Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

02. ❝o ρrᥱtᥱᥒdᥱᥒtᥱ

Capítulo dois; segundo.

┌─────── ⋆⋅☆⋅⋆ ────────┐

. . . . ╰──╮🔥╭──╯ . . . .

NAERYS E DAEMON TARGARYEN, atravessavam os imponentes corredores da Fortaleza Vermelha, agora limpos do sangue e da fuligem da guerra. Os estandartes do dragão tricéfalo tremulavam com orgulho em cada canto, uma lembrança constante do poder dos Targaryen.

Ao entrarem no salão do trono, Viserys, sentado com uma expressão serena, levantou-se para recebê-los. A seu lado, a rainha Aemma, de semblante gentil e a jovem Rhaenyra, que era quatro anos mais nova que Naerys, seus olhos brilhando com admiração ao ver a prima.

— Naerys! — exclamou Rhaenyra, quase correndo em direção à princesa. — Você realmente foi à guerra? Isso é tão... incrível!

Naerys sorriu, seu olhar suavizando ao ver o entusiasmo da sobrinha.

— Fui, sim, Rhaenyra. Mas...

— Daemon! — Viserys interrompeu, caminhando em direção ao irmão com os braços abertos. — Soube que lideraste nossos exércitos à vitória. O reino deve muito a ti.

Daemon inclinou a cabeça, aceitando o abraço de Viserys mas seus olhos permaneciam cautelosos.

— Não lutei sozinho, irmão. Naerys...

—  O seu retorno, Daemon, é um alívio para todos nós... — disse Otto Hightower, o Mão do Rei, surgindo do lado de Viserys. — Soube que o exército inimigo foi dizimado. É um feito que será lembrado por gerações.

Naerys abriu a boca para falar, mas foi cortada novamente.

— Sim, sim, mas os detalhes... Esses, sem dúvida, foram conduzidos pela mão firme de Daemon. — completou um dos lordes presentes, sua voz cheia de falsa cortesia.

A jovem princesa sentiu o sangue esquentar sob a pele. Ela havia lutado, queimado e sangrado como qualquer homem ao seu lado, mas agora, na Fortaleza Vermelha, era como se suas façanhas não passassem de poeira ao vento.

— Foi uma honra lutar ao lado de meu tio, mas...

— Príncipe Daemon, o que pretende fazer agora, após garantir a vitória? — interrompeu outro nobre, ignorando completamente Naerys, os olhos fixos no príncipe.

Rhaenyra observava a cena, seu entusiasmo agora tingido de confusão. Ela puxou a manga do vestido de Naerys, sussurrando:

— Prima, eles não vão te deixar falar?

Naerys olhou para a mais nova, percebendo o quão inocente ela ainda era, sem entender completamente a crueldade sutil da corte. Naerys deu um sorriso fraco, mas antes que pudesse responder, mais uma vez uma voz a calou.

— O importante é que a guerra está vencida e temos o príncipe Daemon para agradecer por isso. — um nobre disse disse.

Naerys, contendo a frustração, recuou um passo, sentindo-se uma figura insignificante em meio à grandiosidade das cortinas de veludo e brasões de dragões. Ela poderia ter gritado, exigido ser ouvida, mas as palavras se prendiam em sua garganta como correntes invisíveis.

Enquanto o salão gradualmente se esvaziava, os nobres saindo em grupos, Daemon foi levado para outro aposento, cercado por lordes e conselheiros que ansiavam por sua atenção. Naerys sabia que tudo era falso, quando a adrenalina passasse, voltariam a criticar Daemon por ser muito radical e ao mesmo tempo despreocupado e inconsequente.

A princesa permaneceu para trás, observando as portas se fecharem com um sentimento de isolamento crescente.

O silêncio que se instalou foi quebrado apenas pelos passos calculados de Otto Hightower, que se aproximou da princesa com um sorriso fino. Seus olhos avaliavam Naerys com uma mistura de cortesia e algo mais, algo que fez a princesa sentir um leve desconforto.

— Não se sinta mal, princesa Naerys. — disse Otto, com um tom de falsa empatia. — Eu, pelo menos, não duvido que tenhas desempenhado um papel importante na guerra.

Naerys olhou para ele, seu rosto cuidadosamente neutro, tentando decifrar as intenções por trás das palavras da Mão do Rei.

— Talvez não no campo de batalha, onde espadas se cruzam e dragões incendeiam, mas... satisfazendo seu tio e os soldados dele, mantendo-os... motivados.

A insinuação velada cortou mais fundo que qualquer lâmina. Naerys sentiu o sangue subir à cabeça, as palavras dele soando como um veneno escorrendo por sua mente. Otto observou-a com um sorriso discreto, aparentemente satisfeito com a resposta não verbal que seu comentário havia provocado.

— Tenha uma boa noite, princesa. — disse ele finalmente, inclinando-se em uma reverência superficial antes de se retirar, deixando Naerys sozinha no grande salão.

Naerys permaneceu onde estava, os olhos ardendo de uma raiva silenciosa e um sentimento de traição que parecia apertar seu coração. As palavras de Otto Hightower ecoaram em sua mente como uma lembrança amarga de como, para alguns, ela nunca seria mais do que a "princesa desonrada".

E agora, a guerra não havia mudado isso; apenas havia adicionado outra camada de cinismo ao modo como a corte a via.

Com um último olhar para o trono de ferro, Naerys virou-se e deixou o salão, sua postura rígida, mas sua mente uma tempestade.

Na manhã seguinte, a ausência de Naerys à mesa do desjejum não passou despercebida, mas ninguém se atreveu a comentar.

Em vez de se juntar à corte para a refeição, ela escolheu a solitude do Fosso dos Dragões. A vastidão do lugar, normalmente intimidante para muitos, oferecia a ela um consolo silencioso. Lá, sentada nas pedras frias, ela partilhava de uma refeição simples enquanto observava Stormfyre, seu dragão, que a olhava com seus olhos dourados, emitindo suaves roncos de satisfação.

A presença imponente do dragão era a única companhia de que ela precisava. No olhar feroz de Stormfyre, Naerys encontrava a força e o entendimento que faltavam nos olhos dos homens que a cercavam. O mundo parecia mais claro ali, longe dos sussurros venenosos e dos julgamentos velados da corte.

Quando Naerys finalmente retornou à Fortaleza Vermelha, o sol já havia subido no céu, iluminando os corredores com sua luz dourada.

Ela caminhava calmamente, perdida em seus pensamentos, quando encontrou Daemon. Ele vinha em sua direção, o rosto marcado pelo excesso da noite anterior. Sua camisa estava desabotoada, revelando o peito suado, e seus olhos estavam semicerrados, uma ressaca visível em cada passo trôpego.

— Parece que a comemoração foi intensa. — comentou Naerys, com um sorriso meio contido.

Daemon ergueu os olhos para ela, um sorriso torto curvando seus lábios.

— Ah, pequeno dragão, o vinho e as mulheres de King's Landing sabem como saudar os heróis de guerra. — respondeu ele, a voz rouca, um misto de cansaço e satisfação.

Naerys observou-o por um momento, sentindo uma mistura de exasperação e uma compreensão amarga. Daemon sempre fora assim, buscando nas celebrações e nos excessos uma fuga para as dores e as batalhas que enfrentava. Mas para ela, aquela guerra não terminava na euforia do álcool ou no calor de um corpo alheio. Para Naerys, as verdadeiras batalhas eram travadas no silêncio e na solidão.

— Talvez devesse descansar. — sugeriu Naerys, mais como uma ordem disfarçada do que uma simples recomendação.

Daemon deu de ombros, inclinando-se para mais perto dela.

— E você, onde estava? Não te vi entre os nobres esta manhã.

Naerys desviou o olhar, sentindo a familiar dor de não pertencer àquele mundo.

— Eu estava onde queria estar.

Daemon a observou , seu sorriso se desvanecendo enquanto um olhar mais sério tomava conta de seu rosto. Ele conhecia a sobrinha melhor do que a maioria e sabia que, por trás daquela fachada calma, havia um algo que nem ele compreendia completamente.

Naerys observou Daemon por um momento, notando o cansaço em seus olhos e a leve oscilação em seus passos. Com um suspiro, ela cruzou os braços e falou com firmeza:

— Deveria ir para a cama, Daemon. Não está em condições de ficar perambulando pelos corredores.

Daemon levantou uma sobrancelha, o sorriso zombeteiro voltando aos seus lábios. De repente, ele deu um passo à frente, prendendo Naerys contra a parede fria da Fortaleza Vermelha, uma mão ao lado de sua cabeça. Ele a olhou nos olhos, desafiador.

— Você acha que manda em mim, pequeno dragão? — sua voz era baixa, carregada de uma mistura de provocação e algo mais sombrio.

Naerys rolou os olhos, sem se abalar pela proximidade ou pelo gesto ameaçador. Ela o conhecia bem demais para ter medo.

— Acho que você está bêbado.
— retrucou ela, com um tom seco, como se estivesse repreendendo uma criança teimosa.

Daemon estreitou os olhos, aproximando ainda mais o rosto do dela, o cheiro de vinho ainda perceptível em sua respiração.

— Não estou bêbado, Naerys. Só de ressaca. — murmurou ele, sua voz agora mais suave, quase perigosa.

Naerys sustentou o olhar dele, imperturbável, uma chama de desafio em seus próprios olhos violetas. Ela sabia que Daemon era imprevisível, mas também sabia que ele respeitava sua força e coragem. Sem desviar o olhar, ela repetiu com firmeza:

— Então vá dormir e se recupere, tio. Ainda temos muito a enfrentar.

Por um breve momento, o ar ao redor deles parecia carregado, como se um duelo silencioso estivesse ocorrendo. Mas então, Daemon recuou, um sorriso cansado nos lábios e se afastou dela, reconhecendo que Naerys, mesmo jovem, não era alguém que se deixava intimidar facilmente.

— Como quiser. — disse ele finalmente, antes de virar-se e caminhar pelo corredor, sua figura desaparecendo lentamente entre as sombras da Fortaleza.

Naerys ficou ali por um instante, recuperando a calma antes de seguir seu próprio caminho, sabendo que aquela troca não fora apenas sobre um simples conselho, mas sobre o respeito mútuo que existia entre eles.

Naerys ainda estava recostada contra a parede, seus pensamentos absorvendo a estranha tensão que Daemon sempre parecia trazer consigo, quando ouviu passos leves aproximando-se.

Ela levantou o olhar e encontrou Viserys, o rei, sorrindo para ela com uma expressão fraternal e acolhedora. Sua presença, ao contrário da de Daemon, era suave, trazendo uma sensação de calma.

— Estava procurando por você, Naerys. — disse ele com um tom afetuoso, aproximando-se dela.

Naerys endireitou-se, dando ao tio toda a sua atenção. Viserys raramente a procurava para conversas casuais, então ela sabia que algo importante estava por vir.

— Fico feliz que tenha me encontrado, meu rei. — respondeu ela, com um leve sorriso.

Viserys manteve o sorriso, mas havia uma seriedade em seus olhos enquanto ele continuava.

— Você já tem 16 anos, querida sobrinha e deveria estar casada há algum tempo. — começou ele, sua voz meiga, quase paternal. — Não em campos de batalha, empunhando espadas e incinerando inimigos, por mais valorosa que tenha sido sua atuação.

Naerys manteve o olhar fixo no rosto de Viserys, seu sorriso desaparecendo lentamente enquanto ela processava as palavras do tio. Ela sabia que isso era algo que ele eventualmente traria à tona, mas ainda assim, a menção de um casamento iminente a deixava inquieta.

— Sei que esse não era o destino que você tinha em mente, Naerys. — ele prosseguiu, notando a mudança na expressão dela. — Mas você é uma Targaryen, e com isso vem responsabilidades que não podemos ignorar. Eu acredito que, finalmente, encontrei um marido adequado para você.

Naerys não disse nada por um momento, sentindo um peso crescente no peito. Ela sempre soube que esse dia chegaria, mas agora que ele estava ali, a realidade parecia sufocante. Mesmo assim, ela manteve o semblante firme e respeitoso.

— Quem seria esse homem, tio? — perguntou ela, sua voz calma, apesar do turbilhão de emoções dentro dela.

Viserys observou o olhar atento de Naerys, preparando-se para revelar a identidade do pretendente escolhido para ela. Ele sabia que o passado tumultuado da sobrinha havia atrasado seus planos e compreendia a complexidade da situação.

— Sei que o que aconteceu com você no passado atrasou muitos dos nossos planos. — começou Viserys com um tom de empatia. — Mas seu pai, Matarys, sempre desejou que você encontrasse a felicidade e a segurança. Ele acreditava que você merecia um futuro sólido e próspero.

Naerys escutava atentamente, suas mãos ainda nas de Viserys, enquanto o rei continuava com um olhar grave.

— O homem que acredito ser adequado para você é Deoran Targaryen.

O nome causou uma pequena ondulação de surpresa em Naerys. Deoran Targaryen era uma figura envolta em mistério e especulação. Ela conhecia apenas rumores sobre ele, um nome frequentemente associado a histórias sombrias de deserção e traição.

Deoran era o irmão mais novo de Rhaenys Targaryen e havia desaparecido do cenário político de Westeros bem antes do Grande Conselho de 101 d.C. Se tivesse permanecido na corte, ele possivelmente teria sido o rei no lugar de Matarys. Sua deserção e o fato de ter sumido por anos o haviam tornado uma figura de desconfiança para muitos, com o título de "príncipe traidor".

— O "príncipe traidor" — disse Naerys, não conseguindo esconder a incredulidade em sua voz. — Como alguém com tal reputação pode ser uma escolha segura? Como posso me casar com um homem que abandonou sua família e seu reino?

Viserys respirou fundo, escolhendo suas palavras com cuidado. Ele sabia que as preocupações de Naerys eram legítimas, mas também estava certo de sua decisão.

— Deoran não é um traidor, apenas... um desertor. — corrigiu Viserys com um tom de indulgência. — Ele não foi contra a família, apenas se afastou, buscando algo que talvez nem ele compreendesse na época. Mas agora, ele voltou. E voltou pronto para se redimir. Ainda é um Targaryen, Naerys, e sangue de dragão sempre encontra seu caminho de volta.

A jovem princesa fitou o tio, os olhos violetas refletindo um misto de dúvida e frustração. Ela conhecia bem as complexidades de ser um Targaryen e o peso que o nome trazia, mas ainda assim, a ideia de se unir a alguém com um passado tão enigmático a deixava inquieta.

— Voltou pronto para se redimir? — repetiu Naerys suavemente, quase para si mesma, ponderando o que Viserys esperava dela com esse casamento. Mas no fundo, sabia que, como sempre, suas escolhas eram limitadas.

— Sim — Viserys respondeu com um sorriso encorajador. — E acredito que, juntos, vocês podem construir algo poderoso. O

Naerys soltou um riso amargo, desviando o olhar para as tapeçarias que adornavam a sala. O símbolo da casa Targaryen, o dragão tricéfalo, parecia observá-la de cima, com seu olhar flamejante e dominador. Ela balançou a cabeça, quase incrédula com as palavras do tio.

— É tão fácil para os homens, não é? — disse ela, seu tom carregado de sarcasmo. — Deserte seu reino, abandone sua família e, quando voltar, tudo que ganha é uma esposa servida em uma bandeja de prata, como um prêmio por sua ausência.

Viserys apertou os lábios, um leve incômodo aparecendo em sua expressão. Ele conhecia bem o temperamento da sobrinha, e sua franqueza não o surpreendia, mas a dureza de suas palavras o fez hesitar.

— Naerys... — começou ele, tentando apaziguar. — Não é tão simples. O que Deoran fez no passado...

— O que ele fez no passado é irrelevante agora? — cortou ela, voltando a encará-lo, os olhos brilhando com uma raiva contida. — Porque ele tem um nome, porque carrega o sangue dos dragões, ele é perdoado. E eu? O que eu recebi por carregar o mesmo sangue? Por lutar suas guerras e queimar seus inimigos? Sussurros. Desprezo. Uma vida de desconfiança.

Viserys suspirou, sentindo o peso das verdades que ela carregava. Sabia que Naerys tinha razão em parte, mas sua responsabilidade como rei o obrigava a tomar decisões para além dos desejos individuais.

— Você é muito mais do que isso, Naerys. Sua força, sua lealdade... é por isso que eu acredito que esse casamento pode ser bom para você. Ele traz uma oportunidade de recomeço, de construir algo novo.

— Um recomeço para quem, tio? — ela perguntou suavemente, mas a dor e o sarcasmo ainda marcavam cada palavra. — Para ele, certamente. Para mim... parece apenas mais um sacrifício.

Viserys suspirou profundamente, buscando uma maneira de aliviar a tensão no ar. Ele estendeu a mão em um gesto conciliador, sua expressão suave, quase paternal.

— Naerys, eu não estou pedindo que se case imediatamente — disse ele, a voz firme, mas gentil. — Apenas que o deixe cortejá-la. Dê-lhe uma chance. Talvez Deoran seja diferente do que imagina.

Naerys, com um sorriso cínico, inclinou a cabeça de leve, um brilho irônico dançando em seus olhos violetas.

— É claro, majestade — respondeu ela, sua voz doce, quase melodiosa, mas o sarcasmo era evidente. — Deixarei que o príncipe traidor me corteje. Que honra, não é?

Viserys a observou por um momento, o semblante de quem queria alcançar o coração da sobrinha, mas sem encontrar o caminho certo. Ele não desejava o mal para ela, jamais quisera, e sabia que Naerys carregava fardos que poucos entenderiam. No entanto, sua resistência tornava tudo tão difícil. Ele podia ver a dor e a dureza que o mundo tinha esculpido dentro dela, transformando uma jovem promissora em uma mulher desconfiada de todos ao seu redor.

— Naerys... — murmurou ele, com cuidado. — Eu sei que você é forte. Só quero que seja feliz.

Ela não respondeu imediatamente, apenas o encarou com aquele olhar distante e calculado que sempre usava para esconder seus verdadeiros sentimentos.

Naerys bufou, impaciente, o som ecoando pelo salão silencioso. Seus olhos, sempre tão afiados e atentos, desviaram de Viserys sem qualquer palavra de despedida.

— Eu sei, majestade. — murmurou, antes de virar as costas e sair rapidamente.

O som de seus passos firmes ressoava pelos corredores da Fortaleza Vermelha, enquanto ela deixava Viserys para trás, com sua mente fervilhando. A última coisa que queria era ser tratada como uma peça de jogo, oferecida a um homem que mal conhecia. Um traidor redimido? Para ela, soava como mais uma armadilha dos jogos de poder.

Naerys estava imóvel enquanto sua dama ajeitava o vestido negro e vermelho, as cores vibrantes dos Targaryen envolviam seu corpo como uma armadura de seda, mas ela se sentia nada além de um produto enfeitado para ser oferecido.

— Fique parada, princesa. — murmurou a jovem criada enquanto ajustava o corpete, tentando apertá-lo um pouco mais. 

Rhaenyra, com apenas doze anos, estava ali no quarto, observando Naerys com seus grandes olhos curiosos. 

— Esse vestido é lindo, prima. — comentou Rhaenyra, os olhos brilhando. — Você vai parecer uma verdadeira rainha.

Naerys esboçou um sorriso amargo, mas não respondeu. Alicent Hightower, a dama de companhia de Rhaenyra, estava presente também. Com seus 19 anos, a jovem já começava a carregar o peso das responsabilidades da corte, mas suas palavras eram sempre repletas de tradições e conformidade.

— É o destino de uma dama se casar bem, princesa. — Alicent aconselhou em um tom suave, mas firme, enquanto ajeitava o cabelo de Naerys. — Um casamento sólido fortalece famílias, traz segurança. Você deve se orgulhar de ser escolhida para algo tão importante.

Naerys franziu o cenho, seus olhos violetas brilhando de irritação ao ouvir aquilo.

— Importante? — Ela finalmente falou, sua voz carregada de desdém. — Ser entregue como um troféu para um homem que sequer conheço?

Alicent, sempre composta, tentou manter a calma.

— Sei que pode parecer difícil, mas é assim que as alianças são formadas. Deoran Targaryen voltou disposto a se redimir.

Rhaenyra continuava a observar, mas seu olhar agora era mais analítico, talvez começando a perceber a tensão que a conversa carregava.

— E o que ele fez para merecer essa redenção? — Naerys disparou, ajeitando o vestido com movimentos bruscos. — Deserte seu reino, desapareça por anos e, quando voltar, ganha uma esposa e uma chance de limpar seu nome. Que mundo fácil é o dos homens.

Alicent suspirou, claramente incomodada com a resistência de Naerys, mas manteve seu tom calmo.

— Você precisa pensar no que é melhor para sua casa, princesa. É assim que protegemos nossa linhagem.

Naerys se virou para a dama, os olhos faiscando de raiva contida.

— Protegemos? Ou sacrificamos? — Ela balançou a cabeça, frustrada. — Talvez eu devesse ir para a guerra de novo, pelo menos lá sei como lutar minhas batalhas.

A criada terminou de ajustar os últimos laços do vestido e deu um passo para trás, observando seu trabalho com um olhar satisfeito.

— Pronto, minha princesa. Está perfeita — disse ela, com um sorriso submisso.

Naerys lançou um olhar breve para o espelho, sem se importar em admirar a própria imagem. Sua expressão era de resignação.

— Obrigada. — murmurou, em um tom que soava mais como um adeus do que como um agradecimento.

Assim que a criada deu as costas e saiu do quarto, Naerys soltou um suspiro de alívio. Com um movimento rápido e determinado, afrouxou o espartilho que a apertava como uma armadilha. O alívio que sentiu era quase instantâneo, como se estivesse libertando algo além do próprio corpo.

— Finalmente. — murmurou, massageando levemente a área comprimida, enquanto sentia a respiração fluir mais livre.

Alicent, que até então observava em silêncio, franziu o cenho ao ver Naerys afrouxar o espartilho.

— Não deveria fazer isso, princesa. — repreendeu, sua voz firme, porém gentil. — O espartilho é parte da vestimenta e faz parte de suas responsabilidades como uma Targaryen apresentar-se da maneira adequada.

Naerys ergueu uma sobrancelha, virando-se para encarar Alicent.

— É só um vestido, Alicent. Nada mais do que tecido e laços. — disse, sua voz carregada de um tom indiferente.

Alicent balançou a cabeça, parecendo desaprovar a resposta, mas antes que pudesse responder, Naerys já se aproximava da porta.

— Vou me encontrar com meu pretendente agora, como esperado. — disse Naerys, forçando um sorriso que não chegou aos olhos. Ela lançou um último olhar para Rhaenyra, que observava tudo em silêncio, e então saiu, sem esperar mais nenhuma palavra.

Deoran Targaryen se aproximava de Naerys com passos firmes e controlados. Era um homem que facilmente chamava atenção, mesmo sem tentar. Os cabelos prateados caíam até os ombros e os olhos violetas, típicos da casa Targaryen, refletiam uma curiosidade contida. Ele trajava o negro e vermelho de sua casa com uma imponência silenciosa, mas sua presença parecia encher o salão.

Quando ele chegou até Naerys, parou por um momento, os olhos percorrendo o rosto dela com uma admiração sutil, quase discreta.

— Princesa Naerys. — começou, sua voz grave e controlada. — É um prazer finalmente encontrá-la.

Naerys manteve a expressão inabalável, os olhos fixos em qualquer coisa que não fosse ele. Ela podia sentir a admiração em seu olhar, mas não estava interessada em impressioná-lo. Com um suspiro, ela respondeu, a voz seca e sem emoção:

— Lorde Deoran. — Não havia emoção ou calor na saudação, apenas a frieza habitual que ela reservava para esses encontros forçados.

Deoran sorriu levemente, inclinando-se um pouco mais, tentando captar o olhar dela. Ele era um homem bonito, ela teria que admitir. Os anos que passou fora de Westeros o haviam transformado em alguém forte, de postura imponente, mas isso não era suficiente para abalar a parede de indiferença que Naerys havia erguido.

— Você herdou toda a beleza dos Targaryen. — disse ele, com um toque de admiração.

Naerys ergueu o olhar lentamente, os olhos encarando-o com uma expressão quase desafiadora, mas sem calor algum.

— Agradeço o elogio, mas creio que estamos aqui para algo mais importante que trocas de cortesias. — disse ela, a voz fria.

Deoran pareceu surpreso pela resposta direta, mas não se deixou abalar.

— Certamente. Mas seria tolice não reconhecer a sua beleza. — respondeu ele, com um sorriso tranquilo, mantendo a compostura.

Naerys cruzou os braços, o rosto sem traço algum de interesse. Era um jogo que ela não queria jogar, e por mais que Deoran fosse bonito, forte e tivesse uma história fascinante por trás dele, isso não mudava o fato de que ela não desejava ser parte disso.

Ela deu um leve suspiro, como se a conversa fosse um fardo.

— Então, vamos logo ao ponto. — disse ela, direta. — Estou curiosa para saber o que o trouxe de volta a Westeros, depois de tanto tempo.

Deoran inclinou a cabeça, o sorriso vacilando por um momento, mas ele recuperou a postura rapidamente.

— Voltei para me redimir. Meu lugar é aqui e espero que possamos descobrir isso juntos. — disse ele, com um tom mais sério, tentando envolver Naerys em algo mais pessoal.

Ela apenas deu de ombros, seus olhos voltando a vagar ao redor, como se já estivesse entediada.

— Veremos. — disse, seca, deixando claro que ela não estava interessada em promessas ou discursos.

Deoran observou Naerys por um momento, o sorriso em seus lábios se alargando levemente, como se estivesse prestes a tocar em um assunto que achava interessante.

— Ouvi dizer que você esteve na guerra. — disse ele, como quem lança uma isca. — Isso é verdade?

Naerys ergueu uma sobrancelha, mas manteve o olhar fixo em algum ponto no horizonte, claramente desinteressada. Ela sabia exatamente o que as pessoas falavam sobre ela. As insinuações e os cochichos a seguiam como sombras desde o momento em que voltara da guerra e todos os comentários sempre vinham acompanhados de malícia ou desdém.

— Depende do que você ouviu. — respondeu ela, seca, sem desviar o olhar.

Deoran pareceu hesitar por um momento, como se estivesse ponderando as palavras certas.

Ele sabia das histórias, das fofocas que corriam pelos salões de Westeros. Sabia que Otto Hightower e outros lordes insinuavam que a presença de Naerys na guerra fora para outro tipo de "motivação" aos homens. Mas ele preferiu ignorar isso, indo direto ao que realmente havia ouvido.

— Ouvi que você foi para a guerra aos quatorze anos, escondida. Que chegou montada em seu dragão, Stormfyre e queimou todos os inimigos sem hesitar. — Ele parou, observando a reação dela, mas ela permaneceu impassível. — E, se não for verdade, saiba que é o que seu tio, Daemon, conta orgulhosamente nas tavernas.

Naerys finalmente o encarou, os olhos violetas estreitando-se ligeiramente. Havia algo entre raiva e diversão em seu olhar, uma linha tênue entre desgosto e orgulho. Ela sabia que Daemon não tinha pudores em vangloriar seus feitos, mas também sabia que ele era o único que nunca a tratara como inferior ou frágil.

— Meu tio gosta de exagerar suas histórias. — disse ela, sem revelar muito. — Mas... talvez o que ele tenha contado tenha um fundo de verdade.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro