sua independência, seu crescimento; ter um excelente senso de humor e ser humilde.
Nunca encontrou e por isso, a desanimou em continuar tentando para não atrapalhar seus negócios. Se fosse para acontecer, ela nem estava mais importando-se.
Saiu de sua sala, trancando-a e deu um checkup na cozinha, não encontrando nenhuma sujeira e nenhum eletrônico ligado. Olhou o relógio em seu pulso e viu que já era tarde.
Trancou-a também e virou-se ao caixa para dar a última checada. Jake já havia entregado todas as encomendas do dia e guardou a chave do carro na gaveta. Com isso, ela podia fechar o estabelecimento e ir para casa.
Só não contava com o sino na porta. Prendeu a respiração e soltou-a lentamente, fechando os olhos e tentando não reclamar de cansaço.
— Estamos fechados.
— Oh, eu só queria um bolinho. Parece que cheguei atrasado.
— Pois é. Volte amanhã e terá seu bolinho, senhor.
— Mesmo eu querendo comer agora? Oh, querida, trabalhei o dia todo e estou com fome.
— Trabalhei o dia todo e estou cansada. Mas tudo bem, não te negarei comida. Fique à vontade. — Abriu o enorme vidro do mostruário e cortou um pedaço da torta de maracujá, pegou um bolinho de chocolate e foi fazer um café fresco para servi-lo, como pedido.
— Você não parece cansada por ter trabalhado o dia todo, minha jovem. E essa torta é uma delícia! Entendo o sucesso que essa confeitaria tem.
— Como assim?
— O seu semblante é de uma pessoa cansada da vida. — Retomou o comentário, sabendo sobre o que ela perguntava. — Pode estar feliz em ter a sua empresa, mas pode estar deixando passar sua vida pessoal.
— Não estou deixando minha vida pessoal passar.
— Por que cancelou o compromisso com sua irmã hoje?
— Porque... Espera aí. Como o senhor sabe?
— Ah, minha jovem, eu sou o Papai Noel e sei de tudo. Sei que já faz algum tempo que não se diverte, que não sai com seus amigos e nem mesmo, que não aprecia o momento sozinha. Só pensa em trabalho, trabalho e mais trabalho. Sua família sente a sua falta.
— Okay... Isso é estranho. O Papai Noel saber da minha vida e dar uma de conselheiro. Desculpa, mas é estranho. Nem sou mais uma garotinha.
— Não, não é. É uma mulher adulta, formada e independente. Seus pais têm muito orgulho da filha que criaram. Mas que tal deixar um pouco as obrigações de lado e curtir os anos que você tem de vida como se não fosse os ter mais? Um novo amor?
— Sem tempo, Papai Noel. — Revirando os olhos, foi lavar a nova louça que estava suja.
— É exatamente isso que estou falando. Conhece aquele ditado "antes tarde do que nunca"? Do mesmo jeito que cheguei atrasado torcendo para ser atendido, o amor também chegará e estará torcendo para também ser. Você terá uma chance, apenas. Irá rejeitá-lo novamente?
— Mas que baboseira é essa, Papai... — Voltou para o caixa e não o encontrou mais. — Noel? Ué, nem o ouvi ir embora.
Pegou o dinheiro deixado no balcão e o guardou, lendo a cartinha que também foi deixada ali para ela. Estranhou o momento mais ainda e decidiu ignorar.
Sua curiosidade estava alta e ela não conseguiu segurar um palavrão, abrindo a carta apenas para sanar sua curiosidade e jogar fora.
"Para: Eleanor Baldwin.
O Natal chegou e é uma época mágica onde todos os pedidos podem realizar-se. Sei que está ficando cada vez mais cética e viciada em seu trabalho, mas que tal aceitar o meu presente? Você só tem uma chance.
Faça diferente.
Com amor, Papai Noel."
— Mas hein? Que doido.
Jogou fora a carta e pegou sua bolsa para ir embora. Abriu a porta, sentindo algo diferente e decidiu ignorar. Trancou-a e quando foi virar-se para chegar ao carro, escorregou com a fina camada de neve no chão e caiu, batendo a cabeça.
Só pôde ouvir a famosa risada do Papai Noel, antes de apagar.
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