01. ❝o fιm dᥲ gᥙᥱrrᥲ
Capítulo um; primeiro.
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NAERYS TARGARYEN ergueu os olhos para o horizonte, onde as cinzas da batalha ainda pairavam pesadas no ar.
O odor de carne queimada e sangue derramado envolvia o campo, sufocante, mas para ela, já não havia mais repulsa. A guerra, que durara dois longos e penosos anos, finalmente chegava ao fim.
Ela e seu tio, Daemon estavam cobertos de sangue — não apenas o próprio, mas o dos inimigos que haviam caído sob suas lâminas e o fogo de seus dragões.
Stormfyre repousava atrás dela, suas escamas escuras manchadas pelo sangue dos homens que havia incinerado, enquanto Caraxes, com suas garras ainda cravadas no solo encharcado de vermelho, rugia como se proclamasse a vitória.
Corpos queimados e destroçados jaziam ao redor, testemunhas da fúria Targaryen que havia se abatido sobre aquele exército desafortunado.
Ao seu lado, Daemon estava igualmente marcado pela violência do confronto. Seus cabelos prateados, tão semelhantes aos dela, estavam embaraçados e grudados em sua pele pelo suor e pelo sangue.
Seus olhos, de um violeta tão profundo quanto os de Naerys, estavam fixos na devastação que haviam deixado para trás. Havia algo de selvagem na expressão dele, uma faísca de satisfação misturada com o cansaço acumulado pelas inúmeras batalhas.
— A guerra acabou. — murmurou Naerys, sua voz rouca pelo grito de ordens e pelo rugido incessante do dracarys. Não era uma pergunta, mas uma constatação. Eles haviam vencido.
Daemon assentiu lentamente, sem tirar os olhos do campo de morte que se estendia diante deles.
— Sim, acabou. — respondeu ele, sua voz carregada de uma exaustão que ia além do físico. — Finalmente, depois de dois anos de viver mediocramente e lutar... vencemos.
Naerys sentiu um misto de alívio e vazio. A guerra, que fora o centro de sua vida por tanto tempo, finalmente chegara ao fim, mas a vitória trazia consigo uma sensação agridoce.
Ela sabia que nada seria como antes. Na guerra, ela havia encontrado propósito, força e uma maneira de exorcizar os próprios demônios que a assombravam desde a infância. Mas agora, com a paz à vista, o que restaria?
A Targaryen limpou a lâmina de sua espada nas vestes de um inimigo caído, deixando o silêncio preencher o espaço entre eles.
Daemon, percebendo sua hesitação, tocou-lhe o ombro, um raro gesto de afeto.
— Voltemos para casa, Naerys. — Disse ele, sua voz suave, mas firme. — Este é o fim que merecemos.
Naerys olhou para seu tio e depois para o céu que começava a clarear com o nascer do sol. As sombras da noite e da guerra começavam a dissipar, mas o que viria a seguir, ela não sabia.
Daemon ergueu-se em meio ao campo de batalha, seu olhar varrendo os rostos exaustos dos poucos homens que restavam. Os que sobreviveram estavam cobertos de sangue e cinzas, suas armaduras danificadas, os olhos opacos pela exaustão e pelas perdas.
Havia um cansaço profundo nos ombros deles, mas também um brilho de orgulho no olhar: eles haviam sobrevivido ao inferno.
— Homens... — começou Daemon, sua voz cortando o silêncio pesado que pairava sobre o campo. — Vocês lutaram ao meu lado durante dois anos, enfrentando inimigos mais numerosos e melhor equipados do que jamais imaginávamos. Muitos de nossos companheiros caíram, queimados pelo fogo ou rasgados pelo aço. Mas vocês... — ele fez uma pausa, varrendo-os com o olhar, cada palavra carregada de respeito e pesar. — Vocês sobreviveram.
Naerys, ao lado de Stormfyre, observava o tio com atenção. Sabia o quanto aquelas palavras pesavam para Daemon. Ele não era dado a discursos, mas quando falava, sua voz era como o trovão, poderosa e impossível de ignorar.
— Vocês serão recompensados. — continuou Daemon e um murmúrio de surpresa percorreu os homens. — Cada um de vocês receberá o que é devido. Ouro, terras, tudo o que for necessário para garantir que a bravura e o sacrifício de vocês não sejam esquecidos.
Ele fez uma pausa, deixando que suas palavras se infiltrassem na mente dos guerreiros. Naerys percebeu a ironia em suas palavras. Muitos dos homens que começaram a guerra do lado deles, já haviam morrido há muito tempo, vítimas não apenas do inimigo, mas também do próprio fogo de Caraxes e Stormfyre.
Daemon sabia disso e cada homem ali sabia também, mas as palavras de Daemon não eram para glorificar a guerra; eram para honrar os mortos e confortar os vivos.
Os homens assentiram em silêncio, reconhecendo a verdade nas palavras de seu líder. Eles estavam ali, vivos, porque haviam seguido Daemon e Naerys até o inferno e voltado. E, apesar de tudo, haviam triunfado.
— Lembrem-se dos que caíram. — concluiu Daemon, sua voz mais suave agora, quase como um lamento. — E honrem a memória deles vivendo a vida que lhes foi negada.
Naerys sentiu um nó na garganta, mas não deixou que suas emoções transparecessem. Daemon era um líder nato, por mais que as vezes fingisse não ser e se acomodasse em sua postura despreocupada.
Daemon olhou uma última vez para seus guerreiros antes de se virar para Naerys, seu olhar firme, mas com uma compreensão silenciosa.
— Vamos. — disse ele e os homens começaram a se mover lentamente, carregando as lembranças e os fantasmas daqueles que haviam perecido.
Naerys montou em Stormfyre, observando o campo devastado mais uma vez antes de alçar voo. A guerra havia acabado, mas o fogo em sua alma ainda queimava intensamente.
O sol mal havia começado a tingir o horizonte com seus primeiros raios dourados, lançando uma luz suave sobre o lago. A água, calma e límpida, refletia o céu em tons suaves de rosa e laranja, criando um cenário que parecia retirado de um sonho.
Naerys estava imersa até os ombros na água fresca, vestindo apenas uma camisola íntima branca que flutuava ao seu redor.
Os longos cabelos prateados, agora soltos, brilhavam na luz nascente, molhados e pesados. Ela os esfregava com as mãos, tentando livrá-los da sujeira e do sangue acumulados durante a batalha. Seus movimentos eram meticulosos, mas não havia vaidade em sua postura.
Daemon estava mais perto da margem, com o peito nu e as marcas da guerra ainda frescas em sua pele. Seus olhos estavam fixos na sobrinha, observando-a à distância. Havia algo hipnotizante em vê-la ali, uma figura solitária no lago, tão jovem e já tão marcada pelo peso do mundo.
Ela não era uma mulher vaidosa e talvez fosse exatamente essa falta de pretensão que a tornava ainda mais linda aos olhos de Daemon.
Os primeiros raios do sol tocavam a água, iluminando Naerys de uma forma que parecia quase sobrenatural. O tecido branco de sua camisola se tornava translúcido ao contato com a água, mas ela não parecia se importar.
Ela estava concentrada em seu próprio ritual, em purificar-se da batalha, em lavar não apenas a sujeira física mas também os horrores que ficavam gravados em sua mente.
Daemon não conseguia desviar o olhar. Havia uma força silenciosa em Naerys, algo que ele sempre admirou, mas que agora, ao vê-la assim, tão vulnerável e ao mesmo tempo tão forte, o tocava de uma forma diferente. Ele se aproximou um pouco mais da água, mas não quis interromper o momento dela.
O silêncio era apenas quebrado pelo som suave da água sendo agitada, enquanto Naerys continuava a limpar os cabelos. O sol subia lentamente, banhando o lago e os dois Targaryens em uma luz suave. Não havia palavras entre eles, apenas uma compreensão silenciosa, um respeito mútuo que transcendia o sangue que compartilhavam.
Para Daemon, aquele momento era um raro descanso em meio ao caos, uma pausa que eles haviam conquistado após anos de luta. E por um breve instante, ele permitiu-se apenas observar, gravando na memória a imagem da sobrinha, imersa no lago ao nascer do sol, tão pura e indomável quanto o fogo dos dragões que eles montavam.
Naerys saiu da água lentamente, deixando as gotas escorrerem pelo tecido úmido da camisola enquanto se aproximava da margem. Seus pés descalços tocaram o solo macio e ela inclinou a cabeça para o lado, apertando os cabelos prateados para espremer a água.
Daemon a observava, a intensidade de seu olhar carregada de um misto de admiração e algo mais, difícil de definir.
— Você é linda, Naerys. — disse ele, com uma suavidade que não costumava exibir.
Ela parou por um instante, encontrando os olhos dele com uma expressão desinteressada. Havia algo quase automático em como ela rejeitava elogios.
— Você deveria lavar seu cabelo também, ou vai apodrecer. — retrucou ela, com um toque de provocação.
Daemon arqueou uma sobrancelha, divertindo-se com a resposta. Ele passou a mão pelos cabelos, longos e desordenados, ainda sujos dos horrores da guerra.
— Na verdade, estava pensando em cortá-lo. — disse ele, o olhar se perdendo por um momento no horizonte, como se estivesse considerando a ideia de um novo começo. — Um novo ciclo, uma nova era... talvez seja hora de mudar.
Naerys olhou para ele com uma mistura de curiosidade e leve ceticismo.
— Tem certeza? — perguntou ela, aproximando-se mais um passo, os olhos violetas fixos nos dele.
— Sim. — respondeu Daemon, com firmeza. — Para marcar o fim da guerra..
Sem dizer mais nada, Naerys se abaixou e pegou uma adaga que estava jogada na margem, ainda manchada de sangue. Ela se posicionou entre as pernas dele, tão próxima que podia sentir a respiração de Daemon se aprofundar. O coração dele batia em um ritmo lento, enquanto ela se inclinava e começava a cortar seu cabelo com a lâmina.
Os fios caíam lentamente sobre os ombros e as pernas dele, e Daemon observava com atenção cada movimento da mais nova.
Ela estava tão perto que ele podia sentir o calor de sua pele, o cheiro da água do lago misturado ao aroma único dela. Naerys mantinha a concentração, suas mãos firmes e cada corte era feito com precisão.
— Isso vai mudar alguma coisa? — murmurou ela, sem desviar os olhos de sua tarefa, cortando mais uma mecha de cabelo prateado.
— Talvez. — respondeu Daemon, sua voz baixa e introspectiva. — Talvez seja apenas uma maneira de deixar o passado para trás.
Naerys não respondeu, apenas continuou cortando, até que o cabelo dele estivesse curto, algo muito diferente do que ele costumava usar. Quando terminou, ela deu um passo atrás, admirando seu trabalho.
— Está feito. — disse ela, devolvendo a adaga para o chão.
Daemon passou a mão pela cabeça, sentindo a leveza, o frescor de algo novo.
— Obrigado. — disse ele e dessa vez, Naerys apenas assentiu, sem a necessidade de rejeitar as palavras.
Eles ficaram ali, juntos, no silêncio tranquilo do nascer do sol, o som da água do lago ao fundo, ambos conscientes de que algo havia mudado entre eles e de que aquela manhã era o prenúncio de um futuro que ainda precisaria ser forjado, mas que, pela primeira vez em muito tempo, parecia um pouco mais promissor.
Naerys ainda estava próxima, tão próxima que Daemon podia sentir o calor da respiração dela contra sua pele. Ela parecia nervosa, hesitante, como se não soubesse ao certo o que fazer com as mãos agora que havia terminado o corte.
Seus dedos que antes seguravam a adaga, sem perceber, começaram a deslizar pelo ombro nu de Daemon, traçando a linha de seus músculos com uma suavidade quase reverente.
Daemon permaneceu imóvel, sentindo a tensão crescer entre eles. Os olhos violetas de Naerys, cheios de uma confusão interna que ela mal compreendia, encontraram os dele.
Havia algo no olhar dela, uma mistura de curiosidade e vulnerabilidade, de desejo e medo. Os dedos dela, inicialmente hesitantes, ganharam mais confiança, deslizando pelo peito dele, explorando cada cicatriz, cada marca deixada pela guerra.
Daemon respirou fundo, fechando os olhos por um momento. O toque dela era quase torturante, despertando algo dentro dele que havia sido suprimido durante os longos anos de guerra. Ele estava a dois anos afastado do calor de uma mulher e a presença de Naerys, com sua beleza indomável, o desafiava a cada momento.
Ela era desejável, inegavelmente linda e a química entre eles era palpável, como uma chama que ameaçava consumir tudo ao redor.
Os dedos de Naerys continuaram a explorar, traçando o caminho do peito até o abdômen dele, enquanto ela se inclinava um pouco mais para perto, como se estivesse sendo atraída por uma força invisível.
O coração do Príncipe Rebelde começou a bater mais rápido, uma mistura de desejo e uma crescente sensação de perigo. Ele queria ceder, o corpo ansiando pelo toque dela mas a mente sabia que ceder seria trair tudo o que ele sabia sobre ela, sobre os traumas que ela carregava.
Naerys, talvez inconscientemente, se aproximou mais, o rosto dela a poucos centímetros do dele. As mãos agora estavam firmes sobre ele, como se ela estivesse tentando encontrar alguma forma de conexão, alguma maneira de sentir algo além da dor e do vazio que a guerra e as tragédias haviam deixado.
Ela precisava fazer algo, precisava sentir que ainda estava viva e Daemon era o único a quem ela podia se apegar naquele momento.
Por um instante, Daemon quase cedeu. Ele podia sentir o calor do corpo dela, a maciez dos cabelos prateados roçando contra seu peito, o desejo pulsando entre eles. Mas então, ele abriu os olhos e viu algo nos olhos de Naerys que o fez parar.
Era a dor, a sombra dos horrores que ela havia vivido, dos traumas que ainda a assombravam.
Com um movimento suave, mas firme, Daemon segurou as mãos dela, interrompendo o toque. Ele respirou fundo, tentando dissipar a tensão mas a proximidade dela fazia tudo mais difícil.
— Naerys... — a voz dele saiu baixa, carregada de uma mistura de desejo e responsabilidade. — Pare.
Ela piscou, como se estivesse saindo de um transe e afastou as mãos dele, recuando ligeiramente. O rosto de Naerys estava confuso, o desejo misturado à culpa, como se ela soubesse que estava cruzando uma linha que não deveria.
— Desculpe.
Daemon a observou, sentindo a urgência de protegê-la, não de qualquer perigo externo, mas de si mesma. Ele sabia que, se cedessem àquele momento, poderia ser algo que a quebraria ainda mais.
— Eu entendo. — disse ele, suavizando o tom, tentando acalmá-la. — Mas não assim, não agora. Você merece mais do que isso.
Ela assentiu, um misto de vergonha e alívio passando por seu rosto. Naerys se afastou, cruzando os braços sobre o peito como se quisesse se proteger do mundo, ou talvez, de si mesma.
Daemon observou enquanto ela se afastava, o silêncio entre eles preenchido por tudo o que não foi dito. A química ainda estava lá, inegável, mas agora havia uma nova camada de compreensão. Ele sabia que a conexão entre eles era poderosa, mas também sabia que precisavam lidar com ela de uma maneira que não a destruísse ainda mais.
Naerys parou por um momento, virando-se para olhar para ele e por um instante, Daemon viu uma vulnerabilidade que ela raramente deixava transparecer. Mas então, ela desviou o olhar, recolhendo-se em sua própria solidão, como sempre fazia.
O sol começava a se erguer no horizonte, banhando-os em uma luz dourada, mas a distância entre eles parecia maior do que nunca.
E depois de alguns minutos começaram os preparativos para, depois de muito tempo, voltar para casa.
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