𝚎𝚒𝚐𝚑𝚝𝚎𝚎𝚗
— Baji e... Chifuyu? — Mitsuya perguntou, pausadamente, ainda com os olhos arregalados, observando a cena dentro do quarto.
Além do platinado, Mikey e Draken tinham a mesma expressão de surpresa nos rostos. Você nem tinha reação, sem ter a menor ideia do que fazer para ajudar Keisuke. O moreno sempre deixou extremamente claro a insegurança que tinha em contar aos amigos sobre a orientação sexual dele. Por isso, você nem conseguia imaginar o quão desesperador estava sendo para ele, principalmente pelos amigos descobrirem dessa forma.
Em um relance, os seus olhos encontraram com as íris douradas, que suplicavam por ajuda. Você moveu os seus lábios para falar alguma coisa, mas nenhum som saia deles.
Eram poucas as vezes em que você não conseguia ter nenhuma reação. Mas, ao ver o olhar desesperado de Baji, sua mente simplesmente resolveu parar de funcionar e você não tinha nem ideia do que fazer para amenizar a situação.
— Pelo menos coloquem uma roupa — A voz de Kazutora quase fez você pular de susto de onde estava. O homem de mechas loiras deu um passo para frente e fechou a porta do quarto de Keisuke novamente. Quando ele se virou para os amigos, viu que todos eles estavam com as sobrancelhas franzidas — O que foi? Não querem ver eles pelados, querem? — Brincou, dando de ombros.
— Você sabia disso? — Mikey perguntou, sem nem tentar esconder o tom irritado.
— Sabia — Pela primeira vez na vida, você viu Kazutora sério — Baji é meu melhor amigo, claro que um dia eu descobriria.
— E por que não contou pra gente!?
— Se Draken te pedisse pra guardar um segredo, você contaria, Mikey?
O comandante arregalou levemente os olhos, não respondendo de imediato. Estava nítido nos rostos de cada um daqueles três que eles estavam putos. O medo de eles não aceitarem Baji ser gay começou a assolar a sua própria mente. Keisuke tinha se tornado o seu melhor amigo. O que você faria se ele fosse expulso da Touman?
— Isso não é pouca merda, Kazutora — Dessa vez, foi o platinado quem disse, no mesmo tom que Mikey tinha falado — Isso é muito sério, cara!
— Ele ser gay é tão importante assim!?
— É claro que é — Draken era o único que falava em um tom de voz baixo, mesmo que nem um pouco calmo. Seu coração apertou quando percebeu que nem o seu namorado estava lidando bem com essa informação — Você sabe o quanto isso é importante.
— Então vão expulsar o Baji da Touman só por causa disso? — A pergunta de Kazutora fez Mikey abrir a boca para responder, quase que imediatamente, mas o barulho da porta se abrindo fez todos eles se calarem.
Seus olhos acabaram encontrando com as íris douradas de Keisuke, que estavam mais tristes e preocupadas do que nunca. Mesmo assim, ele não olhava de volta nos seus olhos, mas sim para o comandante, lutando internamente para não desviar.
— Podem entrar já — O tom de voz dele era firme e sem vacilos, mas mal vocês sabiam do enorme esforço mental que o moreno estava fazendo naquele momento.
Antes que alguém pudesse responder, Baji se virou e entrou no quarto novamente, deixando a porta atrás de si aberta. Ainda relutante, você ficou parada onde estava, só se movendo depois que os quatro homens passaram na sua frente e entraram primeiro, sendo seguidos por você logo atrás.
O clima tenso era nítido e você tentava tirar a ideia de Keisuke ser expulso da Touman da sua cabeça. Aqueles homens eram como irmãos, nunca poderiam expulsar um deles só por causa da orientação sexual. Não é?
Mesmo querendo se convencer disso, você sabia como o assunto de homossexualidade era delicado entre os membros de gangues. Algumas delas realmente expulsavam o membro por causa da orientação sexual. Você não conseguia acreditar que eles fariam algo do tipo, principalmente Draken, mas as expressões nos rostos deles diziam outra coisa.
Claramente, cada um deles estava completamente puto.
Kazutora tentava manter uma expressão neutra no rosto, escondendo a tensão por trás disso. Chifuyu estava sentado em cima da cama, já completamente vestido, de cabeça baixa, sem ousar olhar nos olhos de ninguém.
— Certo — A voz de Baji quebrou o silêncio ensurdecedor que havia sido estabelecido no cômodo, fazendo todos os olhares nervosos se voltarem para ele — Pra começar, sim, eu sou gay.
— E você? — Mikey perguntou, sério, depois de virar o rosto para encarar as íris azuis de Chifuyu, que arregalou os olhos, assustado.
— Eu sou bi.
— A quanto tempo isso tá rolando? — Foi a vez de Mitsuya perguntar, cruzando os braços na frente do peito.
— Que a gente tá ficando? — Depois de receber uma confirmação do platinado com a cabeça, Keisuke continuou a falar — Uns sete meses.
— E a quanto tempo você sabe que é gay?
— Mais de quatro anos.
— Puta merda — Draken sussurrou, junto com um suspiro, pouco antes de fechar os olhos com força.
A conversa não estava tomando um rumo agradável e você sabia muito bem disso. O medo e nervosismo de Baji sofrer nas mãos deles apenas pela orientação sexual gritavam na sua mente e a única coisa que você queria fazer era socar o rosto daqueles três por estarem fazendo isso com o seu melhor amigo. E, quem sabe, você não socaria?
— Por que não contou pra gente? — O tom de Mikey era baixo e calmo, mesmo que exalasse muita raiva.
— Sabia que vocês iam reagir assim — O moreno deu de ombros, sem olhar nos olhos do comandante.
— Claro que a gente ia reagir assim — Agora, o loiro mais baixo basicamente gritava — E como é que você achava que a gente ia reagir?
— Acha que a gente só vai baixar a cabeça e deixar isso quieto? — Foi a vez de Mitsuya falar, ainda mais puto do que o outro.
— Você sabe que existem regras na nossa gangue, Baji, e, mesmo assim, você ignorou a mais importante delas — Por fim, Draken completou, fazendo você perder os últimos resquícios de paciência que ainda lhe restavam.
— Calem a porra da boca! — Seu grito foi o suficiente para atrair a atenção de todos os que estavam no cômodo, fazendo Draken, Mikey e Mitsuya arquearem as sobrancelhas, completamente surpresos — Eu não consigo acreditar que eu passei tanto tempo convivendo com vocês pra, no final de tudo, vocês serem só três imbecis — Primeiro, você virou para o mais baixo, que já havia superado a surpresa e olhava sério para você — Você é a porra do comandante! Como é que pode tratar um de seus capitães desse jeito!? — Depois, seu olhar se voltou para o platinado — Até onde eu sei, você é o segundo amigo mais antigo de Keisuke, além de terem feito o início da faculdade juntos! — Por fim, você virou para a última pessoa que você queria ver no momento — E, caralho, eu realmente não consigo acreditar que meu namorado faria uma merda dessas. Vocês três deviam ter vergonha! Sério mesmo!
— Do que caralhos você tá falando? — Mikey perguntou, falando mais alto do que você.
— Vocês vão mesmo expulsar Keisuke da gangue só porque ele é gay? — Sua pergunta fez os três se entreolharem por um longo tempo, até que eles franziram as sobrancelhas ao mesmo tempo.
— Expulsar? — Perguntaram, quase que ao mesmo tempo.
— Porra, eu sabia que você era maluca, mas não tanto — O comandante falou, revirando os olhos.
— Ninguém vai ser expulso da gangue, [Nome] — Foi a vez de Mutsuya explicar, com um sorriso divertido no rosto.
— Então do que vocês tão reclamando com ele? — Dessa vez, era você quem estava confusa, não entendendo absolutamente nada daquela conversa.
— A gente não liga de ele ser gay — Draken explicou, dando uma risada divertida enquanto isso — A gente tá puto porque ele não falou nada antes.
— Vocês falaram sobre regras da gangue — Suas sobrancelhas ainda estavam franzidas, ao mesmo tempo em que você tentava entender o que estava acontecendo — Não era alguma regra sobre não ter gays?
— Por que a gente teria uma regra sobre isso? — A pergunta de Mikey fez os outros dois caírem na gargalhada.
— A regra é sobre não esconder nada de importante do grupo principal — O platinado explicou, assim que conseguiu parar de rir — Peraí — Ele continuou, encarando Baji — Você achava que a gente ia ficar com raiva por você ser gay?
— Não é raiva — Keisuke respondeu, colocando a mão atrás da nuca e desviando o olhar — Só fiquei preocupado com o que o pessoal da gangue ia achar e tudo mais.
— Não lembro de ter ligado pra a opinião deles antes — Draken falou, ficando sério de novo — Não sei se falo por eles, mas eu tô muito puto. Saber que você se descobriu gay a mais de quatro anos e não falou nada pra gente é realmente uma merda.
— A gente é irmão, cara — Mitsuya falou, chegando mais perto de Baji e passando o braço por trás do pescoço do moreno — Não devia ter escondido isso da gente por tanto tempo.
— Também fiquei com medo de as coisas ficarem estranhas — Keisuke admitiu, fazendo as bochechas dele virarem levemente.
— Estranho por que? — Foi a vez de Mikey perguntar, com um sorriso divertido no rosto — Eu só nunca mais divido uma cama com você.
A brincadeira dele foi o suficiente para arrancar uma risada de todos no cômodo, incluindo Baji e Chifuyu. Você apenas tinha um sorriso satisfeito no rosto, tendo que se segurar para não deixar seus joelhos falharem de tanto alívio e você cair no chão.
Era como se um peso enorme tivesse saído das suas costas, principalmente por você ser uma das poucas pessoas que sabiam sobre o assunto. Por isso, você nem conseguia imaginar como Keisuke estava se sentindo agora que não precisaria mais fingir na frente dos "irmãos".
— Isso explica o porquê de fazer tempo que eu não via você ficando com ninguém — Draken falou, quando vocês todos já estavam sentados, espalhados pelo quarto, depois de mais de vinte minutos de conversa.
— Pois é — O de cabelos longos deu de ombros — Eu ficava com os caras escondido, até começar a ficar sério com Chifuyu.
Você estava com as costas encostadas no tronco de Draken, que lhe abraçava por trás, com o seu corpo entre as pernas dele. Vocês dois estavam sentados na cama de Baji, enquanto o loiro fazia um carinho gostoso na sua coxa direita.
Ainda era engraçado pensar no quão confortável você ficava junto do Ryuguji. Desde que você se lembra, a única pessoa que já ganhou esse nível de intimidade com você tinha sido o seu ex namorado, Hiroshi. Depois de decidir se afastar dele por causa do envolvimento com gangues, a única notícia que você tinha tido dele era que o mais velho tinha sido preso no ano passado. Tirando isso, você não tinha ideia de por onde ele andava.
— Foi meio desesperador quando [Nome] descobriu, mas ela acabou ajudando a gente — A fala de Chifuyu fez os três homens olharem na sua direção, com as sobrancelhas levemente arqueadas.
— Então você sabia o tempo todo? — Mikey perguntou, em um tom claramente debochado.
— E não falou nada pra gente? — Mitsuya completou, no mesmo tom que o loiro.
— Nem venham pra cima de mim — Você respondeu, dando de ombros — Eu não faço parte da gangue, não tem nenhuma regra que me obrigue a ficar contando as coisas pra vocês.
— Bem que você podia entrar pra Touman — Draken falou, atrás de você, fazendo seus olhos se arregalarem instintivamente.
— Pois é — O platinado concordou, depois de uma risada divertida — Do jeito que você derruba sete caras de uma vez, ia ser bem vinda.
— A ideia inicial era te chamar — Foi a vez de Kazutora falar, dando de ombros logo em seguida — Mas na época Takemichi ainda não queria que você soubesse.
Por um mínimo segundo, a ideia de fazer parte da Touman se passou pela sua cabeça. Já fazia um tempo desde que você abominava todos os vínculos com qualquer tipo de gangue, principalmente depois do que aconteceu com Hiroshi e com o seu pai.
Quando você descobriu que seu irmão fazia parte de uma gangue, foi difícil engolir e perdoar todas as mentiras que envolveram isso. Mas, depois de conviver com essas pessoas por tanto tempo, você acabou percebendo que a Touman era diferente. Realmente, você não queria mais deixar eles para trás. Mesmo assim, o conflito interno em sua mente gritava mais alto.
— Quem sabe um dia.
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